Charles Tang
ALIANÇA
BRASIL
CHINA
UMA ESTRATÉGIA PARA A PROSPERIDADE
São Paulo
2013
Copyright © 2013
Editora: Yone Silva Pontes
Assistente editorial: Ana Lúcia Grillo
Diagramação: Flavia A. Vanderlei, Nilza Ohe
e Wagner J. N. Pereira
Revisão: Alessandra Alves Denani
Impressão e acabamento: Graphic Express
Dados
Internacionais de Catalogação na Publicação
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
(CIP)
Tang, Charles
Aliança Brasil-China : uma estratégia para a
prosperidade / Charles Tang. -- São Paulo :
Aduaneiras, 2012.
Bibliografia.
ISBN 978-85-7129-635-0
2.
4.
6.
I.
1. Brasil - Relações exteriores - China
China - Civilização 3. China - Comércio exterior
China - Condições econômicas 5. China - História
Educação - China 7. Reforma agrária - China
Título.
12-06827
CDD-382.0951
Índices para catálogo sistemático:
1. China : Comércio internacional
382.0951
A ortografia desta obra está atualizada conforme o Acordo Ortográfico
aprovado em 1990, promulgado pelo
Decreto nº 6.583, de 30/09/2008, vigente a partir de 01/01/2009.
2013
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDIÇÕES ADUANEIRAS LTDA.
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Dedicatória
Aos meus pais, Yeh Chu Tang e Georgette Yan Nan Tang,
que se esforçaram para me fornecer a melhor educação possível em
vários países, e aos meus filhos, Kevin e Derek, que tanto me apoiaram e também amam o Brasil, o país de criação deles.
Ao Brasil, país que acolheu a minha família quando deixamos a China de Mao Zedong, ao qual sou agradecido e assim me
tornei brasileiro por opção. É uma luta ao longo de 25 anos dedicada a mostrar que a prosperidade de uma nação não é tão difícil de se
conseguir, nem leva tanto tempo para se alcançar.
Vimos que mudanças e reestruturações profundas foram
feitas nesta grande nação, em pouco tempo e com o apoio de todos
cada vez que um dos nossos malfadados planos econômicos foram
instituídos por decreto. Em um só governo, o presidente Kubitschek
transformou uma sociedade rural em uma economia industrial. O
presidente Collor mudou o conceito da nação em menos de dois
anos. O presidente Lula transformou um Brasil economicamente
injusto com a inclusão social de 40 milhões de cidadãos brasileiros; devolveu a autoestima à nação brasileira e doou fundos ao FMI
quando, até poucos anos antes, a grande esperança nacional era o
próximo empréstimo desta instituição ao nosso País.
Todavia, os planos econômicos que motivaram essas reorganizações da estrutura econômica e financeira do País eram, na maioria dos casos, falhos.
Na crença de que o Brasil reúne mais condições do que a
China ou o Japão para ser o maior tigre de exportações do mundo e,
portanto, tornar-se uma superpotência econômica, me fez escrever
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Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
artigos e proferir palestras pelo interior do Brasil e pelo mundo afora. Nessas atuações, sempre tratei de mostrar como diversas outras
nações, seguindo modelos econômicos distintos do nosso, priorizaram a criação de riqueza e prosperidade para seus povos, conseguiram sair da pobreza e, em pouco tempo, atingiram a prosperidade
em múltiplos aspectos.
Acredito que, desde 1988, quando passei a contribuir com
meus artigos publicados na “Folha de S. Paulo”, “O Estado de
S. Paulo”, “O Globo”, “Digesto Econômico”, “Economias em Transformação” do Instituto de Estudos Avançados da USP, e em importantes veículos da mídia chinesa, como a “International Finance
News” (do “Diário do Povo”), o “China Daily” e outras publicações de prestígio, consegui vencer alguns tabus e crenças econômicas errôneas, mas enraizadas no pensamento econômico dominante
do Brasil.
Agradecimentos
Meu livro, uma coletânea de artigos sobre desenvolvimento econômico, é fruto de um empreendimento ingente, cuja elaboração quero agradecer à colaboração de minha esposa, Natália Gazolla
Tang, que tanto me encorajou, sugeriu ideias e corrigiu meu sofrível
português. Pelas mesmas razões, agradeço a meu amigo de longa
data, o brasileiro de coração chinês, Jayme Martins, que sempre se
empenhou em aparar arestas de meus trabalhos e à Uta Schwietzer,
que sempre quis transformar meus artigos em um livro.
Não posso deixar de assinalar minha gratidão pelas contribuições dos componentes da Câmara de Comércio e Indústria
Brasil-China (CCIBC) e, ao prezado amigo e parceiro Marcio Pinto
Ferreira Mameri Abdenur, que, ao longo de seus 26 anos de existência, tanto colaboraram para expandir a aliança estratégica e comercial Brasil-China.
Ao sr. Otávio Frias (in memoriam) que me convidou a escrever para “Folha de S. Paulo”.
Ao “O Estado de S. Paulo”, “O Globo”, “Integração Econômica”, “International Finance News”, “China Daily” e outras publicações de prestígio, que escolheram incluir meus artigos.
Epígrafe
“It is said that Brazil is always the country of tomorrow,
but Charles Tang has delivered a road map to help the giant
of South America leap into that future. Weaving together
a narrative spanning recent decades, he demonstrates how
what was once derided as a ‘model of poverty’ has become
a ‘model of prosperity’ through wise investments in natural resources and human capital. Importantly, this book is
also an up-to-date commentary on the Brazilian-Chinese
and U.S.-Brazilian relationship, with strategic insights into
matters of trade balances, currency manipulation, and key
cross-border investments being made today. With his extensive experience in all three powers, Charles Tang offers
unique insight into perhaps the future’s most important triangular relationship.”
Parag Khanna, Senior Fellow, New America Foundation,
and author of The Second World and How to Run the World.
“Diz-se que o Brasil é sempre o país do futuro, mas Charles
Tang entregou um roteiro para ajudar o gigante da América
do Sul a saltar para esse futuro. Tecendo uma narrativa que
abrange as últimas décadas, ele demonstra como o que já
foi ridicularizado como um “modelo de pobreza” tornou-se
um “modelo de prosperidade” por meio de sábios investimentos em recursos naturais e capital humano. É importan-
8
Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
te ressaltar que este livro é também um comentário atualizado sobre as relações Brasil-China e EUA-Brasil, com
visões estratégicas em matéria de saldos comerciais, manipulação da moeda e investimentos-chave sendo feitos hoje no exterior. Com sua vasta experiência em todos os três
poderes, Charles Tang oferece uma percepção única desse
relacionamento triangular que talvez seja o mais importante
relacionamento do futuro.”
Parag Khanna, Pesquisador Sênior da New America Foundation e autor de The Second World e How to Run the World.
Sumário
Dedicatória...............................................................................
3
Agradecimentos .......................................................................
5
Epígrafe....................................................................................
7
Prefácio ....................................................................................
13
Apresentação ...........................................................................
17
Introdução ...............................................................................
25
Capítulo 1
Economia Brasileira e Desenvolvimento
Econômico do Brasil
1.1. Brasil, Superpotência Econômica? ..................................
1.2. Brasil, Nós Temos Futuro? ..............................................
1.3. Nacionalismo Antinacionalista ........................................
35
37
40
Capítulo 2
A Política de Juros Exorbitantes
2.1. A Ilusão da Política de Juros Exorbitantes ......................
2.2. A Vulnerabilidade da Economia Brasileira .....................
2.3. Um Novo Modelo de Prosperidade .................................
43
45
48
Capítulo 3
Um Modelo Econômico para o Brasil
3.1. Mercantilismo – O Caminho da Prosperidade da China e
o Modelo para o Brasil ....................................................
51
10
Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
3.2. Um Modelo Econômico de Pobreza ................................
3.3. Para um Brasil Próspero ..................................................
69
71
Capítulo 4
Um Plano e uma Estratégia para o Brasil
4.1.
4.2.
4.3.
4.4.
4.5.
Um Plano para a Nação ...................................................
Por um Modelo Econômico de Riqueza ..........................
Enfim, uma Visão de Prosperidade? ................................
Brasil, uma Potência Econômica .....................................
Novo Mercado Gigantesco para o Brasil.........................
75
78
80
83
85
Capítulo 5
Fortalecimento da Indústria Nacional
5.1. Mais do que Salvaguardas ...............................................
5.2. Defesa Comercial não Fortalece a Indústria ....................
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89
Capítulo 6
Economia Global
6.1. Em Busca de um Novo Modelo de Prosperidade Global
93
6.2. A Dupla Crise Financeira Mundial .................................. 101
6.3. China Socialista Salvará o Mundo Capitalista?............... 103
Capítulo 7
A Economia da China
7.1.
7.2.
7.3.
7.4.
7.5.
50 Anos da Nova China ...................................................
China uma Economia de Mercado ..................................
Uma China mais Alta Emerge da Crise Global ...............
Essência do Debate sobre a Moeda Chinesa ...................
O Debate do Modelo Chinês ...........................................
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117
Capítulo 8
Uma Estratégia Econômica Chinesa
8.1. Ao Brasil, ao Ouro........................................................... 121
8.2. Dinheiro Vivo É Rei – As Oportunidades da Crise ......... 123
Sumário
11
Capítulo 9
A Aliança Estratégica e Comercial Brasil-China
9.1. Brasil e China – Uma Parceria Estratégica e Comercial .
9.2. A Importância de Macau na Crescente Aliança Estratégica e Comercial de Brasil e China ....................................
9.3. Pioneirismo de Pernambuco ............................................
9.4. A Importância da Aliança Brasil-China no Mundo
Pós-Americano ................................................................
9.5. Brasil-China: Uma Parceria de Benefícios Mútuos.........
127
140
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149
152
Capítulo 10
Personagens das Relações Brasil-China
10.1. Um Velho Amigo do Brasil ............................................. 155
10.2. A Sede Chinesa por Recursos Estratégicos ..................... 157
10.3. Alerta sobre a Multiplicidade de Câmaras de Comércio
Brasil-China..................................................................... 158
Capítulo 11
A Energia Limpa
11.1. Uma Fonte Alternativa de Energia .................................. 161
Prefácio
Chen Duqing
Ex-Embaixador da China no Brasil
Diretor-Geral do Instituto de Estudos Brasileiros
da Academia de Ciências Sociais da China
Dias atrás, fui informado de que será publicado o livro
de Charles Tang, intitulado “ALIANÇA BRASIL-CHINA, UMA ESTRATÉGIA PARA A PROSPERIDADE”. Trata-se de uma coletânea
de diversos artigos do autor, publicados na “Folha de S. Paulo”,
“O Estado de S. Paulo”, “International Finance News” (do “Diário do Povo”), “China Daily” e outros, sobre as relações bilaterais
Brasil-China, o desenvolvimento do Brasil e a economia mundial.
Como amigo do Charles de longa data, não posso deixar de escrever
algumas palavras para parabenizar e compartilhar ao mesmo tempo a
alegria do lançamento do livro. Escrever um prefácio seria uma tarefa
arriscada. No entanto, como diplomata, dediquei quase toda a minha
carreira para os laços sino-brasileiros, e muito apraz-me escrever as
seguintes palavras.
Charles Tang é economista, empresário e pesquisador. Com
grande sensibilidade e visão, tem observado atentamente o processo da reforma e abertura da China, que começou nos anos finais da
década de 1970 do século 20, trazendo tremendas transformações
ao País. Tem acompanhado a evolução das relações bilaterais e, no
ano de 1986, fundou a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China
(CCIBC). Também tem defendido, de forma coerente, persistente e
incansável, a aproximação dos dois países, dois povos e empresariados. Isso está plenamente demonstrado em seus artigos, palestras e
entrevistas.
No ano de 1974, foram estabelecidas as relações diplomáticas entre a República Popular da China e a República Federativa
do Brasil, abrindo um novo capítulo das relações. Os laços dos dois
países vêm se estreitando cada vez mais. Nos 37 anos decorridos, as
14
Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
relações têm experimentado um avanço notável nos domínios econômico-comercial, científico e tecnológico (inclusive tecnologia de
ponta, como o caso de satélite conjunto de sensoriamento remoto de
recursos terrestres), humano e cultural e outros. O entendimento político entre dirigentes dos dois Governos tem sido fluido e satisfatório.
Nos anos 90 do século passado, foi estabelecida a parceria estratégica entre os dois Países. Existe um mecanismo regular de consultas
estratégicas, e a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban). Nos fóruns internacionais, os dois
Países mantêm uma vasta gama de pontos comuns ou coincidentes
quanto a grandes temas internacionais ou regionais. Foi elaborado o
Plano de Ação Conjunta entre os dois Governos, 2010-2014.
A China e o Brasil são os dois maiores países em desenvolvimento, com dimensão continental, um no hemisfério Oriental e o
outro, no Ocidental. Possuem muitos pontos em comum. O grande escritor Gilberto Freire disse até que o Brasil é a China tropical.
Agora, os dois Países fazem parte do BRICs, e são dinâmicos membros do Grupo 20. A China está construindo o socialismo com peculiaridades chinesas. O Brasil está seguindo o próprio rumo em prol
da sua grandeza e do bem-estar do seu Povo. Os dois Países podem
aprender um com o outro e trabalhar em conjunto pela Humanidade.
O relacionamento sino-brasileiro reveste-se de significado global
cada vez maior.
As relações Brasil-China são um tema constante, não apenas para a atualidade como também para o futuro. Têm despertado
muito interesse nos diversos segmentos da sociedade brasileira. A
visão sobre a China é muito variada. Lembro-me que, anos atrás,
existia uma certa euforia, achando que, o Brasil e a China, uma vez
juntos, podiam fazer tudo. Havia um outro extremo, alegando que a
China poderia trazer prejuízos à economia brasileira. Mas a opinião
predominante na sociedade brasileira é objetiva e realista, acredita
na complementariedade mútua e que a intensificação do relacionamento vai beneficiar a ambos. Após a instalação da crise financeira
global, pode-se comprovar a importância desse relacionamento. Nos
últimos anos, a China passou a ser o maior parceiro comercial do
Brasil e uma fonte importante de superávit. O negócio da China con-
Prefácio
15
tinua a ser um bom negócio. Não há razão para a preocupação com
maior entrosamento das duas economias. Neste processo, alguma
frição ou pequenos atritos comerciais são naturais. Evidentemente,
empresas multinacionais podem não gostar. Acontece que foram países do Centro que promoveram a globalização, mas, paradoxalmente, eles não queriam ser englobalizados.
Com os meios modernos de comunicação e transporte, para
o povo brasileiro, a China deixa de ser um país longínquo e misterioso. E para o povo chinês, o Brasil torna-se cada vez mais atraente.
Mesmo assim, o conhecimento mútuo entre as duas partes ainda é
muito pouco. A meu ver, essa falta de conhecimento e falta de divulgação são os maiores empecilhos para um maior entrosamento dos
dois lados. Precisa-se de maior divulgação cultural, mais trabalho de
marketing e maior envolvimento de acadêmicos e intelectuais.
Espero que o livro de Charles Tang possa ajudar a entender
melhor a China e oferecer uma certa inspiração.
Apresentação
Paulo Rabello de Castro1
Império do Centro e Império Tropical
O que China e Brasil têm em comum, a ponto de despertar-lhes, reciprocamente, algum tipo de atração ou motivação para
um tipo especial de relacionamento, além das amenidades diplomáticas ou interesses comerciais imediatos? Que tipo de troca de experiências políticas e sociais, baseada nas vivências desses países tão
distantes e distintos, lhes fariam mais próximos um do outro?
Estas são as questões essenciais por trás da saga deste livro,
escrito com razão e paixão. O autor, Charles Tang, já traz em seu nome – prenome ocidental, e nome de família oriental – o propósito de
uma vida: aproximar Oriente e Ocidente, propiciar leituras novas de
um relacionamento milenar que permanece, no entanto, tão exótico
quanto a narrativa da permanência de um Marco Polo na Ásia. Tang
faz o percurso inverso ao do grande desbravador veneziano, pois
vem da China para o Brasil, passando pelos Estados Unidos, onde
se graduou com distinção e ali absorveu o âmago da lição de vida
ocidental: deixar que o mercado cuide de alocar o preço dos bens e
serviços privados, para que o desperdício da sociedade no emprego
de seu capital e trabalho seja sempre o menor possível. Ao Estado
cabe organizar o ambiente desse mercado para que as oportunidades
1
Ph.D em economia pela Universidade de Chicago, consultor, empreendedor
e professor. É presidente do Instituto Atlântico, coordena o Movimento Brasil Eficiente e preside, ainda, o Lide Economia e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio-SP. Comanda a SR Rating, primeira agência brasileira de classificação de riscos. Fundou, com Ives Gandra Martins, a Academia Internacional de
Direito e Economia, também fundou e coordenou o Grupo de Informação Agrícola
da Fundação Getúlio Vargas.
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Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
se alarguem, de fato, para todos. Nisso há reservado para o Estado
um papel indelegável de indutor e orquestrador, aquilo que o ex-presidente Bill Clinton chama de Smart Government, ou governo sagaz,
no subtítulo do seu novo livro.2
Charles Tang, que é brasileiro na China e, de certo modo,
chinês no Brasil, não se desvia jamais da missão maior de sua vida, da
qual este livro é expressão e manifestação de compromisso. A missão
é aproximar dois gigantes, por definição um objetivo difícil de ser alcançado com sucesso. Em princípio, gigantes não se conversam; disputam espaço e hegemonia. Apesar disso, Tang nos revela em sua obra
um ângulo pouco explorado da realidade deste século 21. É a realidade multipolar, da ascensão simultânea de vários entes coletivos de dimensão continental, a disputar no globo terrestre o que, até bem pouco
tempo, parecia ser, exclusivamente, a bipolaridade EUA/URSS, ou a
unipolaridade norte-americana, no brevíssimo interstício histórico de
meros 20 anos, da queda do Muro de Berlim e o fim do império soviético, em 1989, até o fim da hegemonia econômica e financeira americana, com o colapso de Wall Street, em 2009.
O que se seguirá ninguém pode dizer ao certo. Mas já sabemos bem – e Charles Tang explora o assunto com maestria – que
buscamos, todos, um mundo de dimensão política muito mais ampla
do que a unipolaridade americana, momentaneamente traduzida, para
os emergentes, pela polêmica frase Consenso de Washington. O “consenso” unilateral está morto e não tem condição de ser reavivado por
qualquer nação, neste século, se não o for de modo harmônico e transparente. O mundo do futuro próximo será multipolar. China, Índia,
Brasil, Estados Unidos e, quem sabe, uma nova Europa, redefinida e
aproximada da Rússia, de quem depende energeticamente, serão protagonistas de uma nova cena mundial, que envolverá ainda, em cada
continente onde esses líderes se situem, dezenas de outras nações importantes, com seus próprios talentos humanos e riquezas materiais.
Em trabalho ainda inédito, tenho apelidado este novo arranjo multipolar de Triple-B Approach: Blocs, Bachelors and Brides
2
CLINTON, Bill. Back to Work: Why We Need Smart Government for a
Strong Economy. Hutchinson (2011).
Apresentação
19
que, na versão do nosso idioma, significa enxergar o novo conjunto de alianças de países, tal como organizada a partir de Blocos, de
Solteirões e Noivas. Há países, como China e Estados Unidos, cuja
força econômica singular e projeção de poder militar os projetam, de
imediato, como líderes de blocos, em suas próprias regiões, e para
além delas. A Europa é um bloco não natural, mas instituído pela deliberação de seus membros, daí decorrendo sua menor consistência
juspolítica e a necessidade de maior cuidado em preservar incentivos
à manutenção de seus membros.
Há um segundo time de países – os Bachelors, ou “Solteirões” – que têm projeção regional indiscutível, como, por exemplo,
o Brasil na América do Sul, Indonésia no sudeste asiático, Angola e
África do Sul no continente africano. Estes países poderão se unir,
formando blocos próprios, com a ajuda e colaboração de vizinhos
menos notáveis (as “Noivas”) ou, alternativamente, juntar-se aos
Blocos liderados pelo primeiro time. Este é o tipo de jogo político
que será travado nos próximos anos, em que a China já está escalada e jogando no primeiríssimo escalão, e o Brasil, que tem, como
“Solteirão” no baile, uma condição sui generis, pois seu leque de
possibilidades vai desde uma modesta e encabulada atuação, limitada à sua região de imediata influência, ou seja, junto aos vizinhos
de fronteira, até um possível protagonismo mundial, como líder ou
colíder de um grande bloco, envolvendo sua dimensão atlântica e,
indiretamente, a pacífica.
Charles Tang nos oferece, nesta coletânea vigorosa, um repertório rico em possibilidades para o Brasil avançar com mais eficiência, na década atual e, pelo menos, nas duas próximas, já que a
visão do autor traz a marca de seu DNA cultural chinês, habituado a
enxergar e planejar com olhos pregados no muito longo prazo. Embora brasileiro no coração, Tang não abandona os traços especiais da
cultura milenar que o forjou como pessoa. O planejamento de prazo
decenal, e até multidecenal, é um traço que aquele brasileiro típico,
divertido e distraído como é, ainda não adotou como prática coletiva.
Deveríamos planejar como os chineses. Planejar e tentar cumprir a
meta pois, frequentemente, nos perdemos no pouco que antecipamos
em nosso futuro.
20
Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
O hábito do planejamento oficial, governamental, adicionaria muito, no Brasil, ao nosso privilégio de já havermos alcançado
uma democracia em pleno processo de consolidação, algo que Tang
reconhece ser dimensão mais difícil e complexa de ser atingida na
China, enquanto esta tiver o desafio de integrar ao consumo urbano
mais de 500 milhões de pessoas ainda muito pobres. O estágio político da democracia requer do Estado um planejamento transparente
e objetivo de metas econômicas e sociais para que a população possa
exercer seu direito de avaliação e de busca de alternâncias no exercício do poder. A China nos ensina sobre a importância crucial deste
planejamento, medido, avaliado e reprogramado quando necessário.
Por que, então, não imitamos o bom exemplo chinês?
Tang quase se angustia ao insistir que o Brasil perde tempo precioso ao não organizar um combate frontal às ineficiências
da máquina pública nacional, que consome cerca de 40% da riqueza produzida a cada ano no País e, contudo, retornando benefícios à
população de modo parcial, fracionário, inclusive porque a parcela
dedicada aos investimentos no gasto público é muito baixa. A China,
ao contrário, nos apresenta indicadores invejáveis de inversão pública, que puxam e induzem os investimentos, também altos, do setor
privado. Aqui, o governo se esmera em tributar famílias e empresas,
pois a carga fiscal brasileira é quase o dobro da praticada na China.
E seria, por acaso, o Estado chinês mais fraco por tributar menos? E
o governo chinês seria menos capaz de realizar sua missão por falta
de recursos fiscais? Óbvio que não. Pelo contrário, a parcimônia do
gasto público na China é fator de moderação da carga de impostos,
de moderação dos juros praticados e de aumento do poder de competição dos produtos chineses.
Em suas constantes viagens entre China e Brasil, Tang foi
consolidando a certeza de suas observações empíricas. Não o move
uma predisposição de defender esta ou aquela ideia, só por ser simpática. Nesse ponto, Charles Tang assume o rigor acadêmico que
aprendeu com seus mestres americanos: verificar antes de acreditar.
E a constatação surge à nossa frente, berrando a solução que temos
evitado por tantos anos. É urgente cortar a obesidade do setor público brasileiro, seus descarados privilégios, a corrupção sem freio, os
Apresentação
21
desvios da democracia pouco representativa e a carga tributária desmedida. Se fizermos isso, o Brasil surgirá, e com redobrado vigor, na
competição internacional, podendo se candidatar a ser, de fato, um
líder de bloco nas décadas vindouras.
O Brasil chegou a ser um campeão mundial em crescimento econômico no período que vai do início do século 20 até meados
dos anos 70. Este é o período em que a China sofreu e amargou para
encontrar seu caminho, pagando um alto preço para tanto. Em compensação, o Brasil brecou e estagnou, do fim dos anos 70 até o início
deste século, período em que o campeonato do crescimento acelerado foi vencido de braçada pela China. O “Império do Centro”, como
tradicionalmente conhecido, se organizou para o avanço e o fez com
método e pertinácia. Como fomos abandonar estas virtudes coletivas
tão fundamentais?
Porém, assim como a China encontrou seu rumo após a
Revolução Cultural, reconstruindo suas bases como sociedade multiétnica e modernizando sua indústria em bases mundialmente competitivas, destarte revigorando o que foi, no seu passado glorioso,
o Império do Centro, o Brasil pode, de modo semelhante, colocar
concretude em seus sonhos de grandeza. É este o ponto que anima o
coração brasileiro de Charles Tang: perceber que nada é impossível
a certos países, como China e Brasil, nascidos com dimensão imperial, no sentido da enorme projeção atual e futura do seu poder territorial e cultural, não importando se a organização política da nação
corresponde a uma monarquia ou república. Como república e como
democracia, na boa e liberal tradição política do Ocidente, o Brasil
está muito bem servido institucionalmente. Resta fazer funcionar as
instituições a serviço do coletivo, preocupação das mais recentes administrações federais brasileiras, desde o advento do plano Real.
Foi a recuperação da credibilidade na moeda nacional que
nos resgatou da imoralidade financeira na conduta do interesse econômico coletivo. A inflação galopante era profundamente antiética e
usurpadora do futuro dos brasileiros. Mas temos ficado a meio caminho de uma revolução econômica e social integradora da sociedade
brasileira e que venha, com isso, nos projetar como um moderno im-
22
Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
pério tropical no século 21. Ficamos devendo à Nação brasileira uma
revolução de “Quatro Acessos”:
– primeiro, de acesso ao capital imobiliário (que a legislação do programa Minha Casa Minha Vida busca agora
resgatar);
– segundo, de acesso amplo ao capital social das empresas abertas, sob a forma de fundos previdenciários incentivando mais poupança coletiva;
– terceiro, o acesso à educação de qualidade e útil para a
competição que virá pela frente; e
– quarto, a preservação social do imenso patrimônio ambiental, que não pode ser “privatizado” para ser, em seguida, depredado em detrimento de gerações futuras.
Esses quatro desafios, de construção de acessos sociais, são
uma pauta perfeita para aproximar os interesses dos dois gigantes,
China e Brasil, ampliando a faixa de colaboração que haverá de complementar o sempre crescente comércio bilateral convencional entre
os dois. Penso numa pauta não convencional, da qual nasçam as bases
de uma valorização efetiva do ser humano, como indivíduo e como
família, esteio de qualquer poder coletivo nacional numa era marcada
pela acumulação do Conhecimento que, afinal, está sempre dentro de
alguma pessoa, e de ferrenha disputa pela dianteira das inovações técnicas, das formas de expressão artística (que constituem, para além de
arte, um pujante mercado) e de certas “tecnologias sociais” de organização do coletivo para a vida menos estressante nas grandes cidades.
Entre as 29 maiores regiões metropolitanas do planeta, em
2025, conforme projeções da Divisão de População do Secretariado
da ONU, a China terá cinco dentre elas, enquanto Índia/Paquistão/
Bangladesh terão seis. Brasil e EUA, cada um, terão duas cidades
na lista. Mas, é curioso notar que, tomando o Brasil no contexto
sul-americano, no caso incluindo, além de São Paulo e Rio de Janeiro, também Buenos Aires, Lima e Bogotá, nossa macrorregião
contará com cinco entre as 29 maiores metrópoles, exatamente como a China. Trata-se, portanto, de um desafio enorme para o Brasil
firmar-se como líder capaz de ter uma programação econômica e so-
Apresentação
23
cial à altura de suas responsabilidades regionais. Falta-lhe este modelo de Quatro Acessos. Somos ainda um país de exclusões, apesar
da recente inclusão de cerca de 30 milhões de pessoas a um padrão
de consumo mais digno.
Nossa taxa de investimentos ainda é capenga, abaixo dos
20% do PIB, enquanto a chinesa supera a marca de 40%! E o que
dizer do baixo investimento no capital humano? E sobre a ineficiência da máquina pública? E a burocracia sufocante? Para não falar da
precária logística, que aleija a rentabilidade do agronegócio (nosso
primeiro e mais rentável “pré-sal”) e mata a competitividade da nossa indústria no caminho até o porto mais próximo.
Cada um desses temas é objeto de cuidadosa discussão nesta
coletânea de artigos de Charles Tang. Didático, e sempre afirmativo,
Tang defende os caminhos para realizarmos o sonho do império nos
trópicos. De fato, no agronegócio, o Brasil já foi capaz de realizar uma
revolução tecnológica aplicada, em menos de 50 anos. Essa revolução
rumo a uma agricultura de precisão nos trópicos, a “tropicultura” – teve
por base gente bem preparada, cientistas brasileiros adaptando técnicas
de fora com inteligência, muita pesquisa e dedicação persistente. Portanto, a fórmula de sucesso existe. Não foi só a China que a aplicou lá,
senão aqui também a usamos com pleno sucesso no campo, para ter a
melhor tropicultura do mundo. A China nos viabilizou melhores preços
de commodities, ajudando o Brasil a vencer a restrição de sua grande dívida externa. E a agricultura ajudou o Brasil a incluir milhões de pobres
ao consumo de massa. Mas os ganhos totais de produtividade no Brasil
(a chamada “produtividade total dos fatores”, no linguajar econômico)
permanecem quase estagnados. O Brasil se recuperou da estagnação pelo ingresso de mais jovens adultos na força de trabalho, numa condição
excepcionalmente favorável de mercado. Não nos iludamos. Ou vamos
para a revolução completa, construindo o império tropical, ou permaneceremos como um solteirão encabulado, no fundo do baile das grandes
nações. Concluindo com Tang: o Brasil, como a China, é um desses países que só pode ser derrotado por si mesmo.
Vale a pena conferir o caminho da vitória que Charles Tang
nos indica.
São Paulo, agosto de 2012.
Introdução
Por: Cecily Liu (chinadaily.com.cn) 23/12/2011
Charles Tang: Ponte entre China e Brasil
Quando líderes empresariais e políticos estavam reunidos
no fórum da ‘The Economist’ sobre mercados de alto crescimento
em Londres, um chinês bonito e carismático conquistou o público
com sua visão sobre a América Latina. Esta figura familiar não é outro senão Charles Tang, presidente da Câmara Brasil-China de Comércio e Indústria (CCIBC).
Desde a criação da CCIBC em 1986, Tang já recebeu visitas
de centenas de delegações chinesas para explorar oportunidades de
negócios no Brasil. As importações da China a partir do Brasil aumentaram 18 vezes na última década, ultrapassando os EUA, tornando-se o maior mercado exportador do Brasil em 2009.
“Quando eu estabeleci a Câmara, ninguém estava interessado. O Brasil era uma economia fechada e a China era muito pobre.
Mas eu estava muito feliz por ter o apoio de seis brasileiros influentes, incluindo o senador Fernando Henrique Cardoso, que mais tarde
se tornou Presidente do Brasil”, disse ele.
“Nossa Câmara é muito ativa e, hoje, estamos ajudando
com mais de 4 bilhões de dólares em negócios”.
Tang também ajudou muitas empresas brasileiras a se expandirem para a China. Em 2002, a fabricante brasileira de aeronaves, Embraer, estabeleceu uma joint venture para fabricar aviões
com a chinesa AVIC II, em Harbin. Em 2004, Tang organizou uma
viagem para o presidente do Banco Itaú para visitar a China, que
26
Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
resultou na abertura de um escritório de representação do banco em
Shanghai.
Tang é a 20ª geração descendente do herói nacional da
China, Tang Jingchuan, que defendeu a China contra a invasão dos
japoneses há quase cinco séculos.
A família de Tang se mudou para o Brasil quando ele era
apenas um menino de seis anos. Os desafios da terra desconhecida o
fizeram crescer para ser um homem forte e independente.
“O Brasil acolheu minha família, mas em nossos corações
também somos chineses. Isto é o que meu pai costumava me dizer, e
agora eu digo aos meus filhos”, disse ele.
Tang estudou economia e sociologia na Universidade de
Cornell. Após a formatura, ele trabalhou para Deltec Banking, para
ajudar a gerenciar os investimentos deles no Brasil. Um ano mais
tarde, o Banco de Boston o contratou para desenvolver e introduzir o leasing como um instrumento financeiro para a economia
brasileira.
O leasing criou muitas novas oportunidades de negócios no
Brasil. A experiência e as habilidades de Tang tiveram demanda elevada. Onze grandes grupos bancários o contrataram como consultor
privado para criar as suas próprias empresas de leasing, incluindo:
Banco Safra, Banco Bozano Simonsen, Banco de Montreal e o Banco United Dutch.
“Eu me tornei um jovem milionário através de meus próprios esforços e, de repente, eu estava em todos os principais jornais
e revistas financeiras no Brasil”, lembrou Tang.
Isso foi pura sorte? Tang deu de ombros com um sorriso
confiante: “Competência e sorte trazem sucesso. Você pode ser muito competente, mas se você não tiver sorte, você não pode por vezes
ser capaz de ter sucesso. Elas andam de mãos dadas”.
A nova riqueza de Tang lhe permitiu deixar o Banco
de Boston, em 1974, e montar sua própria empresa de leasing, a
Introdução
27
Leasecapital S/A, como um parceiro igualitário com o Banco Nacional do Estado de Maryland. Tang, posteriormente, estabeleceu
o Leasecapital Espana S/A em Madrid, Espanha, como uma joint
venture com o então Banco del Descuento.
Sucesso não vem sem desafios, e um deles é se adaptar às
diferenças culturais. O hábito dos espanhóis de tirar uma longa pausa para o almoço de quatro horas e acabar o jantar à meia-noite estavam completamente fora de sintonia com o relógio biológico de
Tang. E como superou o problema? “Eu não consegui. Eu só fiquei
cansado”, ele riu.
A história do sucesso pessoal de Tang é uma lenda, mas ele
é cheio de entusiasmo ao falar sobre seu trabalho na CCIBC, reforçando os laços de negócios entre os dois países queridos para ele.
Com a ajuda de Tang, o Brasil realizou a sua maior feira de
indústria e comércio em Shanghai, em 2002. O ex-Ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sergio Amaral, levou uma grande delegação de 112 empresários para representar o Brasil na feira.
A feira também levou marcas brasileiras de médio porte
para fazer da China um novo destino de exportação, incluindo a
marca Pelé de café instantâneo, o leite longa vida Cemil, e Marko
RollOn.
Muitas outras empresas brasileiras, europeias e norte-americanas também se voltaram para a assistência de Tang, para expandir ainda mais na China e no Brasil, incluindo Votorantim, Odebrecht, Johnson & Johnson, Holcim, Sino Steel, JAC automóveis,
Foton e Grentech.
Com a relação de negócios entre China e Brasil florescendo, Tang se tornou a escolha natural como palestrante em diversas
conferências globalmente influentes. Seus pontos de vista também
são frequentemente vistos na mídia internacional, incluindo “USA
Today”, “New York Times”, “The Economist”, “Business Week”,
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Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
“Newsweek”, “Le Figaro”, “The Financial Times”, “CCTV News”
e “BBC World TV”.
“A China está se tornando muito forte, mas ainda estamos
fracos na nossa capacidade de transmitir e projetar a nossa imagem
de forma adequada para o mundo ocidental”, disse Tang. Ele agora
viaja para a China, Brasil e os EUA quase uma vez por mês, usando
sua sabedoria e influência para ajudar a China a ter uma maior integração na economia global.
Talvez seja a vontade de Tang de falar abertamente sobre
suas ideias que o fez imediatamente simpático.
Um de seus melhores amigos na Cornell é o seu ex-professor, Gaza Feketekuty, que se tornou diretor de Operações na Comissão Internacional de Comércio dos EUA. “Quando eu discordava
do professor Feketekuty em sala de aula, dizia a ele. Ele gostava de
mim porque ele pensava que eu havia discutido com inteligência”.
Tang também é amigo de polo do príncipe Charles de
Gales. Após uma reunião inicial em Deauvielle, em 1976, a paixão
que os dois jovens compartilhavam pelos esportes imediatamente os
aproximou.
“Eu percebi que o povo britânico não falava muito com ele,
porque ele é o futuro rei deles. Mas para mim, ele é apenas um jogador de polo. Acho que é por isso que ele gostava de mim”, lembrou
Tang.
Um fervoroso amante de polo, Tang praticou o esporte com
frequência no Guard’s Polo Club, em Windsor, no Cowdray Polo
Club, em Midhurst, no Palm Beach Polo & Country Club nos EUA,
bem como em seu campo de polo próprio, no Rio de Janeiro.
A atitude de quem não vê impossibilidades de Tang no trabalho e nos esportes ressoa com muitos chineses. Mas as belas montanhas, o oceano e as praias do Rio também acrescentaram um toque
romântico à sua pessoa.
Introdução
29
Tang conheceu sua primeira esposa, Uta Schwietzer, em
1976. Estando muito atrasado para uma reunião com um empresário
norte-americano no Rio, passou direto por uma moça bonita na rua.
Como um empresário responsável, ele foi diretamente para o encontro com o americano, pensando: “Puxa, que pena, essas
oportunidades só acontecem uma vez na vida”.
Mas o destino, gentilmente, deu a Tang uma segunda chance. A bela moça alemã acabou por ser uma gerente da companhia aérea Lufthansa, e seu escritório não era longe do dele.
Depois de alguns encontros, Tang convidou Schwietzer para
acompanhá-lo em sua viagem para jogar polo com o príncipe Charles
em Deauville. “Você não quer se encontrar com o príncipe Charles?”,
perguntou ele, ao que ela respondeu: “Eu já tenho meu príncipe Charles”. Seis meses depois se casaram.
No entanto, o casamento feliz não durou para sempre. Em
2001, Tang conheceu sua atual esposa, agora sra. Natalia G. Tang,
uma bela moça de descendência alemã e italiana da capital dos vinhos do Brasil, Bento Gonçalves.
Quando Tang levou Natalia pela primeira vez a Beijing, em
uma viagem de trabalho em 2005, ela se apaixonou pela cidade e pela China e pediu para que eles ficassem para a semana de moda de
Beijing. Tang se ofereceu para deixá-la ficar e se juntar a ela um mês
depois, mas a sugestão foi recebida com uma resposta provocativa
de Natalia: “Você acha que eu vou deixar você voltar para o Rio por
conta própria, onde há tantas meninas bonitas? Você é louco!”.
Então Natalia deixou Beijing com relutância, mas insistiu
que Tang a levasse de volta para China.
Um ano depois o casal se mudou para um apartamento em
Shanghai.
“Bem, você sabe. As mulheres são sempre quem mandam.
Nós, homens, temos sempre a última palavra: Sim, senhora!”
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Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
Algumas Palestras Proferidas por Charles Tang
01/09/2004 – FIEL – Fundación de Investigaciones Económicas
Latinoamericanas
Tema: “CHINA – A Transição para uma Economia de Mercado”,
em Buenos Aires, Argentina.
24/02/2005 – Isto É Dinheiro
Tema: “Agricultura Brasileira: Agronegócio e Exportações”, em
São Paulo, Brasil.
09/11/2005 – Nações Unidas, CEPAL
Tema: “Análisis Estratégico de la Relación Económica de América Latina con China. El Rol de las Cámaras de Comercio”, em
Santiago, Chile.
16/04/2006 – FACIAP
Tema: “BRIMCS” (Brasil, Rússia, Índia, México, China e África
do Sul), em Curitiba, Brasil.
17/05/2006 – Americas Society & Asia Society
Tema: “Asia Latin America Conference”, em New York, USA.
24/05/2006 – Instituto de Estudos Avançados da Universidade de
São Paulo
Tema: “Brasil e China – Riscos e Oportunidades”, em São Paulo, Brasil.
24/11/2006 – UK Trade & Investment Council – Brazil Trade & Investment Conference
Tema: “China & Brazil – Working Together to Find Opportunities for Economic and Trade Cooperation” – em Whitehall, Londres, UK.
18/11/2007 – Europe China Business Meeting
Tema: “Growing with BRIC”, em Frankfurt, Alemanha.
11/03/2008 – UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
Tema: “Oportunidades de Negócios com a China”, em Franca,
Brasil.
Introdução
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14/03/2008 – FGV – Fundação Getúlio Vargas – Master of International Management
Tema: “A Parceria Estratégica Brasil & China”, no Rio de Janeiro, Brasil.
27/10/2008 – WICO – World Industrial & Commercial Organizations Forum
Tema: “A Strategic Partnership between Two Giants”, em Beijing, China.
23/10/2008 – UNISINOS – Universidade do Vale dos Sinos
Tema “As Oportunidades que a China Oferece”, em São Leopoldo, RS, Brasil.
17-18/11/2008 – Global China Business Meeting
Tema: “Connecting China with Latin America”, em Barcelona,
Espanha.
25/11/2008 – AMCHAM
Tema: “Brasil Inserido no Cenário do Modelo de Crescimento
Chinês”, em São Paulo, Brasil.
20/08/2009 – CASS – Academia de Ciências Sociais da China (Chinese Academy of Social Sciences)
Tema: “A Construção da Parceria Estratégica e Comercial dos
Dois Gigantes”, em Beijing, China.
09-10/11/2009 – Global China Business Meeting
Tema: “China & Latin America”, Presidente do Painel e Palestrante, em Lisboa, Portugal.
11/04/2010 – China Economic Review
Tema: “Industries and Sectors of Interest for Chinese and Foreign Investors”, em Shanghai, China.
10/05/2010 – Mare Forum Italy Shipping Conference
Tema: “Optimism in the Air”, em Roma, Itália.
16-18/05/2010 – Global Russia Business Meeting
Tema: “Investing Overseas”, em Ljubljana, Eslovênia.
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Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
22/07/2010 – FGV – Fundação Getúlio Vargas – BRICS Conferência Internacional “Empreendedorismo nos BRICS”, em São Paulo,
Brasil.
30/07/2010 – FIRJAN – Federação de Indústria, 7º Congresso Nacional de Gestão Corporativa, no Rio de Janeiro, Brasil.
07-09/2010 – UNCTAD, NAÇÕES UNIDAS WIF – World Investment Forum
Tema: “Re-Strategizing Investment Promotion”, em Xiamen,
China.
15-17/09/2010 – Tsinghua University – 5º Simpósio de Bioenergia
Mundial
Tema: “Biofuels Around the World”, em Suzhou, China.
21/10/2010 – Financial Times “Keynote Speaker”
Tema: “Doing Business in Brazil”, em Shanghai, China.
13/10/2010 – Fecomércio de Pernambuco e CCIBC – Oportunidades
de Investimentos e de Negócios no Nordeste do Brasil, em Shanghai,
China.
17/10/2010 – 3rd China Petroleum, Petrochemical Equipment &
Technology Exhibition em Dongying, em Shandong, China.
27/10/2010 – Deep Water Brazil Congress, no Rio de Janeiro, Brasil.
17/10/2010 – 17th CHINA MINING CONGRESS & EXPO
Tema: Mining, Exploration and FDI in Latin America, em Tianjin, China.
29/11/2010 – Finance Asia (Grupo Wall Street Journal) Brazil Investment Summit – Presidente de Painel e Palestrante, em Hong Kong.
25/05/2011 – Mining Investment Brazil Summit
Tema: “Parcerias em Mineração com a China”, em São Paulo,
Brasil.
21/05/2011 – London Business School – Latin America Business
Forum
Tema: “Latin American Companies in China”, em Londres, UK.
Introdução
33
28/06/2011 – The Economist Global Intelligence Unit
Tema: “Global Energy Conversation”, em Shanghai, China.
13/09/2011 – Mare Forum Brazil & South America, no Rio de Janeiro, Brasil.
26-27/09/2011 – CCPIT – China Council for the Promotion of International Trade Beijing International
Tema: Conference of Friendly Commerce Chambers, em Beijing, China.
29/09/2011 – The Economist “High Growth Markets Summit”, em
London, UK.
06/10/2011 – Universidade de São Paulo “Seminários de Relações
Internacionais”.
3-4/11/2011 – The Economist “Brasil 2022”, em São Paulo, Brasil.
22/03/2012 – Mare Forum Indonesia Geopolitics
Tema: “The Shift of Power from West to East – the BRICS and
the CIVETS”, em Jakarta, Indonésia.
12-13/07/2012 – University of Oxford – Reverse the Future
Tema: “Investing in Tomorrow’s Economies”, em Oxford, UK.
25-26/11/2012 – Global China Business Meeting
Tema: “Exploring New Models of Growth”, em Riga, Latvia.
Capítulo 1
Economia Brasileira e
Desenvolvimento Econômico
do Brasil
1.1.
Brasil, Superpotência Econômica?
Publicado na revista “Integração Econômica”, Ed. Aduaneiras, dezembro de 2002, Ano 1, nº 2.
O Brasil pode ser o maior “tigre” de exportações do mundo!
O nosso País reúne todas as condições para isto, muito mais do que a
China ou o Japão. A experiência da China e dos demais “tigres asiáticos” que a antecederam nos ensina que o caminho da riqueza de uma
nação não é demorado, nem, muito menos, impossível.
As duas décadas perdidas em nossa evolução econômica
correspondem exatamente ao tempo que a China levou para dar o seu
grande salto. Enquanto isso, neste novo milênio, o Brasil pode estar
perdendo a sua terceira década de desenvolvimento, com uma economia seriamente refreada, apesar desses anos todos de inúteis sacrifícios, decorrentes de planos e pacotes econômicos malsucedidos.
Teoria Mercantilista
O que nos falta para atingir nosso destino de grandeza é
uma nítida visão política de prosperidade e a adoção de uma teoria
econômica condizente com a formação da riqueza das nações. Sempre recorremos à teoria monetarista para garantir os nossos planos e
pacotes econômicos, que foram baseados em decretos, como se esse
valioso instrumento de administração pública podesse, por si só, impulsionar o nosso avanço econômico.
Nessas duas décadas perdidas, tanto nos especializamos nos
ensinamentos do professor Milton Friedman que hoje talvez sejamos
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Aliança Brasil-China: Uma Estratégia para a Prosperidade
os melhores do mundo em “administração monetarista da pobreza”.
E, realmente, não é nada fácil manter a estabilidade ante os níveis de
pobreza e outros problemas que enfrentamos.
Um Povo Patriota e Disciplinado
Patriota, disciplinado, esperançoso, o povo brasileiro, por
necessitar tanto de acreditar em dias melhores, aceitou sacrifícios
em escalas sem precedentes, todas as vezes que um novo plano lhe
prometia essa esperança. Quem não se lembra dos “fiscais” do Plano Cruzado? Da conformidade com o confisco do Plano Collor? Da
adesão voluntária ao “apagão”?
Temos que mudar o decrépito modelo de um círculo vicioso de alternância entre inflação e estabilização, baseado na criação
de recessões (que só agravam ainda mais a nossa pobreza) e tendo
como ferramentas juros extorsivos, restrição da liquidez e taxas
de câmbio fictícias? Por que insistimos, sob novos rótulos, em um
mesmo modelo econômico, que, há tantos anos, só tem fracassado
em todas as suas variantes? Por que não adotamos a teoria mercantilista e criamos as estruturas necessárias para transformar o Brasil
no maior “tigre” exportador do mundo? Por que não conseguimos
enxergar que, para ser um país próspero, é indispensável gerar receita em vez de recorrer ao FMI? Por que ninguém ainda se dispôs a reestruturar nossa economia, desmontando a danosa estrutura do “Custo Brasil”, a fim de assegurar nossa competitividade
internacional?
Planos Milagreiros
Temos que entender que uma nação edifica sua riqueza com
a receita decorrente das vendas para outros países e não com pacotes econômicos milagreiros, nem com expectativas de geração de
poupança interna a partir da pobreza existente. Nossos numerosos
planos sempre estiveram predestinados a falhar, por falta de uma
fórmula capaz de obter receitas em divisas por meio de exportações
e de atrair investimentos estrangeiros em quantidade suficiente para impulsionar a nossa economia. Muitas vezes, esquecemos que os
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