A LEITURA NA ESCOLA: Projeto Planeta Azul1
Lucinete Ornagui de Oliveira2
Elizabeth Pereira Galindo da Silva3
RESUMO:
Aprender a ler o mundo nas palavras de Paulo Freire significa que desde criança
aprendemos a ler a realidade em nosso cotidiano social. Aprendemos também que
somos permanentemente “lidos”, o que nos leva a utilizar nosso comportamento como
uma forma de linguagem, capaz de agradar, despertar simpatia, agredir, demonstrar
indiferença. Dessa forma, a vida social não se limita a nos ensinar a ler a realidade, mas
de orientar essa leitura num sentido mais amplo, em que aprender a ler o mundo é
apropriar-se dos valores de nossa cultua. Nesse sentido, o papel do professor nos
momentos de aprendizagem não se resume a transmitir conhecimento e sim, o de criar
situações significativas. Assim, o artigo visa apresentar o projeto “Planeta Azul” como
complemento didático para despertar o gosto pela leitura, bem como demonstrar a
analise dos resultados da prática pedagógico vivenciadas com os alunos do 3º ano do
Ensino Fundamental.
Palavras-chaves: Leitura, Projeto Planeta Azul, Estratégia Pedagógica.
READING IN SCHOOLS: Blue Planet Project
ABSTRACT:
Learn to read the world in the words of Paulo Freire means that from a child learn to
read reality in our everyday society. We also learned that we are constantly "read”,
which leads us to use our behavior as a form of language, able to please, sympathy,
attack, show indifference. Thus, social life does not just teach us to read the reality, but
to direct this reading in a broader sense, as they learn to read the world is to appropriate
the values of our worship. In this sense, the teacher's role in times of learning is not just
impart knowledge but, to create meaningful situations. Thus, the project aims to
introduce the "Blue Planet" as a complement to teaching to awaken a taste for reading
and analyzing the results demonstrate the practice of teaching students experienced with
the 3rd year of elementary school
Keywords: Reading, Blue Planet Project, Educational Strategy
1
Texto elaborado inicialmente como parte da “Monografia” submetida a aprovação da Coordenação de
Pós-graduação, pesquisa e Extensão para obtenção de grau de Especialização em Metodologia e Didática
do Ensino Superior.
2
Pedagoga, Especialista em Metodologia e Didática de Ensino Superior pela Universidade de Cuiabá.
Professora da rede Estadual de Educação do Estado de Rondônia, Orientadora Acadêmica do Curso de
Pedagogia (Modalidade a distância) – Acordo Brasil/Japão e professora no Curso de pedagogia no ICE –
Instituto Cuiabano de Educação.
3
Letras. Especialista em Metodologia e Didática de Ensino Superior pela Universidade de Cuiabá.
Professora da rede Estadual de Educação do Estado de Mato Grosso e professora do UNIVAG – Centro
Universitário.
INTRODUÇÃO
Acreditando que as histórias em quadrinhos proporciona ao leitor, além do
prazer uma forma divertida de adquirir o conhecimento, a Fundação Mokiti Okada
elaborou o projeto “Planeta Azul” e junto com as escolas formar educandos capazes de
superar as dificuldades de leitura bem como levá-los a viver uma vida digna baseada
nos princípios morais.
Para Okada (2001), a humanidade está desorientada diante dos cenários
sociais, e os seres humanos estão esquecendo-se de cultivar os valores morais e
espirituais que devem nortear as relações mais simples entre alunos e professores, pais e
filhos, profissionais e funcionários. Portanto, a criança precisa aprender desde cedo a
cultivar a sua própria família, seu planeta e tudo que faz parte dele, contribuindo para a
transformação da sociedade.
Assim, o projeto tem em vista à necessidade de encontrar um caminho para
despertar no educando o gosto pela leitura, e desenvolver uma educação que restabeleça
a dignidade, a harmonia e o valor do Homem, desenvolvendo um relacionamento
espontâneo do ser humano com seus semelhantes e a natureza, sem eliminar, jamais, a
sua individualidade, e, acreditando, que o educador é responsável pela transformação
social, onde ele não ensina por ensinar, pois seu ato pedagógico deve ser um ato que
desperta a vida para a vida, devendo interessar para ele não os conteúdos pelos
conteúdos, mas sim algo que possa ajudar o aluno a viver a sua vida neste constante
processo de mudança, em que o ato de ler é insubstituível, pois a leitura amplia os
limites do próprio conhecimento, obtendo informações simples e complexas; além de
proporcionar diversão, descontração e reflexão por meio da leitura de ficção e da poesia.
Por isso as histórias em quadrinhos que consistem em textos humorísticos e com
recursos iconográficos mostram aos alunos de forma criativa a vivacidade do discurso
direto presente nos textos.
LEITURA: UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA
Sabendo que a leitura é um dos fatores mais significativos na educação para
o desenvolvimento pessoal e social, e a dificuldade que os alunos apresentam no
decorrer de sua vida escolar no que tange a leitura, pesquisa teve como participante
alunos do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professor Fernando Leite de Campos
Várzea Grande-MT, levando em consideração a faixa etária dos alunos, nível de
conhecimento, dificuldades na aprendizagem da leitura e o interesse pela leitura.
Acreditando,
que
a
leitura
é
um
instrumento
fundamental
no
desenvolvimento da aprendizagem e uma preocupação constante dos educadores como
parte indispensável para a formação do aluno o Projeto “Planeta Azul” teve como foco
desenvolver a leitura crítica na 3ª série do ensino fundamental. Para obtermos dados
mais claros sobre a leitura como prática pedagógica, escolhemos a pesquisa-ação, haja
vista que o fato de participar ativamente da pesquisa oferece maiores subsídios ao
pesquisador, que pode, ao longo do projeto, mudar sua prática a partir dos resultados
paulatinamente obtidos.
A leitura é um dos aspectos mais importante para a criança como ponto de
partida na aquisição de conhecimento, meio de comunicação e socialização. É ela que
interfere grandemente na aprendizagem da escrita, pois são interdependentes e se
desenvolvem de modo contínuo e progressivo e consiste em ajudar os alunos na
formação de hábitos, atitudes e no desenvolvimento de habilidades; facilitar a
socialização; ajudar a interpretação; desenvolver a capacidade de resolução de
problemas; oferecer oportunidades para recreação e o lazer; auxiliar na aquisição de
conhecimento entre os povos; desenvolver a memória e reestruturar os conceitos e
ajudar no desenvolvimento da escrita.
Por isso, é preciso iniciar o ensino da leitura procurando estimular a criança
para que ela desenvolva a maturidade física, mental, social e emocional. O mais
importante é a operacionalização, as posições teóricas da leitura que contribuem para
propiciar o pensamento organizado, capaz de levar a criança a uma postura consciente,
reflexiva e crítica frente a realidade social em que vive e atua.
Para tanto, é preciso que haja uma motivação lúdica e crítica que atenda o
nível de amadurecimento do aluno, que reflita na aquisição de habilidades do processo
de leitura a partir de sua realidade de formação escolar e de seu contexto sócioeconômico.
Para atender um dos quesitos essenciais que é o gosto pela leitura,
primeiramente é necessário planejar uma dinâmica que ofereça aos alunos condições
para aprimorar a sua convivência com a prática da comunicação lingüística, visando um
leitor crítico e um usuário eficiente da língua materna. Desenvolvendo assim, o gosto e
a importância pela leitura, descobrindo a necessidade de saber ler e produzir textos
baseando-se em conteúdos como a diversidades de textos que contribuirão para a
formação de sentido.
Diante deste propósito, a apresentação aos alunos da revista “Planeta Azul”,
que tem como objetivo oferecer as crianças ensinamentos através de histórias em
quadrinhos, permitindo que elas possam aplicá-los no seu cotidiano.
Os conteúdos desenvolvidos são instrumentos para pais e educadores na
formação dos jovens, pois as histórias trazem palavras mágicas que resgatam valores e
princípios éticos de forma lúdica e prazerosa, que através das ilustrações propiciam a
iniciativa para a leitura. Partindo das vivências o conteúdo vai evoluindo para uma
sistematização científica, favorecendo a criticidade e a transformação. Portanto, a
metodologia aplicada deve ser a mais diversificada possível, para atender a turma com
crianças que domina o código de leitura e as que não tem sequer noção destes códigos
quanto mais do processo de leitura em si. Assim para começar o trabalho é preciso
planejar, pois os alunos podem apresentar dificuldades além do esperado para uma
turma de 3º ano. A partir da percepção da dificuldade é preciso que se alie o desejo de
encontrar uma alternativa para despertar no educando o interesse pela leitura através de
cartazes, jogos e atividades em grupos. Torna-se necessário então, criar uma situação
que permiti o desenvolvimento do projeto de acordo com o nível de conhecimento de
cada criança, dentro de um clima de confiança e respeito entre aluno, professor e pais.
Ou seja, após o período de sondagem, conhecendo os alunos de fato, para dar conta
desse projeto pode ser utilizado diferentes métodos, nesta experiência o método
escolhido é o dialético, que propicia aos alunos múltiplas oportunidades de leitura com
materiais variados e alguns recursos como: gibis (coleção histórias em quadrinhos
“Planeta azul”), revistas, rótulos, embalagens, vídeo, gravador, papéis, cartazes, lápis de
cor, tinta guache, pincel, além de fichas de leituras com textos fáceis de ilustrações
agradáveis sobre os personagens do planeta azul.
O primeiro passo para a realização deste trabalho é criar um ambiente
alfabetizador, organizando a sala de aula de forma a permitir a construção e o gosto pela
leitura, elaborando desta forma o material em cima das histórias e dos personagens,
ornamentando a sala de aula com cartazes das famílias silábicas, alfabeto e com os
nomes dos alunos,
normalmente a metodologia utilizada consiste na alfabetização
através do método silábico. Com o objetivo de respeitar a prática do dia-a-dia se fazem
necessário algumas adequações.
A revista Planeta Azul apresenta de cinco as oito histórias,
contendo
palavras “mágicas” tais como, obrigado, com licença, por favor, bom dia, boa tarde,
preservação do meio ambiente, textos significativos que relacionados com as
experiências e as vivências dos alunos despertam e contribuem para a formação de
sentido, desenvolvendo os conceitos éticos, as habilidades e atitudes para agirem e
atuarem como agentes participativos na busca de um mundo melhor.
As próprias histórias através das mensagens, das ilustrações e dos
personagens, oportunizam as mudanças de hábitos e atitudes dos alunos ao trabalharem
com os temas relacionados a realidade social e psicológica do aprendiz, como meios
socializados e de refinamento emocional, pois quando os alunos manuseiam, folheiam
as revistas, elas passam a concretizar os seus desejos imaginários, materializavam
aquilo que então era
apenas o abstrato, e através desse processo adquirem,
desenvolvem e sedimentam seus conhecimentos.
O procedimento didático pedagógico eficiente consiste no trabalho diário
das leituras de uma histórias seguida de interpretação oral, e atividades relacionadas ao
texto trabalhado, partindo das palavras mágicas ou das frases em slogans, dos textos
escrito em cartazes através da composição e decomposição das palavras, dos nomes dos
personagens, atividades de recorte e colagem utilizando revistas, jornais, desenhos,
dramatizações, produções de pequenos textos como: composição de poesias com rima,
advinhas, trava-língua, textos informativos, dominó, caça-palavras, cruzadinhas, jogo de
encaixe, quebra cabeça, cartão surpresa, loteria de nomes, oficinas de leituras e escrita,
o progresso irá acontecendo lentamente no dia-a-dia.
Ao contar histórias da revista em quadrinhos “Planeta Azul”, que se
baseiam no princípio de que a verdadeira educação é aquela que leva o aluno a
desenvolver todas as suas potencialidades positivas, tornando-se homens íntegros,
honestos, verdadeiros, que estejam aptos a colaborar para o bem estar social e
contribuírem para o progresso e elevação da cultura, procuramos mais do que constatar
fatos, mais do que saber o resultado final; comprovar que as histórias desta revista
consegue transformar o comportamento do aluno e que é um meio eficaz de levar a
criança a desenvolver a leitura de forma prazerosa, despertando nelas o sentimento
altruísta de companheirismo e compreensão.
Fomos testemunhas dessas mudanças durante as 160 horas aulas de
acompanhamento dos alunos trabalhando os temas: A verdade; A união faz a força;
Pequena ajuda, grande felicidade; Tempero Blevigh; Salvando a praia; Brincando e
pensando; Colecionando Obrigados; Preservando nosso Ambiente; A gratidão; Os
amigos.
Ao desenvolver os temas praticamente um por semana, a leitura sempre foi
o motivo incentivador, ora pela professora, ora pelos alunos. A exploração do tema
concretiza-o e abrange a interdisciplinaridade, pois os alunos participam ativamente dos
questionamentos orais e buscam através disto ou deles soluções para problemas e até
mesmo criam regras e critérios para resolver estratégias de trabalhos ou situações.
Durante a pesquisa observamos, então, que as crianças apesar de não lerem
tinham um senso de
percepção fantástico, pois discutiam os temas com muita
naturalidade e apresentavam sua experiências diárias a cada história contada. Uma das
experiências foi relatada pelo aluno Alexandre, um dos que mais se identificou com o
projeto. Ele contou que sua mãe pediu que fosse ao mercado comprar um pacote de
açúcar e ao retornar entregou a encomenda e ela não agradeceu, foi quando mencionou
sobre a importância de dizer obrigado:
nós?
“Mãe, o que devemos falar quando alguém faz alguma coisa para
E mãe respondeu:
-
Obrigada!
-
Então porque a senhora não disse? Aprendi nas historinhas com a
professora que devemos sempre dizer obrigado.”
Outra experiência também marcante foi relatada pela aluna Nádia que
apesar de morar com os pais, passava a maior parte do tempo com a avô, após termos
trabalhado em sala de aula, a importância de ajudar as pessoas, foi para casa pensando o
que poderia fazer para ser útil., então decidiu que iria fazer alguma coisa para ajudá-la.
No dia seguinte, toda feliz Nádia contou o que havia acontecido: ao ouvir a avó falar
que ia na vizinha buscar uma muda de flor, foi logo dizendo:
-
“Vó, deixa que eu vou! E saiu correndo.”
Sua avó ficou sem entender, pois esta não era a postura de Nádia no dia-adia. Quando ela chegou com a muda, explicou à avó que tinha como tarefa para casa
ajudar alguém, por isso que pediu para ir à vizinha.
Ao levarem as atividades para casa, alguns pais participavam das leituras,
servindo como estímulo aos filhos, com isso a própria criança passavam a construir e
reconstruir, aprender e inventar por ela mesma, avançando de um nível a outro do
próprio pensamento e do pensamento do outro, criando o gosto e o hábito para a leitura
e a expressão de seus sentimentos.
E assim, a cada novo tema variavam-se as atividades, sugerindo aos alunos
o trabalho em grupo, duplas, no coletivo e individual. Além da leitura, da escrita de
pequenas produções textuais, foi utilizado todos os recursos possíveis para que houvesse
aprendizagem da leitura e despertar para o gosto de ler entre elas: oportunidade para
brincar, cantar, ouvir músicas do Cd Planeta Azul, fazer teatro, contar histórias e
formular hipóteses.
É certo que o mecanismo da leitura e da escrita faz parte da alfabetização,
porém a linguagem oral, a expressão e a compreensão do próprio pensamento e do
pensamento do outro participam igualmente do processo. Não tenho como meta
prioritária apontar ou indicar este ou aquele método, mas tenho um objetivo maior que é
apontar aos educadores os aspectos que não devem serem esquecidos, pois a
aprendizagem vai depender da segurança do professor em relação aos procedimentos
que adotam e da coerência do plano de alfabetização.
Pensando na “eficiência da aprendizagem” se faz necessário pensar na
avaliação, pois somente ela responderá sobre a eficácia dando suporte para possíveis
intervenções.
Assim, a avaliação se dá no sentido de identificar dificuldades, avanços e
resistências, permitindo utilizá-la como instrumento que questiona constantemente o
processo pedagógico do ensino da aprendizagem, possibilitando uma retomada de
decisão para superar dificuldades e reorientar o processo de forma a vencer obstáculos,
é ela a condição básica para o planejamento. A avaliação contínua do aluno, por
exemplo, mostram o caminho a seguir, as atividades necessárias e apropriadas ao aluno,
às intervenções que ele requeria do professor, naquele momento. A avaliação diária dos
alunos e das atividades desenvolvidas subsidiaram o planejamento para o dia seguinte.
Portanto, o ensino consistiu na criação de situações favoráveis à
aprendizagem, em que procuramos envolver os alunos em atividades, que provocassem
as discussões e a reflexão entre eles, buscando problematizá-los. Durante o tempo em
que estive a frente do projeto a minha ação foi de prazer, porque gosto do que faço e
faço porque sinto necessidade de fazer. Desta forma, a minha ação com a educação é de
uma educadora compromissada, envolvida não só com a sala de aula, mas com a
comunidade, procurando manter uma interação coletiva eficiente. O trabalho
desenvolvido com o coordenador, diretor e pais de alunos foi horizontal, servindo de
apoio e incentivo ao processo, através das
sugestões e do acompanhamento. Os
resultados alcançados podem ser considerados satisfatórios, pois, das dezoito crianças
com dificuldades em leitura, dez conseguiram aprender a ler e produzir pequenos
textos; cinco
dificuldades
apresentaram desenvolvimento na leitura, porém,
com
pequenas
na produção de textos e, apenas três conseguiram ler somente as vogais
e algumas sílabas simples, sem conexão com o texto ou frase, embora duas conseguiam
contar história oralmente, enquanto uma apresentava dificuldade até
mesmo na
oralidade. Quanto ao relacionamento, todas melhoraram, diminuiu a agressividade entre
colegas, agradeciam com mais freqüência e participavam dos trabalhos coletivos.
Assim no desenvolvimento desta atividade, percebe-se que ao trabalhar com
projeto Planeta Azul numa filosofia Okadiana, realmente há uma mudança de
comportamento pois, através de ações inter-individuais, as crianças iam se
transformando em leitores, conhecendo a função social da leitura e se envolvendo com
estes conhecimentos como agentes observadores no mundo letrado possibilitando-os a
agir e a comportar-se como leitores, descobrindo o essencial das práticas sociais tais
como: melhor relacionamento entre os colegas, preservação do ambiente escolar e
comunitário, além de melhorar o relacionamento entre pais e filhos.
Desta forma, confirmamos a contribuição do Projeto na aprendizagem da
leitura, uma vez que todas as atividades desenvolvidas foram elaboradas usando como
base a revista em quadrinhos “Planeta Azul”, cujo tema é a reflexão no ser e fazer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ser alfabetizado, é ser capaz de ler e escrever com compreensão simples,
relacionando à vida cotidiana. Nesse sentido é necessário trabalhar com vários tipos de
leitura para que se
amplie o conhecimento do aluno
a partir de sua realidade
favorecendo-lhe a percepção de outras formas de linguagem – informativas, literária,
dissertativas e outras. Portanto, a leitura como prática social é sempre um meio, nunca
um fim, e a prática constante da leitura na escola pressupõem o trabalho com a
diversidade de objetivos e modalidades. Optou-se, nesta pesquisa, pelo seu fim trabalhar
com as as histórias em quadrinhos, que utilizam de recursos lingüísticos e iconográficos
que alteram a ordem natural dos fatos com sua variedade de expressões, dicções e
termos que entram na sua composição. Porém, é imprescindível que se desenvolvam
atividades de leituras, explorando o mais possível o texto através de debates, de análises
e de reflexão, para que o aluno perceba todas as implicações nele existente.
Os resultados alcançados nesta pesquisa com os alunos do 3º ano do Ensino
Fundamental da Escola Estadual de Educação Básica Professor Fernando Leite Campos,
que tem como missão oferecer um ensino que contribua para a formação de leitores
críticos, possibilitou além deste artigo cujo tema: “A Leitura na escola; projeto Planeta
Azul”, verificar na prática como é possível despertar nos alunos o gosto pela leitura,
através da revista em quadrinhos e que, o aluno estimulado a ler e compreender o
prazer da leitura, possivelmente se tornará um grande leitor.
Nesta escola é freqüente a preocupação dos professores acerca dos alunos
que não lêem, ou que lêem, mas não aprendem o sentido dos textos, isto é, apenas
decodificam as palavras. Na verdade, não basta saber o código escrito, decifrá-lo,
conhecer as letras e sinais, sem estabelecer vínculo com a realidade e imprimir-lhes
significados.
Desta forma a revista “Planeta Azul” facilita esta compreensão, uma vez
que suas histórias são baseados em fatos reais, vivenciados por crianças reais, concretas.
Assim, ao trabalhar com o projeto “Planeta Azul”, a pretensão foi de que o aluno
adquirisse habilidade de leitura e a busca do prazer de ler, encontrando nas histórias em
quadrinhos, a principal introdução à magia da leitura, além da formação de homens
altruístas e úteis a sociedade.
Durante a pesquisa, o trabalho foi desenvolvido através da exploração dos
temas abordados pela revista, possibilitando a interpretação oral e coletiva com os
alunos, bem como a construção de novos conceitos em relação ao meio ambiente, ao
companheirismo e a postura do aluno diante dos seus pais, colegas e comunidade.
Possibilitando-nos ver o ensino como uma incessante busca e que são os professores, os
responsáveis em encaminhar e estimular essa busca. Cabe, ao professor, não dar
continuidade a velha e desgastada forma de ensinar, onde se fornece respostas prontas e
acabadas. E sim ser um instrumento que com esforço e boa vontade, é capaz de
conduzir os alunos em um caminho, que os levem a se questionarem e a questionar o
mundo.
Na arte de ensinar, o professor deve ser um constante semeador, semear
acreditando em seus alunos pelo simples fato de amar, não importando em que solo esta
semeando, mas simplesmente semear, na esperança de colher o fruto que plantou.
No campo do mundo tu é um semeador. Não podes fugir à
responsabilidade de semear. Não digas que o solo é áspero, que chove
freqüentemente, que o sol queima ou que a semente não serve. Não é
tua função a terra e o tempo. Tua missão é semear.
A semente é abundante. Um pensamento, um sorriso, uma promessa
de alento, um aperto de mão, um conselho, um pouco de água, são
sementes que germinam facilmente Não semeias, porém,
descuidadamente, como quem cumpre uma missão desagradável.
Semeia com interesse, com amor, com atenção, com que encontra
nisso motivo central de sua felicidade. E ao semear não penses.
Quanto me darão? Quanto demorara a colheita? Recorda que não
semeias para enriquecer aguardando o ganho multiplicado; semeias
porque não podes estar inato, porque podes servir a Deus sem servir
aos demais. És dono de ti mesmo, da vida e do universo. Tua semente,
pis não cairá no vazio. Sem esperar recompensa, receberás
recompensa; sem esperar riquezas, enriquecerás; sem pensar em
colheita, teus bens se multiplicarão. E tudo, porque semeias num
Reino onde dar é receber, onde perder é encontrá-la, sempre em todo
terreno, em todo interesse, como se estivesses semeando o próprio
coração... e pois um semeador... (Autor desconhecido. In: Revista
Nova Era. Ano VI, n° 25, p. 11)
No decorrer da pesquisa encontrou-se muitas dificuldades e a maior delas
foi deparar com uma turma de 3ª ano com alunos sem nenhuma noção dos código
escrito, e com pouco tempo disponível para a realização do trabalho, tendo que adaptar
o projeto, pois antes de despertar no aluno o hábito e o gosto de ler, foi preciso
alfabetizá-los.
Mesmo assim, foi possível perceber que houve uma gradativa evolução no
processo de aprendizagem, além da mudança de comportamento dos alunos, sendo
inclusive percebida pelos pais e comunidade escolar, a semente foi plantada e os frutos
serão colhidos pelos futuros professores. Creio que este seja o caminho, no período da
aplicação do projeto, percebeu-se ainda, o quanto desperta a atenção dos alunos quando
estes são seres ativos, dinâmicos e participativos. Nesse sentido o projeto Planeta Azul
além proporcionar uma forma lúdica e prazerosa de ensinar, enriqueceu e deu
entusiasmo as aulas, despertando o interesse dos alunos pela leitura, melhorando a
escrita e o vocabulário, bem como levando os alunos a uma ação e reflexão.
Fazer uma nova educação vai além do ensinar a ler e a escrever, é preciso
buscar um caminho que ajudem os alunos a superar os obstáculos da vida, facilitando a
compreensão do real e tornando-os úteis à vida. Como afirma Silva:
...a condição básica para ensinar o aluno a ler diz respeito à
capacidade de leitura do próprio professor. Mais
especificamente, para que ocorra um bom ensino da leitura é
necessário que o professor seja, ele mesmo um bom leitor. No
âmbito das escolas, de nada vale o velho ditado “Faça como eu
digo (ou ordeno) não faça como eu faço ( por que eu mesmo não
sei fazer!)” – isto porque os nossos alunos necessitam do
testemunho vivo dos professores no que tange à valorização e
encaminhamento de suas práticas de leitura. (1995:109)
Portanto, para desenvolver no aluno o gosto de ler e torná-lo um leitor
crítico, é preciso que o professor seja um leitor crítico, apaixonado, que veja a leitura
como um ato a ser compartilhado. A leitura não é para ser ensinada e sim compartilhada
não com técnicas, mas com emoções. Não é a quantidade de livros que torna o aluno um
bom leitor e sim o compartilhar da leitura entre professor e aluno. A questão não é ter
que ler, mas descobrir a leitura.
Sabe-se, porém, que ainda há um grande número de professores que
consideram a histórias em quadrinhos inúteis e desnecessárias ao ensino de leitura. No
entanto, para a filosofia Okadiana a missão do educador é ajudar na formação
educacional das crianças, entendendo que elas tem sentimentos e mais profundamente
espírito e matéria, ou seja, o educador precisa conscientizar-se de que não basta cuidar
do conteúdo é necessário, levar em consideração o lado invisível da criança, seu modo
de pensar, ser e agir.
É preciso, que a escola leve em consideração a criança concreta, com suas
frustrações, sonhos e relacionamentos, que não basta somente cuidar da parte didática, a
formação educacional não se limita à conteúdos e sim a formação do ser total, razão e
sentimento.
Enquanto, o professor não se conscientizar disso, o ensino-aprendizagem
não ocorrerá de maneira eficaz, para aprender o aluno precisa mais do que
conhecimento, precisa sentir satisfação neste aprender e reconhecer a importância desta
aprendizagem na sua vida cotidiana. Assim, a prática de atividades criativas propicia ao
aluno a oportunidade de vivenciar novas experiências que vão contribuir para seu
ajustamento, sua realização pessoal e seu engajamento sociocultural.
Hoje compreendemos que a escola não dá conta de resolver os problemas
sociais. Mas temos consciência que ela tem uma função insubstituível, que é o
compromisso de ajudar os alunos a tornarem-se sujeitos pensantes, capazes de atuar e
construir uma visão crítica da realidade e ao mesmo tempo solidária no mundo que
estão inseridos.
Agora sabemos que toda escola tem sua concepção de mundo, embora não
assuma, está presente nos conteúdos, nos métodos, nas formas de organização do
ensino. Por isso, antes de pensar em formar cidadãos é preciso que se saiba que modelos
sociais irão ser transmitidos, que conteúdo esta veiculando, a que classe se esta
defendendo e de que ponto de vista se esta pensando a educação.
A escola que precisamos é aquela que tem filosofia e objetivos claros em
que os educandos encontrem um propósito de vida e princípios filosóficos a seguir.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANSELMO, Zilda. História em Quadrinhos. Petrópolis: Vozes, 1975.
BARBOSA. José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1992.
CAVALLO, Guglielmo e CHARTIER, Roger. História da Leitura no Mundo Ocidental.
São Paulo: Ática 1997.
EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. São Paulo: Martins fontes, 1989.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez; Autores
Associados, 1991.
............................... & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto
Alegre: Artes Médica, 1985.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam.
São Paulo: Cortez, 1987.
.............. .......... Professora sim, tia não: cartas a quem gosta de ensinar. São
Olho d’água, 1993.
Paulo.
GERALDI, João Wanderley. O Texto na Sala de aula: Leitura & Produção.
Cascavel: Assoeste, 1984.
KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura: Teoria & prática. Campinas, SP: Pontes,1995.
MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso & Leitura. São Paulo: Cortez; Campinas, Unicamp,
1993.
OKADA, Mokiti. (Meishu Sama). Alicerce do Paraíso. São Paulo: Fundação Mokiti
Okada, 1995.
....................... O Pão Nosso de Cada Dia. São Paulo: Fundação Mokiti Okada, 1995.
PERSONA, Rosa Maria Jorge. Alfabetização: prática pedagógica de professores
considerados bem sucedidos. Cuiabá, UFMT, Mestrado, 1993.
Revista: Salto para o Futuro. Reflexões sobre a educação no próximo milênio.
Secretaria de Educação a Distância. Brasília: MEC, SEED, 1998.
Revista Nova Era. Ano V nº 18, 20 e 21. São Paulo. Fundação Mokiti Okada.
............................ Ano VI, nº 25. São Paulo. Fundação Mokiti Okada.
............................ Ano VII nº 30. São Paulo. Fundação Mokiti Okada.
Revista Nova Escola. Ano V, n° 41. Agosto 1990, São Paulo.
................... . Ano XVI, n° 145. Setembro 2001, São Paulo.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na Escola e na Biblioteca. Campinas: Papirus,
1995.
.................................................O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova
pedagogia da leitura. São Paulo: Cortez, 1996.
................................................ Elementos de Pedagogia da leitura. São Paulo: Martins
Fontes,1988.
THIOLLENTE, Michel. Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 1999.
WATANABE, Katsuit. Cem História da minha Fé. São Paulo; Fundação Mokiti Okada,
1999.
Download

artigo pdf