Título: O consentimento a pagar dos consumidores face à redução do uso de pesticidas
na produção de alimentos.
Autores: Seabra Pinto, A. (INRB), Combris, P. (INRA), Bazoche, P (INRA), Berjano, M.
(INRB), Giraud-Héraud, E. (INRA), Hannus, C. (INRA), Maia, R. (INRB)
RESUMO
Neste trabalho utilizou-se a metodologia dos mercados experimentais para medir o
consentimento a pagar dos consumidores por maçãs e sumos de maçã com
certificações que garantem diferentes reduções de uso de pesticidas. Os resultados
encontrados mostram que existe um consentimento a pagar dos consumidores por
alimentos produzidos com reduzido uso de pesticidas. O conhecimento detalhado
deste consentimento a pagar é essencial na definição e no sucesso de implementação
de políticas ambientais.
Palavras-chave: consentimento a pagar dos consumidores, pesticidas, mercados
experimentais, mecanismo BDM, certificação.
1. INTRODUÇÃO
Os consumidores actuais estão mais sensíveis aos riscos associados à utilização
de pesticidas na agricultura. Preocupações ligadas a questões ambientais e de saúde
humana têm suscitado alterações no comportamento dos consumidores. O
consumidor individual tem que escolher entre uma utilidade associada aos atributos
organolépticos e de produto, uma utilidade ligada a um comportamento “ambiental” e
uma utilidade relacionada com uma alimentação saudável.
Desde os anos noventa que investigadores como Hammitt (1990), Huang,
(1993), Buzby et al. (1998), Loureiro et al. (2002) e Chalak et al. (2010), procuram
conhecer como os consumidores avaliam economicamente o risco associado ao uso de
pesticidas. Estes trabalhos utilizam os métodos declarativos para avaliar as
preferências dos consumidores e medir o respectivo consentimento a pagar. Outros
trabalhos, como os de Roosen et al. (1998), de Rozan et al. (2004) e de Combris et al.
1
(2010), utilizam a economia experimental para avaliar o consentimento a pagar dos
consumidores por alimentos com características ambientais.
Neste trabalho, desenvolveram-se mercados experimentais com o objectivo de
medir o consentimento a pagar dos consumidores por alimentos produzidos com uso
reduzido de pesticidas. No respectivo desenho experimental colocou-se em avaliação
maçãs e sumos de maçã com certificações que garantem diferentes níveis de uso de
pesticidas. Desta forma, as experiências permitiram avaliar o impacto da informação
relativa à utilização de pesticidas na produção daqueles alimentos frescos e
processados.
Para perceber se os diferentes comportamentos dos consumidores são
dependentes da localização geográfica, os participantes das experiências foram
recrutados ao acaso da população portuguesa e francesa.
Os resultados encontrados nos dois países mostram que existe um
consentimento a pagar dos consumidores por produtos produzidos com redução do
uso de pesticidas. O conhecimento detalhado deste consentimento a pagar dos
consumidores é essencial na definição e no sucesso de implementação de políticas
ambientais.
2. CONSENTIMENTO A PAGAR E AVALIAÇÃO DOS RISCOS DOS PESTICIDAS
A literatura sobre a avaliação económica dos riscos ligados à aplicação de
pesticidas cresceu bastante nas duas últimas décadas. O consentimento a pagar
identificado neste tipo de literatura liga-se, sobretudo, aos riscos de uso de pesticidas
para a saúde humana e/ou aos riscos causados nos sistemas agro-ambientais (Travisi
et al., 2006). Neste tipo de estudos, os consumidores são normalmente chamados a
responder a um inquérito cujo objectivo é valorizar as características ambientais dos
produtos alimentares. As metodologias mais utilizadas para avaliar o referido
consentimento a pagar enquadram-se nos conhecidos métodos das preferências
declaradas. A maioria destes trabalhos procura estudar os riscos associados à relação
que se estabelece entre a presença de resíduos de pesticidas nos alimentos (segurança
alimentar) e a saúde humana, em países onde as políticas de segurança alimentar são
prioritárias.
2
Hammitt (1990), Misra, Huang & Ott (1991), Huang (1993), Eom (1994) e
Horowitz (1994) foram os primeiros autores a utilizar as metodologias das preferências
declaradas para avaliar a percepção dos consumidores face aos riscos ligados ao uso
de pesticidas.
O trabalho de Hammitt (1990) teve com objectivo estudar o comportamento
dos consumidores perante a redução de uso de pesticidas, tendo colocado em
comparação alimentos biológicos (sem pesticidas) e alimentos convencionais. Nas
discussões dos “focus-group” e através da realização de um inquérito, procurou
mostrar que os consumidores que adquirem produtos biológicos consideram que estes
produtos têm menos riscos que os respectivos produtos convencionais e revelam que
estão dispostos a pagar mais por eles.
Outros autores, tais como o Misra, Huang and Ott (1991), utilizaram a
informação obtida a partir de um inquérito para analisar as preferências dos
consumidores por alimentos frescos testados e certificados como não tendo resíduos
de pesticidas. Verificaram que a maior parte dos consumidores inquiridos preferem
produtos certificados sem resíduos de pesticidas, mas manifestam uma certa
resistência a pagarem preços mais elevados por esses produtos. Após este trabalho,
Huang (1993) procurou estudar a relação que se estabelece entre percepção do risco,
atitude e comportamento do consumidor. No inquérito realizado com o objectivo de
encontrar respostas para a relação que se estabelece entre as três variáveis em
estudo, o autor procurou, entre outras, relacionar os riscos de uso de pesticidas, a
atitude face aos pesticidas químicos e o consentimento a pagar por alimentos sem
resíduos de pesticidas. Os resultados mostraram que a percepção do risco tem um
efeito significativo e positivo na atitude face ao uso de pesticidas, que por sua vez
influencia o consentimento a pagar por alimentos sem resíduos de pesticidas.
Eom (1994) estudou as preferências declaradas pelos consumidores relativas
aos riscos causados pelos resíduos de pesticidas na saúde humana. O autor
desenvolveu uma estrutura metodológica na qual integrou a percepção dos riscos dos
consumidores e a metodologia das preferências declaradas, sendo as decisões dos
consumidores tomadas num ambiente de informação incompleta. Os resultados
empíricos mostraram que as preferências declaradas pelos consumidores por
alimentos mais seguros eram primeiramente influenciadas pelas diferenças de preços
3
e pela percepção dos riscos, mas o mesmo já não se verificava quando a informação
técnica era analisada isoladamente. A relação entre preço e riscos revelou acréscimos
de preços elevados para pequenas reduções de riscos e pouca variação nos acréscimos
de preços entre reduções de risco alternativas.
O trabalho de Horowitz (1994) teve por objectivo a análise das preferências dos
consumidores por sistemas de regulação do uso de pesticidas. Através dos resultados
obtidos por inquérito, o autor mostrou que existe uma distinta preferência por uma
regulação do uso de pesticidas em alternativa ao cenário no qual era proposto uma
redução dos riscos ligados ao uso dos pesticidas.
Estudos como os de Mourato et al. (2000) e Schou et al. (2002) usaram os
métodos das preferências declaradas para estudar, em simultâneo, os efeitos dos
pesticidas na saúde humana e no ambiente.
Mourato, Ozdemiroglu & Foster (2000) consideraram que a importância
relativa destes dois efeitos é determinada pela disposição a pagar dos indivíduos para
evitar o aparecimento de uma doença e de um determinado dano na natureza. Os
resultados mostraram que os consumidores estavam dispostos a pagar mais por um
alimento “amigo do ambiente” e que as diferentes valorizações encontradas
permitiram definir diferentes taxas com base nos tipos de produto em análise.
Mais recentemente, Chalak, Balcombe, Bailey & Fraser (2008) utilizaram uma
metodologia das preferências declaradas para conhecer as externalidades negativas
associadas ao uso de pesticidas na agricultura. Verificaram que no caso da produção
de cereais, o principal impacto de uma redução de pesticidas é na qualidade do
ambiente; e que na produção de hortofruticolas, essa externalidade negativa surge ao
nível da saúde humana. Os autores converteram os diferentes consentimentos a pagar
em taxas a aplicar ao uso de pesticidas e por tipo de externalidade.
Outras metodologias têm vindo a ser aplicadas à avaliação do consentimento a
pagar
dos
consumidores
pelas
características
ambientais
dos
alimentos,
nomeadamente, a metodologia dos mercados experimentais inserida na chamada
economia experimental. O método dos mercados experimentais é um método que se
caracteriza por criar um ambiente de mercado activo que tem por objectivo revelar
quais são os verdadeiros custos de oportunidade dos consumidores no momento de
avaliação dos produtos. Esta avaliação permite obter directamente um conjunto
4
heterogéneo de valores de consentimento a pagar que, em teoria, representam o valor
real do produto. Neste tipo de estudos, os indivíduos encontram-se num ambiente
laboratorial, no qual é reproduzida, de uma forma simplificada, uma determinada
situação económica. A possibilidade de definir este tipo de ambiente, permite um
grande controlo das variáveis que poderão influenciar as decisões económicas dos
participantes no estudo.
Os consumidores são incentivados a revelarem os seus valores (ou “preços de
reserva”) através de mecanismos usualmente designados de “mecanismos de incitação
ou revelação”(Vickrey’s second price auction, Becker, DeGroot and Marschak - BDM
mechanism). Estes mecanismos são geralmente utilizados na licitação de valores para
produtos e serviços reais, na avaliação de novos produtos e serviços e são também
usados para licitar as preferências individuais, particularmente, as ligadas ao risco.
A economia experimental tem sido aplicada à avaliação de vários atributos dos
produtos, nomeadamente, aos atributos ligados à segurança alimentar, como a
redução dos riscos dos pesticidas (Roosen et al., 1998; Rozan et al., 2004), às doenças
patogénicas (Hayes et al., 1995), e à utilização da radiação na esterilização dos
alimentos (Shogren et al., 1999).
O trabalho de Roosen, Fox, Hennessy & Schreiber (1998) é pioneiro na
aplicação da metodologia da economia experimental à avaliação do consentimento a
pagar dos consumidores por alimentos sem resíduos de pesticidas. Os autores
adaptaram um desenho experimental criado por Shogren et al. (1994) e desenvolvido
por Melton et al. (1996) à avaliação do consentimento a pagar dos consumidores por
maçãs sujeitas a diferentes tipos de insecticidas. A avaliação dos diferentes tipos de
maçãs foi feita com base no respectivo aspecto exterior e segundo questões de
segurança alimentar ligadas à saúde. Ao longo da sessão, foi transmitida informação
relativa ao processo de produção de cada tipo de maçã e aos riscos associados aos
diferentes tipos de insecticidas utilizados. Os resultados mostraram que o
consentimento a pagar por maçãs produzidas sem insecticidas era significativamente
mais elevados que os atribuídos às maçãs convencionais. Igualmente verificaram que o
aspecto das maçãs tinha um efeito significativo (mas negativo) no consentimento a
pagar dos consumidores.
5
Loureiro, McCluskey & Mitthelhammer (2003) utilizaram a metodologia da
economia experimental em conjunto com um inquérito para verificar se os valores de
consentimento a pagar declarados eram reveladores dos verdadeiros comportamentos
de mercado. Os autores pretenderam avaliar o consentimento a pagar por maçãs com
uma certificação ecológica (cuja informação transmite a ausência de resíduos de
pesticidas nos frutos), em comparação com maçãs biológicas e maçãs convencionais.
Os resultados mostraram que os consumidores que declararam pagar mais por aquele
tipo de maçãs foram também os que manifestaram um comportamento de compra
pelas referidas maçãs.
Rozan, Stenger & Willinger (2004) usaram os mercados experimentais para
medir o consentimento a pagar dos consumidores por alimentos certificados com
garantia de controlo de metais pesados em três alimentos (pão, maçãs e batatas). O
objectivo era perceber qual era o impacto da informação relativa ao significado da
certificação e aos aspectos ligados à saúde humana no consentimento a pagar dos
consumidores por estes três produtos. Os autores concluíram que a informação
relativa aos riscos causados na saúde não afecta a avaliação do produto certificado,
mas provoca um decréscimo na avaliação do produto convencional.
O mesmo tipo de conclusão foi encontrado no trabalho desenvolvido por
Bougherara & Combris (2009). Estes autores mediram o consentimento a pagar dos
consumidores por alimentos biológicos através de um mercado experimental no qual o
produto em análise era o sumo de laranja biológico. No desenho da experiência
colocaram em comparação três tipos de sumo: convencional, biológico e “amigo do
ambiente”. A informação transmitida aos consumidores permitiu-lhes conhecer o
significado de “sumo biológico” e “sumo amigo do ambiente”. Os resultados
mostraram que o consentimento a pagar por este dois tipos de sumo era
invariavelmente superior ao atribuído ao sumo convencional. Igualmente verificaram
que a informação transmitida sobre o sumo convencional não teve qualquer efeito na
respectiva avaliação.
Combris, Seabra Pinto, Fragata & Giraud-Héraud (2010) utilizaram a
metodologia dos mercados experimentais para avaliar a importância da informação
veiculada pelos atributos de qualidade da pêra Rocha no consentimento a pagar dos
consumidores. Os autores realizaram uma experiência cujo objectivo foi compreender
6
o papel dos sinais de qualidade na transmissão de informação sobre diferentes
atributos de qualidade, nomeadamente da segurança alimentar. Os principais
resultados
mostraram
que
o
atributo
segurança
alimentar
influenciou
instantaneamente o consentimento a pagar dos consumidores. Contudo, verificou-se
que o consentimento a pagar do atributo sabor foi superior ao do atributo segurança
alimentar; o sabor foi o atributo mais importante na definição do comportamento de
escolha dos consumidores.
Para concluir, a actual literatura económica está interessada em conhecer a
avaliação dos consumidores por alimentos com baixos ou sem resíduos de pesticidas.
Contudo, os resultados desta literatura mostram que os valores de consentimento a
pagar encontrados são bastantes díspares, tal como é evidenciado nos trabalhos de
Florax et al. (2005) e Travisi et al. (2006). Estes autores referem que são vários os
factores que conduzem à disparidade de valores entre os diferentes estudos: i)
metodologia de recolha de dados; ii) metodologia de avaliação das preferências dos
consumidores; iii) tipo de produtos; e iv) tipo de risco associado aos pesticidas
(segurança e ambiente).
3. OBJECTIVOS
Neste trabalho utilizou-se a metodologia dos mercados experimentais para
medir o consentimento a pagar (CAP) dos consumidores por maçãs e sumos de maçã
certificados segundo diferentes reduções de uso de pesticidas. Definiram-se três tipos
de maçã que se diferenciam segundo o modo de produção e o nível de uso de
pesticidas: i) “convencional” – maçãs produzidas respeitando as legislações nacionais
de aplicação de pesticidas; ii) “protecção integrada” – maçãs produzidas com uma
redução de pesticidas; iii) “biológicas” – maçãs produzidas sem pesticidas de síntese. A
maçã de protecção integrada e a maçã biológica foram apresentadas aos
consumidores com as respectivas certificações.
Procurou-se igualmente estudar o impacto da redução de uso de pesticidas no
CAP dos consumidores pelo produto processado: sumo de maçã. Os níveis de uso de
pesticidas foram idênticos aos definidos para as maçãs: i) sumo elaborado a partir de
maçãs produzidas no modo convencional; ii) sumo elaborado a partir de maçãs
produzidas em protecção integrada; e iii) sumo elaborado a partir de maçãs produzidas
7
em agricultura biológica. Os dois últimos tipos de sumo tinham igualmente identificado
nos seus rótulos a respectiva certificação.
Para perceber se os diferentes comportamentos dos consumidores são
dependentes da localização geográfica, os participantes das experiências foram
recrutados ao acaso da população portuguesa e francesa.
4. MERCADOS EXPERIMENTAIS
O mecanismo de incitação BDM (Becker-DeGroot-Marschak, 1964), também
conhecido por “mecanismo de lotaria”, foi utilizado nos dois mercados experimentais.
O seu objectivo é incitar os participantes nos mercados experimentais a revelarem o
preço mais elevado que estão dispostos a pagar pelo produto em avaliação.
Participantes
O desenho experimental foi primeiramente aplicado em Portugal, em Lisboa e
102 consumidores distribuíram-se por 11 sessões do mercado experimental português.
Este mercado realizou-se na sala de análise sensorial do laboratório de estudos
técnicos do Instituto Superior de Agronomia. Posteriormente, o mesmo desenho
experimental foi aplicado em França, em Dijon, e 107 consumidores participaram em
10 sessões do mercado experimental francês. Este mercado realizou-se na sala de
análise sensorial do Institut National de Recherche Agronomique (INRA).
Nos dois países, os participantes foram recrutados segundo os mesmos critérios
e tendo em vista o objectivo principal do trabalho. Assim, as principais questões
colocadas foram: i) frequência de consumo de maçãs; ii) participação dos
consumidores nas compras de alimentos para a família; iii) conhecimentos relativos
aos preços de mercado das maçãs. Houve ainda o cuidado de assegurar que os
participantes nas experiências eram consumidores habituais de maçãs e de sumo de
maçã. Aos consumidores seleccionados foi-lhes enviada uma correspondência a
informar sobre o objectivo geral do estudo - avaliação de maçãs provenientes de
modos de produção distintos – e a explicar a forma como a experiência se iria
desenrolar.
8
Produtos
As variedades de maçã utilizadas nos mercados experimentais foram as
seguintes: Royal Gala e Granny Smith, em Portugal e Golden, em França.
A escolha destas variedades teve por objectivo ir ao encontro dos diferentes
gostos dos consumidores e, desta forma, obter o menor número de recusas de compra
dos produtos em avaliação. Na primeira experiência, a portuguesa, colocou-se à
disposição dos consumidores duas variedades diferentes em termos organolépticos:
uma variedade mais doce (Royal Gala) e uma variedade mais ácida (Granny Smith). Os
resultados mostraram que os consumidores, apesar de manifestarem uma preferência
nítida por uma das variedades, não se recusaram a indicar o seu consentimento a
pagar para a outra variedade. Constatada esta situação em Portugal, tomou-se a
resolução de simplificar a experiência em França, o que fez com que, nessa experiência
se tenha utilizado uma só variedade de maçã. A variedade escolhida foi a Golden, pois
foi assumido que seria a que geraria menos recusas de compra, pelo facto de ser a
variedade mais consumida em França. No momento do recrutamento dos
consumidores franceses foi tido em atenção o consumo habitual desta variedade.
As diferentes maçãs apresentadas aos participantes tinham um calibre idêntico
à excepção da maça Golden biológica que era de calibre menor. Para evitar a
perturbação do efeito do tamanho da maçã na avaliação que se pretendia obter,
colocou-se, na experiência francesa, mais uma maçã de calibre idêntico à da maçã
biológica, sem qualquer tipo de informação a identificá-la.
Como já foi referido nos objectivos do trabalho, definiram-se diferentes tipos
de maçãs e de sumo de maçã, segundo três modos de produção diferentes aos quais
correspondem níveis de uso de pesticidas distintos, os quais permitiram identificar os
tipos de maçã como: convencional, protecção integrada e biológico.
Desenho da Experiência
Nos dois países, a experiência teve três etapas distintas: 1ª etapa - Avaliação de
diferentes tipos de maçã; 2ª etapa – Avaliação dos diferentes tipos de sumo de maçã;
e 3ª etapa – Venda de maçãs e de sumos de maçã.
9
O objectivo da 1ª etapa foi medir o CAP dos consumidores por uma redução de
pesticidas na produção das maçãs. Pretendeu-se verificar se os resultados eram
dependentes ou não de alterações, tanto nas características intrínsecas dos produtos
(variedade, qualidade organoléptica, tamanho, etc) como nas características
extrínsecas (marca, origem). Assim, pretendia-se mostrar que um eventual aumento
do CAP, resultado de uma redução de uso de pesticidas, era condicionado pela
estabilidade das características organolépticas e/ou por outros atributos extrínsecos.
Estes resultados são importantes quando está em discussão o quanto é que os
produtores deverão reduzir na aplicação de pesticidas, tendo em conta os ganhos que
se poderão obter, quando características organolépticas (como o sabor) são reforçadas
e/ou quando atributos extrínsecos (como a origem) são evidenciados.
Nesta etapa foram definidas quatro situações de informação que serão
apresentadas e descritas mais à frente.
Na 2ª etapa – Avaliação dos diferentes tipos de sumo de maçã – o objectivo
desta etapa foi verificar se a avaliação realizada pelos consumidores era diferente da
realizada na avaliação das maçãs, uma vez que se tratavam de produtos
transformados. Foram apresentados três tipos de sumo, cujos rótulos indicavam o
seguinte: i) sumo elaborado a partir de maçãs produzidas no modo convencional; ii)
sumo elaborado a partir de maçãs produzidas em protecção integrada; e iii) sumo
elaborado a partir de maçãs produzidas em agricultura biológica. Os consumidores
avaliaram os diferentes sumos segundo a informação transmitida pelos respectivos
rótulos.
Na 3ª etapa - Venda dos diferentes tipos de maçã e de sumo de maçã – neste
última etapa da experiência procedeu-se à conclusão da aplicação do mecanismo de
incitação BDM, com o qual se procurou incitar os consumidores a revelarem os seus
valores de CAP. Todos os participantes tiveram a possibilidade de retirar
aleatoriamente de uma urna uma bola que identificava o tipo de maçã e a situação de
informação e de uma outra urna, que continha uma distribuição aleatória de preços de
mercado de 1 quilograma de maçã, uma outra bola identificada com um determinado
preço. O passo seguinte foi comparar o valor monetário que o participante atribuiu à
combinação maçã e situação de informação retirada aleatoriamente da urna com o
10
preço retirado aleatoriamente. Duas situações puderam acontecer: o valor era
superior ou igual ao preço aleatório; ou o valor era inferior ao preço aleatório. No
primeiro caso, o participante teria que comprar um quilograma de maçã ao preço
saído aleatoriamente e no segundo caso não tinha oportunidade de realizar a compra
de um quilograma de maçã.
Importa agora identificar e descrever com algum detalhe as diferentes
situações de informação que se definiram na 1ª etapa da experiência. Nesta etapa, os
participantes avaliaram e licitaram valores para diversos tipos de maçã em diferentes
situações de informação. Foram definidas cinco situações de informação e em todas
elas foi pedido aos participantes que atribuíssem um valor monetário (ou “preço de
reserva”) para 1 quilograma de cada tipo de maçã. No caso de não quererem comprar
um qualquer tipo de maçã, solicitava-se que indicassem o valor zero.
1ª Situação de informação: avaliação das características intrínsecas; nesta
situação os consumidores realizaram uma “prova cega” dos três tipos de maçã em
análise. A única informação transmitida foi a identificação das variedades em estudo.
Após a degustação, os consumidores atribuíram-lhes os seus valores monetários.
Nesta primeira situação, e apenas para a experiência portuguesa, encontrou-se
a variedade preferida para cada consumidor, visto que estava em análise duas
variedades: Royal Gala e Granny Smith. Após este conhecimento, resultado dos
consumidores terem atribuído um preço de reserva médio superior à sua variedade
preferida, nas situações de informação seguintes, cada consumidor avaliou
unicamente os diferentes tipos de maçã da sua variedade preferida.
2ª Situação de informação: avaliação das características extrínsecas; nesta
situação os diferentes tipos de maçã foram apresentados em simultâneo aos
participantes e estes apenas puderam visualizar o seu aspecto e os sinais (“stikers”)
que identificavam a respectiva certificação. Nenhuma informação foi transmitida aos
consumidores e não lhe foi permitido provar as diferentes maçãs. Após a avaliação, os
participantes atribuíram os seus “preços de reserva”.
No final desta situação de experiência, e apenas na experiência francesa, foi
pedido aos participantes para responder a um questionário simples relativo ao seu
conhecimento sobre as diferentes certificações associadas a cada tipo de maçã. As
11
questões colocadas foram do tipo: “Para todas as maçãs que lhe foram apresentadas,
qual é a que apresenta uma certificação que lhe garante: 1) sabor; 2) origem; e 3) uso
reduzido de pesticidas?”. Com este questionário simples pretendeu-se avaliar os
conhecimentos a priori dos participantes, pois na situação seguinte estava em
avaliação o efeito da informação sobre a redução de uso de pesticidas.
3ª Situação de informação: informação sobre as características extrínsecas;
nesta situação forneceu-se informação explicativa sobre as diferentes certificações.
Cada consumidor recebeu um documento no qual era explicado o significado de cada
um dos sinais (“stiker”) identificadores da respectiva certificação. A informação
transmitida aos consumidores foi a seguinte: todas as maçãs foram produzidas em
cumprimento dos limites nacionais de aplicação de pesticidas. No caso das maçãs com
o sinal “biológico”, referiu-se que era garantida uma produção sem utilização de
pesticidas químicos. No que se refere ao sinal de “protecção integrada”, houve uma
ligeira diferença no tipo de informação que foi transmitida aos participantes
portugueses e franceses. Em Portugal, informou-se que este sinal garantia uma
redução para metade dos pesticidas utilizados; e em França, a informação veiculada
apenas referiu que a maçã com o sinal de “protecção integrada” garantia uma redução
de uso de pesticidas. Após a leitura do documento e transmitida mais alguma
informação oral, os consumidores voltaram a avaliar as maçãs e a atribuir-lhes os
respectivos “preços de reserva”.
4ª Situação de informação: avaliação das características intrínsecas e
extrínsecas e informação; nesta última situação de avaliação dos diferentes tipos de
maçãs, pretendeu-se que os participantes avaliassem as diferentes características
intrínsecas e extrínsecas das maçãs, tendo em atenção toda a informação transmitida
ao longo da experiência. Solicitou-se, ainda, que provassem as diferentes maçãs e que
no final indicassem os seus preços de reserva.
5. RESULTADOS
Distribuição dos valores de consentimento a pagar
A figura 1 contém dois histogramas que correspondem à distribuição dos CAP
nos dois países, obtidos nas quatro situações de informação. Verifica-se que o número
12
de recusa de compra foi idêntico nos dois países, 8% em Portugal, e 7% em França. É
também possível dizer que as distribuições, nos dois países, seguem uma distribuição
quase normal. Em Portugal, o valor médio do CAP situou-se à volta de 0,83€, sendo a
respectiva mediana de 0,8€. Em França, os valores foram um pouco superiores, com
um valor médio de CAP de 1,29€ e uma mediana de 1,2€.
Figura 1. Distribuição dos valores de consentimento a pagar em Portugal e em França
França
100
200
Frequência
150
100
0
50
0
Frequência
300
200
400
250
Portugal
0
1
2
3
0
1
CAP
2
3
4
5
CAP
Análise descritiva da evolução do consentimento a pagar
As figuras 2 e 3 mostram os intervalos de confiança para os CAP obtidos,
respectivamente, em Portugal e em França, em função das diferentes situações de
informação (denominadas: “PROVA” para a primeira situação, relativa à análise
sensorial; “STIKER” para a segunda situação, relativa à análise visual; “INFO” para a
terceira situação, relativa à análise visual com apresentação das respectivas
certificações; “PROVA+INFO” para a quarta situação, relativa à análise visual e
sensorial, ou seja, de informação total).
Em termos gerais, os CAP dos consumidores franceses são sensivelmente mais
elevados que os revelados pelos consumidores portugueses, entre 20% a 80%
consoante o tipo de certificação.
13
Figura 2. Intervalos de confiança (95%) dos CAP médios por tipo de maçã e situação de
1.25
informação, em Portugal
BIO
CAP (€/kg)
1
BIO
BIO
PI
PI
.75
CO N
PI
BIO
PI
CO N
CO N
.5
CO N
PROVA
ST ICKER
INFO
PROVA+INFO
Figura 3. Intervalos de confiança (95%) dos CAP médios por tipo de maçã e situação de
1.7
informação, em França
BIO
1.45
PI
PI BIO
1.2
BIO
.95
PEQ
BIO
CO N
CO N
CO N
PEQ
PEQ
PEQ
CO N
.7
CAP (€/kg)
PI
PI
PROVA
ST ICKER
INFO
PROVA+INFO
Este resultado não é surpreendente visto existir uma diferença entre os salários
médios das duas amostras de população e, mais importante ainda, visto que existe
14
uma diferença de preço de mercado das maçãs nos dois países1. O que foi mais
surpreendente foi a homogeneidade de respostas obtidas sobre o valor relativo do
CAP, tanto pela comparação das situações de informação, como na comparação dos
consentimentos a pagar pelos diferentes tipos de certificação.
O primeiro importante resultado diz respeito à reacção dos consumidores
numa situação em que não é tida em linha de conta a análise sensorial. Da observação
dos CAP obtidos na terceira situação, relativa à transmissão de informação sobre a
redução de pesticidas, constata-se uma hierarquia clara entre os três tipos de maçãs.
Em Portugal (figura 2), a maçã convencional (CON) foi avaliada em média de
0,56€ e a maçã de protecção integrada (PI) obteve um acréscimo relativamente ao
valor da CON de 0,30€ (+53,6%). A maçã biológica (BIO) aumenta o respectivo CAP
médio na ordem dos 0,54€ (+96,4%) relativamente à maçã CON. Em França os
resultados são idênticos, no entanto, para este país a avaliação da maçã BIO teve que
ser feita relativamente à maçã pequena (PEQ), por forma a anular o efeito negativo do
respectivo calibre. Para este país, a figura 3 mostra um CAP médio na situação 3 da
ordem de 1,01€ para a maçã CON, com um acréscimo de valor de 0,44€ (+43,6%) para
a maçã PI. A maçã BIO ganha cerca de 0,56€ (+72,5%) relativamente à maçã PEQ.
Importa dizer que, tanto em Portugal como em França, o acréscimo (ou o
reforço) da informação sobre a redução parcial de pesticidas, no caso da maçã PI não
trouxe quase nenhum efeito sobre a respectiva avaliação. Ao comparar-se os
resultados obtidos na situação 2 (“STIKER”) com a situação 3 (“INFO”), eles são
relativamente idênticos para a maçã PI. No entanto, a comparação das mesmas
situações para a maçã BIO, os valores mostram que esta beneficia de uma reavaliação
significativa entre as duas situações (um aumento médio na ordem de 0,12€, nos dois
países).
Embora os resultados descritos na avaliação da maçã BIO, na situação 3, se
justifiquem claramente pela procura dos consumidores por produtos resultantes de
modos de produção que usam teores reduzidos de pesticidas, os resultados obtidos
para a maçã PI devem ser analisados com maior cautela. Em França, o inquérito que se
1
O salário médio dos participantes portugueses era de cerca de 1000€ e em França de 1600€. O preço
médio do quilograma de maçã na semana das experiências era de 1,51€ em Portugal e 2,04€ em
França.
15
realizou para obter os conhecimentos a priori dos consumidores, mostrou que apenas
42% dos participantes tinham um conhecimento claro do significado real da
certificação PI. Assim, a transmissão da informação sobre o uso de pesticidas neste
tipo de certificação foi primordial para justificar a pertinência da procura dos
consumidores por uma redução parcial de pesticidas. Inversamente, a informação que
foi transmitida sobre a certificação biológica era já do conhecimento de 91% da
população testada. Neste caso, a informação transmitida entre a segunda e a terceira
situação corresponde, sobretudo, a uma focalização dos conhecimentos dos
consumidores sobre esta característica dos frutos. Verifica-se que esta focalização
suscitou uma reavaliação positiva e significativa do consentimento a pagar por este
tipo de certificação. No caso da maçã resultante do modo de produção biológico, o
acréscimo de valor relativamente à maçã CON é, em grande parte, resultado desta
característica do modo de produção (e não devido a um artifício da certificação do
produto em avaliação). O mesmo já não se pode afirmar para a certificação PI.
O segundo importante resultado que deve ser sublinhado é relativo à maçã
CON. Esta maçã é desvalorizada quando se passa da situação 2 para a situação 3
(sobretudo em França, onde a diminuição média do consentimento a pagar se situou
em 0,12€). Este efeito foi já revelado nos trabalhos de Rozan et al. (2004) e de Combris
et al. (2010). Num quadro de avaliação de diferentes certificações de produtos
alimentares, este tipo de resultado pode ser interpretado como uma modificação das
referências dos consumidores relativamente à sua aceitação por um certo modo de
produção. A informação “não positiva” sobre certos tipos de produtos alimentares
desencadeia um efeito negativo no consentimento a pagar, que se pode tornar mais
significativo que o efeito positivo, dado pela informação sobre a redução de pesticidas
nos produtos certificados. Este decréscimo do consentimento a pagar entre a situação
2 e a situação 3 é de resto significativa no caso da experiência francesa, com uma
diminuição média na ordem de 0,1€ (ver igualmente Fox et al, 2002, num outro
contexto de segurança alimentar).
Em suma, o efeito da informação sobre a redução dos pesticidas pode ter: i) um
efeito positivo significativo, quando está em causa uma redução total de pesticidas no
quadro da agricultura biológica; ii) um efeito negativo potencialmente importante para
16
as maçãs resultantes do modo de produção convencional, no qual não é verificada
uma redução de pesticidas.
A interpretação deste último resultado liga-se à modificação do ponto de
referência dos consumidores após a obtenção da informação. A noção de referência é
essencial para avaliar o contexto em que os consentimentos a pagar se formam e as
diferentes partes de mercado susceptíveis de serem obtidas pelas diferentes
certificações. A avaliação sensorial do produto faz igualmente parte deste contexto,
visto que é difícil de adoptar, de forma credível, uma avaliação ceteris paribus,
desconexa de um parâmetro tão essencial como é a característica organoléptica do
produto alimentar.2 As situações 1 e 4, nas quais as maçãs foram efectivamente
provadas pelos participantes, permitiram ilustrar este fenómeno. Em Portugal, o ponto
mais significativo da situação 1 é que a maçã BIO não é tão bem avaliada no plano
sensorial (da ordem dos 10,8% mais baixa que a maçã CON). Este resultado explica
certamente em parte o porquê de a diferença de consentimento a pagar entre a maçã
BIO e a maçã CON não ser mais do que 34,4%, na situação 4, situação de informação
total; e, no entanto, essa diferença foi de 96,4% na situação 3. Em França, e na
situação 1, é a maçã PI que se diferencia (de uma forma positiva) relativamente às
outras maçãs (+ 40,4% relativamente à maçã CON). Constata-se que a avaliação desta
maçã na situação 4 é superior relativamente a todas as outras maçãs, chegando a
+87,6% relativamente à maçã CON (esta subavaliada no plano organoléptico) e
passando significativamente a maçã BIO de cerca de 8,5%. Assim, o lugar de destaque
dado à maçã BIO na situação 3, de informação sobre redução de pesticidas, é posto em
causa por um efeito elementar de característica gustativa.
Um último importante resultado diz respeito aos valores de CAP obtidos para a
2ª etapa da experiência - avaliação visual dos diferentes sumos de maçã. Os valores
encontrados foram semelhantes aos obtidos na terceira situação de avaliação dos
diferentes tipos de maçãs, embora as diferenças entre as diferentes certificações
tenham sido menos significativas. No quadro 2 é possível verificar que, nos dois países,
2
Sobre este ponto, ver igualmente a discussão de Combris et al. (2010).
17
os acréscimos percentuais entre os CAP relativos às certificações e o CAP do sumo
convencional crescem com a redução de uso de pesticidas:
Quadro 1. Acréscimos percentuais dos CAP dos sumos de maçã segundo a redução de
pesticidas, em Portugal e França
Portugal
França
50% de redução de
pesticidas
+21.8%
+28.2%
Ausência de pesticidas
de síntese
+46.1%
+41.9%
6. CONCLUSÕES
Os resultados encontrados nos dois mercados experimentais mostram que
existe um consentimento a pagar dos consumidores por produtos produzidos com
redução do uso de pesticidas. Verifica-se que a informação transmitida aos
consumidores sobre a utilização de pesticidas na produção de alimentos aumenta o
consentimento a pagar pelo produto biológico, mas o mesmo já não acontece com o
produto de protecção integrada. O resultado mais importante mostra que a
transmissão da informação leva ao decréscimo do consentimento a pagar pelo produto
convencional. Este resultado verificou-se nos dois países: i) em Portugal, os CAP
médios relativos à maçã de protecção integrada e à maçã biológica são,
respectivamente, 53,6% e 96,4% superiores ao CAP médio da maçã convencional; ii)
em França, os CAP médios da maçã em protecção integrada e da maçã biológica são,
respectivamente, 43,6% e 72,5% superiores ao CAP médio da maçã convencional.
Importa ainda referir que para o produto processado (sumo de maçã), os acréscimos
de CAP médios não são tão elevados como os encontrados para os produtos frescos.
A interpretação dos resultados segundo os diferenciais relativos ao
consentimento a pagar pelo produto convencional permite prever a perda de mercado
deste produto relativamente aos outros tipos de produtos.
O conhecimento detalhado do consentimento a pagar dos consumidores por
uma redução nos diferentes riscos associados à utilização de pesticidas é essencial na
definição e no sucesso de implementação de políticas ambientais.
18
AGRADECIMENTOS
Este trabalho de investigação foi financiado pelo 7º Programa Quadro da Comissão
Europeia [FP7/2007-2011], projecto nº 212120.
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The main objective of this work package is to examine the impact of