UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE OLIVIA MORGAN LAPENTA Efeito da Neuromodulação em ritmo Mu durante Observação e Mentalização de Movimentos Biológicos e Não-Biológicos São Paulo 2012 OLIVIA MORGAN LAPENTA Efeito da Neuromodulação em ritmo Mu durante Observação e Mentalização de Movimentos Biológicos e Não-Biológicos Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de mestre. Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio São Paulo 2012 L311e Lapenta, Olivia Morgan Efeito da neuromodulação em ritmo Mu durante observação e mentalização de movimentos biológicos e não-biológicos – Olivia Morgan Lapenta. 2012 85 f. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2012. Referências bibliográficas: f. 69-79. 1. Mentalização motora. 2. Observação e ação. 3. Ritmo Mu. 4. Estimulação transcraniana por corrente contínua. 5. Sistema neurôniosespelho. 6. Córtex motor primário. I. Título. CDD 611.8 OLIVIA MORGAN LAPENTA Efeito da Neuromodulação em ritmo Mu durante Observação e Mentalização de Movimentos Biológicos e Não-Biológicos Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de mestre. Aprovada em _______________________ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio – Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM Prof. Dr. Felipe Fregni Harvard Medical School AGRADECIMENTOS Aos meus pais, João Lapenta Neto e Silvia Helena Mele Morgan Lapenta, pela liberdade de escolha, pelo incentivo, apoio e amor incondicional e minhas irmãs Bruna Morgan Lapenta e Julia Morgan Lapenta, por ouvirem milhares de vezes meu trabalho e o acharem incrível ainda que tudo que descrevam sobre ele seja: “Neurônios-Espelho”. Agradeço especialmente ao Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio por permitir que eu ousasse no tema e por incentivar todos os meus projetos, assim como pelo auxílio e dedicação em todas as etapas deste e de todos os outros estudos desenvolvidos em seu laboratório. Agradeço basicamente ao trabalho impecável como orientador, pois seria impossível descrever minha gratidão em termos de crescimento profissional e pessoal. Ao grupo do laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da UPM por transformarem o ambiente de trabalho praticamente em uma segunda casa. Sou grata, além da amizade, pelo trabalho cooperativo e todas as discussões e críticas que engrandeceram esse e tantos outros projetos desenvolvidos pelo grupo. Em especial as “tartarugas velhas” Cláudia Aparecida Valasek que escreveu comigo o capítulo de um livro que inspirou parte desse trabalho e Nathalia Ishikawa Baptista e Ana Carolina Alem Giglio por salvarem as ilustrações do trabalho. Aos integrantes da banca, Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo e Prof. Dr. Felipe Fregni pelas grandes contribuições durante a construção dessa dissertação. À minha irmã de coração, Maíra De Lamonica Guimarães pelas eternas risadas e à grande amiga Patrícia Rennó pelo ponto de apoio próximo a faculdade. Agradeço a ambas pelas sessões de desabafo e os momentos de alegria garantidos. Tudo sempre se torna mais leve com a presença de vocês! À Yuri Freire Basdadjian pelo apoio, paciência e carinho nesse caminho que vem sendo traçado. Por fim agradeço a todos os voluntários de pesquisa sem os quais este projeto jamais sairia do papel. “A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem os olhos abertos para o mistério passará pela vida sem ver nada.” Albert Einstein Apoio: Resumo A teoria de simulação mental sugere ativação da rede neural motora durante mentalização e execução de movimentos, de maneira análoga à ativação em observação e execução de ações, o que é mediado pelo Sistema de Neurônios-Espelho. Esta ativação pode ser mensurada por supressão do ritmo Mu registrado por eletroencefalografia. É proposto que a ativação de áreas motoras e, portanto, o aumento de excitabilidade cortical em cortex motor primário e a dessincronização do ritmo Mu ocorram em consequência de insumo proveniente do Sistema Neurônios-Espelho pré-motor. A estimulação transcraniana por corrente contínua consiste numa técnica de neuromodulação por facilitação e inibição de disparo neuronal levando a aumento e redução de excitabilidade cortical, respectivamente. Assim, foi proposto avaliar os efeitos polaridade dependentes desta técnica sobre ritmo Mu durante tarefas de observação e mentalização de movimentos biológicos e não biológicos. Para tal, aplicamos estimulação anódica, catódica e placebo em 21 homens destros (idade média de 23.8+3,06), sobre córtex motor primário esquerdo (2mA por 20min) e, em seguida foi feito o registro eletroencefalográfico considerando os eletrodos C3, C4 e entorno de C3 e C4 e Cz. A análise de C3 e C4 apresentou efeitos significativos quanto ao tipo de Movimento (p=0.005) e ainda quanto as interações entre tipo de estimulação e hemisfério (p=0.04) e tipo de estimulação, de movimento e hemisfério (p=0.02). A análise dos eletrodos do entorno revelou efeito significativo para a interação entre tipo de estimulação, condição da tarefa e tipo de movimento (p=0.03). Assim, os principais achados do estudo foram i. supressão de Mu para movimento biológico (em mentalização e observação) da região da mão em hemisfério contralateral após estimulação placebo, ii. efeitos inversos para eletrodos de entorno em condição de mentalização e iii. neuromodulação polaridade dependente de ritmo Mu. Os resultados de oscilação de Mu são discutidos considerando ERD focal/ ERS entorno de acordo com o tipo de tarefa. Concluímos que há dessincronização contralateral focal de Mu durante observação e mentalização de movimentos biológicos, acompanhada por sincronização de áreas motoras não envolvidas na tarefa apenas na condição de mentalização e que a estimulação transcraniana por corrente contínua tem efeito sob toda a superfície do eletrodo e difere de acordo com a polaridade aplicada. O uso da estimulação transcraniana por corrente contínua combinada com tarefas de observação e mentalização pode conferir uma estratégia interessante de intervenção em distúrbios envolvendo comprometimento das habilidades motoras bem como comprometimento de habilidades de imitação e compreensão das ações do outro. Palavras-chave: mentalização motora, observação de ação, ritmo Mu, estimulação transcraniana por corrente contínua, sistema neurônios-espelho, córtex motor primário. Abstract The Mental Simulation theory suggests activation of the motor network during imagery and execution of movements, similarly to the activation during observation and execution of actions, which is mediated by the Mirror Neuron System. This activation can be measured using eletroencefalography register of Mu rhythm suppression. It is propose that motor network activation and therefore increase of cortical excitability at primary motor cortex and Mu dessynchronization are due to premotor Miror-Neuron System inputs. Transcranial direct current stimulation is a neuromodulation technique that induce facilitation and inhibition of neural firing leading to enhance or decrease in cortical excitability, respectively. Thus, we propose to evaluate the polarity dependent effects of this technique in the Mu rhythm during biological and non-biological movements observation and imagery tasks. Therefore we applied anodal, cathodal and sham stimulation in 21 male subjects (mean age 23.8+3,06), over left primary motor cortex (2mA for 20min) and immediately after we registered the electroencephalography considering the electrodes C3, C4 and surrounding C3 and C4 and Cz. Analyses of C3 and C4 showed significant effects according to Movement (p=0.005), and also for the interactions between type of stimulation and hemisphere (p=0.04) and type of stimulation, movement and hemisphere (p=0.02). Surrounding electrodes analyses revealed significant effect for the interaction between stimulation type, task condition and movement type (p=0.03). Thus, the main findings of this study were i. Mu suppression for biological movement (in both imagery and observation) of the hand region in the contralateral hemisphere after sham stimulation, ii. reverse effect for the surrounding electrodes during imagery condition and iii. polarity-dependent neuromodulation of the Mu rhythm. The results are discussed considering focal ERD/ surrounding ERS according to the type of task. We concluded that there are contralateral focal Mu dessynchronization during observation and imagery of biological movements together with syncronizarion of the motor areas not involved in the task only for the imagery condition and that transcranial direct current stimulation has a significant effect under the entire electrode and according to the applied polarity. The use of transcranial direct current stimulation followed by observation and imagery tasks might be an interesting intervention strategy for disturbances involving motor ability impairment as well as deficits related to imitation and comprehension of other’s actions. Key-words: motor imagery, action observation, Mu rhythm, transcranial direct current stimulation, mirror-neuron system, primary motor cortex. LISTA DE ABREVIAÇÕES CP – Córtex Parietal CPD – Córtex Parietal Direito CPE – Córtex Parietal Esquerdo CPP – Córtex Parietal Posterior EEG – Eletroencefalografia EMT - Estimulação Magnética Transcraniana ERD – Dessincronização Relacionada ao Evento (Event-Related Desynchronization) ERP – Potencial Evocado Relacionado ao Evento (Event-Related Potential) ERS – Sincronização Relacionada ao Evento (Event-Related Synchronization) ETCC – Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua M1 – Córtex Motor Primário MB – Mentalização Biológica MEP – Potencial Motor Evocado (Motor-Evoked Potential) MM – Mentalização Motora MNB – Mentalização Não-Biológica MNS – Sistema Neurônios-Espelho (Mirror-Neuron System) NMDA – N-Metil-D-Aspartato OB – Observação Biológica ONB – Observação Não-Biológica RMF – Ressonância Magnética Funcional SNC – Sistema Nervoso Central STS – Sulco Temporal Superior TEA – Transtorno do Espectro do Autismo LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Desenho Experimental .................................................................. 48 Figura 2: Poder de Mu nos eletrodos C3 e C4 para Movimento Biológico e Não-Biológico ........................................................................................... 53 Figura 3: Poder de Mu nos eletrodos do entorno para as condições de Mentalização e Observação em movimento Biológico e Não-Biológico .... 55 LISTA DE TABELAS Tabela 1: ANOVA para medidas repetidas relativa ao poder de Mu em área envolvida na tarefa ............................................................................... 51 Tabela 2: ANOVA para medidas repetidas relativa ao poder de Mu em áreas não envolvidas na tarefa ...................................................................... 54 SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................................................... 11 1.1 Imagem Mental Motora ................................................................ 11 1.1.1 Mentalização Motora e o Sistema Neurônios-Espelho .. 11 1.1.2 Excitabilidade Cortical durante Imagem Mental .......... 17 1.2 Estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) ........ 25 1.3Mentalização Motora, Estimulação Não-invasiva e Reabilitação. 29 1.4 Eletroencefalografia ..................................................................... 31 1.4.1 Frequência Mu .............................................................. 33 1.4.2 Supressão das ondas Mu por Mentalização Motora...... 35 2. Objetivos ..................................................................................................... 41 2.1 Objetivos Gerais ........................................................................... 41 2.2 Objetivos Específicos ................................................................... 41 3. Método ....................................................................................................... 41 3.1. Participantes ................................................................................. 41 3.2. Instrumentos ................................................................................ 42 3.2.1 De caracterização da amostra ....................................... 42 3.2.2 De modulação do processamento neurofisiológico......... 42 3.2.3 De Coleta e Análise de dados Eletroencefalográficos.... 43 3.2.4 Tarefa de Observação e Mentalização de Movimento ... 44 3.3 Procedimento ............................................................................... 46 3.4 Considerações Éticas .................................................................... 48 3.5 Análise Estatística ........................................................................ 49 4. Resultados ................................................................................................... 50 5. Discussão .................................................................................................... 55 6. Conclusão ................................................................................................... 67 7. Referências ................................................................................................. 69 ANEXOS A.Inventário de Dominancia Lateral de Edimburgo ........................ 80 B. Termo de Consentimento Livre-Esclarecido ............................... 81 C. Carta de aprovação do Comitê de Ética ...................................... 83 11 1. Introdução 1.1 Imagem Mental Motora 1.1.1 Mentalização Motora e o Sistema Neurônios-Espelho Imagem mental (termo em inglês, imagery) consiste na mentalização de entradas sensoriais e motoras, podendo ser definida como um processo ligado à percepção em ausência de estímulo real externo (ANNETT, 1995; FARAH, 1984; KOSSLYN et al., 2001). A geração de uma imagem mental de movimento, referida como mentalização motora (MM) (em inglês, motor imagery), é baseada em propriocepção e mentalização visual. Para Decety e Grézes (2006), a imaginação, ou produção de imagem mental, apresenta vantagens adaptativas evolucionárias por permitir planejamento e antecipação das ações do outro, bem como o estabelecimento de empatia com o outro. A teoria de simulação mental traz como ideia básica que a rede neural motora seja ativada tanto na mentalização de ações motoras quanto na execução dessas mesmas representações (JEANNEROD, 2001), de maneira análoga à ativação em observação e execução de ações, o que é mediado por um sistema neuronal chamado de Sistema de Neurônios-Espelho (Mirror Neuron System - MNS) (RIZZOLATTI, FOGASSI, GALLESE, 2001; RIZZOLATTI, 2005). Os neurônios-espelho são um tipo especial de neurônios que disparam tanto quando um indivíduo realiza uma ação quanto quando ele observa uma ação semelhante realizada por outro individuo, ou ainda, na apresentação de palavras relacionadas a ação (e.g., chutar), que ativa áreas cerebrais relacionadas à execução da mesma (HAUK e PULVERMULLER, 2004) mostrando, dessa forma, integração multimodal dos sistemas 12 auditivo, visual e motor (RIZZOLATTI, 2005; LE BEL, PINEDA, SHARMA, 2009). O sistema responsável por essa ativação foi inicialmente descoberto na área F5 do córtex pré-motor de macacos, porém fortes evidências sugerem a existência de um sistema comparável na região homóloga do córtex pré-motor humano (FADIGA et al., 1995). O MNS é composto por uma rede de áreas, incluindo a pars opercularis do giro frontal inferior e sua área adjacente ventral (córtex frontal inferior), o lóbulo parietal inferior e o sulco temporal superior (STS), que são ativadas durante a observação e imitação de uma ação (HADJIKHANI et al., 2006). Segundo RIZZOLATTI; FOGASSI; GALLESE (2001) este sistema parece unificar no mesmo mecanismo neural, uma variedade de fenômenos que vão além dos comportamentos elementares, como facilitação da resposta, podendo também desempenhar um papel crítico em funções cognitivas superiores, como aprendizado da imitação e compreensão da ação e desenvolvimento da linguagem. A região de Broca, tradicionalmente vista como uma área relacionada à linguagem expressiva (fala), tem se demonstrado ativa nos estudos de neuroimagem, nos seres humanos, tanto na observação quanto na execução de ações sendo identificada como uma das regiões contendo neurônios-espelho (ARBIB, 2005). Gallese e Goldman (1998) levantaram ainda a hipótese de que além de ser parte ou realizar uma função precursora da habilidade geral de compreender o estado mental do outro (e.g. percepções, objetivos, crenças e expectativas) por mecanismos similares de observação e internalização da ação de outro indivíduo, os neurônios-espelho possam constituir parte de um sistema capaz de modular um plano para a execução de certa ação por meio da simulação mental da mesma, ou seja via mentalização motora (MM). Estudos de MM abordam duas técnicas de mentalização (i) em primeira pessoa (e.g. imaginar-se realizando ações) e (ii) em terceira pessoa (e.g., imaginar o outro 13 realizando ações) (RUBY, DECETY, 2001). Alguns autores não consideram a mentalização em terceira pessoa como MM por não produzir no participante a sensação de realização do movimento (DECETY, 1996; MUNZERT et al, 2009), outros demonstram que esse tipo de tarefa apresenta resultados próximos e tão relevantes quanto a mentalização em primeira pessoa (FOURKAS et al., 2006). Devido à relevância dos estudos de mentalização em terceira pessoa e das bases bem estabelecidas quanto ao funcionamento dos neurônios-espelho e o destaque que estes estudos vêm recebendo, consideraremos MM como tarefas de mentalização de movimento próprio e do outro, pois estas MMs bem como a observação de ação, podem ativar múltiplas áreas sensoriais e motoras, parecendo eliciar atividade cortical motora na ausência do movimento propriamente dito. Acredita-se que estas tarefas representem um estágio sutil da execução da ação delineada por áreas corticais tipicamente envolvidas em planejamento e execução motora, como área motora suplementar, córtex pré-motor e córtex motor primário (M1) (JEANNEROD, 2001). Sendo que o córtex pré-motor parece intimamente envolvido a três processamentos, (i) execução motora, (ii) observação da ação (RIZZOLATTI, CRAIGHERO, 2004) e (iii) mentalização motora (MICHELON, VETTLE, ZACKS, 2006). O estudo desses processamentos tem recebido destaque em função do avanço na compreensão dos mecanismos neuroplásticos consequentes de lesões medulares e, por sua vez, do uso de técnicas de MM como ferramentas que auxiliam ou funcionam como guia para efeitos plásticos bem-adaptados. Na última década, diversos estudos mostraram os efeitos neuroplásticos maladaptativos pós lesão medular (FLOR, NIKOLAJSEN, JENSEN, 2006). Nessa direção, já é bem estabelecido que tarefas motoras com componente supra-espinal podem ser re- 14 aprendidas por circuitaria espinal após lesão medular e, dessa forma, as intervenções visando reabilitação devem considerar aspectos fundamentais do aprendizado motor. Ademais, o objetivo de toda intervenção de reabilitação é a de prática de habilidades que possam ser transferidas a situações do cotidiano, para então, aumentar a função efetiva em novas situações (MARSH et al., 2011). O tipo de treinamento a ser aplicado, no entanto, é desafiador, uma vez que o sistema periférico está comprometido e disfuncional. Pensando na tripla ativação de áreas motoras durante mentalização, observação e execução de ações motoras, citada previamente, a MM pode representar uma alternativa interessante em intervenção/reabilitação e esta atividade, bem como observação de ação, vem sendo crescentemente utilizada como técnica auxiliar de reabilitação motora, até porque, o processo de mentalização da ação não é dependente da capacidade de executar um determinado movimento (DECETY, 1996). Isto abre margem para seu uso no aprendizado de novas habilidades ou auxílio no direcionamento dos mecanismos neuroplásticos adaptativos pós lesão medular. Estudos de imagem mental inicialmente utilizavam medidas comportamentais como tempo reportado para mentalização da ação e tempo real utilizado para a execução da ação em si (e.g. mentalização e execução de caminhada). Esses estudos obtiveram resultados similares de média de tempo em ambas as tarefas. Foi demonstrado, também, que artefatos sonoros e de fadiga muscular afetam ambas as situações em mesma proporção (para revisão ver MUNZERT et al., 2009). Os estudos mencionados utilizaram medidas subjetivas por apresentarem a desvantagem de depender do sujeito para dar a resposta após tarefa de imagem mental. Testes mais sofisticados de rotação mental, baseados em medidas implícitas, consistem em uma extensão de duração mental de movimentos por requererem simulação mental 15 da tarefa de rotação sendo análoga a rotação física tanto de objetos não biológicos (e.g., figuras abstratas e letras) (DESROCHER, SMITH, TAYLOR, 1995), quanto de membros corporais (e.g., mão) (GANIS et al., 2000) no espaço. Assim, segue-se a premissa de que execução e mentalização motora de rotação mental apresentam bases representacionais comuns e são menos propensas à alternativas de estratégias. Ademais, nestes é possível elaboração e registro computadorizado permitindo mensuração comportamental mais precisa (MUNZERT et al., 2009). Os avanços em neurociências na última década tornaram possível o estudo das interações multimodais (HUETTEL, SONG, McCARTHY, 2004) por meio de medidas de ativação neural que auxiliam na melhor compreensão quanto a geração e sustentação de MM e seu impacto em performance motora posterior. Diversas técnicas como ressonância magnética funcional (RMF) e tomografia por emissão de pósitrons (TEP), por estimulação cerebral não invasiva (EMT e ETCC), eletroencefalografia (EEG) e magnetoencefalografia (MEG) confirmam ativação de áreas motoras e evidenciam o envolvimento do MNS tanto durante a execução do movimento quanto em MM e observação de ação. Cramer et al. (2007) ilustra essa ativação comparando 10 controles saudáveis com 10 pacientes com lesão na medula espinhal e tetra paraplegia. Os dois grupos foram submetidos à avaliação antes e após 7 dias de treinamento por MM para língua e pés. Observando melhora significativa em velocidade do movimento dos músculos não paralisados e maior recrutamento de estruturas como o putâmen esquerdo, registrado por RMF, demonstrando que a MM melhora o comportamento motor independente de controle motor voluntário e feedback periférico. Michelon, Vettel e Zacks (2006) em tarefa de mentalização de movimento de rotação da mão, observaram ainda, por RMF, ativação contralateral (em relação à mão 16 imaginada) em MM e preparação motora bem como em execução motora em córtex motor primário (M1), área motora suplementar (AMS) e tálamo, e cerebelo ipsilateral. Esses dados corroboram os achados de Decety et al. (1992) de ativação de AMS em tarefa de mentalização de sequência de movimentos de dígitos indicando que AMS tem um papel importante para a programação interna e simulação de sequências motoras complexas. Há ainda evidências do envolvimento do córtex parietal posterior (CPP) durante MM. O CPP parece ser essencial para manter uma representação interna do estado/posição do membro efetor de movimento (e.g. mão) necessário para produzir uma relação consistente durante a execução da ação, tendo assim papel de unir as informações da atividade neural relacionada à trajetória e meta do movimento (DECETY, GREZES, 2006; MULLIKEN, ANDERSEN, 2009). Além disso, imagem por TEP tem contribuído para evidenciar importante na realização de que o CPP desempenha um papel processos necessários para a rotação mental (HARRIS et al., 2000). Além disso, estudos com RMF reportam ativação de redes fronto-parietais, prémotoras e frontais durante simulação mental de movimentos simples (e.g. flexão e extensão) e complexos (e.g. tocar piano) tanto em MM quanto na execução da ação propriamente dita (DECETY, 1996; MEISTER et al., 2004). Diversas pesquisas nessa linha demonstraram resultados semelhantes de MM, além de terapia do movimento, biofeedback eletromiográfico e robótica em pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) (para revisão ver RABADI, 2011). O uso de ferramentas como EMT e ETCC têm sido empregado na compreensão das estruturas motoras recrutadas em tarefas de mentalização e observação de ação, dos valores de excitabilidade cortical e dos mecanismos de neuroplasticidade assim como 17 novas estratégias de reabilitação, ou de aumento na velocidade de aprendizado de novas habilidades interferindo na melhora de desempenho, seja este comportamental ou cognitivo em sujeitos normais ou com patologias neurológicas e déficits neuropsicológicos (ROSSI, ROSSINI, 2004; WANG et al., 2010). 1.1.2 Excitabilidade Cortical durante Imagem Mental As técnicas de estimulação cerebral não invasiva podem alterar representações corticais motoras dos membros e, duas abordagens vêm sendo exploradas visando reabilitação por meio de ETCC e EMT i.e., aumento da excitabilidade cortical do hemisfério afetado usando estimulação ipsilateral (FREGNI et al., 2005; HUMMEL, COHEN, 2006) e redução da inibição interhemisférica provocada pelo hemisfério preservado sobre o hemisfério lesionado por meio de estimulação contralateral (BOGGIO et al., 2007; FREGNI et al., 2005; MANSUR et al., 2005). A EMT possibilita, além de neuromodulação, a mensuração de excitabilidade cortical via potencial motor evocado (motor evoked potential – MEP), geralmente registrado por eletroneuromiógrafo em diversos músculos das mãos e braços (NAJIB et al., 2011). EMT de pulso único permite medir a excitabilidade e condutividade corticoespinal de vias motoras, quando a mesma é aplicada em M1. Já EMT de pulso pareado permite investigar mecanismos intracorticais de facilitação e inibição (ROSSI, ROSSINI, 2004). Dessa maneira, a EMT confere uma medida biológica importante de ativação de áreas corticais envolvidas em diversas atividades. A intensidade do estímulo magnético aplicado para acessar o limiar motor é o minimamente necessário para evocar MEPs e assim não se espalha para áreas subjacentes (MATSUMOTO et al., 2010). Assim, esta nova tecnologia tem ganhado espaço nessa área de pesquisa, não apenas por seu potencial de facilitação em 18 determinadas tarefas e por apontar áreas cruciais de determinadas funções cognitivas e motoras (via produção de lesões virtuais), mas principalmente, no caso da MM por fornecer uma medida precisa dos efeitos de intervenção. Fadiga et al. (1999), utilizaram EMT para investigar se a excitabilidade do sistema cortico-espinal é seletivamente afetada por MM. Foram realizados registros de MEP do músculo das mãos e braços direito e esquerdo durante simulação mental de movimentos de flexão e extensão e EMT em córtex motor direito e esquerdo durante MM de abertura e fechamento contralateral das mãos. A MM foi conduzida por som (i.e., fase de aumento da frequência sonora indicava que deveriam mentalizar abertura da mão e em fase de diminuição da frequência indicava que deveriam mentalizar fechamento da mão). O padrão de excitabilidade durante MM simula de forma dinâmica o ocorrido durante a execução do movimento, isto é, a excitabilidade cortical durante MM é similar ao observado durante movimentação real. Além disso, EMT no córtex motor esquerdo aumentou a excitabilidade córtico-espinal em MM ipsilateral e contralateral e EMT em córtex motor direito levou a facilitação do efeito induzido por MM apenas nos movimentos contralaterais. Tais resultados mostram, com o uso de EMT, o papel da MM como estratégia de neuromodulação de estruturas cerebrais motoras. Estudo posterior avaliou efeito da MM em movimento abdutor do polegar por registro de MEPs com EMT. Foi realizada a mensuração não apenas dos músculos envolvidos na tarefa, no caso o músculo abdutor curto do polegar (ipsilateral e contralateral), mas também de um músculo “controle”, não envolvido na tarefa, para averiguar se a mentalização teria um efeito músculo-específico de acordo com o movimento instruído na tarefa. A mentalização levou a aumento da amplitude dos MEPs apenas no músculo do abdutor do polegar contralateral, confirmando 19 especificidade focal. Além disso, este estudo avaliou ainda o limiar motor antes e após a tarefa verificando redução deste, o que está de acordo com aumento de excitabilidade cortical (FACCHINI et al., 2002). Essa especificidade muscular é confirmada por aumento de excitabilidade em M1 concomitante a redução de inibição intracortical tanto em MM quanto em observação de movimento de flexão de dedo próprio ou de outro indivíduo (PATUZZO, FIASCHI, MANGANOTTI, 2003). Conforme comprovada a excitabilidade cortical aumentada durante MM em tarefas simples, pesquisas avançaram para tarefas de imagem mental mais complexas, envolvendo movimentação biológica e não biológica, em primeira e em terceira pessoa, com e sem envolvimento de objetos e ainda combinando ações dirigidas ou sem sentido. Nessa direção, Fourkas et al. (2006) comparou MEPs nos músculos interósseo dorsal e abdutor do dedo mínimo durante a aplicação de EMT de pulso único durante quatro tarefas: de MM realizadas em primeira e terceira pessoa, imagem mental visual (i.e. movimento não biológico) e imagem mental estática (i.e., perspectiva, em primeira pessoa, de mão imóvel). MM em relação a imagens estáticas resultou em aumento da excitabilidade no músculo interósseo dorsal, mas não em abdutor do dedo mínimo. A facilitação demonstrada pelo aumento dos MEPs em músculo interósseo dorsal foi observada na condição de imagem mental de terceira pessoa (na qual a ação foi claramente atribuída a outra pessoa). Os autores atribuem os resultados obtidos na mentalização do movimento em terceira pessoa à ativação do sistema de neurôniosespelho (FOURKAS et al., 2006). Roosink e Zijdewind (2010), ao realizarem o estudo comparando a excitabilidade cortico-espinal durante observação de movimento sequenciado simples e complexo dos dedos indicador, médio, anelar e mínimo em três condições e suas combinações (MM, execução e observação), observaram que a excitabilidade foi 20 aumentada em todas as condições em relação à excitabilidade de repouso, sendo este aumento maior durante a observação ativa em relação a passiva e MM visual ou cinestésica. A dificuldade da tarefa também influencia na mudança da excitabilidade cortical de modo que tarefas mais complexas resultaram em excitabilidade maior. Os autores sugerem ainda que o aumento da excitabilidade cortico-espinal encontrado durante a observação ativa e durante a MM pode ser o resultado de um aumento da atividade cortical combinado com alterações a nível da coluna vertebral. Ademais, Vargas et al. (2004) demonstraram com uso de EMT que posição postural compatível ao movimento a ser mentalizado pode resultar em maximização do efeito mensurado por MEPs (i.e., potenciais maiores e abrangendo maior área) enquanto posições incompatíveis resultam em minimização deste efeito, tendo ainda correlação com o tempo levado para execução da tarefa, i.e., em posturas compatíveis a mentalização é mais rápida. Shimura e Kasai (2002) propõem que a posição facilitatória do membro aumentaria a excitabilidade cortical e espinal devido a um maior insumo sensorial periférico. Ainda que essa hipótese não possa ser excluída, o efeito modulatório da posição do membro pode ser decorrente puramente do SNC já que a posição da mão real daria um sinal discrepante ao da postura a ser mentalizada. Nas pesquisas com ação dirigida e com uso de objetos são levantadas hipóteses acerca do conhecimento tátil de um objeto ou, ainda, da presença deste em mãos durante a tarefa de imagem mental. É interessante ressaltar alguns estudos elaborados visando avaliar possíveis influências destas circunstâncias na excitabilidade córtico-espinal. Mizuguchi et al. (2009) propuseram que os participantes se imaginassem apertando uma bola, ora com a bola em mãos, ora sem ter nada nas mãos. A comparação e monitoramento de MEPs no músculo dorsal interósseo (mão) nas duas situações após a 21 aplicação de EMT no córtex motor permitiu verificar maior amplitude na condição com bola em mãos. Tal resultado sugere que o toque da bola reforce a MM, sendo este originado por algumas mudanças da via cortico-espinal e não da via aferente do córtex somatossensorial, uma vez que potenciais evocados somatossensorias foram medidos e não houve modulação dos mesmos na situação “segurando a bola” (MIZUGUCHI et al., 2009). Seguindo a mesma premissa, Cesari, Pizzolato e Fiorio (2011) sugerem que durante MM, o sistema cortico-espinal seja modulado de forma músculoespecífico/compressão específica. Após EMT sobre M1, os autores avaliaram os MEPs dos músculos interósseo dorsal, abdutor do dedo mínimo e flexor superficial dos dedos em duas tarefas – execução motora de preensão de esferas de diferentes dimensões e MM de preensão destas mesmas esferas, com o advento que assim já teriam conhecimento do material e dimensão do objeto que deveriam mentalizar em mãos. Foi observado mesmo padrão de ativação para esferas pequenas (i.e. flexor interósseo dorsal mais ativado em relação ao abdutor do dedo mínimo e flexor superficial) e esferas grandes (i.e. maior ativação de abdutor do dedo mínimo e flexor superficial) para ambas as situações. Estas ativações são explicadas pela tendência de precisão na preensão de objetos pequenos, levando a preensão em pinça e, em contraste, para objetos grandes é necessário usar os cinco dígitos, gerando este padrão de ativação muscular. No caso das esferas médias todos os músculos foram ativados de forma similar, um padrão ocorrido quando se utilizam mais de dois dígitos na preensão de objetos (ANSON et al.,2002; HASEGAWA et al., 2001; TINAZZI et al., 2003). Aparentemente o processo predominantemente necessário para planejamento de preensão ocorre principalmente por ativações musculares de acordo com as 22 propriedades do tipo de movimento e forma da mão mais adequada para tal movimento (CESARI, PIZZOLATO, FIORIO, 2011). Já em relação à aplicação de força, estudos indicam que este planejamento ocorra de forma separada já que a ativação motora obtida neste tipo de tarefa, é mais precisa durante execução da ação em relação a facilitação registrada durante MM (CESARI, PIZZOLATO, FIORIO, 2011; PARK, LI, 2011). Enquanto as alterações de excitabilidade parecem ter sido bem esclarecidas se tratando de tarefas de movimentos simples de articulação única, se tratando de movimentos do dia-a-dia envolvendo diversos músculos, são encontradas divergencias entre índivíduos quanto a ativação músculo-específica. Por meio de projeção de movimentos (i.e., o estímulo previamente filmado era projetado de forma que o movimento observado parecesse estar sendo realizado pelo próprio indivíduo), foi encontrada maior excitabilidade cortical em relação à condição repouso, porém em diferentes magnitudes de focalidade para cada sujeito. Apesar das variações entre indivíduos o padrão foi constante para todas as tarefas no mesmo indivíduo, sugerindo que alguns indivíduos tenham maior habilidade de precisão no mapeamento dos movimentos observados em seu próprio repertorio motor e que esse tipo de resposta seja válida para diversas ações do dia-a-dia, ou ainda que este resultado se deva a diferentes direcionamentos de atenção durante a observação (HETU et al., 2010). Com isso, a partir dos estudos feitos até então, podemos concluir que a EMT confere medidas precisas de excitabilidade cortical e confirma o aumento da atividade bem como a redução de limiar motor em áreas corticais motoras durante o processo de imagem mental relacionada à motricidade. Tais achados são importantes na medida em 23 que sinalizam a possibilidade de estratégias de mentalização como ferramenta de neuromodulação e recrutamento de estruturas cerebrais motoras. Além das áreas motoras, devido à técnica de mentalização envolver “visualização mental” e controle da trajetória mental dos movimentos, como mencionado previamente o CPP é uma área também envolvida. Alguns estudos com EMT foram feitos buscando investigar o papel dessa estrutura cortical na MM. Fleming et al. (2010) realizaram dois experimentos a fim de investigar o envolvimento do córtex parietal nas funções de MM. No primeiro estudo, participantes realizaram mentalização de motricidade de membro superior durante RMF. Os autores observaram ativação de CPD e CPE. No segundo experimento, os participantes foram instruídos a imaginar a mesma sequência de movimentos enquanto recebiam a EMT no córtex parietal direito ou esquerdo. Ao final de cada mentalização, deveriam posicionar o membro no modo correto com a sequência mentalizada. Os autores observaram prejuízo no desempenho da tarefa após EMT ativa em relação a placebo e, com isso, argumentam que EMT interferiu nos processos de mentalização da sequência motora. Diversos trabalhos com EMT buscaram também responder questões de assimetria inter-hemisféricas relacionadas à MM, entretanto os resultados são bastante divergentes. Fadiga et al. (1999), encontraram maiores efeitos de MEPs no hemisfério motor dominante. Outros estudos encontraram maior excitabilidade do hemisfério não dominante (YAHAGI, KASAI, 1998; KUHTZ-BUSCHBECK et al., 2003). E, por vezes, as assimetrias inter-hemisféricas não são observadas (FACCHINI, 2002; FLEMING et al., 2010). Considerando que MM induz mudança na excitabilidade cortical sendo está passível de mensuração com o uso de EMT, alguns autores têm investigado a relação entre MM e excitabilidade cortical em algumas patologias específica. 24 Liepert et al. (2009, 2011) investigaram tal relação em pacientes com paresia psicogênica. Em contraste com os dados de aumento da excitabilidade em M1 e CP durante tarefas de imagem mental, estudos em sujeitos com paresia psicogênica de membro superior e inferior mostraram diminuição de excitabilidade cortical em M1 durante mentalização de ação dos membros afetados. Os pacientes em questão apresentam MEPs de MM inferiores aos MEPs de repouso, sugerindo inibição do sistema motor durante a tarefa, e aumento regular de excitabilidade motora durante observação de outro sujeito realizando o mesmo movimento; em consonância com o que é geralmente encontrado tanto em sujeitos saudáveis como em pacientes neurológicos. Os autores especulam que essa discrepância possa constituir o substrato eletrofisiológico da inabilidade de se mexer voluntariamente em distúrbios de conversão motora, mostrando o envolvimento crucial da mentalização no planejamento da ação e, levantam ainda o papel importante da perspectiva em terceira pessoa sugerindo, nesses casos, que o foco de atenção do paciente em outra pessoa possa ser a melhor forma de aplicação terapêutica (LIERPERT et al.,2009; LIEPERT et al., 2011). Outra condição que vem sendo investigada dessa forma é o autismo. Em estudo de avaliação dos MEPs em tarefa de observação de movimentação de dedos, realizada em grupo controle e grupo autista pareados por sexo e idade, foi demonstrado que no grupo de autistas a excitabilidade cortical é significativamente menor em comparação ao grupo controle e, além disso, a observação dos movimentos dos dedos facilitou o potencial evocado motor gerado por EMT no grupo controle, mas não no grupo de autistas. Os achados são discutidos a luz de estudos prévios sobre o comprometimento do MNS nesse grupo (THÉORET et al., 2005). Tais resultados sinalizam novas possibilidades de se investigar as bases neurais dos déficits cognitivos e sociais característicos no autismo. 25 Sendo assim, os substratos neurais envolvidos na compreensão e realização dessas tarefas podem estar comprometidos e as técnicas de modulação cerebral se apresentam como ferramentas que modulam a excitabilidade, podendo aumentá-la nesses casos, o que possivelmente resultaria em efeito facilitatório nesses grupos com funcionamento cortical anormal e, dessa forma, funcionando como ferramenta de intervenção. 1.2 Estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) A história do uso de corrente elétrica aplicada em seres humanos remonta a períodos anteriores à própria descoberta de como se gera corrente elétrica. Scribonius Largus, médico na Roma antiga (43-48 DC) observou súbita letargia transitória e concomitante alívio de dor ao colocar um peixe elétrico vivo sobre o escalpe de paciente com dor de cabeça, direcionando, desta forma, uma forte corrente elétrica direta. Plinio, o velho, e Claudius Galeno reproduziram estes resultados, percebendo que o benefício deveu-se ao torpor e efeito narcótico induzido pela transferência de eletricidade do peixe elétrico (PRIORI, 2003). Alessandro Volta em 1792 reconheceu que o estimulo elétrico de durações variadas pode evocar diferentes efeitos fisiológicos; desenvolveu, ainda, a pilha voltaica, permitindo a geração de eletricidade e seu uso sistemático (BOGGIO, 2006). A partir dos estudos de Luigi Galvani, na Bolonha (1791-1797), que foram um marco nas pesquisas com eletricidade, foi criado o termo “correntes galvânicas” para a indução de corrente direta em tecidos. Assim, após estes experimentos, as correntes galvânicas foram prontamente aplicadas em medicina clínica, particularmente em distúrbios mentais (PRIORI, 2003). 26 Aldini realizou estudos preliminares também em cadáveres e na cabeça de humanos recentemente guilhotinados, obtendo contração muscular facial nos mesmos. Augistin e Grapengiesser também utilizaram correntes galvânicas como técnica de tratamento por estimulação ou sedação (PRIORI, 2003). A história da eletrofisiologia tem inicio com a descoberta dos efeitos biológicos da estimulação transcraniana, sendo esta muito efetiva na modulação do disparo neuronal espontâneo (PRIORI, 2003). A renovação e elaboração de novas técnicas têm gerado um novo destaque à estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) nos estudos atuais (BOGGIO, 2006). A ETCC é utilizada como ferramenta não invasiva de neuromodulação via polarização cerebral. Utiliza-se o uso de corrente elétrica de baixa densidade (1-2mA) por meio de dois eletrodos (usualmente 5x7cm ou 5x5cm) no escalpe (BOLOGNINI; PASCUAL-LEONE; FREGNI, 2009). A carga elétrica flui sem mudança de direção, polarizando tecidos; até mesmo fraca corrente contínua passa pelo escalpe e influencia a atividade cerebral humana (PRIORI, 2003). Os efeitos modulatórios da atividade cerebral decorrente da estimulação direta no escalpe por corrente elétrica podem surgir através de diversos mecanismos básicos que concorrem para alterar a função da membrana neural (ARDOLINO et al., 2005). O tecido exposto é polarizado e a ETCC modifica a excitabilidade e atividade neuronal espontânea por meio de despolarização ou hiperpolarização do potencial de repouso da membrana (NITSCHE et al., 2008). Os efeitos de longa duração são dependentes de síntese de proteínas acompanhado de modificações intracelulares de níveis de cálcio e AMPc (NITSCHE et al., 2008). Mudanças nas propriedades e número de canais de íons podem afetar a 27 propagação neuronal da atividade e contribuir para a plasticidade não-sináptica (ARDOLINO et al., 2005). Um importante fenômeno induzido por corrente contínua nos tecidos é a eletrólise da água, H+ e OH- gerados por eletrólise e dissociados poderiam mudar o balanço ácido-base pela indução de acidose ou alcalose que, por sua vez, notavelmente afeta a membrana, o receptor, e a função da célula. Como as mudanças do pH intracelular e de [Ca²+] são intimamente correlacionadas, a hipótese de N-metil-Daspartato (NMDA) como receptor-mediador da depressão sináptica a longo-prazo é um possível mecanismo. Os resultados devem, entretanto, ser interpretados com cuidado, pois o dextrometorfano em altas doses pode também inibir, de forma não específica, canais de voltagem dependente ou não de NMDA (ARDOLINO et al., 2005). Mudanças de pH sobre a polarização do eletrodo poderia também afetar a função da membrana externa da sinapse direta e indiretamente, assim modificando a atividade do sistema NMDA (ARDOLINO et al., 2005). Aplicação transcraniana até mesmo com corrente fraca direta induz o fluxo de corrente intra-cerebral o suficiente para ser eficaz na alteração de atividade neuronal e comportamental (NITSCHE et al., 2008). A eficácia nesta modificação depende da densidade da corrente, que determina a intensidade do campo elétrico induzido, e tamanho do eletrodo. Também é relevante o tempo de estimulação, que determina a ocorrência e duração de efeitos de longo prazo. Outro parâmetro importante é a orientação do campo elétrico, que é geralmente definido pelo posicionamento e polaridade dos eletrodos. A corrente flui do eletrodo carregado negativamente para o eletrodo carregado positivamente, assim do cátodo para o ânodo (NITSCHE et al., 2008). Segundo PURPURA e McMURTRY (1964) estimulação anódica produz uma despolarização do corpo celular de neurônios 28 piramidais; já a estimulação catódica gera resultados opostos, produzindo uma hiperpolarização, assim, estimulação anódica do córtex aumenta a excitabilidade cortical podendo induzir melhora de desempenho em algumas tarefas devido a aumento da atividade da área estimulada, enquanto o oposto ocorre pela estimulação catódica (NITSCHE, PAULUS, 2000). Evidências de que a ETCC no escalpe pode também induzir mudanças prolongadas de excitabilidade cerebral que persistem após o término da estimulação, abre a possibilidade de novos estudos sobre seus efeitos em diferentes distúrbios neurológicos. Alguns estudos sinalizam que seu efeito pode induzir mudanças persistentes na excitabilidade cortical podendo durar até cerca de 1h (PRIORI, 2003). É importante, também, ressaltar que a técnica é considerada segura e com efeitos colaterais mínimos. Segundo NITSCHE et al. (2008), a ETCC aplica correntes com intensidades muito mais baixas, sendo danos ao tecido bastante improváveis. A geração de toxinas produzidas e a dissolução de produtos dos eletrodos poderiam ocasionar lesão cerebral pela formação de produtos tóxicos causados pela interação dos eletrodos com o córtex cerebral (NITSCHE et al., 2003), entretanto os eletrodos da interface eletrodo-tecido estão em contato direto apenas com a pele e não com o córtex cerebral oferecendo riscos apenas no contato com a pele, pois não há interface cérebro-eletrodo; sendo a técnica realizada com eletrodos envoltos em esponja mergulhada em água salina, as reações químicas na interface de pele e eletrodos são minimizadas, não apresentando riscos (NITSCHE et al., 2008). POREISZ et al. (2007), revisaram e resumiram os efeitos adversos encontrados em estudos laboratoriais em 567 sessões de ETCC. Os autores encontraram mais comumente leve sensação de formigamento, fadiga moderada e coceira leve sob os eletrodos durante as sessões. Após a estimulação dores de cabeça, náuseas e insônia 29 foram reportadas muito raramente e, em geral, são encontradas também após ETCC placebo. Assim, é sugerido que a aplicação de ETCC sobre áreas corticais motoras e nãomotoras (occiptal, parietal e temporal), seguindo as diretrizes de segurança da técnica, provoca efeitos adversos relativamente pequenos em humanos (POREISZ et al., 2007). 1.3 Mentalização Motora, Estimulação Não-invasiva e Reabilitação Na literatura foram encontrados poucos estudos utilizando ETCC concomitante a MM. O primeiro estudo nessa direção está relacionado à movimentação e mentalização motora (QUARTARONE et al., 2004) e outro mais recente aborda o uso concomitante das técnicas para o tratamento de dor neuropática (SOLER et al., 2010). Investigando os efeitos da ETCC e MM, Quartarone (2004) realizou aplicação de ETCC sobre M1 correspondente ao primeiro músculo interósseo dorsal direito avaliando excitabilidade cortical com MEPs de repouso e de MM de abdução do dedo indicador antes e 10, 20, 30 e 60min após 5 minutos de ETCC a 1mA (catódica, anódica e placebo) e compararam com o efeito da mesma tarefa de MM sem ETCC. A estimulação anódica (ETCCa) apresentou efeito significativo apenas em MEP de repouso sem efeitos em MEP de MM. Os autores justificam esses achados considerando que a MM por si só produz aumento na excitabilidade cortical e que, sendo assim, pode ter ocorrido efeito teto. Já após a estimulação catódica (ETCCc), foram observadas redução de amplitude em 30% em MEP de repouso, e em 50% em MEP com MM. Após 10 min de estimulação os MEPs de repouso retornaram aos valores de linha de base enquanto os MEPs de MM se mantiveram suprimidos por 30 min, mostrando efeitos mais prolongados na combinação dessas estratégias. A estimulação placebo 30 (ETCCp) não provocou alterações de MEP em relação ao grupo que realizou mentalização sem uso da estimulação (QUARTARONE et al., 2004). Os autores sugerem ainda, baseados em estudos de neuroreabilitação por estimulação cortical não invasiva, que a ETCCa possa reforçar a fase de aquisição e consolidação de aprendizado motor em pacientes neurológicos e, sabendo-se que a MM auxilia de maneira análoga a estes, a combinação dessas técnicas pode ainda ser eficaz. Quanto a ETCCc, é discutido seu uso acerca da regulação de excitabilidade durante tarefas manuais em condições de aumento anormal de disparo neuronal e aprendizado motor anormal (QUARTARONE et al., 2004). Na investigação dos efeitos de MM e ETCC sobre dor neuropática, Soler et al. (2010) elaboraram uma forma de MM com técnicas de observação por espelho virtual i.e., pacientes sentados observavam a parte superior corporal em espelho comum e a parte inferior corporal em um espelho virtual gerando imagens de caminhada. Pacientes com lesão medular foram divididos em 4 grupos: ETCCa + ilusão visual de caminhada (combinação), ETCCa + ilusão controle (ETCC); ETCC placebo + ilusão visual de caminhada (ilusão visual) ou ETCCp + ilusão controle (placebo). As sessões de estimulação tiveram duração de 20 minutos e a corrente aplicada foi de 2mA. Foi feita a comparação dos efeitos de tratamento isolado e combinado de MM e ETCCa sobre M1 por meio de escalas de dor e medidas de excitabilidade cortical, com EMT, antes e depois do tratamento e ainda na 2ª, 4ª e 12ª semana após o tratamento. Foi constatada melhora significativamente maior no grupo que recebeu combinação dos tratamentos em relação a todas as outras situações, sendo que essa melhora persistiu até a 12ª semana. Tal resultado demonstra a eficácia da combinação de neuromodulação por ETCC com MM no tratamento de dor neuropática pós lesão medular, com efeitos colaterais mínimos. 31 1.4 Eletroencefalografia Uma forma não invasiva de mensurar a atividade cerebral é por meio da técnica de eletroencefalografia (EEG) que mede diretamente a atividade cerebral, registrando os campos elétricos e magnéticos gerados por populações neurais, através da captação por eletrodos fixados no escalpe sendo, portanto, uma avaliação não-invasiva (OTTEN, RUGG, 2005). Os dados eletrofisiológicos apresentam como vantagem principal em relação a técnicas de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional, medidas a alta precisão temporal (MICHEL et al., 2004; LANTZ et al., 2003; MENENDEZ et al., 2004; ORTIGUE et al., 2004). Segundo Galambos (1992) há diferentes tipos de atividade oscilatória, ou seja, de variações na atividade cerebral que ocorrem por questões fisiológicas básicas ou em decorrência de alterações do meio: espontânea (totalmente não relacionada à condição experimental), induzida (relacionada à condição experimental, mas não estritamente ao momento do estímulo) e evocada (estritamente relacionada ao momento da condição experimental dos eventos apresentados, tem a mesma fase em cada repetição do estímulo). Dessa forma, há dois tipos de medidas geralmente analisadas em condição experimental, os potenciais evocados relacionados a eventos (Evoked-Related Potencial – ERP), que consistem em oscilações mensuradas em segmentos de milissegundos relacionadas a fases de processamento de estímulos externos evocados no momento de apresentação do evento, e dessincronização/sincronização relacionada a eventos (EventRelated Desynchronization/Synchronization – ERD/ERS), que consistem em oscilações das amplitudes em faixas de frequência de atividade elétrica cerebral, registradas em áreas específicas do córtex, estas são geralmente analisadas em segmentos de segundos 32 e podem trazer insights sobre correlações cognitivas funcionais desses sinais induzidos por condição experimental (RIPPON, 2006). Ambos os potenciais evocados mencionados consistem em sinais produzidos e registrados que representam uma somatória de ativações locais e são importantes para mensuração e compreensão de processamentos motores e cognitivos (OTTEN, RUGG, 2005), sendo que os potenciais evocados podem ser considerados resultados de reorganização das fases dos sinais de EEG em andamento (SAYERS et al.,1974) devido a estímulos internos e externos. Em seu primeiro relato sobre EEG, Hans Berger (1929) descreveu as ondas alfa e beta, estas apresentam oscilações de aproximadamente 10 Hz e 12-30 Hz, respectivamente. As ondas alfa parecem associadas a diversos processos cognitivos sendo os mais importantes: memória, atenção, e consciência visual. Ainda que pesquisadores suponham que os geradores de atividade alfa estejam no córtex, eles são provavelmente orientados por células talâmicas (HERRMAN, GRIGUTSCH, BUSCH, 2005). Desde este estudo, sabe-se ainda que certos eventos podem bloquear ou dessincronizar as ondas cerebrais e, portanto, o padrão oscilatório das frequências de ondas, restritos a um período (PFURTSCHELLER, LOPES DA SILVA, 1999). Assim, esses fenômenos relacionados a eventos representam alterações específicas da atividade corrente de EEG consistindo, em termos gerais, em diminuição ou aumento do poder (amplitude) de certa faixa de frequência, o que parece ser decorrente de diminuição (ERD) ou aumento da sincronia (ERS) das populações neurais subjacentes, respectivamente (PFURTSCHELLER, 1977; PFURTSCHELLER, ARANIBAR, 1977; PFURTSCHELLER, 1992). 33 Os fatores que determinam as propriedades oscilatórias descritas são: as propriedades intrínsecas da membrana neuronal e a dinâmica do processo sináptico, a força ou extensão das interconexões entre elementos da rede, comumente formados por loops de feedback tálamo-cortical ou córtico-cortical e as influências de modulação de sistemas neurotransmissores gerais ou locais (PFURTSCHELLER, LOPES DA SILVA, 1999). Em resumo, podemos definir que ERPs representam respostas de neurônios corticais a alterações de atividade aferente, enquanto ERD/ERS refletem alterações da atividade de interações locais entre neurônios principais e inter-neurônios que controlam a frequência dos componentes do EEG em andamento. 1.4.1 Frequência Mu Diferentes faixas de frequência são distinguíveis dentro da faixa de extensão de alfa, sendo definidos dois padrões distintos que podem ser observados: dessincronização menor de alfa, que consiste em uma faixa de freqüência vai de aproximadamente 7a 10Hz e dessincronização maior de alfa, que consiste em uma faixa de freqüência de aproximadamente 10 a 12Hz. A primeira é obtida em resposta a quase todo tipo de teste e é topograficamente generalizada na área recrutada do escalpe, provavelmente refletindo demanda ao teste e processos atencionais. Já a segunda faixa é comumente restrita topograficamente e se desenvolve durante o processamento de informação sensorial-motora específica em áreas parieto-ociptais (PFURTSCHELLER, LOPES DA SILVA, 1999). A frequência alfa (maior e menor) referente a insumos sensório-motores, registrada na região de C3 e C4 por sua especificidade recebeu a nomenclatura própria de frequência Mu. 34 A frequência Mu foi descrita inicialmente por Gastaut e Bert (1954) e denominada ritmo mu ou rolândico ou ainda ritmo em arco (“rhythms en arceau”). Os autores notaram supressão desse ritmo quando sujeitos se identificavam com personagens, observados em um filme, que estavam realizando movimentos. Foi então denotada como atividade registrada na ausência de processamento sensorial ou atividade motora (GASTAUT, BERT, 1954; NEIDERMEYER, 1999; WOLPAW et al., 2002). Há divergências quanto ao valor adotado da faixa de frequência de Mu, sendo mais comumente aceito que as ondas Mu consistem em oscilações de cerca de 8-13Hz com duração de curtos períodos (de 0.5s a 2s) (PINEDA, 2008). Como já mencionado, está na mesma faixa de frequência das ondas alfa, porém essas ondas recebem diferentes nomenclaturas por refletirem diferentes atividades e serem registradas em áreas cerebrais distintas (HERRMAN, GRIGUTSCH, BUSCH, 2005). Essa faixa de frequência pode ser observada durante estado de repouso em áreas sensório-motoras e, dados recentes evidenciam que as alterações desse padrão de frequência parecem refletir de forma indireta a atividade dos neurônios do córtex prémotor (HARI, 2006; PINEDA, 2008; PERKINS et al., 2010). Os ritmos Mu aparecem geralmente associados com ritmo beta (McFARLAND et al., 2000; WOLPAW et al., 2002); por vezes estas duas oscilações se apresentam de forma harmônica porém, alguns estudos mostram que estes são separáveis por topografia e tempo parecendo características independentes do EEG (McFARLAND et al., 2000). As ondas Beta apresentam faixa de frequência acerca de 12-30 Hz e são investigadas no contexto de ações motoras, sendo suprimidas durante a realização de movimentos, porém aumentadas aproximadamente 1 s após o término do movimento, o que é denominado de efeito rebote. É registrada topograficamente próxima às regiões 35 sensório-motoras da parte corporal envolvida no movimento efetuado (HERRMAN, GRIGUTSCH, BUSCH, 2005). Sua fonte principal parece ser o cortéx motor primário, enquanto as fontes geradores das ondas Mu parecem localizados no córtex somatosensorial (CHEYNE et al., 2003; HARI et al., 1998; ROSSI et al., 2002), ainda que sua supressão seja um reflexo da atividade do córtex motor primário. 1.4.2 Supressão das ondas Mu por Mentalização Motora A supressão do ritmo mu registrado pelo EEG parece refletir o sistema subjacente a funções de mentalização, observação e execução. Dados neurofisiológicos humanos mostraram que a atividade rítmica de áreas sensório-motoras primárias, especificamente as ondas Beta (~20 Hz) e Mu (~10 Hz), exibem modulação consistente com a hipótese de que estes substratos neurais têm um papel funcional no sistema neurônios-espelho humano (HARI et al., 1998; JARVELAINEN et al., 2001; MUTHUKUMARASWAMY, JOHNSON, 2004). Em 1994, Pfurtscheller e Neuper relataram que ambos movimento e MM produzem dessincronização de Mu e Beta nas áreas sensório-motoras contralaterais (PFURTSCHELLER, NEUPER, 1994). Assim, a mentalização vem sido abordada como uma maneira efetiva de controlar as amplitudes dos ritmos Mu e Beta, podendo ter um papel importante na comunicação baseada em EEG e, na interface cérebro máquina (WOLPAW, McFARLAND, 1994; McFARLAND et al., 2000) . McFarland et al. (2000) porém, levantam as diferenças topográficas das ondas Mu e Beta, sendo Mu focada em CP3 e CP4 e Beta com foco mais difuso em torno do vértex sendo então argumentado que a atividade de Beta não seja um resultado harmônico da forma não sinusoidal da atividade rítmica de Mu mas sim uma atividade 36 independente. Dessa forma, iremos priorizar as pesquisas com supressão do ritmo Mu que vem sendo extensamente estudado desde então. A reatividade dos ritmos corticais rolandicos proporciona uma janela acessível para a interessante conexão entre percepção e ação e, às relações do sujeito com o meio e outras pessoas. Diversos estudos têm utilizado essa medida eletrofisiológica na investigação do papel dos neurônios em espelho durante testes motores e cognitivos avaliando ainda balanceamento inter-hemisférico e relação entre excitação e inibição cortical (para revisão ver HARI, 2006). É proposto que o aumento de excitabilidade cortical em M1 e consequentemente a dessincronização no ritmo Mu ocorra devido ao insumo proveniente do MNS prémotor, pois dados neurofisiológicos humanos mostram que a atividade rítmica de áreas sensório-motoras primárias exibe modulação consistente com a hipótese de que estes substratos neurais tenham papel funcional no MNS humano (JARVELAINEN et al., 2001; MUTHUKUMARASWAMY, JOHNSON, 2004). A reatividade do cortéx motor reflete, ainda, funções do giro frontal inferior (IFG) que, possivelmente com o lobo parietal inferior, pode ter um papel de interface para conexões de percepção-ação e para modelos internos de avanço e retrocesso (NISHITANI et al., 2005). Devido ao ritmo Mu ser um indicador indireto de possível atividade dos neurônios-espelho por inferência de que a dessincronização de neurônios sensóriomotores seja decorrente da atividade do MNS, o EEG é um dos métodos que vem sendo utilizado para investigar a atividade do MNS humano tanto em população saudável quanto em autistas (PERKINS et al., 2010). A ativação dos neurônios pré-motores e o consequente aumento de excitabilidade cortical e ERD de Mu ocorre em decorrência de diversos mecanismos. Além da realização do movimento em si, situações de observação de movimentos 37 (BUCCINO et al., 2001; MUTHUKUMARASWAMY, JOHNSON, 2004), observação de pontos de luz agrupados de forma que simulem movimento humano (ULLOA, PINEDA, 2007), mentalização de movimentos próprio ou do outro (McFARLAND et al., 2000; RUBY, DECETY, 2001; FOURKAS et al., 2006; FRANCUZ, ZAPALA, 2011), e até mesmo percepção de movimento em imagens estáticas (GIROMINI et al., 2010; PINEDA et al., 2011) resultam em aumento de excitabilidade cortical do córtex pré-motor e consequente redução da amplitude das ondas Mu. Essa atividade provoca disparos neuronais assincrônicos que resultam em redução na oscilação do ritmo Mu no córtex sensório-motor, ou seja, ERD ou supressão do ritmo Mu. As correspondências de ação-percepção intra e inter indivíduos, são refletidas na reatividade do córtex motor já na primeira infância (FECTEAU et al., 2004; LEPAGE, THÉORET, 2006). Lepage e Théoret (2006) investigaram se em crianças com idade abaixo dos 11 anos já se podia observar a supressão do ritmo Mu identificada em adultos durante observação de ação/movimento das mãos. Os autores observaram um sistema de observação/execução relacionado à atenuação do ritmo Mu nessa população, que sabe-se estar em processo de maturação cerebral. Francuz e Zapala (2011) elaboraram tarefa de mentalização baseada na habilidade de identificar objetivos das ações motoras; um dos principais elementos da teoria de neurônios espelho (RIZZOLATTI, SINIGAGLIA, 2008). Para tal, os sujeitos aprendiam movimentos de um peão em tabuleiro de xadrez e então realizavam tarefa em duas condições, em observação do movimento completo ou mentalização, aonde inicio do movimento era apresentado e o sujeito deveria mentalizar a finalização do movimento, sendo que este movimento apresentado poderia ser realizado com o peão apenas ou com o peão sendo movimentado por mão humana. Os resultados mostram 38 supressão de Mu similar para ambas as condições tendo o efeito maior magnitude na condição de observação (FRANCUZ, ZAPALA, 2011). Nessa linha, Oberman et al. (2005, 2007) também investigaram a relação de frequências entre 8-13Hz durante tarefas de observação e execução. Em voluntários saudáveis, observa-se supressão desta banda de frequência durante execução e observação de ações. Porém, estudos com voluntários autistas, mostram padrão eletrofisiológico diferente (OBERMAN et al., 2005; BERNIER et al., 2007) e, apesar de esta supressão anormal de Mu não ser bem conhecida e estabelecida em população com autismo (RAYMAEKERS, WIERSEMA, ROEYERS, 2009) os estudos realizados mostram dados bastante importantes. Oberman et al. (2005) apresentaram vídeos de movimento biológico (e.g., mão) e não biológico (e.g., esferas) e pediram que os sujeitos realizassem movimentos com suas mãos. O registro eletroencefalográfico concomitante a essas tarefas foi feito em participantes com diagnóstico de autismo e bom desempenho cognitivo e grupo controle, pareados por sexo e idade. O grupo controle apresentou supressão no ritmo Mu tanto na tarefa de observação quanto na de execução de movimentos com a mão. Já os participantes com diagnóstico de autismo apresentaram supressão do ritmo Mu durante execução, mas não durante observação, sustentando a hipótese de um MNS disfuncional no autismo. Bernier et al. (2007) investigaram os padrões de atenuação do ritmo Mu durante observação, execução e imitação de movimentos e correlacionaram com testes comportamentais de imitação. Foram comparados 14 adultos com diagnóstico de autismo de alto funcionamento com 15 adultos pareados por QI e idade. Na tarefa de imitação, os adultos com autismo apresentaram desempenho pior; na tarefa com EEG, os dois grupos apresentaram atenuação do ritmo Mu na tarefa de execução de ação; já 39 para a tarefa de observação, os autistas apresentaram redução de atenuação significativa no ritmo Mu quando comparado com o outro grupo; os autores observaram correlação entre a tarefa de imitação e o grau de atenuação das ondas Mu. Com isso, os diferentes resultados para supressão de Mu em população com autismo sugerem que há uma disfunção no sistema de observação/execução em pessoas com autismo e, que isto se relaciona com grau de prejuízo nas habilidades de imitação (BERNIER et al., 2007), conferindo suporte adicional a teoria do envolvimento dos neurônios espelho, visto que diversos trabalhos defendem prejuízo nesse sistema para esta população específica (IACOBONI, MAZZIOTA, 2007; CATTANEO, RIZZOLATTI, 2009; OBERMAN, RAMACHANDRAN, 2007). Ademais, alguns estudos reportam diferenças inter-hemisféricas quanto a magnitude do efeito de supressão de Mu (OBERMAN et al., 2007) enquanto outros reportam que não há diferenças significativas (ULLOA, PINEDA, 2007). Quanto a essa questão, o estudo de Francuz e Zapala (2011) levanta uma questão metodológica importante que parece influenciar esse dado. Ao avaliar diferença de supressão considerando o registro de 8 eletrodos, em cada hemisfério, ao redor de C3 e C4 não foram observadas diferenças enquanto em análise de apenas dois eletrodos, C3 e C4 propriamente ditos, foi observado efeito mais robusto de mentalização do lado direito do escalpe. Para ambas as análises os demais efeitos observados são os mesmos. Assim, quanto maior o número de eletrodos analisados, maior a variância e menor a probabilidade de encontrar diferenças inter-hemisféricas (FRANCUZ, ZAPALA, 2011). Vale ressaltar, também, que a supressão de Mu é de 15-20% mais robusta para observação ao vivo em relação às observadas em vídeo (JARVELAINEN et al., 2001). Por fim, dado que os sinais eletroencefalográficos provenientes da MM estão associados a áreas corticais diretamente conectadas aos canais motores cerebrais e estes 40 serem suprimidos em condição de movimento ou preparação para movimento, particularmente no hemisfério contralateral (PFURTSCHELLER e NEUPER, 1994; MCFARLAND et al., 2000), é sugerido que o ritmo Mu consista em um bom sinal de medida de ativação do MNS e, ainda, para comunicação baseada em EEG, podendo suportar mecanismos de interface entre cérebro e máquina (WOLPAW et al., 2002). Quanto à combinação da técnica de imagem mental com estimulação nãoinvasiva, visando maximizar os efeitos já conhecidos, apenas um estudo avaliou este impacto. Por meio de medidas de EMT e EEG, foi observada maior excitabilidade cortical em M1 e maior ERD de Mu na condição anódica e menor excitabilidade cortical em M1 e menor ERD na condição catódica em relação ao placebo (MATSUMOTO et al., 2010). Portanto, a combinação de ETCC e MM parece uma interessante alternativa. Contudo, a amostra do trabalho foi de apenas 6 sujeitos e a análise estatística foi realizada de forma pouco criteriosa (e.g., utilizando diferentes tipos de post hoc: ora LSD, ora teste t). Ademais esses dados não foram comparados a situações de observação ou execução do movimento. Sendo assim, o presente estudo se justifica pela possibilidade de elucidar os efeitos da ETCC sobre uma amostra maior para possível inferência dos efeitos sobre a população geral e ainda, verificar os efeitos da ETCC em ondas Mu na observação do movimento e sua comparação com a situação de mentalização. 41 2. Objetivos 2.1 Objetivos Gerais Avaliar o efeito da estimulação transcraniana por corrente contínua em registro eletroencefalográfico de ondas Mu durante tarefa de observação e mentalização de movimentos. 2.2 Objetivos Específicos Avaliar efeitos polaridade dependente de ETCC anódica, catódica e placebo em supressão de ritmo Mu durante condições de observação e mentalização de movimento biológico e não biológico. Avaliar a supressão do ritmo Mu durante tarefas de observação e mentalização de movimento biológico comparando com a condição controle. Avaliar a supressão do ritmo Mu durante tarefas de observação e mentalização de movimento não biológico comparado a situação controle. Comparar supressão de Mu durante observação e mentalização de movimento biológico e não biológico. 3. Método 3.1 Participantes Participaram do estudo 21 voluntários do sexo masculino, destros (atestado pelo inventario de lateralidade de Edimburgo reduzido), com idade média de 23.8+3,06, com ensino superior completo ou em curso, visão normal ou corrigida e não portadores de doenças neurológicas ou psiquiátricas. 42 3.2 Instrumentos 3.2.1 De Caracterização da Amostra Foram coletados dados de caracterização sócio-demográfica por meio de preenchimento de ficha de dados sócio-demograficos e em seguida foi aplicado o Inventário de Dominância Lateral de Edimburgo – versão reduzida (anexo A) para confirmar que os voluntários recrutados fossem todos destros. 3.2.2 De modulação do processamento neurofisiológico Equipamento de estimulação transcraniana por corrente contínua. O equipamento utilizado para gerar corrente contínua é constituído basicamente por quatro componentes principais: eletrodos (ânodo e cátodo), amperímetro (medidor de intensidade de corrente elétrica), potenciômetro (componente que permite a manipulação da intensidade da corrente) e um jogo de baterias para gerar a corrente aplicada. A fonte de energia elétrica é obtida através da associação em série de 3 baterias de 9 volts resultando em uma tensão total de 27 volts. Esta tensão é aplicada nos extremos de um potenciômetro (reostato) com resistência igual a 100 kOhms. A função do potenciômetro é de possibilitar uma tensão ajustável variando de 0 até 27 volts. Os eletrodos fazem com que a corrente elétrica se transmita do fio metálico para o participante; são feitos de borracha condutora de eletricidade e no momento da estimulação são envolvidos em esponja embebida em solução fisiológica. Os eletrodos utilizados neste experimento têm dimensões de 5cmx7cm. Utilizam-se, ainda, cintas elásticas para fixar os eletrodos no escalpe. 43 3.2.3 De Coleta e Análise de dados Eletroencefalográficos Equipamento de EEG a) Aparelho de Eletroencefalografia de 128 canais da marca Electrical Geodesics, Inc (EUA) modelo EEG System 300. Este equipamento é composto por amplificador modelo Net Amps 300, transformador com isolamento, braço articulado para suporte do amplificador, licença para software de aquisição e análise dos dados Net station, 6 redes de eletrodos modelo hydrocel da Geodesic (tamanhos: bebê, pediátrica pequena, pediátrica grande, adulto pequeno, adulto médio, adulto grande), CPU Macintosh para aquisição dos dados, monitor de 23” para acompanhamento dos dados, câmera de vídeo digital Sony, software para cálculo de fontes geradores dos sinais (GeoSource Estimation Software), pacote para Potencial Evocado relacionado a Evento (PST, Inc - EUA), estação de trabalho E-prime para acoplar ao EEG (Net Station), computador de mesa Dell, hardware para os experimentos (microfone, caixa de repostas, cabos, adaptador para barra de resposta para o sistema EGI), monitor LCD 17” com vídeo splitter e switch, barra de resposta para EGI, single clock, AV device. b) EGI Net Station software para aquisição, visualização e análise dos dados de EEG coletados. E-Prime Software para sincronização com a coleta do EGG que permite a apresentação dos estímulos (vídeos) da tarefa. 44 3.2.4 Tarefa de Observação e Mentalização de Movimento A tarefa é composta por duas condições experimentais uma condição controle para cada situação (observação e mentalização), sendo a situação de observação sempre seguida de sua mentalização correspondente (e.g., observação de movimento biológico seguida de mentalização de movimento biológico). Cada condição é apresentada por duas vezes, de forma randomizada. A tarefa total tem duração aproximada de 18minutos (Figura 01). Observação a) Observação de Movimento Biológico (OB) Instrução de observar atentamente o movimento e contar quantas vezes o mesmo pausa. O vídeo consiste em movimento de pinça de alta amplitude com frequência de aproximadamente 1 Hz, realizado com a mão direita - 2 blocos de vídeos de 80s, sendo apresentadas de duas a quatro vezes, figuras estáticas do movimento por 1s. b) Observação de Movimento Não-Biológico (ONB) Instrução de observar atentamente o movimento e contar quantas vezes o mesmo pausa. O vídeo consiste em duas esferas de mesmo tamanho se aproximando e distanciando em mesma angulação da condição biológica com frequência de movimento de 1 Hz - 2 blocos de vídeos de 80s, sendo apresentadas de duas a quatro vezes, figuras estáticas do movimento por 1s. c) Controle 1 Instrução de observar atentamente o movimento. O vídeo consiste em ruído branco – 2 blocos de vídeos de 80s. 45 Mentalização a) Mentalização de Movimento Biológico (MB) Instrução de fechar os olhos e imaginar-se realizando com a mão direita o movimento de abertura e fechamento em pinça na mesma frequência do movimento observado na condição de observação de movimento biológico. Para guiar a mentalização foi utilizada pista sonora de metrônomo, constituindo 2 blocos de mentalização biológica de 80s, sendo cada sessão apresentada em seguida da condição de observação de movimento biológico b) Mentalização de Movimento Não-Biológico (MNB) Instrução de fechar os olhos e imaginar a visualização do mesmo movimento de esferas observado na condição de observação, com a mesma frequência de tal. Para guiar a mentalização foi utilizada pista sonora de metrônomo, constituindo 2 blocos de mentalização não-biológica de 80s, sendo cada sessão apresentada após cada uma das sessões da condição de observação não biológica. c) Controle 2 Instrução de fechar os olhos e imaginar a visualização de ruído branco. Foi utilizada a mesma pista sonora dos demais blocos garantindo que esse fator não interferisse na avaliação das tarefas. Foram apresentadas 2 blocos de mentalização controle de 80s, sendo cada sessão apresentada após cada uma das sessões de condição de observação controle. 46 Para evitar efeitos sonoros na tarefa, na condição de observação é apresentado o mesmo som da pista sonora de metrônomo da condição de mentalização. 3.3 Procedimento Participantes que contemplaram todos os critérios de inclusão e exclusão descritos anteriormente foram convidados a participar do estudo. Para tal, foi solicitado o consentimento livre esclarecido de cada participante após serem-lhe explicados os objetivos, métodos, benefícios e riscos potenciais do estudo. Assim, ao chegarem ao laboratório os sujeitos responderam a ficha de dados demográficos. Em seguida, os participantes foram encaminhados a uma sala preparada para os procedimentos, com iluminação adequada e sem interferência de ruídos ou movimentação/circulação de pessoas. Foi medida a circunferência da cabeça do sujeito e marcados o vértex e M1. Anterior ao registro de EEG, os sujeitos receberam em cada um dos três dias de teste um tipo diferente de estimulação (placebo, anódica ou catódica), descritas a seguir, por 20min. A ordem das estimulações foi randomizada e contrabalanceada entre os sujeitos. Os participantes foram alertados para o fato de que poderiam receber tanto estimulação placebo quanto ativa, porém não sabiam em que momento se daria cada uma delas. Estimulação anódica do córtex motor primário (ETCCanódica) – ânodo posicionado em C3 conforme sistema internacional 10-20 de EEG e cátodo supraorbital contralateral; 47 Estimulação catódica do córtex motor primário (ETCCcatódica) – cátodo posicionado em C3 conforme sistema internacional 10-20 de EEG e ânodo supraorbital contralateral; Estimulação placebo (ETCCplacebo) - ânodo posicionado em C3 conforme sistema internacional 10-20 de EEG e cátodo supraorbital contralateral; Na estimulação placebo, o aparelho de ETCC foi ligado por 20 segundos para que o participante tivesse as mesmas sensações das outras etapas e, em seguida o aparelho foi desligado. Tal procedimento vem sendo continuamente descrito e tem se mostrado eficaz na condução de estudos com grupo placebo. Imediatamente após a ETCC, foi colocada a touca de 128 canais do EEG na cabeça do voluntario, a touca é previamente preparada ficando por 5 min imersa em solução 1L de água morna com 11g de cloreto de potássio e 5ml de xampu neutro infantil. O tempo para o posicionamento e verificação do funcionamento da touca foi de 10-15min. O participante sentou-se em poltrona confortável a 110cm do monitor do computador, e recebeu instruções orais detalhadas para a execução da tarefa. Em seguida, teve inicio a tarefa, que foi realizada três vezes (em versões randomizadas) por cada voluntário em dias diferentes, sendo esses encontros separados por intervalo mínimo de 48h. O desenho experimental do estudo está ilustrado na figura 1. 48 Figura 01 – Desenho Experimental. A ordem dos vídeos de observação foi randomizada, sendo exibido, em seguida, a mentalização correspondente. Os eletrodos de entorno são: entorno de C3 (29, 30, 35, 37, 41, 42), Cz e entorno de C4 (87, 93, 103, 105, 110, 111) do sistema de EEG de 128 canais da marca Electrical Geodesics, Inc (EUA) modelo EEG System 300. O símbolo sonoro indica os momentos em ocorria o estimulo auditivo do metrônomo. 3.4 Considerações Éticas Os procedimentos experimentais adotados para o estudo obedeceram às normas estabelecidas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie que aprovou este projeto de pesquisa registrado no SISNEP (Processo CEP/UPM no 1423/11/2011 e CAAE no 0117.0.272.000-11). Todos os participantes foram orientados, tendo pleno conhecimento dos objetivos e métodos do experimento e deveriam ler a carta de informação ao sujeito de pesquisa e fornecer seu consentimento livre esclarecido por escrito. Foram também devidamente avisados de que todas as informações fornecidas são estritamente sigilosas. 49 3.5 Análise Estatística O registro do EEG inicialmente passou por uma fase de pré-processamento que contém: a) filtro de 1Hz (Highpass Filtering); b) filtro de 30Hz (Lowpass Filtering); c) segmentação - remoção dos 10s iniciais e finais de cada bloco (eliminando a possibilidade de efeitos transitórios atencionais devido ao início e término do estímulo) e segmentação do traçado em janelas de 2000ms; d) detecção de artefatos - foram considerados artefatos e, consequentemente removidos: i) os canais com variação MaxMin maior que 200μV, ii) aqueles com mais de 20% de artefatos, iii) segmentos com mais de 10 canais ruins ou com excessiva piscagem; e) combinação dos segmentos gerando uma média para os trials de cada condição; f) re-referenciamento dos eletrodos; g) correção de linha de base a partir de 200ms anteriores a cada segmento. Após o pré-processamento foi realizado o pós processamento. Neste momento foi integrada a taxa de poder de amplitude de 8-11Hz aplicando Wavelet Analyses (utilizamos janela do tipo Cosinus com comprimento de onda de 0.10s; considerando frequency step=0.98Hz e frequency scale factor=11.00). Em seguida, o dado foi extraído e calculamos a razão do poder de Mu durante observação e mentalização experimental pelo poder de Mu em controle 1 e controle 2, respectivamente. Por fim, para todas as condições de ETCC foi aplicado logaritmo de base dois na razão obtida (condição experimental/condição controle). Esse método tem sido amplamente aplicado em análises de poder do ritmo mu (OBERMAN et al., 2005, 2007; GIROMINI et al., 2010; PINEDA et al., 2011) A partir dos dados obtidos na fase de pós-processamento, foi realizada análise estatística com o pacote statistica 8. Foram realizadas duas análises de ANOVA para medidas repetidas considerando como fatores: ANOVA1 - condição (observação vs. mentalização); movimento (biológico vs. não-biológico), estimulação (ETCCa vs. 50 ETCCc vs. ETCCp), hemisfério (C3 (eletrodo 36) vs. C4 (eletrodo 104)); ANOVA2 – condição (observação vs. mentalização); movimento (biológico vs. não-biológico), estimulação (ETCCa vs. ETCCc vs. ETCCp), eletrodos (entorno de C3 (eletrodos 2930-35-37-41-42) vs. entorno de C4 (eletrodos 87-93-103-105-110-111) vs. Cz)). Análise post hoc foi realizada quando encontrados efeitos significativos. Adotamos α=5%. 4. Resultados Todos os participantes recrutados completaram o experimento completo e tiveram seus dados utilizados na análise. Nenhum participante relatou desconforto ou apresentou efeitos adversos pela aplicação da ETCC. A seguir estão apresentados os dados relativos ao poder de Mu considerando condição, movimento, hemisfério (eletrodos relacionados à área envolvida na tarefa) e tipo de estimulação. Esta análise diz respeito aos efeitos observados nos eletrodos C3 e C4. 51 Tabela 01 – ANOVA1 para medidas repetidas considerando os Fatores ETCC, Condição, Movimento e Hemisfério (eletrodos das áreas motoras envolvidas na tarefa – C3 e C4). p ηp2 0.41 0.67 0.02 1.05 0.32 0.05 Movimento 10.20 0.005 0.34 Hemisfério 0.22 0.65 0.01 ETCC*Condição 2.70 0.08 0.12 ETCC*Movimento 1.20 0.31 0.06 Condição*Movimento 0.20 0.66 0.01 ETCC*Hemisfério 3.41 0.04 0.15 Condição*Hemisfério 0.03 0.85 0.002 Movimento*Hemisfério 0.92 0.35 0.04 ETCC*Condição*Movimento 1.39 0.26 0.07 ETCC*Condição*Hemisfério 0.46 0.63 0.02 ETCC*Movimento*Hemisfério 4.18 0.02 0.17 Condição*Movimento*Hemisfério 1.42 0.25 0.07 ETCC*Condição*Movimento*Hemisfério 0.13 0.88 0.006 Fatores F ETCC Condição Como pode ser observado na Tabela 01, foram encontrados efeitos significativos para o fator Movimento (F1,20=10.2; p=0.005; ηp2=0.3) e para as interações ETCC*Hemisfério (F2,40=3.4; p=0.04; ηp2=0.1) e ETCC*Movimento*Hemisfério (F2,40=4.2; p=0.02; ηp2=0.2). Foram realizadas análises post-hoc com teste Fisher LSD para as interações significativas. Como pode ser observado na Figura 02 a análise post-hoc para interação ETCC*Hemisfério mostrou diferença significativa entre ETCCc e ETCCa no eletrodo 52 C3 (p=0.016), i.e. ETCCc sobre C3 resultou em supressão de Mu nesta área em relação à ETCCa independente do tipo de movimento. A análise post-hoc da interação ETCC*Movimento*Hemisfério mostrou diferença significativa entre C3 e C4 no movimento biológico em ETCCa (p=0.001), i.e. ausência de supressão de Mu em C3 concomitante a supressão de Mu em C4; em ETCCp (p=0.02) e ETCCc (p=0.004) i.e. ambas supressão de Mu apenas em C3 e não em C4; movimento biológico e não biológico em C3 para ETCCp (p=0.005) i.e. supressão de Mu em movimento biológico e aumento do poder de Mu em movimento não-biológico; Movimento biológico e não biológico no hemisfério direito em ETCCa i.e. maior supressão de Mu para movimento biológico em relação à não biológico em C4 (p=0.01); diferença em C3 no movimento não biológico entre ETCCc e ETCCp (p=0.02) e ETCCa (p=0.03) i.e. maior supressão de Mu em movimento não biológico após ETCCc em relação as demais estimulações; na condição biológica ETCCa difere de ETCCp em hemisfério esquerdo (p=0.002) e direito (p=0.02) e de ETCCc em hemisfério esquerdo (p=0.001) e direito (p=0.01) i.e. menor supressão de Mu em ETCCa à esquerda em relação à ETCCp e ETCCc à esquerda e maior supressão de Mu em ETCCa à direita em relação à ETCCp e ETCCc (Figura 02). 53 Figura 02 – Análise post-hoc Fisher LSD das interações ETCC*Hemisfério e ETCC*Movimento*Hemisfério. A ANOVA2, descrita a seguir, apresenta os resultados relativos ao poder de Mu considerando condição, movimento, eletrodos (entorno de C3, entorno de C4 e Cz) e tipo de estimulação. Os dados estão apresentados na tabela 2 e na Figura 3. 54 Tabela 02 – ANOVA2 para medidas repetidas considerando os Fatores ETCC, Condição, Movimento e Eletrodos da área não relacionada a tarefa. p ηp2 0.62 0.55 0.03 Condição 3.54 0.07 0.15 Movimento 3.75 0.07 0.16 Eletrodo 1.68 0.20 0.08 ETCC*Condição 1.10 0.34 0.05 ETCC*Movimento 0.31 0.74 0.02 Condição*Movimento 0.17 0.68 0.01 ETCC*Eletrodo 0.58 0.67 0.03 Condição*Eletrodo 0.91 0.41 0.04 Movimento*Eletrodo 0.28 0.76 0.01 ETCC*Condição*Movimento 3.66 0.03 0.15 ETCC*Condição*Eletrodo 1.42 0.24 0.07 ETCC*Movimento*Eletrodo 1.03 0.40 0.05 Condição*Movimento*Eletrodo 0.61 0.55 0.03 ETCC*Condição*Movimento*Eletrodo 1.96 0.11 0.09 Fatores F ETCC Na análise estatística dos dados obtidos a partir do registro dos eletrodos Cz e ao redor de C3 e C4, revelou efeito significativo apenas para a interação ETCC*Condição*Movimento (F2,40=3.66; p=0.03; ηp2=0.15). Devido a ausência de efeito significativo para o fator eletrodo, os resultados desta análise serão referidos na discussão como dados do entorno. A análise post-hoc da interação ETCC*Condição*Movimento revelou diferença significativa para ETCCa em MNB em relação a MB, i.e., supressão de Mu em MB e tendência a zero em MNB (p=0.028); ETCCa em ONB em relação a MNB, i.e, dessincronização em ONB e sincronização em MNB (p=0.048); ETCCc em OB em 55 relação a MB, i.e., dessincronização em OB e tendência a zero em MB (p=0.00004) e entre ETCCa e ETCCc em MB, i.e, supressão e sincronização, respectivamente (p=0.011); ETCCc e ETCCa (p= 0.023) e ETCCp (p=0.05) em OB, i.e., supressão de maior magnitude em estimulação catódica. Houve ainda uma tendencia para ETCCc resultar em supressão de OB em relação a ONB (p=0.06); de diferença entre sincronização em MB e dessincronização em OB na condição placebo (p=0.09); de dessincronização e sincronização durante MB em ETCCa e ETCCp, respectivamente (p=0.09) (Figura 03). Figura 03 – Análise de post-hoc Fisher LSD da interação ETCC*Condição*Movimento 5. Discussão Os principais achados deste estudo foram i. ocorrência de supressão de Mu para movimento biológico (em mentalização e observação) da região da mão em hemisfério 56 contralateral ao movimento em condição placebo, ii. efeitos inversos para eletrodos de entorno em situação de mentalização e iii. modulação da supressão de Mu de forma polaridade dependente como efeito da ETCC. É bem estabelecido que preparo, execução e, ainda, observação e imaginação de movimento produz ERD em áreas sensorio-motoras na faixa de frequência de cerca de 10 Hz, denominada ritmo Mu (NEUPER, PFURTSCHELLER, 1999, PFURTSCHELLER, ARANIBAR, 1977, PINEDA, 2005). Este fenômeno é relatado, geralmente, como mais intenso em situações de execução (NEUPER et al., 2006) ou observação (FRANCUZ, ZAPALA, 2011) em relação a situação de MM. Neuper e Pfurtscheller (1999) mostraram ainda que a dessincronização de Mu durante MM da mão é similar à situação pré-movimento, i.e., localmente restrita a área contralateral. No presente estudo, não foi encontrada diferença significativa entre tarefa de observação e de mentalização, observando-se supressão em ambos os casos. Tal supressão foi observada apenas para movimento biológico. Isto encontra-se de acordo a literatura e, ainda, com a teoria de simulação mental, i.e. ativação da rede neural motora em mentalização, observação e execução de mesmo movimento de forma mediada pelo MNS (JEANNEROD, 2001; RIZZOLATTI, FOGASSI, GALLESE, 2001; RIZZOLATTI, 2005), por mecanismos de observação e internalização da ação de outro indivíduo (em condição de observação) e por mecanismos de modulação de um plano para a execução própria de certa ação por meio da simulação mental da mesma (no caso de MM) (GALLESE, GOLDMAN, 1998). O resultado encontrado corrobora achados de ativação cerebral registrado por RMF (MICHELON, VETTEL, ZACKS, 2006; DECETY, 1996; MEISTER et al., 2004) e ainda dados prévios de supressão de Mu apenas em observação e mentalização de movimento biológico humano propriamente 57 dito (BUCCINO et al., 2001; MUTHUKUMARASWAMY, JOHNSON, 2004; OBERMAN et al., 2005; FRANCUZ, ZAPALA, 2011) ou por indução de percepção do movimento biológico humano (ULLOA, PINEDA, 2007; GIROMINI et al., 2010; PINEDA et al., 2011). A dessincronização do ritmo Mu ocorreu de forma contralateral ao movimento observado ou mentalizado, o que está alinhado com alguns estudos (e.g., OBERMAN et al., 2007) e divergente de outros (e.g., ULLOA, PINEDA, 2007). Alguns pesquisadores atribuem a diferença inter-hemisférica ao tipo de tarefa, e.g., ocorrendo de forma contralateral apenas em preparo e mentalização de ação e espalhando-se de forma difusa em ambos os hemisférios nas demais condições (NEUPER, PFURTSCHELER, 1999). Outros autores atribuem esses dados à questões metodológicas como o número de eletrodos utilizados na análise. Argumenta-se que quanto maior o número de eletrodos analisados, maior a variância e menor a probabilidade de encontrar diferenças interhemisféricas (FRANCUZ, ZAPALA, 2011). Ambas as abordagens são coerentes porém, na presente análise, verificamos além de diferenças inter-hemisféricas, diferença lateral (i.e., relativa a área, independente do hemisfério). Ou seja, observamos diferentes padrões oscilatórios na tarefa de mentalização biológica entre os eletrodos do entorno em relação ao eletrodo C3 propriamente dito. Este efeito não foi observado para C4 em comparação aos eletrodos do entorno. Já na tarefa de observação biológica, o padrão oscilatório das áreas não envolvidas na tarefa é similar ao observado em C3 (exceto para o registro após ETCCa). Sendo assim, os mecanismos subjacentes ao balanço interhemisférico e lateral destas tarefas parecem mais complexos, sofrendo efeitos em função da tarefa realizada – mentalização vs. observação. Nesse sentido, são discutidos modelos sobre a manifestação focal ou difusa do ritmo Mu. 58 A teoria do ERD focal/ ERS circundante (elaborada a partir da observação de ERD e ERS ocorrendo no mesmo momento em diferentes locais do escalpe) levanta a hipótese de que a sincronização de Mu seja produzida para desativar áreas corticais como uma forma de inibição cortical lateral de redes não diretamente envolvidas com a tarefa (SUFFCZYNSKI et al., 1999). Esta teoria é baseada e corroborada por estudos mostrando supressão de Mu em área cortical específica relacionada a tarefa (substrato funcional da tarefa relativo ao mapa tipicamente descrito como homúnculo de Penfield) acompanhada de aumento do poder de Mu em áreas não relacionadas a tarefa (NEUPER et al., 2006; PFURTSCHELLER, NEUPER, 1994; PFURTSCHELLER et al., 2006). Nessa direção, Neuper et al. (2006) registraram com EEG as oscilações de Mu nos eletrodos C3 e Cz durante repouso e 5 condições experimentais: repouso com estimulação periódica de nervo medial, manipulação de cubo com a mão, mentalização de manipulação de cubo com a mão, movimento contínuo do pé, mentalização de movimento contínuo do pé. Após cada estímulo de nervo medial foi observado ERD de Mu em C3. Os autores observaram (em relação a situação de repouso) i. redução do poder de Mu em C3 durante manipulação ativa do cubo e, também, em menor grau, durante mentalização da manipulação do cubo; ii. redução do poder de Mu em Cz na condição de movimento do pé e, iii. redução do poder de Mu em Cz acompanhado de aumento do poder de Mu em C3 na condição de mentalização de movimento de pé. Os autores argumentam que a tarefa de execução não requisita alto direcionamento atencional, não conduzindo à sincronização de Mu ao redor da área do pé. Em contrapartida, a situação de mentalização é mais complexa e requer alto direcionamento atencional resultando em dessincronizaçao de Mu da área envolvida na tarefa concomitante a sincronização de Mu no entorno. Nesse sentido, considera-se que quanto 59 maior o direcionamento atencional, mais focal será o efeito da tarefa resultando em ERD focal (C3) e ERD no entorno. Na mesma direção, Pfurtscheller et al. (2006) registraram oscilações Mu em 4 tarefas de mentalização cinestésica: mão direita, mão esquerda, ambos os pés e língua. Foi observada supressão de Mu em C3 e C4 em MM de mão, nas duas condições (i.e, mão direita e mão esquerda), com evidente dominância contralateral. A supressão em Cz durante MM dos pés foi reportada para a maioria dos participantes. Os pesquisadores relataram, ainda, aumento do poder de Mu em C3 e C4 (área da mão) durante MM de pés e língua na maioria dos sujeitos, argumentando, de forma similar a Neuper et al. (2006) que esta inibição de Mu pode ocorrer quando a atenção motora é removida da mão e direcionada às demais modalidades. Assim é plausível que a inibição lateral, interpretada pelas diferenças oscilatórias de Mu de acordo com as diferentes áreas de registro, tenha ocorrido apenas na situação de mentalização devido maior complexidade desta tarefa versus a automaticidade de ativação na tarefa de observação. A tarefa de mentalização exige maior concentração, pois o participante precisa inibir a execução propriamente dita e pensamentos aleatórios para se manter imaginando o movimento requisitado, dessa forma consistindo em uma tarefa que requer atenção sustentada e focal. Já na tarefa de observação a concentração exigida é reduzida e a observação pode ser automatizada, como no caso da execução (NEUPER et al., 2006). Outra alternativa é que este resultado seja decorrente da própria instrução da tarefa. Visando manter o processo atencional durante a observação dos movimentos, os voluntários deveriam contar o número de pausas ao longo do vídeo contínuo, sendo assim, os participantes estariam com atenção dividida entre percepção do movimento, percepção das pausas e contagem 60 ao invés de concentrarem-se principalmente no movimento em si. Esses dois fatores podem ainda ter ocorrido em simultâneo, resultando em recrutamento mais difuso da área motora. Em relação aos efeitos da ETCC, os efeitos observados neste experimento estão relacionados à polaridade aplicada, tipo de movimento (biológico vs. não biológico) e hemisfério. Na análise de C3 e C4 a estimulação catódica mostrou resultados similares ao placebo, com exceção de induzir supressão também para movimento não biológico (em menor magnitude em comparação a movimento biológico) no hemisfério em que foi aplicada. Por sua vez, a estimulação anódica induziu efeito inverso: em C3 houve aumento do poder de Mu para ambos os movimentos e, em contrapartida, forte supressão de Mu em C4 apenas para movimento biológico. Estes achados diferem de estudo prévio no qual foi relatado maior poder de Mu e diminuição da excitabilidade cortical após ETCCc e supressão do poder de Mu e aumento da excitabilidade cortical após ETCCa (MATSUMOTO et al., 2010). Estas divergências podem ser decorrentes de questões metodológicas. Em particular três aspectos fundamentais diferem nosso estudo do estudo de Matsumoto e colaboradores. A saber, diferenças quanto ao tipo de tarefa aplicada, representatividade da amostra e eletrodos escolhidos para a análise. Com relação à tarefa escolhida, o estudo de Matsumoto e colaboradores teve apenas a condição experimental de mentalização; em contraposição, nosso estudo compara diretamente condições experimentais de observação e mentalização biológica e não-biológica. Com relação a representatividade da amostra, Matsumoto et al. (2010) realizaram o experimento com apenas 6 participantes. Em nosso estudo, participaram 21 sujeitos. Estas diferenças têm importantes consequências considerando a grande variabilidade de padrão de oscilações 61 de Mu entre sujeitos (PFURTSCHELLER et al., 2006). Além disso, em nosso estudo os eletrodos foram selecionados a priori e de acordo com a literatura (a saber, C3 e C4). Matsumoto et al. (2010), por sua vez, realizaram seleção a posteriori dos eletrodos considerando em suas escolhas aqueles que apresentaram maior supressão de Mu. Tal estratégia introduz um importante viés na análise uma vez que os dados são selecionados em função do efeito esperado pelos autores sem nenhuma apresentação de justificativa científica plausível. Ao mesmo tempo, desvirtua conceitos básicos relacionados à ERD e ERS. Esse desvirtuamento pode ser melhor entendido a luz da literatura sobre ERD focal/ ERS circundante. Como descrito anteriormente, o ritmo Mu tem sido observado por alguns estudos em sentidos opostos nos eletrodos C3 e C4 vs. eletrodos no entorno durante tarefas de mentalização. Assim, é possível supor que uma análise dos eletrodos C3 e C4 (e não de eletrodos escolhidos de forma arbitraria em função do efeito observado) no estudo de Matsumoto et al. (2010) resultasse em dados similares aos obtidos neste trabalho. As evidências de sincronização de áreas não relacionadas à tarefa (ERD focal/ ERS circundante), em associação aos achados de diminuição de excitabilidade cortical em situação de observação de movimentos previamente aprendidos que não deveriam ser reproduzidos, i.e., observar dedos pressionando teclas, tendo um teclado sob os dedos com instrução de não executar este movimento (HUMMEL et al., 2002), levantam a ideia de que a sincronização de alfa represente mais do que apenas um estado de repouso. Klimesch et al. (2007) aborda a ERS como um estado inibitório no qual certos tipos de processos cognitivos são ativados, os quais refletem o controle de uma determinada classe de processos top-down. Assim, a sincronização de alfa possibilita retorno a ativação característica de situação de repouso após uma tarefa que 62 induziu ERD. Isto é importante por resultar em i. estado de prontidão para a próxima situação de movimento, ii.estado de desativação responsável por controle inibitório, iii. inibição lateral de acordo com o foco atencional, maximizando a excitabilidade cortical em área relacionada a tarefa (para revisão ver KLIMESCH et al., 2007). Contudo, é assumido que a dessincronização de Mu reflita, eletrofisiologicamente, um estado de rede cortical ativa, com alta excitabilidade de neurônios corticais, enquanto a sincronização da atividade de Mu reflita um estado de inibição, com baixa excitabilidade dos neurônios corticais (KLIMESCH et al., 2007). Assim, considerando os efeitos bem conhecidos da ETCC relacionados à polaridade, i.e. aumento vs. redução de excitabilidade cortical após ETCCa e ETCCc, respectivamente (NITSCHE et al., 2008), os achados do presente estudo divergem do esperado. Pouco se sabe quanto a relação entre ETCC e oscilação do ritmo Mu e, de acordo com os dados apresentados, é preciso cautela na interpretação dos resultados. Alguns estudos mostram efeitos de neuroestimulação inversos ao esperado quando há combinação de dois instrumentos neuromodulatórios (SIENBER et al., 2004) ou estimulação cerebral em combinação com fármacos que alteram os níveis de excitabilidade cortical (FREGNI et al. 2006). O trabalho de Siebner et al. (2004) indica que os efeitos da estimulação cerebral variam de acordo com a excitabilidade cortical basal. Foi aplicada ETCC catódica para reduzir excitabilidade cortical e, em seguida feita EMTr de 1Hz. Neste caso, a EMT resultou em efeitos facilitatórios, ou seja, opostos ao comumente relatado em estudos de EMT de baixa frequência. Enquanto Fregni et al. (2006) obtiveram resultados opostos de EMTr de 1Hz para pacientes com epilepsia mioclônica juvenil com altos níveis plasmáticos de valproato em relação ao grupo de pacientes com níveis plasmáticos de 63 valproato baixos e grupo controle, i.e., aumento da excitabilidade cortical e diminuição da excitabilidade cortical, respectivamente. Sendo o valproato uma droga que reduz excitabilidade cortical, os autores justificam esta diferença a partir da excitabilidade cortical basal desses sujeitos. Ou seja, os efeitos estariam relacionados a mecanismos homeostáticos. Neste estudo foram combinadas técnica de modulação da excitabilidade cortical (ETCC) e tarefa contendo condições que resultam em aumento da excitabilidade cortical (MM ou observação de movimento biológico). Nossos dados estão alinhados com os estudos citados, pois é plausível dizer que a ETCCa aumentou a excitabilidade cortical basal anterior ao momento da tarefa e, portanto, o recrutamento de C3 pela tarefa induziu a redução de excitabilidade cortical na área por um mecanismo de homeostase, visando proteção do córtex, evitando grande alteração de excitabilidade cortical da área e possível desestabilização das propriedades das redes neuronais (ABBOTT, NELSON, 2000). O oposto pode descrever o ocorrido após ETCCc, i.e., ETCCc induziu diminuição da excitabilidade cortical basal em C3 e o recrutamento da tarefa resultou em aumento da excitabilidade cortical nesta área, resultando em efeitos similares ao placebo para movimentos biológicos e ainda uma diminuição de excitabilidade que se manteve, em menor magnitude, inclusive em condição nãobiológica. Ademais, a ETCCa induziu efeito em hemisfério ipsilateral ao movimento, resultando em dessincronização de C4, apenas para movimento biológico. Devido à ausência de dados comportamentais concretos não é possível avaliar se houve prejuízo ou melhora na tarefa, porém, os dados eletrofisiológicos indicam que a combinação de estimulação anódica e tarefas de mentalização e observação de movimentos resultou em 64 inibição do hemisfério contralateral ao movimento (aonde foi aplicada) conduzindo ao recrutamento do hemisfério ipsilateral para a execução da tarefa proposta. Considerando este efeito, seria esperado a ocorrência de sincronização do entorno de C4 em ETCCa, o que não foi observado. Já a ausência de efeitos significativos considerando o fator eletrodo na análise de entorno relativa à ETCCp e ETCCc é plausível. Nessas situações apenas o hemisfério esquerdo foi recrutado (evidenciado pela dessincronização de Mu). Visto que o efeito de sincronização circundante só ocorre em tarefas em que a área focal é recrutada com alta demanda atencional, o padrão ao entorno de C4 se mantém similar a C4 propriamente dito e, portanto, similar às demais áreas envolvidas na análise de entorno. Em relação ao observado para o entorno considerando ETCCa, o fato de ocorrer dessincronização de entorno em ambas as condições (mentalização e observação) corrobora a hipótese de efeitos homeostáticos de ETCC em C3. A aplicação de ETCC se dá por meio de largos eletrodos (no caso 35cm2) sendo assim, estudos de modelo computacional relativo ao fluxo de corrente sob eletrodos de 7x5cm mostram modulação sob toda a superfície de aplicação devido ao tamanho dos eletrodos e ainda à distancia entre eletrodo ativo e referencial; assim, a ação não é focal e sim difusa e ampla sob a área de aplicação (DATTA et al., 2009). Em nosso caso, o eletrodo cobriu toda a área de entorno de C3. Assim, a dessincronização da área do entorno indica aumento da excitabilidade cortical difusa, e a sincronização específica em C3 indica diminuição da excitabilidade cortical focal por mecanismos homeostáticos. Assim, nossos dados para C3 e C4 na condição placebo estão de acordo com a literatura e, foi possível atestar que a ETCC é uma ferramenta capaz de induzir 65 modulação em função da polaridade e da tarefa e ainda, que a ETCC age de forma geral na rede motora inespecífica para um ponto focal. Neste trabalho foram submetidos ao protocolo experimental apenas voluntários saudáveis, isto é importante para entender os mecanismos de ação do experimento antes de expor grupos com patologias sob o mesmo. Porém, estudos prévios mostram a possibilidade de uso da ETCC visando reabilitação (QUARTARONE et al., 2004; SOLER et al., 2010). Nesse sentido, a estimulação sobre áreas motoras é o que vem sendo mais extensamente estudado. Considerando os dados do presente estudo, a aplicação de ETCC concomitante a tarefas de MM parece ser de grande relevância. Visto que Liepert et al. (2009, 2011) demonstraram que em pacientes com paresia psicogênica há redução de excitabilidade cortical em M1 durante MM dos membros afetados, o que sugere inibição do sistema motor durante a tarefa de MM mas não em tarefa de observação, há margem para aplicabilidade da ETCC como ferramenta de intervenção nessa patologia. Considerando os achados relativos a balanço inter-hemisférico e o controle homeostático cerebral, uma alternativa interessante nesse caso seria a aplicabilidade de ETCC visando ativação ipsilateral nesse grupo por meio de ETCC contralateral. A aplicabilidade da ferramenta se estende ainda, a demais distúrbios que revelam ativações atípicas similares, como o caso do transtorno do espectro do autismo (OBERMAN et al., 2005; THÉORET et al., 2005). Nessa população o funcionamento do sistema envolvido nas tarefas aqui propostas é alterado, especificamente sem ativação do sistema de neurônios-espelho e, portanto, sem ativação de M1 em tarefas de mentalização. Nesse caso, podemos pensar em dois tipos de estudo; i. ETCC sobre M1 concomitante a observação, pois é possível que a estimulação tivesse efeitos diferentes 66 do observado em sujeitos saudáveis, i.e., pela tarefa de observação por si só não induzir dessincronização das ondas Mu em TEA, a ETCCa pré ou concomitante a tarefa poderia não resultar em efeitos homeostáticos mas sim na ativação dessas áreas de forma geral e, ainda, a ETCCc por inibir o entorno poderia facilitar tarefas de foco específico, ii. ETCC sobre córtex pré-motor, visando ativar o MNS nessa população e, e avaliar os efeitos por meio de EEG. Em suma, apesar das limitações do estudo (ausência de medida comportamental, comparação entre gêneros e estudo de voluntários saudáveis apenas), esta dissertação traz importantes contribuições por integrar em um único modelo duas modalidades de tarefa (observação vs. mentalização) ambas apresentando categorias distintas de movimentos (biológico vs. não biológico) com avaliação dos efeitos de uma ferramenta neuromodulatória (ETCC) mensurados por registro da atividade cerebral (EEG); realizando ainda, uma análise focal e de entorno relativa a esses efeitos. Estas características conferem um diferencial importante por possibilitarem diversos controles quanto aos efeitos do experimento relativos a movimentos e condições específicas e ainda às áreas subjacentes e suas diferentes ativações de acordo com o envolvimento na tarefa. Isso possibilitou verificar possíveis equívocos em estudos prévios resultantes de escolha não fundamentada de eletrodos para análise, por exemplo. E, ainda, avaliar a diferença quanto ao padrão oscilatório de entorno relativo a tarefas mais complexas que requerem atenção sustentada e focal (mentalização) ou tarefas com menor necessidade de concentração que podem ser automatizadas (observação). Sugere-se novos estudos englobando ETCC, EEG e MM para melhor compreensão quanto a possíveis diferenças de gênero, e efeitos da ETCC em ativação cortical relacionada à ERS e ERD do ritmo Mu em população com ativação atípica 67 durante observação e mentalização de movimentos biológicos, considerando os diferentes efeitos da ETCC para áreas envolvidas ou não envolvidas na tarefa, para avaliar os possíveis benefícios desse tipo de intervenção em transtornos específicos. 6. Conclusões A ETCC placebo confere resultados de acordo com a literatura quanto a oscilações de Mu em tarefas de observação e mentalização de movimentos sem nenhum tipo de intervenção, i.e., supressão de Mu tanto em observação quanto mentalização apenas de movimentos biológicos; Não há diferenças para a supressão do ritmo Mu durante tarefas de mentalização e observação biológica; A supressão de Mu ocorre de forma focal, ou seja, apenas na área motora envolvida na tarefa e de forma contralateral ao movimento; A supressão de Mu focal é acompanhada por sincronização dessa faixa de frequência nas áreas motoras não envolvidas na tarefa apenas na condição de mentalização; ETCC anódica e catódica induzem diferentes padrões oscilatórios de Mu, agindo de forma difusa sob a área aplicada, sem especificidade focal do membro envolvido na tarefa, porém, seus efeitos podem diferir de acordo com a demanda da tarefa; O aumento de excitabilidade cortical induzido por ETCCa resulta em efeito homeostático focal (na área do membro envolvido na tarefa, no caso C3 – área da mão ilustrada pelo homúnculo de Penfield), induzindo supressão ipsilateral (em C4) por demanda dessa área durante a execução da tarefa 68 A diminuição de excitabilidade cortical induzida por ETCCc resulta em efeito difuso de supressão de Mu na área aplicada apenas para tarefas envolvendo movimentos biológicos. São necessários estudos para avaliar possíveis diferenças de gênero quanto ao efeito neuromodulatório da ETCC em padrão oscilatório de Mu durante tarefas envolvendo movimentos biológicos. A combinação de ETCC e tarefas de observação e mentalização parece uma estratégia interessante para intervenção em distúrbios envolvendo comprometimento das habilidades motoras; A combinação de ETCC e tarefas de observação e mentalização parece uma estratégia interessante de intervenção para populações com desenvolvimento atípico, com comprometimento de habilidades de imitação e compreensão das ações do outro, e.g. TEA. Estudos englobando ETCC, observação e mentalização de movimentos e medidas de EEG são necessários para melhor compreensão dos efeitos neuromodulatórios concomitantes a este tipo de tarefa em populações tanto com comprometimento motor quanto com comprometimento de habilidades de teoria da mente para possíveis aplicações em neuroreabilitação. 69 7. Referências ABBOTT, L. F., NELSON, S. 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Atividade 1 Escrever 2 Desenhar 3 Arremessar 4 Uso de tesouras 5 Escovar os dentes 6 Uso de faca (sem garfo) 7 Uso de colher 8 Uso de vassoura (mão superior) 9 Acender um fósforo (mão do fósforo) 10 Abrir uma caixa (mão da tampa) Mão Esquerda Mão Direita TOTAL Pontuação: Some o total de + marcados para mão esquerda e para mão direita e preencha o total para cada coluna. Some o total da esquerda com o da direita e coloque no total cumulativo. Subtraia o total da esquerda do total da direita e coloque-o na diferença. Depois, o total cumulativo deve ser dividido pela diferença obtida e multiplicado por 100. Preencha o valor obtido no resultado Interpretação: abaixo – 40 = canhoto entre -40 e +40 = ambidestro acima + 40 = destro 81 Anexo B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Gostaríamos de convidá-lo a participar do projeto de pesquisa “Efeito da ETCC em ondas mu durante observação e mentalização de movimento” que se propõe a investigar a atividade eletroencefalográfica com uso de EEG em tarefas de observação e mentalização motora após uso da ferramenta neuromodulatória de estimulação transcraniana por corrente contínua. Para tal você receberá, em dias diferentes, estimulação de dois tipos: ativa ou placebo. O placebo não faz nenhum efeito, e é usado para que se possa estudar o que acontece com o participante que não recebe a estimulação proposta. Na estimulação ativa podem ocorrer diferenças em algumas tarefas realizadas. A escolha da ordem de estimulações será feita por sorteio. O aparelho de estimulação por corrente contínua gera uma corrente de intensidade muito baixa (que praticamente não é perceptível) e essa corrente é dirigida para o cérebro através de duas esponjas que funcionam como eletrodos. Essa técnica é indolor e já é utilizada há algum tempo em vários países e em outros estudos. As queixas mais freqüentes já feitas foram de coceira e formigamento no local de aplicação da estimulação, durante a aplicação. Esses efeitos desaparecem após o final da estimulação. As pesquisas mostram que não existe risco de qualquer dano cerebral devido a esse tratamento. Para avaliar essas diferenças, sua atividade cerebral será registrada por meio de eletroencefalografia, após a estimulação, enquanto o sujeito realiza um teste via microcomputador. Nesse estudo, será utilizado um aparelho de EEG de 128 canais; para a aquisição da atividade cerebral, e você ficará com uma touca de eletrodos posicionada em sua cabeça por um período de aproximadamente 15 minutos. A touca apenas coleta as informações e você permanecerá acordado o tempo todo. Em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao Pesquisador Responsável para o esclarecimento de eventuais dúvidas (no endereço abaixo), e terá o direito de retirar a permissão para participar do estudo a qualquer momento, sem qualquer penalidade ou prejuízo. As informações coletadas serão analisadas em conjunto com a de outros participantes e será garantido o sigilo, a privacidade e a confidencialidade das questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes (apenas o Pesquisador Responsável terá acesso a essa informação), bem como a identificação do local da coleta de dados. Os resultados obtidos serão analisados, e as conclusões apresentadas para a discussão científica como parte do processo de conclusão de curso de mestrado. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Os instrumentos de avaliação serão aplicados pelo pesquisador responsável e tanto os instrumentos de coleta de dados quanto o contato interpessoal oferecem riscos mínimos aos participantes. 82 Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa, poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie - Rua da Consolação, 896 - Ed. João Calvino Mezanino. Desde já agradecemos a sua colaboração. Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram esclarecidas pelo Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação é voluntária, e que, a qualquer momento tenho o direito de obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar a permissão para participar da mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo. Nome do Sujeito de Pesquisa:______________________________________________ Assinatura do Sujeito de Pesquisa:__________________________________________ Declaro que expliquei ao Responsável pelo Sujeito de Pesquisa os procedimentos a serem realizados neste estudo, seus eventuais riscos/desconfortos, possibilidade de retirar-se da pesquisa sem qualquer penalidade ou prejuízo, assim como esclareci as dúvidas apresentadas. São Paulo,___de__________de_______. ________________________________ Pesquisador Responsável: Olivia M. Lapenta ______________________________ Orientador: Prof. Dr. Paulo S. Boggio Universidade Presbiteriana Mackenzie R. Paiuí, nº181, 10º andar Telefone:2114-8001 e-mail:[email protected] 83 Anexo C