RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em História
Universidade Federal de Santa Maria
A FARSUL E A LUTA POR REFORMA AGRÁRIA: VIOLÊNCIA DE
CLASSE E MARGINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DO
CAMPO NO RIO GRANDE DO SUL (1962)
AUTOR: FLAVIO CORREIA NARDY
ORIENTADOR: GLAUCIA VIERA RAMOS KONRAD
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 10 de março de 2014.
A luta pela terra no Brasil, sobretudo no inicio dos anos 1960, passou por
profundas transformações que tiveram forte ligação com o processo de
modernização do campo vivenciado após a Segunda Guerra Mundial e com as
mudanças nas políticas de segurança nacional norte-americana para a América
Latina. As mudanças desse período histórico interferem nas relações do mundo
do trabalho no meio rural, implicando em uma maior disciplinarização dos
trabalhadores do campo e em uma migração forçada para o meio urbano, via
êxodo rural. Estas transformações provocam uma reação do campesinato, que
de maneira organizada passa a reivindicar a Reforma Agrária na tentativa de
garantir a sua sobrevivência enquanto classe. No bojo dessa conjuntura, as
classes dominantes agrárias reorientam-se taticamente disputando o domínio
simbólico da categoria histórica da Reforma Agrária, garantindo a perpetuação
da grande propriedade da terra, sua fonte de poder. Contudo, ao longo desse
processo, ocorreu uma intensa luta política em torno do acesso a propriedade
fundiária, em que o conflito entre as classes rurais irá se instaurar, dando nova
estrutura e dinâmica às classes sociais do campo e deixando profundas
marcas em suas identidades classistas. Essa relação que é histórica, contudo,
não ocorreu sem a intermediação e a participação política do Estado, que
passou a dar condições para que essas mudanças de fato pudessem ser
executadas. Entretanto, ocorreram divergências entre as políticas públicas e
interesses dos grandes proprietários, que não abriram mão da defesa da
propriedade privada. Eles tentaram dar outra orientação a estas medidas,
defenderam a Reforma Agrária, desde que fosse realizada a partir das terras
públicas, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte do país. No RS, os
grandes proprietários organizados por meio da FARSUL não passaram longe
dessas mudanças. Eles protagonizam a defesa desse projeto, ainda mais que
no Estado, a partir de 1962, os movimentos sociais de agricultores sem-terra
eclodiram por meio da organização dos acampamentos para pressionar o
poder público a desapropriar algumas áreas agrícolas. Em reação, a Entidade
ruralista procurou desestabilizar os movimentos sociais por meio de diferentes
táticas de violência e de criminalização. Direcionaram a pressão sobre o
governo do Estado para que interferisse nas mobilizações. Os grandes
proprietários, descontentes com as políticas públicas para a Reforma Agrária,
passaram a organizar o “movimento ruralista”, com o objetivo de disputar o
poder político do Estado e garantir que fossem eleitos candidatos que
defendessem de seus interesses de classe. O conflito instaurado pelos
acampamentos e pelas desapropriações de propriedades rurais no Estado deu
novos significados à relação entre as classes sociais no campo e trouxe novos
desafios para a maneira como se relacionam com o poder político do Estado.
Esta pesquisa contou com Bolsa FAPERGS-CMH/CAPES.
Palavras-chave: Reforma Agrária, FARSUL, Rio Grande do Sul, Estado,
Criminalização.
ABSTRACT
Master's Dissertation
Graduate Program in History
Federal University of Santa Maria
FARSUL AND THE STRUGGLE FOR AGRARIAN REFORM: CLASS
VIOLENCE AND MARGINALIZATION OF THE SOCIAL
MOVEMENTS FROM COUNTRYSIDE IN RIO GRANDE DO SUL
(1962)
AUTHOR: FLAVIO CORREIA NARDY
ADVISOR: GLAUVIA VIERA RAMOS KONRAD
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 10 de março de 2014.
The struggle for Land in Brazil, especially in the early 1960s, passed through
deep transformations that had strong links with the country side modernization
process experience dafter the Second World War and the shift of U.S National
Policy for Latin America. The changes on this historical period interfere in the
relations of the world of work in rural areas, implying a higher disciplining of
workers in the field and a forced migration to urban areas, through the rural
exodus. These changes cause a reaction of the peasantry, who in an organized
manner starts to claim the Agrarian Reform in an attempt to ensure their
survival as a class .At this juncture, agrarian dominant classes are reoriented
tactically disputing the symbolic field of historical category of Agrarian Reform,
ensuring the perpetuation of large land ownership, their source of power.
However, throughout this process, there was an intense political struggle over
access to land ownership, in which the conflict between rural classes will be
established, in giving new structure and dynamics of social class of the country
side and leaving deep marks in their class-identities This relationship that is
historical, however, would not occur without the intermediation and political
participation of the state, which started to provide conditions for these changes
could actually be implemented. However, differences occurred between public
policies and interests of large and owners. They did not give up of the defense
of private property. They tried to give another purpose to these measures,
advocated agrarian reform, since it was held from the public lands, mainly in the
Midwest and North of the Country. In RS, the large landowners organized by
FARSUL have not gone far away from these changes. They were protagonists
of the defense of this project, even more than in the state since 1962, the social
movements of landless farmers erupted by organizing camps to pressure the
government to expropriate some agricultural areas. In reaction, the rural Entity
sought to destabilize the social movements through different tactics of violence
and criminalization. They directed pressure on the state government to interfere
on the mobilizations. The great landowners, unhappy with the state public
policies for Agrarian Reform, had organized what they called the "ruralist
movment", aiming to gain political power of the state and ensure that candidates
were elected to defend their class interests. The conflict initiated by the camps
and by the expropriation of farms in the state gave new meaning to the
relationship between social classes in the country side and brought new
challenges to the way they are related to the political power of the State. This
research included Bag FAPERGS-CMH/CAPES.
Key words: Agrarian Reform, FARSUL, Rio Grande do Sul, State,
Criminalization.
Download

RESUMO Dissertação de Mestrado Programa de Pós