BRICLab
DEZEMBRO DE 2011 - EDIÇÃO ESPECIAL
DECEMBER 2011 - SPECIAL EDITION
The Rise of BRIC:
Impact on Global
Policymaking
BRIC
Lab
Diretora Executiva
Karim Miskulin - [email protected]
Diretor Financeiro
Marcio Regenin - [email protected]
Diretora Comercial
Margareth Santana – [email protected]
Editora
Rosane Frigeri - [email protected]
Coordenador Editorial
Marcos Prado Troyjo
Administrativo
Iza Moraes - [email protected]
Colunistas convidados
Christian Deseglise
Felipe Chiarello de S. Pinto
Jim O´Neil
John Coatsworth
Joseph Nye
Marcelle Chauvet
Marcos Troyjo
Mario Garnero
Mei Xinyu
Revisão
Press Revisão - www.pressrevisao.com.br
Direção de Arte e Pré-impressão
Imagine Design - [email protected]
Tradução
Adriana Neves
Periodicidade: Trimestral
BRICLab
DEZEMBRO DE 2011 - EDIÇÃO ESPECIAL
DECEMBER 2011 - SPECIAL EDITION
Impressão: Gráfica Pallotti
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The Rise of BRIC:
Impact on Global
Policymaking
Capa
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As opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade de
seus autores. Todos os direitos reservados.
EDITORIAL EDITORIAL
Karim Miskulin
Diretora Executiva
Executive Director
A primeira edição internacional
Apresentamos com prazer a primeira edição internacional da Revista VOTO, publicação trimestral bilíngue de responsabilidade da VOTO Comunicação Aplicada à Política.
Esta primeira edição é dedicada à inauguração do BRICLab da Columbia University em
Nova York, que está sendo lançado em 2 de dezembro de 2011, ocasião na qual participarão várias lideranças políticas, acadêmicas e empresariais dos países mencionados.
Lançamos, assim, uma nova família de produtos jornalísticos internacionais da editora
que circularão a partir de 2012 e que estarão englobados no segmento VOTO Mundo.
Isso muito nos orgulha.
A iniciativa do veículo busca mostrar que está na hora de todos saberem algumas características marcantes do século 21 e as profundas mudanças que ocorrerão no planeta
nas próximas décadas.
Elas não serão apenas velozes e extensas, como, aliás, também foram as que ocorreram no mesmo período do século passado. Mas o principal é que, desta vez, as formidáveis alterações que estão ocorrendo no planeta são muito mais profundas, generalizadas e, acima de tudo, estão apontadas para a construção de um mundo melhor para
todos. Isso significa que, nos próximos anos, se é verdade que nunca terá existido um
número tão grande de pessoas habitando o planeta, também será verdade que em nenhum momento da história tantos seres humanos estarão vivendo uma existência livre
da miséria, marcada por doenças epidêmicas, ignorância, violência e pela ausência da
perspectiva de dias melhores.
O acrônimo BRIC, criado em novembro de 2001 pelo economista Jim O’Neill, da
Goldman Sachs, designava originalmente os quatro principais países emergentes do
mundo – Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011 a reunão política que congrega os
chefes de governo desses quatro países passou também a incluir a África do Sul, formando a nova sigla BRICS.
E o peso econômico dos BRICs já pode ser denominado de formidável. Em 2003, esses
países respondiam por 9% da economia mundial. Em 2009, o PIB dos BRICs aumentou
EDITORIAL EDITORIAL
para 14% do produto mundial. E, em 2010, o PIB conjunto dos cinco países totalizou
11 trilhões de dólares, 18% da economia mundial!
E as perspectivas do BRICS para os próximos anos seguem positivas e demonstram a
correção da atenção que se deve dar a eles. Em 2030, com cerca de 40% da população mundial, esses países terão um PIB de quase 90 trilhões de dólares. Isso indica que
o ranking da economia mundial será liderado pela China, com os Estados Unidos em
segundo lugar, a Índia em terceiro, o Japão em quarto, e, finalmente, o Brasil como o
quinto país mais rico da Terra.
Para cumprir adequadamente essa missão a que se propôs, é importante registrar que
o suplemento VOTO BRICLab terá como matéria-prima editorial o conjunto de informações exclusivas e mais recentes a serem debatidas em uma das mais prestigiadas universidades do mundo. Assim, acreditamos estar levando ao nosso leitor não só uma visão
global de futuro, mas, principalmente, estaremos levando às empresas e aos governos
um retrato científico com o potencial de evolução de cada um dos países que compõem
o BRICS, fato inédito na imprensa nacional.
Boa leitura!
EDITORIAL EDITORIAL
A missão do BRICLab na Columbia University
The mission of the BRICLab at Columbia University
Christian Deseglise e Marcos Troyjo*
Os últimos dez anos viram a transformação dos mercados
emergentes (ME), os quais passaram de atores periféricos
para atores principais na arena internacional.
The last ten years have seen the transformation of Emerging Markets (EM) from peripheral players to major players
in the international arena. Indeed:
• De fato, seus novos poderes econômicos têm sido reconhecidos pelo G20;
• their new economic power has been recognized by
the G20;
• a assertividade política deles está apontando para um
mundo mais multipolar;
• their political assertiveness is pointing towards a more
multi-polar world;
• suas participações estão se tornando críticas para o sucesso de transações comerciais como também nas negociações ambientais;
• becoming critical for the success of trade as well as environmental negotiations;
• a força de suas economias ajudou a tirar o mundo da última recessão;
• e o dinamismo de suas economias está gerando fortes vendas e o crescimento da lucratividade das empresas com
sede em MEs, bem como nos mercados desenvolvidos.
• the strength of their economies has helped pull the world
out of the last recession; and
• the dynamism of their economies is generating strong sales and profit growth for companies based in EM as well
as in developed markets.
Nos mercados emergentes, os BRICs (Brasil, Rússia, Índia,
China) desfrutam de um status especial, graças às suas influências econômicas e políticas. Representando mais de 40% da
população mundial, eles são a força-motriz dentro dos MEs.
Within Emerging Markets, the BRICs (Brazil, Russia, India,
China) enjoy special status thanks to their economic and
political clout. Representing over 40% of the world population, they are the driving force within EM.
A ascensão do BRIC tem o potencial para ser um evento transformador para o mundo. Embora o conceito tenha recebido
uma atenção substancial das corporações, com muitas empresas projetando suas estratégias de negócios em torno desses
quatro países, sentimos que mais deveria ser feito para a compreensão das consequências da ascensão do BRIC com um ângulo multidisciplinar: quais são as consequências estratégicas,
políticas, ambientais, econômicas e financeiras da ascensão do
BRIC e quais são as implicações políticas?
The rise of BRIC has the potential to be a transforming
event for the world. Whilst the BRIC concept has received
substantial corporate attention, with many companies designing their business strategy around these four countries,
we felt that more needed to be done to understand the consequences of the rise of BRIC with a multi-disciplinary angle: what are the strategic, political, environmental, economic and financial consequences of the rise of BRIC and what
are the policy implications?
É nossa opinião que o conceito BRIC dependerá em grande
escala daquilo que os quatro países irão realizar para:
It is our view that the BRIC concept will depend largely on
what the four countries themselves undertake in order to:
EDITORIAL EDITORIAL
1. tornar-se mais do que países que têm em comum grandes estatísticas geográficas, sociais e econômicas;
1. be more than just countries that share large geographic,
social and economic statistics;
2. criar visões e ações conjuntas com base em seus interesses de como o mundo deveria funcionar; e
2. create concerted views and actions on their interests and
on how the world should function; and
3. estabelecer instâncias formais e regulares que reúnam
os líderes de governo e empresariais na construção de
uma agenda comum.
3. establish regular and formal instances that gather government and business leaders in building common agendas.
Durante esta etapa formativa do BRIC, sentimos que
a Columbia University poderia desempenhar um papel
importante, fornecendo as melhores práticas e fóruns,
o que iria contribuir para a definição do conceito através do debate desta questão central dos assuntos globais
contemporâneos e futuros.
A Columbia University tem uma abordagem multidisciplinar e global. Ela possui um currículo exclusivo que mistura
assuntos públicos e internacionais e uma rede internacional de centros de conhecimento afiliados a ela. Essa é a
razão pela qual a Columbia University é exclusivamente
qualificada para desempenhar esse papel.
Esperamos também que a Columbia University possa influenciar de maneira favorável a formação daquilo que os
BRICs significarão para o mundo, a definição de como eles
irão impactar a governança global e orientá-los quanto ao
seu desenvolvimento econômico impressionante na direção da sustentabilidade.
É por isso que nos propusemos a organizar uma conferência anual na Columbia University em Nova York para
discutir assuntos do BRIC com uma abordagem multidisciplinar. A conferência irá reunir estudantes de graduação
e pós-graduação, bem como decisores políticos, líderes
empresariais, professores, investidores e a mídia.
A cada ano, as conferências BRIC da Columbia University irão
reunir os principais decisores políticos, diplomatas, ícones dos
negócios e acadêmicos especializando em nações BRIC.
Acreditamos, portanto, que o BRICLab irá ativamente
reunir atores em assuntos atuais e futuros do BRIC, proporcionará uma rede mundial dentro de instituições acadêmicas distintas em cada um dos países BRIC e, assim,
contribuirá para aumentar ainda mais o perfil do BRIC na
vanguarda de assuntos mundiais.
At this formative stage of the BRICs, we felt that Columbia University could play an important role by providing best
practices and fora which would contribute to the definition
of the concept by debating this central issue of contemporary and future global affairs.
Columbia University has a multidisciplinary and global approach. It carries a unique mix of public and international affairs curriculum and international network of affiliated knowledge centers. That is why Columbia University is
uniquely qualified to play that role
We also hope that Columbia University could exert a favorable influence in shaping what the BRICs will mean to the
world, in defining how they will impact global governance
and in orienting their impressive economic development towards sustainability.
That is why we set out to organize an annual conference
at Columbia University in New York to discuss BRIC matters with a multi-disciplinary approach. The conference
will gather undergraduate and graduate students as well
as policy makers, business leaders, professors, investors
and the media.
Each year the Columbia University BRIC conferences will
gather leading policymakers, diplomats, business icons and
scholars specializing on BRIC nations.
We therefore believe the BRICLab will actively bring together players in current and future BRIC affairs; provide
a worldwide network within distinguished academic institutions from each of the BRIC countries and thus contribute to further raise the profile of BRIC at the forefront
of global affairs.
*Co-diretor do BRICLab da Columbia University. Diretor do HSBC Global Asset Management e responsável por mercados emergentes.
Ensinou no SciencesPo em Paris e no Institute for High Studies for Development em Bogotá, Colômbia. Criou a Foundation Caring for Colombia,
uma organização sem fins lucrativos que fornece assistência às vítimas de violência na Colômbia.
Co-Director of the BRICLab at Columbia University. Director at HSBC Global Asset Management, in charge of emerging markets. Taught at Sciences Po in Paris and the Institute for High
Studies for Development in Bogota, Colombia. Established Foundation Caring for Colombia, a not-for-profit organization that provides assistance to the victims of violence in Colombia.
*Co-diretor do BRICLab da Columbia University. Ele é o fundador do Center for Business Diplomacy,
e pesquisador no Centre d`Études surl`Actuel et le Quotidien, Université Paris Descartes (Sorbonne)
Co-Director of the BRICLab at Columbia University. He is the founder of the Center for Business Diplomacy,
and a Visiting Scholar at the Centre d`Études sur l`Actuel et le Quotidien, Université Paris Descartes (Sorbonne)
VOTO BRICLab
BRICLab: analisando os mercados
emergentes através de um centro de
estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China
BRICLab: cornering the emerging markets
with a center for the study of Brazil, Russia,
India and China
John Coatsworth*
Representando 40% da população mundial, essas quatro nações são uma força-motriz nos mercados emergentes. O BRICLab irá examinar as suas influências crescentes
nos assuntos globais e as implicações de seus crescentes
poderes através da combinação de classes, programas
executivos e conferências. Os BRICs têm o potencial de
transformar o mundo. É importante compreender as consequências desta emergência a partir de um ângulo multidisciplinar. É aí que a SIPA (Escola de Assuntos Públicos e
Internacionais da Columbia) irá representar um papel importante – servindo de fórum para esses estudos.
O BRICLab irá promover a SIPA e a Columbia University como um destino para os líderes atuais e futuros do
BRIC discutirem tópicos importantes relativos ao desenvolvimento de suas nações. Irá também extrair da SIPA
p
ç ,q
e da Universidade outras fontes de especializações,
que
incluem o Instituto de Estudos Latino-Americanos, o
Centro para Estudos Brasileiros,
ileiros, o Instituto Harriman,
o Instituto do Sul da Ásia,, o Instituto Weatherhead
do Leste da Ásia e outras iniciativas
niciativas futuras na SIPA.
Christian Deseglise e Marcos Troyjo, ambos
professores adjuntos da SIPA, estão dirigindo
o novo BRICLab.
A SIPA está especialmentee qualificada para sediar o BRICLab devido à sua abordagem multidisciplinar e global, ao seu currículo exclusivo, à sua rede internacional
onal e ao seu foco
existente nos mercados emergentes.
Tem se visto, de fato, nos últimos 10 anos, a transformação
mação
Representing 40 percent of the world’s population,
these four nations are a driving force in emerging markets. The BRICLab will examine their increasing influence on global affairs and the implications of their
growing power through a combination of classes, executive programs and conferences. The BRICs have the
potential to transform the world. It is important to understand the consequences of that emergence from a
multi-disciplinary angle. That is where SIPA will play an
important role – by serving as a forum for these studies.
The BRICLab will promote SIPA and Columbia University as a destination for current and future BRIC leaders to discuss topics important to their nations’ development. It also will draw on SIPA and the University’s
other wells of expertise, including the Institute of Latin
American Studies,, the Center ffor Brazilian Studies, the
Harriman Institute, the SSouth Asia Institute,
the Weatherhead Eas
East Asia Institute, and
other forthcoming iinitiatives at SIPA.
Directing the new BRICLab are Christian Deseglise and Marcos Troyjo,
adjunct professors.
both SIPA adjunc
SIPA is uniquely qualified to host the
BRICLab due to its multidisciplinary
approach, its unique curand global appro
international network,
riculum and inte
and its existing focus on emerging
markets.
The last 10 years have indeed
seen the transformation of
John Coatsworth
VOTO BRICLab
das forças periféricas em atores principais na arena
internacional. Os BRICs gozam de um status graças
à sua influência econômica e política. Inauguramos o
nosso novo BRICLab com uma conferência examinando o crescimento da influência econômica e política dos BRICs. A conferência irá servir de plataforma
de lançamento para o laboratório, uma coleção de
cursos acadêmicos, documentos oficiais e outras formas de avaliação das implicações políticas do poder
econômico e político crescente dos BRICs.
peripheral forces into major players in the international
arena.“BRICs enjoy a special status thanks to their economic and political clout. We inaugurate our new BRICLab with a conference examining the BRICs’ rising
economic and political influence. The conference will
serve as a launch pad for the laboratory, a collection
of academic courses, white papers, and other means of
assessing the policy implications of the BRICs’ growing
economic and political power.
O BRICLab na SIPA irá, inicialmente, oferecer um curso
de graduação de 14 semanas de duração e palestrantes
convidados, programas da SIPA no Picker Center de Educação Executiva e uma conferência anual para decisores
políticos, empresas, líderes acadêmicos e alunos.
The BRICLab at SIPA will initially offer a 14-week graduate course and guest speakers, programs through SIPA’s
Picker Center for Executive Education, and an annual
conference for policymakers, business and academic
leaders, and students.
Quatro das economias de mais
rápido crescimento no mundo –
Brasil, Rússia, Índia e China, as
chamadas nações BRIC – agora
possuem um fórum especial na
SIPA: o BRICLab
Four of the world’s fastest
growing economies – Brazil,
Russia, India and China, the socalled BRIC nations – now have
a special forum at SIPA:
the BRICLab
*Reitor da SIPA – Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Columbia University
*Dean of SIPA – School of International and Public Affairs at Columbia University
10
BRICLab
VOTO BRICLab
Os BRICS estão à altura do desafio?
Are BRICS up to the challenge?
Joseph Nye*
Em abril,, os BRICS – Brasil,, Rússia,, Índia,, China e África
do Sul– reuniram-se no resort chinês de Sanya pedindo
mudanças às instituições financeiras internacionais e um
distanciamento do dólar.
Last April,
p
the BRICS–Brazil, Russia, India, China and
South Africa–met in the Chinese resort of SSanya and
called for changes in international financial in
institutions
and a move away from the dollar.
Compreendendo 40% da população mundial e um
quarto
economia
esta
organização
parece
quar
qu
arto
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daa ec
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onnom
omia
ia gglobal,
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and a quarComprising 40% of the world’s population an
organization apterr of tthe
te
h global economy, this new organiz
declining Amerpears to represent an important sign of declin
misleading.
ican influence. But such appearances are mis
When Dominique Strauss-Kahn suddenly res
resigned this
May as director general of the International Monetary
Fund, the BRICS were unable to agree on a ccandidate,
and despite the rhetoric of change France will retain
the position.
Goldman Sachs coined the term BRIC in
2001 to call attention to pro
profitable opportunities in what tthe investment firm considere
considered “emerging markets.” But what was
intended as an economic
term has taken on a political life of its
i own. In
VOTO BRICLab
representar um sinal importante do declínio da influência norte-americana. Mas tais aparências são enganosas.
Quando Dominique Strauss-Kahn, em maio, inesperadamente renunciou ao cargo de diretor-geral do Fundo
Monetário Internacional, os BRICS não foram capazes de
chegar a um acordo sobre o candidato, e, apesar da retórica de mudança, a França irá conservar a posição.
Goldman Sachs cunhou o termo BRIC em 2001 para chamar a atenção para as oportunidades lucrativas que a empresa de investimento considerava “mercados emergentes”. Mas o que era para ser um simples termo de
economia assumiu uma vida política própria. Em junho de
2009, os chanceleres dos quatro países se encontraram
pela primeira vez em Yekaterinburg, na Rússia, para tentar
transformar uma sigla sugestiva em um fórum político eficaz, e neste ano eles adicionaram a África do Sul ao grupo.
Após a recente crise financeira, Goldman Sachs apostou alto fazendo uma projeção de que o Produto Interno
Bruto dos BRICS somados poderá exceder ao dos países
do G-7 até 2027, aproximadamente 10 anos antes do que
acreditavam inicialmente. Tais especulações a respeito de
taxas de crescimento econômico, com frequência, revelam-se, ao final, incorretas por motivo de acontecimentos
imprevistos. Mas qualquer que seja o mérito dessa projeção econômica linear, o termo faz pouco sentido político.
Enquanto uma reunião dos BRICS possa ser conveniente
para a coordenação de uma tática diplomática de curto
prazo, o acrônimo agrupa países distintos que possuem divisões profundas. Faz pouco sentido incluir a Rússia, uma
antiga superpotência, com as quatro economias em desenvolvimento. Dos cinco membros, a Rússia tem a menor e
mais alfabetizada população e uma renda per capita muito
mais alta. E o mais importante é que a Rússia está em declínio, enquanto os outros estão em ascensão em recursos
energéticos. Hoje, a Rússia está em falta de exportações diversificadas, enfrenta problemas severos demográfi
mográficos e na
saúde, e, nas palavras do próprio presidentee Dmitry Medvedev, necessita imensamente de “modernização”.
zação”.
Quando se olha atentamente para os números,
eros, a economia crescente da China e os vastos recursos são o coração
da sigla BRICS, embora o papel do Brasil democrático
mocrático seja
uma surpresa agradável. Quando a sigla BRICS
CS foi inventada
pela primeira vez, alguns argumentaram quee um país com
um crescimento tão pequeno quanto seus biquínis, e uma
instabilidade política crônica, não poderia pertencer.
rtencer.
Agora, como observa o The Economist,“em
m alguns aspectos o Brasil supera os outros BRICS. Diferentemente
rentemente da
China, é uma democracia. Diferentemente da Índia,
não existe insurgente ou conflitos étnicos e nem
Joseph Nye
June 2009, the foreign ministers of the four countries
met for the first time in Yekaterinburg, Russia, to try to
transform a catchy acronym into an effective political forum, and this year they added South Africa to the group.
After the recent financial crisis, Goldman Sachs upped
the ante and projected that the combined gross domestic
product of the BRICS might exceed that of the G-7 countries by 2027, about 10 years earlier than they initially
believed. Such simple extrapolations of current economic
growth rates often turn out to be mistaken because of
unforeseen events. But whatever the merits of this linear
economic projection, the term makes little political sense.
While a meeting of the BRICS may be convenient for coordinating short-term diplomatic tactics, the acronym
lumps together disparate countries that have deep divisions. It makes little sense to include Russia, a former
superpower, with the four developing economies. Of the
five members, Russia has the smallest and most literate population and a much higher per-capita income.
More importantly, Russia is declining while the others
are rising in power resources. Russia today lacks diversified exports, faces severe demographic and health problems, and in President Dmitry Medvedev’s own words,
greatly needs “modernization.”
When one looks closely at the numbers, China’s growing
economy and vast resources are the heart of the BRICS acronym, though the role of democratic Brazil is a pleasant
surprise. When the BRIC acronym was first invented, some
argued that a country with a growth rate as skimpy as its
bikinis, and chronic political instability, did not belong.
Now, as the Economist notes, “in some ways, Brazil outclasses the other BRICs. Unlike China, it is a democracy.
Unlike India, it has no insurgents, no ethnic and religious
vizinhos hostis. Diferentemente da Rússia, o Brasil exporta
mais do que petróleo e armas e trata com respeito os investidores estrangeiros”. Com um bom crescimento e uma
série de eleições democráticas, a questão-chave será se o
Brasil conseguirá ou não manter a inflação sob controle.
conflicts nor hostile neighbors. Unlike Russia, it exports
more than oil and arms and treats foreign investors with
respect.” With good growth and a series of democratic
elections, the key now will be whether Brazil can continue to keep inflation under control.
Mas a relevância futura dos BRICS depende dos esforços
diplomáticos da China para expandir a sua influência. Alguns anos atrás, o Brasil criou uma organização chamada
IBSA, que realizou conferências de cúpula das três grandes democracias: Índia, Brasil e África do Sul. A China,
que não é uma democracia, agora sugeriu que a IBSA
seja envolvida na estrutura do BRICS. Ao mesmo tempo,
a China tem resistido às reivindicações da Índia e do Brasil para membro permanente no Conselho de Segurança
da ONU, o que iria rivalizar com o seu próprio status.
But the future relevancy of BRICS depends on the diplomatic efforts of China to expand its influence. Some
years ago, Brazil created an organization called IBSA that
held summits of the three large democracies: India, Brazil and South Africa. China, not a democracy, has now
suggested that IBSA be wrapped into the BRICS framework. At the same time, China has resisted the claims of
India and Brazil for permanent membership on the U.N.
Security Council that would rival its own status.
Quão seriamente deveríamos
assumir o papel de BRICS?
O Beijing Review afirmou,
recentemente, que a
organização está “representando
o mundo em desenvolvimento”
How seriously should we
take the role of BRICS?
The Beijing Review recently
claimed the organization
is “representing the
developing world”
Quão seriamente deveríamos assumir o papel de BRICS?
O Beijing Review afirmou, recentemente, que a organização
está “representando o mundo em desenvolvimento”. O
crescimento econômico da China, da Índia e do Brasil é importante, mas, para decisões econômicas, o que importa é
o papel deles no G-20. Acima de tudo, em um fórum maior,
o Brasil e a Índia podem reclamar dos efeitos da desvalorização da moeda chinesa em suas economias, o que eles
acabam hesitando fazer em reuniões menores dos BRICS.
How seriously should we take the role of BRICS? The
Beijing Review recently claimed the organization is
“representing the developing world.” The economic rise
of China, India and Brazil is important, but for economic decisions it is their role in the G-20 that matters. Moreover, in that larger forum, Brazil and India
can complain about the effects on their economies of
China’s undervalued currency, which they hesitate to do
in the smaller BRICS meetings.
Em termos políticos, a China, a Índia e a Rússia são competidores pelo poder na Ásia. A Rússia está preocupada
com a proximidade da China e de sua influência na Sibéria, e a Índia está preocupada com a invasão chinesa no
Oceano Índico, bem como suas disputas de fronteira no
Himalaia. Como desafio para os Estados Unidos, é improvável que os BRICS se tornem uma aliança séria ou
até mesmo uma organização política de estados que partilham das mesmas ideias. Mais provavelmente, deve ser
visto como um local para os críticos ocasionalmente darem uma puxada nas penas da cauda da águia.
In political terms, China, India and Russia are competitors for power in Asia. Russia worries about China’s
proximity and influence in Siberia, and India is worried
about Chinese encroachment into the Indian Ocean
as well as their Himalayan border disputes. As a challenge to the United States, BRICS is unlikely to become a serious alliance or even a political organization
of like-minded states. More aptly, it should be seen as
a locus for critics to occasionally tweak the tail feathers of the eagle.
*Professor de Harvard e autor de The Future of Power (PublicAffairs, 2011).
*Professor at Harvard and author of “The Future of Power” (PublicAffairs, 2011).
BRICLab
13
VOTO BRICLab
Fortalecendo o Brasil no contexto do BRIC
Strengthening Brazil in the context of BRIC
Marcos Troyjo*
A ideia de “BRICs” (conjunto de nações emergentes que
congrega Brasil, Rússia Índia e China) como categoria válida
para a análise do presente e futuro das relações internacionais é um “conceito-em-construção”. O sucesso de cada
um desses países na economia política do século 21 resultará essencialmente das respostas de quatro perguntas que
cada uma dessas estrelas em ascensão terá de responder:
The idea of “BRICs” (a group of emerging nations that combines Brazil, Russia, India and China) as a valid category for
the analysis of international relations of the present and future is a “concept-in-the-making.” The success of each one
of these countries in the 21st century political economy will
essentially result out of 4 questions that the candidates aspiring to become superpowers must answer:
(1) Qual é a sua visão para o futuro do seu país?
(I) What is your vision for your country´s future?
(2) Como perseguirá seus objetivos em um mundo interdependente e conflituoso?
(II) How will you pursue your goals in an interdependent
and conflicting world?
(3) Como está se preparando para a economia digital do
conhecimento?
(III) How are you getting prepared for the digital economy
of knowledge?
(4) Que sacrifícios estará disposto a fazer?
(IV) What sacrifices are you willing to make?
De fato, se os BRICs quiserem, ademais, atuar como grupo,
permitindo maior coesão da política interna e externa,
Indeed, for BRICs to act as a cohesive group enabling the
joining of forces in order to influence international relations
16
BRICLab
somando forças para assim influenciar em maior medida as
relações internacionais, dependerão daquilo que alcançarem em termos de:
• tornar-se mais do que apenas nações que compartilham
dimensões geográficas e estatísticas econômicas e sociais semelhantes – grande território, grande população,
grande economia, grande potencial para desempenhar
papéis construtivos ou fragmentários em suas regiões geopolíticas e na economia global;
• construir visões e ações articuladas na busca de seus interesses e acerca do entendimento de como o mundo
deve funcionar, e
at a higher extent, will basically depend on their achievements in terms of:
• becoming more than just nations that share geographical dimensions and similar social and economic statistics – vast territories, large populations, booming
economies and great potential to play constructive or
fragmentary roles in their geopolitical regions and in the
global economy.
• building views and articulated actions in pursuit of their
interests regarding the understanding of how the world
should work.
• estabelecer instâncias regulares e formais que congreguem líderes empresariais, a sociedade civil e autoridades governamentais na formulação de agendas comuns.
• establishing regular and formal forums, bringing together business leaders, spokesmen of civil society
and government authorities in formulating common
agendas.
Ainda assim, antes mesmo de analisar as motivações individuais de cada integrante do grupo BRIC, ou mesmo do futuro da eventual cooperação entre os quatro países, cabe
lembrar aquilo que os BRICs não são (ao menos até agora):
Still, even before analyzing the individual motivations of
each member of the acronym or even the future of the possible cooperation among the 4 countries, it is worth remembering what BRICs are not (at least until now):
(I) Os BRICs não são uma organização internacional.
(I) BRICs are not an international organization,
(2) Não são, tampouco, um bloco econômico com modalidades de livre comércio.
(II) neither an economic bloc with the free trade arrangements,
(3) Estão apenas dando o primeiro passo rumo a uma plataforma para construção de consenso quanto a itens
da agenda internacional, como direitos humanos, meio
ambiente, paz e segurança internacional, regras para o
comércio internacional, atuação conjunta na ONU ou
OMC, etc.
Os BRICs têm de saber o que querem para seus países,
para suas elites, o que querem
em do mundo e para o
mundo. Portanto, é preciso questionar se os
BRICs têm:
(I) Um projeto de poder?
(2) Um projeto de prosperidade?
ade?
(3) Um projeto de prestígio?
A China deseja ser rica e daí poderosa. Ela,
seguramente, tem um projeto
o de prosperidade em vigor já há mais de 30 anos. Isso contribui para o incremento de seu
eu prestígio e poder. Sua performance no campo
po dos chamados
“novos” itens da agenda internacional
nacional (direitos humanos, meio ambiente, etc.) e
das mais sofríveis. A China conntinuará a ser a planta de manufatura industrial do mundo
ainda por muitos anos. O
(III) nor a consensus building platform for issues on the international agenda, such as human rights, the environment, peace and international security, regulations
for international trade or a joint effort at the UN and
WTO, etc…
BRICs must know what they wish for their own countries
and for their elites, what they want from the world and for
the world. Therefore, it is necessary to ask whether BRICs
possess:
• A power project?
prosperity?
• A project of pros
prestige?
• A project of pr
China desires to be rich and consequently powerful. It surely has a prosperity project already
in place for over 30 years. This has certainly
increase its prestige and power.
contributed to inc
Its performance in the field of the so called
new “issues” on the international agenda (huenvironment, etc…) lags behind its
man rights, the environ
China will continue to be the
economic might. C
industrial manufacturing plant for
world´s indus
many years to come. Investment in
China will be driven primarC
ily by the creation of local
infrastructure focused on
Marcos Troyjo
VOTO BRICLab
investimento na China será motivado essencialmente pela
criação de infraestrutura local voltada ao comércio em terceiros países, ao passo que os mercados financeiros chineses
continuarão a ser incipientes ainda por muitos anos.
Já a Índia deseja ser poderosa e daí ter prestígio. O diferencial
competitivo tem vindo da baixa remuneração do fator trabalho (salários) em determinados setores (têxteis, outsourcing,
tecnologias da informação). Não possui nenhum projeto articulado de prosperidade. O investimento continuará a vir de
empresas que desejam reduzir seus custos salariais e de produção mediante a “offshorização” de suas plantas, call-centers ou operações de web-centers. O investimento será vigoroso em áreas de valor agregado como a indústria química,
software e outros segmentos relacionados às TIs, mas em
escala insuficiente para fazer um boom que perpasse toda
sua estrutura socioeconômica. Ademais, os mercados de caativos quando comparados
pitais continuarão pouco significativos
cionais.
com as suas contrapartes internacionais.
A Rússia, por sua vez, quer poder,
er, prosperidade e prestígio,
mas não sabe como conseguir isso.
so. Às vezes, ainda fala e se
comporta como uma superpotência.
cia. A população de cientistas
é imensa. A europeização da Rússia
sia irá representar uma tensão entre conflito e cooperação com países dee seu entorno,
que acabará por produzir efeitos positivos paraa Moscou. No
instante em que a economia europeia
reequilibrada,
peia estiver ree
equilibrada,
o investimento da União Europeiaa fluirá fortemente
fortem
mente à
Rússia (que, na verdade, é a última
ma fronteira daa Europa). O investimento doméstico
internacional
o e internacion
nal
estará focado principalmente em infraestruturaa
e indústrias de capital intensivo.
trade in export markets, while Chinese capital markets will still
remain inchoate for many years.
India on the other hand wants first to be powerful and
hence enjoy prestige. Its competitive edge has originated
from labor issues and low wages regarding certain sectors
such as: textile, outsourcing, information technology. It
has no coherent prosperity project.Iinvestments will continue to come from companies that wish to reduce labor
and production costs through the “offshoring’ of its operations. Investment will be vigorous in fields of valueadded products such as the chemical industry, software
and other IT-related industries, but not in a scale sufficient enough to create a boost that pervades all of its socioeconomic caste structure. Moreover, capital markets
are still incipient.
Russia,, in its turn,, wants power,
p
, prosperity
p p y and prestige,
p
g ,
but it doesn´t know how to achieve all of this. Sometimes
it speaks as if it still were a superpower. The population of
scientists is immense. The Europeanization of Russia will
represent tension between conflict and cooperation with
countries in the surrounding areas which will ultimately
pproduce ppositive effects
ff
ffor
Moscow. The moment
Mais comparações entre
re
o Brasil e a China
A comparação entre o Brasil e a China
hina é bastante reveladora. Imagine embarcar
ar em uma
máquina do tempo e voltar para 1971. Você
chegaria a uma conferência que une
ne Prêmios
Nobel, além de alguns dos mais respeitados
speitados estrategistas e futurologistas do mundo.
do. O objetivo
o
é profetizar o futuro da China e do
o Brasil.
Para guiar as projeções, é feita uma série dee perguntas. Se alguém fosse apostarr que, em 20
2011,
011, um
desses países iria:
• superar até 2020 o PIB nominal
al dos Estadoss Unidos e assim tornar-se a maior economia
ia mundial;
• deter 60% de seu PIB associado
do a comércio
o exterior;
• se tornar o destino principal para
ara investimen
investimento
nto direto estrangeiro (IDE).
18
BRICLab
Qual seria o escolhido:
a China ou o Brasil?
A maioria colocaria as suas fichas no Brasil. No início dos
anos 70, o gigante sul-americano estava no meio do “Milagre Brasileiro”, com sua economia crescendo acima de
10% ao ano. Naquela época, como agora, havia um grande
entusiasmo pelo Brasil ao redor do mundo.
Nos anos 70, a China atraiu a atenção internacional não
pela sua produção de bens e serviços, mas por sua produção de problemas.
the European economy is rebalanced, the investment from
the European Union will flow strongly to Russia which is
Europe´s last frontier. The credibility of capital markets
and institutions is still very fragile and will take years to
become sound. The domestic and international investment
will be primarily focused on infrastructure and capital intensive industries.
Further Comparing Brazil and China
Até mesmo agora com o Brasil totalmente na moda ao redor do mundo e o respeito que se deve ter pelo potencial
de outros mercados
mercado emergentes, o fato é que, em 2011,
The comparison between China and Brazil is indeed revealing. Imagine boarding a time machine back to 1971. You
would arrive at a conference that brings together Nobel
Laureates, as well as some of the world´s most respected
strategists and futurologists. The goal is to prophesize on
the future of China and Brazil.
Como os grandes países
emergentes estão se
preparando para a nova
economia política global?
How are the great
emerging countries
preparing for the new
global political economy?
Brasil, Índia e Rússia juntos são economicamente equivalentes a uma China.
To guide the projections, a series of questions is asked. If
one was to take a bet that, in 2011, which of these two
countries would:
O que aconteceu durante estas quatro últimas décadas que
impulsionou a China à tamanha proeminência?
A grande diferença é que o Brasil enfrentou as últimas duas
décadas com uma “lanterna de popa” (e, às vezes, a lanterna estava desligada). A China projetou a sua “lanterna
para o futuro”.
A China criou um plano. O gato, não importando a sua cor,
iria caçar rato. Ela escolheu um modelo e se manteve nele.
O Brasil não fez isso.
A China decidiu irradiar poder e prestígio a partir de uma
economia sólida de base. Ela montou um projeto nacional
baseado em comércio exterior e a atração IDEs. Ela promoveu – e ainda promove – um sacrifício geracional em
nome da poupança e de investimentos, ambos em torno de
50% do PIB. Ela aplica a mão pesada de seu governo centralizado e austero sobre as questões de direitos humanos
e do meio ambiente.
O transtorno macroeconômico brasileiro dos anos 80 e
parte dos anos 90 varreu a ideia de “longo prazo” para bem
longe do léxico econômico do Brasil. Os brasileiros vieram
a sofrer como consequência disso. O sofrimento que as
pessoas vivenciaram, portanto, não pode ser considerado
BRICLab
- overtake by 2020 the nominal GDP of the U.S. and therefore become the world’s largest economy?
- hold 60% of its GDP associated to foreign trade?
- become the world´s top destination for foreign direct investment (FDI)?
Which one would it be, China or Brazil?
Most would bet their chips in Brazil. In the early 70s, the South
American giant was in the midst of the “Brazilian Miracle”,
with its economy growing at over 10% per year. Then, as now,
there was great enthusiasm around the world for Brazil.
China in the 70s drew international attention not for its
production of goods and services, but for its production of
problems.
What happened during these past four decades to propel
China to such a prominence?
Even now with Brazil in full fashion around the world and the
respect one must carry for the potential of other emerging
19
VOTO BRICLab
O Brasil não tem sido capaz
de implementar durante estas
quatro últimas décadas um
projeto de poder ou
de prosperidade
Brazil has not managed
to implement throughout
these four past decades a
project of power or
prosperity
um “sacrifício” em nome de um projeto nacional pela simples razão de que não havia nenhum projeto.
markets, the fact is that, in 2011, Brazil, India and Russia together are the economically equivalent to one China.
A maneira como, ao longo dos anos, a China tem combinado parcerias público-privadas, o direito do trabalho, a
mão de obra barata, a abordagem favorável ao capital estrangeiro e uma carga tributária leve torna o país o maior
parque industrial do mundo.
The big difference is that Brazil faced the last two decades with a “lantern on the stern” (and sometimes the
lantern was off). China projected a “lantern aimed at the
future”. China drew a plan. The cat, no matter its color,
would hunt mice. It chose a model. It stuck to it. Brazil didn´t.
O Brasil não tem sido capaz de implementar durante estas
quatro últimas décadas um projeto de poder ou de prosperidade. Hoje, isso é confundido com o projeto nacional
PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O PAC é
essencial e bem-vindo, mas não é a construção do futuro.
É a recuperação do tempo perdido. Infraestrutura física,
portos, aeroportos e estradas – é o passado alcançando o
presente.
O futuro para o Brasil está em tornar suas empresas tecnologicamente intensivas em diversas indústrias. Não há
nada mais estratégico para o Brasil do que transformar seu
povo criativo em uma sociedade de empreendedorismo e
inovação.
As vantagens comparativas do Brasil de hoje (bioenergia,
mineração, petróleo, pré-sal) devem ser colocadas a serviço da construção de vantagens competitivas do amanhã
(a expansão de P&D, patentes, novos produtos, empresas
e universidades intrinsecamente conectadas).
O novo modelo de crescimento
econômico do Brasil
E o Brasil? Nosso país se insere em uma atmosfera de incerteza quanto à economia global. Tal cenário pode implicar significativa estiagem internacional de capitais. A dependência que hoje nosso perfil econômico externo mantém
com a China é arriscada demais. É com esse ambiente externo que devemos dar sentido prático à continuada expansão da economia brasileira e ao resgate da dívida social.
Será preciso aliar esforços de governo e sociedade na construção de um projeto para os próximos 25 anos. Este projeto tem de conjugar:
20
China decided to radiate power and prestige from a solid
economic base. It devised a national project based on foreign trade and the attraction of FDI. It promoted – and
still promotes – a generational sacrifice on behalf of savings
and investment, both at around 50% of GDP. It applies the
heavy hand of its centralized and austere government on
human rights and the environment.
The Brazilian macroeconomic disorder of the 80s and
part of the 90s swept the notion of “long term” away
from Brazil´s economic lexicon. Brazilians suffered as
a consequence. The suffering people underwent though
cannot be seen as a “sacrifice” in the name of a national
project – for the simple reason that there was no national project.
The way China has combined over the years Public-Private
Partnerships, labor law, cheap workforce, a favorable approach to foreign capital and a light tax burden makes the
country the largest manufacturing park in the world.
Brazil has not managed to implement throughout these four
past decades a project of power or prosperity. Today, it confuses the concept of a national project with the PAC (the
Portuguese language accronym for Brazil´s Growth Acceleration Program). Essential and welcome as it is, the PAC is
not the construction of the future. It is the recovery of lost
time. Physical infrastructure, ports, airports and roads – it
is the past catching up with the present.
The future for Brazil lies in making its companies tech-intensive in various industries. There is nothing more strategic for Brazil than transforming its creative people into a society of entrepreneurship and innovation.
BRICLab
Aquilo que as empresas brasileiras vêm fazendo de melhor em termos de mercado global e uma visão estratégica de como devemos nos inserir na geoeconomia
do século 21.
O Brasil precisa de um business grade
Hoje, há uma espécie de “espiral de otimismo” que envolve
o Brasil. Muitos se mostram impressionados com a resiliência e criatividade de algumas empresas brasileiras.
Será que existe um modelo de negócios que funciona melhor para aquelas empresas brasileiras que operam no mercado global? As empresas brasileiras que vêm lucrando
neste mundo “pós-Lehman Brothers” seguem princípios
que as distinguem e as tornam mais fortes? Será que existem elementos comuns em empresas tão diferentes quanto
Alpargatas, Marcopolo, Embraer, Petrobras, Vale, Fogo de
Chão, BOVESPA, Natura?
ç dessas empresas
p
g dos últiO estudo da evolução
ao longo
mos 15 anos nos faz concluir que, em graus e aplicações
diferentes, podem ser identificadas
3 características que ajudam a
mapear o DNA do sucesso
dessas corporações.
Brazil´s comparative advantages of today (bioenergy, mining, oil, pre-salt) have to be put to the service of building
the competitive advantages of tomorrow (expanded R & D,
patents, new products, companies and universities inextricably linked).
The new brazilian model
for economic growth
How about Brazil? Our country is inserted in an atmosphere
of uncertainty regarding global economy. Such a scenario
may imply on significant international capital scarcity. The
dependency that our external economic profile holds on
China today is much too risky.
It is in this global atmosphere that we must make practical sense out of the continuous expansion of the Brazilian economy and the bailout of our social debt. It will
be necessary to join forces of both government and society in building a project for the next 25 years. This projeect
ctt ha
hass to ccombine:
(I) everything that Brazilian companies have been doing
well in terms of the global market and
(II) a strategic view of how we should insert ourselves in the
global geo-economy of the 21st century.
VOTO BRICLab
A primeira dessas características é o que poderíamos chamar de “autodestruição criativa”. São empresas que entenderam a dinâmica radical de aparecimento e transformação
de tecnologias e de como isso afeta seu negócio.
A Alpargatas deixou de ser uma empresa de calçados para
tornar-se uma empresa de design & branding. Há 20 anos,
as Havaianas eram produto para as classes D e E. Seu principal atrativo era “não deformar, não ter cheiro e não soltar as tiras”. Hoje, com design apurado e marketing de primeira linha, as Havaianas ostentam loja-conceito no bairro
de Saint-Germain-des-Près, em Paris, e adornam os pés de
Nicole Kidman ou Carla Bruni.
A Petrobras está deixando de ser uma empresa de petróleo para tornar-se uma corporação de múltiplas fontes de energia, com presença importante em biocombustíveis e geradores eólicos e fotovoltaicos. A Vale não
é mais uma gigante da mineração, mas da logística, e assim por diante.
São empresas que também se tornaram verdadeiros
“Hubs de Conhecimento”. Corporações que promovem maciços investimentos em educação empresarial
e até mesmo universidades corporativas. Apostaram no
pagamento de MBAs a seus executivos e em Mestrados
e Doutorados para a ponta técnica e especializada. É comum também o envio de seus principais executivos e
pessoal temático a mecas acadêmicas, como INSEAD,
IE, London Business School, Harvard, MIT.
Outro traço distintivo dessas campeãs brasileiras é o seu
conservadorismo financeiro. Em meio à sedução de derivativos e IPOs intempestivos, trabalharam duro para tornar a
operação em si, e não milagrosas fontes externas, sua principal base de financiamento.
22
Brazil needs a “business grade”
Today there is a kind of “spiral of optimism” which is enveloping Brazil. Many appear to be impressed by the resiliency
and creativity of some Brazilian companies.
Is there a business model that works best for the Brazilian companies that operate in the global marketplace?
Do the Brazilian companies that have been profiting in
a “post-Lehman Brothers´ world” follow principles that
distinguish them and make them stronger? Are there
maybe elements in common shared by companies that
are so different from one another such as Alpargatas,
Marcopolo, Embraer, Petrobras, Vale, Fogo de Chão,
BOVESPA and Natura?
The study on the evolution of these companies during the
last 15 years leads us to the conclusion that, in different degrees and applications, there are 3 characteristics that help
map out the DNA of success of these corporations and can
be identified as:
The first one of these characteristics is the one we could
call “creative self-destruction”. These are companies that
understood the radical dynamics of the emergence and
transformation of technologies and how this can affect their
businesses.
Alpargatas ceased to be a shoe company to become a
branding and design company. During 20 years, Havaianas
was a product mainly consumed by the lower social classes.
Its main appeal was that it did not “warp, had no smell and
that the straps did not fall off.” Today with its elaborate design and first class marketing, Havaianas flaunts a concept
store in Saint-Germain-des-Près, Paris, and adorns the feet
of Nicole Kidman or Carla Bruni.
BRICLab
A última característica dessas empresas é que, sem abandonar o presente, já se encontram com olhos voltados para
o futuro. E o amanhã para elas é movido por três condutores: internacionalização, capital humano e planejamento de
longo prazo.
Elas escolheram o caminho da internacionalização, seja
através do modelo de “empresa-comerciante” (turbinando
exportações e importações) ou do modelo de “empresarede” (espraiando a rede de produção e distribuição por
todo o mundo, sempre visando ao menor custo e ao máximo retorno). Utilizam seu valioso capital humano para
moldar o futuro. A Petrobras hoje tem planos diretores que
chegam até mesmo ao ano de 2030.
Os pilares de uma nova
competitividade externa
Outra questão para o êxito do Brasil e seu modelo
de negócios é o papel a ser desempenhado pelo Estado. É dizer, o Governo é parte da solução e parte do
Petrobras is ceasing to be an oil company to become a multiple power supply corporation, with major presence in biofuels,
wind generators and photovoltaics. Vale is no longer a mining
giant, but a logistics one and so on.
These are companies that have also become true “knowledge Hubs”. They are corporations that promote massive investment in business education and even corporate universities. They have placed their stakes on paying
MBAs for their executives and Masters and PhDs for their
top technical and specialized team. It´s a common practice to send their main executives and thematic staff to
academic meccas, such as INSEAD, IE, London Business
School, Harvard and MIT.
Another distinct feature of these Brazilian champions is the financial conservatism. Amid the allurement of untimely IPOs
and derivatives, they have worked hard to assume the operation and not rely mainly on miraculous external funding sources.
The last characteristic of these companies is that without
forsaking the present they already have their eyes into the
Outra questão para o êxito
do Brasil e seu modelo de
negócios é o papel a ser
desempenhado pelo Estado.
É dizer, o Governo é parte da
solução e parte do problema
Another issue concerning
Brazil´s success and its business
model is the role that the state
will play. This is to say that
government is part of the
solution and part of the problem
problema. Temos de passar do investment grade para o
business grade.
future. The future for them is basically driven by 3 drivers:
internationalization, human capital and long-term planning.
Nesse contexto, a opção pelo mercado interno por parte
do Brasil tem sido cantada em prosa e verso como a grande
responsável pela maneira quase incólume com que o País
passou pela crise deflagrada em setembro de 2008.
They have chosen the internationalization path through
the models of “trading company” (boosting import and export) or “network company” (expanding the production
and distribution network throughout the world, focusing
on the lowest cost and maximum return). They use their
valuable human capital to shape the future. Today Petrobras has master plans that even reach the year of 2030.
Isso leva alguns a concluírem que é um erro a internacionalização da economia brasileira. Que não importa a pequena
ênfase que o Brasil confere à conquista de mercados externos. Ora, nada mais errado. A China também atravessou a
crise de cabeça erguida – e ostenta 60% de seu PIB relacionado ao comércio exterior.
Muitos acreditam que a baixa participação do Brasil no comércio mundial (menos de 1% de tudo que se compra e
vende no mundo) e do comércio exterior no Brasil (apenas
cerca de 17% do PIB) é fruto do protecionismo dos países mais ricos.
BRICLab
The pillars of new foreign competitiveness
Another issue concerning Brazil´s success and its business
model is the role that the state will play. This is to say that
government is part of the solution and part of the problem.
We must move on from investment grade to business grade.
In this context, Brazil´s choice for the domestic market has
been chanted out loud as being totally responsible for the
23
VOTO BRICLab
As lições da história econômica
das últimas décadas ensinam
claramente que países que
buscaram a internacionalização
tiveram mais êxito
The lessons of economic history
in recent decades teach clearly
that those countries that sought
for internationalization were
more successful
No entanto, há questões prévias, ainda mais importantes
do que o resultado dessas negociações:
almost unscathed way that the country went through the
crisis of September 2008.
(I) O Brasil quer fazer do comércio exterior sua principal via
de inserção na economia global?
This brings some to conclude that it´s a mistake to internationalize the Brazilian economy. That it makes no difference whether Brazil places little emphasis on conquering
external markets. What a mistaken assumption. China also
faced the crisis with its head up high and boasts 60% of its
GDP related to foreign trade.
(2) Desejamos que o comércio exterior se torne nossa ferramenta privilegiada para a construção de poupança nacional e de recursos para investir?
Temos, portanto, que substituir noções simplistas, como
a ideia de que “o mercado mundial pode ser interessante
para o Brasil se barreiras protecionistas forem eliminadas”,
por questões como “qual nossa estratégia de promoção
comercial mesmo em um mundo protecionista?”.
As lições da história econômica das últimas décadas ensinam claramente que aqueles países que buscaram a internacionalização tiveram mais êxito do que os atrelados
dogmaticamente ao seu mercado interno. Cabe ao Brasil
aprender essa lição.
Para esse objetivo, além das reformas trabalhista, previdenciária e tributária, há um “quarteto” de prioridades:
• a facilitação da legislação interna para abertura de empresas de vocação exportadora;
Many believe that Brazil´s low participation in world trade
(less than 1% of everything that is sold or bought in the
world) and foreign trade in Brazil (only around 17% of its
GDP) is the result of protectionism of rich countries.
However, there are preliminary matters, even more important than the results of these negotiations:
(I) Brazil wants to make foreign trade its main route of entry into the global market.
(II) We hope that foreign trade becomes our privileged tool
for the construction of national savings and resources
for investment.
• ênfase nos aspectos logísticos de projetos a serem contemplados pelas PPPs (parcerias público-privadas);
We have therefore, to replace simplistic notions, such as the idea
that the “world market can be of interest to Brazil once the protectionist barriers are removed”, for ideas such as “What is our
strategy for promoting trade even in a protectionist world.”
• formação de recursos humanos especializados, no âmbito do setor privado, para a promoção comercial no exterior e a atração de IEDs (investimentos estrangeiros diretos), e
The lessons of economic history in recent decades teach
clearly that those countries that sought for internationalization were more successful than those dogmatically tied to
their domestic market. It´s up to Brazil to learn this lesson.
• fortalecimento da presença das micro e pequenas empresas mediante consórcios exportadores.
For this objective, besides the reforms of labor, social security and tax, there is a “quartet” of priorities.
Eis os primeiros – e elementares – passos rumo a uma nova
inserção externa.
• facilitation of national laws for the opening of companies
with a calling for foreign trade.
O renascimento das teorias e políticas de
Raul Prebisch
O Brasil contemporâneo testemunha o silencioso renascimento de teorias e políticas primeiramente formuladas
24
• focusing on logistical aspects of projects selected by PPPs
(public-private partnerships)
• training of specialized human resources, within the private sector, to promote foreign trade and attract FDIs
(foreign direct investment) and
BRICLab
pelo brilhante economista argentino Raul Prebisch (19011986). Esse renascimento pode ser chamado de a “Industrialização Substitutiva de Importação 2.0” ou “ISI 2.0”.
A ISI 2.0 pode ser facilmente identificada na forma como as
empresas estatais, bancos oficiais, municípios, estados e o
Governo Federal interpretam e implementam o interesse
do Brasil na economia global.
Hoje, a ISI 2.0 é um parâmetro de como o governo brasileiro protege as empresas nacionais da competição estrangeira, fomenta a satisfação local e realiza seus contratos.
Nos anos 40 e 50, Prebisch removeu duas das ilusões que
permeavam a imaginação dos latino-americanos:
– Vantagens comparativas nas commodities iriam permitir
que as elites latino-americanas mantivessem o seu padrão
de vida similar aos níveis das principais economias.
– A evolução tecnológica e material seguiria um curso uniforme. De acordo com esta fantasia, os níveis de desenvolvimento dos Estados Unidos poderiam ser facilmente atingidos por países que fossem equivalentes em população,
território e recursos naturais (como o Brasil e a Argentina)
em algum momento do futuro.
Prebisch argumentou que somente aqueles países que desempenhassem inovação tecnológica maciça poderiam ser
considerados “centros cíclicos” da economia global e, consequentemente de forma endógena, poderiam estimular
seu próprio crescimento.
Devido à relativamente baixa capacidade industrial e de inovação da América Latina e ao declínio comparativo do preço
real de matéria-prima, Prebisch inspirou a região a “industrializar ou morrer”. O instrumento concebido por ele foi a política conhecida como substituição de importação.
• empowering small businesses through export consortia.
These are the first- elementary- steps towards a new international insertion
The rebirth of theories and policies
formulated by Raul Prebisch
Contemporary Brazil witnesses the quiet rebirth of theories and policies first formulated by the brilliant Argentine
economist Raul Prebisch (1901-86). This renaissance
may be called “Import Substitution Industrialization 2.0
or “ISI 2.0”.
ISI 2.0 can be easily identified in the way state-owned enterprises, official banks, municipalities, states and the Federal Government interpret and implement Brazil’s interest
in the global economy.
Today, ISI 2.0 is the parameter of how government in Brazil
protects national companies from foreign competition, fosters local content and goes about procurements.
In the 40s and 50s, Prebisch did away with two illusions that
surrounded the imagination of Latin Americans:
- Comparative advantages in commodities would allow Latin
American elites to keep their living standards at similar levels to those of the major Western economies.
- Technological and material evolution would follow a uniform route. According to this fantasy, US development levels could be naturally achieved by countries featuring equivalent population, territory and natural resources (such as
Brazil and Argentina) sometime in the future.
Prebisch argued that only those countries performing massive technological innovation could be considered “cyclic
VOTO BRICLab
A ISI 2.0 da atualidade possui duas caras. Continua a implicar
altas taxas de importação e outras barreiras para proteger
grupos nacionais e fomentar as selecionadas prioridades industriais do Brasil (semicondutores, software, eletrônicos,
etc.) e outras indústrias mais tradicionais, como a dos automóveis. À medida que a moeda nacional, o real, está claramente supervalorizada, o déficit comercial seria ainda mais
alto se não fossem as barreiras tarifárias, o que faz com que
os consumidores brasileiros paguem preços absurdos pela
maioria de produtos importados.
Parecida com o seu protótipo original 50s, a ISI 2.0 é
claramente “nacionalista”. Destina-se a reinterpretar e
modernizar o conceito de “nacionalismo econômico”.
Ao invés de meramente encorajar e abrigar empresários brasileiros, a ISI 2.0 pede pelo “abrasileiramento”
de empresas que querem aproveitar o potencial do mercado interno brasileiro. Um conjunto inteiro de incentivos está à disposição daqueles que decidirem criar empregos no Brasil.
Para esse fim, sua ferramenta mais poderosa é a política robusta de contratos públicos, os quais encontram total expressão na administração Lula-Dilma.
26
centers” of the global economy and therefore manage to
endogenously trigger their own development.
Given Latin America´s relatively low industrial and innovative capacity and the comparative decline in real prices of
raw materials throughout the years, Prebisch inspired the
region to “industrialize or die.” The instrument conceived by
Prebisch was the well-known policy of import substitution.
Present day ISI 2.0 has two faces. It continues to imply high
import tariffs and other barriers to protect national groups
and foster Brazil´s elected industrial priorities (semiconductors, software, electronics, etc.) and other more traditional industries, such as automobiles. As the country´s
currency, the real, is clearly overvalued, trade balance deficit would be even larger if it weren´t for the tariff shields –
which make for outrageous prices paid by Brazilian consumers on most foreign goods.
Much as its original 50s prototype, ISI 2.0 is clearly “nationalistic”. It aims nonetheless to reinterpret and update the concept of “economic nationalism”. Rather than merely encouraging or sheltering Brazilian entrepreneurs, ISI 2.0 calls for the
“Brazilianization” of companies wishing to harness the potential of Brazil´s domestic market. An entire set of incentives is
put to the service of those who decide to create jobs in Brazil.
BRICLab
A nova posição do Brasil
nas relações internacionais
virá dos êxitos em
setores específicos
Brazil´s new position in
international relations will
result from the success of
specific sectors
O modelo ISI 2.0 é essencialmente vulnerável ao
tempo. Para seu sucesso, precisa depender do fluxo
pesado ininterrupto de IDEs derramando sobre o Brasil por muitos anos.
To this end, its most powerful tool is the robust policy of
Government Procurement which finds full expression in the
Lula-Dilma administrations.
Para tudo isso funcionar suavemente, além da necessidade de reformas estruturais urgentes, a ISI 2.0 precisará
gerar ciclos de aprendizado mais curtos, impulsionando,
assim, os ganhos rápidos e volumosos de produtividade.
Conclusões
Finalmente, o Brasil não possui um projeto sofisticado em
termos de poder e prosperidade. A sua ideia de reputação global está primeiramente entrelaçada com o fortalecimento da ONU e a construção de uma Comunidade
Sul-Americana de Nações, como também a cooperação
Sul-Sul, mas com pequena margem para além de “boas intenções” e relações “equilibradas” com os atores principais
mundiais. Recentes tentativas levadas a cabo pelo Brasil de
criar relações estratégicas, como com a China e França,
têm sido, na maioria dos casos, unilaterais.
A nova posição do Brasil nas relações internacionais virá
dos êxitos em setores específicos (agroenergia, mineração,
perfuração e extração de petróleo offshore, aviões, gigantes conglomerados bancários e os efeitos multiplicadores
para a indústria de serviços de investimento em infraestrutura). E, em grande parte, pelo novo status de potência petrolífera, viabilizado pelas descobertas do pré-sal. Com certeza, existe o que chamamos de “hedge do pré-sal”. De
acordo com essa noção, os efeitos multiplicadores de novas
descobertas de petróleo para os brasileiros e para todos
aqueles que apostarem no Brasil serão imensos nos próximos 30 anos, que tal perspectiva “ancora” a decisão de
montar operações em longo prazo no país.
Eis a grande janela de oportunidades que se for, de
forma inteligente, associada ao fomento da economia
do conhecimento e da inovação, pode tornar o Brasil nos próximos anos um membro permanente e construtivo do grupo de nações mais dinâmicas, prósperas
e influentes do mundo.
The ISI 2.0 model is essentially vulnerable over time. For its
success, it must rely on heavy, non-stop flows of FDI pouring
into Brazil over many years to come.
For all this to work smoothly, apart from the urgentlyneeded structural reforms, ISI 2.0 will need to generate
shorter learning cycles and thus boost rapid and voluminous
productivity gains.
Conclusion
Finally, Brazil does not have an articulated power or prosperity project. It´s strategic vision is more geopolitical than
geoeconomic. Its idea of prestige is intertwined mainly with
the strengthening of UN and the construction of a South
American Community of Nations, as well as the SouthSouth cooperation, but with little margin to go beyond
“good intentions” and “balanced” relations. Attempts carried out by Brazil to build strategic relationships, such as
with China or France, are most often unilateral.
Brazil´s new position in international relations will result from
the success of specific sectors (agro-energy, mining, drilling and
offshore oil extraction, planes, huge banking conglomerates
and the multiplying effects on service industry of investment in
infrastructure). And on a large scale, because of the new status of oil superpower brought about by the pre-salt discovery.
Surely there is what we call “ the pre-salt hedge”. According to
this, the multiplying effects of new oil discoveries for the Brazilians and for all of those who bet on Brazil will be immense for
the next 30 years that such a prospect “anchors” the decision
to set up long term operations in the country.
Here lies the great window of opportunity, coupled with the
economy of creativity, to make domestic reforms, raise investment on R & D to 2% of the GDP and internationalize
the brand “Brazil”. This is how Brazil will be definitely included in the framework of the most dynamic, prosperous
and influent nations of the 21st century.
*Co-diretor do BRICLab da Columbia University.
*Co-director of BRICLab at Columbia University .
BRICLab
27
VOTO BRICLab
Fazendo dos BRICS uma nova
estrutura de poder mundial
Building BRICS into a new world
power structure
Mei Xinyu*
Os líderes das principais economias emergentes mundiais – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS)
– estão se unindo. Para compreender a importância do
grupo do BRICS e a nova adição para seus membros, teremos que examiná-lo dentro do contexto da mudança
de poder global.
The leaders of the world’s leading emerging economies
-- Brazil, Russia, India, China and South Africa (BRICS)
-- are coming together. To understand the significance
of the BRICS group and the new addition to its members, we must examine it in the context of the shift of
global power.
A estrutura de poder mundial nunca foi estática. Uma
grande crise frequentemente implica em uma mudança
acelerada da estrutura. Crises originárias de novas economias emergentes sempre ajudam a consolidar a posição dominante dos países hegemônicos. O oposto é verdadeiro
com crises causadas pelos países dominantes.
The world power structure has never been static. A great
crisis often leads to an accelerating change in the structure.
Crises originating from newly-emerging economies always
help consolidate the dominant position of hegemonic countries. The opposite is true with crises originating from the
dominant countries.
Da crise do México em 1994 até a crise russa em 1997, como
também a da Argentina em 2000, e uma série de tempestades financeiras dos anos 90 até o início do século 21, pode-se
constatar que quase todas essas crises foram originadas por
novos países emergentes. A única exceção foi a crise monetária que resultou do bloco da União Europeia, embora, na
verdade, tenha ocorrido na periferia da UE.
From the Mexican crisis in 1994 to the Russian crisis in
1997, the 2000 Argentina crisis and the series of financial storms from the 1990s to the early 21st century, one
can see that these crises almost all originated from newlyemerging countries. The only exception was the currency
crisis that resulted from the EU bloc, though actually it occurred on the edge of the European Union.
Em outras palavras, tais crises não aconteceram ao poder
hegemônico-chave,
os Estados Unidos. Portanto, essas crig
ses ainda serviram para fortalecer e consolidar a já existente
dominância ocidental da estrutura de poder internacional,
especial
dos
Estados
Unidos.
e esp
em
pecciaal do
os E
sttad
dos U
nid
idoss.
In other words, all such crises did not happen in the key
hegemon,
the United States. Therefore, those crises even
g
served to strengthen and consolidate the existing western -- especially US -- dominance of
o the
h international
structure.
ppower
po
werr st
we
truuct
ctur
ure.
ur
28
BRICLab
Contudo, a crise do subprime em 2008, que provocou a
subsequente turbulência financeira mundial, foi causada
pelos países hegemônicos conservadores, em especial os
Estados Unidos. A crise do subprime e a tempestade financeira global provocaram sérios danos à força norteamericana tanto no poder rígido quanto no poder suave.
However, the 2008 subprime crisis and the subsequent
global financial storm it sparked all came from the conservative hegemonic countries, especially the United
States. The subprime crisis and the global financial storm
did serious damage to US strength in terms of both hard
and soft power.
Como resultado, a estrutura de poder mundial está se deslocando de forma que os poderes hegemônicos estão observando as suas influências diminuírem. O presidente do
Banco Mundial, Robert Zoellick, tem dito que a crise econômica mundial está mudando as relações de poder do
mundo. Tais mudanças, ele afirmou, terão profundos impactos nos mercados financeiros e nas políticas monetárias, nas relações comerciais, como também no papel dos
países em desenvolvimento. O que ele disse é um simples reconhecimento da realidade e das tendências em
desenvolvimento.
As a result, the global power structure is shifting, with the
hegemonic powers seeing their influence dwindling. World
Bank President Robert Zoellick has said the global economic crisis is changing the world’s power relations. Such
change, he said, will have a profound impact on monetary
markets and monetary policies, trade relations as well as
the role of the developing countries. What he said is simply
recognition of the reality and the developing trend.
Na última mudança de poder, os Estados europeus e o Japão sofreram perdas maiores quando comparados com
os Estados Unidos. Isso ocorre porque os Estados Unidos, apoiados por seu superpoder hegemônico, puderam
transferir a sua crise e as suas perdas para essas hegemonias periféricas. Os EUA também possuíam a alavancagem
para negociar a redistribuição de poder com as economias emergentes à custa daqueles países na periferia hegemônica a fim de satisfazer uma parte das necessidades
das economias emergentes. Na atual reforma do Fundo
Monetário Internacional (FMI), por exemplo, os Estados
A crise econômica mundial
está mudando as relações de
poder do mundo. Tais mudanças
terão profundos impactos
nos mercados financeiros
BRICLab
In the latest power change, the European states and Japan
have suffered greater losses compared to the United States.
This is because the United States, backed by its super hegemonic power, can transfer its crisis and losses to these marginal hegemonies. It also had the leverage to negotiate the
redistribution of power with emerging economies at the expense of those marginal hegemonic counties to satisfy part
of the needs of the emerging economies.
In the current reform of the International Monetary Fund
(IMF), for example, the United States, faced with the demands by China and other emerging powers to raise their
say in the organization, is responding by pressing the EU to
reduce their IMF share and voting power.
The global economic crisis is
changing the world’s power
relations. Such change will
have a profound impact on
monetary markets
29
VOTO BRICLab
Unidos, confrontados com as exigências da China e de outros poderes emergentes para aumentar seus poderes de
decisão dentro da organização, estão respondendo ao pedido pressionando a União Europeia para reduzir as suas
cotas e poder de voto no FMI.
Entretanto, nenhum poder hegemônico estaria disposto
a curvar-se em retirada do palco mundial e faria sempre
todo o possível para conter os países emergentes de colocar em perigo sua posição dominante e seus interesses
centrais. O mais preferível seria derrotar os países emergentes. Se não pudesse fazê-lo, então se moveria para
compartilhar um grau de poder com eles para aliviar suas
preocupações. Em um mundo em que os países avançados ocidentais continuam a exercer o maior poder político e econômico global, os países menos desenvolvidos
devem se esforçar para quebrar o seu domínio se eles
querem melhorar seus interesses econômicos na arena
internacional. A China, por causa de seus interesses próprios, certamente esperaria que esses países dominantes
concordassem em dividir o poder, ou que apenas descessem um degrau de suas posições dominantes. Para esse
fim, ela deve se certificar de que não será derrotada e,
portanto, é necessário forjar alianças.
Esse foi o motivo para a China, a Rússia, a Índia e o Brasil estabelecerem um mecanismo multilateral. Neste ano,
a África do Sul foi convidada para juntar-se ao grupo. Dos
cinco países do BRICS, dois são da Ásia, um é do Leste Europeu, um é da América Latina e o quinto é da África, representando a maior economia naquele continente.
Podemos dizer que o grupo do BRICS, ao assumir o papel de fórum econômico que representa as novas economias emergentes mundiais, é mais apropriado em termos
de representação geográfica. As economias dos cinco países são altamente complementares e suas escalas econômicas e comerciais são consideráveis. Isso criou uma boa base
para os países do BRICS buscarem uma cooperação mais
próxima e um desenvolvimento mútuo.
Yet no hegemonic power would be willing to bow out from
the stage. It would always do everything possible to curb
the emerging countries from endangering its dominant position and its core interests. The most preferable thing
would be to defeat the emerging countries. If it cannot do
so, it then moves to share a degree of power with them to
allay their concerns.
In a world where the advanced western countries continue
to wield the greater global political and economic power,
the less developed countries must strive to break their dominance if they want to improve their economic interests in
the international arena.
China, for the sake of its own interests, would certainly
hope that these dominant countries would agree to share
power, or just step down from their dominant position. To
that end, China must make sure that it must not be defeated and therefore it is necessary to forge alliances.
This was this motive for China, Russia, India and Brazil to
establish a multilateral mechanism. This year South Africa
was invited to join their ranks. Of the five BRICS countries,
two are from Asia, one each from Eastern Europe and Latin
America and the fifth from Africa, representing the largest
economy on that continent.
We may say that the BRICS group assuming the role as an
economic forum representing the world’s newly-emerging
economies is most appropriate in terms of geographic representation. The five countries’ economies are highly complementary and their economic and trade scales are considerable. This has laid a good foundation for the BRICS countries
to pursue closer cooperation and mutual development.
This notwithstanding, the five countries face one fundamental issue: conflict of basic interests. Some of them are
strong in manufacturing while others are rich in natural resources. How to address such differences and devise winwin mechanisms is a major challenge facing the BRICS
group in the years ahead.
Apesar disso, os cinco países enfrentam uma questão
ão
fundamental: conflito de interesses básicos. Alguns deles são fortes em fabricação, enquanto outros são ricos em recursos naturais. Como lidar com tais diferenenças e desenvolver mecanismos de ganha-ganha é um
dos maiores desafios que o grupo BRICS enfrentará nos
próximos anos.
*Membro do Centro de Pesquisa para Comércio Internacional e
Cooperação Econômica, do Ministério do Comércio da China.
*Fellow at the Research Center for International Trade and
Economic Cooperation, the Ministry of Commerce, China.
Mei Xinyu
VOTO BRICLab
Os BRICS e a crise da dívida mundial –
o novo equilíbrio de poder
BRICS and the world debt crisis
Mario Garnero e Marcelle Chauvet*
Como mostrou a recente crise financeira dos Estados Unidos, intensificada pela falência do Lehman Brothers, o colapso de bancos importantes durante os momentos de
incerteza do mercado financeiro pode levar a um contágio disfuncional de todo o sistema bancário que, eventualmente, pode causar reais danos à economia global. Analogamente, a crise fiscal soberana europeia tem se espalhado
gradualmente entre os países da região do euro, aumentando o risco de default e ameaçando o futuro do euro. Temor de repetição do colapso financeiro de 2008 tem alimentado a crise de liquidez, o que poderia gerar uma crise
de solvência. Essa preocupação tem sido um dos focos
principais do recente pacote de resgate da União Europeia.
Os países do BRICS no geral têm dado uma contribuição
importante para a manutenção de níveis elevados da liquidez internacional. Como uma parcela significativa de suas
reservas cambiais é investida em valores mobiliários emitidos por países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os BRICS auxiliam esses países a manterem
m as taxas de juros em
torno de zero. Os BRICS,
RICS, assim, estão
ajudando as economias
as mais maduras
aída mais suave
a encontrarem uma saída
da crise. As reservass cambiais atuais dos BRICS estão estimadas em
ase metade do
U$ 4,3 trilhões, quase
rvas dos BRICS
total mundial. As reservas
são o suficiente para comprar 80%
nhias listadas na
de todas as companhias
bolsa de NASDAQ.
ervas internacionais
No entanto, as reservas
ebendo impactos nedos BRICS estão recebendo
iversos fatores,
gativos através de diversos
tais como as políticass de incenrais dos
tivo dos bancos centrais
Estados Unidos e da União
orizaEuropeia, a desvalorizauro e
ção do dólar e do euro
Mario Garnero
As the recent US financial crisis intensified by Lehman
Brothers bankruptcy has shown, failure of important banks
during times of financial market uncertainty can lead to
dysfunctional contagion throughout the banking system
that can eventually wreak havoc in the real global economy. Analogously, the European sovereign debt crisis has
been gradually spreading among euro area countries, raising the risk of default and threatening the future of the
euro. Fears of recurrence of the 2008 financial collapse
have been fueling a liquidity crunch, which could engender
a solvency crisis. This concern has been a main focus of the
recent EU bailout package.
BRICS countries have been making an important contribution in keeping overall international liquidity levels upwards.
As a significant portion of their foreign exchange reserves is
invested in securities issued by OECD countries, the BRICS
play a role in keeping these countries’ interest rates near
zero. The BRICS, thus, are helping more mature economies
build a smoother way out of the crisis. The BRICS current
foreign exchange reserves are estimat
estimated at US$ 4.3 trillion,
nearly half of the world’s total. BRI
BRICS’ reserves suffice to
buy 80% of all NASDAQ-listed co
companies.
However, the BRICS internation
international reserves are being
negatively impacted by several factors, such as the
US and EU central banks stimu
stimulus policies, devaluation of the dollar and euro, and the increase default
risk of US and EU government ddebts.
These events have fuelled increa
increased concerns over the
safety of the US and Euro debt that the BRICS hold. To
protect their pos
positions from further potential los
losses and diversify their
foreign reserve exposure from
the US dollar, the BRICS
hav
have intensified talks and
ta
taken steps towards an
aalternative world reserve
monetary unity.
das dos govero aumento do risco de inadimplência das dívidas
nos dos Estados Unidos e da União Europeia. E
Esses
sses acontecimentos têm alimentado as crescentes preocupações
ocupações sobre a segurança da dívida dos Estados Unidos
os e do euro
mantida pelos BRICS. Para proteger suas posições
sições de possíveis perdas futuras e diversificar a exposição
o ao dós,
lar norte-americano de suas reservas cambiais,
os BRICS têm intensificado suas negociações e tomado medidas no sentido de
uma unidade mundial de reserva monetária alternativa.
Alguns podem argumentar pela volta do pado que o comdrão ouro. No entanto, a história tem mostrado
promisso com o padrão ouro tem deixado oss países vulneráveis a ataques especulativos às suas moedas, o que causou
go. Além disso,
oscilações brutas na produção e no desemprego.
a adoção do padrão ouro implicava na perda d
dee controle da
es era assimépolítica monetária. Por fim, a carga dos ajustes
ses com moetrica e recaiu mais pesadamente sobre os países
das mais fracas que experimentaram recessõess mais severas.
A Reunião de Cúpula do Grupo dos 20 (G-20), na qual foi
permitido que o FMI emitisse uma grande quantidade dos
Direitos Especiais de Saque (DSEs), preparou o terreno
para a possibilidade dos DSEs se estabelecerem como uma
nova moeda global de reserva. Já que os DSEs fazem parte
das reservas internacionais dos governos e são utilizados
como garantias para empréstimos, os DSEs podem efetivamente mudar a oferta monetária global.
Os DSEs poderiam se tornar a nova e estável moeda mundial, com a vantagem de não estar sob o controle de nenhum país em particular. No entanto, os BRICS não estão
esperando os DSEs se tornarem o novo dólar. Eles já começaram a tomar atitudes que os distanciam do dólar em
direção às suas moedas locais através de acordos comerciais transfronteiriços. A China assinou diversos acordos
com os outros BRICS, bem como com a Coréia do Sul,
com a Malásia e com a Argentina pelo swap de divisas, no
qual as suas moedas locais (em particular, o yuan) são utilizadas como meio para comércios bilaterais, evitando o dólar norte-americano.
Os países do BRICS no geral
têm dado uma contribuição
importante para a manutenção
de níveis elevados da liquidez
internacional
BRICLab
Some might argue for a return to the gold standard.
However, history has shown that commitment to the gold
standard left countries vulnerable to speculative attacks
on their currencies, which led to abrupt oscillations in
production and unemployment. In addition, adoption of
the gold standard implied loss of control over monetary
policy. Finally, burden of adjustments were asymmetric
and fell more heavily on countries with weak currencies,
which experienced more severe recessions.
The G20 Summit in 2009, in which the IMF was allowed to
print a large amount of the Special Drawing Rights (SDR), set
the stage for the possibility of SDR being established as a new
global reserve currency. Since the SDRs are part of government international reserves and used as collateral for borrowing, SDRs can effectively change global money supply. SDR
could be the new stable world currency, with the advantage
that is not under the control of any particular country.
However, the BRICS are not waiting for the SDRs to become
the new dollar. They have already been taking steps to move
BRICS countries have
been making an important
contribution in keeping overall
international liquidity levels
upwards
33
VOTO BRICLab
Esses chamados comércios bilaterais de moedas locais podem aumentar exponencialmente em breve. Tomemos
o caso do Brasil e da China. O comércio total entre esses
dois países aumentou substancialmente na última década.
As exportações do Brasil para a China tiveram um crescimento composto de 47% ao ano, enquanto as importações da China tiveram um crescimento composto de 38%
ao ano durante esse mesmo período. Existe uma previsão
de crescimento da relação comercial entre Brasil e China de
U$ 50 bilhões para U$ 125 bilhões nos próximos cinco anos.
Os atuais riscos associados aos problemas da dívida soberana da UE e dos EUA podem estimular o comércio
34
away from the dollar towards local currencies in cross-border trade settlements. China has signed several deals with
the other BRICS as well as with South Korea, Malaysia, and
Argentina for currency swaps in which their local currencies (particularly the yuan) are used as the means for intratrade, bypassing the US dollar.
These bilateral local-currency denominated trades may increase exponentially soon. Take the case of Brazil and China.
The total trade between these countries expanded substantially in the last decade. Brazil’s exports to China had a compound growth of 47% a year whereas imports from China
had a compound growth of 38% a year during this period.
BRICLab
O que o futuro reserva para a
União Europeia? O modelo Euro
implica que a política monetária
esteja nas mãos do Banco
Central Europeu (BCE)
What does the future hold for
the EU? The Euro model has
implied that monetary policy
is in the hands of the European
Central Bank (ECB)
internacional baseado em moedas denominadas locais entre os próprios BRICS. A tendência natural é que os BRICS
se salvaguardem do risco da pesada dependência do dólar,
o que pode levar a uma nova ordem de moeda internacional, seja por meio dos DSEs, de acordos comerciais bilaterais ou de uma moeda-país dos BRICS. A consequência seria um acúmulo adicional de reservas por esses países e o
declínio em dólar norte-americano.
Brazil’s trade relationship with China is predicted to grow
from US $ 50 billion to US $125 billion in the next five years.
O que o futuro reserva para a União Europeia? O modelo
Euro implica que a política monetária esteja nas mãos do
Banco Central Europeu (BCE), enquanto cada país-membro segue sua política fiscal individual. Desistir da política
monetária em nível de país implica que choques de recessão só podem ser acomodados através da expansão fiscal
financiada por dívidas. Por outro lado, a política monetária do BCE pode ser benéfica para alguns países em detrimento de outros. Por exemplo, o BCE pode agir no intuito
de conter ameaças inflacionárias em alguns países, o que,
ao mesmo tempo, pode causar uma contração econômica
grave em outros países.
A experiência recente tem mostrado que os custos desse
impacto desigual da política monetária e das disparidades
na situação fiscal podem levar alguns dos países mais atingidos à inadimplência ou a saírem da União Europeia, o que
causaria uma grande crise financeira. A Inglaterra está verbalizando a possibilidade de sair da União Europeia, já sentindo problemas de segurança do euro e os reflexos em
sua economia. A alternativa é que os membros da zona do
euro harmonizem e coordenem suas políticas fiscais nacionais. A Alemanha e a França estão dando os primeiros passos rumo a uma unidade fiscal, mas a convergência fiscal necessita ser difundida, arriscando, caso contrário, o colapso
do euro como moeda única.
The current risks associated with the sovereign debt troubles
in EU and US may fuel trade in local-denominated currencies
among the BRICS. The natural tendency is that the BRICS
hedge against the risk of heavy reliance on the dollar, which
might lead to a new international currency order, whether
through SDRs, bilateral trade-agreements or a BRICS country currency. A consequence would be further accumulation
of reserves by these countries and declines in the US dollar.
What does the future hold for the EU? The Euro model has
implied that monetary policy is in the hands of the European Central Bank (ECB), while each country member pursues their individual fiscal policy. Giving up monetary policy at the country level implies that recessionary shocks can
only be accommodated by debt-funded fiscal expansion. On
the other hand, ECB monetary policy might be beneficial
to some countries in detriment of others. For example, the
ECB might act to curb inflation threats in some countries,
which at the same time might cause severe economic contraction in others.
Recent experience has been showing that the cost of this unequal impact of monetary policy and disparities in fiscal situation might lead some of the most affected countries to either
default or leave the EU, leading to a major financial crisis.
England is thinking aloud on being out of the EU, already
sensing troubles with the euro safety and the reflexes on its
economy. The alternative is that the Euro zone members
harmonize and coordinate their national fiscal policies. Germany and France are taking first steps towards fiscal unity,
but fiscal convergence needs to be widespread, risking otherwise the collapse of the euro as a single currency.
*Mario Garnero é o Presidente da Brasilinvest, o banco de negócios pioneiro do Brasil.
Marcelle Chauvet é Professora Titular de Economia e Diretora do Programa de
Estudos Latino-Americanos da Universidade da Califórnia, UC Riverside.
*Mario Garnero is the Chairman of Brasilinvest, Brazil’s pioneer merchant bank.
Marcelle Chauvet is a professor of Economics at the University of California Riverside.
BRICLab
35
VOTO BRICLab
Direito político e econômico no BRICS
Political and economic law in BRICS
Felipe Chiarello de S. Pinto*
O desenvolvimento do BRICS, bloco Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul, traz uma vertente importante de desenvolvimento na economia e nas linhas do direito.
The development of BRICS, the bloc of Brazil, Russia, India,
China and South Africa brings an important flow of development in economy and in lines of the law.
Isso é tanto mais importante na medida em que o BRICS
não é um grupo homogêneo. A despeito das afinidades
que Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul possuem enquanto grandes promessas da economia mundial, os perfis econômicos e regulatórios de cada um desses países são
completamente distintos entre si.
This is even more important as BRICS is not a homogeneous
group. Despite the affinities that Brazil, Russia, India, China
and South Africa share, while they are great promises to world
economy, the regulatory and economic profiles of each of these
countries are quite distinct.
Esses países aplicam diferentes estratégias de abertura ao
mercado exterior. Essa diferença é evidenciada, por exemplo, na análise das estratégias e dos processos de inclusão
no mercado global adotados por países como Brasil, Índia e
China. Enquanto a China estabeleceu regimes de parcerias
36
These countries apply different opening strategies to foreign markets. This difference is evidenced, for example, in
the analysis of strategies and processes of inclusion in the
global market adopted by countries such as Brazil, India
and China. While China has established mandatory partnership regimes among nationals and foreigners, targeted
BRICLab
O Brasil adotou um
processo de ampla abertura
ao mercado externo
Brazil has adopted a
broad process of opening
to external markets
compulsórias (obrigatórias) entre nacionais e estrangeiros,
direcionadas para determinados setores do mercado, a Índia optou pela abertura gradual ao mercado. Já o Brasil adotou um processo de ampla abertura ao mercado externo,
sem um fortalecimento prévio do mercado interno e do
setor produtivo. Com isso, é necessário ter em mente que
nem todo tipo de comparação entre os BRICS é possível.
at certain sectors, India chose a more gradual opening. On
the other hand Brazil has adopted a broad process of opening to external markets, without a previous strengthening of
its own domestic market and productive sector. Thus, it is
necessary to keep in mind that not every type of comparison among BRICS is possible.
Vale também analisar o índice de comparação da OCDE.
No que diz respeito ao ambiente concorrencial, a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico
(OCDE) criou um índice de comparação para os ambientes de regulação econômica de diversos países, inclusive os
BRICS: os índices de Regulação de Mercados de Produtos –
RPM (Product Market Regulation – PMR). Os índices de RPM
são estruturados a partir da análise de elementos relacionados com (i) controle estatal, (ii) barreiras ao empreendedorismo, e (iii) barreiras ao comércio e investimento.
It is also worth analyzing the index of comparison of
the OECD. Regarding the competitive environment, the
Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) created a comparison index for economic
regulation environments of several countries, including BRICS: the indexes of Product Market Regulation
– PMR. The PMR indexes are structured based on the
analysis of elements related to (i) state control, (ii)
barriers to entrepreneurship, and (iii) barriers to trade
and investment.
De acordo com um relatório da OCDE, de 2010 (working
paper No 799), o Brasil é o país que possui o menor grau
de restrição à competição saudável de mercado, se comparado aos outros BRICS, seguido, respectivamente, pela
África do Sul, Índia, China e Rússia. Ainda assim, o grau de
restrição que o Brasil apresenta é muito maior do que o
grau médio de restrição dos países-membros da OCDE
(da qual os BRICS ainda não fazem parte).
According to an OECD report of 2010 (Working Paper No.
799), When compared to other BRICS, Brazil is the country
that has the lowest degree of restriction on healthy competition on the market, followed respectively by South Africa, India, China and Russia. Still, the degree of restriction that Brazil
presents is much higher than the average degree of restriction
of OECD member countries (of which BRICS are not yet part).
Nesse contexto, se há dúvidas quanto às razões pelas
quais os BRICS ainda estão longe da média de índices de
RPM dos países-membros da OCDE, o relatório é claro
ao sinalizar que o Brasil é o único dos BRICS a apresentar um conjunto de normas similar ao adotado pelos referidos membros da OCDE em 2008. No entanto, resta
saber se rezar a cartilha da OCDE – como o Brasil tem
feito religiosamente, inclusive com o PL nº 3.937/2004
(“nova Lei do CADE”) – é o rumo correto para o direito
econômico brasileiro.
In this context, if there are doubts as to why BRICS are
still far from the average of PMR indexes of OECD member countries, the report is quite clear as it shows that
Brazil is the only BRICS to present a set of standards similar to those adopted by OECD in 2008. However, it remains to be known if following the OECD prime, as Brazil has been doing regularly, including Bill No.3.937/2004
(“New CADE Law”), is actually the proper course for economic law in Brazil.
*Mestre e Doutor em direito do estado pela PUC-SP, professor do Mestrado e Doutorado
em direito político e econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie, diretor da faculdade de
direito da Unimontee, membro do conselho editorial da revista da Procuradoria-Geral do Banco Central.
*Master´s and a doctorate degree in State Law from PUC-SP, he is a professor of the Master´s and
Doctoral program of Political and Economic Law at the Presbiterian University Mackenzie, Director of the
School of Law UNIMONTES and Member of the Editorial Board of the Central Bank Attorney General periodical.
BRICLab
37
VOTO BRICLab
Bem-vindo a um futuro com os BRICs
Welcome to a future with BRICs
Jim O´Neill*
Em 2001, escrevi um trabalho de pesquisa para os relatórios da Goldman Sachs’ Economics que examinava a relação entre as principais economias mundiais e algumas das
maiores economias emergentes do mercado. Eu acreditava
que a economia global nas próximas décadas seria impulsionada pelo crescimento de quatro países economicamente
ambiciosos e populosos: Brasil, Rússia, Índia e China, e eu
criei a sigla BRIC a partir de suas iniciais para descrevê-los.
38
In 2001, I wrote a research paper in Goldman Sachs’s
Global Economics series that examined the relationship between the world’s leading economies and some of the larger
emerging market economies. I thought the global economy
in the coming decades would be propelled by the growth of
four populous and economically ambitious countries: Brazil, Russia, India and China, and I coined the acronym BRIC
from their initials to describe them.
BRICLab
Desde então, a minha carreira tem sido moldada em grande
parte por esta única sigla. Até mesmo naquela época, eu havia parado de pensar sobre esses quatro países como mercados emergentes tradicionais. Dez anos depois, sinto-me
ainda mais ávido para convencer o mundo que eles, juntamente com outras estrelas em ascensão, são os motores do crescimento da economia mundial, hoje e no futuro.
Quando a crise do crédito estourou em setembro de 2008,
muitos previam que a história do BRIC havia chegado ao
fim. Houve momentos que eu me preocupei com isso
também. No rescaldo imediato, os mercados de ações do
BRIC caíram mais do que o de seus parentes mais desenvolvidos e realmente parecia que o comércio global sofreria de cicatrizes permanentes.
Naturalmente, este temor acabou sendo totalmente infundado. Em alguns aspectos foi exatamente quando a tese
BRIC amadureceu. Ela resistiu às sacudidas das bases econômicas mundiais, e emergiu mais robusta do que nunca.
Since then my career has been shaped in large part by that
single term. Even then I had stopped thinking of these four
economies as traditional emerging markets. Ten years later
I am even more eager to convince the world that they, along
with some other rising stars, are the growth engines of the
world economy, today and in the future.
When the credit crisis erupted in September 2008, many
predicted that the BRIC story was over. There were moments I worried about that too. In the immediate aftermath, BRIC equity markets fell more than those of their
developed cousins and it did seem as though global trade
might suffer permanent scars.
Of course, this fear turned out to be completely unfounded.
In some ways that is when the BRIC thesis really came of
age. It withstood the shakings of the world’s economic foundations, and emerged more robust than ever.
My paper did not cause an immediate splash and its main
points were not seen as especially profound at the time.
Eu acreditava que a economia
global nas próximas décadas
seria impulsionada pelo
crescimento de quatro
países economicamente
ambiciosos e populosos:
Brasil, Rússia, Índia e China
I thought the global
economy in the coming
decades would be propelled
by the growth of four populous
and economically ambitious
countries: Brazil, Russia,
India and China
O meu trabalho não causou nenhum impacto imediato,
e seus pontos principais não foram vistos como especialmente profundos na época. Baseado em minhas análises do
PIB global, escrevi que o Brasil, a Rússia, a Índia e a China
juntos controlavam 8% do PIB mundial e iriam enxergar a
sua parcela da economia mundial crescer significativamente
na próxima década.
Based on my analysis of global GDP, I wrote that Brazil, Russia, India and China, which then controlled 8pc of the world
GDP, would see their share of the world economy grow significantly in the next decade.
Pude observar que o PIB da China já era maior do que o
da Itália, que era um membro bem enraizado das superpotências econômicas do grupo G7, e na década seguinte,
ela iria começar a ultrapassar uma série de outros membros do G7.
Durante os 10 anos seguintes, previ que o peso dos BRICs
– e especialmente a China – em termos de PIB mundial
iria crescer de forma marcante. O mundo teria que prestar atenção.
BRICLab
I noted that China’s GDP was already bigger than that
of Italy, which was a well-entrenched member of the G7
group of economic superpowers, and over the decade
ahead it would start to overtake a number of the other
G7 members.
Over the next 10 years, I predicted that the weight of the
BRICs – and especially China – in world GDP would grow
quite markedly. The world would have to pay attention.
I predicted that Brazil, given highly favourable but what
then appeared to be very unlikely conditions, could by 2011
increase its GDP to “not far behind Italy”.
39
VOTO BRICLab
O PIB do Brasil ultrapassou o
da Itália em 2010, e se tornou a
sétima maior economia mundial,
com um PIB em torno de
US $ 2,1 trilhões (£1,3 trilhões).
Brazil’s GDP overtook Italy’s
in 2010, making it the seventhlargest economy in the world,
with a GDP of around
2.1 trillion (£1.3 trillion).
Previ que o Brasil, dadas as condições altamente favoráveis, mas que, na época, pareciam improváveis, poderia até
2011 aumentar o seu PIB e não ficar muito atrás da Itália.
Brazil’s GDP overtook Italy’s in 2010, making it the seventh-largest economy in the world, with a GDP of around
$2.1 trillion (£1.3 trillion).
O PIB do Brasil ultrapassou o da Itália em 2010, e se tornou
a sétima maior economia mundial, com um PIB em torno
de US $ 2,1 trilhões (£1,3 trilhão).
The other three BRICs have made similarly impressive progress. In the first two months of 2011, for example, we learnt
that China’s economy had overtaken Japan’s as the world’s
second largest; IndiGO, a little-known low-cost Indian airline, had ordered 180 A320s, making it two-thirds the size
of Europe’s long-established easyJet; and Russia had become Europe’s largest car sales market.
Os outros três BRICs têm feito progressos similares
impressionantes. Nos primeiros dois meses de 2011,
por exemplo, descobrimos que a economia da China
havia ultrapassado a do Japão e se tornado a segunda
maior; IndiGO, uma companhia aérea indiana de baixo
custo e pouco conhecida, havia encomendado 180
aviões A320, e se tornado dois terços do tamanho da
bem estabelecida easyJet europeia; e a Rússia havia
se tornado o maior mercado de vendas de automóveis da Europa.
Todos os quatro países BRIC superaram as expectativas
que eu tinha deles em 2001.
Olhando para trás, para as primeiras previsões, que pareciam chocantes para alguns na época, agora parecem um
tanto quanto conservadoras.
O PIB combinado dos países BRIC quase quadruplicou
desde 2001, de em torno de US $3 trilhões para entre
US $11 trilhões e US $12 trilhões.
A economia mundial duplicou de tamanho desde 2001,
e um terço desse crescimento tem vindo dos BRICs. O
crescimento do seu PIB combinado foi mais do que o
dobro do crescimento do PIB dos Estados Unidos e foi
o equivalente à criação de um novo Japão somado a uma
Alemanha, ou igual a cinco Reinos Unidos no período de
uma única década.
Alguns observadores dizem que o efeito BRICs na economia mundial está sendo exagerado, visto que o seu crescimento foi essencialmente motivado pelas exportações para
os mercados desenvolvidos, como também pelo aumento
dos preços das commodities.
As exportações, certamente, desempenharam um papel
importante para a China, mas, desde a crise do crédito de
40
All four of the BRIC countries have exceeded the expectations I had of them back in 2001.
Looking back, those earliest predictions, shocking to some
at the time, now seem rather conservative.
The aggregate GDP of the BRIC countries has close to quadrupled since 2001, from around $3 trillion to between $11
trillion and $12 trillion.
The world economy has doubled in size since 2001, and a third of
that growth has come from the BRICs. Their combined GDP increase was more than twice that of the United States and it was
equivalent to the creation of another new Japan plus one Germany, or five United Kingdoms, in the space of a single decade.
Some observers say the effect of the BRICs on the world
economy has been exaggerated because their growth was
primarily driven by exports to the developed markets, as
well as the rise in commodity prices.
Exports certainly played a major role for China, but since
the 2008 credit crisis and the consequent fall in demand in
the US and elsewhere, that is no longer the case.
For India, domestic demand has been the driver throughout the last decade, and increasingly it is the domestic consumer as well as an increase in infrastructure spending that
is fuelling growth in the BRIC economies.
The credit-fuelled growth in US demand certainly played its
part in their ascent, but even since 2008, and despite the
ongoing US struggles, the BRIC economies have continued
to power ahead.
BRICLab
2008 e a consequente queda da demanda nos Estados Unidos como em outros lugares, esse já não é mais o caso.
Para a Índia, durante a última década a demanda interna
tem sido a sua força motriz, e progressivamente é o consumidor local, como também é o aumento dos gastos com infraestrutura que estão alimentando o crescimento nas economias BRIC.
O crescimento da demanda alimentada pelo crédito nos
Estados Unidos, certamente, desempenhou a sua parte na
ascensão dos BRICs, mas, mesmo desde 2008, e, apesar da
contínua batalha dos Estados Unidos, as economias BRIC
continuaram indo para frente com toda a força.
However you choose to interpret the data, the importance
of the BRICs in global economic growth is beyond dispute.
Personal consumption in the BRIC countries has skyrocketed. In China, between 2001 and 2010, domestic spending increased by $1.5 trillion, or roughly the size of the UK
economy.
The increase in the other three was about the same, perhaps slightly more. BRICs now account for probably close to
20pc of world trade compared with less than 10pc in 2001.
Trade between the BRICs has risen far more quickly than
global trade as a whole.
Independentemente de como se interpretam os dados,
a importância dos BRICs no crescimento econômico global vai além da discussão. O consumo interno nos países BRIC cresceu de forma excepcional. Na China, entre
2001 e 2002, os gastos locais aumentaram em US $1,5
trilhão ou aproximadamente o tamanho da economia do
Reino Unido.
In 2003, my Goldman Sachs colleagues Dominic Wilson
and Roopa Purushothaman published a follow-up paper,
Dreaming with BRICs: The Path to 2050, extending my
earlier analysis to the middle of the century. They wrote
that, by 2035, China could overtake the US to become
the largest economy in the world, and by 2039 the combined GDP of the BRIC economies could become bigger
than that of the G7.
O aumento nos outros três foi similar, talvez um pouco
maior. Os BRICs agora são responsáveis por algo em
torno de 20% do comércio mundial quando comparados com os menos de 10% em 2001. O comércio entre
os BRICs cresceu muito mais rápido do que o comércio
mundial como um todo.
odo.
That paper started to command the attention of many,
even though most thought it fanciful at the time. But our
updated research suggests that it was anything but: China’s economic output – its gross domestic product –
could match that of the US as early as 2027, and
perhaps even sooner.
Em 2003, os meus colegas
olegas na Goldman Sachs Dominic Wilson e Roopa Purushothaman
hothaman publicaram um artigo, Dreaming with BRICs (“Sonhando
onhando com os BRICs”). A caminho
para o ano 2050, estendendo
tendendo assim a minha análise inicial
até a metade do século.
culo. Eles escreveram que, até 2035, a
China iria superar os Estados Unidos para se tornar a maior
economia do mundo,
o, e até 2039 o PIB combinado das economias BRIC poderiaa se tornar maior do que o do G7.
Since 2001, China’s GDP has risen fourfold, from
$1.5 trillion to $6 trillion. Economically speaking,
China has created three new Chinas in the past
decade. And it’s likely that the combined GDP
of the four BRIC nations will exceed that of
the US sometime before 2020.
çou a chamar a atenção de muitas pesAquele artigo começou
soas, embora muitoss pensassem que fosse um tanto fantasioso na época. Mas a nossa pesquisa atualizada sugere que
foi tudo, menos fantasioso:
asioso: a produção econômica da China
no Bruto – poderá igualar à dos Estados
– seu Produto Interno
anto 2027, ou talvez até antes.
Unidos tão cedo quanto
B da China quadruplicou de
Desde 2001, o PIB
US $ 1,5 trilhão paraa US $ 6 trilhões. Falando em
a, a China criou mais três
termos de economia,
ma década, e, provavelnovas Chinas na última
nado das três nações
mente, o PIB combinado
BRIC irá exceder o dos Estados Unidos
até 2020.
o para mim que
Em 2001, era óbvio
ional que coa estrutura institucional
mia mundial
mandava a economia
VOTO BRICLab
precisava de renovação. Quando criei o acrônimo BRICs,
eu argumentei que o G7, G8 e o FMI não eram mais entidades adequadas para lidar com os desafios do novo mundo.
Hoje, isso ficou ainda mais óbvio.
Há mais do que orgulho político envolvido nesta questão. A
não ser que os BRICs sejam inteiramente abraçados pelos
poderes que dominam hoje os conselhos de políticas econômicas mundiais, não aproveitaremos todos os benefícios
do seu crescimento.
Os países que comandaram o mundo durante a segunda
metade do século 20 não podem se dar ao luxo de ficarem cheios de melindres ou muito críticos com países que
agora são seus rivais econômicos, simplesmente por causa
de seus sistemas políticos e sociais diferentes.
Se, genuinamente, queremos tirar mais pessoas da pobreza
e colocá-las dentro da classe média e aumentar o comércio
e a criação de riqueza, então precisamos pensar com afinco
em como superar os obstáculos que ainda prejudicam o
fluxo livre de comércio. A governança econômica internacional não é mais um simples assunto que estimula os economistas; é um elemento vital da maneira como o mundo
j , e um assunto q
funciona hoje,
que afeta todos nós.
O cl
club
ubee G6 d
dos
os p
paí
aíse
sess ma
mais
is rric
icos
os e iind
ndus
ustr
tria
ialiliza
zado
doss fo
foii fu
funnclube
países
ricos
industrializados
dado em 1975 quando o então presidente norte-americano,
42
Back in 2001, it was obvious to me that the institutional framework for running the world economy needed
an overhaul. When I coined the acronym BRICs I argued
that the G7, G8 and IMF were no longer suitable entities
to deal with the challenges of the new world. Today it is
even more obvious.
There is more than national or political pride at stake
here. Unless the BRICs are embraced more fully by the
powers that now dominate the world’s economic policy
councils, we cannot enjoy the full benefits of their growth.
Those countries which ran the world for the latter half
of the 20th century cannot afford to be squeamish or
judgmental about countries which now rival them economically, just because of their different social and
political systems.
If we genuinely wish to pull more people out of poverty into
the middle class and facilitate greater trade and wealth creation, then we need to think hard about overcoming the obstacles which still hinder the free flow of commerce. International economic governance is no longer just a subject to
excite economists; it is a vital element of the way the world
y, and one that affects
ff
works today,
us all.
The G6 club of the richest and largest industrialised countries was founded in 1975 when the then US President,
BRICLab
Gerald Ford, convenceu uma conferência de cúpula a discutir a primeira crise do preço do petróleo. Ele convidou o
Japão, o Reino Unido, a Alemanha, a França e a Itália para
dialogarem com os EUA. Em 1976, ele adicionou o Canadá
para equilibrar o grande contingente europeu, formandose assim o G7.
Os ministros das Finanças dos países e comandantes dos
Bancos Centrais praticamente ainda se encontram três ou
quatro vezes a cada ano. Por serem grandes economias
com níveis de renda per capita razoavelmente similares e
por compartilharem os mesmos valores democráticos, os
países do G7 são vagamente similares. Mas hoje eles são
pouco representativos da economia mundial, diferentemente de como eram nos anos 80.
Naquela época, a China era irrelevante economicamente.
Hoje, é a segunda maior economia do mundo. O Brasil é
maior do que a Itália agora. França, Alemanha e Itália compartilham uma única moeda.
Gerald Ford, convened a summit to discuss the first oil-price
crisis. He invited Japan, the UK, Germany, France and Italy to talks with the United States. In 1976 he added Canada, to balance the large European contingent, thus forming the G7.
The countries’ finance ministers and central bank governors still, typically, meet three or four times each year. As
large economies with reasonably similar income levels per
head and shared democratic values, the G7 countries are
vaguely similar. But they are hardly representative of the
world economy in the way they were back in the 1980s.
Back then, China was economically irrelevant. Today it is
the second-largest economy in the world. Brazil is bigger
now than Italy. France, Germany and Italy share a single currency.
Brasil, Índia e Rússia são, isoladamente, maiores do que
o Canadá. Apesar disso, o G7 ainda se reúne e seus líderes ainda se comportam como se suas nações dominassem
o mundo. Se o G7 fosse formado hoje, teria que incluir a
China. Poderia facilmente usar-se um argumento a favor do
Brasil, da Índia ou da Rússia contra o Canadá e, desde a
Each of Brazil, India and Russia is bigger than Canada. Yet
the G7 still meet and their leaders still behave as though
their nations dominate the world.If the G7 were being
formed today it would have to include China. A case could
easily be made for Brazil, India or Russia over Canada, and
since the introduction of the euro as a common currency in
1999, there seems little logic behind the individual participation of three eurozone members in the G7, especially the
smallest of them, Italy.
Os países que comandaram
o mundo durante a segunda
metade do século 20 não podem
se dar ao luxo de ficarem cheios
de melindres ou muito críticos
com países que agora são seus
rivais econômicos
Those countries which ran
the world for the latter half
of the 20th century cannot
afford to be squeamish or
judgmental about countries
which now rival them
economically
introdução do Euro como moeda comum em 1999, parece
haver pouca lógica por trás da participação individual de 3
membros da zona do Euro no G7, especialmente o menor
deles, a Itália.
If membership hinged only on economic criteria rather
than political influence, then I would suggest that a new
“Growth 8” grouping comprising the Growth Markets
[the BRICs plus Mexico, Indonesia, South Korea and Turkey] would be a much more sensible club than the G7.
From 2011 to 2020, the change in the aggregate GDP of
the Growth 8 is likely to be around double that of the G7
in US dollar terms.
Se a adesão se baseasse apenas em critérios econômicos, em
vez de influência política, então eu sugeriria um novo agrupamento– “Crescimento 8”–, que incluiria os mercados de
crescimento (os BRICs mais o México, a Indonésia, a Coréia
do Sul e a Turquia) e seria um clube muito mais sensato do
que o G7. De 2011 a 2020, a mudança do PIB combinado
do “Crescimento 8” provavelmente será em torno do dobro do crescimento do PIB do G7 em dólares americanos.
BRICLab
The G7 must find an appropriate forum in which world policymakers can meet regularly in an effective manner to implement better solutions to the economic challenges of our
43
VOTO BRICLab
O G7 deve encontrar um fórum apropriado em que os decisores políticos mundiais possam se reunir regularmente
de uma forma eficaz para implementar soluções melhores
para os desafios econômicos do nosso tempo. Os dias do
Clube das democracias “ocidentais” está com seu prazo de
validade vencido.
Talvez o G20 seja – por enquanto – o melhor que podemos criar. No G20, estão incluídas as 19 maiores economias mundiais (incluindo os BRICs) mais a União Europeia,
bem como os chefes do FMI e do Banco Mundial.
Enquanto houver um número expressivo de países batendo fortemente às portas dos grupos “G”, existirá um
outro problema que é a saída dos países cuja relevância enfraqueceu. Uma vez que um país é admitido em um grupo
“G”, fica difícil retirá-lo depois. Tenho pensado seguidamente que uma tarefa principal para o FMI deveria ser a
definição de critérios de elegibilidade para os grupos “G”.
Deveria haver um sistema de promoção e relegação com
base em indicadores claramente objetivos. Os critérios poderiam incluir tamanho, riqueza e talvez algo semelhante a
um GES (Growth Environment Score), que mede o progresso
sustentável.
Seria um grande desafio diplomático para o FMI ou para
qualquer um gerenciar os egos nacionais e forçar a implementação de tal abordagem, mas, se bem-sucedida, tornaria os grupos “G” consistentemente relevantes e gerenciáveis. A perspectiva de adesão poderia também servir para
motivar países como o Paquistão, o Irã e a Nigéria.
A ideia de que, sob certas condições, eles poderiam fazer
parte de um clube que comanda os assuntos globais, poderia ser um poderoso incentivo, da mesma forma que a adesão à UE foi cobiçada pelos estados do Leste Europeu que
formavam a antiga União Soviética.
Seria um grande desafio
diplomático para o FMI ou
para qualquer um, gerenciar
os egos nacionais e forçar
a implementação de tal
abordagem, mas, se bemsucedida, tornaria os grupos
“G” consistentemente
relevantes e gerenciáveis
44
times. The days of a “Western” club of democracies is well
past its sell-by date.
Perhaps the G20 is – for now – the best we can come up
with. The G20 members include 19 of the world’s largest
economies [including the BRICs] plus the European Union,
as well as the heads of the IMF and World Bank.
While there are a number of countries hammering on
the doors of the “G” groups, another persistent problem is ushering out those countries whose relevance has
waned. Once a country has been admitted to a G group,
it is hard to force it out again. I have often thought that a
major task for the IMF should be setting eligibility criteria for G groups. There should be a system of promotion
and relegation based on clear objective indicators. Criteria could include size, wealth and perhaps something
akin to a GES (Growth Environment Score) which measures sustainable progress.
It would be a tough diplomatic challenge for the IMF or anyone to manage the national egos and force implementation
of such an approach but, if successful, it would make the G
groups consistently relevant and manageable. The prospect
of membership could also serve to motivate countries such
as Pakistan, Iran and Nigeria.
The idea that under certain conditions they could be part of
the club running global affairs might become a powerful incentive, in the same way that EU membership was coveted
by the former Soviet states of eastern Europe.
As noted, one obvious step towards streamlining the management of the G7 and G20 would be merging the memberships of France, Germany and Italy into a single EU common
currency membership.
It would be a tough diplomatic
challenge for the IMF
or anyone to manage the
national egos and force
implementation of such an
approach but, if successful,
it would make the G
groups consistently
relevant and manageable
BRICLab
Como se observa, um passo óbvio para facilitar a gestão do
G7 e do G20 seria a fusão dos membros França, Alemanha
e Itália em um único sócio que compartilha uma moeda comum da UE.
Quando o G7 interveio para conter o iene em março de
2011, foi o Banco Central Europeu que estava operando
nos mercados cambiais, em vez dos Bancos Centrais de
cada país. Já que a França, a Alemanha e a Itália agora possuem uma moeda e uma política monetária comuns, parece
simplesmente ser força do hábito que eles frequentem reuniões econômicas globais como entidades separadas.
A associação do Canadá e da Grã Bretanha no G7 também
poderá, em breve, vir a ser avaliada, mas eu não vejo nada
de errado com isso. O orgulho político pode levá-los a argumentar que a exclusão do G7 iria diminuí-los internacional e economicamente.
BRICLab
When the G7 intervened to restrain the yen in March
2011, it was the European Central Bank which operated in the foreign exchange markets, not the central
banks of the individual countries. Since France, Germany and Italy now have a common currency and a
common monetary policy, it seems simply through force
of habit that they attend global economic meetings as
separate entities.
Canadian and British membership of the G7 might also
soon come under scrutiny, but I see nothing wrong with
that. Political pride might lead them to argue that exclusion from the G7 would diminish them internationally and
economically.
But I would disagree. Switzerland plays no role in the G7,
and yet its currency is more important than Canada’s and
Zurich is a more important financial centre than Toronto.
45
VOTO BRICLab
Mas eu discordaria. A Suíça não desempenha nenhum papel
no G7, ainda assim a sua moeda é mais importante do que
a do Canadá, e Zurique é um centro financeiro mais importante do que o de Toronto; Genebra, Zurique, e mesmo
Cingapura são mais importantes do que os centros financeiros da Itália em Milão e Roma.
Muitos de nós na área de negócios e finanças crescemos
pensando que o consumidor dos Estados Unidos é quem
impulsiona o mundo. Até 2020, esta noção será uma mera
observação histórica. A próxima década dará poder às economias BRIC para serem maiores do que os Estados Unidos, dará poder às nações do “Crescimento 8” a ser quase
tão grandes quanto as do G7, e determinarão o sucesso ou
o fracasso global da maioria das multinacionais ocidentais.
No início, nos anos tumultuados que seguiram a crise global de crédito, pode parecer para muitos na Europa e nos
EUA que o modelo econômico ocidental está falido, que a
vida nunca mais será a mesma de novo, e que os BRICs estão tomando conta às nossas custas.
Mas meu palpite é que, dentro de alguns anos, esse humor
deprimente irá se dissipar. Se os BRICS atingirem seus objetivos, será bom para o mundo, e bom para nós. O meu
único arrependimento na minha primeira análise dos BRICs
em 2001 é de que nós não fomos mais ousados.
no
omias BRIC
Entre 2001 e 2010, o PIB das economias
daamente do
aumentou muito mais acentuadamente
essmo em um
m
que eu havia pensado possível, mesmo
cenário mais otimista.
Além disso, a riqueza de seus
cidadãos apresentou aumentos igualmente notáveis, tirando centenas de milhões de
pessoas da pobreza. Seu PIB
per capita, a melhor indicação
de riqueza individual, triplicou
coletivamente.
daa
A China começou a década
como o maior dos BRICs e as
as-sim permaneceu.
rp
presa
O Brasil foi a segunda grande surpresa
m
para nós, pelo menos em termoss monetários. Incluindo-o entre os BRICs,
Css, foi a minha maior aposta, mas, em 2010,
0,, já havia
ultrapassado a Itália para se tornar
rnnar a sétima maior economia do mundo,
o, com um
PIB de US $ 2,1 trilhões (£ 1,3 trilhão).
rilhão).
Eu nunca imaginei que o Brasil pudesse
ud
desse crescer tanto e tão rápido. A nossa análise
náálise não sugeriu que atingiria este estágio antes
nttes de 2020.
Geneva, Zurich, and even Singapore are more important
than Italy’s financial centres in Milan and Rome.
Many of us in business and finance have grown up thinking that the US consumer drives the world. By 2020, this
notion will be a mere historical observation. The next decade will power the BRIC economies to be bigger than the
US, power the eight Growth Market nations to be nearly as
big as the G7, and determine most Western multinationals’
global success or failure.
In the early, rocky years following the global credit crunch it
might seem to many in Europe and the US that the Western
economic model is broken, that life will never be the same
again, and that the BRICs are taking over at our expense.
But my guess is that within a couple of years this depressing
mood will lift. If the BRICs achieve their goals it will be good
for the world, and good for us. My only regret on the first
BRICS analysis of 2001 is that we weren’t bolder.
Between 2001 and 2010, the BRIC economies’ GDP rose
much more sharply than I had thought possible even in the
most optimistic scenario. Moreover, their citizens’ wealth
showed equally remarkable increases, bringing hundreds of
millions of people out of poverty. Their GDP per capita, the
best indication of individual wealth, collectively trebled.
biggest of
China started the decade as the bi
the BRICs and has remainedd sso. Brazil
surprise
was the second big surpr
rise for us,
a least in monetary terms.
at
term
ms.
BRICs was
IIncluding
ncluding it among the BR
myy biggest gamble, but by 2010 it
m
Mesmo não havendo
dúvida quanto ao
notável progresso das
exportações da China na
última década, esta não é
toda a história. O mais
significante é o aumento
do consumo chinês
While there is no
doubting China’s
remarkable export progress
in the last decade, this
is not the whole story.
More significant is the
rise of the Chinese
consumer
Índia e Rússia também superaram minhas previsões de
crescimento nominal e real do PIB.
had overtaken Italy to become the seventh largest economy in the world, with a GDP of $2.1 trillion (£1.3 trillion).
Alguns comentaristas afirmam que essas observações exageram com relação ao impacto do crescimento do BRIC,
que foi produto de um conjunto bizarro e irrepetível de
circunstâncias: o crescimento rápido das exportações, o
boom das commodites e a insustentável demanda dos EUA.
I never imagined Brazil could grow so big so fast. Our [analysis] did not ]suggest that it would reach that stage until
after 2020. India and Russia also surpassed my forecasts for
nominal and real GDP growth.
Ainda que os números sejam vistos a partir de uma perspectiva de demanda, ao invés do PIB, e se omitirmos as exportações, então uma imagem ainda mais forte do crescimento do BRIC surgiria.
Mesmo não havendo dúvida quanto ao notável progresso das exportações da China na última década, esta
não é toda a história. O mais significaivo é o aumento do
consumo chinês.
Até os dados oficiais conservadores chineses indicam um
que o individual para US $ 1,5 trilhão entre 2001 e 2011,
o equivalente a criar outro Reino Unido. A China já não
é apenas um fenômeno de mão de obra barata. O seu
povo está escalando rapidamente a escada da receita e
dos gastos.
O papel do BRIC no comércio mundial também está se expandindo mais rápido do que pensávamos inicialmente, e,
certamente, muito mais rápido do que o comércio mundial em geral.
O comércio dentro dos BRICs acelerou acentuadamente,
principalmente porque o Brasil e a Rússia fornecem muitas
das commodities necessárias para China e Índia.
Esse padrão parece destinado a continuar na próxima década e, além dela, forçando ajustes das políticas cambiais
desses países.
BRICLab
Some commentators claim these observations overstate
the impact of BRIC growth, that it was the product of
a freakish and unrepeatable set of circumstances: rapid
export growth, the commodity boom and unsustainable
US demand.
Yet if the numbers are viewed from a demand perspective,
rather than GDP, and omitting exports, then an even stronger picture of BRIC growth emerges.
While there is no doubting China’s remarkable export progress in the last decade, this is not the whole story. More significant is the rise of the Chinese consumer.
Even the conservative official Chinese data indicate that
personal consumption rose by $1.5 trillion between 2001
and 2011, the equivalent of creating another UK. China is
no longer just a low-cost labour phenomenon. Its people are
rapidly rising up the income ladder and spending.
The BRICs’ role in world trade is also expanding faster than
we first thought and certainly much faster than world trade
overall. Trade within the BRICs has accelerated sharply,
largely because Brazil and Russia supply so many of the
commodities needed by China and India.
This pattern looks set to continue in the next decade and
beyond, forcing adjustments to these countries’ foreign exchange policies. BRIC leaders are already discussing alternatives to using the US dollar as their main trading currency.
47
VOTO BRICLab
Os líderes do BRIC já estão discutindo alternativas ao uso
do dólar norte-americano como sua moeda de negociação principal.
Os BRICs, em especial a China e o Brasil, têm se tornado
poderosos ímãs para o investimento estrangeiro direto.
Além disso, eles estão também acumulando reservas
cambiais. Em meados de 2011, a China sozinha possuía
mais do que US $ 3 trilhões em reservas cambiais, próximo de 50% de seu PIB, muito maior do que qualquer
outro país do mundo.
É impressionante o quanto mudou em apenas uma década, mas também o quão pouco a estrutura original dos
BRICs se alterou.
Em todas as minhas análises das economias mundiais, em
meio a todas as informações e publicidade exagerada, me
mantive focado nos benefícios da expansão de uma força
de trabalho mais produtiva.
The BRICs, notably China and Brazil, have become powerful magnets for foreign direct investment. Moreover,
they have also been piling up foreign exchange reserves.
By the middle of 2011, China alone held more than $3
trillion in foreign exchange reserves, close to 50pc of
their own GDP, vastly larger than any other country in
the world.
It is striking how much has changed in just a decade, but
also how little the original BRICs’ framework has altered.
In all my analysis of world economies, amid all the information and hype, I have stayed focused on the benefits of an
expanding, more productive workforce.
While the 2001 paper turned out to be the beginning of
years of research and analysis on those themes, and my colleagues and I have subsequently refined them, the framework itself has stayed the same.
Embora o artigo de 2001 tenha se tornado o início da análise e
pesquisa destes temas, eu e meus colegas continuamos aperfeiçoando-o, mas a estrutura em si se manteve inalterada.
Even though I had always known it from my basic economics training, I had not fully appreciated the simple but critical importance of demographics and
productivity.
Mesmo que sempre soubesse desde minha formação básica em economia, eu não havia reconhecido a
Simply applying the most credible estimates of long-term
demographic trends, especially for the working population,
Em todas as minhas análises
das economias mundiais, em
meio a todas as informações e
publicidade exagerada, eu me
mantive focado nos benefícios
da expansão de uma força de
trabalho mais produtiva
Even though I had always
known it from my basic
economics training,
I had not fully appreciated
the simple but critical
importance of demographics
and productivity
importância simples, mas crítica da demografia e da
produtividade.
is the intellectual cornerstone of the argument for the
BRICs’ potential.
Simplesmente aplicar as estimativas mais fidedignas de
tendências demográficas de longo prazo, especialmente
para a população trabalhadora, é a pedra fundamental intelectual do argumento para o potencial dos BRICs.
Between them, the four BRIC countries are home to close
on 3 billion people, not far off half the world’s population.
In some ways, it shouldn’t be that much of a surprise that
anyone should think they would be the potentially largest
economies. The world’s largest populated nations probably
should have the biggest economies.
Entre eles, os quatro países BRIC estão próximos de fechar
em 3 bilhões de pessoas, não muito longe da metade da população do mundo.
De certa forma, não seria uma surpresa que pensassem
que eles seriam potencialmente as maiores economias. As
48
Certainly, for their people to enjoy the wealth that many
throughout the rest of the world enjoy, they would need to
have big successful economies.
BRICLab
maiores nações em população provavelmente deveriam ter
as maiores economias.
Certamente, para que seu povo desfrute da riqueza que
muitos em todo o resto do mundo desfrutam, eles precisariam ter grandes economias bem-sucedidas.
Como o falecido Angus Maddison, um reconhecido especialista em história e análise do crescimento e desenvolvimento econômico mostrou os dois países mais populosos, a China e a Índia, no passado constituíam uma parcela
muito maior do PIB global.
Em sua análise pioneira da história econômica, Maddison
mostrou que a China dominou o mundo entre os séculos
10 e 15 em termos de tamanho e riqueza.
Durante séculos, até então, a Índia era a economia dominante e, por vezes, a parcela combinada do PIB dos dois
países ficava acima de 50% do PIB global.
BRICLab
As the late Angus Maddison, a recognized expert on
the history and analysis of economic growth and development, has shown, the two most populous countries,
China and India, in the past constituted a much bigger
share of global GDP.
In his path-breaking analysis of economic history, Maddison
showed that China dominated the world between the tenth
and fifteenth centuries in terms of size and wealth.
For centuries until then, India was the dominant economy
and at times, the two countries’ combined share of global
GDP was above 50pc.
Why couldn’t it happen again? I believe it will.
Given the BRICs’ success, it should be no surprise that
many other countries are now vying to be dubbed the
next BRIC.
49
VOTO BRICLab
Dado o sucesso do BRICs, não
deveria ser uma surpresa de
que muitos outros países estão
competindo agora para serem
apelidados o próximo BRIC
Given the BRICs’ success,
it should be no surprise that
many other countries are
now vying to be dubbed
the next BRIC
Por que isso não poderia acontecer de novo? Eu acredito
que irá.
In 2005, my team at Goldman Sachs tried to determine
which would be the next group of developing countries to
follow in the BRICs’ wake.
Dado o sucesso do BRICs, não deveria ser uma surpresa de
que muitos outros países estão competindo agora para serem apelidados ‘o próximo BRIC’.
Em 2005, a minha equipe no Goldman Sachs tentou determinar qual seria o próximo grupo de países em desenvolvimento a seguir o rastro do BRICs.
Nós encontramos um grupo que chamamos de os “Próximos 11”, ou N-11, para encurtar. Eles são Bangladesh,
Egito, Indonésia, Irã, Coréia (Sul), México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Turquia e Vietnã.
Embora pensássemos que nenhum N-11 corria o risco de
atingir o tamanho de qualquer um dos BRICs, previmos
que o México e a Coréia tinham a capacidade de se tornar
quase tão importantes quanto os BRICs.
O conceito N-11 tornou-se uma estrutura importante usada
por muitos, de investidores a decisores políticos globais, para
a interpretação das mudanças na economia mundial.
Os BRICs e o N-11 não explicam tudo, mas provaram que
são modelos resistentes e úteis para ajudar a nossa compreensão do que está acontecendo na economia e nos
mercados mundiais.
No início de 2011, decidi que o termo mercados emergentesjá não mais poderia ser aplicado aos BRICs e a quatro
das nações do N-11: Indonésia, Coréia, México e Turquia.
Esses são agora os países com dívida pública e posições deficitárias sensatas, robustas redes de comércio e um enorme
número de pessoas subindo firmemente a escada econômica.
Para que os investidores compreendam a dimensão de
oportunidade que aqui se encontra, e para os decisores políticos captarem o que está mudando no mundo, eles precisam enxergar esses países separados dos mercados emergentes tradicionais. Decidi que o termo mais correto seria
Mercados de Crescimento.
*Presidente da Goldman Sachs Asset Management
*Chairman of Goldman Sachs Asset Management
We came up with a group that we called the ‘Next Eleven’,
or N-11 for short. They are Bangladesh, Egypt, Indonesia,
Iran, (South) Korea, Mexico, Nigeria, Pakistan, the Philippines, Turkey and Vietnam.
Although we thought no N-11 country was likely to grow to
the size of any of the BRICs, we predicted that Mexico and
Korea had the capacity to become almost as important as
the BRICs.
The N-11 concept has become an important framework
used by many, from investors to global policymakers, to interpret the changes in the global economy.
The BRICs and the N-11 don’t explain everything, but they
have proved useful and enduring models to help our understanding of what is happening in the world’s economy and
markets.
In early 2011, I decided that the term emerging markets
could no longer be applied to the BRICs and four of the
N-11: Indonesia, Korea, Mexico and Turkey.
These are now countries with largely sound government
debt and deficit positions, robust trading networks and
huge numbers of people all moving steadily up the economic
ladder.
For investors to understand the scale of the opportunity here,
and for policymakers to grasp what is changing in the world,
they must see these countries apart
p from
f
the
traditional emerging
erging markets. I decided
that a more accurate
ccurate term would be
Growth Markets.
ets.
TRENSURB - RS
ESTÁDIO DO CORINTHIANS - SP
PROLONGAMENTO DOS MOLHES - RS
Organização de origem brasileira, de negócios diversificados, com atuação mundial, presta serviços e fabrica produtos para clientes de cinco
continentes.
Desde sua fundação em 1944, os integrantes são orientados por uma
filosofia própria, baseada em valores humanísticos e consolidada na
Tecnologia Empresarial Odebrecht.
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e as sociedades em que está inserida, colabora para a constituição de
comunidades e países economicamente prósperos, socialmente inclusivos, ambientalmente sustentáveis, politicamente participativos e culturalmente ricos.
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