BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 Outubro, 2013 Country Desks BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 Autor: Paulo Cesar Ferreira Coordenação: Carlo Patti Colaboração: Equipe Country Desks1 Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 1. Introdução Nos dias 11, 12 e 13 de outubro ocorreu o encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do grupo do Banco Mundial, em Washington, Estados Unidos. Diante da centralidade do FMI na governança monetária mundial, assim como na agenda dos países BRICS no tocante à temática, fazse fundamental apresentar as expectativas e posicionamentos dos países BRICS – individualmente e em conjunto – no âmbito do referido encontro. A partir dessa exposição, o objetivo deste Monitor é trazer um breve panorama sobre o recente encontro anual do FMI, salientar os pontos em comum das demandas de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – que se congregam em uma agenda comum dos BRICS para o FMI –, e apresentar os desdobramentos do evento tendo em vista o contexto do agrupamento BRICS. 2. Os BRICS e o FMI: Enquanto agrupamento, os países BRICS dispõem de uma agenda comum no que tange aos assuntos ligados à governança financeira global desde as primeiras articulações conjuntas de suas demandas comuns2. Seja 1 Jessica de Oliveira, André Nogueira, João Pedro Ramos, Octavio Ribeiro, José Manuel Otero Barros, Luis Stubbe, Marie Lefebvre, Nathan Burchard, Vanessa Grant. 2 Vide, por exemplo, os documentos finais das Cúpulas oficiais dos BRICS desde a Cúpula de Ecaterimburgo (Rússia), em 2009. Salientam-se ainda os debates nas Cúpulas de Brasília e Sanya, ocorridas em 2010 e 2011, respectivamente. Enquanto na Cúpula de Brasília foi sugerida e debatida entre os BRICS a necessidade de reforma do sistema de votação no Banco Mundial e sublinhada a questão da reforma geral do FMI; na Cúpula de Sanya, tiveram lugar as discussões sobre reforma no sistema monetário internacional considerando o G20 como o principal mecanismo de gerenciamento da economia mundial. Cf: Ministério das BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 em discursos individuais, seja no discurso comum existente nos documentos elaborados ao fim de cada uma das cúpulas oficiais de líderes, que ocorrem anualmente desde 2009, o agrupamento tem se articulado em demandas pela reforma da estrutura institucional do sistema financeiro global de forma a tornála mais representativa. Tal demanda surge da dita incapacidade de instituições financeiras como o Banco Mundial e o FMI de representarem os chamados países emergentes, considerando o crescente papel que esses países vêm desempenhando na economia global3. Assim sendo, uma vez que o agrupamento BRICS despontou notavelmente no cenário econômico internacional e cada vez mais desempenha um papel crucial no crescimento global, a demanda pela reforma das instituições financeiras se tornou um ponto recorrente nos discursos dos ditos países. Nesse sentido, os países BRICS almejam que sua representatividade nessas instituições seja conivente com o papel internacional que vêm desempenhando, principalmente no âmbito econômico4. 3. O encontro anual do FMI: agenda e expectativas para a economia global em 2013 O encontro anual do FMI, ocorrido nos dias 11, 12 e 13 de outubro, em Washington, reuniu autoridades da área econômica dos países participantes da instituição com o intuito de discutir a conjuntura econômica global, a questão da crise nos mercados financeiros, bem como outros temas relacionados ao Relações Exteriores do Brasil. <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-aimprensa/2009/06/17/cupula-dos-chefes-de-estado-e-de-governo-dos-brics>; BRICS Policy Center. <http://bricspolicycenter.org/homolog/Sobre Ministério das Relações Exteriores do Brasil>. Declaração Conjunta. <http://www.itamaraty.gov.br/temas-mais-informacoes/saiba-mais-bric/documentos-emitidospelos-chefes-de-estado-e-de-governo-pelos-chanceleres/comunicado-ii-cupula-bric> ; Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Declaração de Sanya. <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/declaracao-de-sanya-2013reuniao-de-lideres-do-brics-sanya-china-14-de-abril-de-2011> 3 COSTA, Gilberto & VIZIA de, Bruno. O tempo do BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China crescem mais que a média mundial e atraem investimentos externos. IPEA, Brasília. Disponível em: < http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1521:catid=28 &Itemid=23> . Acesso em: 01 nov. 2013. 4 Ibid. BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 escopo do FMI. A agenda principal visava debater soluções para a atual crise e a construção de bases sólidas para a retomada do crescimento econômico sustentável em um futuro próximo. Todavia, muitos pontos relacionados a tal agenda já haviam sido levantados no encontro de 2012, e serviram como um horizonte para o atual encontro. Assim sendo, buscou-se desde um primeiro momento priorizar determinados pontos chave, como: a criação de empregos, a reestruturação do sistema financeiro internacional, a questão das dívidas internas, a promoção de competitividade em países deficitários, além da reafirmação dos resultados contraproducentes ligados a práticas protecionistas. Esperava-se também algum debate voltado especificamente para a questão do desenvolvimento econômico e redução da pobreza nos chamados países em desenvolvimento5. Ao final da reunião, foram divulgadas políticas para fazer frente aos problemas mencionados, visando encerrar com o ciclo de incertezas que vem marcando o cenário global e promover o crescimento econômico estável. Para tanto, foi pontuado que os países emergentes deveriam adotar políticas mais flexíveis para lidar com choques e possíveis reduções na demanda nacional e internacional. Ao mesmo tempo, devido aos recentes problemas enfrentados por esses países, as autoridades reunidas na sede do FMI mencionaram a problemática da volatilidade do capital, que tem impactado as economias em desenvolvimento através da desestruturação de seus mercados. Os países desenvolvidos, por sua vez, deveriam pautar suas políticas econômicas em reformas estruturais, além de empregar medidas fiscais efetivas e menos danosas para os mercados emergentes. O último ponto ressaltado estaria diretamente relacionado à repercussão das políticas adotadas pelo Federal Reserve (Fed), o sistema de bancos centrais dos EUA, que teriam impactado negativamente no mercado global, principalmente nos mercados emergentes6. 5 The 2013 Annual Meetings: Factsheet. Disponível em: <http://www.imf.org/external/np/exr/facts/pdf/ams.pdf>. Acesso em: 31 out. 2013. Communiqué of the Twenty-Sixth Meeting of the International Monetary and Financial Committee, 13 out. 2012. Disponível em: <http://www.imf.org/external/np/sec/pr/2012/pr12391.htm>. Acesso em: 31 out. 2013. 6 Ver em: Communiqué of the Twenty-Sixth Meeting of the International Monetary and Financial Committee, 13 out. 2012. Disponível em: <http://www.imf.org/external/np/sec/pr/2012/pr12391.htm>. Acesso em: 31 out. 2013. BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 A questão sobre a qual se concentraram os debates entre os representantes dos países foi, no entanto, a divulgação de um relatório contendo projeções acerca do crescimento econômico global. O documento apresentou uma visão mais cética do que o esperado em relação à possibilidade de uma retomada do crescimento mundial nos padrões que antecederam a crise. O relatório trouxe projeções de crescimento muito aquém do esperado para os países BRICS, principalmente para Brasil, Índia e África do Sul. Os principais temas de entrave ao crescimento econômico apontados pelos analistas do FMI seriam a política expansionista unilateral adotada pelo Fed e a ainda enfraquecida atividade econômica nos países europeus, que estariam prejudicando a circulação de capital e investimentos nas economias em desenvolvimento. Tais questões já teriam, inclusive, sido apontadas no escopo da mais recente cúpula do G20 – ocorrida no começo de setembro7. Considerando o cenário projetado no documento, é importante ressaltar o possível impacto negativo desses relatórios para a economia dos países de maneira geral e, como será abordado na próxima seção, para os BRICS em particular. Tendo em vista que parte dos chamados países emergentes são altamente dependentes de investimentos e capital externo para movimentarem suas economias, a redução da projeção de crescimento pode gerar uma redução nos retornos e um aumento nas expectativas de risco de investir nesses países8. Diante desse ponto, ressalta-se, por exemplo, o papel do capital externo na aceleração das economias dos países BRICS, e como evasões repentinas de capital podem causar impactos negativos dentro desses mercados. Tal movimento pode ser ilustrado, por exemplo, no contexto econômico do início deste ano, quando os países emergentes enfrentaram uma redução no volume de capital externo em suas economias, o que culminou em International Monetary Fund. Communiqué of the Twenty-Eighth Meeting of the International Monetary and Financial Committee. Disponível em: <http://www.mof.go.jp/english/international_policy/imf/imfc/20131012c.pdf>. Acesso em: 31 out. 2103. 7 LAMUCCI, Sergio. FMI reduz mais uma vez projeções de crescimento global em 2013 e 2014. Valor Econômico, 08 out. 2013. Disponível em: <http://www.valor.com.br/internacional/3297240/fmi-reduz-mais-uma-vez-projecoes-decrescimento-global-em-2013-e-2014>. Acesso em: 18 out. 2013 8 PINKASOVITCH, Arthur. The Risks Of Investing In Emerging Markets. Investopedia, 06 jul. 2011. Disponível em: <http://www.investopedia.com/articles/basics/11/risks-investing-inemerging-markets.asp>. Acesso em: 01 nov. 2013. BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 desvalorizações repentinas nas taxas de câmbio, causando perdas imediatas nessas economias9. O relatório, portanto, traria uma posição cética quanto à possibilidade de um crescimento econômico global maior do que o atingido no ano de 2012. Segundo as projeções do FMI, o crescimento provável para a economia global seria de apenas 2.9% para o ano de 2013, contrastando com o ano de 2012, quando atingiu 3.2%. Já para o ano de 2014 é esperado um crescimento anual de 3.6%, contrastando com os 3.8% esperados anteriormente. Essa desaceleração seria justificada mais especificamente pelo esgotamento dos modelos de crescimento adotados pelos países emergentes, pelo encolhimento da zona do euro e pela redução da atividade comercial da China; além da permanência de outros problemas no cenário global sublinhados em outros encontros e eventos ― como no recente encontro anual de líderes do G2010. Christine Lagarde e Naoyuki Shinohara – diretora e vice-diretor do FMI, respectivamente – ressaltaram que a conjuntura internacional apresentaria novas variáveis a serem calculadas para a superação do cenário de incertezas econômicas. Com o intuito de reforçar as particularidades do momento, Lagarde apontou que a economia global estaria mais integrada, e esse novo contexto facilitaria a transposição de crises nacionais para o cenário internacional, o que ficou evidenciado desde 2008. Apontou-se, também, a necessidade de promover mudanças nos modelos de crescimento dos países em desenvolvimento – incluindo os países BRICS –, visto que o crescimento 9 WADHWA,Kamal. Economics of foreign investment. Pravda, 11 set. 2013. Disponível em: <http://english.pravda.ru/business/finance/11-09-2013/125623-economics_foreign_investment0/>. Acesso em: 01 nov. 2013. 10 DUTTAGUPTA, Rupa & HELBLING, Thomas. Global Growth Patterns Shifting, Says IMF WEO. FMI, 08 out. 2013._________________________________ Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/survey/so/2013/NEW100813A.htm>. Acesso em: 18 out. 2013. LAMUCCI, Sergio. FMI reduz mais uma vez projeções de crescimento global em 2013 e 2014. Valor Econômico, 08 out. 2013. Disponível em: <http://www.valor.com.br/internacional/3297240/fmi-reduz-mais-uma-vez-projecoes-decrescimento-global-em-2013-e-2014>. Acesso em: 18 out. 2013 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 pautado em commodities valorizadas, abundância de capital e na expansão da demanda chinesa teria perdido o seu momentum11. Diante de todos os temas apresentados, o FMI declarou, em comunicado, que o principal objetivo para o encontro de 2014 será a observação dos pontos e propostas apontados na reunião, principalmente no que concerne à reestruturação da economia global e ao progresso dos objetivos que constam no histórico dos encontros anteriores – já apontados na introdução desta seção12. 4. O posicionamento dos países BRICS e as repercussões do encontro anual do FMI O relatório anual para 2013 elaborado pelo FMI e apresentado durante a recente assembleia do Fundo e do Banco Mundial abarcou fatores que tiveram impacto sobre os países BRICS, principalmente no concernente às expectativas em relação ao crescimento econômico. Segundo o documento, que teve considerável repercussão na mídia internacional e nos pronunciamentos de autoridades oficiais – especialmente dos países emergentes –, no âmbito dos BRICS, Brasil, Índia e África do Sul são os países cujos desempenhos econômicos serão mais afetados entre 2013 e 2014. O quadro ilustrativo abaixo traz as projeções para o desempenho do PIB (global e por país) contidas no mencionado relatório: 11 IMF Survey. Emerging Markets Need „Second Generation‟ of Reforms. FMI, 10 out. 2013. Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/survey/so/2013/POL101013A.htm>. Acesso em: 18 out. 2013. THE HINDU. US debt crisis threatens world economy: IMF. The Hindu, 04 out. 2013. Disponível em: <http://www.thehindu.com/business/Economy/us-debt-crisis-threatens-world-economyimf/article5200202.ece>. Acesso em: 18 out. 2013. 12 Communiqué of the Twenty-Sixth Meeting of the International Monetary and Financial Committee, 13 out. 2012.___________________________________ Disponível em: <http://www.imf.org/external/np/sec/pr/2012/pr12391.htm>. Acesso em: 31 out. 2013. BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 Estimativas do FMI para o Desempenho do PIB em 2013 e 201413 Estimativas para o desempenho do PIB Valores em (%) previsão atual (2013) previsão anterior (2013) previsão atual (2014) previsão anterior (2014) Mundo 2.9 3.2 3.6 3.8 EUA 1.6 1.7 2 2 Zona do Euro -0.4 -0.5 1 1 Mercados Emergentes 4.5 5 5.1 5.5 Brasil 2.5 2.5 2.5 3.2 Rússia 1.5 2.5 3 3.3 Índia 3.8 5.6 5.1 6.2 China 7.6 7.8 7.3 7.7 África do S. 2 2 2.9 2.9 Fonte: FMI A partir das análises dos dados, considerando os países BRICS, o Brasil aparece como o maior afetado pela projeção, com a menor expectativa de aumento do PIB para 2014 (2.5%). Por sua vez, os ministros das finanças de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul mostraram descontentamento em relação às estimativas, uma vez que consideraram as projeções demasiadamente pessimistas e descrentes da possibilidade de uma expansão econômica mais promissora dos ditos países14. O relatório divulgado pela instituição alega que o modelo de desenvolvimento econômico adotado por Brasil, Rússia, Índia e África do Sul estaria se esgotando, e seriam necessárias reformas estruturais para reaquecer estes mercados. Visto que essas economias se encontram em desaceleração, a obsolescência do modelo seria atribuída a fatores, tais como: os gargalos estruturais, os mercados de trabalho com menos abundância de mão de obra barata, os fluxos de investimento, as oscilações dos preços das commodities e, por fim, a redução na demanda por parte da China – motivada, por seu turno, por uma mudança no modelo de mercado chinês, mais voltado para o consumo interno. A partir destes pontos, a principal crítica feita pelo FMI 13 International Monetary Fund, World Outlook – October 2013: Transitions and Tensions. FMI, 2013. Disponível em: < http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2013/02/pdf/text.pdf>. Acesso em: 18 out. 2013. 14 PRITCHARD, AMBROSE. IMF sours on BRICs and doubts eurozone recovery claims. The Telegraph, 08 out. 2013. Disponível em: < http://www.telegraph.co.uk/finance/financialcrisis/10365206/IMF-sours-on-BRICs-and-doubtseurozone-recovery-claims.html>. Acesso em: 18 out. 2013. BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 ao modelo de crescimento dos países emergentes residiria na incapacidade de sustentação no longo prazo15. O ministro das finanças da África do Sul, Pravin Gordhan, por outro lado, adotou um discurso pautado no otimismo acerca do agrupamento, defendendo a necessidade de uma maior articulação entre os próprios países BRICS para, dessa forma, ajudar a reverter à desaceleração econômica. Para tanto, seriam necessárias alternativas para fomentar o crescimento e para evitar a deterioração da atual condição econômica. Segundo Gordhan, o estabelecimento do Conselho de Negócios dos BRICS, do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, do Fundo de Contingência, bem como o estreitamento de laços comerciais e financeiros seriam ações concretas nesse sentido16. Em resposta ao pessimismo do FMI, o Secretário para Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda brasileiro, Carlos Márcio Bicalho Cozendey, apontou que o crescimento mundial é alavancado pelos países emergentes. Segundo Cozendey, mesmo com a possível redução do pacote de estímulos dos Estados Unidos e a vulnerabilidade conseguinte dessa medida, os países emergentes têm ferramentas para lidar com volatilidade financeira e manter o nível de crescimento17. Nas palavras de Cozendey: “Esse é um aspecto que os ministros dos BRICS especificamente conversaram hoje, considerando que não veem justificativa para pessimismo tão grande (...). Inclusive o próprio documento do Fundo reconhece que apesar de tudo, o crescimento mundial continua sendo puxado pelos países emergentes (...). Ao mesmo tempo, os acontecimentos da última semana mostraram que esses países têm instrumentos para lidar 18 com isso (a volatilidade)” . 15 LIMA, Daniel. Brasil terá menor crescimento entre países do Brics em 2014. Exame, 08 out. 2013. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/brasil-tera-menorcrescimento-entre-paises-do-brics-em-2014>. Acesso em: 18 out. 2013. PRITCHARD, Ambrose. IMF admits true extent of problems in Brics club. Business Day, 13 out. 2013. Disponível em: <http://www.bdlive.co.za/world/2013/10/13/imf-admits-true-extent-ofproblems-in-brics-club>. Acesso em: 18 out. 2013. 16 The BRICS Post. BRICS finance ministers meet in Washington. The BRICS Post, 11 out. 2013. Disponível em: < http://thebricspost.com/brics-finance-ministers-meet-inwashington/#.UmA-pdJJO6O>. Acesso em: 18 out. 2013. 17 UCHOA, Pablo. Brics 'não veem razão para pessimismo‟, diz enviado do Brasil ao FMI. BBC, 10 out. 2013.__________________________________________ Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131010_brics_brasil_mm_pu.shtml>. Acesso em: 18 out. 2013. 18 Ibid. BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 Os ministros das finanças dos países BRICS se reuniram às margens do encontro anual do FMI, em Washington. Durante o encontro, ressaltou-se que a crença na fragilidade dos emergentes deve ser desconstruída, dado que muitos destes mercados se tornaram motores para o crescimento global. No que tange à caracterização dos mercados emergentes como instáveis e frágeis, o ministro das finanças da África do Sul apontou que tanto os países emergentes como os países desenvolvidos enfrentam problemas e incertezas em suas economias no contexto atual. Já nas palavras do vice-diretor do Banco Central da China, Yi Gang: “os mercados emergentes e economias em desenvolvimento permanecem enquanto o principal motor de crescimento, crescendo com mais rapidez do que a média global e com fundamentos relativamente bons”19. Todavia, a agenda comum dos BRICS não se limitou à questão do crescimento do PIB. A reforma das instituições financeiras – FMI e Banco Mundial – também foi um ponto levantado pelos Ministros das Finanças dos países BRICS. Diante dessa demanda, o diretor do Banco Central da Índia, Palaniappan Chidambaram, e o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, levantaram questionamentos acerca das mudanças feitas em 2010 e das reformas prometidas, que, segundo Tombini, estariam paralisadas. Segundo os ministros, o sistema de cotas vigente no FMI não estaria de acordo com a divisão econômica internacional, pois não concederia a devida importância aos países emergentes. Por conseguinte, o Ministro de Finanças da África do Sul atestou que a visão da instituição acerca dos países emergentes estaria demasiadamente pessimista, visto que a participação dos emergentes no crescimento global representaria mais de 50%20. A demanda por reformas institucionais seria uma plataforma constantemente reafirmada pelos países BRICS desde a primeira cúpula oficial do agrupamento, em 2009, e retomada em todas as cúpulas e encontros 19 The BRICS Post. BRICS finance ministers meet in Washington. The BRICS Post, 11 out. 2013.______________ Disponível em: < http://thebricspost.com/brics-finance-ministers-meetin-washington/#.UmA-pdJJO6O>. Acesso em: 18 out. 2013. 20 The BRICS Post. BRICS criticise paralysed IMF reforms. The BRICS Post, 14 out. 2013. Disponível em: <http://thebricspost.com/brics-criticise-paralysed-imfreforms/#.UmFggdJJO6N>. Acesso em: 18 out. 2013. BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 realizados até então. A reforma do FMI é vista, portanto, como uma oportunidade para aumentar a regulação sobre as políticas econômicas dos países desenvolvidos, além de favorecer a projeção política e econômica dos países emergentes. Nesse sentido, o diretor do Banco Central da Índia, P. Chidambaram, ressaltou a incapacidade da instituição em identificar e contornar problemas e riscos, apontando a ineficácia do FMI na “fiscalização” sobre as políticas econômicas adotadas pelos países desenvolvidos21. Por fim, durante a reunião às margens do encontro do FMI, os Ministros de Finanças dos BRICS debateram aspectos relacionados às orientações do fundo de reserva e diretrizes do Banco de Desenvolvimento dos BRICS. No entanto, pouco foi avançado nesse aspecto, visto que as orientações finais do Banco e do Fundo serão decididas na próxima cúpula dos BRICS, que será sediada em Fortaleza, no Brasil, em 2014. 5. Considerações Finais Diante dos pontos expostos, conclui-se que a agenda comum dos BRICS dentro do FMI ainda é pautada nas demandas pela reforma no sistema de cotas de forma a torná-lo mais representativo, principalmente em relação aos países emergentes e tendo em vista o papel desses países na atual conjuntura econômica. Nota-se também a constante reafirmação do papel dos países emergentes no âmbito dos discursos dos BRICS, que cada vez mais sublinham a ideia de que os países em desenvolvimento são (e permanecerão como) os motores do crescimento global – o que vai de encontro às previsões divulgadas pelo relatório anual do FMI. Por fim, ao mesmo tempo em que é notável o interesse dos BRICS em buscar uma maior inserção no âmbito da governança global, as demandas por instituições e iniciativas dentro do agrupamento são, atualmente, pontos centrais da agenda conjunta avançada por esses países. Embora o projeto de estabelecimento de um banco de desenvolvimento dos BRICS não se pretenda 21 Ibid. BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Os BRICS e o encontro anual do FMI: perspectivas e conclusões para 2013 como uma forma de substituir ou fazer frente ao FMI e ao Banco Mundial, tal iniciativa é vista como uma maneira de angariar um maior espaço para os países BRICS no cenário econômico global.