19 de maio de 1999 – edição 1598 Claudio de Moura Castro A melhor escola para seu filho "Onde os pais vigiam, censuram e aplaudem, a educação melhora. Mas para isso é preciso que os pais saibam avaliar, criticar, cobrar e apoiar" Montagem sobre foto de Luis Gomes A experiência recente mostra claramente: os sistemas educativos que estão melhorando são aqueles em que há pais vigiando cuidadosamente as escolas de seus filhos. As escolas refletem o tanto que são vigiadas, execradas ou glorificadas. Portanto, se queremos boas escolas, a receita é clara: olho arregalado, espírito crítico e conhecimento de causa. Onde os pais vigiam, censuram e aplaudem, a educação melhora. Mas para isso é preciso que os pais saibam avaliar, criticar, cobrar e apoiar. O que gostaríamos de ver nas escolas que freqüentam nossos filhos? Aí vai um decálogo: 1. Qual a atmosfera da escola? Favorece o trabalho sério? Tem bons fluidos ou baixo astral? É difícil definir isso, mas a gente sabe quando o ambiente é bom. Na verdade, a escola tem a cara do diretor. Mau agouro se o diretor é fraco, ausente, desanimado ou sem liderança. 2. Quais as missões da escola? São claras para todos? Há alguns objetivos pairando acima dos outros e que todos conhecem e perseguem? Em boas instituições, todos sabem a que vieram e são claros no que tentam fazer. E todos empurram na mesma direção. 3. Os alunos lêem além do estritamente necessário para a lição? Há bibliotecas? Há livros que incendeiam a imaginação dos alunos? Os alunos escrevem bastante, qualquer que seja a disciplina? Ler e escrever são os assuntos mais centrais da escola. Se ela falhar neles, é difícil salvar o resto. 4. Há quantas horas efetivas de aula diária? Quantos dias por ano de aula (contados no lápis e não anunciados nos planos de estudo)? Sabemos que o aprendizado é em grande parte explicado pela fórmula A=f (traseiro/cadeira/hora), ou seja, quanto mais horas sentado estudando, mais se aprende. 5. Quantas horas por semana os alunos gastam fazendo o dever de casa? Esse tempo se inclui na fórmula anterior, aumentando o aprendizado. Menos de duas horas por dia é pouco, menos de uma é inaceitável. Mau sinal se a televisão ocupa mais tempo do estudante do que os deveres. 6. Quanto tempo os alunos passam ouvindo o professor falar ou ditar (método frontal) e quanto tempo passam discutindo, respondendo a perguntas, pesquisando, escrevendo ou trabalhando em grupo? Quanto mais tempo ouvindo passivamente a aula, menos se aprende. 7. Há atividades práticas para ilustrar e aplicar as teorias ensinadas nas aulas? A dedução de fórmulas é menos importante do que a sua indução, isto é, observar o mundo e redescobrir as teorias. 8. Importa relativamente pouco o que se aprende nos cursos do tipo "moral e cívica". O que interessa é se a escola no seu cotidiano pratica justiça, responsabilidade pessoal, tolerância, liberdade de expressão e generosidade. Civismo se aprende vendo a escola funcionar e não ouvindo a pregação do professor. 9. A escola dialoga séria e criativamente com os pais? Os pais são sócios da escola na empreitada de educar o aluno. Escola e pais têm de trabalhar como um time. 10. Se a escola do seu filho fica aquém desses princípios e se não é possível mudar seu filho de escola, mude a escola! Deu certo onde foi tentado seriamente. Reclame, faça barulho, organize os outros pais. Mas não se esqueça de ajudar, não é só reclamar. Os professores precisam da apreciação e do apoio dos pais, tanto ou mais do que de cobrança.