Pedra Furada : uma revisão N. Guidon Resumo A principal finalidade do artigo é publicar as fotos feitas no laboratório da Texas A & M University, das mais antigas peças líticas da Pedra Furada, com uma datação TL de 100.000 anos, , com os comentários do Prof. Robson Bonnichsen. Faz-se um relato dos trabalhos realizados para poder responder e contestar todas as críticas feitas aos resultados obtidos com as escavações na Pedra Furada. Além dos resultados relacionados no artigo, foi feita uma proposição de um cenário que poderia explicar fatos e dados que hoje são irrefutáveis. Em 1978, a equipe da Missão Arqueológica do Piauí, começou uma escavação, finalizada em 1988. A primeira parte da escavação foi realizada por Niéde Guidon. A partir de 1986, as campanhas foram dirigidas por Fabio Parenti, que realizou o estudo dos dados. Os resultados foram publicados, em 2003 (PARENTI F., 2003. Le gisement quaternaire de la Pedra Furada (Piaui, Bresil). Stratigraphie, chhronologie, evolution culturelle, Paris, Ed. Recherches sur les civilisations). Desde que foram publicados os primeiros artigos e comunicações (GUIDON, N. & DELIBRIAS, G., 1986, “Carbon-14 dates point to man in the Americas 32.000 years ago.” Nature , vol. 321, n° 6072,19-25 june, pp. 769-771 ), relatando os resultados de datações C-14, julgadas muito antigas para a América do Sul, o sítio Pedra Furada originou controvérsias, às vezes mais passionais que científicas (D.J. MELTZER, J.M. ADOVASIO, T. D. DILLEHAY, 1996, “Uma visão do Boqueirão da Pedra Furada”. FUMDHAMENTOS, v. 1, número 1, pp 347-377) Vinte e oito anos depois do início das escavações na Pedra Furada, o momento é propício para rever resultados, no contexto das pesquisas que prosseguiram no sítio, e das descobertas realizadas em outros sítios da região. Os dados hoje disponíveis permitem propor novas explicações sobre o povoamento do continente americano, solidamente demonstradas e realizar uma síntese da situação atual do conhecimento. Os aspectos questionados pelos defensores do povoamento recente do continente americano, de origem asiática e pelo estreito de Behring foram analisados e devidamente refutados por: PESSIS. A.-M. & GUIDON. N., 1996. Leviandade ou falsidade? Uma resposta a Meltzer, Adovasio & Dillehay. Falsehood or untruth? A reply to Meltzer, Adovasio & Dillehay. FUMDHAMENTOS, v.1,n.1, p. 379-394; PARENTI, F, MERCIER,N, VALLADAS, H., 1990. The Oldest Hearths of Pedra Furada, Brasil: Current Research in the Pleistocene, Vol 7: 36-38 Orono, Maine. ARAÚJO. A, FERREIRA. L.F, CONFALONIERI. U, CHAME, M. 1988. Hookworms and the peopling of America. Cadernos de Saúde Pública. RJ., 2 (4): 226-233. - ARAÚJO. A, FERREIRA. L.F. , 1995. Paleoparasitologia e o povoamento das Américas -Paleoparasitology and the peopling of the Americas. FUMDHAMENTOS: v.1, n. 1, p. 105-111. - SANTOS, G.M., BIRD, M.I., PARENTI, F., FIFIELD, L.K., GUIDON, N., HAUSLADEN, P.A., 2003. A revised chronology of the lowest occupation layer of Pedra Furada Rock Shelter, Piauí, Brazil: the Pleistocene peopling of the Americas. Quaternary Science Review 22 (2003) 2303-2310. 1 - VALLADAS, H., MERCIER, N., MICHAB, M., JORON, J.L., REYSS, J.L., GUIDON, N., 2003. TL age-estimates of burnt quartz pebbles from the Toca do Boqueirão da Pedra Furada (Piauí, Northeastern Brazil). Quaternary Science Review 22 (2003) 1257-1263. - FELICE, G.D.2002. A controvérsia sobre o sítio arqueológico Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Piauí-Brasil. FUMDHAMENTOS II, Fundação Museu do Homem Americano. 143-178. A afirmação de que as fogueiras estruturadas, descobertas no sítio da Pedra Furada, não eram estruturas realizadas pelo Homem, mas simplesmente o resultado de fogos naturais de floresta, foi anulada pelos resultados de uma série de sondagens, feitas ao longo da descida do sítio da Pedra Furada até o vale, subindo a seguir pela margem oposta. Fogos de floresta teriam deixado carvões e marcas em toda a área, mas somente foram achadas fogueiras perto da parede do abrigo, sob a proteção da parte inclinada da falésia e no fundo do vale, perto da antiga margem do rio que correu no local até cerca de 10.000 - 9.0000 anos BP. Um fogo natural, se tivesse atingido o abrigo, teria esquentado todos os seixos de quartzo e quartzito que estivessem nesse momento sobre o solo. A análise TL de todos os seixos recolhidos nos níveis mais profundos, demonstrou que somente tinham sido aquecidos os que haviam sido descobertos formando parte das estruturas de fogueira. Os pesquisadores que, em razão do atual clima semi-árido, afirmaram que os fogos naturais deveriam ser freqüentes na pré-história local, não levaram em consideração as mudanças climáticas que afetaram a região. As pesquisas demonstraram que, até cerca de 10.000 anos BP, o clima local era tropical úmido; o setor norte da região estava coberto pela Floresta Amazônica e o setor sul fazia parte da Mata Atlântica, dois biomas úmidos. Até hoje, espécies animais e vegetais originárias dos dois biomas, existem no Parque Nacional Serra da Capivara. As observações levantadas sobre a qualidade e a natureza das peças líticas que, segundo alguns colegas, seriam simplesmente o resultado de choques e fraturas naturais, foram também avaliadas. Considerando que os resultados das análises feitas pelos pesquisadores europeus da equipe haviam sido questionados, o Prof. Robson Bonnichsen, da Texas A & M University, realizou uma série de análises das mais antigas peças líticas da Pedra Furada, utilizando o microscópio eletrônico. Em dezembro de 2004 enviou seu primeiro relatório, com as fotografias e suas conclusões. Tinha também programado escavar o setor do sítio Pedra Furada ainda intocado e reservado para fornecer novos dados para a procura de eventuais respostas. O projeto previsto para janeiro de 2005, foi truncado em conseqüência de seu falecimento. Em paralelo com nossos trabalhos complementares sobre os resultados das escavações na Pedra Furada, houve descobertas no Chile, gerando novos dados que devem ser levados em consideração, em relação ao povoamento da América do Sul, (Adovasio, J.M. & D.R. Pedler. Monte Verde and the antiquity of humankind in the Americas Chilean Field Yields New Clues to Peopling of Americas, New York Times, August 1998.; Dillehay, Tom D. (1989). Monte Verde: A Late Pleistocene Settlement in Chile. Volume I: Palaeoenvironment and Site Context. Smithsonian Press.) , México (Human footprints in the Valsequillo Basin, Mexico: implications for the peopling of the Americas. Huddart, D., Gonzalez, S., Bennett, M.R.and Gonzalez-Huesca, A. Quaternary Science Reviews 25, 201-22, online 28th November 2005. ; A review of environmental change in the basin of Mexico (40,000-10,000 BP): implications for early humans. Huddart, D, Gonzalez, S. In Jimenez-Lopez, J.C, Gonzalez, S, Pompa y Padilla, J.A. and Ortiz Pedraza, F. eds. Early men in the Americas and the implications on the peopling of the Basin of Mexico. INAH Scientific Series, Mexico D.F. in press; Early humans in Mexico: new chronological data. Huddart, D., Gonzalez, S, Jimenez-Lopez, J.C., Hedges, R., Pompa y Padilla, J.A. In Jiminez-Lopez, J.C., Gonzalez, S., Pompa y Padilla, J.A. and Ortiz Pedraza, F. eds. Early men in the Americas and their implications on the peopling of the Basin of Mexico, INAH Scientific Series, Mexico D.F. in press), e na Carolina do Sul ( Goodyear, Albert C. and others "Archaeology of the 2 Pleistocene-Holocene Transition in Eastern North America." Quaternary International, Vol. 49/50, pp. 151-166. INQUA/Elsevier Science Ltd.1998. ; "The Early Holocene Occupation of the Southeastern United States: A Geoarchaeological Summary. In Ice Age Peoples of North America, edited by R. Bonnichsen and K. Turnmire, pp. 432-481. Oregon State University Press.1999 ; Goodyear and K. Steffy "Evidence of a Clovis Occupation at the Topper Site, 38AL23, Allendale County, South Carolina. Current Research in the Pleistocene Vol. 20:23-25. 2003; "Evidence of Pre-Clovis Sites in the Eastern United States. In Paleoamerican Origins: Beyond Clovis. edited by R. Bonnichsen et al. Texas A&M University Press (in press). 2004.), Há 110.000 – 100.000 anos o planeta estava em plena época glacial, o nível do mar estava cerca de -120 m abaixo do nível atual. Esta glaciação terminará em torno de há 20.000 anos. Sobre o continente, ao norte da América do Norte, sobretudo no Canadá, as geleiras eram imensas. Com o mar mais baixo, o número de ilhas entre a costa euro-africana e a costa sulamericana, era bem maior. As correntes marítimas favorecem a passagem para leste, para o Caribe e para o litoral norte do Brasil. Se, há milhões de anos, algumas espécies de primatas passaram da África para o Brasil (Mario Alberto Cozzuol, Richard Kay, PUCRS Informação numero 130 – Jul-Ago / 2006), segundo os pesquisadores, navegando sobre troncos de árvore, como afirmar que Homo sapiens não teria também atravessado o Atlântico, utilizando balsas? O povoamento da Ilha das Flores prova, definitivamente, que Homo navega há mais de 840.000 anos. Como explicar a distribuição de traços culturais na América, a diferença entre o desenvolvimento cultural da América Latina e da América ao norte da Baixa Califórnia, o fato dos sítios mais antigos estarem ou no litoral atlântico ou mais ao sul, no Chile, se considerarmos verdadeira a teoria da passagem tardia por Behring? Não teria havido passagens pelas ilhas, que em épocas glaciais eram numerosas entre a costa australiana e a costa da Baixa Califórnia e o México? Face aos dados existentes eis um cenário que pode ser proposto: Há 150.000 – 110.000 anos os primeiros homens passaram das ilhas e da costa africana para a América. Essa passagem se faz para o Caribe e para a costa norte do Brasil, com um ponto de chegada próximo ao atual rio Parnaíba, então um rio muito grande; Esses primeiros imigrantes se estabelecem e, no decorrer dos milênios, alguns grupos seguem a costa, outros se separam e entram para o continente; No nordeste do Brasil alguns grupos seguem a costa e chegam à Amazônia, outros seguem o rio Parnaíba e entram em um de seus principais afluentes, o rio Piauí, que corria na grande depressão da planície periférica do São Francisco; - A região era coberta pela floresta tropical úmida, tinha fauna rica e variada,com as espécies da megafauna do Pleistoceno, mas também com cavalos, lhamas, uma importante fauna de tamanho médio. Ao lado da planície, a imensa cuesta oferecia milhares de abrigos sob rocha, a montanha com fauna e flora diferentes, mas também ricas; Uma vez estabelecidos na região, se desenvolvem e, sem dúvida, ao fio dos milênios, pequenos grupos se separam e continuam a viagem para o sul, leste e oeste; Mas é necessário pensar que grupos asiáticos vieram pelo mar e chegaram ao Pacífico sul, ao Chile, por exemplo, outros à América Central; E, quando a glaciação terminou, o clima se torna mais cálido, e os homens que já estavam na Baixa Califórnia começaram a migrar para o norte. Outros que viviam na Ásia puderam começar a atravessar Behring e se encontraram com os homens que vinham do sul. Este cenário é impossível? Porque? 3 Figure 1. The dorsal side of a split cobble. Box indicates area of magnification in the following images. Figure 3. Lacquer-like polish from the red box in Figure 1 at 100x. Note reformed silica adhering to the edge possibly deposited on the edge from tool use. Figure 2. The ventral side of the split cobble. Figure 4. Close-up of edge illustrated in Figure 3 shown here at 200x. Figure 5. The reformed silica along the edge shown here at 500x. 4 Figure 1. A flaked cobble with flake scars on the “dorsal” side. The red box indicates the area magnified in subsequent images. Figure 2. The opposite side of the cobble. The blue box indicates the area magnified in subsequent images. Figure 3. The area enclosed by the red box in Figure 1 at 100x. Note fine striae on surface called “linear indicators” suggests tool movement in two directions. Figure 4. Close-up of the central area of Figure 3 at 200x illustrating multidirectional tool use. Figure 5. The area in the blue box in Figure 2 at 100x showing linear indicators near the edge in perpendicular groups (yellow arrows). Note the areas of abrasive polish (red arrows). Figure 6. The upper area of Figure 6, magnified at 200x, indicates tool use smoothed the texture of the rock surface. 5 Figure 1. Dorsal view of a flaked cobble. Figure 3. Polished and abraded surfaces with linear indicators (100x) from the red boxed area in Figure 2. Figure 5. The lower right portion of Figure 4 at 500x. Note the linear tracks of plastically reformed silica indicating tool movement in two directions. Figure 8. The same area but slightly in from the tool edge also at 500x. Repeated tool use has resulted in deep coarse scratches overlaying and oblique to the finer ones. Material is clearly being gouged from a previously smoothed surface. Figure 2. Ventral side of flaked cobble. The colored boxes enclose magnified areas of the tool’s edge in the following images. Figure 4. Close-up (200x) of the central area of Figure 3. Figure 6. The blue boxed area in Figure 2 shown here at 200x. Note linear tracks indicating tool movement in two directions. Figure 7. Right center portion of Figure 6 at 500x. Note silica build-up from implement use along the arris. 6 Figure 1. Dorsal side of flake exhibiting usewear characteristics. Box denotes the area seen in the subsequent micro-images. Figure 3. Flake tool with rounded and polished edge shown here at 40x. Figure 5. Close-up of the directional indicators in the upper left quadrant of Figure 4 shown here at 200x. Figure 2. Ventral side of flake. Box indicates area seen in the following images and corresponds to the box on the dorsal side in Figure 1. Figure 4. Dorsal aspect of the edge shown here at 100x. Note that directional indicators, which indicate tool movement direction, are generally oblique to the edge. Figure 6. Close-up of tool edge in red box on ventral edge that has been smoothed and “lacquered” by silica gels deposited during tool use at 500x. 7 8