A LEITURA NA ESCOLA: Projeto Planeta Azul1 Lucinete Ornagui de Oliveira2 Elizabeth Pereira Galindo da Silva3 RESUMO: Aprender a ler o mundo nas palavras de Paulo Freire significa que desde criança aprendemos a ler a realidade em nosso cotidiano social. Aprendemos também que somos permanentemente “lidos”, o que nos leva a utilizar nosso comportamento como uma forma de linguagem, capaz de agradar, despertar simpatia, agredir, demonstrar indiferença. Dessa forma, a vida social não se limita a nos ensinar a ler a realidade, mas de orientar essa leitura num sentido mais amplo, em que aprender a ler o mundo é apropriar-se dos valores de nossa cultua. Nesse sentido, o papel do professor nos momentos de aprendizagem não se resume a transmitir conhecimento e sim, o de criar situações significativas. Assim, o artigo visa apresentar o projeto “Planeta Azul” como complemento didático para despertar o gosto pela leitura, bem como demonstrar a analise dos resultados da prática pedagógico vivenciadas com os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental. Palavras-chaves: Leitura, Projeto Planeta Azul, Estratégia Pedagógica. READING IN SCHOOLS: Blue Planet Project ABSTRACT: Learn to read the world in the words of Paulo Freire means that from a child learn to read reality in our everyday society. We also learned that we are constantly "read”, which leads us to use our behavior as a form of language, able to please, sympathy, attack, show indifference. Thus, social life does not just teach us to read the reality, but to direct this reading in a broader sense, as they learn to read the world is to appropriate the values of our worship. In this sense, the teacher's role in times of learning is not just impart knowledge but, to create meaningful situations. Thus, the project aims to introduce the "Blue Planet" as a complement to teaching to awaken a taste for reading and analyzing the results demonstrate the practice of teaching students experienced with the 3rd year of elementary school Keywords: Reading, Blue Planet Project, Educational Strategy 1 Texto elaborado inicialmente como parte da “Monografia” submetida a aprovação da Coordenação de Pós-graduação, pesquisa e Extensão para obtenção de grau de Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior. 2 Pedagoga, Especialista em Metodologia e Didática de Ensino Superior pela Universidade de Cuiabá. Professora da rede Estadual de Educação do Estado de Rondônia, Orientadora Acadêmica do Curso de Pedagogia (Modalidade a distância) – Acordo Brasil/Japão e professora no Curso de pedagogia no ICE – Instituto Cuiabano de Educação. 3 Letras. Especialista em Metodologia e Didática de Ensino Superior pela Universidade de Cuiabá. Professora da rede Estadual de Educação do Estado de Mato Grosso e professora do UNIVAG – Centro Universitário. INTRODUÇÃO Acreditando que as histórias em quadrinhos proporciona ao leitor, além do prazer uma forma divertida de adquirir o conhecimento, a Fundação Mokiti Okada elaborou o projeto “Planeta Azul” e junto com as escolas formar educandos capazes de superar as dificuldades de leitura bem como levá-los a viver uma vida digna baseada nos princípios morais. Para Okada (2001), a humanidade está desorientada diante dos cenários sociais, e os seres humanos estão esquecendo-se de cultivar os valores morais e espirituais que devem nortear as relações mais simples entre alunos e professores, pais e filhos, profissionais e funcionários. Portanto, a criança precisa aprender desde cedo a cultivar a sua própria família, seu planeta e tudo que faz parte dele, contribuindo para a transformação da sociedade. Assim, o projeto tem em vista à necessidade de encontrar um caminho para despertar no educando o gosto pela leitura, e desenvolver uma educação que restabeleça a dignidade, a harmonia e o valor do Homem, desenvolvendo um relacionamento espontâneo do ser humano com seus semelhantes e a natureza, sem eliminar, jamais, a sua individualidade, e, acreditando, que o educador é responsável pela transformação social, onde ele não ensina por ensinar, pois seu ato pedagógico deve ser um ato que desperta a vida para a vida, devendo interessar para ele não os conteúdos pelos conteúdos, mas sim algo que possa ajudar o aluno a viver a sua vida neste constante processo de mudança, em que o ato de ler é insubstituível, pois a leitura amplia os limites do próprio conhecimento, obtendo informações simples e complexas; além de proporcionar diversão, descontração e reflexão por meio da leitura de ficção e da poesia. Por isso as histórias em quadrinhos que consistem em textos humorísticos e com recursos iconográficos mostram aos alunos de forma criativa a vivacidade do discurso direto presente nos textos. LEITURA: UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA Sabendo que a leitura é um dos fatores mais significativos na educação para o desenvolvimento pessoal e social, e a dificuldade que os alunos apresentam no decorrer de sua vida escolar no que tange a leitura, pesquisa teve como participante alunos do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professor Fernando Leite de Campos Várzea Grande-MT, levando em consideração a faixa etária dos alunos, nível de conhecimento, dificuldades na aprendizagem da leitura e o interesse pela leitura. Acreditando, que a leitura é um instrumento fundamental no desenvolvimento da aprendizagem e uma preocupação constante dos educadores como parte indispensável para a formação do aluno o Projeto “Planeta Azul” teve como foco desenvolver a leitura crítica na 3ª série do ensino fundamental. Para obtermos dados mais claros sobre a leitura como prática pedagógica, escolhemos a pesquisa-ação, haja vista que o fato de participar ativamente da pesquisa oferece maiores subsídios ao pesquisador, que pode, ao longo do projeto, mudar sua prática a partir dos resultados paulatinamente obtidos. A leitura é um dos aspectos mais importante para a criança como ponto de partida na aquisição de conhecimento, meio de comunicação e socialização. É ela que interfere grandemente na aprendizagem da escrita, pois são interdependentes e se desenvolvem de modo contínuo e progressivo e consiste em ajudar os alunos na formação de hábitos, atitudes e no desenvolvimento de habilidades; facilitar a socialização; ajudar a interpretação; desenvolver a capacidade de resolução de problemas; oferecer oportunidades para recreação e o lazer; auxiliar na aquisição de conhecimento entre os povos; desenvolver a memória e reestruturar os conceitos e ajudar no desenvolvimento da escrita. Por isso, é preciso iniciar o ensino da leitura procurando estimular a criança para que ela desenvolva a maturidade física, mental, social e emocional. O mais importante é a operacionalização, as posições teóricas da leitura que contribuem para propiciar o pensamento organizado, capaz de levar a criança a uma postura consciente, reflexiva e crítica frente a realidade social em que vive e atua. Para tanto, é preciso que haja uma motivação lúdica e crítica que atenda o nível de amadurecimento do aluno, que reflita na aquisição de habilidades do processo de leitura a partir de sua realidade de formação escolar e de seu contexto sócioeconômico. Para atender um dos quesitos essenciais que é o gosto pela leitura, primeiramente é necessário planejar uma dinâmica que ofereça aos alunos condições para aprimorar a sua convivência com a prática da comunicação lingüística, visando um leitor crítico e um usuário eficiente da língua materna. Desenvolvendo assim, o gosto e a importância pela leitura, descobrindo a necessidade de saber ler e produzir textos baseando-se em conteúdos como a diversidades de textos que contribuirão para a formação de sentido. Diante deste propósito, a apresentação aos alunos da revista “Planeta Azul”, que tem como objetivo oferecer as crianças ensinamentos através de histórias em quadrinhos, permitindo que elas possam aplicá-los no seu cotidiano. Os conteúdos desenvolvidos são instrumentos para pais e educadores na formação dos jovens, pois as histórias trazem palavras mágicas que resgatam valores e princípios éticos de forma lúdica e prazerosa, que através das ilustrações propiciam a iniciativa para a leitura. Partindo das vivências o conteúdo vai evoluindo para uma sistematização científica, favorecendo a criticidade e a transformação. Portanto, a metodologia aplicada deve ser a mais diversificada possível, para atender a turma com crianças que domina o código de leitura e as que não tem sequer noção destes códigos quanto mais do processo de leitura em si. Assim para começar o trabalho é preciso planejar, pois os alunos podem apresentar dificuldades além do esperado para uma turma de 3º ano. A partir da percepção da dificuldade é preciso que se alie o desejo de encontrar uma alternativa para despertar no educando o interesse pela leitura através de cartazes, jogos e atividades em grupos. Torna-se necessário então, criar uma situação que permiti o desenvolvimento do projeto de acordo com o nível de conhecimento de cada criança, dentro de um clima de confiança e respeito entre aluno, professor e pais. Ou seja, após o período de sondagem, conhecendo os alunos de fato, para dar conta desse projeto pode ser utilizado diferentes métodos, nesta experiência o método escolhido é o dialético, que propicia aos alunos múltiplas oportunidades de leitura com materiais variados e alguns recursos como: gibis (coleção histórias em quadrinhos “Planeta azul”), revistas, rótulos, embalagens, vídeo, gravador, papéis, cartazes, lápis de cor, tinta guache, pincel, além de fichas de leituras com textos fáceis de ilustrações agradáveis sobre os personagens do planeta azul. O primeiro passo para a realização deste trabalho é criar um ambiente alfabetizador, organizando a sala de aula de forma a permitir a construção e o gosto pela leitura, elaborando desta forma o material em cima das histórias e dos personagens, ornamentando a sala de aula com cartazes das famílias silábicas, alfabeto e com os nomes dos alunos, normalmente a metodologia utilizada consiste na alfabetização através do método silábico. Com o objetivo de respeitar a prática do dia-a-dia se fazem necessário algumas adequações. A revista Planeta Azul apresenta de cinco as oito histórias, contendo palavras “mágicas” tais como, obrigado, com licença, por favor, bom dia, boa tarde, preservação do meio ambiente, textos significativos que relacionados com as experiências e as vivências dos alunos despertam e contribuem para a formação de sentido, desenvolvendo os conceitos éticos, as habilidades e atitudes para agirem e atuarem como agentes participativos na busca de um mundo melhor. As próprias histórias através das mensagens, das ilustrações e dos personagens, oportunizam as mudanças de hábitos e atitudes dos alunos ao trabalharem com os temas relacionados a realidade social e psicológica do aprendiz, como meios socializados e de refinamento emocional, pois quando os alunos manuseiam, folheiam as revistas, elas passam a concretizar os seus desejos imaginários, materializavam aquilo que então era apenas o abstrato, e através desse processo adquirem, desenvolvem e sedimentam seus conhecimentos. O procedimento didático pedagógico eficiente consiste no trabalho diário das leituras de uma histórias seguida de interpretação oral, e atividades relacionadas ao texto trabalhado, partindo das palavras mágicas ou das frases em slogans, dos textos escrito em cartazes através da composição e decomposição das palavras, dos nomes dos personagens, atividades de recorte e colagem utilizando revistas, jornais, desenhos, dramatizações, produções de pequenos textos como: composição de poesias com rima, advinhas, trava-língua, textos informativos, dominó, caça-palavras, cruzadinhas, jogo de encaixe, quebra cabeça, cartão surpresa, loteria de nomes, oficinas de leituras e escrita, o progresso irá acontecendo lentamente no dia-a-dia. Ao contar histórias da revista em quadrinhos “Planeta Azul”, que se baseiam no princípio de que a verdadeira educação é aquela que leva o aluno a desenvolver todas as suas potencialidades positivas, tornando-se homens íntegros, honestos, verdadeiros, que estejam aptos a colaborar para o bem estar social e contribuírem para o progresso e elevação da cultura, procuramos mais do que constatar fatos, mais do que saber o resultado final; comprovar que as histórias desta revista consegue transformar o comportamento do aluno e que é um meio eficaz de levar a criança a desenvolver a leitura de forma prazerosa, despertando nelas o sentimento altruísta de companheirismo e compreensão. Fomos testemunhas dessas mudanças durante as 160 horas aulas de acompanhamento dos alunos trabalhando os temas: A verdade; A união faz a força; Pequena ajuda, grande felicidade; Tempero Blevigh; Salvando a praia; Brincando e pensando; Colecionando Obrigados; Preservando nosso Ambiente; A gratidão; Os amigos. Ao desenvolver os temas praticamente um por semana, a leitura sempre foi o motivo incentivador, ora pela professora, ora pelos alunos. A exploração do tema concretiza-o e abrange a interdisciplinaridade, pois os alunos participam ativamente dos questionamentos orais e buscam através disto ou deles soluções para problemas e até mesmo criam regras e critérios para resolver estratégias de trabalhos ou situações. Durante a pesquisa observamos, então, que as crianças apesar de não lerem tinham um senso de percepção fantástico, pois discutiam os temas com muita naturalidade e apresentavam sua experiências diárias a cada história contada. Uma das experiências foi relatada pelo aluno Alexandre, um dos que mais se identificou com o projeto. Ele contou que sua mãe pediu que fosse ao mercado comprar um pacote de açúcar e ao retornar entregou a encomenda e ela não agradeceu, foi quando mencionou sobre a importância de dizer obrigado: nós? “Mãe, o que devemos falar quando alguém faz alguma coisa para E mãe respondeu: - Obrigada! - Então porque a senhora não disse? Aprendi nas historinhas com a professora que devemos sempre dizer obrigado.” Outra experiência também marcante foi relatada pela aluna Nádia que apesar de morar com os pais, passava a maior parte do tempo com a avô, após termos trabalhado em sala de aula, a importância de ajudar as pessoas, foi para casa pensando o que poderia fazer para ser útil., então decidiu que iria fazer alguma coisa para ajudá-la. No dia seguinte, toda feliz Nádia contou o que havia acontecido: ao ouvir a avó falar que ia na vizinha buscar uma muda de flor, foi logo dizendo: - “Vó, deixa que eu vou! E saiu correndo.” Sua avó ficou sem entender, pois esta não era a postura de Nádia no dia-adia. Quando ela chegou com a muda, explicou à avó que tinha como tarefa para casa ajudar alguém, por isso que pediu para ir à vizinha. Ao levarem as atividades para casa, alguns pais participavam das leituras, servindo como estímulo aos filhos, com isso a própria criança passavam a construir e reconstruir, aprender e inventar por ela mesma, avançando de um nível a outro do próprio pensamento e do pensamento do outro, criando o gosto e o hábito para a leitura e a expressão de seus sentimentos. E assim, a cada novo tema variavam-se as atividades, sugerindo aos alunos o trabalho em grupo, duplas, no coletivo e individual. Além da leitura, da escrita de pequenas produções textuais, foi utilizado todos os recursos possíveis para que houvesse aprendizagem da leitura e despertar para o gosto de ler entre elas: oportunidade para brincar, cantar, ouvir músicas do Cd Planeta Azul, fazer teatro, contar histórias e formular hipóteses. É certo que o mecanismo da leitura e da escrita faz parte da alfabetização, porém a linguagem oral, a expressão e a compreensão do próprio pensamento e do pensamento do outro participam igualmente do processo. Não tenho como meta prioritária apontar ou indicar este ou aquele método, mas tenho um objetivo maior que é apontar aos educadores os aspectos que não devem serem esquecidos, pois a aprendizagem vai depender da segurança do professor em relação aos procedimentos que adotam e da coerência do plano de alfabetização. Pensando na “eficiência da aprendizagem” se faz necessário pensar na avaliação, pois somente ela responderá sobre a eficácia dando suporte para possíveis intervenções. Assim, a avaliação se dá no sentido de identificar dificuldades, avanços e resistências, permitindo utilizá-la como instrumento que questiona constantemente o processo pedagógico do ensino da aprendizagem, possibilitando uma retomada de decisão para superar dificuldades e reorientar o processo de forma a vencer obstáculos, é ela a condição básica para o planejamento. A avaliação contínua do aluno, por exemplo, mostram o caminho a seguir, as atividades necessárias e apropriadas ao aluno, às intervenções que ele requeria do professor, naquele momento. A avaliação diária dos alunos e das atividades desenvolvidas subsidiaram o planejamento para o dia seguinte. Portanto, o ensino consistiu na criação de situações favoráveis à aprendizagem, em que procuramos envolver os alunos em atividades, que provocassem as discussões e a reflexão entre eles, buscando problematizá-los. Durante o tempo em que estive a frente do projeto a minha ação foi de prazer, porque gosto do que faço e faço porque sinto necessidade de fazer. Desta forma, a minha ação com a educação é de uma educadora compromissada, envolvida não só com a sala de aula, mas com a comunidade, procurando manter uma interação coletiva eficiente. O trabalho desenvolvido com o coordenador, diretor e pais de alunos foi horizontal, servindo de apoio e incentivo ao processo, através das sugestões e do acompanhamento. Os resultados alcançados podem ser considerados satisfatórios, pois, das dezoito crianças com dificuldades em leitura, dez conseguiram aprender a ler e produzir pequenos textos; cinco dificuldades apresentaram desenvolvimento na leitura, porém, com pequenas na produção de textos e, apenas três conseguiram ler somente as vogais e algumas sílabas simples, sem conexão com o texto ou frase, embora duas conseguiam contar história oralmente, enquanto uma apresentava dificuldade até mesmo na oralidade. Quanto ao relacionamento, todas melhoraram, diminuiu a agressividade entre colegas, agradeciam com mais freqüência e participavam dos trabalhos coletivos. Assim no desenvolvimento desta atividade, percebe-se que ao trabalhar com projeto Planeta Azul numa filosofia Okadiana, realmente há uma mudança de comportamento pois, através de ações inter-individuais, as crianças iam se transformando em leitores, conhecendo a função social da leitura e se envolvendo com estes conhecimentos como agentes observadores no mundo letrado possibilitando-os a agir e a comportar-se como leitores, descobrindo o essencial das práticas sociais tais como: melhor relacionamento entre os colegas, preservação do ambiente escolar e comunitário, além de melhorar o relacionamento entre pais e filhos. Desta forma, confirmamos a contribuição do Projeto na aprendizagem da leitura, uma vez que todas as atividades desenvolvidas foram elaboradas usando como base a revista em quadrinhos “Planeta Azul”, cujo tema é a reflexão no ser e fazer. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ser alfabetizado, é ser capaz de ler e escrever com compreensão simples, relacionando à vida cotidiana. Nesse sentido é necessário trabalhar com vários tipos de leitura para que se amplie o conhecimento do aluno a partir de sua realidade favorecendo-lhe a percepção de outras formas de linguagem – informativas, literária, dissertativas e outras. Portanto, a leitura como prática social é sempre um meio, nunca um fim, e a prática constante da leitura na escola pressupõem o trabalho com a diversidade de objetivos e modalidades. Optou-se, nesta pesquisa, pelo seu fim trabalhar com as as histórias em quadrinhos, que utilizam de recursos lingüísticos e iconográficos que alteram a ordem natural dos fatos com sua variedade de expressões, dicções e termos que entram na sua composição. Porém, é imprescindível que se desenvolvam atividades de leituras, explorando o mais possível o texto através de debates, de análises e de reflexão, para que o aluno perceba todas as implicações nele existente. Os resultados alcançados nesta pesquisa com os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual de Educação Básica Professor Fernando Leite Campos, que tem como missão oferecer um ensino que contribua para a formação de leitores críticos, possibilitou além deste artigo cujo tema: “A Leitura na escola; projeto Planeta Azul”, verificar na prática como é possível despertar nos alunos o gosto pela leitura, através da revista em quadrinhos e que, o aluno estimulado a ler e compreender o prazer da leitura, possivelmente se tornará um grande leitor. Nesta escola é freqüente a preocupação dos professores acerca dos alunos que não lêem, ou que lêem, mas não aprendem o sentido dos textos, isto é, apenas decodificam as palavras. Na verdade, não basta saber o código escrito, decifrá-lo, conhecer as letras e sinais, sem estabelecer vínculo com a realidade e imprimir-lhes significados. Desta forma a revista “Planeta Azul” facilita esta compreensão, uma vez que suas histórias são baseados em fatos reais, vivenciados por crianças reais, concretas. Assim, ao trabalhar com o projeto “Planeta Azul”, a pretensão foi de que o aluno adquirisse habilidade de leitura e a busca do prazer de ler, encontrando nas histórias em quadrinhos, a principal introdução à magia da leitura, além da formação de homens altruístas e úteis a sociedade. Durante a pesquisa, o trabalho foi desenvolvido através da exploração dos temas abordados pela revista, possibilitando a interpretação oral e coletiva com os alunos, bem como a construção de novos conceitos em relação ao meio ambiente, ao companheirismo e a postura do aluno diante dos seus pais, colegas e comunidade. Possibilitando-nos ver o ensino como uma incessante busca e que são os professores, os responsáveis em encaminhar e estimular essa busca. Cabe, ao professor, não dar continuidade a velha e desgastada forma de ensinar, onde se fornece respostas prontas e acabadas. E sim ser um instrumento que com esforço e boa vontade, é capaz de conduzir os alunos em um caminho, que os levem a se questionarem e a questionar o mundo. Na arte de ensinar, o professor deve ser um constante semeador, semear acreditando em seus alunos pelo simples fato de amar, não importando em que solo esta semeando, mas simplesmente semear, na esperança de colher o fruto que plantou. No campo do mundo tu é um semeador. Não podes fugir à responsabilidade de semear. Não digas que o solo é áspero, que chove freqüentemente, que o sol queima ou que a semente não serve. Não é tua função a terra e o tempo. Tua missão é semear. A semente é abundante. Um pensamento, um sorriso, uma promessa de alento, um aperto de mão, um conselho, um pouco de água, são sementes que germinam facilmente Não semeias, porém, descuidadamente, como quem cumpre uma missão desagradável. Semeia com interesse, com amor, com atenção, com que encontra nisso motivo central de sua felicidade. E ao semear não penses. Quanto me darão? Quanto demorara a colheita? Recorda que não semeias para enriquecer aguardando o ganho multiplicado; semeias porque não podes estar inato, porque podes servir a Deus sem servir aos demais. És dono de ti mesmo, da vida e do universo. Tua semente, pis não cairá no vazio. Sem esperar recompensa, receberás recompensa; sem esperar riquezas, enriquecerás; sem pensar em colheita, teus bens se multiplicarão. E tudo, porque semeias num Reino onde dar é receber, onde perder é encontrá-la, sempre em todo terreno, em todo interesse, como se estivesses semeando o próprio coração... e pois um semeador... (Autor desconhecido. In: Revista Nova Era. Ano VI, n° 25, p. 11) No decorrer da pesquisa encontrou-se muitas dificuldades e a maior delas foi deparar com uma turma de 3ª ano com alunos sem nenhuma noção dos código escrito, e com pouco tempo disponível para a realização do trabalho, tendo que adaptar o projeto, pois antes de despertar no aluno o hábito e o gosto de ler, foi preciso alfabetizá-los. Mesmo assim, foi possível perceber que houve uma gradativa evolução no processo de aprendizagem, além da mudança de comportamento dos alunos, sendo inclusive percebida pelos pais e comunidade escolar, a semente foi plantada e os frutos serão colhidos pelos futuros professores. Creio que este seja o caminho, no período da aplicação do projeto, percebeu-se ainda, o quanto desperta a atenção dos alunos quando estes são seres ativos, dinâmicos e participativos. Nesse sentido o projeto Planeta Azul além proporcionar uma forma lúdica e prazerosa de ensinar, enriqueceu e deu entusiasmo as aulas, despertando o interesse dos alunos pela leitura, melhorando a escrita e o vocabulário, bem como levando os alunos a uma ação e reflexão. Fazer uma nova educação vai além do ensinar a ler e a escrever, é preciso buscar um caminho que ajudem os alunos a superar os obstáculos da vida, facilitando a compreensão do real e tornando-os úteis à vida. Como afirma Silva: ...a condição básica para ensinar o aluno a ler diz respeito à capacidade de leitura do próprio professor. Mais especificamente, para que ocorra um bom ensino da leitura é necessário que o professor seja, ele mesmo um bom leitor. No âmbito das escolas, de nada vale o velho ditado “Faça como eu digo (ou ordeno) não faça como eu faço ( por que eu mesmo não sei fazer!)” – isto porque os nossos alunos necessitam do testemunho vivo dos professores no que tange à valorização e encaminhamento de suas práticas de leitura. (1995:109) Portanto, para desenvolver no aluno o gosto de ler e torná-lo um leitor crítico, é preciso que o professor seja um leitor crítico, apaixonado, que veja a leitura como um ato a ser compartilhado. A leitura não é para ser ensinada e sim compartilhada não com técnicas, mas com emoções. Não é a quantidade de livros que torna o aluno um bom leitor e sim o compartilhar da leitura entre professor e aluno. A questão não é ter que ler, mas descobrir a leitura. Sabe-se, porém, que ainda há um grande número de professores que consideram a histórias em quadrinhos inúteis e desnecessárias ao ensino de leitura. No entanto, para a filosofia Okadiana a missão do educador é ajudar na formação educacional das crianças, entendendo que elas tem sentimentos e mais profundamente espírito e matéria, ou seja, o educador precisa conscientizar-se de que não basta cuidar do conteúdo é necessário, levar em consideração o lado invisível da criança, seu modo de pensar, ser e agir. É preciso, que a escola leve em consideração a criança concreta, com suas frustrações, sonhos e relacionamentos, que não basta somente cuidar da parte didática, a formação educacional não se limita à conteúdos e sim a formação do ser total, razão e sentimento. Enquanto, o professor não se conscientizar disso, o ensino-aprendizagem não ocorrerá de maneira eficaz, para aprender o aluno precisa mais do que conhecimento, precisa sentir satisfação neste aprender e reconhecer a importância desta aprendizagem na sua vida cotidiana. Assim, a prática de atividades criativas propicia ao aluno a oportunidade de vivenciar novas experiências que vão contribuir para seu ajustamento, sua realização pessoal e seu engajamento sociocultural. Hoje compreendemos que a escola não dá conta de resolver os problemas sociais. Mas temos consciência que ela tem uma função insubstituível, que é o compromisso de ajudar os alunos a tornarem-se sujeitos pensantes, capazes de atuar e construir uma visão crítica da realidade e ao mesmo tempo solidária no mundo que estão inseridos. Agora sabemos que toda escola tem sua concepção de mundo, embora não assuma, está presente nos conteúdos, nos métodos, nas formas de organização do ensino. Por isso, antes de pensar em formar cidadãos é preciso que se saiba que modelos sociais irão ser transmitidos, que conteúdo esta veiculando, a que classe se esta defendendo e de que ponto de vista se esta pensando a educação. A escola que precisamos é aquela que tem filosofia e objetivos claros em que os educandos encontrem um propósito de vida e princípios filosóficos a seguir. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANSELMO, Zilda. História em Quadrinhos. Petrópolis: Vozes, 1975. BARBOSA. José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1992. CAVALLO, Guglielmo e CHARTIER, Roger. História da Leitura no Mundo Ocidental. São Paulo: Ática 1997. EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. São Paulo: Martins fontes, 1989. FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1991. ............................... & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médica, 1985. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1987. .............. .......... Professora sim, tia não: cartas a quem gosta de ensinar. São Olho d’água, 1993. Paulo. GERALDI, João Wanderley. O Texto na Sala de aula: Leitura & Produção. 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