Artigo original Riscos ocupacionais de uma empresa de embalagens plásticas (*) Occupational risks in the plastic packages industry (*) Michelle Cristina Ichida1, César Augusto Patta1, Luiz Carlos Morrone2 (*) Monografia apresentada ao término do curso de especialização em Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSC-SP). RESUMO Contexto: A produção de plásticos no Brasil alcançou 3,4 milhões de toneladas em 1999. Este trabalho pretende avaliar os principais riscos para a saúde neste ramo de atividade com atenção maior para a indús tria de embalagens – PEAD (polietileno de alta densidade). Objetivos: Avaliar os principais riscos de prob lemas de saúde e de desconforto identificados em empresa de embalagem plástica instalada na cidade de São Paulo e eventuais impactos destes riscos para a saúde dos trabalhadores ali ocupados. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo. Foram feitos: inquérito preliminar, análises do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), aná lises prévias de cinco postos de trabalho e do processo produtivo, avaliação dos níveis de ruído, calor, iluminamento e riscos ergonômicos e avaliação clínica de 28 trabalhadores. Resultados: O nível de ruí do foi excessivo em três das seis máquinas e em todos os moinhos. Apenas seis trabalhadores usavam protetor auricular. Os níveis de calor não superaram o permitido pela norma regulamentadora, mas de acordo com o cálculo de temperatura efetiva esta é desconfortante. O iluminamento é deficiente em todas as máquinas e no setor de serigrafia. As ferramentas ergonômicas não apontaram riscos impor tantes. Destaque para os 75% de etilistas, 46% de funcionários com vacina antitetânica atrasada e 25% dos trabalhadores apresentaram níveis elevados de pressão arterial. Conclusões: O processo produtivo deve ser modificado e diversas medidas devem ser tomadas, como limitar a jornada de trabalho e re duzir as horas extras, instituir programas de segurança, investir em medidas de proteção do maquinário, instalar ventiladores, exaustores e lâmpadas e acompanhar e exigir PPRAs e PCMSOs mais completos. Palavras-chave: Riscos ocupacionais, medicina do trabalho, indústrias, plásticos. Recebido: 10/6/2009 – Aceito: 26/6/2009 1 2 Médico(a) do Trabalho. Professor adjunto do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSC-SP). Endereço para correspondência: Michelle Cristina Ichida. Rua Dr. Cesário Mota Jr., 61, 5º andar – Santa Cecília – 01221-020 – São Paulo, SP. E-mail: [email protected] Ichida MC, Patta CA, Morrone LC ABSTRACT Background: Plastic production in Brazil, had reach 3,4 million tons. This work pretends to evaluate, the main health’s risks on this activity branch focusing with more attention for the packages industries which use the – PEAD (High Density Polyetilen). Objectives: Evaluate the main occupational risks and uncomfortableness conditions that are identified in one enterprise of plastic packages established at the city of Sao Paulo and the possible results of these problems for the health of the workers. Methods: This is a descriptive study. Firstly it was applied one formulary – the Preliminary Inquire. This instrument is and enquire habitually used in Brazil, in the first visit on the enterprises, when the visit propose is to study the occupational hygiene fac tors that may be irregular according the legislation. Also it was analyzed the structure of the Environment Risk Prevention Program (PPRA) and the Occupational Health Control Program (PCMSO) – that are two legal compulsory programs that all the enterprise must do and review every year. There were studied five work places for evaluation of the levels of noise, heat, illumination, ergonomic risks. The clinical evaluation of 28 workers was made. Results: The level of noise were higher the LT in three of the six machines and in all the mills. Only six of the workers used auricular protectors. The heat levels did not exceed the LT but the Ef fective Temperature (TE) was higher the comfort level. The illumination level was lower the recommended in all the machines and in the serigraphy sector. The ergonomic study did not point for important risks. At the clinical examination, 75% of the examined was alcooholists, 46% had the anti-tetanic vaccine not com pleted and 25% higher levels of arterial tension. Conclusions: The productive process may be modified in the sense of limiting the work journey, reducing extra hours, and the application of educational programs of safety in work. Even so is necessary more protection to the machines, ameliorate ventilation, and in creasing lighting lamps. The PPRA and PCMSO programs may be more adequate to the reality of the plant. Keywords: Occupational risks, occupational medicine, industry, plastics. INTRODUÇÃO O plástico é uma matéria sintética dotada de grande maleabilidade e facilmente transformável mediante o emprego de calor e pressão1. São materiais derivados da transformação do petróleo e por isso houve grande aumento da oferta a partir da segunda guerra mundial2. A produção de plásticos no Brasil alcançou 3,4 milhões de toneladas em 1999, em comparação com 26,3 milhões de toneladas na Europa e 41,6 milhões de toneladas nos Estados Unidos, onde o consumo de plásticos para embalagens foi equivalente a 31%3. O enfoque deste trabalho é a indústria de embalagens em polietileno de alta densidade (PEAD), com moldes por sopro de ar comprimido. O PEAD é um tipo de plástico, portanto derivado do petróleo bruto, que sofre processos de destilação, é transportado para a unidade de quebra e, então, origina o etileno, que é material direto do polietileno. Este é vendido em forma de grãos, completamente formulados, pronto para o uso em máquinas. O processo de conversão do PEAD em frascos prontos fundamenta-se Rev Bras Med Trab. São Paulo • Vol. 7 • 2009 na propriedade plástica dos materiais. O processo inicia-se com o aquecimento do material ativando o estado plástico, seguido de constrição mecânica, gerando a forma que terá após o esfriamento. No molde por sopro de ar comprimido, quando se atinge a plasticidade é feito um tubo plástico dentro do molde aberto, depois fecha-se o molde e expande-se o tubo com a pressão de ar, fazendo com que o material adquira a forma do molde; há o resfriamento do frasco e a liberação do artigo pela máquina2. Os principais riscos descritos no processo de produção que envolva material plástico são as lesões em máquinas, queimaduras, disposição inadequada de máquinas e acidentes por queda por causa de óleos ou grãos no solo2,4. O ruído também é um risco descrito nesse tipo de empresa5. A empresa estudada neste estudo encontra-se no mercado há 12 anos, sendo considerada como indústria de pequeno porte e com produção mensal de 650 mil frascos, em média. 19 Riscos ocupacionais de uma empresa de embalagens plásticas No presente estudo objetiva-se avaliar o setor de produção da empresa, identificando, no processo, riscos para a saúde, higiene e segurança no trabalho. Os setores administrativo e comercial não foram estudados. Objetiva-se, também, sugerir medidas para benefícios embasadas nas análises, se for necessário. MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo, em que foi realizado o reconhecimento preliminar de riscos, para análise inicial da empresa e dos postos de trabalho; as análises do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), enfocando os riscos existentes e posterior comparação com o encontrado neste estudo; a avaliação dos níveis de ruído, utilizando-se um decibelímetro Sper Scientific 840029, classe 2, com circuito de compensação A, com circuito de resposta lenta 80-130 dB; a avaliação dos níveis de calor, utilizando um termômetro Wibget IST RSS-214; a avaliação dos níveis de iluminamento, realizada com um luxímetro com fotocélula dirigida para a sensibilidade do olho humano Sper Scientific 840020, na escala de 200-2000 lux; e a avaliação dos riscos ergonômicos por meio do check-list de Suzanne Rodgers e critério quantitativo de Moore e Garg. RESULTADOS E DISCUSSÃO Informações gerais A empresa foi fundada em 1994. Tem grau de risco 3 e conta com 40 funcionários, sendo nove do setor administrativo e, portanto, fora do objetivo deste estudo. Todos os funcionários da produção são do sexo masculino. A faixa etária variou de 18 a 60 anos, com média de 30,5 anos. A distribuição dos funcionários é dada pela tabela 1, três funcionários não entraram no estudo por estarem em férias. A empresa funciona 24 horas, sendo a jornada de trabalho um dos grandes problemas encontrados na empresa. A cada mês um grupo de trabalhadores estará trabalhando no terceiro turno, o que causa grande desconforto e alterações do ritmo biológico. Os trabalhos em turnos noturnos têm sido 20 Tabela 1. Distribuição dos funcionários. Função Funcionários examinados Funcionários no setor Almoxarifado 3 3 Encarregado de manutenção 1 1 Ajudante de produção 18 21 Encarregado de produção 3 3 Ajudante da serigrafia 3 3 Total 28 31 apontados como uma contínua e múltipla fonte de problemas de saúde, comportamentais e de perturbação sociofamiliar. Sob uma rotina noturna, os trabalhadores são obrigados a modificar o período sono-vigília, os ritmos endógenos não se ajustam à nova rotina com tamanha velocidade, produzindo sintomas como fadiga, nervosismo, variações de humor, dificuldade para dormir, falta ou aumento de apetite, dificuldade para realizar o trabalho habitual e perturbações de memória. É interessante notar que a demora dessa adaptação é proporcional ao número de jornadas de trabalho que obrigam o trabalhador a inverter o ciclo6. Algumas empresas têm contado com o quarto turno e outras com uma quarta equipe para que seja reduzida a jornada de trabalho, conforme sugerido na nova Constituição de 1988. Ainda em relação à jornada de trabalho, notou-se que o terceiro turno, de sexta-feira para sábado, trabalha mais do que 8 horas seguidas, o que não é permitido de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho. Além disso, do ponto de vista da saúde ocupacional, a exposição aos riscos por 12 horas seguidas é extremamente prejudicial, não havendo sequer parâmetros para limites de tolerância, já que estes são dados fundamentados em, no máximo, 8 horas diárias. Esse tipo de prática deve ser desencorajada mesmo com o descontentamento dos funcionários. Outro tema a ser discutido são as frequentes horas extras feitas pelos trabalhadores. Ressalta-se que o prolongamento da jornada de trabalho é causa de hipertensão arterial sistêmica e doenças cardiovasculares, independente do ambiente de trabalho7, e que o estresse ocupacional é fator adicional para hiRev Bras Med Trab. São Paulo • Vol. 7 • 2009 Ichida MC, Patta CA, Morrone LC pertensão em operários8. Outra consequência pode ser a chamada síndrome de burn-out ou esgotamento profissional6, gerando estafa, fadiga e frustração. Saúde ocupacional A empresa não possui Serviço de Engenharia, Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). Ocorreram dois acidentes por prensamento de mão em máquina, sem perda de substância, mas com discreta diminuição funcional (um caso em 2006 e outro em 2007). Não há Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) na empresa. A empresa não possui um programa ativo de segurança e os dois únicos acidentes que a empresa possuiu ocorreram recentemente, indicando a necessidade de programas que instruam melhor os trabalhadores, além de mecanismos de proteção de maquinário mais efetivo. Não há sistema de bloqueio de acionamento das prensas contra acidentes de trabalho em mãos, o atual constitui de grades que fecham o local onde se encontra o molde, mas se a grade é aberta não há interrupção de funcionamento da máquina. É importante ressaltar que em agosto de 2007, o sindicato da indústria, juntamente com os representantes dos trabalhadores, assinou uma convenção coletiva para prevenir acidentes em máquinas sopradoras de plástico, que prevê a instalação de diversos dispositivos para prevenção de acidentes. Essa preocupação com os acidentes de trabalho é justificada, pois em estudo feito em 2000 no estado da Bahia9, a indústria de transformação foi responsável por mais de 15% dos benefícios por acidente de trabalho. No PPRA da empresa não foram realizadas medidas de temperatura na fábrica e as avaliações quantitativas do ruído e do iluminamento não foram feitas em todas as máquinas. As tabelas de risco detectadas encontram-se em branco no PCMSO, o que chama atenção para a qualidade de ambos. Os autores de um trabalho que verificou 30 PPRAs e PCMSOs de empresas com mais de 100 funcionários da Bahia10 constataram a baixa qualidade técnica desses programas e apontaram a evidente necessidade de ampliar a cobertura da fiscalização estatal, assim como de estimular a participação dos trabalhadores e dos seus representantes no desenvolvimento dos programas. Rev Bras Med Trab. São Paulo • Vol. 7 • 2009 Durante a observação dos postos de trabalho, verificou-se que apenas seis trabalhadores (21,4%) utilizavam todo o uniforme e o equipamento de proteção individual (EPI) fornecido, dois (7,2%) estavam sem uniforme, pois eram funcionários recentes, um (3,6%) estava sem bota e protetor auricular e 19 (67,9%) estavam sem protetor auricular. Avaliação quantitativa dos níveis de ruído Foram realizadas avaliações nos postos de trabalho, próxima à zona auditiva do trabalhador (Tabela 2). Tabela 2. Níveis de ruído (em decibéis). Local Almoxarifado Ruído aferido Ruído no PPRA 59 Máquina 1 75-89 87,7 Máquina 2 77-85 80-84 Máquina 3 76-89 80-83,9 Máquina 4 76-88 80-81,2 Máquina 5 79-84 Máquina 6 80-85 Serigrafia 75 73,7-80 79-82 67,6-80 Moinho 1 97 80-83 Moinho 2 96 80-81,8 Moinho 3 93 80-85 Ferramentaria O nível de ruído nas máquinas sofre grande aumento quando há o sopro de ar comprimido, por isso a variação de valores nas máquinas e na ferramentaria, por sua proximidade com elas. O PPRA da empresa acusou que apenas uma máquina gera ruídos acima do permitido pela norma regulamentadora (85 decibéis). Nem mesmo os moinhos encontraram-se ruidosos no PPRA. É importante destacar que duas máquinas não foram avaliadas. Ressalta-se que apesar dos moinhos serem mais ruidosos, o tempo a que os trabalhadores ficam expostos a eles é menor, e que os moinhos se encontram devidamente isolados do setor de produção. O ideal para esse caso seria o uso de dosímetro de ruído para melhor avaliação. A literatura especializada internacional aponta que trabalhadores expostos ao ruído ocupacional inten21 Riscos ocupacionais de uma empresa de embalagens plásticas so apresentam risco aumentado de se acidentarem quando comparados a trabalhadores não expostos11. Avaliação quantitativa dos níveis de calor A exaustão é feita por meio de cinco exaustores de teto e a ventilação por intermédio de três ventiladores. A avaliação de calor foi realizada no primeiro turno por volta das 12 horas e demonstrada na tabela 3. Tabela 3. Níveis de temperatura de bulbo úmido termômetro de globo (em graus Celsius). Local funcionário realiza a atividade, e para os funcionários que circulam no setor, foram feitas medidas a 75 cm do chão em diversos pontos da sala e feita uma média aritmética. A tabela 4 mostra os resultados. Tabela 4. Níveis de iluminamento (em lux). Local Nível de iluminamento Nível de iluminamento no PPRA Almoxarifado 370 375 Máquina 1 260 300 Máquina 2 230 290 Máquina 3 220 260 Maquina 4 210 170 IBUTG IBUTG máximo permitido Temperatura efetiva Almoxarifado 22,8 30 23 Máquina 5 270 NR Máquina 1 25,3 30 25,8 Máquina 6 250 NR Máquina 2 25,7 30 26,6 Serigrafia 205 90 Máquina 3 26,3 30 27,1 Ferramentaria 540 450 Maquina 4 26,8 30 27,5 Moinho 1 600 484 Máquina 5 27,5 30 28 Moinho 2 520 509 Máquina 6 27,6 30 28,2 Moinho 3 515 411 Serigrafia 23 26,7 22,5 Ferramentaria 27,2 30 27,6 Moinho 1 27,3 30 27,4 Moinho 2 27,4 30 27,4 Moinho 3 27,9 30 27,7 A iluminância é deficiente em quase todos os setores da fábrica (mínimo exigido de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas é de 300 lux). Isso pode estar relacionado ao número alto de queixas de diminuição de acuidade visual. Novamente houve discordância entre as medidas do PPRA. Quanto aos níveis de calor, não foi possível a comparação com o PPRA, pois esta medida não foi feita neste. Apesar da fábrica ser aparentemente muito quente, os índices de bulbo úmido termômetro de globo (IBUTGs) apresentados não superaram o permitido para o tipo de trabalho, de acordo com a norma regulamentadora. A temperatura efetiva foi realizada para que possa ser comparada à temperatura de conforto (20-23 °C). Sabe-se que essa é utilizada para atividades que exijam solicitação intelectual, mas o cálculo foi feito somente para título de demonstração do calor do pátio de máquinas. A exaustão e a ventilação deficientes são facilmente notadas em visitas ao setor de produção. Quanto aos riscos químicos, de acordo com o Berufsgenossenschaftliches Institut für Arbeitssicherheit12, os produtos voláteis da decomposição do polietileno seriam os hidrocarbonetos alifáticos insaturados e os aldeídos alifáticos. Porém, não há referência de concentrações tóxicas dessas substâncias nesse tipo de processo, em que a temperatura no interior da máquina durante o sopro é de mais ou menos 150 °C e o resfriamento se dá no interior dela. O risco de toxicidade é descrito em processos que exigem temperatura mais elevada, por exemplo, quando soldamse peças metálicas em peças plásticas. Avaliação quantitativa dos níveis de iluminamento Análise ergonômica A medida foi realizada no terceiro turno por volta das 22 horas. O aparelho foi posicionado no local onde o Foram utilizadas ferramentas para a quantificação dos riscos. O check-list de Suzanne Rodgers foi o es- 22 Riscos químicos Rev Bras Med Trab. São Paulo • Vol. 7 • 2009 Ichida MC, Patta CA, Morrone LC colhido para uma avaliação geral de vários segmentos do corpo, por ser completo, de fácil utilização e renomado. Logo após foi aplicado o critério de Moore e Garg, por ser mais específico para membros superiores. De acordo com o check-list de Suzanne Rodgers, a pontuação dos ajudantes de produção apresentou prioridade baixa para riscos ergonômicos (pontuação 5 em todos os seguimentos corpóreos, levando-se em conta o nível e o tempo de esforço e o número de esforços por minuto). Os ajudantes da serigrafia também apresentaram a mesma pontuação, exceto para os seguimentos de ombros e costas, em que a prioridade foi moderada (pontuação 6). O critério de Moore e Garg apresentou índices baixos para ajudantes de produção (1,125) e duvidosos para ajudantes de serigrafia (5,0625). Isso ocorre porque os ajudantes de produção trabalham sentados, em cadeira ergonomicamente adequada, e o número de movimentos que exigem esforço e mesmo o de movimentos repetitivos é relativamente baixo. Já os ajudantes de serigrafia apresentam maior número de movimentos antiergonômicos, principalmente para as costas e os ombros, por transportarem as pranchas com frascos que foram serigrafados para o local de secagem e ensacarem os frascos com a tinta já seca; a maioria do trabalho é feita em pé e em movimento. Avaliação clínica dos funcionários São tabagistas 14,3% e ex-tabagistas 28,6% dos funcionários. Quanto ao etilismo, somente 25% dos funcionários não ingerem bebidas alcoólicas, visto que um deles está em programa de reabilitação. Em relação ao estado emocional dos trabalhadores: 71,4% sentem-se calmos; 21,4%, estressados (a causa maior referida é o excesso de trabalho provocado pelas horas extras feitas aos finais de semana); 3,6%, ansiosos; e 3,6%, deprimidos. Quando interrogados a respeito da presença de patologias, são hipertensos 14,3%. Sobre a vacinação de tétano, 13 trabalhadores (46,4%) negaram estar com a vacinação devidamente regularizada. As queixas apresentadas pelos trabalhadores foram: quatro lombalgias (14,3%), dor no ombro, pré-cordialgia esporádica, dor no joelho e epigastralgia, cada uma em um trabalhador (3,6%). QueiRev Bras Med Trab. São Paulo • Vol. 7 • 2009 xam-se de acuidade visual diminuída seis trabalhadores (21,4%) e não fazem uso de correção. A pressão arterial encontrou-se em níveis normais em 21 trabalhadores (75%) e atingiu valores alterados (máximo de 160 × 100 mmHg) no restante dos trabalhadores. A pressão arterial alterada encontrada pode estar relacionada à jornada de trabalho prolongada, conforme discutido anteriormente. A literatura também revela que o excesso de ruído e o calor podem ser responsáveis pela elevação da pressão arterial13. Quanto ao aparelho osteomioarticular, cinco (17,9%) apresentaram crepitação assintomática de ombros, outros cinco, lordose de coluna lombar e dois, crepitações sintomáticas em joelho. As dores osteomusculares não foram compatíveis às ferramentas ergonômicas não sendo encontradas nos ajudantes de serigrafia e distribuídas equilibradamente nos outros cargos. Os motivos podem ser o número pequeno de trabalhadores avaliados e o fato de que, em geral, a faixa etária dos ajudantes da serigrafia ser jovem. De acordo com a literatura14, um novo perfil patológico configura-se, o qual é caracterizado pela maior prevalência, na população trabalhadora, de agravos à saúde marcados pelas doenças crônicas, cujo nexo de causalidade com o trabalho não é mais evidente como ocorria com as doenças (e acidentes) classicamente a ele relacionadas. Proliferam, então, as doenças cardiocirculatórias, gastrocólicas, psicossomáticas, os cânceres, a morbidade musculoesquelética expressa nas lesões por esforços repetitivos (LERs), às quais somam-se ao desgaste mental e físico patológicos e mesmo às mortes por excesso de trabalho, além das doenças psicoafetivas e neurológicas ligadas ao estresse. Por meio do levantamento das doenças encontradas neste estudo, foi observada essa tendência bem caracterizada. Um outro autor15 sugere até que este novo perfil seja usado como um dos indicadores de qualidade de vida no trabalho. Análise dos prontuários A análise dos prontuários demonstrou que os exames médicos realizados são bastante sumários, com poucas informações e os exames físicos extremamente resumidos. 23 Riscos ocupacionais de uma empresa de embalagens plásticas CONCLUSÃO Conclui-se que o processo produtivo mostrou ser incompatível com uma melhor qualidade de vida no trabalho para os trabalhadores examinados. Ele poderia ser modificado a fim de garantir a segurança de produção, diminuir os prejuízos financeiros e tornar-se cada vez menos danoso à saúde do trabalhador, gerando assim melhora do desempenho da empresa como um todo. A empresa apresenta diversos riscos físicos, como ruído excessivo, luminosidade deficiente e calor desconfortante. A seguir, são apresentadas diversas medidas que devem ser tomadas para gerar melhorias. Recomendações Algumas medidas se tomadas poderiam melhorar a qualidade de vida no trabalho: 1. Limitar a jornada de trabalho. Reestruturar a troca de plantão no sábado. 2. Fornecer folgas após um período de jornadas de trabalho noturno. 3. Limitar o número de horas extras de cada funcionário. 4. Criar sistema de pausas para descanso no trabalho noturno, pois reduzem os sintomas provocados pela dessincronização. 5. Instituir a Cipa. 6. Implantar um grupo de brigadistas de incêndio. 7. Dispor um quite de primeiros socorros próximos às máquinas e treinar funcionários para seu uso. 8. Implantar um programa ativo de segurança do trabalho, enfocando a prevenção de acidentes e doenças com a participação da Cipa. 9. Investir em medidas de proteção das máquinas, de modo que se o trabalhador estiver em posição de risco de acidente, a máquina seja desligada automaticamente ou seu movimento seja invertido. Nos maquinários mais modernos isso já é possível, algumas até com dispositivo de fotocélula. Outra medida mais simples seria trancar a grade de proteção da máquina e apenas o encarregado da produção portar as chaves. 24 10. Instituir a ventilação de fluxo laminar. 11. Aumentar o número de lâmpadas no galpão. 12. Conscientizar os funcionários sobre os riscos a que estão sendo submetidos e a importância das medidas de proteção. 13. Realizar a dosimetria de ruído. 14. Implantar um programa de conservação auditiva e realizar manutenção preventiva das máquinas, para que essas sejam o menos ruidosas possível. 15. Fornecer com regularidade protetores auriculares e outros EPIs, fiscalizando seu uso. 16. Rodiziar os funcionários que utilizam o moinho. 17. Dar preferência para compra de máquinas menos ruidosas e com menor produção de calor. 18. Realizar a troca do piso atual do pátio de produção por um de mais fácil limpeza e cor clara para que se possa até realizar o reaproveitamento das farpas de PEAD que caem no chão durante o processo produtivo. 19. Realizar mudanças no processo de produção do ajudante de serigrafia a favor de um ambiente mais ergonômico. Uma sugestão é a instalação de uma bancada para a colocação das pranchas de frascos, de modo que o trabalhador possa trabalhar sentado ensacando os frascos. 20. Instituir a ginástica laboral. 21. Acompanhar e exigir PPRAs e PCMSOs mais completos e detalhados. 22. Promover campanhas de vacinação, antietilismo e combate à hipertensão arterial sistêmica. REFERÊNCIAS 1. Rose A, Rose E. The condensed chemical dictionary. 6ª ed. Nova York: Reinhold Publishing Corporation; 1961. 2. Stellman JM, editor. Encyclopaedia of occupational health and safety. 4ª ed. Geneva: International Labour Office; 1998. 3. Wallis G. A evolução do mercado brasileiro de embalagem e sua inserção no mercado internacional. Anais Brasil Pack Trends 2005. Seminário Embalagem, Distribuição e Consumo, Campinas; 2000. 4. Eckardt RE. Occupational and environmental health hazards in the plastics industry. Environ. Health Perspect. 1976;17:103-6. 5. Carlos RC, Neves H, Sapienza PBB, Dalton MTB. Ruído em empresa de transformação do plástico [monografia]. São Paulo: IMESP; 1998. 6. Mendes R. Patologia do trabalho. 2ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 1997. Rev Bras Med Trab. São Paulo • Vol. 7 • 2009 Ichida MC, Patta CA, Morrone LC 7. Steenland K. 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