Carlos Drummon de Andrade
(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
(Resíduo)
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De
uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no
Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em
Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os
adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro
Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo
de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio
de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou
depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde
1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma
poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam
revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que
sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém
num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos
homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade,
asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à
comunicação estética desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação
cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e
sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da
experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a
explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de
obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e
outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura
brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses),
Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive,
1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a
solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies
de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos
Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a
morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.
Cronologia:
1902 - Nasce em Itabira do Mato Dentro, Estado de Minas Gerais; nono filho de Carlos de Paula Andrade,
fazendeiro, e D. Julieta Augusta Drummond de Andrade.
1910 - Inicia o curso primário no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito. em Belo Horizonte, onde conhece
Gustavo Capanema e Afonso Arinos de Melo Franco.
1916 - Aluno interno no Colégio Arnaldo, da Congregação do Verbo Divino, Belo Horizonte.
1917 - Toma aulas particulares com o professor Emílio Magalhães, em Itabira.
1918 - Aluno interno no Colégio Anchieta da Companhia de Jesus em Nova Friburgo; é laureado em
"certames literários". Seu irmão Altivo publica, no único exemplar do jornalzinho Maio, seu poema em
prosa "ONDA".
1919 - Expulso do Colégio Anchieta mesmo depois de ter sido obrigado a retratar-se. Justificativa da
expulsão: "insubordinação mental".
1920 - Muda-se com a família para Belo Horizonte.
1921 - Publica seus primeiros trabalhos na seção "Sociais" do Diário de Minas. Conhece Milton Campos,
Abgar Renault, Emílio Moura, Alberto Campos, Mário Casassanta, João Alphonsus, Batista Santiago,
Aníbal Machado, Pedro Nava, Gabriel Passos, Heitor de Sousa e João Pinheiro Filho, todos
freqüentadores do Café Estrela e da Livraria Alves.
1922 - Ganha 50 mil réis de prêmio pelo conto "Joaquim do Telhado" no concurso Novela Mineira.
Publica trabalhos nas revistas Todos e Ilustração Brasileira.
1923 - Entra para a Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte.
1924 - Escreve carta a Manuel Bandeira, manifestando-lhe sua admiração. Conhece Blaise Cendrars,
Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade no Grande Hotel de Belo Horizonte. Pouco
tempo depois inicia a correspondência com Mário de Andrade, que durará até poucos dias antes da morte
de Mário.
1925 - Casa-se com a senhorita Dolores Dutra de Morais, a primeira ou segunda mulher a trabalhar num
emprego (como contadora numa fábrica de sapatos), em Belo Horizonte. Funda, junto com Emílio Moura
e Gregoriano Canedo, A Revista, órgão modernista do qual saem 3 números. Conclui o curso de Farmácia
mas não exerce a profissão, alegando querer "preservar a saúde dos outros".
1926 - Leciona Geografia e Português no Ginásio Sul-Americano de Itabira. Volta para Belo Horizonte,
por iniciativa de Alberto Campos, para trabalhar como redator-chefe do Diário de Minas. Heitor Villa
Lobos, sem conhecê-lo, compõe uma seresta sobre o poema "Cantiga de Viúvo".
1927 - Nasce, no dia 22 de março, mas vive apenas meia hora, seu filho Carlos Flávio.
1928 - Nasce, no dia 4 de março, sua filha Maria Julieta, quem se tornará sua grande companheira ao
longo da vida. Publica na Revista de Antropofagia de São Paulo, o poema "No meio do caminho", que se
torna um dos maiores escândalos literários do Brasil. 39 anos depois publicará "Uma pedra no meio do
caminho - Biografia de um poema", coletânea de críticas e matérias resultantes do poema ao longo dos
anos. Torna-se auxiliar de redação da Revista do Ensino da Secretaria de Educação.
1929 - Deixa o Diário de Minas para trabalhar no Minas Gerais, órgão oficial do Estado, como auxiliar de
redação e pouco depois, redator, sob a direção de Abílio Machado.
1930 - Publica seu primeiro livro, "Alguma Poesia", em edição de 500 exemplares paga pelo autor, sob o
selo imaginário "Edições Pindorama", criado por Eduardo Frieiro. Auxiliar de Gabinete do Secretário de
Interior Cristiano Machado; passa a oficial de gabinete quando seu amigo Gustavo Capanema substitui
Cristiano Machado.
1931 - Falece seu pai, Carlos de Paula Andrade, aos 70 anos.
1933 - Redator de A Tribuna. Acompanha Gustavo Capanema quando este é nomeado Interventor Federal
em Minas Gerais.
1934 - Volta a ser redator dos jornais Minas Gerais, Estado de Minas e Diário da Tarde,
simultaneamente. Publica "Brejo das Almas" em edição de 200 exemplares, pela cooperativa Os Amigos
do Livro. Muda-se, com D. Dolores e Maria Julieta, para o Rio de Janeiro, onde passa a trabalhar como
chefe de gabinete de Gustavo Capanema, novo Ministro de Educação e Saúde Pública.
1935 - Responde pelo expediente da Diretoria-Geral e é membro da Comissão de Eficiência do Ministério
da Educação.
1937 - Colabora na Revista Acadêmica, de Murilo Miranda.
1940 - Publica "Sentimento do Mundo" em tiragem de 150 exemplares, distribuídos entre os amigos.
1941 - Assina, sob o pseudônimo "O Observador Literário", a seção "Conversa Literária" da revista
Euclides. Colabora no suplemento literário de A Manhã, dirigido por Múcio Leão e mais tarde por Jorge
Lacerda.
1942 - A Livraria José Olympio Editora publica "Poesias". O Editor José Olympio é o primeiro a se
interessar pela obra do poeta.
1943 - Traduz e publica a obra Thérèse Desqueyroux, de François Mauriac, sob o título de "Uma gota de
veneno".
1944 - Publica "Confissões de Minas", por iniciativa de Álvaro Lins.
1945 - Publica "A Rosa do Povo" pela José Olympio e a novela "O Gerente". Colabora no suplemento
literário do Correio da Manhã e na Folha Carioca. Deixa a chefia de gabinete de Capanema, sem nenhum
atrito com este e, a convite de Luís Carlos Prestes, figura como editor do diário comunista, então fundado,
Imprensa Popular, junto com Pedro Mota Lima, Álvaro Moreyra, Aydano Do Couto Ferraz e Dalcídio
Jurandir. Meses depois se afasta do jornal por discordar da orientação do mesmo. É chamado por Rodrigo
M.F. de Andrade para trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde mais tarde
se tornará chefe da Seção de História, na Divisão de Estudos e Tombamento.
1946 - Recebe o Prêmio pelo Conjunto de Obra, da Sociedade Felipe d'Oliveira. Sua filha Maria Julieta
publica a novela "A Busca", pela José Olympio.
1947 - É publicada sua tradução de "Les liaisons dangereuses", de Choderlos De Laclos, sob o título de
"As relações perigosas".
1948 - Publica "Poesia até agora". Colabora em Política e Letras, de Odylo Costa, filho. Falece Julieta
Augusta Drummond de Andrade, sua mãe. Comparece ao enterro em Itabira que acontece ao mesmo
tempo em que é executada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a obra "Poema de Itabira" de Heitor
Villa-Lobos, composta sobre seu poema "Viagem na Família".
1949 - Volta a escrever no jornal Minas Gerais. Sua filha Maria Julieta casa-se com o escritor e advogado
argentino Manuel Graña Etcheverry e passa a residir em Buenos Aires, onde desempenhará, ao longo de
34 anos, um importante trabalho de divulgação da cultura brasileira.
1950 - Vai a Buenos Aires para o nascimento de seu primeiro neto, Carlos Manuel.
1951 - Publica "Claro Enigma", "Contos de Aprendiz" e "A mesa". É publicado em Madrid o livro
"Poemas".
1952 - Publica "Passeios na Ilha" e "Viola de Bolso".
1953 - Exonera-se do cargo de redator do Minas Gerais, ao ser estabilizada sua situação de funcionário da
DPHAN. Vai a Buenos Aires para o nascimento de seu neto Luis Mauricio, a quem dedica o poema "A
Luis Mauricio infante". É publicado em Buenos Aires o livro "Dos Poemas", com tradução de Manuel
Graña Etcheverry, genro do poeta.
1954 - Publica "Fazendeiro do Ar & Poesia até agora". Aparece sua tradução para "Les paysans", de
Balzac. Realiza na Rádio Ministério de Educação, em diálogo com Lya Cavalcanti, a série de palestras
"Quase memórias". Inicia no Correio da Manhã a série de crônicas "Imagens", mantida até 1969.
1955 - Publica "Viola de Bolso novamente encordoada".
1956 - Publica "50 Poemas escolhidos pelo autor". Aparece sua tradução para "Albertine disparue", de
Marcel Proust.
1957 - Publica "Fala, amendoeira" e "Ciclo".
1958 - Publica-se em Buenos Aires uma seleção de seus poemas na coleção "Poetas del siglo veinte". É
encenada e publicada a sua tradução de "Doña Rosita la soltera" de Federico García Lorca, pela qual
recebe o Prêmio Padre Ventura, do Círculo Independente de Críticos Teatrais.
1960 - Nasce seu terceiro neto, Pedro Augusto, em Buenos Aires. A Biblioteca Nacional publica a sua
tradução de "Oiseaux-Mouches orthorynques du Brèsil" de Descourtilz. Colabora em Mundo Ilustrado.
1961 - Colabora no programa Quadrante da Rádio Ministério da Educação, instituído por Murilo
Miranda. Falece seu irmão Altivo.
1962 - Publica "Lição de coisas", "Antologia Poética" e "A bolsa & a vida". É demolida a casa da Rua
Joaquim Nabuco 81, onde viveu 36 anos. Passa a morar em apartamento. São publicadas suas traduções
de "L'Oiseau bleu" de Maurice Maeterlink e de "Les fouberies de Scapin", de Molière, esta última é
encenada no Teatro Tablado do Rio de Janeiro. Recebe novamente o Prêmio Padre Ventura. Se aposenta
como Chefe de Seção da DPHAN, após 35 anos de serviço público, recebendo carta de louvor do Ministro
da Educação, Oliveira Brito.
1963 - É lançada sua tradução de "Sult" (Fome) de Knut Hamsun. Recebe os Prêmios Fernando Chinaglia,
da União Brasileira de Escritores, e Luísa Cláudio de Sousa, do PEN Clube do Brasil, pelo livro "Lição de
coisas". Colabora no programa Vozes da Cidade, instituído por Murilo Miranda, na Rádio Roquete Pinto, e
inicia o programa Cadeira de Balanço, na Rádio Ministério da Educação. Viaja, com D. Dolores, a Buenos
Aires durante as férias.
1964 - Publica a primeira edição da "Obra Completa", pela Aguilar.
1965 - São lançados os livros "Antologia Poética", em Portugal; "In the middle of the road", nos Estados
Unidos; "Poesie", na Alemanha. Publica, em colaboração com Manuel Bandeira, "Rio de Janeiro em prosa
& verso". Colabora em Pulso.
1966 - Publica "Cadeira de balanço", e na Suécia é lançado "Naten och rosen".
1967 - Publica "Versiprosa", "Mundo vasto mundo", com tradução de Manuel Graña Etcheverry, em
Buenos Aires e publicação de "Fyzika strachu" em Praga.
1968 - Publica "Boitempo & A falta que ama". Membro correspondente da Hispanic Society of America,
Estados Unidos.
1969 - Deixa o Correio da Manhã e começa a escrever para o Jornal do Brasil. Publica "Reunião (10 livros
de poesia)".
1970 - Publica "Caminhos de João Brandão".
1971 - Publica "Seleta em prosa e verso". Edição de "Poemas" em Cuba.
1972 - Viaja a Buenos Aires com D. Dolores para visitar a filha, Maria Julieta. Publica "O poder
ultrajovem". Jornais do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre publicam suplementos
comemorativos do 70º aniversário do poeta.
1973 - Publica "As impurezas do branco", "Menino Antigo - Boitempo II", "La bolsa y la vida", em
Buenos Aires, e "Réunion", em Paris.
1974 - Recebe o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos Literários. Membro honorário da
American Association of Teachers of Spanish and Portuguese, Estados Unidos.
1975 - Publica "Amor, Amores". Recebe o Prêmio Nacional Walmap de Literatura e recusa, por motivo de
consciência, o Prêmio Brasília de Literatura, da Fundação Cultural do Distrito Federal.
1977 - Publica "A visita", "Discurso de primavera e algumas sombras" e "Os dias lindos". Grava 42
poemas em 2 long plays, lançados pela Polygram. Edição búlgara de "UYBETBO BA CHETA"
(Sentimento do Mundo).
1978 - Publica "70 historinhas" e "O marginal Clorindo Gato". Edições argentinas de "Amar-amargo" e
"El poder ultrajoven".
1979 - Publica "Poesia e Prosa", 5ª edição, revista e atualizada, pela editora Nova Aguilar. Viaja a Buenos
Aires por motivo de doença de sua filha Maria Julieta. Publica "Esquecer para lembrar - Boitempo III".
1980 - Recebe os Prêmios Estácio de Sá, de jornalismo, e Morgado Mateus (Portugal), de poesia. Edição
limitada de "A paixão medida". Noite de autógrafos na Livraria José Olympio Editora para o lançamento
conjunto da edição comercial de "A paixão medida" e "Um buquê de Alcachofras", de Maria Julieta
Drummond de Andrade; o poeta e sua filha autografam juntos na Casa José Olympio. Edição de "En rost
at folket", Suécia. Edição de "The minus sign", Estados Unidos. Edição de "Gedichten" Poemas, Holanda.
1981 - Publica "Contos Plausíveis" e "O pipoqueiro da esquina". Edição inglesa de "The minus sign".
1982 - Ano do 80º aniversário do poeta. São realizadas exposições comemorativas na Biblioteca Nacional
e na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Os principais jornais do Brasil publicam suplementos
comemorando a data. Recebe o título de Doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Edição mexicana de "Poemas". A cidade do Rio de Janeiro festeja a data com cartazes de afeto
ao poeta. Publica "A lição do amigo - Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade", com
notas do destinatário. Publicação de "Carmina drummondiana", poemas de Drummond traduzidos ao
latim por Silva Bélkior.
1983 - Declina do troféu Juca Pato. Publica "Nova Reunião (19 livros de poesia)", último livro do poeta
publicado, em vida, pela Casa José Olympio.
1984 - Despede-se da casa do velho amigo José Olympio e assina contrato com a Editora Record, que
publica sua obra até hoje. Também se despede do Jornal do Brasil, depois de 64 anos de trabalho
jornalístico, com a crônica "Ciao". Publica, pela Editora Record, "Boca de Luar" e "Corpo".
1985 - Publica "Amar se aprende amando", "O observador no escritório" (memórias), "História de dois
amores" (livro infantil) e "Amor, sinal estranho". Edição de "Frän oxen tid", Suécia.
1986 - Publica "Tempo, vida, poesia". Edição de "Travelling in the family", em New York, pela Random
House. Escreve 21 poemas para a edição do centenário de Manuel Bandeira, preparada pela editora
Alumbramento, com o título "Bandeira, a vida inteira". Sofre um infarto e é internado durante 12 dias.
1987 - No 31 de janeiro escreve seu último poema, "Elegia a um tucano morto" que passa a integrar
"Farewell", último livro organizado pelo poeta. É homenageado pela escola de samba Estação Primeira de
Mangueira, com o samba enredo "No reino das palavras", que vence o Carnaval 87. No dia 5 de agosto,
depois de 2 meses de internação, falece sua filha Maria Julieta, vítima de câncer. "E assim vai-se indo a
família Drummond de Andrade" - comenta o poeta. Seu estado de saúde piora. 12 dias depois falece o
poeta, de problemas cardíacos e é enterrado no mesmo túmulo que a filha, no Cemitério São João Batista
do Rio de Janeiro. O poeta deixa obras inéditas: "O avesso das coisas" (aforismos), "Moça deitada na
grama", "O amor natural" (poemas eróticos), "Viola de bolso III" (Poesia errante), hoje publicados pela
Record; "Arte em exposição" (versos sobre obras de arte), "Farewell", além de crônicas, dedicatórias em
verso coletadas pelo autor, correspondência e um texto para um espetáculo musical, ainda sem
título. Edições de "Moça deitada na grama", "O avesso das coisas" e reedição de "De notícias e não
notícias faz-se a crônica" pela Editora Record. Edição de "Crônicas - 1930-1934". Edição de "Un chiaro
enigma" e "Sentimento del mondo", Itália. Publicação de "Mundo Grande y otros poemas", na série Los
grandes poetas, em Buenos Aires.
1988 - Publicação de "Poesia Errante", livro de poemas inéditos, pela Record.
1989 - Publicação de "Auto-retrato e outras crônicas", edição organizada por Fernando Py. Publicação de
"Drummond: frente e verso", edição iconográfica, pela Alumbramento, e de "Álbum para Maria Julieta",
edição limitada e fac-similar de caderno com originais manuscritos de vários autores e artistas, compilados
pelo poeta para sua filha. A Casa da Moeda homenageia o poeta emitindo uma nota de 50 cruzeiros com
seu retrato, versos e uma auto-caricatura.
1990 - O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) organiza uma exposição comemorativa dos 60 anos da
publicação de "Alguma Poesia". Palestras de Manuel Graña Etcheverry, "El erotismo en la poesía de
Drummond" no CCBB e de Affonso Romano de Sant'Anna, "Drummond, um gauche no
mundo". Encenação teatral de "Mundo, vasto mundo", com Tônia Carrero, o coral Garganta e Paulo
Autran, sob a direção deste no Teatro II do CCBB. Encenação de "Crônica Viva", com adaptação de João
Brandão e Pedro Drummond, no CCBB. Edição da antologia "Itabira", em Madrid, pela editora
Visor. Edição limitada de "Arte em exposição", pela Salamandra. Edição de "Poésie", pela editora
Gallimard, França.
1991 - Publicação de "Obra Poética", pela editora Europa-América, em Portugal.
1992 - Edição de "O amor natural", de poemas eróticos, organizada pelo autor, com ilustrações de Milton
Dacosta e projeto gráfico de Alexandre Dacosta e Pedro Drummond. Publicação de "Tankar om ordet
menneske", Noruega. Edição de "Die liefde natuurlijk" (O amor natural) na Holanda.
1993 - Publicação de "O amor natural", em Portugal, pela editora Europa-América. Prêmio Jabuti pelo
melhor livro de poesia do ano, "O amor natural".
1994 - Publicação pela Editora Record de novas edições de "Discurso de primavera" e "Contos
plausíveis". No dia 2 de julho falece D. Dolores Morais Drummond de Andrade, viúva do poeta, aos 94
anos.
1995 - Encenação teatral de "No meio do caminho...", crônicas e poemas do poeta com roteiro e adaptação
de João Brandão e Pedro Drummond. Lançamento de um selo postal em homenagem ao
poeta. Drummond na era digital, publicação de uma pequena antologia em 5 idiomas sob o título de
"Alguma Poesia", no World Wide Web , Internet, na data de seu 93º aniversário. Projeto do CD-ROM
"CDA-ROM", que visa a publicar, em ambiente interativo e com os recursos da multimídia, os 40 poemas
recitados pelo autor, uma iconografia baseada na coleção de fotografias do poeta, entrevistas em vídeo e
um curta-metragem.
1996 - Lançamento do livro Farwell, último organizado pelo poeta, no Centro Cultural do Banco do Brasil
do Rio de Janeiro, com a apresentação de Joana Fomm e José Mayer. Esse livro é ganhador do Prêmio
Jabuti.
1997 - Primeira edição interativa do livro "O Avesso das Coisas".
1998 - Inauguração do Museu de Território Caminhos Dummondianos em Itabira. No dia 31 de outubro é
inaugurado o Memorial Carlos Drummond de Andrade, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, no Pico do
Amor da cidade de Itabira. Prêmio in memorian Medalha do Sesquicentenário da Cidade de Itabira.
1999 - I Forum Itabira Século XXI — Centenário Drummond, realizado na cidade de Itabira. Lançamento
do CD "Carlos Drummond de Andrade por Paulo Autran", pelo selo Luz da Cidade.
2000 - Inaugurada a Biblioteca Carlos Drummond de Andrade do Colégio Arnaldo de Belo Horizonte.
Lançamento do CD "Contos de aprendiz por Leonardo Vieira", pelo selo Luz da Cidade. Estréia no dia 31
de outubro o espetáculo "Jovem Drummond", estrelado por Vinícius de Oliveira, no teatro da Fundação
Cultural Carlos Drummond de Andrade e Itabira (Secretaria de Cultura do Município). Lançamento do CD
"História de dois amores - contadas por Odete Lara", pela gravadora Luz da Cidade. Encenação pela
Comédie Française da peça de Molière Les Fourberies de Scapin, com tradução do biografado, nos teatros
Municipal do Rio de Janeiro e Municipal de São Paulo. Lançamento do projeto "O Fazendeiro do Ar",
com o "balão Drummond", na Lagoa Rodrigo de Freitas - Rio de Janeiro. II Fórum Itabira Século XXI —
Centenário Drummond, realizado em outubro na cidade de Itabira. Homenagem in memoriam Medalha
comemorativa dos 70 anos do MEC. Homenagem dos Ex-Alunos da Universidade Federal de Minas
Gerais.
BIBLIOGRAFIA
POESIA
Alguma poesia. Belo Horizonte: Edições Pindorama, 1930.
Brejo das almas. Belo Horizonte: Os Amigos do Livro, 1934.
Sentimento do mundo. R. de Janeiro: Pongetti, 1940; 10a ed., RJ: Record, 2000.
Poesias (Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José). RJ: J.Olympio, 1942.
A rosa do povo. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1945.
Poesia até agora. (Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos
poemas). Rio de Janeiro: J. Olympio, 1948.
A máquina do mundo (incluído em Claro enigma). Rio de Janeiro: Luís Martins, 1949 (exemplar único).
Claro enigma. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1951.
A mesa (incluído em Claro enigma). Niterói: Hipocampo, 1951 (70 exemplares).
Viola de bolso. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do MEC, 1952.
Fazendeiro do ar & Poesia até agora. (Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José, A
rosa do povo, Novos poemas, Claro enigma, Fazendeiro do ar). R. de Janeiro: J. Olympio, 1954.
Viola de bolso (incluindo Viola de bolso novamente encordoada); 2ª. ed. aumentada, Os Cadernos de
Cultura, R. de Janeiro: J. Olympio, 1955.
Soneto da buquinagem (incluído em Viola de bolso novamente encordoada). Rio de Janeiro: Philobiblion,
1955 (100 exemplares).
Ciclo (incluído em A vida passada a limpo e em Poemas). Recife: O Gráfico Amador, 1957. (96
exemplares).
Poemas (Alguma poesia, Brejo das Almas, Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos poemas,
Claro enigma, Fazendeiro do ar, A vida passada a limpo). R. de Janeiro: J. Olympio, 1959.
Lição de coisas. R. de Janeiro: J. Olympio, 1964.
Obra completa. (Estudo crítico de Emanuel de Moraes, fortuna crítica, cronologia e bibliografia). R. de
Janeiro: Aguilar, 1964 (publicada pela mesma editora sob o título Poesia completa e prosa (1973), e sob o
título de Poesia e prosa (1979).
Versiprosa. R. de Janeiro: J. Olympio, 1967.
José & Outros (José, Novos poemas, Fazendeiro do ar, A vida passada a limpo, 4 Poemas, Viola de bolso
II). R. de Janeiro: J. Olympio, 1967.
Boitempo & A falta que ama. Rio de Janeiro: Sabiá, 1968.
Nudez (incluído em Poemas). Recife: Escola de Artes, 1979 (50 exemplares).
Reunião (Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos poemas,
Clara enigma, Fazendeiro do ar, A vida passada a limpo, Lição de coisas, 4 Poemas). R. de Janeiro: J.
Olympio, 1969.
D. Quixote (Glosas a 21 desenhos de Cândido Portinari). R. de Janeiro: Diagraphis, 1972.
As impurezas do branco. R. de Janeiro: J. Olympio, 1973.
Menino antigo (Boitempo II). R. de Janeiro: J. Olympio, 1973.
Minas e Drummond. (ilustrações de Yara Tupinambá, Wilde Lacerda, Haroldo Mattos, Júlio Espíndola,
Jarbas Juarez, Álvaro Apocalypse e Beatriz Coelho). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas
Gerais,1973 (500 exemplares).
Amor, amores (desenhos de Carlos Leão). Rio de Janeiro: Alumbramento, 1975 (423 exemplares).
A visita (incluído em A paixão medida) (fotos de Maureen Bisilliat). São Paulo: edição particular, 1977
(125 exemplares).
Discurso de primavera e algumas sombras. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1977.
O marginal Clorindo Gato (incluído em A paixão medida). R. de Janeiro: Avenir, 1978.
Nudez (incluído em Poemas). Recife: Escola de artes, 1979 (50 exemplares).
Esquecer para lembrar (Boitempo III). R. de Janeiro: J. Olympio, 1979.
A paixão medida (desenhos de Emeria Marcier). R. de Janeiro: Alumbramento, 1980. (643 exemplares).
Nova Reunião - 19 livros de poesias. R. de Janeiro: J. Olympio, 1983
O elefante (Ilustrações de Regina Vater). R. de Janeiro: Record. Coleção Abre-te Sésamo, 1983.
Caso do vestido. R. de Janeiro: Rioarte, 1983 (adaptado para o teatro por Aderbal Júnior).
Corpo (Ilustrações de Carlos Leão). R. de Janeiro: Record, 1984.
Mata Atlântica (fotos de Luiz Cláudio Marigo, texto de Alceo Magnani). R. de Janeiro: Chase Banco
Lar/AC&M, 1984.
Amor, sinal estranho (litografias originais de Bianco). R. de Janeiro: Lithos Edições de Arte, 1985 (100
exemplares).
Amar se aprende amando. R. de Janeiro: Record, 1985.
Pantanal (fotos de Luiz Cláudio Marigo, texto de Alceo Magnani). R. de Janeiro: Chase Banco
Lar/AC&M, 1985.
Boitempo I e II (Reunião de poemas publicados anteriormente nos livros Boitempo, Menino antigo e
Esquecer para lembrar). R. de Janeiro: Record, 1986.
O prazer das imagens (fotografias de Hugo Rodrigo Octavio - legendas inéditas de Carlos Drummond de
Andrade). São Paulo: Metal Leve/Hamburg, 1987 (500 exemplares).
Poesia Errante: derrames líricos, e outros nem tanto ou nada. R. de Janeiro: Record, 1988.
Arte em Exposição. R. de Janeiro: Salamandra/Record, 1990.
O Amor Natural. (Ilustrações Milton Dacosta). R. de Janeiro: Record, 1992.
A Vida Passada a Limpo. R. de Janeiro: Record, 1994.
Rio de Janeiro (fotos de Michael Sonnenberg). Liechtenstein: Verlag Kunt und Kultur, 1994.
Farewell. R. de Janeiro: Record, 1996.
A Senha do Mundo. R. de Janeiro: Record, 1996; (reeditado em 1998, pela Record, com o título de Verso
na Prosa, Prosa no Verso).
A Cor de Cada um. R. de Janeiro: Record, 1996; (reeditado em 1998, pela Record, com o título de Verso
na Prosa, Prosa no Verso).
José & Outros. Rio de Janeiro: Record, 2003; (reunião dos livros José, Novos Poemas e Fazendeiro do
ar).
CRÔNICA
Fala, amendoeira. R. de Janeiro: J. Olympio, 1957.
A bolsa & a vida. R. de Janeiro: Editora do Autor, 1962.
Cadeira de balanço. R. de Janeiro: J. Olympio, 1966.
Caminhos de João Brandão. R. de Janeiro: J. Olympio, 1970.
O poder ultrajovem. R. de Janeiro: J. Olympio, 1972.
De notícias & não notícias faz-se a crônica. R. de Janeiro: J. Olympio, 1974.
Os dias lindos. R. de Janeiro: J. Olympio, 1977.
Crônica das favelas cariocas. R. de Janeiro: edição particular, 1981.
Boca de luar. R. de Janeiro: Record, 1984.
Crônicas de 1930/1934 (Crônicas assinadas com os pseudônimos: Antônio Crispim e Barba Azul). Belo
Horizonte: Revista do Arquivo Público Mineiro, 1984. [Reeditado em 1987 pela Secretaria da Cultura de
Minas Gerais - ilustrações de Ana Raquel.]
Moça deitada na grama. R. de Janeiro: Record, 1987.
Auto-Retrato e Outras Crônicas. Seleção Fernando Py. R. de Janeiro: Record, 1989.
O Sorvete e Outras Histórias. São Paulo: Ática, 1993.
Vó Caiu na Piscina. R. de Janeiro: Record, 1996.
Quando é dia de futebol. Rio de Janeiro: Record, 2002.
CONTO
O gerente (incluído em Contos de aprendiz). R. de Janeiro: Horizonte, 1945.
Contos de aprendiz. R. de Janeiro: J. Olympio, 1951.
70 historinhas. R. de Janeiro: J. Olympio, 1978. (Seleção de textos dos livros de crônicas: Fala
amendoeira, A bolsa & a vida, Cadeira de balanço, Caminhos de João Brandão, O poder ultrajovem, De
notícias & não notícias faz-se a crônica e Os dias lindos.)
Contos plausíveis (ilustrações de Irene Peixoto e Márcia Cabral). R. de Janeiro: J. Olympio/Editora JB,
1981.
O pipoqueiro da esquina (Desenhos de Ziraldo). R. de Janeiro: Codecri, 1981.
História de dois amores (Desenhos de Ziraldo). R. de Janeiro: Record, 1985.
Criança dagora é fogo. R. de Janeiro: Record, 1996.
ENSAIO
Confissões de Minas. R. de Janeiro: Americ-Edit., 1944.
Passeios na ilha. R. de Janeiro: Simões,1952.
Minas Gerais (Antologia). R. de Janeiro: Editora do Autor, 1967. Coleção Brasil, Terra & Alma.
A Lição do amigo (cartas de Mário de Andrade - introdução e notas de CDA). R. de Janeiro: J. Olympio,
1982.
Em certa casa da rua Barão de Jaguaribe (ata comemorativa dos 20 anos do Sabadoyle). R. de Janeiro:
Biblioteca Plínio Doyle, 1984.
O observador no escritório (Memória). R. de Janeiro: Record, 1985.
Tempo, vida, poesia (entrevistas à Rádio MEC). R. de Janeiro: Record, 1986.
Saudação a Plínio Doyle. R. de Janeiro: Biblioteca Plínio Doyle, 1986.
O avesso das coisas (Aforismos - ilustrações de ]immy Scott). R. de Janeiro: Record, 1987.
ANTOLOGIA
Português
Neste caderno... In: 10 Histórias de bichos (em colaboração com Godofredo Rangel, Graciliano Ramos,
João Alphonsus, Guimarães Rosa, J. Simões Lopes Neto, Luís Jardim, Maria Julieta,Marques Rebelo,
Orígenes Lessa, Tristão da Cunha). R. de Janeiro: Condé, 1947 (220 exemplares).
50 poemas escolhidos pelo autor. R. de Janeiro: Serviço de Documentação do MEC, 1956.
Antologia poética. R. de Janeiro: Editora do Autor, 1962.
Quadrante (em colaboração com Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Manuel
Bandeira, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga). R. de Janeiro: Editora do Autor, 1962.
Quadrante II (em colaboração com Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Manuel
Bandeira, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga). R. de Janeiro: Editora do Autor, 1963.
Antologia poética (seleção e prefácio de Massaud Moisés). Lisboa: Portugália, 1965. Coleção Poetas de
Hoje.
Vozes da cidade (em colaboração com Cecília Meireles, Genolino Amado, Henrique Pongetti, Maluh de
Ouro Preto, Manuel Bandeira e Raquel de Queirós). R. de Janeiro: Record, 1965.
Rio de Janeiro em prosa & verso (antologia em colaboração com Manuel Bandeira). R. de Janeiro: J.
Olympio, 1965. Coleção Rio 4 Séculos.
Uma pedra no meio do caminho (biografia de um poema). Apresentação de Arnaldo Saraiva). R. de
Janeiro: Editora do Autor, 1967.
Seleta em prosa e verso (estudo e notas de Gilberto Mendonça Teles). R. de Janeiro: J. Olympio, 1971.
Elenco de cronistas modernos (em colaboração com Clarice Lispector, Fernando Sabino, Manuel
Bandeira, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queirós e Rubem Braga). R. de Janeiro: Sabiá, 1971.
Atas poemas. Natal na Biblioteca de Plínio Doyle (em colaboração com Alphonsus de Guimaraens Filho,
Enrique de Resende, Gilberto Mendonça Teles, Homero Homem, Mário da Silva Brito, Murilo Araújo,
Raul Bopp, Waldemar Lopes). R. de Janeiro, Sabadoyle, 1974.
Para gostar de ler (em colaboração com Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga). São
Paulo: Ática, 1977-80.
Para Ana Cecília (em colaboração com João Cabral de Melo Neto, Mauro Mota, Odilo Costa Filho, Ledo
lvo, Marcus Accioly e Gilberto Freire). Recife: Edição Particular, 1978.
O melhor da poesia brasileira (em colaboração com João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e
Vinícius de Moraes). R. de Janeiro: J. Olympio, 1979.
Carlos Drummond de Andrade. Seleção de textos, notas, estudo biográfico, histórico-crítico e exercícios
de Rita de Cássia Barbosa. São Paulo: Abril, 1980.
Literatura comentada. São Paulo: Abril, 1981.
Antologia poética. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
Quatro vozes (em colaboração com Rachel de Queiroz, Cecília Meirelles e Manuel Bandeira). R. de
Janeiro: Record, 1984.
60 anos de poesia. (organização e apresentação de Arnaldo Saraiva). Lisboa: O Jornal, 1985.
Quarenta historinhas e cinco poemas (leitura e exercícios para estudantes de Português nos EUA).
Flórida: University of Florida, 1985.
Bandeira - A vida inteira (textos extraídos da obra de Manuel Bandeira e 21 poemas de Carlos Drummond
de Andrade - fotos do Arquivo - Museu de Literatura da Fundação Casa Rui Barbosa). R. de Janeiro:
Alumbramento/Livroarte, 1986.
Álbum para Maria Julieta. Coletânea de dedicatórias reunidas por Carlos Drummond de Andrade para sua
filha, acompanhado de texto extraído da obra do autor. R. de Janeiro: Alumbramento / Livroarte, 1989.
Obra poética. Portugal: Publicações Europa-América, 1989. Rua da Bahia (em colaboração com Pedro
Nava). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 1990.
Setecontos, setencantos (em colaboração com Caio Porfírio Carneiro, Herberto Sales, Ideu Brandão,
Miguel Jorge, Moacyr Scliar e Sergio Faraco - organizado por Elias José). São Paulo: FTD.
Carlos Drummond de Andrade (org. de Fernando Py e Pedro Lyra). R. de Janeiro: Agir,1994.
As palavras que ninguém diz. (Seleção Luzia de Maria). R. de Janeiro: Record, 1997, (Mineiramente
Drummond).
Histórias para o Rei. (Seleção Luzia de Maria). R. de Janeiro: Record, 1997 (Mineiramente Drummond).
A palavra mágica. (Seleção Luzia de Maria). R. de Janeiro: Record, 1997 (Mineiramente Drummond).
Os amáveis assaltantes. R. de Janeiro: Agora Comunicação Integrada, 1998.
TRADUÇÕES
Uma gota de veneno (Thérèse Desqueyroux), de François Mauriac. R. de Janeiro: Pongetti, 1943.
As relações perigosas (Les Liaisons dangereux), de Choderlos de Laclos. Porto Alegre: Globo,1947.
Os camponeses (Les Paysans), de Honoré de Balzac. In: A comédia humana. Porto Alegre: Globo, 1954.
A
fugitiva
(Albertine
disparue),
de
Marcel
Proust.
Porto
Alegre:
Globo,
1956.
Dona Rosita, a solteira ou a linguagem das flores (Dona Rosita la soltera o el lenguaje de lãs flores), de
Federico
García
Lorca.
R.
de
Janeiro:
Agir,
1959.
Beija-Flores do Brasil (Oiseaux-mouches Orthorynques du Brésil), de Th. Descourtilz. R. de Janeiro:
Biblioteca
Nacional,
1960.
O pássaro azul (L'Oiseau bleu), de Maurice Maeterlinck. Rio de Janeiro: Delta, 1962.
Artimanhas de Scapino (Les Fourberies de Scapin), de Molière. R. de Janeiro: Serviço de Documentação
do
MEC,
1962.
Fome (Sult), de Knut Hamsun. R. de Janeiro: Delta,1963.
LIVROS
Boca
Corpo.
de
EM
luar.
São
São
Paulo:
Paulo:
Fundação
Fundação
para
para
o
BRAILE:
o
Livro
Livro
do
do
Cego
Cego
Sentimento do mundo. São Paulo: Fundação Dorina Nowill para Cegos, 2000.
SOBRE O AUTOR:
Esfinge Clara - Garcia, Othon Moacyr (1955) - RJ.
Palavra puxa palavra em C. D. de Andrade - Garcia, Othon Moacyr (1955), RJ.
A rima na poesia de C. D. Andrade - Martins, Hélcio (1968) - RJ.
Drummond: a estilística da repetição - Teles, Gilberto M. (1970) - RJ.
no
no
Brasil,
Brasil,
1985.
1990.
Drummond rima Itabira mundo - Moraes, Emanuel de (1971) - RJ.
Terra e família na poesia de C. D. Andrade - Coelho, Joaquim-Francisco (1973) - RJ
Verso universo de Drummond - Merquior, José Guilherme (1975) - RJ.
Drummond de Andrade - Santiago, Silviano (1976) - Petrópolis.
A dramaticidade na poesia de Drummond - Schüler, Donald (1979); Porto Alegre.
Drummond: Análise da Obra - Sant'Anna, Affonso Romano de (1980); RJ.
Ó de Itabira (poema) - Accioly, Marcus (1980) - RJ.
Bibliografia comentada de Carlos Drummond de Andrade (1918-1930). Py, Fernando (1981) - RJ.
El erotismo en la poesía de Carlos Drummond de Andrade - Etcheverry, Manuel Graña (1990) - Buenos
Aires.
(entre outros).
Graciliano Ramos
"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas
com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos
estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei,
ainda nos podemos mexer"
Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de Alagoas, filho
primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos.
Viveu sua infância nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e
das suas que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a ideia de que todas as relações
humanas são regidas pela violência. Em seu livro autobiográfico "Infância", assim se referia a seus pais: "Um
homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva,
ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura".
Em 1894, a família muda-se para Buíque (PE), onde o escritor tem contacto com as primeiras letras.
Em 1904, retornam ao Estado de Alagoas, indo morara em Viçosa. Lá, Graciliano cria um jornalzinho
dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente, redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus
redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio.
Em 1905 vai para Maceió, onde frequenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo
professor Agnelo Marques Barbosa.
Com o suicídio de Mário Venâncio, em fevereiro de 1906, o "Echo" deixa de circular. Graciliano publica na
revista carioca "O Malho" sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença.
Em 1909, passa a colaborar com o "Jornal de Alagoas", de Maceió, publicando o soneto "Céptico" sob o
pseudônimo de Almeida Cunha. Até 1913, nesse jornal, usa outros pseudônimos: S. de Almeida Cunha, Soares
de Almeida Cunha e Lambda, este usado em trabalhos de prosa. Até 1915 colabora com "O Malho", usando
alguns dos pseudônimos citados e o de Soeiro Lobato.
Em 1910, responde a inquérito literário movido pelo Jornal de Alagoas, de Maceió. Em outubro, muda-se para
Palmeira dos Índios, onde passa a residir.
Passa a colaborar com o "Correio de Maceió", em 1911, sob o pseudônimo de Soares Lobato.
Em 1914, embarca para o Rio de Janeiro (RJ) no vapor Itassuoê. Nesse ano e parte do ano seguinte, trabalha
como revisor de provas tipográficas nos jornais cariocas "Correio da Manhã", "A Tarde" e "O Século".
Colaborando com o "Jornal de Alagoas" e com o fluminense "Paraíba do Sul", sob as iniciais R.O. (Ramos de
Oliveira). Volta a Palmeira dos Índios, em meados de 1915, onde trabalha como jornalista e comerciante. Casase com Maria Augusta Ramos.
Sua esposa falece em 1920, deixando quatro filhos menores.
Em 1927, é eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, cargo no qual é empossado em 1928. Ao escrever
o seu primeiro relatório ao governador Álvaro Paes, “um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de
Palmeira dos Índios em 1928”, publicado pela Imprensa Oficial de Alagoas em 1929, a verve do escritor se
revela ao abordar assuntos rotineiros de uma administração municipal. No ano seguinte, 1930, volta o então
prefeito Graciliano Ramos com um novo relatório ao governador que, ainda em nossos dias, não se pode ler
sem um sorriso nos lábios, tal a forma sui generis em que é apresentado. Dois anos depois, renuncia ao cargo
de prefeito e se muda para a cidade de Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial. Casa-se com
Heloisa Medeiros. Colabora com jornais usando o pseudônimo de Lúcio Guedes.
Demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial e volta a Palmeira dos Índios, onde funda urna escola no
interior da sacristia da igreja Matriz e inicia os primeiros capítulos do romance São Bernardo.
O ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Caetés", que já trazia consigo o pessimismo que
marcou sua obra. Esse romance Graciliano vinha escrevendo desde 1925.
No ano seguinte, publica "São Bernardo". Falece seu pai, em Palmeira dos Índios.
Em março de 1936, acusado — sem que a acusação fosse formalizada — de ter conspirado no malsucedido
levante comunista de novembro de 1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado
com destino ao Rio de Janeiro no navio "Manaus". com outros 115 presos. O país estava sob a ditadura de
Vargas e do poderoso coronel Filinto Müller. No período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937,
passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios (na Ilha
Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção. Seu livro "Angústia" é
lançado no mês de agosto daquele ano. Esse romance é agraciado, nesse mesmo ano, com o prêmio "Lima
Barreto", concedido pela "Revista Acadêmica".
Foi libertado e passou a trabalhar como copidesque em jornais do Rio de Janeiro, em 1937. Em maio, a
"Revista Acadêmica" dedica-lhe uma edição especial, de número 27 - ano III, com treze artigos sobre o autor.
Recebe o prêmio "Literatura Infantil", do Ministério da Educação", com "A terra dos meninos pelados."
Em 1938, publica seu famoso romance "Vidas secas". No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal do Ensino
Secundário no Rio de Janeiro.
Em 1940, freqüenta assiduamente a sede da revista "Diretrizes", junto de Álvaro Moreira, Joel Silveira, José
Lins do Rego e outros "conhecidos comunistas e elementos de esquerda", como consta de sua ficha na polícia
política. Traduz "Memórias de um negro", do americano Booker T. Washington, publicado pela Editora
Nacional, S. Paulo.
Publica uma série de crônicas sob o título "Quadros e Costumes do Nordeste" na revista "Política", do Rio de
Janeiro.
Em 1942, recebe o prêmio "Felipe de Oliveira" pelo conjunto de sua obra, por ocasião do jantar comemorativo
a seus 50 anos. O romance "Brandão entre o mar e o amor", escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do
Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz é publicado pela Livraria Martins, S. Paulo.
Em 1943, falece sua mãe em Palmeira dos Índios.
Lança, em 1944, o livro de literatura infantil "Histórias de Alexandre". Seu livro "Angústia" é publicado no
Uruguai.
Filia-se ao Partido Comunista, em 1945, ano em que são lançados "Dois dedos" e o livro de memórias
"Infância".
O escritor Antônio Cândido publica, nessa época, uma série de cinco artigos sobre a obra de Graciliano no
jornal "Diário de São Paulo", que o autor responde por carta. Esse material transformou-se no livro "Ficção e
Confissão".
Em 1946, publica "Histórias incompletas", que reúne os contos de "Dois dedos", o conto inédito "Luciana", três
capítulos de "Vidas secas" e quatro capítulos de "Infância".
Os contos de "Insônia" são publicados em 1947.
O livro "Infância" é publicado no Uruguai, em 1948.
Traduz, em 1950, o famoso romance "A Peste", de Albert Camus, cujo lançamento se dá nesse mesmo ano pela
José Olympio.
Em 1951, elege-se presidente da Associação Brasileira de Escritores, tendo sido reeleito em 1962. O livro "Sete
histórias verdadeiras", extraídas do livro "Histórias de Alexandre", é publicado.
Em abril de 1952, viaja em companhia de sua segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, à Tcheco-Eslováquia
e Rússia, onde teve alguns de seus romances traduzidos. Visita, também, a França e Portugal. Ao retornar, em
16 de junho, já enfermo, decide ir a Buenos Aires, Argentina, onde se submete a tratamento de pulmão, em
setembro daquele ano. É operado, mas os médicos não lhe dão muito tempo de vida. A passagem de seus
sessenta anos é lembrada em sessão solene no salão nobre da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em sessão
presidida por Peregrino Júnior, da Academia Brasileira de Letras. Sobre sua obra e sua personalidade falaram
Jorge Amado, Peregrino Júnior, Miécio Tati, Heraldo Bruno, José Lins do Rego e outros. Em seu nome, falou
sua filha Clara Ramos.
No janeiro ano seguinte, 1953, é internado na Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer,
vitimado pelo câncer, no dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. É publicado o livro "Memórias do
cárcere", que Graciliano não chegou a concluir, tendo ficado sem o capítulo final.
Postumamente, são publicados os seguintes livros: "Viagem", 1954, "Linhas tortas", "Viventes das Alagoas" e
"Alexandre e outros heróis", em 1962, e "Cartas", 1980, uma reunião de sua correspondência.
Seus livros "São Bernardo" e "Insônia" são publicados em Portugal, em 1957 e 1962, respectivamente. O livro
"Vidas secas" recebe o prêmio "Fundação William Faulkner", na Virginia, USA.
Em 1963, o 10º aniversário da morte de Mestre Graça, como era chamado pelos amigos, é lembrado com as
exposições "Retrospectiva das Obras de Graciliano Ramos", em Curitiba (PR), e "Exposição Graciliano
Ramos", realizada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Em 1965, seu romance "Caetés" é publicado em Portugal.
Seus livros "Vidas secas" e "Memórias do cárcere" são adaptados para o cinema por Nelson Pereira dos Santos,
em 1963 e 1983, respectivamente. O filme "Vidas secas" obtem os prêmios "Catholique International du
Cinema" e "Ciudad de Valladolid" (Espanha). Leon Hirszman dirige "São Bernardo", em 1980.
Em 1970, "Memórias do cárcere" é publicado em Portugal.
Bibliografia:
- Caetés - romance
- São Bernardo - romance
- Angústia - romance
- Vidas secas - romance
- Infância - memórias
- Dois dedos - contos
- Insônia - contos
- Memórias do cárcere - memórias
- Viagem - impressões sobre a Tcheco-Eslováquia e a URSS.
- Linhas tortas - crônicas
- Viventes das Alagoas - crônicas
- Alexandre e outros irmãos (Histórias de Alexandre, A terra dos meninos pelados e Pequena história da
República).
- Cartas - correspondência pessoal.
Dados extraídos de livros do autor, internet e caderno "Mais!", da Folha de São Paulo, edição de 09/03/2003.
Gênero Narrativo;
Na atualidade passou-se a chamar gênero narrativo ao conjunto de obras em que há narrador, personagens e uma
seqüência de fatos. É uma variante do gênero épico. Abrange várias modalidades de texto em que aparecem os
seguintes elementos:
1 - Foco narrativo: presença de um elemento que relata a história como participante (1º pessoa)ou como
observador (3º pessoa ). E, também há o narrador onisciente.
2 - Enredo: é a seqüência de fatos, podendo seguir a ordem cronológica em que eles ocorrem (sucessão temporal
dos fatos), ou a ordem psicológica (sucessão dos fatos, seguindo as lembranças ou evocações das personagens,
apresentando, muitas vezes flash-backs ou voltas ao passado.
3 - Personagem: seres criados pelo autor com características físicas e psicológicas determinadas.
4 - Campo e espaço: o momento e o local em que os fatores são narrados e onde se desenrolam.
5 - Conflito: situação de tensão entre os elementos da narrativa.
6 - Clímax: a situação criada pelo narrador vai progressivamente aumentando sua dramaticidade até que chega ao
clímax, ao ponto máximo.
7 - Desfecho: momento que recebe o clímax, no qual se finaliza a história e cada personagem se encaminha para
seu "destino".
Ao gênero narrativo pertencem as seguintes modalidades de texto:
O conto:
O conto, por ser breve e simples narrativa, é um gênero muito cultivado. Apresenta as seguintes
características:
- apresenta apenas uma célula dramática.
- poucos personagens intervem na narrativa.
- cenário limitado, espaço restrito.
- espaço de tempo curto.
- diálogos sugestivos que permitem mostrar os conflitos entre as personagens.
- a ação é reduzida ao essencial, há um só conflito.
- a narrativa é objetiva, por vezes, a descrição não aparece.

Romance:
O Romance é uma narrativa longa, caracterizada por conter:
- enredo complexo.
- um ou vários conflitos das personagens.
- tempo, espaço ampliadas.
- vários personagens.
É a mais importante das modalidades narrativas em prosa. Envolve a narração de um acontecimento
fictício, porém verossímil, ou seja, coerente com o universo real em que se espelha.

Fábula:
Narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição de moral.
Normalmente a fábula trabalha com animais como personagens. Quando as personagens são seres
inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo.

Gênero narrativo
A palavra ficção vem do latim fictionem (fingere, fictum), ato de modelar, criação, formação;
ato ou efeito de fingir, inventar, simular; suposição; coisa imaginária, criação da imaginação.
Literatura de ficção é aquela que contém uma história inventada ou fingida, fictícia, imagi-nada,
resultado de uma invenção imaginativa, com ou sem intenção de enganar.
A ficção é um dos gêneros literários ou de imaginação criadora (ao lado dos gêneros dramático,
lírico, ensa-ístico). A literatura de imaginação ou de criação é a interpretação da vida por um artista
através da palavra. No caso da ficção (romance; conto, novela), e da epopéia, essa interpretação é
expressa por uma história, que encor-pa a referida interpretão. É, portanto, literatura narrativa.
A essência da ficção é, pois, a narrativa. Ë a sua espinha dorsal, correspondendo ao velho
instinto humano de contar e ouvir histórias, uma das mais rudimentares e populares formas de
entretenimento. Mas nem todas as histórias são arte. Para que tenha o valor artístico, a ficção exige
uma técnica de arranjo e apresentação, que comunicará à narrativa beleza de forma, estrutura e
unidade de efeito. A ficção distingue-se da história e da biografia, por estas serem narrativas de
fatos reais. A ficção é produto da imaginação criadora, embora, como toda a arte, suas raízes
mergulhem na experiência humana. Mas o que a distingue das outras formas de narrativa é que ela é
uma transfiguração ou transmutação da realidade. Ela coloca a massa da experiência humana dentro
de um molde, seleciona, omite, arruma os dados da experiência de modo a fazer surgir um plano,
que se apresenta como uma entida-de, com vida própria, com um sentido intrínseco, diferen-te da
realidade. A ficção não pretende fornecer um simples retrato da realidade, mas antes criar uma
imagem da realidade, uma reinterpretação, uma revisão. Ë o espetáculo da vida por meio do olhar
interpretativo do artista, a interpretação artística da realidade.”’
• Elementos da narrativa
O mundo da ficção desenvolve-se ao redor dos seguintes elementos estruturais:
1.Personagem
É a pessoa (de persona) que atua na narrativa. Pode ser principal ou secundária, típica ou
caricatural.
2.Enredo
É a narrativa propriamente dita, que pode ser linear ou retrospectiva, cuja trama mantém o
interesse do leitor, que espera por um desfecho. Chama-se também simples-mente de ação.
3. Ambiente
É o meio físico e social onde se desenvolve a ação das personagens. Trata-se do pano de fundo
ou do cenário da história, também designado de paisagem.
4.Tempo
É o elemento fortemente ligado ao enredo numa seqüência linear ou retrospectiva, ao passado,
presente e futuro, com seus recuos e avanços. Pode ser cronológico ou psicológico. Cronológico,
quando avança no sentido do relógio; psicológico, quando é medido pela repercussão emocional,
estética e psicológica nas personagens.
5.Ponto de vista
Tecnicamente, podemos dizer. que se refere às diferentes maneiras de narrar. Geralmente, se
resumem em duas:
a) narrador-onisciente: autor conta a história como observador que sabe tudo. Usa a 3ª pessoa.
b) narrador-personagem: autor conta, encarnando-se numa personagem, principal ou secundáría.
Usa a lª pessoa.
6. Discurso
É o procedimento do narrador ao reproduzir as falas ou o pensamento das personagens. Há três
tipos de discurso:
a) direto: neste caso, o narrador, após introduzir as personagens, faz com que elas reproduzam a
fala e o pensamento por si mesmas, de modo direto, utilizando o diálogo. Exemplo:
Baiano velho perguntou para o rapaz:
—O jornal não dá nada sobre a sucessão presidencial
b) indireto: neste tipo de discurso, não há diálogo; o narrador não põe as personagens a falar e a
pensar diretamente, mas ele faz-se o intérprete delas, transmitindo o que disseram ou pensaram, sem
reproduzir o discurso que elas teriam empregado. Exemplo:
Baiano velho perguntou para o rapaz se o jornal não tinha dado nada sobre a sucessão
presidencial.
c) indireto livre: consiste na fusão entre narrador e personagem, isto é, a fala da personagem
insere-se no discurso do narrador, sem o emprego dos verbos de elocução (como dizer, afirmar,
perguntar, responder, pedir e exclamar). Exemplo:
Agora (Fabiano) queria entender-se com Sinhá Vitória a respeito da educação dos pequenos. E
eles estavam perguntadores, insuportáveis.
Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber?
Tinha? Não tinha.
7. Linguagem e estilo
É a vestimenta com que o autor reveste seu discurso, nas falas, nas descrições, nas narrações,
nos diálogos, nas dissertações ou nos monólogos.
• Espécies narrativas
Nem sempre é possível classificar um determinado texto ou obra dentro de uma determinada
modalidade narrativa. Didaticamente, podemos caracterizar o romance, a nove-la, o conto, a crônica
e a epopéia.
1. Romance
É a modalidade narrativa de maior vulto, onde a visão do mundo do autor se manifesta pelo
forte conflito das personagens. O romance aborda os mais variados assuntos. Assim, podem ser
históricos, psicológicos, experimentais, científicos, policiais etc.
São exemplos de romances: Iracema, de José de Alencar; Quincas Borba, de Machado de Assis;
O mulato, de Aluísio Azevedo; Corpo vivo, de Adonías Filho etc.
Há ainda romances que são classificados como verdadeiras epopéias em prosa. Entre eles estão:
O sertões, de Eudides da Cunha e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
2. Novela
É a modalidade narrativa que se caracteriza pela sucessividade dos episódios, muitas vezes das
persona-gens e dos cenários. O tempo e o espaço conjugam-se dentro dessa estrutura. Assim; a
novela condensa os ele-mentos do romance. Os diálogos são mais rápidos, as narrações são diretas e
sem circunlóquios, tudo favore-cendo a precipitação da história’ para o seu desfecho.
Como exemplo de novelas, podemos citar: Noite, de Érico Veríssimo; A vida real, de Fernando
Sabino; Uma vida em segredo, de Autran Dourado; A morte e a morte de Quíncas Berro d’Água, de
Jorge Amado etc. A televisão atual explora essa espécie de narrativa com muito sucesso.
3. Conto
É a modalidade narrativa de maior brevidade. Se o romance é a vida, o conto é o caso, a
anedota. Com economia de cenários e personagens, a solução do conflito é narrada perto do seu
desenlace.
Eis alguns exemplos de contos já clássicos: O alienista, de Machado de Assis; Apólogo
brasileiro sem véu de alegoría, de Antônio de Alcântara Machado; O negrinho do pastoreio, de
João Simões Lopes Neto; O peru de Natal, de Mário de Andrade.
4. Crônica
É uma espécie de narrativa curta e condensada que capta um flagrante da vida, pitoresco e atual,
real ou imaginário, com uma ampla variedade temática.
5. Epopéia
É uma criação literária, geralmente em verso, de fundo narrativo. (Do grego epos = canto,
narrativa). Des-de os tempos antigos, a epopéia tem a finalidade de exaltar os heróis nacionais e
cantar os grandes feitos dos povos.
Modernamente, certos padrões ou estilos de vida foram substituídos por outros bastante
diversos. Os gêneros também foram evoluindo. Assim, o gênero narrativo em verso — a epopéia —
cedeu lugar ao gênero narrativo em prosa, designado simplesmente de narrativa ou ficção, nas suas
diversas modalidades.
(in Estudo Dirigido de Português, vol. 1, J. Milton Benemann e Luís Agostinho Cadore,
1984, Editora Ática)
Veja o exemplo de um conto:
O conto que segue pertence a um dos maiores contistas brasileiros da atualidade, o curitibano
Dalton Trevisan. O escritor notabilizou-se em nossa literatura com o livro de contos O vampiro de
Curitiba, seguido por outros como A guerra conjugal e Desastres do amor. A síntese, um dos traços
do autor, é também uma das tendências do conto contemporâneo.
O ciclista
Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na es-quina dá com o sinal vermelho e não se
perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto ur-bano persegue a morte
como trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.
É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao
pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, des-via de fininho o poste e o
caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.
Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão. Guerreiros
inimigos tritu-ram com chio de pneus o seu diáfono esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate
o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro.
Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto. Nem só corpo,
touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.
Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a
pé e, na primei-ra esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.
Gênero Épico
A palavra "epopéia" vem do grego épos, ‘verso’+ poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma
de versos, de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva,
impessoal, cuja característica maior é a presença de um narrador falando do passado (os verbos
aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heróico da história de um
povo.
Dentre as principais epopéias (ou poemas épicos), destacamos:
Ilíada e Odisséia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Tróia).
Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos)
Paraíso Perdido (Milton, Inglaterra)
Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália)
Os Lusíadas (Camões, Portugal)
Na literatura brasileira, as principais epopéias foram escritas no século XVIII:
Caramuru (Santa Rita Durão)
O Uraguai (Basílio da Gama)
Gênero Narrativo
O Gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as
narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações
narrativas são o romance, a novela e o conto.
Em qualquer das três modalidades acima, temos representações da vida comum, de um mundo
mais individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas
épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.
As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde o final do século
XVIII, são também comumente chamadas de narrativas de ficção.
· Romance: narração de um fato imaginário, mas verossímil, que representa quaisquer aspectos da
vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo
da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com passagem mais lenta do
tempo. Dependendo da importância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espaço, podemos
ter romance de costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista, romance de
cavalaria, romance histórico, etc.
· Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre novela e romance é
quantitativa: vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto, podemos perceber características
qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida, a
passagem do tempo é mais rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume uma
maior importância como contador de um fato passado.
· Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da vida. O crítico Alfredo
Bosi, em seu livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto "já
desnorteou mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no interior de um
quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à novela e ao romance, a narrativa curta
condensa e potencia no seu espaço todas as possibilidades da ficção".
· Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição
moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como personagens. Quando os personagens são
seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo.
A fábula é das mais antigas narrativas, coincidindo seu aparecimento, segundo alguns
estudiosos, com o da própria linguagem. No mundo ocidental, o primeiro grande nome da fábula foi
Esopo, um escravo grego que teria vivido no século VI a.C. Modernamente, muitas das fábulas de
Esopo foram retomadas por La Fontaine, poeta francês que viveu de 1621 a 1695. O grande mérito
de La Fontaine reside no apurado trabalho realizado com a linguagem, ao recriar os temas
tradicionais da fábula. No Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa semelhante, acrescentando, às
fábulas tradicionais, curiosos e certeiros comentários dos personagens que viviam no Sítio do Picapau Amarelo.
Nem a rosa, nem o cravo...
Jorge Amado
As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação costumeira, como dizer das árvores e das
flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são
assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as
bestas
soltas
no
mundo
ainda
destroem
os
campos
e
as
cidades?
Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus
cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza
simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar
dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas
elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é a beleza cotidiana do
homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval de torpe visão, de ávido apetite assassino. Outros
que falem, se quiserem, das árvores nas tardes agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores
simples e dos versos mais belos e mais tristes. Outros que falem as grandes palavras de amor para a bemamada, outros que digam dos crepúsculos e das noites de estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases,
vejo as árvores, os pássaros e a tarde, vejo teus olhos, vejo o crepúsculo bordando a cidade. Mas sobre
todos esses quadros bóiam cadáveres de crianças que os nazis mataram, ao canto dos pássaros se mesclam
os gritos dos velhos torturados nos campos de concentração, nos crepúsculos se fundem madrugadas de
reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais destruídos ao passo
das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a
sombra da escravidão. É como u'a nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar
palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras,
destas
frases,
elas
me
soam
como
uma
traição
neste
momento.
Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua
maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos
imundos e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de
concentração e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias,
escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama. Como então ficar de olhos fechados
para tudo isto e falar, com as palavras de sempre, com as frases de ontem, sobre a paisagem e os pássaros,
a tarde e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo soltos e vorazes, a boca
escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição de escravizar. Os monstros pardos, os monstros negros e
os
monstros
verdes.
Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em
que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só 0
ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só 0 ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um
ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas
palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo - desde o crepúsculo aos olhos da amada - sem que
junto
a
ele
vejamos
o
perigo
que
os
cerca.
Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas
belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão,
sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o
nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a
mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio,
palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás
um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as
trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia,
o amor e a liberdade!
O texto acima foi publicado no jornal "Folha da Manhã", edição de 22/04/1945, e consta do livro "Figuras do
Brasil: 80 autores em 80 anos de Folha", PubliFolha - São Paulo, 2001, pág. 79, organização de Arthur
Nestrovski.
Jorge Amado
Avô, mesmo que a gente morra, é melhor morrer de repetição na mão, brigando com o
coronel, que morrer em cima da terra, debaixo de relho, sem reagir. Mesmo que seja pra
morrer nós deve dividir essas terras, tomar elas para gente. Mesmo que seja um dia só que a
gente tenha elas, paga a pena de morrer".
(Os Subterrâneos da Liberdade - Agonia da Noite)
Filho de João Amado de Faria e de D. Eulália Leal, Jorge Amado de Faria nasceu no dia 10 de agosto de
1912, na fazenda Auricídia, em Ferradas, distrito de Itabuna - Bahia. O casal teve mais três filhos: Jofre
(1915),
Joelson
(1920)
e
James
(1922).
Com apenas dez meses, vê seu pai ser ferido numa tocaia dentro de sua própria fazenda. No ano
seguinte uma epidemia de varíola obriga a família a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus. Em
1917 a família muda-se para a Fazenda Taranga, em Itajuípe, onde seu pai volta à lida na lavoura de
cacau.
Em 1918, já alfabetizado por sua mãe, Jorge retorna a Ilhéus e passa a freqüentar a escola de D.
Guilhermina, professora que não hesitava usar a palmatória e impor outros castigos a seus alunos. No
ano de 1922 cria um jornalzinho, "A Luneta", que é distribuído para vizinhos e parentes. Nessa época vai
estudar em Salvador, em regime de internato, no Colégio Antonio Vieira, de padres jesuítas.
A bela redação que apresentou ao padre Luiz Gonzaga Cabral, com o título de "O Mar", lhe rende elogios
e faz com que o religioso passe a lhe emprestar livros de autores portugueses e de outras partes do
mundo. Dois anos depois, seu pai vai levá-lo até o colégio após as férias. Despedem-se e Jorge, ao invés
de entrar nele, foge. Viaja por dois meses até chegar à casa de seu avô paterno, José Amado, em
Itaporanga, no Sergipe. A pedido de seu pai, seu tio Álvaro o leva de volta para a fazenda em Itajuípe.
É matriculado no Ginásio Ipiranga, novamente como interno. Conhece Adonias Filho e dirige o jornal do
grêmio da escola, "A Pátria". Pouco tempo depois funda "A Folha", que fazia oposição ao primeiro. No
ano de 1927, passa para o regime de externato e vai morar num casarão no Pelourinho. Emprega-se
como repórter policial no "Diário da Bahia". Pouco depois vai para o jornal "O Imparcial". Uma poesia de
sua autoria, "Poema ou prosa", é publicada na revista "A Luva". Conhece o pai-de-santo Procópio, que o
nomeará ogã (protetor), o primeiro de seus muitos títulos no candomblé.
Reúnem-se em torno do experimentado jornalista e poeta Pinheiro da Veiga os integrantes da Academia
dos Rebeldes, grupo literário do qual, além de Jorge, faziam parte Clóvis Amorim, Guilherme Dias
Gomes, João Cordeiro, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Aydano do Couto Ferraz, Emanuel Assemany,
Sosígenes Costa e Walter da Silveira. A Academia fazia oposição ao grupo Arco & Flexa e pregava, no
dizer de Jorge Amado, "uma arte moderna sem ser modernista". Os trabalhos de seus integrantes são
publicados nas revistas "Meridiano" e "O Momento", ambas fundadas por eles.
Em 1929, começa a trabalhar em “O Jornal” onde publica, sob o pseudônimo de Y. Karl, a novela "Lenita",
escrita em parceria com Dias da Costa e Edison Carneiro, que assinavam como Glauter Duval e Juan
Pablo.
No ano seguinte transfere-se para o Rio de Janeiro para estudar. Conhece Vinicius de Moraes, Otávio de
Faria e outros nomes importantes da literatura. "Lenita" é editada em livro por A. Coelho Branco Filho, do
Rio de Janeiro.
Aprovado, entre os primeiros colocados, na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, em
1931, Jorge vê publicado pela Editora Schmidt seu primeiro romance, "O país do carnaval", com prefácio
de Augusto Frederico Schmidt e tiragem de mil exemplares. O livro recebe elogios dos críticos e torna-se
um sucesso de público.
No ano de 1932, muda-se para um apartamento em Ipanema com o poeta Raul Bopp. Conhece José
Américo de Almeida, Amando Fontes, Rachel de Queiroz (através de quem se aproxima dos comunistas) e
Gilberto Freyre. Sai a segunda edição de "O país do carnaval", desta vez com tiragem de dois mil
exemplares. Aconselhado por Otávio de Faria e Gastão Cruls, desiste de publicar o romance "Rui Barbosa
nº. 2"; para eles, o livro não passava de uma cópia de "O país do carnaval". Viaja para Pirangi, na Bahia;
impressionado com a vida dos trabalhadores da região, começa a escrever "Cacau".
A Ariel Editora, do Rio, em 1933, publica "Cacau", com tiragem de dois mil exemplares e capa e
ilustrações de Santa Rosa. O livro esgota-se em um mês; a segunda edição sai com três mil exemplares.
Entre a primeira e a segunda edição de Cacau, Jorge tem acesso, através de José Américo de Almeida,
aos originais de "Caetés", romance de Graciliano Ramos. Empolgado com o talento do escritor alagoano,
viaja para Maceió só para conhecê-lo, iniciando uma amizade que duraria até a morte de Graciliano.
Conhece também José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda e Jorge de Lima. Torna-se redatorchefe
da revista "Rio Magazine". Casa-se em dezembro, em Estância, Sergipe, com Matilde Garcia Rosa. Juntos,
eles lançam, pela Schmidt, o livro infantil Descoberta do mundo.
Em 1934, publica — também pela Ariel — o romance "Suor". Trabalha na Livraria José Olympio Editora,
do Rio de janeiro, primeiro escrevendo releases e depois na parte editorial propriamente dita;
tendo influenciado na publicação de "O conde e o passarinho", primeiro livro de Rubem Braga, e no
lançamento de autores latino-americanos como o uruguaio Enrique Amorim, o equatoriano Jorge Icaza, o
peruano Ciro Alegría e o venezuelano Rómulo Gallegos (de quem traduziu o romance "Dona Bárbara").
Nasce sua filha Eulália Dalila Amado, em 1935. Escreve em "A Manhã", jornal da Aliança Nacional
Libertadora, pelo qual cobre a viagem do presidente Getúlio Vargas ao Uruguai e à Argentina. "Cacau" é
publicado pela Editorial Claridad, de Buenos Aires. Neste mesmo ano "Cacau" e "Suor" seriam lançados
em Moscou. Conclui o curso de Direito. Lança "Jubiabá" pela José Olympio Editora.
Sofre sua primeira prisão em 1936, por motivos políticos: acusado de participar do levante ocorrido em
novembro do ano anterior em Natal — chamado de "Intentona Comunista” — é detido no Rio. Publica
“Mar morto”, que recebe o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras.
No ano seguinte faz papel de pescador no filme “Itapuã”, de Ruy Santos, no qual também colabora com o
argumento. Viaja pela América Latina e depois vai aos Estados Unidos. Enquanto está fora, sai no Brasil
“Capitães da areia”. Quando chega a Belém, vindo do exterior, é avisado pelo escritor paraense Dalcídio
Jurandir do golpe de Vargas. Foge para Manaus, mas lá é preso. Seus livros, considerados subversivos,
são queimados em plena Salvador por determinação da Sexta Região Militar. Segundo as atas militares,
foram queimados 1.694 exemplares de "O país do carnaval", "Cacau", "Suor", "Jubiabá", "Mar morto" e
"Capitães da areia".
Liberto, em 1938, o escritor é mandado para o Rio. Muda-se para São Paulo, onde reside com Rubem
Braga. Depois vai para a Bahia e em seguida, Sergipe; aqui imprime uma pequena edição do livro de
poemas “A estrada do mar”, que distribui para os amigos. Estréia em dois consagrados idiomas literários
do Ocidente: "Suor " sai em inglês pela pequena New America, de Nova York, e "Jubiabá" em francês pela
prestigiosa Gallimard.
Retorna ao Rio no ano de 1939. Exerce intensa atividade política, em decorrência das torturas de presos e
a desarticulação do Partido Comunista. Torna-se redator-chefe das revistas Dom Casmurro e Diretrizes.
Inicia colaboração com a revista Vamos ler; que manterá até 1941. Compõe, com Dorival Caymmi e
Carlos Lacerda, a serenata "Beijos pela noite". O escritor franco-argelino Albert Camus, futuro Nobel de
Literatura (1957), escreve artigo no jornal Alger Républicain classificando "Jubiabá" de "magnífico e
assombroso".
Diretrizes publica o primeiro capítulo de "ABC de Castro Alves", em 1940, e edita também, em forma de
folhetim, a novela "Brandão entre o mar e o amor", iniciada por Jorge Amado e continuada por José Lins
do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz. Trabalha no jornal Meio-Dia.
Decide escrever, em 1941, um livro sobre Luís Carlos Prestes, pensando numa possível campanha por sua
anistia. Viaja para o Uruguai a fim de recolher material; também faz pesquisas sobre o tema na
Argentina. Lança "ABC de Castro Alves", pela Livraria Martins Editora, de São Paulo.
Publica em Buenos Aires "A vida de Luís Carlos Prestes", em 1942. Embora editado em espanhol, o livro é
vendido clandestinamente no Brasil. Volta ao país, mas é preso ao desembarcar em Porto Alegre. De lá é
enviado para o Rio. Não permanece, porém, na então capital federal: a polícia decide despachá-lo para
Salvador, onde fica confinado.
1943 marca sua volta às páginas de O Imparcial assinando a seção "Hora da guerra" e escrevendo
pequenas histórias na coluna "José, o ingênuo", que reveza com o jornalista e escritor baiano Wilson Lins.
Sai "Terras do sem fim", seu primeiro livro a ser vendido livremente após seis anos de censura.
Em 1944, a pedido de Bibi Ferreira escreve a peça "O amor de Castro Alves", mas a companhia teatral da
atriz é desfeita antes da encenação. Lança "São Jorge dos Ilhéus". Desquita-se de Matilde.
Participa, em janeiro de 1945, na condição de chefe da delegação baiana, do I Congresso de Escritores,
em São Paulo. O encontro termina com uma manifestação contra o Estado Novo. Jorge é preso por um
breve período juntamente com Caio Prado Jr. O Barão de Itararé apresenta o romancista a Zélia Gattai na
Boate Bambu, durante jantar em homenagem aos participantes do Congresso de Escritores. Passa a viver
em São Paulo, onde chefia a redação do jornal Hoje, do Partido Comunista Brasileiro. Escreve também na
Folha da Manhã. Torna-se secretário do Instituto Cultural Brasil-URSS, cujo diretor era Monteiro Lobato.
Sai no Brasil "A vida de Luís Carlos Prestes", rebatizado de "O cavaleiro da esperança". Em julho, passa a
viver com Zélia. No mesmo mês participa, ao lado do poeta chileno Pablo Neruda (que em 1971 ganharia
o Nobel de Literatura), do comício de Luís Carlos Prestes no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Lança
"Bahia de Todos os Santos". É eleito, com 15.315 votos, deputado federal pelo PCB. Publica o conto
"História de carnaval" na revista O Cruzeiro. "Terras do sem fim" sai pela respeitada editora A. Knopf, de
Nova York.
No ano seguinte assume o mandato na Assembléia Constituinte e passa a residir no Rio de Janeiro. Várias
de suas emendas, como a da liberdade de culto religioso e a que dispõe sobre direitos autorais, são
aprovadas. Lança "Seara vermelha", pela Martins e, pela Edições Horizonte, do Rio de Janeiro, "Homens e
coisas do Partido Comunista". Entusiasmado com a leitura de "Jubiabá", chega à Bahia o fotógrafo e
etnólogo francês Pierre Verger, que acabaria se radicando em Salvador e se tornando um dos amigos mais
íntimos de Jorge Amado.
Publica, em 1947, pela Editora do Povo, do Rio de Janeiro, "O amor de Castro Alves". É um ano de vários
acontecimentos na área do cinema para o escritor: a Atlântida compra os direitos de "Terras do sem fim";
ele escreve os diálogos do filme "O cavalo número 13", uma produção de Fernando de Barros e ainda o
argumento de "Estrela da manhã", que seria dirigido por Mário Peixoto, encarregado também do roteiro
(o filme acabou sendo feito, mas não por Peixoto). Nasce, no Rio de Janeiro, o filho João Jorge.
Com o cancelamento, em janeiro de 1948, do registro do Partido Comunista, o mandato de Jorge Amado
é cassado. Sem assento na Câmara Federal e tendo seus livros considerados como "material subversivo",
o escritor, ainda no mês de janeiro, parte sozinho em exílio voluntário para Paris. Em fevereiro, sua casa
no Rio é invadida por agentes federais, que apreendem livros, fotos e documentos. Logo após o episódio,
Zélia e o filho partem para Gênova, Itália, onde Jorge os apanha, levando-os a residir com ele em Paris. É
nesta ocasião que o escritor trava amizade com Jean-Paul Sartre, Picasso e outros expoentes da literatura
e da arte mundial. Na Polônia, participa do Congresso Mundial de Escritores e Artistas pela Paz. Com o
título de "Terras violentas", estréia no Rio a adaptação da Atlântida do romance "Terras do sem fim". Para
comemorar o primeiro aniversário do filho, escreve a história "O gato Malhado e a andorinha Sinhá". Viaja
pela Europa e União Soviética.
Em 1949, dirigindo-se para a Tchecoslováquia, onde participaria de um congresso de escritores, sofre um
acidente de avião na cidade de Frankfurt, Alemanha; escapa ileso. Morre no Rio, "de repente", conforme
conta o escritor, sua filha Eulália.
Por motivos políticos, em 1950, o governo francês expulsa Jorge Amado e sua família do país. O escritor,
Zélia e João Jorge passam a residir em Dobris, Tchecoslováquia, no castelo da União dos Escritores.
Realiza viagens políticas pela Europa Central e União Soviética. Escreve "O mundo da paz", livro sobre os
países socialistas.
No ano seguinte escreve o romance tripartido "Os subterrâneos da liberdade" (Os ásperos tempos, Agonia
da noite e A luz no túnel). Sai no Brasil, pela Editorial Vitória, do Rio, o livro "O mundo da paz" pelo qual
Jorge Amado seria processado e enquadrado na lei de segurança. Nasce em Praga sua filha Paloma.
Recebe, em Moscou, o Prêmio Internacional Stalin.
Vai à China e à Mongólia, em 1952. Volta ao Brasil com a família fixando residência no apartamento de
seu pai, no Rio de Janeiro. Responde ao processo por "O mundo da paz". O juiz responsável pelo caso
arquiva o processo, dizendo que o livro "é sectário e não subversivo". Com a aprovação, nos Estados
Unidos, da lei anticomunista, o escritor é proibido de entrar naquele país; seus livros também são vetados
por lá.
Viaja à Europa, Argentina e Chile, em 1953. Na última etapa do giro, é informado sobre a doença de
Graciliano Ramos. Volta ao Brasil para rever o amigo, que acabaria morrendo em seguida. Jorge Amado
faz então o discurso de despedida à beira do túmulo de Graciliano, a quem substitui na presidência da
Associação Brasileira de Escritores. Dirige a coleção "Romances do povo", da Editorial Vitória; acabará
fazendo este trabalho até 1956. Sai a quinta edição de "O mundo da paz"; o escritor proíbe reedições da
obra, por acreditar que o livro "trazia uma visão desatualizada da realidade dos países socialistas".
O romance "Os subterrâneos da liberdade" é lançado em três volumes, em 1954. A trilogia provoca uma
dura reação dos trotskistas brasileiros, gerando polêmica com o jornalista Hermínio Sacchetta (o
"Abelardo Saquilá" do romance). Sai em Portugal, pela Editorial Avante, um folheto de seis páginas
assinado por Jorge Amado e Pablo Neruda, cujo objetivo era contribuir para a libertação do líder
comunista Álvaro Cunhal e marcar posição contra o salazarismo.
De janeiro a março de 1955, permanece em Viena. Em dezembro faz rápida viagem à Bahia.
É lançada, pela Ricordi brasileira, em 1956, a partitura de "Não te digo adeus", com letra de Jorge Amado
e música do músico e maestro amazonense Cláudio Santoro. Assume no Rio a chefia de redação do
quinzenário Para-todos, ao lado do irmão James, de Oscar Niemeyer e Moacir Werneck de Castro, dentre
outros. Sai do Partido Comunista, segundo explica, "porque queria voltar a escrever". Jorge Amado diz
que sabia desde 1954 das atrocidades de Stalin, denunciadas publicamente neste ano no XX Congresso
do PCUS. "Mas na realidade deixei de militar politicamente porque esse engajamento estava me
impedindo de ser escritor", afirma.
Viaja ao Oriente ao lado de Zélia, Pablo e Matilde Neruda, em 1957. "Terras do sem fim" é lançado em
quadrinhos. Carlo Ponti, cineasta italiano, compra os direitos de "Mar morto"; mas o filme não chega a ser
realizado. Conhece a mãe-de-santo Menininha do Gantois, a quem ficaria ligado até a morte dela,
ocorrida em agosto de 1986.
Na tranqüilidade de Petrópolis, em 1958, escreve "Gabriela, cravo e canela". O livro, publicado em agosto,
esgota 20 mil exemplares em apenas duas semanas; até dezembro venderia mais de 50 mil exemplares.
Sai o disco "Canto de amor à Bahia e quatro acalantos de Gabriela, cravo e canela", trazendo leituras de
Jorge Amado e música de Dorival Caymmi.
No ano seguinte, "Gabriela" coleciona prêmios: Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro; Jabuti,
da Câmara Brasileira do Livro e Luiza Cláudio de Souza, do Pen Club, são alguns deles. O romance
ultrapassa a casa dos 100 mil exemplares vendidos. Recebe em Salvador, do Axé Opô Afonjá, um dos
mais altos títulos do candomblé, o de obá orolu (também receberam tal distinção o compositor Dorival
Caymmi e o artista plástico Carybé). "Obá, no sentido primitivo, é um dos doze ministros de Xangô",
explica Jorge Amado. Funda a Academia de Letras de Ilhéus. Lança na revista Senhor, do Rio de Janeiro,
a novela "A morte e a morte de Quincas Berro Dágua"; a idéia inicial era que este texto, de 98 páginas
datilografadas e escrito em dois dias, integrasse o romance "Os pastores da noite". Naquela mesma
publicação sairia o conto "De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto".
Na condição de vice-presidente da União Brasileira de Escritores, Jorge Amado promove, com o então
presidente Peregrino Jr., o Festival do Escritor Brasileiro num shopping center de Copacabana, em 1960. A
data do evento, 25 de julho; acabaria sendo consagrada, por decreto governamental, como "Dia do
Escritor". Ciceroneia o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em sua estada no Brasil.
Por unanimidade, é eleito, no dia 6 de abril de 1961, em primeiro escrutínio, para a cadeira 23 da
Academia Brasileira de Letras, que pertencia a Otávio Mangabeira. No mesmo mês estréia na Tv Tupi do
Rio de Janeiro a adaptação de "Gabriela" feita por Antônio Bulhões de Carvalho e com direção de Maurício
Sherman; no papeltítulo da novela está Janete Vollu de Carvalho e no de Nacib, Renato Consorte. A Metro
Goldwin Mayer compra os direitos de adaptação para o cinema de "Gabriela". Com o dinheiro,
Jorge adquire um terreno em Rio Vermelho, então na periferia de Salvador, e começa a construir lá uma
casa. Anos depois, o escritor recompraria do estúdio americano os direitos do romance. Ele assegura que
não se lembra mais de nenhum dos valores negociados com a Metro. A posse na ABL acontece no dia 17
de julho; lá Jorge Amado é recepcionado por Raimundo Magalhães Jr. Saí "Os velhos marinheiros",
livro que comporta as novelas "A morte e a morte de Quincas Berro Dáguá" e "A completa verdade sobre
as discutidas aventuras do comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso". É eleito
membro do Conselho da Presidência do Pen Club do Brasil. O presidente Juscelino Kubitschek convida-o
para ser embaixador do Brasil na República Árabe Unida; o escritor recusa o convite. Homenagens no Rio,
na Bahia e em outros estados por seus 30 anos de atividade literária; sua editora, a Martins, lança um
livro alusivo à data. A revista francesa Les Temps Modernes publica a tradução de "A morte e a morte de
Quincas Berro Dágua".
Seu pai morre no Rio de Janeiro, aos 81 anos de idade, em 1962. Cria a Proa Filmes, companhia de
cinema cujo primeiro e único trabalho é a adaptação de "Seara vermelha", com direção de Alberto
D'Avessa e estrelada por Marilda Alves; o filme estrearia no ano seguinte. Saí, pela gráfica O Cruzeiro, o
romance policial "O Mistério dos MMM", escrito por Jorge Amado, Viriato Corrêa, Dinah Silveira de
Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, José Condé, Guimarães Rosa, Antonio Callado, Orígenes Lessa e
Rachel de Queiroz. Viagem a Havana, a convite da União dos Escritores Cubanos.
"O cavaleiro da esperança" é apreendido pela polícia, em 1963. Instalase na casa do bairro de Rio
Vermelho (à Rua Alagoinhas, 33), onde reside até falecer.
Lança "Os pastores da noite", em 1964.
No ano seguinte publica o conto "As mortes e o triunfo de Rosalinda" na antologia "Os dez
mandamentos", da editora Civilização Brasileira, do Rio de Janeiro. Graças à intervenção de Guilherme
Figueiredo, então adido cultural do Brasil na França, Jorge Amado e sua família recebem autorização para
poder entrar de novo naquele país. A Warner Brothers adquire os direitos de filmagem de "A completa
verdade sobre as discutidas aventuras do comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso".
Mais de mil pessoas comparecem à primeira sessão de autógrafos de Jorge Amado em Portugal, em
1966, na Sociedade Nacional de Belas Artes. O escritor chega aos mil autógrafos no lançamento de "Dona
Flor e seus dois maridos" na livraria Civilização Brasileira, em Salvador. O romance sai com tiragem de 75
mil exemplares. Uma segunda sessão de autógrafos é marcada na capital baiana para atender aos leitores
que ficaram de fora da primeira.
Jorge Amado por Carlos Scliar, artista plástico gaúcho, 1947.
A União Brasileira de Escritores, presidida por Peregrino Jr., apresenta em Estocolmo a candidatura formal
de Jorge Amado ao Prêmio Nobel de Literatura, em 1967, embora o escritor a recuse. Durante duas
horas e meia, Jorge depõe para o arquivo do Museu da Imagem e do Som, na presença de James
Amado, do crítico Eduardo Portella e do romancista Antonio Olinto, dentre outros.
A UBE insiste em apresentar novamente a candidatura de Jorge Amado ao Nobel, em 1968. O escritor
concorda, mas exige que ela seja feita junto com a do romancista português Ferreira de Castro, seu
amigo. O cineasta polonês Roman Polanski visita o escritor na Bahia para "agradecer a alegria que seus
livros me proporcionaram na juventude".
No ano seguinte lança "Tenda dos milagres" (tiragem de 75 mil exemplares), livro que começou a
escrever na casa de campo do pintor baiano Genaro de Carvalho. Jorge dizia ter sido este seu melhor
romance.
Recebe em São Paulo o Prêmio Juca Pato - 1970, da União Brasileira de Escritores, como "Intelectual do
Ano". Lidera, ao lado do escritor gaúcho Érico Veríssimo, um movimento contra a censura prévia aos
livros. Estréia o filme "Capitães da areia", produção americana dirigida por Hall Bartlett.
Seu primeiro neto, Bruno, filho de João Jorge e Maria da Luz Celestino nasce em Salvador, em 1971.
Divide com Ferreira de Castro o Prêmio Gulbenkian de Ficção, entregue na Academia do Mundo Latino, em
Paris. Faz conferência no Instituto de Letras da Universidade da Pensilvânia.
Sua mãe morre em Salvador, aos 88 anos de idade, em 1972. Nasce Mariana, a primeira neta, filha de
Paloma e Pedro Costa. Sai "Tereza Batista cansada de guerra". A escola de samba Lins Imperial, de São
Paulo, apresenta o enredo "Bahia de Jorge Amado". Numa viagem à Europa encontra, em Barcelona, o
escritor colombiano Gabriel García Márquez, futuro Nobel de Literatura (1982).
Nasce Maria João, filha de João Jorge e Maria da Luz, em 1973. Fernando Sabino dirige um documentário
sobre Jorge Amado, "Na casa do Rio Vermelho".
Inaugurado em Salvador o Hotel Pelourinho, com registro em placa da época em que o escritor morou
naquele local, em 1974.
A Martins, que havia pedido concordata no ano anterior, começa a lançar livros de Jorge Amado em coedição com a Record, do Rio de Janeiro, em 1975. Marcel Camus leva para o cinema o romance "Os
pastores da noite", que é exibido na França com o título de "Otalia da Bahia". Este é o ano também da
estréia do maior sucesso do escritor na TV: a adaptação de Walter George Durst do romance "Gabriela,
cravo e canela", levada ao ar pela Rede Globo, com direção de Walter Avancini, Sônia Braga no papeltítulo e Armando Bogus interpretando Nacib.
Com o fechamento da Livraria Martins Editora, em 1976, Jorge passa a ser autor exclusivo da Record.
Nasce a neta Cecília, filha de Paloma e Pedro Costa. Estréia no cinema "Dona Flor e seus dois maridos",
de Bruno Barreto, com Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça. Após três meses de exibição o filme
bate recorde de bilheteria — dez milhões de espectadores. Na Bahia, começa a escrever "Tieta do
Agreste". Participa da Feira Internacional do Livro de Frankfurt; que neste ano é dedicada à literatura
latino-americana. A pedido do filho João Jorge e do amigo Carybé, que faz as ilustrações, publica "O gato
Malhado e a andorinha Sinhá".
No ano seguinte, cercado de intensa campanha publicitária, é lançado no Rio o romance "Tieta do
Agreste", que Jorge Amado concluíra em Londres. Também no Rio o autor, participa do ato de
inauguração da rua Tieta do Agreste, localizada no Recreio dos Bandeirantes, zona sul da cidade. Recebe
o título de sócio benemérito do afoxé Filhos de Gandhi. Estréia "Tenda dos milagres", filme de Nelson
Pereira dos Santos. Interpreta um dos apóstolos de Cristo na cena da "Última Ceia" do filme A Idade da
Terra, de Glauber Rocha. A casa onde o escritor viveu em Ferradas é tombada pela Prefeitura de Itabuna.
Grava no Rio, para a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, trechos de seus romances "Os pastores
da noite" e "Tereza Batista cansada de guerra".
Em 1978, Glauber Rocha realiza documentário abordando a obra de Jorge Amado. O escritor oficializa,
no dia 13 de maio, sua união com Zélia Gattai; a cerimônia acontece na casa do pintor Calasans Neto, em
Itapuã.
Sai "Farda fardão camisola de dormir", em 1979. Estréia na Broadway o musical Saravá, de Richard Nash
e Mitch Leigh, baseado em "Dona Flor e seus dois maridos". Escreve, sob encomenda de um banco, para
uma edição especial de fim de ano, o conto "Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de
Alagoas, nas ribanceiras do rio São Francisco". Lança em disco, pela Som Livre, uma versão do livro
"Bahia de Todos os Santos".
Nasce João Jorge Filho, em 1980, outro neto que lhe é dado por João Jorge e Maria da Luz. A revista
Vogue Brasil dedica um número a Jorge Amado, que escreve o texto "O menino grapiúna", onde conta
reminiscências da época em que viveu na região cacaueira. Daí surgiu a idéia de "Tocaia Grande", que
falaria do nascimento e desenvolvimento de uma cidade naquela área. Recebe o título de Doutor Honoris
Causa da Universidade Federal da Bahia. É condecorado como Grande Oficial da Ordem de Santiago da
Espada pelo presidente português Ramalho Eanes. Participa, na condição de convidado especial, do
programa L'apostrophe, da televisão francesa, comandado por Bernard Pivot.
"O menino grapiúna" é lançado numa edição não-comercial, em 1981. O jornal francês Le Matin publica o
conto "Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas, nas ribanceiras do rio São
Francisco". "Terras do sem fim" estréia na Tv Globo (adaptação de Walter George Durst e direção de
Herval Rossano); na trilha sonora, Jorge Amado assina, com Dorival Caymmi, a música Cantiga de cego.
No centenário de Ilhéus, o escritor é homenageado com uma placa e uma escultura de bronze numa rua
que leva seu nome; uma outra rua ganha o nome de seu pai. É entrevistado em Salvador pelo escritor
peruano Mario Vargas Llosa, que à época apresentava, nas noites de domingo, um programa na TV de seu
país.
O autor passa a ser nome de rua em Itapuã, em 1982. É homenageado no carnaval de Salvador pelo
bloco Dengo da Bahia, que apresenta o enredo Bahia de Jorge Amado. Começa a escrever "Bóris, o
vermelho", que, por diferentes motivos, seria seguidamente interrompido e acabou não sendo concluído.
Na primeira vez que adiou a redação de "Bóris", disse que foi "porque a idéia não estava bem
amadurecida". Jorge Amado inicia "Tocaia Grande". A Caixa Econômica Federal lança seis milhões de
bilhetes de loteria com a efígie do escritor. Zélia Gattai publica Um chapéu para viagem, onde conta como
conheceu Jorge. Sai a edição comercial de "O menino grapiúna".
Nasce Jorge Amado Neto, filho de João Jorge com sua segunda mulher, Rízia Vaz Coutrim, em 1983.
Inaugurado em Ferradas um busto do escritor. Estréia o filme "Gabriela", co-produção BrasilItália dirigida
por Bruno Barreto com Sônia Braga no papel-título e o ator italiano Marcello Mastroianni interpretando
Nacib.
Em 1984, publica "Tocaia Grande" (com uma anunciada tiragem inicial de 150 mil exemplares). Tenta
retomar "Bóris, o vermelho", mas o deixa de lado para escrever "A guerra dos santos", título original do
romance que se chamaria "O sumiço da santa". O presidente francês, François Mitterrand, outorga-lhe a
comenda da Legião da Honra. Lança "A bola e o goleiro", uma história infantil. Começa a articular a
criação da Fundação Casa de Jorge Amado. Zélia publica Senhora dona do baile, onde fala do primeiro
exílio do escritor.
Toma posse na Academia de Letras da Bahia (cadeira 21), em 1985. Recebe o título de Grão-Mestre da
Ordem do Rio Branco, no grau de Grande Oficial, oferecido pelo governo brasileiro. Participa do Festival de
Cinema de Cannes. É homenageado pelo Centro Georges Pompidou, de Paris, onde se realiza um debate
sobre sua obra. Estréia na Rede Globo a minissérie "Tenda dos milagres" (adaptação de Aguinaldo Silva e
Regina Braga e direção de Paulo Afonso Grisolli, Maurício Farias e Ignácio Coqueiro; no papel de Pedro
Archanjo, Nelson Xavier).
Morre, em 1986, aos 73 anos de idade, sua ex-esposa Matilde Mendonça Garcia Rosa. Participa, como
presidente do júri, do VIII Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, em Cuba; na ocasião,
é homenageado por Fidel Castro. Decreto assinado pelo presidente José Sarney no dia 2 de julho, data de
aniversário de Zélia Gattai, cria a Fundação Casa de Jorge Amado. Lança, pela Berlendis & Vertecchia, de
São Paulo, "O capeta Carybé", sobre o artista plástico argentino, nascido Hector Julio Páride Bernabó, seu
amigo desde os anos 50, quando se instalou na Bahia.
Inaugurada, no dia 7 de março de 1987, a Fundação Casa de Jorge Amado, que passa a desenvolver
intenso trabalho de preservação e divulgação da obra do escritor. Na presidência da entidade está
Germano Tabacof e na diretoria executiva, Myriam Fraga. O símbolo da Casa é um exu desenhado por
Carybé, que já vinha aparecendo nas edições dos livros de Jorge Amado. Segundo o escritor, exu é um
deus dos mais importantes nas religiões fetichistas; se elas admitissem a existência do diabo, ele seria o
diabo. Segundo as mães-de-santo, "exu é uma divindade travessa, uma criança, que adora pregar peças
e, principalmente, não admite censura". Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade
Lumière, da cidade francesa de Lyon. Lançamento da revista Exu, da Fundação Casa de Jorge Amado; o
número de estréia traz uma bibliografia do escritor e um texto dele intitulado "O enterro do Yalorixá".
Zélia lança o livro Reportagem incompleta, que reúne fotos que ela fez de Jorge Amado. O escritor
recebe o título de sócio honorário do Pen Club do Brasil. Lançado 0 filme "Jubiabá", dirigido por Nelson
Pereira dos Santos.
Zélia Gattai publica, em 1988, Jardim de inverno, onde fala do exílio na Tchecoslováquia em companhia
de Jorge Amado. A Orquestra Sinfônica da Bahia, sob regência do maestro Carlos Veiga, apresenta uma
peça do compositor paulista Francisco Mignone inspirada em "A morte e a morte de Quincas Berro
Dágua". Publica "O sumiço da santa". Recebe em Brasília o Prêmio Pablo Picasso, da Unesco, durante o
Simpósio Internacional de Escritores da América Latina e do Caribe. Inauguração, em Ilhéus, da Casa de
Cultura Jorge Amado.
A escola de samba Império Serrano, do Rio de Janeiro, apresenta o enredo "Jorge Amado - Axé, Brasil",
em 1989. Recebe o Prêmio Pablo Neruda, da Associação dos Escritores Soviéticos. Estréia na Rede Globo
a novela "Tieta", com adaptação de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares e direção
de Paulo Ubiratan, Reynaldo Boury e Luiz Fernando Carvalho; no papel-título, Bety Faria. Jorge Amado é
entrevistado no programa do escritor Georges Simenon na TF1 (França). Escreve texto em favor da
candidatura à Presidência da República, pelo Partido Comunista Brasileiro, do deputado federal Roberto
Freire (PE). Estréia na Tv Bandeirantes a minissérie "Capitães da areia", com adaptação de José Louzeiro
e Antonio Carlos Fontoura e direção de Walter Lima Jr.
Em 1990, participa, como representante do Brasil, da comissão internacional que dará assessoria ao
projeto de reconstrução da antiga biblioteca de Alexandria, no Egito. Aberto em Recife o arquivo do DOPS
(Departamento de Ordem Política e Social) pernambucano, no qual o prontuário de número 6.172 trata
das atividades políticas de Jorge Amado. Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de
Israel e da Universidade Dagli Studi de Bari, Itália. Na Itália recebe os prêmios Cino del Duca, concedido
por um júri presidido pelo escritor Maurice Druon, secretário-geral da Academia Francesa. A Universidade
Livre de Berlim realiza o seminário "Cultura popular na obra de Jorge Amado".
Paralelamente a "Bóris, o vermelho", escreve "Navegação de cabotagem", relato memorialístico, em
1991. Recebe o teatrólogo e novelista Dias Gomes na Academia Brasileira de Letras. Escreve, sob
encomenda, para uma empresa italiana, a história "A descoberta da América pelos turcos", que deveria
ser incluída num livro ao lado de textos do americano Norman Mailer e do mexicano Carlos Fuentes.
Preside o 14° Festival Cultural de Asylah, Marrocos, cujo tema é "Mestiçagem, o exemplo do Brasil".
Participa do Fórum Mundial das Artes em Veneza, Itália.
Estréia na Rede Globo, em 1992, a minissérie "Tereza Batista" (com adaptação de Vicente Sesso, direção
de Paulo Afonso Grisolli e Patrícia França no papel-título). Publica "Navegação de cabotagem". Uma série
de eventos comemora os 80 anos do escritor. As principais homenagens, naturalmente, se concentram
em Salvador: shows no Pelourinho, debates, exposições. Para festejar a data, a Fundação Casa de Jorge
Amado publica o livro "Jorge Amado: 80 anos de vida e obra", organizado por Maried Carneiro e Rosane
Canelas Rubim. Paloma Amado e Pedro Costa iniciam a revisão completa da obra do escritor, a fim de
eliminar erros acumulados ao longo das sucessivas reedições de seus livros. É homenageado no Centro
Georges Pompidou com a exposição Jorge Amado, écrivain de Bahia; no mesmo local participa do
seminário "Reencontro de dois mundos", realizado para comemorar o quarto centenário do descobrimento
da América.
Publica, em 1994, no Brasil, "A descoberta da América pelos turcos" (o projeto do livro com Mailer e
Fuentes não vingara, mas o texto de Jorge Amado já tinha saído em 1992 na França). "Gabriela, cravo e
canela" inaugura a série de relançamentos revisados da obra do escritor.
Recebe, dos governos brasileiro e português, o Prêmio Camões, em 1995. Começa a escrever um
romance provisoriamente intitulado "A apostasia universal de Água Brusca", que focaliza a luta pelo poder
entre a igreja e os coronéis do sertão baiano. Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de
Pádua, Itália; também na Itália é contemplado com o Prêmio Vitaliano Brancatti. João Moreira Salles
realiza o documentário "Jorge Amado".
Em maio de 1996, o escritor sofre em Paris um edema pulmonar. Depois de dez dias de internação,
recebe alta e viaja para Salvador, onde em julho comemora com os amigos os 80 anos de Zélia. Estréia
"Tieta do Agreste", filme de Cacá Diegues, que também assina o roteiro, ao lado de João Ubaldo Ribeiro e
Antonio Calmon. No papeltítulo, Sônia Braga. Em outubro, é submetido a uma angioplastia. A operação
mobiliza atenções do país inteiro e é coroada de pleno êxito. Na saída do hospital o escritor anuncia que
retomará "brevemente" seus projetos literários.
O romance "Tieta do Agreste" é escolhido como tema do carnaval de Salvador, em 1997. No domingo de
folia, o bloco "Amigos do Amado Jorge", liderado pelo cantor e compositor Caetano Veloso, desfila em
homenagem ao romancista, que assiste à festa ao lado de Zélia Gattai no camarote da passarela da Praça
do Campo Grande. A editora Record lança "Milagre dos Pássaros", livro com conto ainda inédito no Brasil.
No Salão do Livro de Paris, em 1998, é uma das principais atrações e recebe o título de Doutor Honoris
Causa na Sorbonne. Estréia na Rede Globo a mini-série "Dona Flor e seus dois maridos", adaptação de
Dias Gomes para o romance de mesmo nome.
Em maio de 1999, é hospitalizado para fazer exames de rotina e tratar de um mal-estar digestivo. Em
junho, a Fundação Casa de Jorge Amado lança o livro "Rua Alagoinhas 33, Rio Vermelho", sobre a casa
em que o autor vivia e sobre seu cotidiano.
Cada vez mais recluso, face a seus problemas de saúde, comemora em agosto de 2000, com poucos
amigos e a família, seus 88 anos. Vivia deprimido por se encontrar quase sem enxergar, sob dieta
rigorosa, privando-se do que muito gostava: de escrever, de ler um bom livro e de um bom prato.
No dia 21 de junho de 2001, Jorge Amado é internado com uma crise de hiperglicemia e tem uma
fibrilação cardíaca. Após alguns dias, retorna à sua casa, porém, em 06 de agosto volta a se sentir mal e
falece na cidade de Salvador às 19,30 horas. A seu pedido, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram
espalhadas em torno de uma mangueira em sua residência no Rio Vermelho.
Leia a linda crônica escrita por João Ubaldo Ribeiro, "Jorge Amado e eu", onde nos fala da dor pela
perda de seu grande amigo e incentivador.
Bibliografia
Individuais
Romances:
-
O
País
do
Carnaval,
1931
-
Cacau,
1933
-
Suor,
1934
-
Jubiabá,
1935
-
Mar
-
Morto,
Capitães
-
Terras
-
São
da
Areia,
do
Sem
Jorge
-
1936
dos
Seara
1936
Fim,
1943
Ilhéus,
1944
Vermelha,
1946
- Os Subterrâneos da Liberdade (3v), 1954 (v. 1:Os Ásperos Tempos; v. 2: Agonia da Noite; v. 3: A Luz
no
Túnel)
-
Gabriela,
-
Cravo
e
Canela:
Os
crônica
de
Pastores
uma
cidade
da
do
interior,
Noite,
1958
1964
- Dona Flor e Seus Dois Maridos: esotérica e comovente história vivida por Dona Flor, emérita professora
de Arte Culinária, e seus dois maridos — o primeiro, Vadinho de apelido; de nome Teodoro Madureira e
farmacêutico o segundo ou A espantosa batalha entre o espírito e a matéria, 1966
-
Tenda
-
dos
Teresa
Batista
Milagres,
Cansada
da
1969
Guerra,
1972
- Tieta do Agreste: pastora de cabras ou A volta da filha pródiga, melodramático folhetim em cinco
sensacionais
episódios
e
comovente
epílogo:
emoção
e
suspense!,
1977
-
Farda
-
Fardão
Camisola
Tocaia
O
de
Dormir:fábula
Grande:
Sumiço
da
a
Santa:
para
acender
uma
face
uma
história
esperança,
obscura,
de
feitiçaria,
1979
1984
1988
- A Descoberta da América pelos Turcos ou De como o árabe Jamil Bichara, desbravador de florestas, de
visita à cidade de Itabuna, para dar abasto ao corpo, ali lhe ofereceram fortuna e casamento ou ainda Os
esponsais
de
Adma,
1994
- O Compadre de Ogum, 1995
Novelas
-
A
Morte
e
a
Morte
de
Quincas
Berro
Dágua,
1959
- A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua (publicada juntamente com Os Velhos Marinheiros ou A
completa verdade sobre as discutidas aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de
longo
curso,
in
Os
velhos
marinheiros,
1961
- Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as discutidas aventuras do comandante Vasco
Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, 1976
Literatura
-
O
-
Infanto-Juvenil:
Gato
Malhado
A
e
a
Andorinha
Bola
Sinhá:
e
uma
história
o
de
amor,
Goleiro,
1976
1984
- O Capeta Carybé, 1986
Poesia:
- A Estrada do Mar, 1938
Teatro:
- O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor de Castro Alves), 1958
Contos:
- Sentimentalismo, 1931
- O homem da mulher e a mulher do homem, 1931
- História do carnaval, 1945
- As mortes e o triunfo de Rosalinda, 1965
- Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas, nas ribanceiras do rio São Francisco,
1979
- O episódio de Siroca, 1982
- De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto, 1989
Relatos autobiográficos:
- O menino grapiúna, 1981
- Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei, 1992
Textos autobiográficos:
- ABC de Castro Alves, 1941
- O cavaleiro da esperança, 1945
Guia/Viagens:
- Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e de mistérios, 1945
- O mundo da paz (viagens), 1951
- Bahia Boa Terra Bahia, 1967
- Bahia, 1970
- Terra Mágica da Bahia, 1984.
Documento
-
político/Oratória:
Homens
e
coisas
do
Partido
Comunista,
1946
- Discursos, 1993
Livro
traduzido:
- Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934
Em
-
parceria:
Lenita
Descoberta
(novela),
do
com
mundo
Edison
(literatura
Carneiro
infantil),
e
com
Dias
Matilde
da
Garcia
Costa,
Rosa,
1929
1933
- Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de
Queiroz,
1942
- O mistério de MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales,
Rachel de Queiroz, José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962
Publicações
no
exterior:
Segundo a Fundação Casa de Jorge Amado, existem registros oficiais de traduções de obras do escritor
para os seguintes idiomas: azerbaidjano, albanês, alemão, árabe, armênio, búlgaro, catalão, chinês,
coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês,
galego, georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano,
japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sérvio,
sueco, tailandês, tcheco, turco, turcumênio, ucraniano e vietnamita (48 no total). Essas traduções foram
publicadas no mínimo nos seguintes países: Albânia, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Armênia,
Áustria, Azerbaidjão, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Cuba,
Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Finlândia, França, Geórgia, Grécia, Holanda,
Hungria, Inglaterra, Irã, Islândia, Israel, Itália, Iugoslávia, Japão, Letônia, Lituânia, México, Mongólia,
Noruega, Paraguai, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia, Tailândia, Turquia,
Ucrânia, Uruguai, Venezuela e Vietnã; o Brasil também deve ser computado em função da edição nacional
em esperanto, totalizando 52 nações.
Dados extraídos de livros do autor, portais da Internet, outros livros e revistas e, em especial, dos Cadernos de Literatura
Brasileira publicados pelo Instituto Moreira Salles.
Modernismo
O Modernismo no Brasil começou com a Semana de Arte Moderna de 1922. Mas nem
todos os participantes da Semana eram modernistas: o pré-modernista Graça Aranha
foi um dos oradores. Apesar de não ter sido dominante no começo, como atestam as
vaias da platéia da época, com o tempo suplantou os estilos anteriores. Era marcado por
uma liberdade de estilo e aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de
primeira fase eram especialmente radicais quanto a isto. Outros modernistas importantes
são o prosador Érico Veríssimo e o poeta Carlos Drummond de Andrade, que tem
páginas próprias.
Jorge Amado
Jorge Amado nasceu em uma fazenda de cacau em Itabuna, Bahia, em 1912. Fez o curso
primário em Ilhéus (com uma professora particular que se tornou personagem de
Gabriela Cravo e Canela) e fez o secundário em um internato. Nessa época começou a
ler autores ingleses e portugueses. Fugiu para a casa do avô no Sergipe e em 1927
matriculou-se num externato, onde ligou-se a Academia dos Rebeldes, grupo de jovens
escritores contrários ao Modernismo. Apesar disso, Jorge Amado é considerado
modernista da segunda geração. Trabalhou em jornais e editoras, tendo fugido do país
por perseguições políticas em 1935 e, após eleito deputado federal em 1945, teve seu
mandato cassado em 1948 quando o PCB foi posto na ilegalidade. Deixou o país e
viajou pelo mundo, recebendo um prêmio na união Soviética em 1951. Em 1961 foi
eleito para a Academia Brasileira de Letras. Sua obra, que já foi adaptada para várias
mídias e traduzida para vários idiomas, é regionalista (trata sempre do NE,
especialmente a Bahia) e é dividida em três fases: uma com maiores preocupações
sociais, no começo da carreira, outra sobre o ciclo do cacau e outra ainda com maior
lirismo. Na primeira parte incluem-se Capitães de Areia e Mar Morto; na segunda
Cacaus, Terras do Sem-Fim e São Jorge de Ilhéus; na terceira, iniciada com Gabriela
Cravo e Canela (que apesar de se passar na zona do cacau não é sobre o ciclo do cacau
em si), incluem-se Dona Flor e seus Dois Maridos, Teresa Batista Cansada de Guerra
e Tieta do Agreste. Jorge Amado é até hoje muito cotado para ganhar o prêmio Nobel de
Literatura.
"Naquele ano de 1925, quando floresceu o idílio da mulata Gabriela e do árabe Nacib, a
estação das chuvas tanto se prolongara além do normal e necessário que os fazendeiros,
como um bando assustado de medrosos, cruzavam-se nas ruas a perguntar uns aos
outros, o medo nos olhos e na voz" Gabriela Cravo e Canela
"E aqui termina a história de Nacib e Gabriela quando renasce a chama do amor de uma
brasa dormida nas cinzas do peito." Gabriela Cravo e Canela
" Lá estava Vadinho, no chão de paralelepípedos, a boca sorrindo, todo branco e loiro,
todo cheio de paz e de inocência. Dona Flor ficou um instante parada, a contemplá-lo
como se demorasse a reconhecer o marido ou talvez, mais provavelmente, a aceitar o
fato, agora indiscutível, de sua morte. Mas foi só um instante. Com um berro arrancado
do fundo das entranhas, atirou-se sobre Vadinho, agarrou-se ao corpo imóvel, a beijarlhe os cabelos, o rosto pintado de carmim, os olhos abertos, o atrevido bigode, a boca
morta, para sempre morta." Dona Flor e seus Dois Maridos
"Eu sou o marido da pobre dona Flor, aquele que vai acordar a tua ânsia e morder o teu
desejo, escondido no fundo do teu ser, de teu recato. Ele é o marido da senhora dona
Flor, cuida da tua virtude, de tua honra, de teu respeito humano. Ele é tua face matinal,
eu sou a tua noite, o amante para o qual não tens nem jeito nem coragem. Somos teus
dois maridos, tuas duas faces, teu sim, teu não. Para ser feliz, precisa de nós dois.
Quando era eu só, tinhas meu amor e te faltava tudo, como sofrias! Quando foi só ele,
tinhas de um tudo, nada te faltavas, sofria ainda mais. Agora, sim, é dona Flor inteira
como deves ser." Dona Flor e seus Dois Maridos
Graciliano Ramos
Graciliano Ramos (1892-1953) pode ser considerado um dos mestres do Regionalismo.
Suas obras passam-se no NE do Brasil e falam do povo nordestino, da seca, da realidade
enfim, com uma linguagem direta e típica da região. Apesar de também Ter sido contista
e cronista, é como romancista que se destaca. Graciliano Ramos nasceu no interior do
estado do Alagoas, mas sua família se mudou várias vezes, peregrinando pelo interior
do Nordeste. Mais tarde mudou-se para o RJ e depois de volta a Palmeira dos Índios
(AL), cidade onde realizou seus estudos. Lá casou, estabeleceu-se no comércio e chegou
a ser prefeito da cidade. Foi nessa época que foi descoberto como romancista: escrevera
também o relatório que um editor desconfiara tratar-se de um romancista de gaveta.
Estava certo: Graciliano Ramos estava escrevendo havia anos seu primeiro romance,
Caetés, com o qual estrearia em sua carreira literária aos 41 anos (relativamente tarde).
Na mesma época de publicação do livro ele completou São Bernardo, primeira obra da
trilogia que é sua obra-prima e inclui Angústia e Vidas Secas. Em 1936 foi acusado de
comunista e mandado para a prisão, onde foi humilhado e maltratado (o fruto disso seria
o livro de memórias chamado Memórias do Cárcere). Em 1945 ele realmente se filiou
ao PC e chegou a visitar países além da Cortina de Ferro. Várias das obras de Graciliano
Ramos já foram filmadas por consagrados diretores brasileiros.
Dyonélio Machado
Dyonélio Machado (1895-1986) nasceu em Quaraí, Rio Grande do Sul, e formou-se em
Medicina em 1929 em Porto Alegre, sendo psiquiatra. Foi também jornalista, chegando
a dirigir o jornal Correio do Povo, e deputado pelo PCB, mas foi destituído do cargo
com a implantação do Estado Novo. Machado adquiriu notoriedade ao vencer junto
com, entre outros, seu amigo Érico Veríssimo, o concurso da ABL em 1935. Machado
era, aliás, amigo de muitos dos modernistas e se correspondia com eles, estando
alinhado com a Geração de 30. Dyonélio foi o iniciador da prosa urbana gaúcha com o
livro Um Pobre Homem. Sua obra de mais repercussão foi Os Ratos, mas também é
importante O Louco do Cati entre sua obra.
"Os bem vizinhos de Naziazeno Barbosa assistem ao 'pega' com leiteiro, Por detrás das
cercas. Mudos, com a mulher e um que outro filho espantado já de pé àquela hora,
ouvem. Todos aqueles quintais conhecidos têm o mesmo silêncio. Noutras ocasiões,
quando era apenas a 'briga' com a mulher, esta, como um último desaforo de vítima,
dizia-lhe: 'Olha que os vizinhos estão ouvindo'. Depois, à hora da saída, eram aquelas
caras curiosaas às janelas, com os olhos fitos nele enquanto ele cumprimentava." Os
Ratos
"Ele vê os ratos em cima da mesa, tirando de cada lado do dinheiro - da presa! - roendoo, arrastando-o para longe dali, para a toca, às migalhas!..." Os Ratos
Raul Bopp
Raul Bopp (1898-1984), gaúcho de Tupaceretã, foi poeta, ensaísta, diplomata e
jornalista. Participou da Semana de Arte Moderna e foi muito influenciado pelos
Andrade. Sua obra apresenta nacionalismo e construções gramaticais mais audaciosas,
com linguagem tipicamente popular.
Clarice Lispector
Clarice Lispector (1925-1977), contista, cronista e romancista de destaque na literatura
brasileira, não é brasileira nata: nasceu na Ucrânia e veio para o Brasil ainda criança.
Com 12 anos transfere-se do Recife onde morava para o Rio de Janeiro para cursar o
secundário. Mas já escrevia antes disso: aos sete anos mandava contos ao semanário
infantil. Sempre recusados. Ainda estudante escreve seu primeiro romance (Perto do
Coração Selvagem). Lispector tem um prosa introspectiva e intimista, que explora os
caráter do ser humano e os conflitos interiores, com um estilo dramático e por vezes
inteligentemente irônico. Além de vários romances como A hora da Estrela e A Paixão
segundo G.H., Clarice escreveu contos.
"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas continuarei a escrever. Como
começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-préhistória já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir.
Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos - sou eu que escrevo o que estou
escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável. A
minha vida mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só
palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio
último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada
funda em plena boca nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e
estridente - é a minha própria dor, eu carrego o mundo e há falta de felicidade.
Felicidade? Nunca vi palavra mias doida, inventada pelas nordestinas que andam aí aos
montes." A Hora da Estrela
"Acho com alegria que ainda não chegou a hora de estrela de cinema de Macabéa
morrer. Pelo menos ainda não consigo adivinhar se lhe acontece o homem louro e
estrangeiro. Rezem por ela e que todos interrompam o que estão fazendo para soprar-lhe
vida, pois Macabéa está por enquanto solta ao acaso como a porta balançando ao vento
no infinito, Eu poderia resolver pelo caminho mais fácil, matar a menina-infante, mas
quero o pior: a vida. Os que me lerem, assim, levem um soco no estômago para ver se é
bom. A vida é um soco no estômago." A Hora da Estrela
Antônio de Alcântra Machado
Antônio Castilho de Alcântara Machado d'Oliveira (1901-1935) foi um importante
escritor modernista da primeira fase, apesar de não ter participado da Semana de Arte
Moderna de 1922. Apesar de não ser tão radical como os outros modernistas
contemporâneos seus, usava uma linguagem em seus contos que se aproximava muito
do falado. Seus personagens de Brás, Bexiga e Barra Funda falavam uma mistura
muito peculiar de italiano e português. Machado nunca chegou a completar seu romance
Mana Maria, que foi publicado um ano depois de sua prematura morte. Pouco antes do
fim da vida rompeu relações com Oswald de Andrade por motivos ideológicos, ao
mesmo tempo em que sua amizade com Mário de Andrade se estreitava.
"O primeiro serviço profissional de Bruno foi requerer ao exmo. snr. dr. Ministro da
Justiça e Negócios Interiores do Brasil a naturalização de Tranquillo Zampinetti,
cidadão italiano residente em São Paulo." Brás, Bexiga e Barra Funda
Ronald de Carvalho
Ronald de Carvalho (1883-1935) foi um dos participantes da Semana de Arte Moderna
de 1922. Ensaísta e crítico, sobressaiu-se como poeta e declamador. Quando durante a
Semana declamou a famosa poesia Os Sapos, de Manuel Bandeira, recebeu uma das
maiores vaias de toda a apresentação. Em sua poesia abusava do verso livre, em
contraposição a formalidade dos parnasianos.
Cassiano Ricardo
O paulista Cassiano Ricardo Leite (1895-1974) foi um dos líderes do Movimento Verde
e Amarelo do início do Modernismo brasileiro. Ensaísta, jornalista e crítico, sobressaiuse como poeta. Apesar do início parnasiano, chegou a ter influência concretista. Foi
membro da Academia Brasileira de Letras.
Vinícius de Moraes
Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes (1913-1980), cronista, diplomata, teatrólogo
e roteirista carioca, destacou-se foi mesmo na poesia e na música. Apesar de um começo
de preocupações mais místicas, mas depois foi expressando sua inquietação com
mistério e um fino humor, valorizando a naturalidade do amor humano e a beleza das
relações amorosas. Alguns de seus versos também tinham certo cunho político, o que
geralmente lhe deixava em maus lençóis frente a seus colegas de diplomacia. Apesar de
grande poeta, é na música que Vinícius de Moraes realmente se destaca e é
imortalizado. Pertence à Segunda fase do Modernismo.
Cecília Meireles
Cecília Meireles (1901-1964) nasceu e morreu no RJ. Criada pela avó (os pais
morreram quando ela era apenas um bebê), sempre foi uma aluna brilhante. Cecília
iniciou parnasiana, fez duas obras mais simbolistas e depois ligou-se ao Modernismo,
mas nunca realmente pertenceu totalmente a uma escola. Escreveu uma obra
extremamente intimista e foi reconhecida largamente: foi a primeira mulher a ganhar
um prêmio da ABL, ensinou na UERJ e na universidade do Texas. Além de poetisa,
Cecília também foi teatróloga e tradutora.
Jorge de Lima
Jorge Mateus de Lima (1895-1953) foi, além de médico, político, pedagogo, professor,
ensaísta, crítico, romancista, pintor e escultor um grande poeta modernista. Nascido no
interior do estado de Alagoas, Jorge de Lima foi um poeta precoce. Sua primeira poesia
publicada foi aos 13 anos; a fama chegou três anos mais tarde. Cursou Medicina em
Salvador e no Rio de Janeiro, mas exerceu-a em Maceió, onde foi eleito deputado
estadual. Introduziu métodos de sanitarização em Alagoas como diretor da saúde
pública e em 1930 mudou-se para o Rio de Janeiro por causa da situação política, onde
foi vereador e professor e acabou por morrer. Jorge de Lima aderiu ao Modernismo
apenas em 1925, mas pertence à chamada geração de 30. Publicou vários livros de
poesia e prosa; até mesmo um de fotomontagens.
João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto é considerado o maior poeta vivo brasileiro. Diplomata, este
pernambucano nascido em 1920 recusa o sentimentalismo e é por alguns considerado
um "poeta-engenheiro", pois constrói suas poesias de grande apelo visual. Em 1945
entrou para o Itamarati (Ministério das Relações Exteriores do Brasil) e viajou o mundo
como diplomata. Em 1968 entrou na Academia Brasileira de Letras. Apesar de ter
começado surrealista em seu primeiro livro, o segundo apresentava influência
construtivista. Mais tarde publicou Morte e Vida Severina, que assim como outros
poemas, mostra a realidade do NE brasileiro. João Cabral de Melo Neto é considerado
o maior poeta da autodenominada "Geração de 45", apesar de ter participado pouco
tempo dela.
"E
somos
iguais
em
tudo
morremos
de
mesma morte severina" Morte e Vida Severina
"
Lá
ficaria
com
a
geometria
Sua
vida
muito
mais
útil
O
imperador
os
escritores
Tardou
o
indulto
É mais seguro vir por terra.
na
morte
toda
a
e
a
poderia
do
que
dos
muito
mas
Severinos
vida,
igual,
vida
aritmética.
ser
era.
brasileiros
preza.
chegou.
(Aqui, descarga de espingardas.)" Auto do Frade
Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1886-1968) é uma das figuras mais
importantes da poesia brasileira e um dos iniciadores do Modernismo. Apesar de ser um
poeta fabuloso, também foi ensaísta, cronista e tradutor. O próprio autor define sua
poesia como a do "gosto humilde da tristeza". Grandes músicos de seu tempo como
Heitor Villa-Lobos musicaram poemas seus. No final da história, Bandeira transcendeu
o Modernismo. Já novo gostava da leitura, mas teve que abandonar a faculdade por ter
contraído tuberculose. Passou doente toda vida, apesar das várias estadas em clínicas
brasileiras e até na Suíça. Se ligou aos modernistas em 1921 e participou da Semana.
Em 1940 tornou-se membro da ABL. Apesar de um começo parnasiano, Bandeira já
produzia inovações em 1919. No livro deste ano estava contido poema Os Sapos, uma
irreverente crítica aos parnasianos que foi usada como lema dos modernistas da
primeira fase após ser lida por Ronald de Carvalho. As várias poesias subseqüentes
tem metrificação nula e seus livros são ortodoxamente modernistas. Sua poesia mais
famosa é, sem dúvida alguma, Vou me embora para Pasárgada.
Rachel de Queiroz
Rachel de Queiroz nasceu em 1910 e foi a primeira mulher eleita para a ABL (em
1977). Poetisa, cronista e teatróloga, sobressai-se como romancista e regionalista.
Rachel de Queiroz tem em sua ficção a preocupação de mostrar tanto os problemas
sócio-políticos do NE do Brasil como também fazer análises psicológicas. Sucesso de
crítica e público, entre suas obras mais famosas encontram-se O Quinze, Caminhos de
Pedra, Três Marias e Memorial de Maria Moura.
José Lins do Rego
José Lins do rego (1901-1957) é um dos mais importantes escritores regionalistas do
Brasil. Seus romances, com altos tons autobiográficos, tratam muitas vezes do ciclo da
cana-de-açúcar e dos explorados por essa. José Lins do Rego era paraibano e nasceu ele
mesmo num engenho. Estudou Direito no Recife e formou-se em 1923. Dois anos
depois tornou-se promotor em MG e no ano seguinte mudou-se para Maceió, onde
começou a escrever seus primeiros livros. Em 35 mudou-se para o RJ, onde começou a
escrever para jornais e revistas. Não trabalhou em outra cidade desta data até sua morte.
As obras de José Lins do Rego são altamente pessoais e ele é considerado o iniciador do
neo-realismo (escola literária moderna que se propõe a retratar o real mais
objetivamente). Sua linguagem é mais descontraída e seus livros são populares não só
com o público mas com a crítica. Sua primeira obra foi Menino do Engenho (sua obraprima). Além de vários ensaios subseqüentes, escreveu também ensaios, livros de
viagens, um livro infantil e outro de memórias.
Murilo Mendes
Murilo Monteiro Mendes (1901-1975) foi um dos mais importantes poetas da Segunda
fase do Modernismo. Fez sua obra em diversos períodos com diversas características,
chegando até mesmo a produzir poesias alinhadas aos processos de vanguarda dos anos
70. Murilo Mendes nasceu e estudou em juiz de Fora até a faculdade de Farmácia.
Mudou-se então para Niterói. No Rio e em Niterói iniciou sua carreira, contribuindo
para revistas enquanto funcionário público. Suas primeiras obras são tipicamente
modernistas no começo, mas quando converteu-se ao catolicismo sua obra mudou.
Nessa fase já tinha influências cubistas. Por toda a vida seu estilo mudou muito,
passando da irreverência inicial ao rigor e a suas características vanguardistas.
Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa (1908-1967) foi um dos maiores prosistas do século XX. De um
estilo único e pessoal de linguagem e narrativa, Guimarães Rosa sempre usou a
realidade como fonte de inspiração sem descrevê-la documentalmente. Mineiro, o
médico e diplomata Guimarães Rosa ganhou prêmios como poeta e contista já no início
da carreira, na década de 30. Como servia na Alemanha em 1942, foi preso durante a
guerra diplomática. A partir do fim do Estado Novo Guimarães Rosa vai ganhando força
e qualidade como escritor. Em 1956 publica sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas.
Dois anos depois tornou-se ministro e em 1963 foi eleito para a ABL. Foi adiando sua
posse durante quatro anos e acabou por falecer três dias após empossado. Guimarães
Rosa começou a partir do Regionalismo mineiro, mas sua obra partiu para o universal,
experimental e fantástico (nos dois sentidos), com grande profundidade psicológica.
Guimarães Rosa pode ser considerado um dos melhores, se não melhor prosista da
chamada geração de 45, tendo sido excelente não apenas em seus romances, como
também em seus contos.
Oswald de Andrade
José Oswald de Andrade (1890-1853) foi poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo.
Figura de muito destaque no Modernismo Brasileiro, ele trouxe de sua viagem a Europa
o Futurismo. Formado em Direito, Oswald era um playboy extravagante: usa luvas
xadrez e tinha um Cadillac verde apenas porque este tinha cinzeiro, para citar apenas
algumas de suas muitas extravagâncias. Amigo de Mário de Andrade, era seu oposto:
milionário, extrovertido, mulherengo (casou-se 5 vezes, as mais célebres sendo as duas
primeiras esposas: Tarsila do Amaral e Patrícia "Pagu" Galvão). Foi um dos principais
artistas da Semana de Arte Moderna e lançou o Movimento Pau-Brasil e a Antropofagia,
corrente que pretendia devorar a cultura européia e brasileira da época e criar uma
verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu tudo e foi à falência em 1929
com o crash da Bolsa de Valores. Militante esquerdista, passou a divulgar o Comunismo
junto com Pagu em 1931, mas desligou-se do Partido em 1945. Sua obra é marcada pela
irreverência, pelo coloquialismo, pelo nacionalismo e pela crítica. Morreu sofrendo
dificuldades de saúde e financeiras, mas sem perder o contato com os artistas da época.
entre seus romance encontram-se Memórias Sentimentais de João Miramar, Os
Condenados e Serafim Ponte Grande.
"Napoleão era um grande guerreiro que Maria da Glória conheceu e Pernambuco disse
que o dia mais feliz da vida dele foi o dia em que fiz minha primeira comunhão."
Memórias Sentimentais de João Miramar
"Eu pudera quem sabe prever o armistício com músicas jazzbandando pelas ruas aliadas
e o esmigalhamento alemão por Foch e Poincaré, mas nunca auscultara minha precoce
viuvez e a chegada de Antuérpia num cargoboat, do meu cunhado José Elesbão da
Cunha com barbas. " Memórias Sentimentais de João Miramar
Mário de Andrade
Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945) foi um dos organizadores do Modernismo e
da Semana de Arte Moderna de 1922. Começou escrevendo críticas de arte e poesia
(ainda parnasiana) com o pseudônimo de Mário Sobral. Rompeu com o Parnasianismo e
o passado com Paulicéia Desvairada e a Semana, da qual participou ativamente. Mário
de Andrade era um escritor completo: além de poesia, também escreveu romances
(Amar, Verbo Intransitivo e Macunaíma), contos (Primeiro Andar, Belazarte e
Contos Novos) e ensaios (A escrava que não é Isaura, Música do Brasil, O movimento
modernista e O empalhador de passarinhos). Lutou sempre por uma literatura brasileira
e com temas brasileiros. Ironicamente, Mário era anti-romântico e este também era o
objetivo do romântico José de Alencar. Mário de Andrade era um homem tímido e,
segundo Rachel de Queiroz, um homossexual reprimido. Num PS, esta figura é de
Mário mais velho, mas ele nunca teve muito cabelo.
"O rosto se apoiou nos cabelos dele. Os lábios quase que, é natural, sim: tocaram na
orelha dele. Tocaram por acaso, quase de posição. Os seios pousaram sobre um ombro
largo, musculoso, agora impassível escutando. Chuvarada de ouro sobre a abandonada
barca de Dânae… Carlos… eta arroubo interior, medo? vergonha? aterrorizado!
indizível doçura… Carlos que nem pedra." Amar, Verbo Intransitivo
"… de amor!… Ela abriu os olhos da vida pra aquele. Ininteligente. Sarambé. Batido,
sem mesmo vivacidade interior. Decididamente Luís lhe desagradava, e Fräulein não
sentiu nenhuma vontade de continuar. Porém como se ele apenas esperasse um gesto
dela para recomeçar o aprendizado, Fräulein molemente buscou entre as mãos dele a fita
de serpentina. O gesto preparado aproximou os corpos. Ondulação macia de auto é
pretexto que amante não deve perder. Descansando mais pesadamente o ombro no peito
dele, Fräuilein se deixou amparar. Ensinava assim o mais doce, mais suaves dos gestos
dos proteção." Amar, Verbo Intransitivo
"Ai! que preguiça!…" Macunaíma
"Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são." Macunaíma
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Carlos Drummon de Andrade (...) Pois de tudo fica um