Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2010, v. 11, n. 11, p. 21 – 26
ANÁLISE ASSÉPTICA EM AMBIENTES DE USO COMUM NO CAMPUS DA
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO, REALENGO
Amanda Pinto Alves, Daniele Souza, Jorge Gomes Borges,
Michael Angelo da Rocha e Raquel Pereira de Jesus
.
RESUMO
Diante do crescimento da população, o prolongamento da vida humana tem sido uma constante. O
compartilhamento de espaços em locais públicos e o convívio social cada vez mais dão mostras de que se faz
necessário o exercício de práticas educativas na estruturação e manutenção das ações de higiene e bem-estar nas
áreas comuns. Assim, esta temática logrou interesse de um grupo de alunos que elegeu a Universidade Castelo
Branco – UCB – como instituição delimitada para a realização desta pesquisa, com o intuito de relacionar as
doenças infecciosas com os locais delimitados.
O presente estudo destinou-se a identificar, através de características morfotintoriais, micro-organismos
encontrados em estruturas consideradas assépticas na UCB, campus Realengo. Foram analisadas 90 amostras em
locais previamente definidos de intensa circulação de pessoas. As amostras foram colhidas utilizando a técnica
Swabs. O termo swab é usado para designar uma espécie de bastonete de madeira contendo algodão na
extremidade. A técnica consiste na remoção dos micro-organismos de uma área delimitada na superfície por
swabs estéreis, contendo meio stuart e coradas através da Coloração de Gram, (que consiste em uma técnica de
coloração para diferenciação de micro-organismos através das cores, para serem observados em microscópio
óptico). Os resultados obtidos apresentaram 82% de Gram positivas, 10% de Gram negativas e 8% de gram
positivas e negativas.
Palavras-chave: Assepsia; Micro-organismos; Coloração de Gram; Local Público.
INTRODUÇÃO
A longevidade do homem tem se mostrado cada vez mais intensa, constatando-se uma significativa
tendência à valorização da saúde e do bem-estar, ora amplamente difundidos pelos meios de comunicação à
maioria da população brasileira. No entanto, paradoxalmente a esta realidade, revela-se em determinados
ambientes o descuido com fatores como higiene e a consciência de práticas educativas para o bem-estar coletivo,
principalmente em instituições que têm por missão zelar por estes conceitos.
Diante deste cenário os estudantes da Universidade Castelo Branco, campus Realengo, visualizaram a
oportunidade de estudar e alertar aos responsáveis, possíveis irregularidades não compatíveis com a qualidade
exigida em termos de saúde pública na referida instituição.
Deste modo, o presente estudo tratou de diagnosticar e analisar as interferências daqueles
operacionalmente responsáveis pela manutenção da higienização dos ambientes, bem como dos indivíduos que
possuem a condição de contribuir para minimizar a problemática.
O presente estudo destinou-se a identificar características morfotintoriais dos micro-organismos
encontrados em determinadas estruturas da Universidade Castelo Branco, campus Realengo, em decorrência de
serem manipuladas e acessadas por um intenso fluxo de pessoas e com significativa frequência, o que
obrigatoriamente exige um processo de higienização contínuo e eficaz.
Deste modo, foram analisadas 90 amostras em superfícies e utensílios na instituição, dentre as quais,
telefones públicos, condicionadores de ar, computadores, teclados, mouses, maçanetas, portas, bebedouros,
corrimões e bancada do refeitório.
A coleta e a análise dos dados permitiram correlacionar os micro-organismos encontrados com
patogenias associadas. As bactérias são um dos organismos mais antigos, com evidência encontrada em rochas
de 3,8 bilhões de anos.
As bactérias (do grego bakteria, bastão) são organismos unicelulares, procariontes (não possuem
envoltório nuclear, nem organelas membranosas). Podem ser encontrados na forma isolada ou em colônias e
pertencem ao domínio homônimo bactéria. Podem viver na presença de ar (aeróbias), na ausência de ar
(anaeróbias), ou ainda serem anaeróbias facultativas.
Uma vez que essas bactérias, a princípio de caráter comensal, passam a fazer parte de outro sítio que
não a microbiota autóctone¹, podem ocasionar patogenias graves. A maioria das bactérias que compõe a flora
humana normal é comensal: um dos organismos se beneficia enquanto o outro não é adversamente afetado. O
trato gastrointestinal do adulto adquire no mínimo 17 famílias de bactérias produzindo de 400 a 500 diferentes
espécies microbianas. Essas bactérias regulam uma série de processos de acolhimento de nutrição e de
desenvolvimento de respostas imunes. A contribuição que o presente estudo pretendeu proporcionar foi o de
identificar a presença de micro-organismos nocivos à saúde humana e que de alguma forma pudessem estar
relacionados a doenças infecciosas instaladas nos locais relacionados.
A principal relevância social desta pesquisa foi
analisar a presença desses micro-organismos e
relacionar a doenças infecciosas com os locais citados na pesquisa.
Com o intuito de averiguar a possível relação entre as bactérias encontradas com as formas de limpeza
adotadas pela instituição, foi realizado um questionário e aplicado a 20 (vinte) funcionários dos serviços gerais,
no qual foram interrogadas questões diversas, destacando-se: Quais eram as formas de limpeza adotadas? Com
que frequência essa limpeza era realizada? Quais os produtos e preceitos utilizados na higienização? Houve
algum tipo de treinamento para exercer a função? O questionamento foi de extrema importância para uma
melhor análise dos resultados obtidos e, também, para uma complementação das conclusões advindas.
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MATERIAL E MÉTODOS
As amostras foram colhidas com Swabs estéreis contendo meio Stuart (que pode ser caracterizado por
um meio de utilizado para transporte de materiais). Ele conserva micro-organismos como Haemophilus spp.,
Pneumococcus, Salmonella spp., Shigella spp. e outros. O meio de Stuart não possui uma fonte de nitrogênio.
Possui coloração branca opalescente, nas quais foram armazenadas e transportadas ao laboratório para a
análise. Foi coletado o total de 90 espécimes de locais que se acredita passar por inspeções periódicas para que
não haja contaminação e ou proliferação por micro-organismos. Os locais selecionados foram: telefones
públicos presentes na Instituição, condicionadores de ar, computadores (abrangendo teclados e mouses),
Maçanetas dos banheiros, bebedouros, corrimões, bancada da cantina, portas em geral etc. A coleta foi
realizada em dias aleatórios (27/04, 04/05, 18/05) para observar se houve alguma alteração ou resistência na
flora bacteriana encontrada. Posteriormente foi realizada a Técnica de Gram conforme descrito a seguir:
Recobrir a lâmina com solução de cristal violeta e deixar por trinta segundos a um minuto. Deitar fora o
excesso do corante ao cabo deste tempo. Sem lavar, verter, sobre a preparação, a solução de lugol, deixando-a
agir durante um minuto. Ainda sem lavar a preparação, deixar cair sobre a lâmina inclinada álcool absoluto,
até que a cor roxa cesse de desprender-se.Corar pela fucsina de Ziehl diluída durante trinta segundos. Deitar
fora o corante e lavar com água. Secar. (4) Ao fim do processo as lâminas foram levadas ao microscópio e
analisadas na objetiva de imersão (100 x) para a observação das características morfológicas e tintoriais.
Destaca-se que todas as atividades acima descritas foram previamente autorizadas pela instituição.
RESULTADOS
Realizado a análise, os resultados foram divididos quanto ao percentual total de amostras, percentual
absoluto das características tintoriais e quanto ao percentual absoluto das características morfológicas. No que se
refere ao percentual total de amostras 87% são bactérias gram positivas e negativas, 11% não apresentaram
relevância clínica e 2% apresentaram-se na forma de fungos (ver gráfico 1). Quanto às características tintoriais a
prevalência foi das bactérias gram positivas correspondentes a 82%, as gram negativas apresentaram 10% do
total e 8% correspondem a gram positivas e negativas em uma mesma amostra (ver gráfico 2).
Morfologicamente os cocos foram os resultados mais expressivos nas amostras analisadas (ver gráfico 3). Das
amostras analisadas as da catraca, condicionador de ar, bebedouro e a porta do laboratório foram os que
apresentaram os resultados mais expressivos, quando semeados em Agar sangue e Cled houve crescimento de
colônia única sugerindo infecção. O questionário aplicado junto aos funcionários revelou que não há nenhuma
técnica padrão utilizada pela instituição e que esses funcionários não recebem nenhum tipo de treinamento para
exercer a função. Quanto aos materiais utilizados (detergentes, desinfetantes, cloro e álcool) são os próprios
funcionários que realizam a diluição, sem receber instruções prévias.
A frequência de limpeza varia de acordo com o local, banheiros, por exemplo, recebem limpeza diária
enquanto bebedouros em dias alternados. Quanto aos condicionadores de ar (os mais patogênicos encontrados)
relatam a limpeza ser realizada a cada um mês por uma empresa terceirizada. Quando questionados a respeito de
equipamentos de proteção individual (EPIS), citam luvas e botas; no que diz respeito a acidentes de trabalho
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70% nunca se acidentaram, porém os 30% restantes já se acidentaram e não relatam não receberem informações
de como proceder nesses casos.
Existem diversas ações preventivas de higienização que podem auferir resultados positivos, de modo
que sejam evitados prejuízos à saúde daqueles que transitam no ambiente pesquisado.
Gráfico 1
Gráfico 2
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Gráfico 3
CONCLUSÃO
As verificações oriundas dos materiais evidenciaram a presença em quantidade elevada de bactérias nos locais
pesquisados, locais estes que deveriam passar por constante higienização por haver uma grande rotatividade de
pessoas e, devido a isso, maior contaminação e proliferação dos micro-organismos. A presença de altos níveis de
bactérias ou a presença de um tipo incomum de micro-organismos em um ambiente interno indica a ocorrência
de fontes de proliferação de microrganismo no interior do ambiente ou a deficiência de métodos que possam
determinar a destruição dos mesmos. A exposição a certos níveis de fungos, bactérias e seus subprodutos pode
resultar em sintomas generalizados de dificuldades respiratórias, irritação e coceiras nos olhos e nariz e
indisposições generalizadas. Em condições mais severas incluem a asma, pneumonias sensitivas, alergias e
infecções sistêmicas. Em resumo conclui-se que a presença e proliferação desses micro-organismos devem-se
também em consequência de uma metodologia aplicada de forma errônea de limpeza, e que na quantidade
encontrada esses micro-organismos podem desencadear processos patogênicos. Contudo faz-se ainda necessária
uma análise mais profunda e complexa de identificação, para de fato comprovar que tipos de doenças esses
micro-organismos podem ocasionar.
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