Promover o crescimento acelerado Programa do TSE “O crescimento acelerado e o combate às desigualdades raciais, sociais e regionais e a promoção da sustentabilidade ambiental serão o eixo que vai estruturar o desenvolvimento econômico.” (grifos nossos). Entendimento Conforme o Programa do TSE (parágrafo transcrito acima) a meta de “crescimento acelerado” vem associada a outros objetivos, como redução de desigualdades e sustentação de meio ambiente. Tal como apresentado, o conjunto de promessas ou objetivos ali consignados pode encerrar, e de fato entendemos que encerra, certas contradições que, eventualmente e em outro contexto, valeria a pena comentar. Basicamente, a pergunta que se coloca é a seguinte: ao estabelecer a promessa de crescimento acelerado, a então candidata à Presidência da República tinha em mente uma “condição precedente” para as demais promessas inseridas no mesmo parágrafo do seu Programa, ou se tratava de um “exercício de maximização condicionada”? Isto não obstante, interpreta-se aqui “crescimento acelerado” como uma promessa per si, isto é, condição precedente absoluta, necessária à redução de “...desigualdades raciais, sociais e regionais ...”, e não como um exercício de maximização condicionada. Tendo presente este pressuposto, trata-se de quantificar “crescimento acelerado”. Obviamente a Presidente se referia a uma mudança de patamar das taxas de crescimento do PIB observadas na última década. Isto quer dizer que, para que a promessa fosse cumprida, a taxa de crescimento teria que ir significativamente além do nível de 3,87%a.a. registrado de 2002 a 20101. Porém, para que nível deveria ir? A Presidente foi omissa quanto a isso. Não quantificou sua promessa; apenas criou uma meta qualitativa. Entretanto, para aferirmos seu cumprimento necessita-se de um número de referência. Como se vê do Quadro I o Brasil tem apresentado nos últimos anos taxas de expansão do PIB medíocres e inferiores à média dos seus mais importantes vizinhos2 como também menores que a média registrada pelos demais integrantes do grupo BRICS3, ou seja, pelos RICS’s e pelo novel grupo MIKT4, se desse grupo excluirmos o México cujo desempenho na primeira década do século XXI o colocou como um bizarro outlier , registrando um crescimento pífio de 1,98%a.a.. 1 Estritamente na 1ª década (2001 – 2010) a taxa média de crescimento foi de 3,61%a.a.; nos 9 anos de governos do PT (2003 – 2011), 3,88%a.a.. 2 Grupo dos Latino-Americanos – Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela; o México ficou fora dessa lista porque está incluído no grupo MIKT. 3 Rússia, Índia, China e África do Sul. 4 México, Indonésia, Coréia e Turquia. 1 Quadro I Países ou Grupos de Países Brasil RICS’s [BRICS ex-Brasil (4 países)] MIKT’s (4 países) RICS’s + MIKT’s MIKT’s ex-México Latino-Americanos (5 países) Toda a amostra (13 países) Taxas médias anuais de crescimento do PIB no período de 9 anos – 2002 a 2010 3,87%a.a. 6,75%a.a. 3,69%a.a. 5,22%a.a. 4,26%a.a. 4,57%a.a. 4,97%a.a. Fontes: Para o Brasil ver nota de rodapé nº 4. Para os demais países, Banco Mundial link abaixo: http://econ.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/EXTDEC/0,,menuPK:476823~pagePK:64165236~piPK:64165141~theSitePK:469372,00.html O Quadro II mostra que, tomando-se as taxas de crescimento dos BRICS’s de 2002 a 2010, veremos que o Brasil é o de crescimento mais lento considerando-se os 4 quatro países originais do grupo (Brasil, Rússia, China e Índia). Com a inclusão da África do Sul, ainda mais vagarosa que o Brasil, este evoluiu para a penúltima colocação. Quadro II Taxas médias de crescimento do PIB 2002-2010 Brasil 3,87%a.a. Rússia 4,75%a.a. Índia 7,94%a.a. China 10,72%a.a. África do Sul 3,57%a.a. Fontes: Para o Brasil ver nota de rodapé nº 1, p. 1. Para os demais países, Banco Mundial link abaixo: http://econ.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/EXTDEC/0,,menuPK:476823~pagePK:64165236~piPK:64165141~theSitePK:469372,00.html A média de crescimento dos RICS’s nesse período de 9 anos que compreende praticamente a 1ª década do século XXI foi de 6,75%a.a. (Quadro I). Caso o PIB brasileiro crescesse a essa taxa, o PIB per capita evoluiria hoje à razão de 5,8%a.a.. A década de 1970 foi aquela na qual o Brasil apresentou seu melhor desempenho em termos de expansão do PIB nos últimos 110 anos (1901 a 2010), registrando taxa de crescimento média anual de 8,64%a.a.. Naquela década a taxa de crescimento anual da população foi de 2,49%, o que resultou num crescimento médio de 5,99%a.a. do PIB per capita. Considerando o crescimento da população brasileira hoje, ao redor de 0,9%a.a., aquela mesma expansão do PIB per capita poderia ser obtida com crescimento do PIB de 6,94%a.a., não sendo necessário chegar aos 8,64% da década de 70. Ou seja, estaríamos falando de uma taxa pouco superior à taxa média de crescimento dos RICS’s observada nos 9 anos de 2002 a 2010 (Quadro I). Nessas condições, se poderia estabelecer como primeira hipótese de quantificação da promessa o objetivo de igualar a marca dos RICS’s de 2002 a 2010, elevando a taxa de crescimento do PIB de 3,87%a.a. para 6,75% a.a., o que implicaria uma prosperidade equivalente à da década de 1970 (na verdade, discretamente menor: 5,8%a.a. contra 5,99%a.a. lá atrás). Teríamos, portanto, um balizamento externo e uma taxa de crescimento do PIB do PIB per capita já anteriormente alcançada pela própria economia brasileira. Ou seja, em princípio estaria ao alcance do país se para isso houvesse vontade política. 2 Contudo, na década de 1970 a relação capital/mão de obra na economia brasileira provavelmente era menor do que agora, na 2ª década do século XXI, e havia um numeroso exército de reserva de mão de obra em processo de urbanização; algo que ocorre na China atualmente, só que em escala mais ampla; na Índia também. Por conseguinte, o potencial de expansão do PIB brasileiro seria estruturalmente maior nos anos 70 do que agora, o que se aplica igualmente à China e à Índia dos dias de hoje. Isto significa a necessidade de cautela quanto ao uso da China, da Índia, ou do próprio Brasil de 40 anos atrás, como paradigmas para o crescimento do PIB no Brasil atual. Assim a amostra dos RICS’s, ademais de pequena – somente 4 países – poderia ser também tendenciosa. 3 BOX Nº 1 A propósito do conceito de BRICS o site do Itamaraty registra: “A idéia dos BRICS foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim ‘O´Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICs”. Fixou-se como categoria da análise nos meios econômicofinanceiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o conceito deu origem a um agrupamento, propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, por ocasião da III Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS.” Originalmente o conceito dos Bric’s correspondia a um grupo de países – Brasil, Rússia, China e Índia - supostamente em estágio similar de desenvolvimento, cuja importância econômica deverá se tornar expressiva em meados do presente século. Conforme a Wikipedia: “The acronym has come into widespread use as a symbol of the shift in global economic power away from the developed G7 economies towards the developing world. It is estimated that BRIC economies will overtake G7 economies by 2027.[4] ” “According to a paper published in 2005, Mexico and South Korea were the only other countries comparable to the BRICs, but their economies were excluded initially because they were considered already more developed, as they were already members of the OECD.[5] The same creator of the term "BRICS" has recently coined the term MIKT, that includes Mexico and (South) Korea.” Com vistas a reduzir a tendenciosidade do benchmark aumentamos o tamanho da amostra, incorporando os quatro países do novo grupo criado pelo mesmo Jim O’Neill do Goldman Sachs no início de 2011 – o MIKT – composto por México, Indonésia, Coréia e Turquia. A média de crescimento dos dois grupos tomados em conjunto – RICS’s + MIKT’s – em igual período foi de 5,22%a.a.. Se acrescentarmos ainda as cinco principais economias da América Latina excluindo o Brasil e o México, este último já considerado nos MIKTs, a média das 13 economias (Rússia, Índia, China, África do Sul, México, Indonésia, Korea, Turquia, Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela) foi de 4,97%a.a.. A ampliação da amostra reduz a influência de extremos e resultou num conjunto de 13 economias emergentes5 que compartilham certas características econômicas e institucionais com a economia brasileira, evidentemente algumas mais e outras menos. A inclusão de cinco economias hispano-americanas é importante porque, ademais de terem semelhanças com o Brasil no que concerne a estágio de desenvolvimento, à constelação de recursos produtivos e às instituições, compartilham com o país heranças culturais e trajetórias históricas parecidas. Ademais, trata-se de uma área geográfica de óbvia relevância para o Brasil tanto do ponto de vista político, como econômico. 5 A Coréia não é mais considerada pelos Organismos Financeiros Internacionais como emergente, e sim como parte do mundo desenvolvido. Foi mantida porque sua ascensão econômica é recente e, de qualquer forma, a Goldman Sachs a incluiu no grupo MIKT. 4 Assim, sugere-se usar o referencial de 5%a.a. como indicador de crescimento acelerado do Brasil nas condições econômicas de hoje, a meio caminho da amostra ampliada das 13 economias – 4,97%a.a. – e da amostra um pouco mais restrita considerando apenas os RICS’ e os MIKT’s – 5,22%a.a. (Quadro I, à fls. 2). Taxas ao redor de 5% têm aparecido em declarações do Ministro da Fazenda e em documentos oficiais. Por exemplo, a LDO para 2013, enviada ao Congresso em 13/4/2012, prevê crescimento do PIB de 4,5% em 2012, e 5,5% em 2013. Quadro III Taxas médias anuais de Crescimento do PIB Período 2002-2010 (9 anos) Resumo geral da amostra BRICS’s Brasil Rússia Índia China África do Sul Média dos RICS’s MIKT’s (média) MIKT’s + RICS’s México Indonésia 3,87% Coréia 4,75%. Turquia 7,94% Latino-Americanos (média) 10,72% Argentina 3,57% Chie 6,75% Colômbia 3,69% Peru 5,22% Venezuela 1,98% Média do total da amostra (13 economias) 5,39% 2,42% 4,97% 4,57% 5,35% 3,76% 4,36% 6,29% 3,10% 4,97% Isto tudo nada obstante, releva observar que a década 2001-2010 foi marcada por uma fase inicial de expressiva prosperidade, interrompida com a crise econômica internacional no segundo semestre de 2008. A partir de então, os núcleos tradicionais da riqueza e do progresso da humanidade – basicamente os países do velho G-7 – entraram num período de contração econômica, que, eventualmente, afetará as economias emergentes. Assim, o referencial de 5%a.a. como taxa de crescimento acelerado do PIB brasileiro eventualmente precisará ser revisto ao longo de 2013 ou 2014, com o objetivo de verificar se, à luz de novos condicionantes da economia mundial, continua válido ou se seria o caso de fazer alguma revisão. O tipo de procedimento sugerido acima é fundamental no contexto de um processo de manutenção e atualização do Promessômetro, entendido este como documento de trabalho permanente do Democratas. Para uma idéia preliminar do que poderia mudar quando se passa a examinar o Brasil no contexto mundial a partir do ano de eclosão da crise econômica internacional, reelaboramos o Quadro I com os dados do triênio 2008-2010. Os resultados encontram-se abaixo no Quadro IV. 5 Quadro IV Países ou Grupos de Países Brasil RICS’s [BRICS ex-Brasil (4 países)] MIKT’s (4 países) RICS’s + MIKT’s MIKT’s ex-México Latino-Americanos (5 países) Toda a amostra (13 países) Taxas médias anuais de crescimento do PIB no triênio 2008 ─ 2010 4,07% 4,80% 2,49% 3,64% 3,30% 3,50% 3,59% Fontes: Para o Brasil ver nota de rodapé nº 4. Para os demais países, Banco Mundial link abaixo: http://econ.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/EXTDEC/0,,menuPK:476823~pagePK:64165236~piPK:64165141~theSitePK:469372,00.html Considerado período 2002-2010 (Quadro I à fls. 2), a taxa de crescimento brasileira supera apenas a média dos MIKT’s, e assim mesmo graças ao pífio desempenho mexicano. Para o período mais recente do triênio 2008-2010 (Quadro IV, acima) a taxa de crescimento brasileira só é superada pela média dos RICS’s, sendo de sublinhar-se que a diferença entre o crescimento brasileiro e o crescimento dos RICS’s diminuiu significativamente: para 20022010, a taxa de expansão média anual do PIB brasileiro correspondeu a somente 57% da taxa dos RICS’s; no triênio 2008-2010 a taxa de crescimento do Brasil alcançou a marca de 85% da taxa dos RICS’s. É claro que se teria que observar os dados de 2011 e 2012 para um ajuizamento mais equilibrado sobre mudanças do paradigma de crescimento acelerado para o Brasil. Aliás, os primeiros números de 2011 parecem sugerir que o desempenho brasileiro estaria retornando aos padrões da primeira década – 2002-2010. O aumento das pressões inflacionárias no Brasil em 2010 e 2011 e as evidências da reduzida capacidade competitiva da sua indústria de transformação podem estar antecipando o retorno a taxas de crescimento mais baixas. A conjuntura econômica mundial continua, portanto, condicionando o compasso da economia brasileira. Metodologia de aferição do cumprimento da promessa Será utilizado o IBC-BR ─ Índice de Atividade Econômica do Banco Central ─ como indicador do desempenho do PIB. A aferição será feita mensalmente pela taxa de variação em 12 meses do IBC-Br, conforme exemplificado na planilha “Aferição da Promessa” que deve ser colocada no Promessômetro junto com a Nota Técnica (este arquivo). Nota-se da mesma Planilha [ “Aferição da Promessa”] que os desvios das taxas de variação do IBC-Br em relação às taxas de variação do PIB trimestral apresentam dispersão grande (média 8 basis points, com desvio padrão de 50 basis points e uma distância de 166 basis points entre os extremos dos desvios da taxa apurada pelo IBC-Br e pelo PIB trimestral). Ou seja, embora a média e a mediana sejam baixas, as variações em torno da média são significativas. Isto não obstante, nos 5 últimos trimestres (IVº 2010 e do Iº ao IVº de 2011) os desvios mostraram-se significativamente menores). Para esses 5 trimestres a média dos desvios foi de apenas 5 basis points, o desvio padrão baixou para 100% da média, e a mediana ficou igual à média. A distância do maior para o menor desvio caiu para 14 basis points. Assim, não houve 6 discrepância da aferição do cumprimento da promessa entre os dados do IBC-Br e do PIB trimestral no período relevante (jan/2011 a fev/2012). Dos 29 trimestres testados na Planilha [ “Aferição da Promessa”] desde o IVº 2004 até o IVº 2011, em apenas um haveria discrepância na aferição da promessa. No IVº 2008, seria atribuído cartão vermelho com base no IBC-Br e a aferição pelo PIB trimestral consideraria a promessa cumprida. Considerando a redução dos desvios nos últimos 5 trimestres e o fato de que o resultado das aferições seriam iguais em 97% da amostra, quer se usasse o IBC-Br ou o PIB trimestral, sugere-se o uso do IBC-Br, que permite acompanhamento mais tempestivo. Evidentemente, o manual de manutenção do Promessômetro deverá contemplar a comparação a cada trimestre civil da taxa de crescimento do PIB conforme o IBC-Br e o PIB Trimestral do IBGE. Finalmente: a promessa será considerada cumprida para taxas de variação do IBC-Br em 12 meses maiores ou iguais a 5%. Se menores que 5%, registra-se fracasso e cartão vermelho para a Presidente. 7