o liberal
“O governo deve privatizar
as estatais”, diz João Amoedo,
fundador do Partido Novo
o ambientalista
“Tenho a ver com um
monte de coisas”, diz
Eduardo Jorge, do PV
tecnologia
O relógio da Apple
é um computador
amarrado ao pulso
www.epoca.com.br
a petrobras
e o mensalão
> um Depoimento
exclusivo revela
o elo entre
os Dois esquemas
> por que
o ex-Diretor
paulo roberto
costa DeciDiu
abrir o jogo
15 setembro 2014 i Nº 850 i r$ 10,90
CArgA TribuTáriA APrOximAdA 3,65%
CAPA_850.indd 1
12/09/2014 18:28:58
TEMPO
INVESTIGAÇÃO
dois
enredos,
os
mesmos
personage
Um depoimento à polícia revela
como o ex-deputado José Janene,
o ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa e o doleiro Alberto
Youssef levaram para a estatal
parte do esquema do mensalão
30 I época
15 de
de 2014
Montagem
sobreI foto
desetembro
Lula Marques/Folhapress
EP850p030_034.indd 30
12/09/2014 19:44:08
Hudson corrêa e Raphael Gomide
O
s dois períodos de Lula na
Presidência foram marcados por crescimento econômico, disseminação de
programas sociais – e também por dois
grandes escândalos de corrupção. No
primeiro mandato, reinou o mensalão.
Ele acabou na prisão de seus principais
operadores e articuladores, depois de
julgados e condenados pelo Supremo
Tribunal Federal (STF). No segundo
mandato – soube-se nos últimos meses, por meio de investigações da Polícia
Federal (PF) e do Ministério Público
Federal (MPF) –, floresceu um esquema
de pagamento de propina em troca de
contratos bilionários com a Petrobras
(leia detalhes na reportagem da página
36), esquema que continuou durante
o governo de Dilma Rousseff. Neste
momento, as autoridades investigam a
conexão entre os dois escândalos. Já se
sabia que parte da estrutura financeira
do mensalão fora usada no esquema da
Petrobras. As últimas investigações vão
além da questão financeira e se debruçam sobre os personagens comuns aos
dois enredos. O ex-deputado federal
José Janene (que morreu em 2010), s
gens
EP850p030_034.indd 31
ElO
O ex-deputado
José Janene, que
morreu em 2010.
Em depoimento,
o empresário Hermes
Magnus afirma que
o esquema de propina
da Petrobras foi
uma “extensão
do mensalão”
12/09/2014 19:44:21
INVESTIGAÇÃO
o doleiro Alberto Youssef e o executi- Petrobras. Usando um emaranhado de
vo Paulo Roberto Costa aparecem no depósitos bancários feitos por laranjas,
mensalão e no esquema da Petrobras. fazia o suborno chegar a Paulo Roberto,
Um depoimento dado no dia 22 de o homem que tinha a caneta para fazer
julho deste ano – revelado por ÉPOCA as contratações – e, agora preso, começa
em primeira mão e disponível em vídeo a entregar os participantes do esquema.
em epoca.com.br –, ajuda a detalhar o Enquanto isso, Janene, por ser guardião
papel dos atores que participaram dos dos segredos do PT, ganhava espaço na
dois esquemas. O autor do depoimento Petrobras. Ele continuou como deputaé o empresário Hermes Freitas Magnus, do apenas no início do segundo goverde 43 anos. Ele reafirma a participação no Lula. Por causa de uma doença no
do mensaleiro Janene – deputado do coração, Janene arrancou em 2007 uma
PP que, em troca de apoio político, aposentadoria por invalidez na Câmara
embolsou R$ 4,1 milhões do mensalão dos Deputados, embora já respondespetista – como figura central que liga se à acusação de receber dinheiro do
os dois escândalos. Magnus foi sócio mensalão. Continuou ativo na política,
de Janene – e, segundo diz no depoi- agindo nos bastidores.
mento, frequentava sua casa e ouvia
O relato que Magnus fez à Justiça
confidências dele. Segundo Magnus, o Federal revela o grau de influência dele
esquema da Petrobras “era a extensão na Petrobras. “Lá, mando eu”, costumado mensalão, um cala-boca para que va dizer Janene, conforme o relato de
(Janene) permanecesse quieto”. Janene Magnus – embora houvesse outros partidos e esquemas na
sempre dizia, segunPetrobras. “Alguns
do o depoimento de
Magnus, que podedeputados federais
ria “derrubar Lula”,
queriam falar com
porque sabia do esdiretores da Petroquema do PT tanto
bras sem a intervenquanto o ex-ministro
ção de José Janene,
da Casa Civil José
e não conseguiam.
Então, entravam em
Dirceu, condenado
por corrupção.
contato com Janene
Segundo Mag- Hermes Magnus, empresário
pelo telefone”, afirnus, na hierarquia
mou Magnus. Ele
disse ainda que predos dois esquemas,
Janene estava acima do doleiro Alber- senciou uma performance debochada
to Youssef e do ex-diretor de Abaste- de Janene ao telefone. Ele ironizava um
cimento da Petrobras Paulo Roberto parlamentar que tentara contato sem
Costa. De acordo com o depoimento sua ajuda. “E aí, a espera tá grande?”
de Carlos Alberto Pereira da Costa, Segundo Magnus, Janene tinha “acesso
advogado de Youssef – revelado com livre” e intermediava negócios entre a
exclusividade na última terça-feira por Petrobras e empresas de grande porte,
epoca.com.br –, foi Janene quem apre- como as construtoras Camargo Corrêa
sentou Youssef a Paulo Roberto. O trio e Queiroz Galvão. Ele não deu detaoperou junto em dois momentos. Yous- lhes que possam identificar que tipos
sef ajudou Janene a lavar o dinheiro do de contrato seriam ou se houve algum
mensalão. Ainda no primeiro mandato tipo de ilegalidade. Procurada, a consde Lula, Janene indicou Paulo Roberto trutora Queiroz Galvão afirmou que
à Diretoria de Abastecimento da Petro- não há “irregularidades nem ilegalidabras. No segundo mandato de Lula, os des” em seus contratos, que são negotrês operaram juntos no esquema da ciados “dentro das regras estabelecidas
Petrobras. Investigações da Operação pela legislação e sem a intermediação
Lava Jato revelam que Youssef interme- de terceiros”. A Camargo Corrêa disse
diava pagamento de propina na estatal. que só presta serviços à Petrobras por
Por meio de empresas de fachada, Yous- meio de licitações públicas.
sef recebia dinheiro de empreiteiras inMagnus começou a contar o que
teressadas em assinar contratos com a sabia à Polícia Federal ainda em 2009,
Oesquema
daPetrobrasera
umcala-bocapara
queJanene
ficassequieto
SEGUNDO
ESCAlÃO
O doleiro Alberto
Youssef. De
acordo com
Hermes Magnus,
ele estava um
degrau abaixo
de Janene na
hierarquia
do esquema
quando o escândalo de corrupção na
Petrobras ainda era desconhecido.
Concluiu a história com riqueza de detalhes no depoimento de julho passado.
Ele parece ter credenciais para falar. A
Operação Lava Jato teve início justamente a partir da investigação sobre
um negócio de Magnus com Janene.
De acordo com o MPF, Janene lavou
dinheiro do mensalão ao investir parte
da quantia recebida na Dunel Indústria
e Comércio, fabricante de componen-
32 I época I 15 de setembro de 2014
EP850p030_034.indd 32
12/09/2014 19:44:23
* Segundo Magnus, Janene dizia que “só ele e José Dirceu derrubavam Lula”
tes eletrônicos que pertencia a Magnus.
Janene usou a empresa de fachada CSA
Project Finance, uma sociedade mantida pelo doleiro Youssef, para aplicar
R$ 1,16 milhão dos R$ 4,1 milhões que
ganhara no mensalão na Dunel. Isso
ocorreu em julho de 2008.
Era mais um golpe aparentemente
perfeito idealizado por Janene. Magnus tinha as características de vítima
ideal para operadores experientes do
mercado negro. Sua firma de eletrôniFoto: Joedson Alves/Estadão Conteúdo
EP850p030_034.indd 33
cos automotores precisava de dinheiro
para crescer, e ele buscava um investidor. Janene e Youssef estavam atrás
de uma oportunidade para esquentar
dinheiro frio de corrupção. O primeiro
encontro com Magnus foi em junho de
2008, na sede da CSA, em bairro nobre
de São Paulo. Acompanhado de Youssef, o afável Janene – já ex-deputado
– chegou abraçando afetuosamente o
futuro sócio, ou melhor, a futura vítima. O doleiro e o mensaleiro traziam
soluções rápidas e práticas, quase um
sonho para quem precisava de uma injeção de capital. “Olha, podemos viabilizar seu negócio: se quiser dinheiro
do Estado do Espírito Santo para cima,
tenho a opção do Banco do Nordeste.
Se não quiser se meter com banco, temos uma solução mais tranquila, um
recurso nosso. Se quiserem, coloco 1
milhão de início”, disse Janene.
As imagens do depoimento obtidas
por ÉPOCA mostram que, no momento em que Magnus conta essa história,
Youssef senta-se ao lado do advogado
dele e, apontando para Magnus, reclama: “Ele está mentindo, ele é mentiroso”. O juiz Sérgio Moro, que ouvia
Magnus, interrompe Youssef. Ele só se
cala quando é ameaçado por Moro de
ser retirado da sala. Em pouco tempo,
Magnus foi alijado da Dunel e virou,
como ele mesmo se definiu, uma espécie de zumbi na firma. Os equipamentos encomendados não chegavam,
e a produção emperrava. Ao consultar
um advogado, Magnus descobriu que
estava no meio de uma trama de lavagem de dinheiro. Resolveu procurar
a PF para contar o que sabia. Afirma
que Janene o ameaçou de morte e que,
na época, um incêndio misterioso destruiu uma casa dele.
Youssef, mais uma vez, se deu bem.
Lavou o dinheiro para Janene e, ainda
naquele ano de 2008, estreitou relações
com Paulo Roberto, o executivo dos
grandes contratos da Petrobras. Mal se
livrara de uma condenação a sete anos
de reclusão graças a uma delação premiada, Youssef reincidia em sua especialidade, a lavagem de dinheiro. Tinha
o amigo e sócio Janene como cliente.
Juntos, tinham um hotel, uma agência
de viagens em Londrina e uma locadora de automóveis. A proximidade da
dupla ia além dos negócios. Os dois se
visitavam e se tratavam pelos títulos de
compadre e padrinho. “Youssef chegava à casa de Janene e era padrinho pra
cá, padrinho pra lá... Compadre pra cá,
compadre pra lá. E era muito íntimo
na lida das coisas”, afirmou Magnus à
Justiça Federal. Numa dessas reuniões,
Janene prometeu pagar o que chamou
de “lua de mel” na Europa para Youssef e a mulher. Em seguida, explicou
a ele o motivo da generosidade: s
15 de setembro de 2014 I época I 33
12/09/2014 19:44:26
INVESTIGAÇÃO
DEBOCHE
O empresário Hermes Magnus.
Segundo ele, Janene zombava de
deputados que procuravam diretores
da Petrobras sem sua intermediação
“Ela só não pode pensar que você vai
fazer aqueles câmbios para mim na
França. Não deixe ela sonhar que você
está fazendo isso”.
Os desvios de dinheiro por meio de
contratos superfaturados na Petrobras
identificados até agora ocorreram de
2009 a 2014. A morte de Janene por infarto, na fila do transplante de coração,
em 2010, não interrompeu a afinada
e conveniente parceria entre Youssef e
Paulo Roberto. Ao contrário, os laços
ficaram ainda mais estreitos. Durante
a Operação Lava Jato, a PF interceptou
34 I época I 15 de setembro de 2014
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e-mails recebidos por Youssef. Uma das
mensagens veio de um ressentido João
Claudio Genu, ex-chefe de gabinete de
Janene e um dos condenados do mensalão. Genu expressava seu “inconformismo” com a aproximação de Youssef e
Paulo Roberto. Aparentemente, àquela
altura, o doleiro e o diretor da Petrobras
tinham estabelecido uma linha direta,
sem intermediários, e Genu perdera seu
quinhão no esquema. Paulo Roberto se
tornara milionário. A Justiça descobriu
que ele mantinha R$ 51,3 milhões em
12 contas secretas na Suíça.
O depoimento de Magnus reitera
uma conclusão: o mensalão e o escândalo da Petrobras são dois esquemas
distintos, mas com métodos, causas e
consequências semelhantes. A causa é
o fisiologismo: garantir apoio no Congresso usando cargos que deveriam ser
preenchidos por critérios estritamente
técnicos. O método: desvio de dinheiro
público para financiar campanhas ou
enriquecer os políticos envolvidos. A
consequência: corrupção. Com a descoberta do mensalão, em 2005, quando
o primeiro mandato de Lula se aproximava do fim, foi preciso assegurar
a fidelidade dos mesmos partidos – e
dos mesmos políticos – ao governo do
PT. Com a reeleição de Lula, o governo
continuaria a precisar de apoio no Congresso. E o Congresso não mudara. As
regras de Brasília também não. Lula e o
PT acomodaram-se às práticas políticas
de sempre. E distribuíram aos partidos
da base os cargos que os políticos tanto
queriam. São aqueles que servem tão
somente para gerar favores e dinheiro,
seja para campanhas, seja para o bolso
de quem está no esquema. Nenhum
cargo era tão desejado pelos políticos
quanto uma diretoria na Petrobras, a
mais rica e poderosa empresa do país.
No segundo mandato de Lula, a Petrobras, mais que qualquer outra estatal,
ocupou o vácuo deixado pelo mensalão.
Janene está morto, não pode mais
ameaçar nem delatar ninguém. Parentes seus são réus com Youssef na
ação penal sobre a lavagem de dinheiro do mensalão. Um deles é Meheidin
Jenani, primo de Janene. Magnus, o
ex-sócio de Janene, afirma que Meheidin é especialista em assar carneiros e
ia constantemente do Paraná a Brasília para preparar carneiros para a
então ministra da Casa Civil, e hoje
presidente Dilma Rousseff. Procurado
por ÉPOCA, Meheidin desconversou.
Procurada por ÉPOCA, a assessoria do
Planalto disse que Dilma Rousseff não
conhece Meheidin, muito menos era fã
de carneiros preparados por ele.
u
Foto: reprodução
12/09/2014 19:44:28
investigação
Por que
Paulo
Roberto
decidiu
abrirojogo
No camburão, o exdiretor da Petrobras
avisou o doleiro
Youssef que não
resistiria. Como
foi o caminho até lá
36 I época I 15 de setembro de 2014
EP850p036_042.indd 36
12/09/2014 19:55:28
Macelo Rocha
A
relutante
Paulo roberto
Costa, ex-diretor
de abastecimento
da Petrobras. ele
não queria entrar
no esquema de
delação premiada
o deixar o prédio da Justiça
Federal no Paraná, após uma
audiência de testemunhas convocadas para ser ouvidas no caso da
Operação Lava Jato, em julho, Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef,
ex-parceiros de negócios e colegas de
cela, aproveitaram a viagem de camburão até a Superintendência da Polícia
Federal (PF) em Curitiba para conversar. Paulo Roberto comentou com Beto,
apelido de Youssef, que estava propenso
a fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal
(MPF). Ele tentara, sem êxito, suspender a ação penal contra ele no Supremo
Tribunal Federal (STF). Dias depois, na
cela em que dividiam na cadeia, Paulo
Roberto voltou a comentar com Youssef
que realmente buscaria o acordo.Youssef
desejou apenas boa sorte ao amigo. Desde o dia 29 de agosto, Paulo Roberto tem
revelado a procuradores da República e
delegados da PF detalhes do esquema
de corrupção que desviou milhões de
reais dos cofres da maior estatal do país.
Uma semana antes, a PF e uma forçatarefa do MPF vasculharam casas e escritórios das filhas e dos genros de Paulo Roberto. Os investigadores buscavam
mais provas depois de uma devassa no
sigilo fiscal das empresas dele, de seus
familiares e laranjas. Como ÉPOCA
revelou, o principal deles era Marcelo
Barboza Daniel. Os documentos descobriram 18 empresas de consultoria, que
receberam R$ 17 milhões de 13 empreiteiras. O objetivo da operação na rua era
fazer Paulo Roberto falar. Deu certo. Enquanto Paulo Roberto fala, em sua cela
Youssef espera. A exemplo da família de
Paulo Roberto, a de Youssef quer que ele
colabore com as investigações em troca
de algum benefício.
Por enquanto, Youssef e seu advogado, Antonio Basto, preferem aguardar.
Apostam que a colaboração de Paulo
Roberto exigirá informações que só
Youssef poderá dar. Sua estratégia é
tornar-se necessário, para negociar um
acordo. Basto teme a possibilidade de
vazamento de alguns pontos da delação,
como aconteceu com Paulo Roberto.
“(As autoridades) Falharam”, afirma.
“A colaboração processual deveria estar totalmente protegida pelo sigilo. O
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
EP850p036_042.indd 37
réu ficou completamente exposto com
o vazamento dessas informações.” A
estratégia de defesa de muitas empreiteiras passa pela tentativa de invalidar a
delação de Paulo Roberto por causa do
vazamento. Os procuradores ainda relutam também em aceitar Youssef como
colaborador. Ele fez uma delação premiada em 2004, quando foi preso pelo
envolvimento no caso Banestado, mas
descumpriu o trato. Entregou apenas
informações que não o comprometiam
e, pior, voltou à atividade anterior.
Paulo Roberto fez de tudo para não
ter de apelar à delação. Foi justamente
por medo de estar nessa situação que
tomou atitudes desesperadas quando
os policiais federais chegaram a seu
apartamento no condomínio Riomar
IX, na Barra da Tijuca, no final de março. Àquela altura, ele era um próspero
consultor de grandes empreiteiras com
negócios com a Petrobras. Os policiais
que bateram à sua porta tinham a missão de prendê-lo como cliente do doleiro Youssef, alvo de uma operação por
lavagem de dinheiro, batizada de Lava
Jato. Sem saber que era monitorado pela
polícia, assim que soube que seria preso,
Paulo Roberto correu para o telefone
e ordenou que familiares fossem a seu
escritório e destruíssem computadores
e documentos. Os federais não sabiam
que Paulo Roberto não era um mero
cliente de Youssef. Não sabiam que ele
fora um poderoso ex-diretor de Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012,
bancado por um consórcio formado
por PT, PMDB e PP, detentor de tantos
segredos incômodos da Petrobras e de
algumas das maiores empresas do país,
aquelas que movem o fluxo de caixa de
campanhas eleitorais. Ao rastrear os telefonemas dados por ele no momento
de desespero, uma equipe da PF foi ao
escritório e encontrou tudo vazio. As
imagens feitas por câmeras internas
identificaram que duas filhas e genros
de Paulo Roberto saíram do local carregando um vasto material. Recuperados e
esmiuçados pela polícia e pelo MPF, os
arquivos agora obrigam Paulo Roberto
a contar às autoridades tudo o que sabe
e a incriminar políticos e seus antigos
clientes, para escapar de uma pena que
pode chegar a 50 anos de cadeia.
s
15 de setembro de 2014 I época I 37
12/09/2014 19:55:29
investigação
No ano passado, antes mesmo de
Paulo Roberto ser preso ou do início
de qualquer investigação oficial ser deflagrada, ÉPOCA começou a revelar
com exclusividade casos escabrosos na
Petrobras. Era o início de uma longa investigação sobre os obscuros negócios
na estatal. No primeiro caso, a Petrobras pretendia vender parte da Petrobras Argentina, uma de suas subsidiárias
no exterior, por US$ 900 milhões, um
valor questionado pelo mercado. O mais
estranho era o comprador. Apesar de
três concorrentes qualificados, o favorito para fechar o negócio era Cristóbal López, um empresário do ramo de
cassinos, que chegara ao ramo petrolífero graças à ajuda do casal presidencial Néstor (morto em 2010) e Cristina
Kirchner. Meses depois, a Petrobras desistiu da venda. A motivação de negócios
desse tipo ficou clara quando o lobista
João Augusto Henriques fez revelações a
ÉPOCA. Numa conversa surpreendente,
ele contou como trabalhava para intermediar negócios entre grandes empresas e a Petrobras. Ele afirmou que, dos
negócios que fechava, precisava entregar
comissões ao PMDB. João Augusto disse
que, se a refinaria San Lorenzo, parte
do patrimônio da Petrobras Argentina,
fosse vendida ao empresário Cristóbal
López, teria de entregar uma comissão
de R$ 5 milhões ao PMDB.
O mais surpreendente estava num
contrato maior, que renderia dividendos
ao PT. Segundo João Augusto, a empreiteira Odebrecht deu uma contribuição
equivalente a US$ 8 milhões ao caixa
dois da campanha eleitoral da então
candidata Dilma Rousseff em 2010, por
ter sido escolhida para fazer um trabalho de segurança ambiental de ativos
da Petrobras no exterior, por US$ 825
milhões. João Augusto afirmou também
que o PMDB lucrou na operação. O partido ganhou, segundo ele, uma comissão
para encerrar a CPI da Petrobras que
corria no Senado na ocasião. Com base
na reportagem de ÉPOCA, o MPF no
Rio de Janeiro denunciou João Augusto,
o ex-diretor Jorge Zelada e um executivo
da Odebrecht pelo acordo PetrobrasOdebrecht. A presidente da estatal, Maria das Graças Foster, cortou pela metade o valor do contrato. Procurada por
ÉPOCA, a Odebrecht, por meio de nota,
disse que a afirmação de João Augusto
não corresponde à verdade, que a empresa faz doações eleitorais, em respeito
absoluto à legislação e que estão publicadas nos tribunais eleitorais.
A prisão de Paulo Roberto, um homem que participava das entranhas de
negócios suspeitos, desencadeou uma
onda de terror em Brasília. Surgiram
nomes que sempre atuaram na sombra,
como os lobistas Jorge Luz, Pedro Paulo
Leoni Ramos, o PP, e Fernando Soares.
Conhecido como Fernando Baiano, ele
foi um dos intermediários entre a diretoria de Paulo Roberto e empresas interessadas em fazer negócios com a Petrobras.
Após a prisão de Paulo Roberto, governo
e oposição começaram a se enfrentar no
Congresso para abrir ou impedir uma
CPI para investigar os negócios da Petrobras. Paulo Roberto fora indicado pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que o chamava de “Paulinho”. Devia
favores às bancadas de PP, PT e PMDB
– todos, obviamente, dispostos a evitar
CPIs. O presidente do Senado, Renan
Calheiros, era uma das forças contrárias
à CPI. Renan nega ser padrinho político
de Sérgio Machado, presidente da Transpetro, cuja indicação lhe é atribuída há
11 anos. Na Transpetro, uma auditoria
recente mostrou que empresas contratadas por milhões não prestaram os
serviços acordados. A resistência à CPI
contava ainda com os deputados petistas Vander Loubet, Cândido Vaccarezza
e André Vargas e do senador Fernando
Collor, todos padrinhos de diretores da
BR Distribuidora, uma subsidiária da
Petrobras. Os parlamentares temiam
a revelação de casos como da Jaraguá,
fornecedora da Petrobras que distribuiu
contribuições de campanha a deputados
do PP em 2010. Logo depois, abocanhou
um contrato de R$ 200 milhões para a
construção da Refinaria Abreu e Lima,
comandada por Paulo Roberto.
Nenhuma das duas CPIs instaladas
produziu um fiapo de informações sobre
a corrupção na Petrobras. As investigações da PF, no entanto, revelam as razões
para a falta de empenho dos parlamentares. Planilhas apreendidas pela PF sugerem pagamentos da empreiteira Camargo
Corrêa (Consórcio CNCC), da SankoSider, da OAS, da Galvão Engenharia,
da Jaraguá e da Odebrecht (Consórcio
Tudo pelo óleo
da Petrobras
Os principais personagens
envolvidos em diversos
episódios suspeitos
na estatal
Ex-dirEtorEs
Lobistas
JoÃo aUGUsto HENriQUEs
Responsável por intermediar negócios
na área internacional e captar
propinas para o PMDB e o PT
FErNaNdo baiaNo
Intermediário entre Paulo Roberto Costa
e empresários interessados em fazer
negócios na Diretoria de Abastecimento
PEdro PaULo LEoNi raMos
Amigo de Collor, tem influência na BR
Distribuidora. Uma de suas empresas pagou
R$ 4,3 milhões à MO Consultoria
PoLÍtiCos
rENaN CaLHEiros
PMDB-al
Presidente do Senado
Sustentou Paulo Roberto
Costa após o escândalo do
mensalão
Mario NEGroMoNtE
PP-Ba
Ex-ministro das Cidades
Um dos padrinhos de Paulo
Roberto Costa, recebeu
contribuições de empresas
envolvidas com empresas
ligadas ao doleiro Youssef
38 I época I 15 de setembro de 2014
EP850p036_042.indd 38
12/09/2014 19:55:30
PaULo robErto Costa
Diretor de Abastecimento
entre 2003 e 2012
É suspeito de receber
propina de Alberto
Youssef para favorecer
empresas em contratos
na Petrobras e de
intermediar pagamento
a partidos e políticos
NEstor CErVErÓ
Diretor da Área Internacional entre 2003 e 2008
Comandou, em 2006, a compra
da refinaria Pasadena por US$ 1,2 bilhão
JorGE zELada
Diretor da Área Internacional entre 2008 e 2012
Em sua gestão, o lobista João Augusto atuou na venda de ativos
na Argentina e na África, num esquema suspeito de ter rendido
propina a PT e PMDB
FErNaNdo CoLLor
EdisoN LobÃo
CÂNdido VaCCarEzza
Senador
Ministro de Minas e Energia
Deputado federal
PtB-al
Padrinho de dois diretores
da BR Distribuidora. Seu
amigo Pedro Paulo Leoni
Ramos tem influência em
negócios da Petrobras
PMDB-Ma
Reuniu-se com Paulo
Roberto Costa e um lobista
para defender a entrada
de uma empresa chinesa
numa refinaria no Ceará
Pt-sP
Ligado a Jorge Luz,
lobista na Petrobras,
participou da indicação
de Andurte Duarte, diretor
da BR Distribuidora
JoÃo PizzoLatti
roMEro JUCá
rosEaNa sarNEy
Deputado federal
Senador
Governadora
PP-sC
Assim como Negromonte,
apadrinhou Paulo Roberto
e recebeu contribuições
de campanha de empresas
do esquema de Youssef
PMDB-rr
Ajudou a enterrar a CPI
da Petrobras em 2009 e é
suspeito de ter intermediado
um negócio bilionário da
Petrobras com a Odebrecht
Fotos: Jonathan Campos/AGP/Folhapress, CB /D.A Press (5)
Folhapress (2),Estadão conteúdo e AG Petrobras
EP850p036_042.indd 39
PMDB-Ma
Liberou precatórios de
mais de R$ 100 milhões
para a UTC, uma das
maiores fornecedoras
da Petrobras
Conest) à MO Consultoria e à GFD Investimentos, empresas do doleiro Alberto
Youssef. Nos papéis, os pagamentos são
classificados como “repasses” ou “comissão”.A PF suspeita que seja simplesmente
“propina”. A polícia identificou pelo menos R$ 31 milhões em“pagamentos com
suspeita de ilicitude”.A Odebrecht afirma
que o consórcio Conest não fez depósitos
para a GFD e que todos os contratos de
prestação de serviços à Petrobras estão da
acordo com as disposições legais.
Paulo Roberto e Youssef eram detalhistas e organizados, por isso a polícia
conseguiu descobrir a extensão de seus
negócios. ÉPOCA revelou que, em maio
de 2013, Youssef fez um relatório sobre
quatro contas secretas mantidas em conjunto com Paulo Roberto no exterior:
uma no banco UBS de Luxemburgo;
outra no banco Lombard Odier, na Suíça; uma terceira no banco Itaú, não se
sabe em que país; e a última no Royal
Bank of Canada, nas Ilhas Cayman. O
relatório não é exato sobre o valor acumulado nessas contas. Somando apenas
o saldo de algumas delas aos depósitos
pagos naquele momento pelas empresas com negócios na Petrobras, chegase ao total de US$ 3,7 milhões. A conta
no Itaú referia-se, segundo o relatório,
à empreiteira Alusa e tinha saldo de R$
127.400 em agosto de 2011, quando Paulo Roberto estava na Petrobras. A Alusa
firmou contratos de R$ 3,5 bilhões com
a Petrobras nos últimos anos. O maior
deles, de R$ 1,5 bilhão, foi firmado em
2010. Em 2008, a Alusa fechara um contrato de R$ 966 milhões para fazer obras
na Refinaria Abreu e Lima. A conta com
maior saldo – US$ 2,42 milhões – está no
RBC das Ilhas Cayman. A PF apurou que
esse dinheiro é fruto de propina arrecadada entre fornecedoras da Petrobras na
obra do Complexo Petroquímico do Rio
de Janeiro (Comperj). Depois disso, a
Suíça bloqueou US$ 23 milhões em contas bancárias de Paulo Roberto no país.
Ao deixar a Petrobras, Paulo Roberto
se tornou consultor. Planilhas apreendidas com sua filha Arianna Costa detalhavam a contabilidade da Costa Global, sua
empresa de consultoria. Paulo Roberto
chegou a ter ao menos 81 contratos com
fornecedores da Petrobras. Há provas de
que ele recebeu milhões de 23 empreiteiras, na maior parte das vezes sem prestar s
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investigação
Um pré-sal de corrupção
A enorme reserva de desvio de recursos
da Petrobras descoberta nos últimos meses
odebrecht
Petrobras argentina (Pesa)
Valor do contrato: US$ 900 milhões
O grupo Indalo, do argentino Cristóbal
López, amigo da presidente Cristina
Kirchner, fez um acordo confidencial
com a Petrobras para comprar 33%
da Pesa e virar sócio da estatal.
Em 2002, a Petrobras pagara US$
1,1 bilhão para entrar no negócio e
investiu US$ 2,4 bilhões. O negócio
com López não foi finalizado
O lobista João Augusto diz que o contrato
internacional firmado entre a Petrobras e
a Odebrecht para reforma e reabilitação
de refinarias em dez países foi feito
mediante o pagamento de US$ 8 milhões
para o caixa da campanha eleitoral de
Dilma Rousseff em 2010. A Odebrecht
nega com veemência a acusação
Maersk
abreu e LiMa
A Maersk fechou um contrato
de US$ 300 milhões para
fornecer quatro navios
à Petrobras. De cada pagamento
feito pela Petrobras à Maersk,
segundo a PF, 1,25% era
devolvido a Paulo Roberto
na forma de propina
ÉPOCA revelou que, segundo
investigações da Polícia Federal,
Paulo Roberto Costa intermediou
diversos negócios relacionados à
construção da Refinaria Abreu e Lima,
em Pernambuco. Entre os “repasses” e
“comissões”, a PF desconfia que pelo
menos R$ 31 milhões sejam “propina”
Valor do contrato: US$ 300 milhões
Suspeita de propina: US$ 6,2 milhões
Valor do contrato: US$ 825 milhões
Suspeita de propina: US$ 8 milhões
Valor do contrato: R$ 8,9 bilhões
Suspeita de propina: R$ 31 milhões
Pasadena
Valor: prejuízo de US$ 792 milhões
Em 2006, a Petrobras comprou 50%
da refinaria americana por US$ 360
milhões – no ano anterior, a belga
Astra Oil pagara apenas US$ 42,5
milhões pela refinaria completa. Depois
de brigar com a Astra na Justiça, a
Petrobras ainda foi forçada a comprar
a outra metade da refinaria, com seus
estoques, por mais de US$ 820 milhões
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nenhum serviço. Para a PF, há indícios de
que esses contratos eram apenas acertos
de conta por favores feitos nos tempos
de Petrobras. É o caso de contratos com
empreiteiras como Engevix, Iesa, Queiroz Galvão e, num dos casos, também
da Camargo Corrêa. A relação com as
empreiteiras era tão próxima, que foi
a elas que a turma recorreu na hora do
aperto. Em depoimento dado no dia 5
de setembro, a ex-contadora de Alberto
Youssef, Meire Poza, disse à Justiça que
recorreu às empreiteiras para bancar despesas com advogados quando o chefe foi
preso na Operação Lava Jato.“Não tinha
dinheiro para nada”, afirma. Segundo ela,
João Procópio Prado, um dos acusados
de fazer parte do grupo criminoso, disse
que iria até a Camargo Corrêa e que ela
se encarregaria de recorrer à UTC/Constran.“O Augusto Pinheiro, da Constran,
disse que ajudaria sim, que não teria
problema”, diz Meire. Ela diz que João
Procópio recebeu da Camargo Corrêa
a promessa de que ajudariam a resolver
o problema. “João me disse para tentarmos conseguir algum dinheiro. Ele disse que iria até a Camargo Corrêa, para
tentar alguma coisa, e me pediu para ir
até a UTC”, diz Meire.“Eu tinha contato
com o Valmir e com o Augusto (Pinheiro, diretor), da Constran, em função de
alguns negócios. Eu tinha o celular dele,
liguei e ele me recebeu lá na Constran.
Fui até lá para pedir R$ 500 mil, que
ajudariam a pagar os advogados.” No
próprio depoimento, Meire afirma que
a UTC não atendeu a seu pedido. O advogado Ricardo Berenguer, que defende
João Procópio, disse que não teve acesso ao depoimento de Meire e que não
poderia fazer comentários a respeito. A
UTC informou, por meio de nota, que
“ninguém da UTC ou da Constran foi
encarregado de conversar com pessoas
ligadas ao senhor Alberto Youssef para
viabilizar auxílio financeiro ao grupo
investigado pela Polícia Federal”. A Camargo Corrêa, por intermédio de sua
assessoria de imprensa, nega que tenha
sido procurada por pessoas ligadas a
Youssef interessadas em ajuda financeira.
Na última quarta-feira, perto das 15
horas, Nestor Cerveró, ex-diretor da
área Internacional da Petrobras, chegou relaxado e sorridente a sua terceira
visita ao Congresso desde que os s
Fotos: reprodução[slopes] (2), Willem Oldenburg/shipspotting,
Clelio Tomaz e Dave Fehling/Stateimpact Texas
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investigação
se houve
sangria,
ela já foi
estancada
Dilma Rousseff
escândalos na Petrobras começaram a
pipocar. Era como se Cerveró acreditasse
que sua atuação na compra da refinaria
de Pasadena, um negócio que rendeu um
prejuízo de US$ 792 milhões, perdera
importância. Agora que Paulo Roberto,
seu ex-colega da diretoria de Abastecimento, começou a delatar os meandros
e os integrantes do esquema mais amplo de corrupção na Petrobras, Pasadena
parece um assunto distante. Tanto que,
ao depor na CPI mista da Petrobras
na semana passada, numa sala lotada,
a primeira celeuma instalada entre os
parlamentares foi para definir em que
condição Cerveró estava ali. Testemunha ou acusado? O presidente da CPI,
senador Vital do Rêgo, titubeou:“Ele está
aqui como investigado... Estamos investigando a participação dele no negócio”.
O deputado tucano Carlos Sampaio,
promotor de carreira, contestou. “Se ele
não está indiciado, deveria depor como
testemunha. Até para ser obrigado a falar
a verdade.”Vital do Rêgo resistiu. Cerveró depôs na condição de “investigado”.
O relator da CPI, o deputado petista
Marco Maia, fez perguntas por mais de
uma hora. Quando a palavra finalmente
foi passada aos deputados e senadores,
um jogo de bate-assopra se iniciou. Um a
um, os inquiridores primeiro criticavam
Cerveró por seu papel num escândalo
que representa muito dos desmandos na
estatal. Em seguida, os mesmos parla42 I época I 15 de setembro de 2014
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faxina
a presidente Dilma
Rousseff. ela diz
que, em seu
governo, houve
uma limpeza na
Petrobras
mentares passavam a acarinhar Cerveró
e a tentar seduzi-lo a entregar maracutaias que tivesse presenciado. O deputado Fernando Francischini, do Solidariedade, disse: “Vossa Senhoria deixará
que sua cabeça seja colocada em uma
bandeja? Vossa Senhoria deveria fazer
uma delação premiada”. Cerveró seguia
impassível, de queixo erguido. Depois,
foi a vez de Carlos Sampaio: “Podemos
fazer uma sessão reservada, secreta, para
que Vossa Senhoria fique à vontade para
nos contar o que sabe”. Cerveró mal se
mexia. Foram três horas de depoimento.
Nenhuma informação nova veio à tona.
O que pairava na sala era apenas a sensação de que ainda há muito a desvendar.
A presidente Dilma Rousseff afirma ter
feito uma limpeza na estatal e diz que
“se houve sangria, ela já foi estancada”.
Todas as empresas envolvidas negam
relações irregulares com Youssef e Paulo
Roberto. A Sanko-Sider diz ter contratado a Costa Global, de Paulo Roberto,
e as empresas de Youssef para trabalhos
técnicos e de representação comercial
– e nega irregularidades. Não foi possível encontrar representantes da Jaraguá
Equipamentos, que está em recuperação
judicial. A empresa já afirmara que os depósitos para a MO, de Youssef, se referem
a um contrato para realizar consultoria
comercial na licitação da Refinaria Abreu
e Lima, em Pernambuco. A Iesa afirma
ter pagado R$ 300 mil à Costa Global, de
Paulo Roberto.“Foram realizadas diversas reuniões com a Costa Global e com
empresa de engenharia conceitual e identificados potenciais parceiros fornecedores de tecnologia para o fornecimento
de minirrefinarias modulares”, diz a Iesa.
O Consórcio CNCC (Camargo Corrêa
e CNEC) afirma que não tem nenhum
relacionamento com as empresas de Paulo Roberto e Youssef. A Odebrecht nega
também ter feito contrato com o lobista
João Augusto. Sobre a auditoria interna, a Transpetro afirma que “recebeu as
denúncias em questão e as encaminhou
para apuração” e que “as não conformidades encontradas foram devidamente
sanadas e seis colaboradores foram afastados da Companhia”. Em nota, a Mendes Júnior afirma que seus contratos são
feitos de acordo com as normas legais e
que é prestadora de serviços de engenharia da Petrobras desde os anos 1970. Diz
ainda que faz doações para campanhas
eleitorais segundo a legislação vigente.
O ministro Edison Lobão confirma
que teve uma audiência com Paulo Roberto. O senador Fernando Collor não se
manifestou sobre o lobista Pedro Paulo
Leoni Ramos, o PP. O senador Romero
Jucá nega ter colaborado para enterrar a
CPI da Petrobras em 2009. Os deputados
Mário Negromonte e João Pizzolatti não
foram encontrados. O deputado Cândido Vaccarezza afirma que é amigo do
diretor da BR Distribuidora Andurte de
Barros e, com outros deputados, o indicou para o cargo. Vaccarezza nega “peremptoriamente ter recebido recursos”
de Paulo Roberto Costa. Em nota, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney,
disse que nunca participou de nenhum
esquema de corrupção nem solicitou
“ao ex-diretor da Petrobras recursos de
qualquer natureza”. “Tomarei todas as
medidas cabíveis para resguardar minha
honra e minha dignidade”, diz Roseana.
A advogada de Paulo Roberto Costa,
Beatriz Catta Preta, foi procurada, mas
não respondeu. O lobista Fernando Baiano não foi encontrado. Pedro Paulo Leoni
Ramos preferiu não se manifestar.
u
Foto: João Carlos Mazella/AgÍncia JCM/Fotoarena
12/09/2014 19:57:37
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Dois enredos, os mesmos personagens