Membranas de poli(3-hidroxibutirato) contendo antibiótico para utilização em regeneração tecidual guiada Marcio A. C. Silva1*, Marysilvia M. F. Costa2, Rossana M.S.M. Thiré1 *[email protected], aluno de doutorado 1Laboratório de Biopolímeros, PEMM-COPPE-UFRJ, CP 68505, 21941-972, Rio de Janeiro, RJ 2Laboratório de Polímeros, PEMM-COPPE-UFRJ, CP 68505, 21941-972, Rio de Janeiro, RJ Resumo A engenharia tecidual tem estado cada vez mais presente nas áreas da odontologia que envolvem cirurgia reparadora. No caso da periodontia a técnica de Regeneração Tecidual Guiada (RTG) faz uso de membranas de barreira, com ou sem liberação de fármaco, que vêm sendo fabricadas, em muitos casos, de polímeros absorvíveis. Nesse estudo avaliamos a liberação do fármaco metronidazol em membranas produzidas com poli(3-hidroxibutirato) (PHB), com e sem adição do plastificante citrato de etila. Foram fabricados corpos de prova variando-se os teores de fármaco e plastificante. Esses corpos de prova foram submetidos a ensaios de liberação de fármaco em meio similar ao do corpo humano. Os resultados obtidos mostraram que houve liberação em todos os corpos de prova e que a adição de plastificante influenciou positivamente essa liberação. Palavras-chave: PHB, membrana periodontal, RTG, metronidazol, citrato de etila. Introdução A periodontite é a inflamação dos tecidos periodontais que dão suporte ao dente, podendo levar à perda precoce dos elementos dentários por deterioração desses. A técnica de Regeneração Tecidual Guiada (RTG) pode ser utilizada para a reconstrução do periodonto [1]. Esta técnica envolve a colocação de uma membrana de barreira a fim de evitar o crescimento epitelial para o local da ferida, permitindo assim a formação de estruturas funcionais. Essas membranas podem ser bioabsorvíveis ou não-bioabsorvíveis. O PHB é um poliéster microbiano, biodegradável e biocompatível com uma grande variedade de células animais [2] e, portanto, um material interessante para a confecção de membranas para RTG. No entanto, para atingir as propriedades mecânicas imprescindíveis à aplicação, faz-se necessário a adição de plastificantes aos filmes de PHB, a fim de aumentar sua ductilidade. O fármaco metronidazol é um coadjuvante que, quando aplicado ao tratamento das lesões periodontais, possibilita um resultado mais eficiente do que o tratamento mecânico exclusivo [3]. A tecnologia de liberação controlada de fármacos busca resolver problemas associados à administração tradicional dos princípios ativos, por meio da regulação da taxa e da localização espacial de liberação do agente. Os sistemas de liberação controlada proporcionam, por um longo período de tempo, efeitos terapêuticos que só poderiam ser alcançados após múltiplas administrações sistêmicas [4]. Neste trabalho foi avaliada a cinética de liberação do metronidazol em diferentes concentrações, adicionado às membranas de PHB. Também é avaliada a influência do plastificante nessa liberação. Materiais e métodos As membranas periodontais foram confeccionadas em PHB, fornecido pela PHB Industrial S/A (Biocycle 1000®, lote 141), contendo o fármaco Metronidazol e o plastificante citrato de etila, ambos P.A., da Sigma-Aldrich. O fármaco, nas concentrações de 0,5%, 1% e 2% (p/p) e o plastificante nas concentrações de 0% e 20% (p/p) foram adicionados ao PHB por meio de agitação manual. As membranas foram produzidas pelo processo de moldagem por compressão. A Tabela 1 mostra as composições dos corpos de prova. Tabela 1 – Porcentagens de metronidazol (M) e plastificante (P) utilizadas nos corpos de prova. M 0,5% M 1% M 2% P 0% M0,5P0 M1P0 M2P0 P 20% M0,5P20 M1P20 M2P20 Painel PEMM 2012 – 24, 25 e 26 de outubro de 2012 – PEMM/COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 𝐹𝐶 = !" !"!!,! !!! , Eq. 1 onde FC é o fator de correção, n é o número sequencial da amostra, 1,5 é o volume em mililitros da alíquota retirada e 50 é o volume total do tubo em mililitros [5]. Resultados e discussão A Figura 1 mostra o perfil de liberação de metronidazol nos diferentes grupos de corpos de prova. Os resultados obtidos mostraram que a liberação do fármaco após 58 dias tem grande variação entre os diferentes grupos. Essa diferença é mais acentuada para o grupo contendo plastificante. Todos os grupos, exceto o M0,5P0 atingiram a concentração mínima inibitória (MIC) para este fármaco contra o patógeno Porphyromonas gingivalis descrita na literatura como sendo de 0,122 µg/ml [6], a partir de 1,5 h de ensaio, mostrando que uma membrana assim produzida seria eficaz contra esse patógeno logo após a sua implantação. Pode-se notar também que a liberação do fármaco para o meio parece ter atendido a dois comportamentos distintos: uma fase inicial, de liberação rápida, e uma fase tardia, de liberação mais lenta. O ponto da curva que marca essa mudança localiza-se por volta do nono dia do ensaio. Acredita-se que primeira etapa está associada à liberação dos cristais de metronidazol adsorvidos na superfície do filme. Já o segundo regime é regido pela transferência de massa por difusão segundo a lei de Fick e será responsável 80 M0,5P 0 M0,5P 20 M1P 0 M1P 20 M2P 0 M2P 20 70 60 P e rc e ntua l L ibe ra do (% ) Os ensaios de liberação do metronidazol foram realizados com base nos procedimentos descritos por Shifrovitch (2008) [5]. As amostras foram colocadas em tubos Falcon contendo 50 ml de solução tampão acetato de potássio pH 5,0. Os tubos foram mantidos a 37˚C em agitação orbital de 120 rpm. Foram coletadas amostras de 1,5 ml da solução tampão acetato de potássio do interior dos tubos ao longo de 58 dias. Após a coleta de cada amostra, o nível de solução dentro do tubo foi completado com o mesmo volume de solução tampão [5]. A concentração do fármaco na amostra coletada foi determinada por espectrofotometria UV-Vis. Para eliminar o erro produzido pela diluição da solução por inserção de solvente um fator de correção foi aplicado à concentração da amostra, conforme apresentado na Equação 1. pela manutenção dos níveis de fármaco na ferida em uma etapa mais tardia da cicatrização. 50 40 30 20 10 0 0 10 20 30 40 50 60 T e m po (D ia s ) Figura 1 - Liberação acumulada de metronidazol. Conclusões As membranas fabricadas, principalmente àquelas contendo plastificante, são eficientes para a liberação controlada de metronidazol. Nas condições avaliadas, o processo de liberação ocorre em duas etapas: uma rápida, provavelmente associada a dessorção do fármaco presente na superfície, e outra lenta, associada à processo difusionais. O sistema estudado tem potencial aplicação contra o patógeno Porphyromonas gingivalis. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq e PROCAD/CAPES pelo apoio financeiro, à PHB Industrial S/A pela doação da matéria-prima. Referências [1] Magini, Ricardo de Souza. 2009. Publicação Eletrônica em Reabilitação Oral. [Online] [2] Shishatskaya, et al. J. Mater. Sci.: Mater. Med. (2008), 19, pp. 2493–2502. [3] Griffiths, G. S., et al., Journal of Clinical Periodontology. (2000), 27, pp. 910-917 [4] Costa, M.F. e Thiré, R.M.S.M. (2011 Biomaterias em Odontologia: princípios, métodos investigativos e aplicações, V. 2, VM Cultural, São Paulo. [5] Shifrovitch, Yael, et al. Journal of Periodontology. (2009) pp. 330-337. [6] Poulet, PP, et al. Journal of Clinical Periodontology. (1999), Vol. 26, pp. 261-263 Painel PEMM 2012 – 24, 25 e 26 de outubro de 2012 – PEMM/COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil