Regras de Feynman para fermions Os resultados obtidos anteriormente para a teoria λφ4 podem ser generalizados para o caso de fermions, em particular, para as funções de correlação: • a invariância de Lorentz exige que a hamiltoniana de interação HI seja o produto de um número par de campos espinoriais Æ não há dificuldade em definir a exponencial de HI com ordenamento temporal. Para aplicar o teorema de Wick Æ deve-se generalizar as definições dos símbolos de ordenamento temporal e de ordenamento normal para fermions: • O operador de ordenamento temporal T agindo em dois campos espinoriais é definido com um sinal (−) adicional (já visto antes): • Com a definição acima, o propagador de Feynman para o campo de Dirac é dado por Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 1 X Generalização para mais de 2 campos: O ordenamento temporal adquire um sinal (−) a cada troca de operadores que se faça necessária para colocar os campos em ordem temporal. Exemplo: X Ordenamento normal de fermions: Análoga à do ordenamento temporal: coloca-se um sinal (−) para cada troca de operadores fermiônicos • As propriedades de anti-comutação Æ tornam possível escrever o ordenamento temporal de várias maneiras (todas equivalentes) X Generalização do Teorema de Wick: • Para dois campos de Dirac sendo que, para o campo de Dirac: Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 2 X Demonstração Lembrando que: pode-se escrever, supondo que x0>y0 T ( ψ (x )ψ (y ) ) = T ( [ ψ + (x ) + ψ − (x ) ][ ψ + (y ) + ψ − (y ) ] )x 0 >y 0 = = ψ + (x )ψ + (y ) + ψ + (x )ψ − (y ) + ψ − (x )ψ + (y ) + ψ − (x )ψ − (y ) = = ψ + (x )ψ + (y ) − ψ − (y )ψ + (x ) + ψ − (x )ψ + (y ) + ψ − (x )ψ − (y ) + {ψ + (x ), ψ − (y ) } = = N ( ψ (x )ψ (y ) ) + {ψ + (x ), ψ − (y ) } Analogamente, para x0<y0, tem-se T ( ψ (x )ψ (y ) ) = −T ( ψ (y )ψ (x ) ) = −T ( [ ψ + (y ) + ψ − (y ) ][ ψ + (x ) + ψ − (x ) ] )x 0 <y 0 = = − [ ψ + (y )ψ + (x ) + ψ + (y )ψ − (x ) + ψ − (y )ψ + (x ) + ψ − (y )ψ − (x ) ] = = − [ ψ + (y )ψ + (x ) − ψ − (x )ψ + (y ) + ψ − (y )ψ + (x ) + ψ − (y )ψ − (x ) + {ψ + (y ), ψ − (x ) } ] = = ψ + (x )ψ + (y ) − ψ − (y )ψ + (x ) + ψ − (x )ψ + (y ) + ψ − (x )ψ − (y ) − {ψ + (y ), ψ − (x ) } = N ( ψ (x )ψ (y ) ) − {ψ + (y ), ψ − (x ) } x 0 <y 0 Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 3 X Contrações sob signo de ordenamento normal: Também se deve incluir sinal (−) a cada troca de operadores fermiônicos: Com as convenções acima, pode-se escrever a X Generalização do Teorema de Wick para fermions T [ ψ 1ψ 2ψ 3 ] = N [ ψ 1ψ 2ψ 3 + todas as possíveis contrações ]. Pode-se, agora, discutir processos de espalhamento envolvendo fermions. --------------- (final da 16ª aula) --------------- Teoria de Yukawa A hamiltoniana nessa teoria é escrita como a qual representa um modelo simplificado da eletrodinâmica, acoplando aqui os fermions aos campos escalares. A partir regras de Feynman para a teoria de Yukawa Æ pode-se “adivinhar” as correspondentes para a QED. Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 4 É mais interessante analisar um caso específico: a reação de espalhamento de duas partículas, i.e., fermion (p) + fermion (k) X contribuição dominante fermion (p') + fermion (k') Æ vem do termo HI2 da matriz-S: • analogamente ao campo escalar, deve-se usar o Teorema de Wick para reduzir o produto-T a um produto-N de contrações • depois, atuar com os campos não contraídos nas partículas dos estados inicial e final Æ esse processo é representado por uma contração: X ψ I (x ) atuando no estado inicial: a) fermion Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 5 X analogamente, b) 〈p, s | ψ (x ) = I fermion = ∫ 3 2Ep 〈0 | a sp ∫ ψ I (x ) atuando no estado final: d 3p ' (2π )3 1 2Ep ' ∑ asp'†' u s '(p ')eip '.x = =0 2Ep ip '.x e u s '(p ')[(2π )3 δ (3)(p − p ')δ ss '〈0 | −〈0 | a sp'† a s ] = 〈0 | u s (p )e ip .x ∑ ' p 2Ep ' d p' (2π )3 X Idem para um anti-fermion no estado inicial ou no estado final: ψI (x ) | p, s〉 c) = antifermion = d) ∫ d 3p ' (2π )3 = ∫ d p (2π )3 1 2Ep ' ∑ bps '' vs '(p ')e−ip '.x s' 2Ep bps † | 0〉 = 2Ep −ip '.x e vs '(p ') ⎡⎢⎣ (2π )3 δ (3)(p − p ')δ ss ' | 0〉 − bps †bps '' | 0〉 ⎤⎥⎦ = e −ip .x vs (p ) | 0〉 ∑ 2Ep ' s' =0 〈p, s | ψI (x ) = antifermion 3 ∫ d 3p ' (2π )3 2Ep 〈0 | bps † ∫ d 3p ' (2π )3 1 2Ep ' ∑ bps '†' vs '(p ')eip '.x = s' 2Ep ip '.x s ⎤ s ip .x vs '(p ') ⎡⎢⎣ (2π )3 δ (3)(p − p ')δ ss '〈0 | −〈0 | bps '† e ∑ ' bp ⎥⎦ = 〈0 |v (p )e 2Ep ' s' Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes =0 6 X Resumo: • ψ I (x ) pode contrair um fermion à direita ou um anti-fermion à esquerda • ψ I (x ) pode contrair um anti-fermion à direita ou um fermion à esquerda Uma contribuição típica ao elemento de matriz-S típico da pág. 5 (2 fermions no estado inicial e 2 no final) pode ser escrita como a seguinte contração: (−ig )2 2! d 4q i ∝ ∫ (2π )4 q 2 − mφ2 2! 2 ∝ (−ig ) ∫ ∫ d 4x eik '.xe−ik .xe−iq .x ∫ d 4y eip '.ye−ip.yeiq .yu(p ')u(p)u(k ')u(k ) d 4q i i (k '−k −q ).x 4 d 4y e i (p '−p +q ).y 4 2 2 u (p ') u (p ) u (k ') u (k )∫ d x e ∫ (2π ) q − mφ ∝ (o fator ½! foi eliminado por um fator 2! Originário da simetria por troca dos vértices x ey) 7 A integral ∫d4q pode ser feita com o auxílio de qualquer uma das deltas, resultando em uma expressão do tipo iM(2π)4δ(4)(Σp) , sendo p-p'= q = k'−k Em vez de trabalhar com o elementro de matriz-S anterior, i.e., Poder-se-ia ter escrito, em vez, o diagrama de Feynman: onde partículas escalares são representadas por linhas pontilhadas e fermions, por linhas contínuas. O elemento de matriz- S poderia ser obtido diretamente do diagrama acima, caso se usassem as seguintes regras de Feynman (no espaço dos momentos): Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 8 1. Propagadores: 2. Vértices: 3. Contrações de pernas externas: 4. Impor conservação de momento em cada vértice. 5. Integrar no momento indeterminado/indefinido dentro de cada loop. 6. Determinar o sinal global do diagrama (da troca de fermions) Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 9 X Comentários sobre estas regras de Feynman • O fator 1/n! da série de Taylor (exponencial com ordenamento temporal) é sempre cancelado pelo fator n! da troca de vértices para obter a mesma contração; • Os diagramas da teoria de Yukawa nunca têm fatores de simetria (!), já que nenhum dos três campos ( ψ , ψ , φ ) pode substituir outro nas contrações; • A direção do momento dos fermions é sempre significativa: em pernas externas (como no caso dos bosons) Æ o sentido do momento é sempre entrando para partículas iniciais e saindo para as finais; Linhas internas de fermions (propagadores) Æ atribui-se o momento ao sentido do fluxo do número de partículas (para e- Æ deve ser o sentido do fluxo de carga negativa) Æ para ententer melhor: • ∼ ∫ d x ∫ d x v(p') e 4 4 −ip'.x ik '.x e d4q i(q + m) −iq.(x−y) −ip.y ik.y e u p e e ( ) ∫ (2π)4 q2 −m2 As integrais em x e y resultam em funções delta que forçam q a sair de y e ir para x, i.e., δ(4)(p−k−q) δ(4)(p'−k' +q) ; em linhas internas de bosons o sentido do momento é irrelevante (escolha a gosto)Æ DF(x-y)= DF(y-x) 10 • Nos exemplos estudados Æ os índices de Dirac eram contraídos com as linhas de fermions, o que também acontece em diagramas tais como: X Sinais dos fermions Retornando ao exemplo do processo de espalhamento fermion-fermion: • Adota-se uma convenção para os estados iniciais e finais: † de forma que • ( p, k ) ∼ ( a p† a † k 0 † ) = ( 0 ak†a p† ) ∼ p, k Assim, a contração: ∼ (− 1)2 0 a k 'ψ x a p 'ψ y ψ x ψ y a p† a † 0 k pode ser desemaranhada movendo-se ψy dois espaços para a esquerda, adquirindo-se com isso um fator (−1)2 =+1. Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 11 • Contudo, na outra contração, abaixo: é suficiente mover ψy apenas um espaço para a esquerda, dando origem a um fator (−1). Tal contração, corresponde ao diagrama: • Assim, vê-se que o elemento de matriz-S (completo) do processo é: sendo o sinal (−) reflexo da estatística de Fermi-Dirac. 12 • Em diagramas complicados Æ determinação dos sinais negativos pode ser simplificada: o produto ( ψψ ) (ou qualquer par de fermions) Æ comuta com qualquer operador. Então: • Em loops fechados com n propagadores de fermions , tem-se: então, um loop fechado de fermions sempre dá um fator (−1) e o traço de um produto de matrizes de Dirac! 13 O Potencial de Yukawa Tem-se agora todas as regras formais necessárias para computar amplitudes de espalhamento na teoria de Yukawa. Como ilustração, considera-se o caso do espalhamento de fermions distinguíveis no limite não relativístico. Então, comparando a amplitude para esse processo com a fórmula da aproximação de Born da mecânica quântica não relativística Æ pode-se determinar o potencial V(r) criado pela interação de Yukawa. • Como as partículas interagentes são distinguíveis, contribui para o processo apenas o diagrama • Para estimar a amplitude no limite não relativístico, tomam-se apenas termos de ordem mais baixa no 3-momento: p = (m , p ), k = (m , k ) p ' = (m , p '), k ' = (m , k ') ⇒ (p '− p )2 = − p − p ' u s ( p ) NR = Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 2 + O (p 4 ) ⎛ξs ⎞ m ⎜⎜⎜ s ⎟⎟⎟ , (tal que ξ s '†ξ s = δ ss ' ) ⎜⎝ ξ ⎟⎠ 14 A amplitude a ser calculada é: = (−ig 2 )u (p ')u (p ) iM = Então: 1 u (k ')u (k ) ( p '− p )2 − m φ2 u s '( p ')u s ( p ) = 2m ξ s '†ξ s = 2m δ ss ' u r '(k ')u r (k ) = 2m ξ r '†ξ r = 2m δ rr ' • • Portanto Æ o spin de cada partícula é conservado separadamente no limite não relativístico desse espalhamento (o que é reconfortante...). Juntando os resultados acima, tem-se: ig 2 ss ' rr ' iM = m m 2 δ 2 δ 2 p ' − p + m φ2 O resultado acima deve ser comparado com a aproximação de Born da amplitude de espalhamento na mecânica quântica não relativística ( fB (k β , kα ) ∝ ∫ d 3r u ∗β (r )V (r )uα (r ) ∼ ∫ V (r )e −iq .r d 3r ; q = kα − k β ) escrita em termos da função potencial V(x) p ' iT p = −iV (q )(2π )δ (E p ' − E p ) Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes (q = p ' − p ) 15 Como os fatores 2m resultaram de nossa normalização relativística anterior, eles devem ser desconsiderados na comparação, pois essa assume a normalização convencional de estado nao relativístico. Então, para a interação de Yukawa tem-se o seguinte potencial: −g 2 V (q ) = 2 q + m φ2 Assim, V(x) pode ser obtido invertendo a transformada de Fourier: V (x ) = ∫ d 3q −g 2 + iq .x e = (2π )3 q 2 + m φ2 −g 2 = 4π 2 ∞ ∫ 0 iqr − e −iqr ) 2 (e dq q iqr q 2 1 −g 2 = 2 4π 2ir + mφ ∞ qe iqr ∫ dq q 2 + m φ2 −∞ Estendendo a integral acima ao plano complexo e fechando o contorno de modo a pegar o resíduo no polo simples em q = +imφ , encontra-se: −g 2 1 −m φ r V (r ) = e 4π r o qual é um potencial de Yukawa atrativo (para f f , f f , f f ) com alcance 1/mφ, i.e., o comprimento de onda Compton do boson trocado. Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes (final da 17ª aula) 16