GRUPOS FOCAIS
GRUPOS FOCAIS; PESQUISA QUALITATIVA;
TRABALHO EM GRUPO; ANÁLISE QUALITATIVA;
AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS SOCIAIS.
Grupos Focais
Nota Técnica 2/20121
Com esta segunda Nota Técnica, a Move dá continuidade às ações voltadas
a contribuir com práticas e debates capazes de influenciar o fortalecimento
organizacional nos campos social e ambiental brasileiro. Ao lado dos eventos
realizados no ano de 2012, do Relatório Anual “Primeiras Histórias” e da circulação de
oportunidades e materiais de estudo em nossa página no Facebook, as Notas Técnicas
proporcionam teoria e prática articulada, e seguem demonstrando nosso interesse em
partilhar saberes.
Nesta Nota, procuramos fazer um recorte do tema dos Grupos Focais. Técnica
bastante utilizada em diferentes cenários de investigação, tais como a pesquisa de
mercado, as pesquisas eleitorais e as pesquisas em saúde, educação e assistência social,
o trabalho com Grupos Focais apresenta desafios significativos para aqueles que deles
desejam fazer uso.
Quais são seus principais propósitos? Quais as suas principais limitações? Em que
circunstâncias serão mais proveitosos? Que tipo de preparo deve se exigir para um
coordenador de grupos focais? Que tipo de critério utilizar para selecionar participantes?
Esperamos que as questões que balizaram a produção desta nota ecoem em nossos
leitores e nutram diálogos que queremos fortalecer com cada um de vocês.
1 Esta Nota Técnica foi produzida com a preciosa colaboração de Gabriela Vieira. Graduada em administração
pela Fundação Getúlio Vargas e com ampla experiência em gestão de marketing e pesquisa de Mercado,
Gabriela é colaboradora da Move em diferentes processos de consultoria.
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Grupos focais: breve revisão de propósitos, técnicas e limites
Os Grupos Focais baseiam-se na criação de um dispositivo de discussão grupal para
colher informações a respeito de um tópico determinado e específico. São processos de
obtenção de informações que devem emergir a partir do diálogo entre os participantes
do grupo, conduzido por um pesquisador ou por uma dupla de pesquisadores.
Os Grupos Focais são definidos como técnica de entrevista em grupo, que se
baseia na interação social entre pessoas com características em comum, procurando
compreender o que sentem ou pensam sobre um determinado assunto, produto ou
serviço. Trata-se portanto, de uma técnica abrigada no campo qualitativo, orientada
por narrativas produzidas coletivamente por sujeitos que se encontram juntos, com
base em um tema-chave e por meio do manejo do trabalho por um profissional.
Para que servem os grupos focais?
O propósito dos Grupos Focais é coletar informações relacionadas a um certo tema
que seja de interesse em uma pesquisa ou avaliação. Por exemplo, um pesquisador
pode necessitar das opiniões dos professores do Ensino Fundamental I das escolas
públicas de São Paulo a respeito de certo material distribuído pela Secretaria
Municipal de Educação. Em outro caso, uma pesquisa eleitoral encomendada por
certo Partido, deseja compreender melhor os motivos que levam cidadãos em um
determinado nível de renda a rejeitarem seu candidato. Ou ainda, uma empresa que
comercializa sabonetes quer compreender melhor os efeitos de determinado tipo de
embalagem sobre o grupo de consumidores do sexo masculino, e assim por diante.
Uma diferença importante entre Grupos Focais e outras formas de trabalho em
grupo é que usualmente estas outras técnicas têm diferentes objetivo, tais como
chegar a conclusões coletivas, estabelecer consensos, tomar decisões e, outras vezes,
produzir resultados nas próprias relações grupais ou para os membros do grupo,
como no caso das técnicas com finalidade terapêutica.
Como os Grupos Focais não se ocupam destas questões, e não se constituem com
os mesmos critérios que outras grupalidades, além de serem encontros pontuais que
não irão se repetir, são particularmente úteis para a compreensão de percepções,
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sentimentos e pensamentos das pessoas a respeito de determinados temas,
produtos, serviços, etc. Um Grupo Focal irá permitir consenso e o dissenso a fim de
produzir percepções sobre algo, tanto naquilo que cada participante traz e expressa
individualmente, quanto naquilo que se constitui dentro do próprio grupo, a partir dos
diálogos que se armam naquela circunstância.
Quando e por que usar grupos focais?
Os Grupos Focais podem ser uma boa opção metodológica quando:
• O pesquisador busca compreender as impressões e sentimentos que certo grupo
tem a respeito de um determinado objeto, produto ou serviço
• O pesquisador busca compreender as diferentes perspectivas entre grupos e/ou
extratos populacionais (diferentes gêneros, faixas etárias, profissões, níveis de renda,
local de residência, função organizacional, etc.)
• Tem-se como objetivo desvendar os fatores que influenciam as opiniões desses
grupos, os comportamentos e/ou motivações subjacentes.
• O pesquisador deseja perceber as ideias que aglutinam o grupo em polos distintos,
ou em posições contrárias uma à outra.
• Em um processo piloto, o pesquisador deseja testar uma ideia, materiais,
procedimentos, produtos, políticas, etc.
Sempre que há dúvida de como as coisas funcionam e operam na realidade, quando
há dúvidas relacionadas aos sentidos, potencialidades e falhas que algo possa ter,
como um programa social, um material didático, uma nova política, os Grupos Focais
costumam ser uma boa ferramenta de investigação.
A técnica contribui para que se possa conhecer padrões de funcionamento e
comportamento acerca do objeto em estudo, sendo uma maneira importante de
reconstruir tal objeto à medida que propõe um dispositivo para escutá-lo, observálo, falar sobre ele e explorar seus significados para as pessoas. Trata-se de técnica
enraizada no campo qualitativo, naquilo que na Nota Técnica 01/2011 denominamos
de paradigma naturalista.
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Como pontos fortes dos Grupos Focais, pode-se ainda destacar:
• A possibilidade de apreender (e aprender) não apenas “o que” os participantes
pensam, mas principalmente “porque” pensam de certa maneira.
• As trocas e interações entre os participantes revelam suas experiências, sentimentos
e crenças a respeito do assunto em questão.
• As discussões no grupo também revelam a extensão e intensidade tanto dos
consensos, quanto da divergência e da diversidade entre os participantes.
• Reproduzem elementos do ambiente social dos participantes, de forma distinta do
que se alcança com as entrevistas individuais. Em um Grupo Focal, os participantes
influenciam e são influenciados pelos outros.
• Por não pressupor uma decisão ou consenso em grupo, permite que certas disputas
que poderiam dificultar o debate e aprofundamento das ideias sejam enfraquecidas no
grupo. Nada impede, ao mesmo tempo, que algo da ordem da disputa e do conflito
seja explorado, exigindo habilidades importantes de quem conduz cada sessão.
• Permitem que o processo de investigação e de diálogo gire de forma mais solta
em torno de um tema, favorecendo melhor observação das heterogeneidades,
contradições e complementaridades acerca de um tema.
O que os Grupos Focais não são?
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Um grupo de pessoas reunidas para conversar livremente sobre um assunto
Entrevista individualizada a pessoas reunidas em grupo
Grupos de intervenção psicoterapêuticas
Grupos para produção de consensos
Quando não usar Grupos Focais?
• Quando o pesquisador espera que as pessoas cheguem a um consenso.
• Quando o objetivo é instruir as pessoas e não ouvi-las.
• Quando o estudo precisa de projeções estatísticas.
• Quando o ambiente é emocionalmente carregado e uma discussão grupal pode
acentuar conflitos.
• Quando o pesquisador está solicitando informações de cunho muito sensível que
não deveriam (poderiam) ser compartilhadas em grupos, ou que poderiam prejudicar
alguém caso fossem expostas ao grupo.
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Quanto a este último aspecto, deve-se destacar quão importantes são os contextos
culturais específicos, para se escolher a técnica adequada para o trabalho. Em uma
organização, por exemplo, misturar chefes e funcionários em um mesmo Grupo Focal,
pressupondo uma horizontalidade e uma abertura entre todos, pode ser bastante
frustrante, quando não, danoso. Da mesma forma, misturar pais e filhos, professores
e alunos, e assim por diante, lança por terra um dos pressupostos centrais da técnica
de Grupo Focal: a eleição dos participantes deve procurar minimizar os efeitos dos
laços externos entre eles, para que estes não balizem aquele grupo em particular. A
recomendação é que o principal elo entre os participantes seja a relação que se tem
com o objeto em estudo!
E aqui vale um destaque. Longe de nós refutar ou minimizar a importância dos
contextos específicos na formação dos grupos ou reduzir a importância de vários
outros tipos de intervenção em grupos, das quais somos adeptos, estudiosos e
praticantes. O que está em questão aqui é a recomendação para que uma técnica não
seja usada fora da sua finalidade específica, de seu enquadre teórico, tampouco que
a técnica seja escolhida antes de que os pesquisadores tenham uma compreensão
suficiente do propósito da pesquisa, bem como do objeto em investigação, para eleger
o melhor caminho metodológico.
Sobre a escolha dos participantes
Os grupos focais devem ser compostos por pessoas que possuem características em
comum e que são de interesse da pesquisa. Por exemplo, suponha que um programa
de educação dirigido à 3ª idade em uma determinada comunidade, deseje saber
como melhor atingir aquelas pessoas que não têm participado de suas iniciativas. Os
membros dos grupos focais convidados podem variar em sexo, idade, ocupação, nível
sócio-econômico; porém devem possuir em comum o fato de serem classificados
como adultos em 3ª idade (acima de 60/65 anos), serem membros daquela
comunidade e não terem participado dos programas oferecidos.
A homogeneidade é, neste sentido, um dos aspectos fundamentais nas decisões sobre
definição, seleção e recrutamento dos participantes dos grupos focais. O conceito
básico, subjacente, e que deve nortear as decisões do pesquisador é: quem detém as
informações que a pesquisa precisa conhecer?
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A metodologia dos Grupos Focais também prevê que os participantes de um grupo
não se conheçam ou no mínimo não tenham uma relação estabelecida. Como já dito,
deve-se ter cautela na realização de grupos focais com parentes, amigos íntimos ou
pessoas com estreitas relações políticas, afetivas ou profissionais. Agrupar pessoas que
vivem uma interação regular, pode dificultar ou inibir a franca manifestação ou exposição
de ideias e opiniões. Situações paralelas de relacionamento, (como conflitos, disputas de
poder, mágoas, etc.) podem ainda ser trazidas para o grupo e dificultar sua produção.
Contudo, sabe-se que na maioria dos processos de avaliação de programas sociais,
bem como em muitas pesquisas, esta condição dificilmente pode ser alcançada. uma
vez que público envolvido com o programa, projeto ou organização em estudo
nutre diferentes tipos de relação. Às vezes são alunos na mesma escola ou atividade
educativa, às vezes funcionários da mesma organização, às vezes moradores da mesma
comunidade, etc. Se estas condições não impedem a escolha da técnica de Grupos
Focais, devem ser objeto de atenção redobrada do pesquisador, para evitar leituras
enviesadas e atravessadas pelo contexto afetivo ou político de onde os participantes
são egressos.
Sobre o tamanho dos Grupos Focais
De uma forma geral, trabalha-se com a ideia de grupos com 6 a 8 pessoas. Entendese que um grupo com mais de 8 pessoas não é capaz de sustentar a mesma qualidade
de diálogo entre os participantes. Neste caso, perde-se o ‘olho no olho’, a possibilidade
que todos possam se expressar, e fragiliza-se a interação entre os participantes, além
de tornar-se mais difícil para o moderador manejar o grupo de forma ativa.
No lugar de crescer o número de participantes, recomenda-se montar outro grupo
para preservar a intimidade e atenção em torno do objeto em questão e também
porque será pela repetição dos grupos que os conteúdos emersos se confirmarão.
Por fim, nada contrapõe a ideia de se trabalhar com “mini” Grupos Focais, com 3 a 5
participantes, inclusive realizando-os em lugares de fácil acesso aos participantes, como
em restaurantes, residências e outros tipos de estabelecimentos.
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Sobre o número de grupos necessários a um bom estudo
As amostras em estudos qualitativos são construídas de forma intencional e não
probabilística. São escolhidos os extratos populacionais para se investigar uma variável e
é justamente isso que traz a consistência para os dados que serão obtidos.
O trabalho com Grupos Focais pressupõe que o número de grupos a serem realizados
depende do conteúdo que emerge dos mesmos. Ou seja, que a escuta deveria
prosseguir até que não fossem encontradas mais inconsistências. Porém, vale alertar
que o que ocorre muitas vezes é que a amostra é determinada de traz para frente,
ou seja, a partir dos recursos financeiros disponíveis para o estudo e não a partir do
processo com os participantes, o que é sempre um elemento a fragilizar o trabalho.
Sobre os pesquisadores
Também denominados de moderadores ou coordenadores, os profissionais
responsáveis pelos Grupo Focais devem estar bastante familiarizados com o roteiro
de investigação, ou seja, com a direção que irá se dar ao trabalho. Quanto mais
participação do moderador no desenho do estudo, como um todo, maior apreensão
do foco do grupo. Além disso, é fundamental que o moderador possa estabelecer
e zelar por um ambiente de confiança e abertura para que a troca entre os
participantes aconteça da forma mais confortável e espontânea possível.
O conhecimento sobre o assunto em estudo, ou sobre o foco do grupo, não é uma
variável de consenso. Se, por um lado, o moderador que conhece bem o objeto de
estudo, pode correr o risco de carregar seu manejo e seu relatório com suas próprias
opiniões, por outro aquele que pouco conhece o objeto pode ficar na superfície em
termos de novos insights sobre o tema, tanto ao longo do grupo, quando na análise
do material.
Desta forma, não é possível dizer que o conhecimento e a formação do moderador
sejam garantias da qualidade da análise e do resultado do estudo. Mais importante
que o saber específico sobre o objeto, parece ser o domínio da técnica por parte do
moderador: que ele seja capaz de manejar o grupo, aproveitar os ganchos e análises
que forem produzidos e, em síntese, ter uma boa escuta.
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Resumidamente, um bom manejo implica em habilidade de escuta por parte do
pesquisador ou coordenador do grupo, de utilizar o própria narrativa do grupo para
inserir novas questões e aprofundar o debate, tendo o roteiro como disparador do
diálogo e contorno do grupo, mas se atendo aos conteúdos do diálogo. É fundamental
desenvolver a capacidade de estimular a fala de todas as pessoas, de estimular e
balancear a participação, sendo cuidadoso para que alguns poucos não dominem
todo o debate. Outro aspecto importante é ter capacidade de explorar exemplos
e situações práticas, além de escapar do que chamamos de respostas socialmente
desejáveis, ou seja, aquilo que embora “politicamente correto”, nada revela sobre a
experiência e a opinião das pessoas. Espera-se ainda que o pesquisador seja capaz de
fazer sínteses que ajudem o grupo a retomar a discussão ou voltar para o ponto focal.
Pausas e quebra-gelos
- Respeite pausas e silêncios do grupo,
as pessoas podem estar pensando em
conteúdos ou inseguras em se colocar. O
silêncio também é uma manifestação.
- Se o grupo travar, valha-se da
descontração para levar o grupo para
outro lugar: mude de pergunta,
pergunte de outra forma, faça uma
analogia divertida.
Aprofundamentos
- Quando desejar aprofundar e/ou checar
alguma posição, mantenha ou volte ao
tema com outra abordagem:
“Poderia explicar melhor?”
“Poderia dar um exemplo?”
“Eu acho que não entendi sua ideia, você
pode repeti-la?”
“O que entendi de sua fala foi isso
e aquilo. Foi isso mesmo que você quis dizer?
Evite manifestar sua opinião particular
Esteja concentrado
- Movimentos de aprovação com
a cabeça
- Comentários à falas como: “Muito Bom”,
“Isso mesmo”...
- “Eu discordo disso, não acho que
é assim...
- Atento e livre das distrações
- Disciplinado para ouvir e ouvir a todos
- Familiarizado com o roteiro
de perguntas
Quadro 1. Algumas dicas para o processo de moderação.
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Sobre a análise e relatório dos resultados dos Grupos Focais
Adote um estilo de relato apropriado ao seu cliente, ou aos interessados pela
pesquisa. Investigue junto a ele que tipo de relatório ele gostaria e/ou tem expectativa
em obter. Que tipo de informações ele deseja? Quais são as expectativas e os
relatórios tradicionalmente utilizados na organização?
Esforce-se para extrair e comunicar novos aprendizados e insights, pois um relatório
deve aumentar o nível de conhecimento do cliente, ampliar sua compreensão. O
objetivo é muito mais pontuar e propiciar novos insights sobre a situação estudada, do
que repetir informações já de conhecimento dos interessados.
Saliente os aspectos mais importantes: ajude o cliente ou interessados a relembrarem
os pontos-chave do estudo, limitando o número de aspectos que você saliente.
Quando muitos pontos são apresentados, o impacto geral dos resultados é
minimizado. Inicie pelos aspectos mais importantes e prossiga com os menos
importantes. Por fim, é fundamental que um relatório chegue rapidamente aos
conteúdos centrais abordados nos Grupos Focais, lançando mão de frases que
ilustrem a análise. Para que frases estejam disponíveis no momento de análise, gravar e
transcrever os Grupos Focais torna-se fundamental.
Como organizar um roteiro de Grupo Focal
Na hora de estruturar o roteiro da entrevista, tão importante quanto saber ‘para
quais perguntas você quer resposta’, é saber de que forma fazê-las (como) e em qual
momento (em que ordem) para que o fluxo da conversa seja o mais espontâneo e
encadeado possível. Em tese, espera-se que um Grupo Focal opere apenas com uma
pergunta de investigação. O restante são “bordas” que devem favorecer o grupo a
mergulhar no objeto central, ou focal.
Em algumas circunstâncias, contudo, a demanda ou ansiedade do pesquisador, cliente,
financiador ou interessados em cobrirem diversas de suas dúvidas, torna os Grupos
Focais em grupos pluri-focais, diluindo sua potência e remetendo a análise a uma
produção horizontalizada, sem grandes aprofundamentos.
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Os roteiros utilizados em Grupos Focais são geralmente semi-estruturados, ou seja,
não possuem perguntas fechadas ou que exijam Sim ou Não dos participantes. Além
disso, são roteiros que podem sofrer pequenas variações ao longo do diálogo, a
fim de se ajustar à dinâmica grupal. Ao mesmo tempo, o ajuste não pode significar
escorregar para outro foco, ou mesmo multiplicar os focos, opções que seguramente
comprometerão a consistência do resultado.
Vale destacar que a técnica pressupõe uma intervenção vertical e de aprofundamento
sobre uma questão específica. O risco de permanecer no superficial da questão e
decepcionar os interessados na pesquisa é sempre grande. Em particular, o moderador
deve cuidar para construir roteiros bem enquadrados, e específicos. Um roteiro
precisa dar conta de três fases: (1) introdução; (2) exploração; (3) validação
e fechamento.
Dicas sobre como compor as fases de um Grupo Focal
Introdução
Pressupõe a construção do clima e ambiente para o desenrolar do grupo, que deve ser
amigável, confiável e acolhedor.
Passos: desejar boas vindas, apresentar os presentes (incluindo o próprio moderador
e eventual equipe), expor de forma geral o assunto a ser discutido, esclarecer o papel
esperado dos participantes e as regras de funcionamento do grupo.
Exemplo de uma introdução típica, por Richard Krueger
“Boa tarde e bem vindos a nossa sessão. Obrigado por dispor de seu tempo para se juntar
a nós e conversar sobre os programas educacionais no país. Meu nome é Dick Krueger
e meu assistente é .... Ambos somos da Universidade de Minnesota. Sara Casey, que é
a responsável local do departamento de educação nos pediu que auxiliasse a equipe a
obter informações de residentes do país sobre suas percepções a respeito dos esforços dos
escritórios regionais. Eles querem saber o que vocês gostam, o que não gostam, e como os
programas podem ser aprimorados. Nós estamos conduzindo discussões como esta em
grupos em todo o país.
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Vocês foram convidados porque participaram de algum dos programas de extensão
oferecidos, portanto vocês estão familiarizados com o que os programas fazem. Além disso,
são todos residentes desta parte do país. Não existem respostas certas ou erradas, apenas
pontos de vista diferentes. Por favor, sintam-se à vontade para compartilhar seus pontos
de vista mesmo quando eles diferem do que outros tenham dito. Mantenham sempre em
mente que nós estamos igualmente interessados em comentários positivos e negativos.
Muitas vezes, são os comentários negativos os mais proveitosos, pois ajudam a promover
mudanças. Certamente vocês notaram os microfones. Estamos gravando a sessão porque
não queremos perder nenhum de seus comentários. As pessoas usualmente dizem coisas
muito valiosas nessas discussões e nós não podemos anotar rápido o bastante para
registrar a todas. Não usaremos nenhum nome em nossos registros e vocês podem ter a
certeza da total confidencialidade dessa discussão. Os relatórios serão enviados ao comitê
federal para auxiliar no planejamento de programas futuros.
Bem, vamos começar. Nós colocamos placas com nomes em frente de cada um, para
facilitar que todos possamos nos tratar pelos nomes. Vamos conhecer um pouco mais sobre
cada um, circulando pela mesa. Começando pela minha esquerda, por favor digam seu
nome e aonde vivem”
Exploração
Pressupõe a introdução e aproximação do tema/assunto de estudo bem como a
exploração das ideias e opiniões a respeito do mesmo:
Passos: desenvolver pergunta aberta que introduza o assunto para que o grupo se
conecte com o universo em que o objeto de estudo esteja inserido, explorar as
ideias e opiniões que emergirem do grupo cuidando para encadear as informações
e levantar as razões e associações que levam às afirmações apresentadas até que
chegue à questão investigativa central do estudo. É importante para criar e manter um
fio condutor de diálogo.
Validação e fechamento
Pressupõe a validação/espelhamento sobre os conteúdos e ideias trazidos pelos
participantes junto aos próprios participantes, o agradecimento pelo tempo e
contribuições, o esclarecimento dos encaminhamentos do estudo, a despedida e
eventual pagamento pela participação.
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Passos: sintetizar as principais ideias trazidas e questões levantadas, validar com grupo,
checar se algum outro insight ou questão surge, rever objetivos e roteiro e certificar
se algo está faltando.
Exemplo de resumo de roteiro
1. Recebimento dos participantes
Deve incluir a apresentação do moderador
e do observador, a leitura e assinatura em
duas vias do termo de consentimento
informado, solicitar autorização para
gravação e distribuir crachá.
2. Apresentação da avaliação e acordos de trabalho.
Apresentação do foco da avaliação
(Influência do curso no trabalho), acordos
de trabalho (tempo de duração, celulares,
saber ouvir, se colocar, gravação da
entrevista, uso de sanitário, alimentos e
bebidas disponíveis); Comunicar o papel do
pesquisador e do observador.
6. Questão chave
Dentre as mudanças organizacionais que
vocês identificaram, qual vocês escolheriam
como a mais expressiva e a mais
sustentável a partir da participação
no Curso?
7. Questão de fechamento
O que mais contribuiu para a
implementação dessas mudanças?
Se você pudesse recomeçar o curso, o que
você faria diferente?
3. Apresentação dos participantes
Quem sou eu?
Em que organização trabalho?
8. Questões de verificação
De todas as coisas que discutimos, o que
lhes parece mais importante? Em relação
às mudanças em seu perfil profissional, nós
deixamos de falar a respeito de algo muito
importante para vocês?
4. Questão de abertura
Como é um “dia normal” em seu trabalho,
sua rotina? Que ações, tarefas, você
geralmente realiza lá?
9. Encerramento
Observador faz breve resumo (5’) verbal das
questões apontadas pelo grupo. Registrar os
agradecimentos à participação.
5. Questão introdutória
Considerando seu dia-a-dia, suas tarefas na
sua organização, etc.Que tipo de mudanças
você reconhece em seu trabalho a partir da
participação no Curso? Vamos falar sobre
isso em termos gerais.
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Como conclusão, deve-se ter em mente que tanto os Grupos Focais, quanto
quaisquer outras técnicas de investigação da realidade, são melhor escolhidas em
razão da natureza do objeto de pesquisa ou avaliação, bem como em função da
natureza das perguntas que guiam o processo. Os recursos disponíveis são também
componentes importantes da decisão, e só então as preferencias do pesquisador
devem entrar no cálculo da escolha. As diferentes técnicas disponíveis para a pesquisa
qualitativa exigem cuidados no preparo do trabalho, preparo e concentração dos
pesquisadores, cuidado e respeito com os participantes, tempo de maturação para
as análises e produção de boas peças de comunicação. Sem estes cuidados, qualquer
técnica tende a produzir resultados ruins, inclusive os Grupos Focais.
Referências bibliográficas
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desafios e perspectivas no ensino e na utilização do método. Psicol. Rev.; 13(1):41-58,
maio 2004. Disponível na Internet em link (acesso em 22 de Outubro de 2012)
Krueger, RA. (1988). Focus Groups – a practical guide for applied research. First Edition.
Thousand Oaks, California: Sage.
Krueger, RA.; Casey, M. A. (2000). Focus Groups – a practical guide for applied research.
Third Edition. Thousand Oaks, California: Sage.
Krueger, RA. Designing and conducting focus group interviews. Disponível na Internet
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Neto, OC. Moreira, MR. Sucena, LFM. Grupos Focais e Pesquisa Social Qualitativa: o
debate orientado como técnica de investigação. Disponível na Internet em http://www.
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22 de Outubro de 2012).
Vieira, Gabriela. Entrevista com Rogério Silva, em 10 de Setembro de 2012.
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EQUIPE EXECUTIVA
Daniel Brandão
Diretor Executivo
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