Cenário
Econômico
Economic
Scenario
Cenário Econômico Economic Scenario
A longa estrada
da recuperação econômica
The long road to economic recovery
O mundo se olha no espelho e constata que está ficando velho, acabado e repetitivo
The world looks in the mirror and realizes that it is getting old, exhausted and repetitive
M
ais um ano se passou e o mundo nem sequer
ouviu falar da esperada retomada das atividades produtivas. É verdade que algumas
pegadas, ao longo do caminho trilhado pelos
agentes econômicos, aqui e ali, deixaram entrever,
em diferentes momentos, indícios otimistas. Mas a
verdade, no entanto, é que os vestígios não foram os
esperados. E a crise atual, tão grave quanto o crash
da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, vai assumindo, a
cada ano que passa, contornos bem parecidos com a
primeira derrocada do sistema capitalista. Inclusive
naquilo que diz respeito à sua longevidade. Naquela
ocasião, é sempre bom lembrar, os Estados Unidos
levaram mais de uma década para se reerguer e
40
A
nother year has passed and the world has
not even heard of the expected resumption
of production activities. It is true that some
footprints here and there along the path followed
by ‘economic agents’ showed, at different times,
optimistic signs. But the truth, however, is that
the signs were not exactly the expected ones.
And the current crisis, as severe as the New York
Stock Market’s crash in 1929, takes on, with each
passing year, contours very similar to the first
collapse of the capitalist system. Even in terms
of longevity. At that time, it is always good to
remember, the US took more than a decade to
rebuild and a few scholars argue that the full
Panorama do AÇO • 2014
alguns estudiosos do tema sustentam, inclusive,
que a recuperação plena só veio após a II Guerra
Mundial, quando, aliás, o gigante da América do
Norte assumiu o papel de protagonista da História.
Parece que foi ontem. Mas já se passaram cinco
anos desde que a desregulamentação das atividades
financeiras na economia americana criou as condições necessárias para a chamada bolha ocorrida
no mercado imobiliário daquele país. Como se não
bastasse, uma série de déficits fiscais em países europeus agravou a crise e mudou, de uma hora para
outra, o cenário econômico mundial. As consequências são bem conhecidas: escassez de crédito, uma
drástica redução de investimentos e a diminuição
do fluxo comercial entre os países. Desnecessário
assinalar, os chamados países emergentes, entre
eles o Brasil, sofreram e ainda sentem os efeitos do
fenômeno. Por último, mas não menos destituído
de importância, a China, carro-chefe dos Brics e
segunda economia do mundo, deixou de crescer a
taxas de dois dígitos.
O andar da carruagem não é muito diferente
na ainda maior economia do planeta, os Estados
Unidos. Epicentro da maior crise financeira internacional, o berço do capitalismo trafega em marcha
lenta e muito aquém das necessidades que, na verdade, não são apenas suas. Afinal de contas, o resto
do chamado mundo globalizado está umbilicalmente ligado ao país que cresceu à luz dos princípios da
livre inciativa. Filosofia que, por conta da recessão
que ainda ronda o mundo, foi temporariamente
trocada por um receituário estatal. A exemplo,
aliás, do que aconteceu em 1929, quando o governo
interveio nas atividades dos bancos, criou leis de
proteção ao trabalho e executou um programa de
obras públicas, os EUA voltaram a impor limites ao
sistema financeiro, além de um inédito programa
de estímulos à economia.
recovery came only after World War II, when, in
fact, the giant of North America took over the
starring role of history.
It seems like yesterday. But 5 years have already passed since the deregulation of financial
activities in the US economy created the necessary conditions for the so called bubble occurred
in the real estate market in that country. As if
that was not enough, a number of fiscal deficits in European countries worsened the crisis
and changed from one moment to another the
global economic scenario. The consequences are
well known: lack of credit, a drastic reduction of
investments and trade flow reduction between
countries. Needless to point out that the so called
emerging countries, including Brazil, have suffered and still feel the effects of the phenomenon.
Last but not least unimportant, China, flagship of
the BRICs and the second economy in the world,
failed to grow at two-digit rates.
The turn of events is not very different in the
US, the world’s largest economy. Epicenter of the
largest international financial crisis, the cradle
of capitalism travels idling and far short of the
needs actually are not just their own. After all,
the rest of the world –-with economies considered
globalized-- is inextricably linked to the country,
which grew under the principles of free initiative.
Due to the recession that still stalks the world,
this philosophy was, however, temporarily replaced by a more nationalized economic formula.
Moreover, similarly to what happened in 1929,
when the government intervened in the activities
of the banks, created laws protecting labor and
executed a public works program, the US again
imposed limits on its financial system, in addition to launching an unprecedented program of
economic incentives.
Lenta e gradual
Os resultados, é verdade, são modestos. De
acordo com o chefe da missão de avaliação dos EUA
do Fundo Monetário Internacional (FMI), GianMaria Ferreti, a economia americana ainda está no
conserto. “Cinco anos depois, o desemprego permanece muito alto, o Produto Interno Bruto (PIB)
cresce abaixo do ideal e o mercado imobiliário, o
grande estopim da recessão, apresenta nítidos constrangimentos”, argumenta. Já o economista-chefe
para EUA do banco HSBC, Kevin Logan, entende
que de 18 meses para cá, a crise propriamente dita
Slow and gradual
The results are, actually, modest. According to
the head of the US assessment task force at the
International Monetary Fund (IMF), Gian-Maria
Ferreti, the US economy is still being repaired.
“After five years, unemployment remains too high,
the GDP grows less than what would be considered ideal and the real estate market, the major
cause of the recession, presents crisp constraints,”
he said. The chief economist at HSBC for the US,
Kevin Logan, believes that from 18 months ago to
today, the crisis itself has been overcome, but the
STEEL Panorama • 2014
41
CENÁRIO
ECONÔMICO
ECONOMIC
SCENARIO
foi superada, mas o processo econômico americano
ainda sofre os efeitos do choque. “A população está
excessivamente no vermelho e, por isso, o consumo
das famílias, responsável por mais de 70% do PIB,
continua desapontando”, disse o analista.
Há quem se debruce, no entanto, sobre o outro
lado da moeda, a comunidade europeia, e perceba uma certa luz no fim do túnel. No final do ano
American economic process still suffers the effects
of shock. “The population is heavily indebted and
therefore consumer spending, which accounts for
over 70% of GDP, remains disappointing,” said
the analyst.
But for those that analyze the other side of the
coin, the European community, there seems to be
some light at the end of the tunnel. Late last year, for
%
ProJEçõEs DE crEscIMEnto growth proJectionS
2009 2010
MUNDO
2009 2010
2012 2013* 2014*
5,2
3,6
3,2
ESTADOS
UNIDOS
2,5
2,9
2,6
ZONA
DO EURO
2
1,4
0,2
-0,2
0,6
-3,1
-1,3
-4,9
CHINA
INDIA
10,4
10,5
1,9
1,7
0,2
1,4
9,2
3,8
7,6
3,2
-5,2
ARGENTINA
7,5
1
Fonte / Source: FMI / IMF
42
PERU
9,2
8,8
5,7
2,8
2,5
2,5
0,9
1,9
5,1
8,5
7,3
7,7
-0,3
-4,2
-6,4
-3,8
-5,1
-0,4
GRECIA
-1,6
0,5
BRASIL
1
-4,4
ESPANHA
0,9
2012 2013* 2014*
-0,6
-2,8
3,9
REINO
UNIDO
2,8
2009 2010
1,6
-0,4
ALEMANHA
2012 2013* 2014*
6,3
5,4
3,5
-0,9
*PROJEçÕES DO FMI / IMF PrOJEctIOnS
Panorama do AÇO
•
2014
Laymark.com.br
A FORÇA DO AÇO
NOS FAZ IR ALÉM
As Empresas Randon parabenizam a AARS - Associação do Aço
do Rio Grande do Sul - pela passagem de seus 50 anos. Sempre
defendendo os interesses do setor com ética, a AARS é mais que
uma entidade de classe, é um exemplo de trajetória de sucesso,
alicerçada em bases sólidas e resistentes.
Uma longa e próspera estrada pela frente. É o que desejam as
Empresas Randon.
STEEL Panorama
•
2014
43
Cenário
Econômico
Economic
Scenario
passado, por exemplo, a analista econômica Míriam
Leitão, do jornal O Globo, destacou em sua coluna
a percepção das agências de classificação de risco
a respeito dos países europeus. Ela lembrou que o
desemprego continua alto e o crescimento na região
é baixo, “mas ninguém fala mais em saída da Grécia
do grupo, a Espanha já está deixando a recessão
após cinco trimestres e a Irlanda anunciou que não
example, economic analyst Míriam Leitão, from the
O Globo newspaper, pointed out in her column the
perception of the risk rating agencies regarding the
European countries. She noted that unemployment
remains high and growth in the region is low, “but
no one talks anymore about the exit of Greece from
the group, Spain is now leaving the recession after
five quarters, and Ireland announced that further
O RETRATO DOS PAÍSES The portrait of countries
RATINGS E PERPECTIVAS RATINGS AND PERSPECTIVES
INDICADORES DOS BRICS BRICS INDICATORS
PIB Média últimos 5 anos Average GDP in the last 5 years
Brasil
Rússia
Grau de Investimento Investment Grade Perspectiva Perspective
3,2%
Aaa
Aa1
Aa2
Aa3
A1
1,9%
Índia
6,5%
China
África do Sul
MOODY’S
9,3%
2,2%
Baa1
INFLAÇÃO IPC médio dos últimos 5 anos INFLATION average IPC in the last 5 years
Brasil
5,7%
8,7%
Rússia
Índia
Baa2
Baa3
AAA
AA+
AAA+
3,2%
1,9%
China
África do Sul
6,5%
2,2%
BBB+
BBB
9,3%
BBB-
SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES CURRENT ACCOUNT BALANCE
Índia
China
África do Sul
-3,3%
AAA
AA+
AAA+
A
ABBB+
BBB
4,5%
-4,7%
(% do PIB) Taxa média dos últimos 5 anos Average GDP in the last 5 year
Rússia
18,8%
22,4%
35,6%
Índia
47,5%
China
África do Sul
Brasil
Rússia
Africa do Sul
Índia
Estável Stable
Negativa Negative
Estável Stable
Estável Stable
FITCH
Grau de Investimento Investment Grade Perspectiva Perspective
4,7%
TAXA DE INVESTIMENTO INVESTMENT RATE
Brasil
Estável Stable
Ba1
-2%
Rússia
China
Grau especulativo Speculative Grade
(% do PIB) Taxa média dos últimos 5 anos Average GDP in the last 5 years
Brasil
Estável Stable
Negativa Negative
Estável Stable
Estável Stable
STANDAR & POOR’S
Grau de Investimento Investment Grade Perspectiva Perspective
Taxa média dos últimos 5 anos Average rate in the last 5 years
Brasil
Índia
Rússia
África do Sul
Brasil
Índia
Ba1
2,9%
África do Sul
6,7%
DÍVIDA BRUTA (% do PIB) GROSS DEBT
Rússia
Estável Stable
Grau especulativo
10,4%
China
China
20,1%
BBB-
China
Estável Stable
Brasil
Rússia
Africa do Sul
Índia
Estável Stable
Negativa Negative
Estável Stable
Estável Stable
Grau especulativo Speculative Grade
BB+
Fonte / Source: Austin, BC, IBGE, FMI, MDIC, BID, OCDE, JP Morgan, S&P, Moody’s e Fitch
44
Panorama do AÇO • 2014
A China cresceu acima de dois dígitos durante uma década
e isso provocou mudanças no fluxo do comércio mundial
China grew above the two-digit line during 10 years
and this led to changes in the flow of global trade
precisa mais de ajuda
do FMI”. Outro dado
a favor vem do déficit
comercial somado de
Itália, Espanha, Grécia
e Portugal, que chegou
a 180 bilhões de euros
em doze meses e caiu
para 18 bilhões de euros
em setembro do ano
passado.
PROJEÇÃO E FATO
PROJECTED AND ACTUAL RESULTS
Mercado foi otimista nos três primeiros anos do governo Dilma
Market was optimistic in the first three years of the Rousseff administration
4,50%
2,70%
3,30%
3,26%
2,28%*
help from the IMF is
no longer required.”
Another fact in favor
has to do with trade
deficits of Italy, Spain,
Greece and Portugal,
as a group, which reached 180 billion Euros
in twelve months and
fell to 18 billion Euros in
September last year.
1,00%
Otimismo moderado
Moderate optimism
Nem tudo, no enH o w e v e r, n o t
tanto, é motivo de otieverything is a cause
mismo. Quase nada, na
for optimism. Almost
Projeção
feita
em
Janeiro
Resultado
verdade, a julgar pelo
nothing is joy, actually,
Projection made in January
Results
judging by the ups and
sobe e desce dos indi*Projeção do Boletim Focus de 6 de janeiro de 2014
downs of economic incadores econômicos das
*Projection by the Focus Bulletin on January 6th, 2014
dicators in the most imprincipais economias
portant economies of the
do mundo. Os Estados
Unidos são um bom exemplo. Por um lado, é correto
world. The US is a good example. On the one hand,
afirmar que a economia americana escapou da beira
it is correct to say that the US economy escaped the
do abismo e surgiu no horizonte como a locomoedge of the abyss and emerged on the horizon as the
tiva da esperada recuperação. Por outro, tanto os
locomotive pulling the expected recovery. On the
números do passado recente, quanto as previsões
other hand, the figures of the recent past and those
planned for the near future change every month as
para o futuro próximo mudam a cada mês como a
the formatting of the clouds in the sky. And a quick
formatação das nuvens no céu. E uma rápida olhada
look on the GDP, investments, unemployment and
sobre o PIB, investimentos, desemprego e outros
other relevant information gives the impression of
dados relevantes deixam entrever uma estrada longa
a long road traveled at a slow pace.
e uma caminhada em marcha lenta.
The situation in China is also symbolic, and leads
Já o caso da China é igualmente emblemático e
us to reflect on the most important member of the
nos remete a uma reflexão sobre o mais importante
BRIC countries. As if the world looked in the mirror
membro dos chamados BRICs. Como se o mundo se
and realize that it is getting old, exhausted and
olhasse no espelho e constatasse estar ficando velho,
repetitive, he Asian giant is at a crossroads, let’s say,
acabado e repetitivo, o gigante asiático está numa
repeatedly seen with countries on the rise: how long
encruzilhada, digamos, recorrente entre os países
the Chinese will sustain the impressive economic
em ascensão: por quanto tempo os chineses poderão
growth that the country has experienced in recent
sustentar o crescimento econômico impressionante
decades? After all, growing above a two-digit rate
que o país vem experimentando nas últimas décadas?
over a solid decade leads, and in fact led, to signifiAfinal de contas, crescer acima de dois dígitos ao longo
de dez anos provoca, como provocou, mudanças sigcant changes in the trade relations among several
countries. And that is especially true regarding the
nificativas nas relações comerciais entre os países. E
Brazilian economy, since China, and its formidable
isso diz respeito à economia brasileira, já que a China,
demand for commodities, has become the main
e sua formidável demanda por commodities, passou a
destination of our exports.
ser o principal destino de nossas exportações.
STEEL Panorama • 2014
45
Cenário
Econômico
Economic
Scenario
Mas, se por um lado a economia chinesa impulsiona o processo produtivo no resto do mundo, em alguns
casos provoca o que já vem sendo chamado de efeito
asiático no Ocidente. O mais emblemático deles é a
desindustrialização em regiões como a América do Sul.
Por aqui, o peso da indústria no Produto Interno Bruto
(PIB) da região, que já foi de 25%, caiu para apenas 13%.
Entre outras coisas por causa dos excedentes de sua
produção de aço – que é comercializado com preços
artificialmente baixos. Esse, no entanto, é um tema que
veremos mais adiante.
46
But, if on one hand the Chinese economy boosts
the production process in the rest of the world, in some
cases it causes what is already being called the Asian
effect in the West. The most significant of these is deindustrialization in regions such as South America. This
way, the weight of the industry in the region’s GDP,
which was once at 25 percent, fell to only 13 percent.
Among other things, due to the surplus of its steel
production – that is marketed with artificially low
prices. This is, however, a subject to be discussed later.
Altos e baixos
Antes de voltar à estrada e tomar o rumo de casa
é oportuno circular um pouco pelas chamadas projeções. Não as domésticas, mas aquelas que vêm de
fora. E lá, como cá, elas também mudam da água
para o vinho o tempo todo. A conceituada revista The
Economist confirma a regra com todas as letras. Em setembro do ano passado, a publicação britânica mudou
radicalmente seus prognósticos com relação ao Brasil:
após afirmar em matéria de capa, em 2009, que o Brasil
estava prestes a decolar, a revista, que na ocasião colocara a estátua do Cristo Redentor alçando voo, voltou
a ilustrar sua matéria principal com nosso logotipo
mais conhecido. Desta feita, entretanto, o Redentor
experimentava uma queda livre rumo ao precipício.
Os editores da The Economist não pararam por
aí e continuaram debruçados sobre a trajetória da
economia brasileira. Mais recentemente, no final
de novembro de 2013, a revista voltaria a destacar o
tema. Desta vez, no entanto, foi mais comedido: nem
muito ao céu, nem muito a terra. A edição impressa da
revista semanal afirmou que o setor de infraestrutura
brasileiro, enfim, começou a decolar, uma vez que
os recentes leilões de privatização de aeroportos e
rodovias prometem injetar vultosos recursos nestes
segmentos. A presidente Dilma Rousseff foi obrigada a
reconhecer que o “Estado sozinho não pode consertar
a longamente negligenciada infraestrutura do Brasil”,
assinalou a reportagem.
Highs and lows
Before heading back home and analyzing the
course of things in Brazil, it is in some way appropriate
to speak of projections. Not the domestic projections,
of course, but those related to the international setting.
There, as much as here, projections have changed from
water to wine, and backwards, all the time. Renowned
magazine The Economist confirms it with all letters.
In September last year, the British publication radically changed its predictions with respect to Brazil:
after stating in a cover story in 2009 that Brazil was
about to take off, the magazine, which at the time
placed the statue of Christ the Redeemer blasting off
into the sky, the magazine used our most well known
logo again to illustrate its cover story. This time, however, the statue is displayed in free fall towards a cliff.
The editors of The Economist did not stop there
and went on analyzing the trajectory of the Brazilian
economy. More recently, in late November 2013, the
magazine would again emphasize the subject. This
time, however, it was more cautious: neither here, nor
there; not too close to heaven, and not too close to
the earth. The print edition of the weekly magazine
claimed that the Brazilian infrastructure sector finally began to take off, since the recent privatization
auctions of airports and highways promise to inject
considerable resources in these segments. President
Dilma Rousseff was forced to acknowledge that “the
State alone cannot fix the long-neglected infrastructure of Brazil,” said the report.
Consumo ou investimento
Qualquer semelhança com o discurso neoliberal, a mais recente versão do sistema capitalista,
não é mera coincidência. Aliás, a velha questão
Consumption or investment
Any resemblance to the neoliberal discourse,
the latest version of the capitalist system is no
coincidence whatsoever. In fact, the old ideological
Panorama do AÇO • 2014
STEEL Panorama • 2014
47
Cenário
Econômico
Economic
Scenario
ation
GE
48
Infraestrutura habitação
Housing Infrastructure
Infraestrutura esportiva
Sports Infrastructure
Outros
Other
Saneamento
Sanitation
Óleo e Gás
Oil and Gas
the
Industrial
Industrial
ture
Energia
Energy
ates
Transportes
Transportation
ideológica, o paradigissue, the paradigm
INVESTIMENTOS ATÉ 2017 (Em R$ bilhões)
of market laws versus
ma das leis de merINVESTMENTS UNTIL 2017 (In BR$ bn)
state intervention, is
cado versus a inter511,6
an argument long ouvenção estatal, é uma
TOTAL
tdated.
And China,
discussão há muito ulR$ 1.26
once our partner, now
trapassada. E a China,
trilhão
355,9
BR$ 1.26 trillion
a competitor, is the
ora nossa parceira,
most commonly seen
ora nossa concorrenMonitored
example. It calls itself
te, é o exemplo mais
Obras
works
167,3
communist, but pracrecorrente. Afinal de
monitoradas
132,8
11.533
tices capitalism and,
contas, é comunista
49,4
45,1
quite often, its excesses.
no discurso, mas prati13,9
4,4
ca o capitalismo e, não
This necessarily leads
raro, seus excessos.
us to two conclusions.
One of them is quite
Isso nos conduz nesimple. The projeccessariamente a duas
tions and forecasts,
conclusões. Uma delas
similarly to paradigé simples. As projeções
e os prognósticos, a
ms, do change like the
exemplo dos paradigwind. The other conmas, também mudam
clusion is a bit more
ao sabor dos ventos. A
complex. The reality,
outra é um pouco mais complexa. A realidade, diz a
says the philosopher, is never at the extremes. It
filosofia, nunca está nos extremos. Ela, na verdade,
actually lies somewhere between the ends and is
reside em algum ponto entre eles e está permanencontinuously changing.
temente em transformação.
But what does all this have to do with the matMas, o que tudo isso tem a ver com a questão
ters discussed here? Everything, actually. For if the
context changes, the speech gets old and fails to
aqui discutida? Na verdade, tem tudo a ver. Afinal,
se o contexto muda, o discurso envelhece e deixa
reflect what is happening. And in Brazil, things are
de refletir o que está acontecendo. E no Brasil não
not different. Let us return to the recent past. When
é diferente. Voltemos ao passado recente. Quando
the crisis erupted and investments became scarce,
a crise eclodiu e os investimentos escassearam, o
the government, supported by an increase in the
governo, alicerçado pelo aumento do poder aquipopulation’s purchasing power, bet on domestic consitivo da população, apostou no consumo interno
sumption and, therefore, kept the wheel of economy
e com isso manteve a roda da economia girando.
spinning. The strategy also involved the provision of
A estratégia envolveu ainda a disponibilização
easy credit and tax reductions in some productive
de crédito fácil e desonerações em alguns setores
sectors, notably the car making sector. This combiprodutivos, com destaque para o setor automotivo.
nation increased the purchase of consumer goods,
Essa combinação incrementou a aquisição de bens
leading to what economists call a virtuous cycle.
de consumo e aquilo que os economistas chamam
The move worked, but time passed and the
de ciclo virtuoso.
crisis worsened. Then the government did what
A tática funcionou, mas, com o passar do
they do in football, and “did not change the stratetempo, a crise recrudesceu e a máxima “em time que
gy was working,” which, unfortunately, no longer
está ganhando não se mexe”, expressão cunhada no
produced the expected result. Even though the
campo futebolístico, deixou de gerar o resultado
FIFA World Cup, which is soon to take place, has
esperado. Ainda que a Copa do Mundo de Futebol
created a range of interventions in infrastructure,
Panorama do AÇO • 2014
Desempenho morno do comércio e queda dos financiamentos
do BNDES sugerem crescimento moderado em 2014
Tepid trading performance and drop in financing
from BNDES suggest moderate growth in 2014
tenha gerado um
leque de intervenções em infraestrutura, a aposta no investimento em oposição ao consumo,
e a simples troca
de um pelo outro,
não é uma unanimidade. Esta, aliás,
é a conclusão do
estudo “O Ambiente
Empresarial no
Brasil”, da consultoria McKinsey, sobre
as transformações
do país nos últimos
25 anos.
DIFÍCIL DE SUSTENTAR HARD TO MAINTAIN
A China viu uma média de crescimento impressionante nas últimas décadas.
Outras economias da Ásia não conseguiram sustentar o mesmo ritmo (Em %)
China saw an impressive average growth in recent decades.
Other Asian economies have failed to keep pace (In %)
12
CHINA
10
8
COREIA
DO SUL
6
4
TAIWAN
2
JAPÃO
0
1970
1980
Uma coisa e a outra coisa
De acordo com o trabalho, o Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro não vai crescer, nos próximos dez anos, ao ritmo de um leão africano, com
altas de 7% ou 8%, nem tampouco ficará próximo
à estagnação de um país europeu. O país ficará
em algum ponto no meio desse caminho e não vai
precisar mudar o seu modelo de crescimento do
consumo para o investimento, como sustentam
alguns especialistas. “O Brasil deve contar com os
dois. Não vai ser preciso trocar a chave, mas adicionar uma, que é a infraestrutura com investimentos
que podem chegar a R$ 5 trilhões em 20 anos”,
sustenta Nicola Calicchio, presidente da McKinsey
para a América Latina.
O estudo, que mapeia o ambiente econômico e empresarial brasileiro desde 1988, salienta,
no entanto, que a produtividade é uma variável
necessária neste processo. Os economistas, diz
Carlicchio, vão falar que não dá para fazer as duas
coisas, mas dá, desde que a produtividade melhore.
“Os países que cresceram rápido fizeram isso”, argumentou. Ainda de acordo com o executivo, o Brasil
tem potencial para crescer 7% ao ano, mas com a
baixa taxa de investimento, nível de informalidade
no mercado de trabalho e de qualidade de mão de
obra, não passa de 3%”.
STEEL Panorama • 2014
1990
2000
betting on investments as opposed
to consumption,
with the simple exchange of one for
the other, is not a
consensus opinion.
This, by the way,
is the conclusion
of a study entitled “The Business
Environment in
Brazil,” conducted
by the consulting
firm McKinsey, on
the transformation
of the country in the
last 25 years.
One thing and the other
According to the study, the Brazilian GDP
will not grow in the next ten years at the speed
of an African Lion, with increases of 7 or 8%, nor
will it be close to the stagnation of the European
countries. The country will be somewhere in the
middle of the way and will not need to change
its growth model from consumption to investments, as argued by some experts. “Brazil should
lean on both. It will not be necessary to turn off
the switch, but add another, which is infrastructure with investments that may reach BR$
5 trillion in 20 years,” affirms Nicola Calicchio,
McKinsey’s president for Latin America.
The study, which maps the Brazilian economic and business environment since 1988,
points out, however, that productivity is a
necessary variable in this process. Economists,
says Carlicchio, will say that it is not possible
to join them both, but it is, provided that the
productivity improves. “The countries that grew
fast did it,” he defended. Also according to the
executive, Brazil has the potential to grow by 7%
per year, but with the low rate of investments,
the level of informality in the labor market,
and the low quality of labor, growth is unable
to exceed 3%.”
49
Cenário
Econômico
Economic
Scenario
Entre os pontos positivos destacados pelo
estudo da consultoria McKinsey estão a dívida
pública baixa, o índice inflacionário sob controle e
um grande volume de reservas. Já os aspectos negativos que podem, inclusive, comprometer a tática
consumo/investimento em 2014 vieram à tona no
apagar das luzes do ano que passou. Um deles foi
o desempenho morno do comércio no período de
festas: o crescimento de 2,5% ficou bem aquém
dos 4% verificados no final de 2012 e isso indicaria
que o consumo, em 2014, será moderado. O outro
foi a queda das consultas e dos financiamentos à
infraestrutura do BNDES em 2013 em relação ao
ano anterior, respectivamente – 3% e – 16,8%.
O superintendente de infraestrutura do
BNDES, Nelson Siffert adverte, entretanto, que
o levantamento não inclui as novas rodadas de
licitações de rodovias e aeroportos. “As consultas
dos últimos leilões ainda não chegaram ao banco e
muitos deles sequer haviam assinado os contratos
de concessão no início de janeiro”, minimizou o
executivo. Otimismo, aliás, compartilhado com o
especialista-sênior em estratégias e finanças corporativas da Mckinsey, William Jones. Ele lembra
que na área de recursos naturais o Brasil tem 30%
da área potencialmente agricultável do mundo e
isso favorece o setor agrícola e as indústrias de
apoio, entre elas as fabricantes de caminhões,
implementos rodoviários e outros equipamentos.
Já o ministro brasileiro da Fazenda, Guido
Mantega, tem outros argumentos para justificar
seu otimismo. Ele enxerga sinais consistentes de
que o mundo está saindo do duplo mergulho que
sofreu desde 2008. “Estamos próximos do fim do
ciclo recessivo”, comentou ele no final de dezembro
na capital Brasília. Mantega acrescentou ser esta
inclusive a principal variável do cenário econômico
desenhado pelo governo para 2014. “Daqui para
frente teremos uma melhoria gradual e a recuperação dos principais parceiros comerciais do Brasil,
China e EUA à frente, terá um efeito muito positivo”.
Números, estatísticas e projeções à parte, 2014
é um ano repleto de interrogações. Como dizia a
velha canção do início dos anos 70, o mundo “procura encontrar”, mas “não sabe onde está você”: a
saída da crise.
50
Among the positive points highlighted by
McKinsey study are: low public debt, the inflation
rate under control and a large volume of reserves.
The negative aspects that may even compromise
the tactics of consumption/investments in 2014
became clear as soon as the New Year arrived. One
was the ‘tepid’ trading performance during the
holidays: the growth of 2.5% was well below the
4% recorded by late 2012, and this would indicate
that consumption in 2014 will be moderate. The
other was the fall in credit inquiries and BNDES
financing for infrastructure in 2013 compared to
the previous year, – 3 and – 16.8%, respectively.
The superintendent of infrastructure at the
BNDES bank, Nelson Siffert, warns, however,
that the survey does not include the new bidding rounds for highways and airports. “The
consultations in recent auctions have not yet reached the bank and many of them had not even
signed concession contracts in early January,”
said the executive. This optimism is shared by
senior expert on strategy and corporate finance
at McKinsey, William Jones. He mentions that
in the area of natural resources, Brazil has 30%
of the potentially arable land in the world. This
favors the agricultural sector and supporting
industries, such as manufacturers of trucks,
highway equipment and other equipment.
The Brazilian finance minister, Guido
Mantega, has other arguments to justify his
optimism. He sees consistent signs that the
world is coming out of the double fall occurred
since 2008. “We are nearing the end of the recessionary cycle,” he said in late December in the
national capital, Brasília. Mantega added that
this is indeed the main variable in the economic
scenario designed by the government for 2014.
“From now on, we will have gradual improvement, and the recovery of Brazil’s main trading
partners – China and especially the USA – will
have a very positive effect.”
Figures, statistics and projections aside, 2014
is a year full of questions. An old Brazilian song
from the early 1970s says that the world “looks
for you” but it “doesn’t know where you are”: that
is the exit of the crisis.
Panorama do AÇO • 2014
PROJEÇÕES
Projections
Um mal (des)necessário
A (un)necessary evil
A expressão escolhida para dar título a esta matéria foi
cunhada no passado para definir o trabalho dos críticos
de arte em geral. Um tanto ou quanto irônico em sua
origem, o jogo de palavras pode muito bem ser usado
no contexto da economia. A final de contas, a chamada
ciência econômica trabalha o tempo todo com dados
concretos, mas mantém um pé na abstração quando
seus analistas projetam o futuro.
As projeções domésticas para o ano que passou,
produzidas no final de 2012 para 2013 – são um bom
exemplo. Governo, Banco Central e mercado previam
um crescimento do PIB da ordem de 4% a 3,3%, mas
o número final ficou apenas um pouco acima de 2%. A
previsão do BC, aliás, foi um bis. O banco já errara as
projeções no ano anterior (2012) e repetiu a performance
para seu distinto público.
Já para 2014, o Banco Central, após ter errado dois
anos seguidos, parece ter adotado uma postura mais cuidadosa. A previsão, agora, é de um crescimento menor,
em torno de 2,1%. A projeção é menor até do que o
percentual estimado pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) – que cravou 2,5%. Tudo vai depender, entretanto,
de qual será a reação à retirada dos estímulos injetados
na economia americana, o chamado afrouxamento monetário por lá adotado.
Na opinião do diretor de Graduação do Instituto de
Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Eduardo Costa Pinto, o cenário mais provável será
de retirada gradual. “Se esses estímulos forem retirados
muito rapidamente, isso pode ter efeito em emprego e
renda e o FED teria que voltar com eles” – advertiu.
Para os analistas dos organismos financeiros internacionais, o mundo deve crescer uma pouco mais em
2014. Certeza, apenas uma. É sólida a unanimidade de
que a China deve desacelerar sua expansão para 7%.
O resto fica atrelado às incertezas da subjetividade.
A Europa crescerá em ritmo lento nos próximos cinco
anos e os emergentes irão depender principalmente do
que acontecer com a economia americana.
As projeções econômicas são como a estreia de uma
peça de teatro: às vezes são bem recebidas pelo público,
mas não têm a mesma sorte com a crítica. Em outras
ocasiões são elogiadas pelos críticos e rejeitadas pelo
público. Raramente a unanimidade acontece. O que nos
resta, então, é torcer para que o Banco Central brasileiro,
que errou duas vezes para cima, volte a errar, dessa vez,
para baixo, e nosso PIB cresça à luz dos prognósticos
feitos pelo FMI.
STEEL Panorama • 2014
The expression chosen to be the title of this story was
once made in order to define the work of art critics in
general. Ironic to the same extent, this combination of
words may well be used in the context of the economy.
After all, the so called economic sciences do work with
actual data but also keep an eye on abstraction when
their analysts project the future.
The domestic projections for last year, produced in
late 2012 to 2013 – are a good example. The government,
the Brazilian Central Bank and the market expected a GDP
growth of approximately 4 to 3.3 percent, but the final
figure stood just above 2 percent. The Central Bank’s
forecast was, as a matter of fact, was an encore. The
bank had already made a mistake in the previous year’s
forecast (2012), and repeated the performance to its very
distinct audience.
After having it wrong for two consecutive years, the
Central Bank seems to have adopted a more cautious approach in 2014. The forecast this time is for less growth,
close to 2.1 percent. The projection is even lower than the
percentage estimated by the International Monetary Fund
(IMF) – which expects exactly 2.5 percent. Nevertheless,
it will all depend on the reaction to the withdrawal of
incentives injected in the American economy, the said
monetary easing adopted by the US.
In the opinion of the director for undergraduate studies at the Institute of Economics of the Federal University
of Rio de Janeiro (UFRJ), Eduardo Costa Pinto, the most
likely scenario is a gradual withdrawal. “If the incentives
are removed too quickly, both employment and income
could be affected, and the FED would have to resort to
using incentives again” – he warned.
For analysts of international financial institutions,
the world should grow a little more in 2014. Only one
thing is certain. The consensus that China should slow
down its expansion at 7 percent is solid. The rest is tied
to the uncertainties of subjectivity. Europe will grow at
a slower pace in the next five years and the emerging
countries will depend mostly on what happens with the
American economy.
Economic projections are like the premiere of a play:
they are usually well received by the public, but do not
have the same luck with the critics. At other times they are
praised by the critics and refused by the public. Unanimity
rarely happens. What remains, then, is our hope that the
Central Bank, after two years of mistakenly high estimates,
makes another mistake. But this time, may the figure be too
low, and Brazil’s GDP grow as much as expected by the IMF.
51
Cenário
Econômico
Economic
Scenario
Economia Economy
Grandes expectativas
Great Expectations
Presidente da AARS vê correção nas mudanças de rumo da política econômica
e aposta que privatizações e investimentos vão recolocar a economia brasileira nos trilhos
The president of the AARS finds the changes in the course of economic policy correct,
and bets that privatization and investments will put Brazil’s economy back on track
Não é de hoje que o presidente da AARS, José A. F.
Martins, se debruça sobre o comportamento da economia brasileira. Atento não só aos números, mas às
frequentes mudanças de rumo, o executivo vê com
simpatia a mais recente guinada nas prioridades do
governo que, segundo ele, vão reativar as atividades
produtivas e produzir resultados a partir de 2015.
De acordo com o também presidente do Sindicato
das Indústrias de Material Rodoviário e Ferroviário
(Simefre), a troca da estratégia centrada no consumo
pelos investimentos é irreversível. “O crescimento
econômico só acontece quando os recursos públicos
são direcionados principalmente para setores como
os de infraestrutura e educação, gerando assim,
entre outros, efeitos saudáveis na produtividade e na
competividade de nossos produtos”, argumentou.
Durante entrevista concedida a Panorama do
Aço, em janeiro último, José Martins adiantou os
termos de palestra que desde então vem fazendo em
fóruns dos quais vem participando. Em sua opinião,
existem mais dúvidas do que qualquer consenso
entre os analistas sobre o que vai acontecer no
futuro próximo por conta das incertezas que ainda
rondam a economia mundial e a de nosso país. “Por
isso ainda vamos conviver com um desempenho
contido neste ano de 2014, semelhante ao do ano
passado, que deve ficar em torno de 2,3%”, disse.
Martins identifica em sua análise as duas pedras
que obstruíram o crescimento do Produto Interno
Brasileiro (PIB) no passado recente. Uma, inevitável,
veio de fora em 2011, quando o mercado do euro
desabou e a economia americana ainda estava no
fundo do poço. Esses dois mercados em recessão
provocaram uma forte redução nas exportações brasileiras e também no grande gigante exportador que
é a China. A China que depende fundamentalmente
de mercados externos, direcionou suas estratégias
de exportação para o Brasil, que é um mercado
de 200 milhões de habitantes. Essa ação produziu
52
The president of the AARS, José A. F. Martins
has long focused on the behavior of the Brazilian
economy. Aware not only of the numbers, but of
the frequent changes in course, the executive sees
sympathetically the latest twist in government
priorities that, according to him, will revive the
productive activities and produce results by 2015.
According to the also president of the Interstate
Syndicate of the Material and Road and Rail
Equipment Industry (Simefre), the trading of the
consumption-oriented strategy for investments is
irreversible. “Economic growth only happens when
public resources are directed mainly to sectors such
as infrastructure and education, thus generating,
among other things, healthy effects on the productivity and competitiveness of our products,”
he reasoned.
During an interview granted to the Steel
Panorama last January, José Martins commented
on the terms of a lecture that he has been presenting
in the forums in which, since then, he has been
participating. In his opinion, there is more doubt
then agreement among analysts regarding what
is to take place in the near future due to the uncertainties that lurk around the world’s economy,
and our country’s. “That is why we should still have
a shy performance in 2014, similar to last year’s,
which should be close to 2.3 percent,” he said.
Martins identifies in his analysis two obstacles
that hindered the growth of Brazil’s GDP in the
recent past. The inevitable difficulty came from
abroad in 2011, when the Euro market collapsed
and the US economy was still at rock bottom.
Both markets being in recession caused a sharp
reduction in Brazilian exports and also in the
major exporter giant that is China. China, which
mainly depends on foreign markets, directed its
export strategies to Brazil, which is a 200 million
inhabitants market. This action produced a
Panorama do AÇO • 2014
Marcos regulatórios e investimentos vão reativar economia
Regulatory framework and investments will revive the economy
um grande impacto
na nossa indústria
de transformação,
fazendo com que a
mesma, que em 2004
representava 18,4%
do PIB, caísse em
2013 para não mais
que 12% a 12,5%”,
explicou.
Déficit nas contas
O que ocorreu
provocou uma recessão no Brasil. O
governo, no intuito de impulsionar
a economia, criou
medidas anticíclic a s d i re c i o n a d a s
totalmente ao consumo. Essas medidas incluíram a Desoneração da Folha de Pagamento para
41 setores, redução do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) para automóveis, eletroeletrônicos, móveis, etc., programa PSI 4 do BNDES
para financiamento de caminhões, máquinas
agrícolas, operatrizes, ônibus, implementos rodoviários e equipamentos ferroviários. Esperava-se,
acrescentou José Martins, que esses incentivos
aqueceriam o consumo e o PIB subiria, mas isso
não aconteceu. Essas benesses, explicou, abriram
um rombo nas contas correntes e acentuaram
o déficit entre o que se ganha e o que se tem de
pagar. “A diferença, que era de US$ 54 bi em 2012
terá alcançado US$ 82 bi em 2013”, alertou o presidente da AARS.
Outro agravante, na opinião de Martins, comprometeu o desempenho da economia brasileira.
Além de apostar equivocadamente no consumo, o
governo não conseguiu fazer com que os investimentos previstos em 2012 para melhorar a infraestrutura decolassem – entre eles o PAC Mobilidade,
recursos destinados às cidades sedes dos jogos da
Copa do Mundo e as iniciativas voltadas para a
ampliação e modernização dos sistemas rodoviário
e ferroviário. “Aliás, só agora, as privatizações das
estradas estão acontecendo, porque o governo definiu um marco regulatório e reviu a taxa de retorno
dos projetos”.
STEEL Panorama • 2014
major impact on
our manufacturing
industry. In 2004,
it represented 18.4
percent of the GDP,
falling in 2013 to
n o m o re t h a n 1 2
to 12.5 percent,” he
explained.
Deficit in the accounts
The event triggered recession in
Brazil. The government, aiming at
boosting the economy, created countercyclical measures
directed entirely to
consumption. These
measures included payroll tax exemption in 41
sectors, reduction of IPI tax (on industrialized
products) for cars, electric appliances and electronic products, furniture, etc., the PSI 4 program
of the Brazilian Development Bank for financing
of trucks, agricultural machines, tool-machines,
buses, road equipment and railway equipment.
According to Martins, the incentives were supposed to increase consumption, making the GDP go
up, which did not happen. These advantages, he
said, opened a hole in the accounts and accentuated the deficit between what is gained and what
must be paid. “The difference, which totaled US$
54 bn in 2012, is expected to have reached US$ 82
bn in 2013,” warned the president of the AARS.
Another aggravating factor, according to
Martins, compromised the performance of the
Brazilian economy. Not only the government
wrongly bet on consumption, it did not manage to
make the investments foreseen in 2012 to improve
infrastructure take off. The investments include
the Growth Acceleration Plan (PAC) for Mobility,
resources directed to the cities hosting matches
during the FIFA World Cup, and initiatives directed to expanding and modernizing the roadway
and railway systems. “In fact, only now the roads
are being privatized, on the grounds that the
government established a regulatory framework
and revised the rate of return for the projects.”
53
Cenário
Econômico
Economic
Scenario
54
Indústria deve se modernizar para enfrentar concorrência
Industry must modernize to face competition
Mudança de rumo
É exatamente daí, no entanto, que vêm nossas
melhores expectativas quanto ao futuro, de acordo
com o presidente da AARS. Para José Martins, o
governo acertadamente desmontou o marco original e a partir daí ocorreram as privatizações dos
aeroportos do Galeão e de Confins, os projetos petrolíferos do Campo de Libra e de algumas rodovias.
“A presidenta Dilma quando esteve na Fiesp em dezembro último adiantou ainda que 2014 seria o ano
de aceleração dos leilões das ferrovias”, acrescentou.
Martins inclui entre suas melhores expectativas
o crescimento progressivo da taxa de investimentos
em relação ao PIB, na casa dos 19,2% em 2013. O
percentual (que deve se repetir em 2014), segundo
sua análise, é baixo, já que o percentual no mundo é
da ordem de 24% e entre os emergentes chega a 32%.
“Países como o Peru, por exemplo, destinam 26% de
seu Produto Interno Bruto aos investimentos e não é
à toa, portanto, que crescem 4% ao ano”, argumentou.
Change in course
However, our best expectations about the future
come precisely from that, said the president of the
AARS. For José Martins, the government made the
right thing dismantling the original rules and thereafter the privatization of the Galeão and Confins
airports (in Rio and Belo Horizonte, respectively)
occurred, as well as the oil projects at Libra field and
some roads. “When President Roussef was at Fiesp
in December, she said that 2014 would be the year to
speed up railway auctions,” he added.
Martins includes among its best expectations the
progressive growth of the rate of investment in relation
to the GDP, at around 19.2 percent in 2013. The figure
(to be repeated in 2014), according to his analysis, is
low, given that the percentage in the world is around
24% and among emerging countries it reaches 32 percent. “Countries such as Peru, for example, direct 26
percent of their gross domestic product to investments.
For this reason, they grow 4 percent a year,” he said.
Luz no horizonte
Ainda segundo José Martins, não há mais espaço
para estímulos na área fiscal e o chamado fim das
benesses a alguns setores recoloca o governo no caminho certo. Encolhendo as despesas, em 2014, diz
ele, vamos não só equilibrar as receitas, mas afastar
o perigo de sofrer um novo rebaixamento na nossa
classificação pelas agências de Rating – Standard &
Poors e Moodys. “O rebaixamento aliado à redução
dos estímulos injetados pelos EUA na economia seria,
aliás, uma catástrofe”, assinalou.
Martins entende também que com a retomada
de rumo na política econômica já se pode falar em
reindustrialização no Brasil. Afinal de contas, lembra,
a América e a zona do euro estão se recuperando,
a China decidiu se voltar para o mercado interno
e o dólar continua valorizando. “Com isso nossas
exportações podem aumentar”, sublinhou. Além
disso, existem projetos de inovação e modernização
da indústria em curso e o governo está investindo
20% de seu orçamento em educação. “A indústria
também tem que fazer sua parte porque foi protegida
por políticas aduaneiras elevadas, se acomodou, não
evoluiu e foi atropelada pela concorrência chinesa”.
É claro, concluiu ele, que “a recuperação da
infraestrutura não se faz de uma hora para outra,
mas, em 2015, essas ações positivas darão resultado
e começarão a surtir efeitos”, concluiu.
A bright light on the horizon
Still according to José Martins, there is no more
room for incentives in the tax area and the generally
referred end of incentives to some sectors puts the
government back on the right path. By shrinking costs
in 2014, he says, we will not only balance the checkbook, but also remove the danger of suffering a new
downgrade in our rating by the Credit Rating Agencies
– Standard & Poors, and Moodys. “The downgrade,
together with the reduction of incentives injected by
the US in the economy would be, in fact, a disaster.”
Martins also finds that with the economic policy
back on track, one can already speak of re-industrialization in Brazil. After all, he says, both America and
the Euro Zone are recovering, while China decided
to turn its attention to the domestic market, and the
price of the US dollar continues to rise. “With that,
our exports can increase,” he said. Besides, there are
projects for innovation and modernization of the
industry in progress, and the government is investing
20 percent of its budget in education. “The industry
must also do its share, because it was protected by
high customs policies, eventually settling, it did not
develop and was run over by Chinese competition.”
It is clear that “the recovery of infrastructure
systems is not achieved overnight, but in 2015 these
positive actions these actions will be successful and
will begin to produce effects,” he said.
Panorama do AÇO • 2014
Economia
Um país que tem tudo
para dar certo
As expectativas otimistas manifestadas não só
pelo presidente da AARS, mas por economistas e
dirigentes de instituições financeiras nacionais e
estrangeiras não se fundamentam apenas nas mais
recentes diretrizes voltadas para o crescimento econômico pautado nos investimentos em infraestrutura.
É unânime, entre os principais players do processo econômico, tanto aqui quanto lá fora, que o Brasil
tem todos os pré-requisitos para ocupar um lugar
de destaque no cenário mundial. Com 200 milhões
de habitantes e um mercado interno fortíssimo, o
país detém reservas cambiais de US$ 376 bilhões e
ocupa o quarto lugar no ranking dos mais atrativos
para os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs),
ficando atrás apenas de Estados Unidos, China e
Hong Kong. Terceira maior agricultura do mundo,
185 milhões de toneladas de grãos em 2013, só superada por Estados Unidos e Rússia, somos também
um grande exportador de carnes. Possuímos ainda
a maior reserva florestal do planeta, a maior rede
hídrica de água doce, as maiores reservas minerais
de ferro e nove mil quilômetros de costa marítima
altamente piscosa. Além disso, somos a quinta indústria automotiva mundial e nossos caminhões e
máquinas agrícolas são reconhecidos mundialmente
por sua excelência.
Não se pode esquecer também a estabilidade
política e o baixo desemprego. Para José Martins, o
país está no caminho certo e qualquer governo que
entrar vai respeitar três premissas básicas: marcos
regulatórios adequados, investimento na infraestrutura e gastar menos do que se arrecada.
O presidente da AARS descarta também qualquer
possibilidade de voltar a ocorrer no país aquilo que
os cientistas políticos chamam de descontinuidade
administrativa. O fenômeno era muito comum no
passado: o grupo político que chegava ao poder
invariavelmente destruía as realizações do anterior ainda que elas produzissem resultados. “Lula
quando chegou à presidência manteve os fundamentos econômicos da gestão de Fernando Henrique
Cardoso”, lembrou ele. Martins concorda ainda em
gênero, número e grau com recente declaração do
ex-ministro Delfim Netto, de acordo com quem “é
necessário acreditar um pouco porque um país como
este não pode quebrar”.
STEEL Panorama • 2014
Economy
A country that has
everything to succeed
The optimistic expectations expressed not only
by the president of the AARS, but by economists
and leaders of Brazilian and foreign financial institutions, are not based simply on the most recent
guidelines aimed at economic growth based on
investments in infrastructure.
It is a consensus among the major players in the
economic process, both at home and abroad, that
Brazil has all the prerequisites to occupy a prominent place in the global scenario. With 200 million
inhabitants and a very strong domestic market,
the country has foreign exchange reserves of US$
376 bn, and ranks fourth in the ranking of the most
attractive countries for Foreign Direct Investment
(FDI), only behind the US, China and Hong Kong.
Third largest agricultural producers in the world,
185 million tons of grain in 2013, surpassed only
by the US and Russia, are also a major exporter of
meat. We also have the largest forest reserve on
the planet, the largest volume of fresh water, the
largest reserves of iron ore, and 9.000 kilometers
(over 5.500 mi) of strongly fishy coastline. In
addition, we are the world’s fifth largest automotive
industry and our trucks and agricultural machinery
are recognized worldwide for their excellence.
It is also important to mention political stability and low unemployment. For José Martins,
the country is on the right path and whatever the
new administration may be, it must obey three
basic rules: appropriate regulatory frameworks,
investment in infrastructure and spending less
than earned.
The president of the AARS also rules out any
possibility of occurring in the country, once again,
what political scientists call administrative discontinuity. The phenomenon was very common in the
past: the political group coming to power invariably
destroyed the achievements of the previous, even
though they produced results. “When Lula became
president, he maintained the economic foundations
of the Fernando Henrique Cardoso administration,”
he recalled. Martins also agrees in every way with
the recent statement of former Minister Delfim
Netto, according to whom “We need to have a little
faith, because it is impossible for a country like this
to go bankrupt.”
55
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Cenário Econômico