Joseph Harari fundamentos de MODELAGEM NUMÉRICA em OCEANOGRAFIA 2015 São Paulo fundamentos de MODELAGEM NUMÉRICA em OCEANOGRAFIA Joseph Harari 2015 Editoração SALT | Sea & Limno Technology Diagramação Danilo Rodrigues Vieira Thiago Marques Coelho Capa: Leandro Inoe Coelho Catalogação na Publicação (CIP) Ficha Catalográfica feita pelo autor H254f Harari, Joseph Fundamentos de modelagem numérica em Oceanografia / Joseph Harari. – São Paulo, 2015 246 p.; il., color; 21, 59 × 27, 94 cm ISBN 978-85-918934-0-9 1. Modelagem numérica. 2. Oceanografia. I. Tı́tulo. CDD: 551.46 CDU: 556.5 Sumário Sumário i Lista de Figuras vi Lista de Tabelas xii Prefácio xiii Introdução xiv 1 Conceitos básicos em Modelagem Numérica 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Método de diferenças finitas . . . . . . . . . 1.3 Diferenças finitas de alta ordem . . . . . . . 1.4 Equação da advecção . . . . . . . . . . . . . 1.5 Estrutura de um modelo . . . . . . . . . . . 1.6 Método de elementos finitos . . . . . . . . . 1.7 Validação dos resultados de um modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 4 7 8 9 10 13 2 Esquemas de diferenças finitas explı́citos, implı́citos e iterativos 2.1 Equação da difusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Esquemas de diferenças finitas explı́citos, implı́citos e iterativos 2.3 Solução de esquemas implı́citos . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 Complementação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 17 18 20 22 3 Análise de erros em modelos numéricos 25 i Sumário 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Método de von Neumann para análise de estabilidade . . . . Análise de estabilidade para um esquema com 3 nı́veis de tempo Análise de estabilidade para um esquema implı́cito . . . . . Erros de dispersão computacional . . . . . . . . . . . . . . . Erros associados ao modo computacional (ruı́do) . . . . . . . Erros associados à difusão numérica . . . . . . . . . . . . . . Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Equações e suas condições de estabilidade. Equações combinadas e formulações 2D e 3D 4.1 Resumo das condições de estabilidade para soluções da equação da advecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 Resumo das condições de estabilidade para soluções da equação da difusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Equação do decaimento—o método direto de análise de estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 Equação do oscilador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.5 Difusão e decaimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6 Soluções para a equação da advecção–difusão–decaimento 1D 4.7 Exemplos de discretização de equações 2D e 3D . . . . . . . 25 26 30 31 33 35 35 36 44 44 44 45 47 48 49 50 5 Condições de contorno computacionais 5.1 Motivação básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.2 Possı́veis soluções computacionais para os contornos . . . . . 5.3 Consequências das soluções adotadas . . . . . . . . . . . . . 5.4 Modelagem considerando contornos continentais e ilhas . . . 5.5 Modelagem da dispersão para uma região geográfica especı́fica 58 58 59 62 66 68 6 Filtragens e instabilidade não linear 6.1 Filtragem de resultados de modelo (no espaço) . 6.2 Filtragem no tempo . . . . . . . . . . . . . . . . 6.3 Instabilidade não-linear . . . . . . . . . . . . . . 6.4 Possı́veis soluções para a instabilidade não-linear 73 73 75 77 80 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Esquemas numéricos de alta precisão 87 7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 7.2 Equação da advecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 ii Sumário 7.3 7.4 Equação da difusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 “Splitting” (divisão ou parcelamento) . . . . . . . . . . . . . 105 8 Equações Elı́pticas 8.1 Introdução . . . . . . . . . . . . 8.2 Método da relaxação . . . . . . 8.3 Relaxação sequencial . . . . . . 8.4 Super-relaxação . . . . . . . . . 8.5 Métodos diretos . . . . . . . . . 8.6 Método da Eliminação de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 107 108 109 110 110 111 9 Modelos numéricos hidrodinâmicos 1D 113 9.1 Solução do sistema de equações de águas rasas 1D simplificado (com condições de contorno) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 9.2 Solução explı́cita de primeira ordem para o sistema hidrodinâmico 1D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 9.3 Solução explı́cita de segunda ordem para o sistema hidrodinâmico 1D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 9.4 Soluções implı́cita e semi-implı́cita para o sistema hidrodinâmico 1D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 9.5 Solução do sistema de equações de águas rasas 1D com dissipação125 10 Modelos Numéricos Hidrodinâmicos 2D 128 10.1 Equações hidrodinâmicas básicas 2D . . . . . . . . . . . . . 128 10.2 Modelo hidrodinâmico 2D com solução de primeira ordem no tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 10.3 Modelo hidrodinâmico 2D com solução de segunda ordem no tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 10.4 Soluções implı́citas e semi-implı́citas para os termos de decaimento e difusão (com opção não linear para o decaimento) . 133 10.5 Imposição de condições iniciais e de contorno e a energia do sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 10.6 Condições de estabilidade para a modelagem hidrodinâmica 2D137 10.7 Análise da dispersão para a modelagem 2D . . . . . . . . . . 140 10.8 Modelagem hidrodinâmica 2D considerando contornos continentais e ilhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 10.9 Equações básicas de modelos 2D simplificados . . . . . . . . 142 10.10Modelagem 2D com a equação da vorticidade . . . . . . . . 144 iii Sumário 10.11Discretização da modelagem 2D com a equação da vorticidade148 11 Gradeamento em modelos 2D 11.1 Grades alternadas (de Arakawa) . . . . . . 11.2 Refinamento e aninhamento de grades . . . 11.3 Tipos de grades: inclinadas, curvilı́neas, contorno terrestre variável no tempo . . . 150 . . . . . . . . . . 150 . . . . . . . . . . 155 irregulares e de . . . . . . . . . . 158 12 Métodos de iniciação de modelos numéricos 12.1 Iniciação de modelos: método dos mı́nimos quadrados . . . . 12.2 Iniciação de modelos de equações primitivas . . . . . . . . . 12.3 Modelagem hidrodinâmica 2D para uma região geográfica especı́fica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 164 167 171 13 Equações hidrodinâmicas básicas de modelo 3D 173 13.1 Equações básicas de modelo numérico hidrodinâmico 3D . . 173 13.2 Coeficientes de difusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176 13.3 Modelos de multi-camadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 13.4 Equações básicas de modelo 3D simplificado e inserção de condições de contorno na superfı́cie . . . . . . . . . . . . . . 179 13.5 Discretização das equações básicas de modelo 3D simplificado 180 14 Modelos numéricos hidrodinâmicos 3D 14.1 Modelo de coordenadas z explı́cito com 2 nı́veis de tempo 14.2 Modelo de coordenadas z explı́cito com 3 nı́veis de tempo 14.3 Discretização de termos com formulação implı́cita . . . . 14.4 Tipos de modelos 3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Separação de modos; coordenadas verticais sigma, isopicnais e hı́bridas 15.1 Separação de modos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15.2 Coordenadas verticais sigma . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15.3 Coordenadas verticais isopicnais . . . . . . . . . . . . . . . . 15.4 Coordenadas verticais hı́bridas . . . . . . . . . . . . . . . . . 15.5 Solução espectral na vertical . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15.6 Modelagem hidrodinâmica 3D para uma região geográfica especı́fica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Modelos atuais em Oceanografia 185 185 190 193 194 200 200 202 205 208 209 214 216 iv Sumário 16.1 16.2 16.3 16.4 Modelos Modelos Modelos Modelos do transporte de sedimentos . . . . . . . . . . . . de propagação de ondas de superfı́cie . . . . . . . de qualidade da água (Eulerianos e Lagrangeanos) ecológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216 217 219 220 17 O método de elementos finitos 225 17.1 Modelos numéricos de elementos finitos 2D (verticalmente integrados) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 17.2 Modelos numéricos de elementos finitos 3D . . . . . . . . . . 234 Referências Bibliográficas 242 v Lista de Figuras 1.1 1.2 1.3 2.1 2.2 Gráfico da função e derivadas, como calculadas ao final da execução do programa exp01 01diferencas finitas.m. . . . . . . . 7 Configuração final do resultado do modelo exp01 02adv ordem01.m. 15 Configuração final do resultado do modelo exp01 03adv ordem01.m. 16 Resultado do modelo exp02 01dif explic.m, com sinal retangular inicial na parte central da grade (em vermelho) e sua configuração final devido à difusão (em azul). . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc02 04adv implic.m, com sinal retangular inicial na parte central da grade (em vermelho) e sua configuração final devido à advecção (em azul). . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1 18 24 Solução da equação da advecção de um sinal retangular que se move numa grade uni-dimensional à velocidade de 2 m/s (posição inicial do sinal assinalada em vermelho e posição final em azul); (a) solução analı́tica: ao final de 300 s, o sinal se moveu 600 m; (b) erro de instabilidade: ao final de apenas 45 s, a solução apresenta amplitudes errôneas; (c) erro de dispersão: a localização do sinal advectado (em azul) é diferente da solução analı́tica (em preto), pois a velocidade de fase da solução é diferente da analı́tica; (d) existência de modos computacionais (ruı́do) nos resultados do modelo; e (e) erro de difusão: a forma da solução foi modificada. 27 3.2 Resultado do modelo exp03 01adv exp ord01.m. Advecção de um sinal retangular inicialmente no centro da grade, com esquema explı́cito e diferenças finitas de primeira ordem. . . . . . . . . . 38 vi Lista de Figuras 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 4.1 4.2 4.3 4.4 5.1 5.2 Resultado do modelo exc03 01adv exp ord02.m. Advecção de um sinal retangular inicialmente no centro da grade, com esquema explı́cito e diferenças finitas de segunda ordem. . . . . . . . . . Resultado do modelo exc03 02adv implic ord01.m. Advecção de um sinal retangular inicialmente no centro da grade, com esquema implı́cito e diferenças finitas de primeira ordem no tempo e no espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc03 03adv implic ord02.m. Advecção de um sinal retangular inicialmente no centro da grade, com esquema implı́cito e diferenças finitas de segunda ordem no tempo e no espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc03 04adv semi implic ord01.m. Advecção de um sinal retangular inicialmente no centro da grade, com esquema semi-implı́cito e diferenças finitas de primeira ordem no tempo e no espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc03 05adv semi implic ord02.m. Advecção de um sinal retangular inicialmente no centro da grade, com esquema semi-implı́cito e diferenças finitas de segunda ordem no tempo e no espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exp04 01adv dif 2d bx ord.m. Advecção e difusão 2D com esquema de baixa ordem. . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc04 02adv dif 2d alta ord.m. Advecção e difusão 2D com esquema de alta ordem. . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exp04 02adv dif dec 2d.m. Simulação do programa de advecção–difusão–decaimento 2D, aplicado a concentração inicial de poluente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc04 03adv dif dec 3d.m. Simulação do programa de advecção–difusão–decaimento 3D, aplicado a descarga contı́nua de poluente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exp05 01adv cc rig.m. Configuração do sinal senoidal modelado após reflexão no final da grade, devido ao uso de condição de contorno na forma de parede rı́gida. . . . Resultado do modelo exc05 01adv cc grad.m. Configuração do sinal senoidal modelado com o uso de condição de contorno não gradiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 40 41 42 43 54 55 56 57 65 66 vii Lista de Figuras 5.3 5.4 5.5 5.6 5.7 5.8 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 Resultado do modelo exc05 02adv cc extrap.m. Configuração do sinal senoidal modelado com o uso de condição de contorno correspondente à extrapolação linear de resultados do modelo em pontos internos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc05 03adv cc lat.m. Configuração do sinal senoidal modelado com o uso de condição de contorno correspondente a diferença finita lateral. . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exp05 02dif cc rig.m. Configuração do sinal retangular submetido a difusão com o uso de condição de contorno na forma de parede rı́gida (nas duas extremidades da grade). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc05 10dif cc rad.m. Configuração do sinal retangular submetido a difusão com o uso de condição de contorno radiacional (nas duas extremidades da grade). . . . . . Resultado do modelo exc05 10dif cc rad.m. Configuração do sinal retangular submetido a difusão com o uso de condição de contorno radiacional (nas duas extremidades da grade). . . . . . Resultado da simulação do modelo exp05 04disp reg geog.m, com advecção–difusão–decaimento 2D na Baı́a da Guanabara, aplicado à descarga contı́nua de uma substância na região. . . . Resultado do modelo exp06 01filtros1d.m. Função 1D (em azul) e sua filtragem, com e sem ponderação (em verde e vermelho, respectivamente). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exp06 03adv ord01.m. Advecção de um sinal 1D com solução numérica de 1a ordem, com monitoramento da conservação (em vermelho, a condição inicial). . . . . . . . . Resultado do modelo exc06 02adv ord02.m. Advecção de um sinal 1D com solução numérica de 2a ordem, com monitoramento da conservação (em vermelho, a condição inicial). . . . . . . . . Resultado do modelo exc06 03adv dif ord02.m. Advecção de um sinal 1D com solução numérica de 2a ordem, com monitoramento da conservação e controle do ruı́do computacional através de difusão (em vermelho, a condição inicial). . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc06 04adv filt continua ord02.m. Advecção de um sinal 1D com solução numérica de 2a ordem, com monitoramento da conservação e controle do ruı́do computacional através de filtragem contı́nua (em vermelho, a condição inicial). 67 68 69 70 71 72 77 82 83 84 85 viii Lista de Figuras 6.6 7.1 7.2 7.3 7.4 Resultado do modelo exc06 05adv filt period ord02.m. Advecção de um sinal 1D com solução numérica de 2a ordem, com monitoramento da conservação e controle do ruı́do computacional através de filtragem periódica (em vermelho, a condição inicial). Resultado do modelo exp07 01adv ordem01.m. Advecção de um sinal retangular com esquema de 1a ordem no espaço. . . . . . . Resultado do modelo exc07 01adv ordem03filt5.m. Advecção de um sinal retangular com esquema de 3a ordem no espaço (e filtragem periódica dos resultados). . . . . . . . . . . . . . . . . Resultado do modelo exc07 03adv quick.m. Aplicação do esquema QUICK para a advecção de um sinal 1D retangular. . . . Resultado do modelo exc07 04adv quick filt3p.m. Aplicação do esquema QUICK para a advecção de um sinal 1D retangular, com filtragens periódicas dos resultados do modelo. . . . . . . . 86 89 90 96 97 8.1 Resultado do modelo exp08 01eq helmoltz.m. Solução da equação de Helmholtz, para função constante no contorno. . . . . . . . . 112 9.1 Esquema de grade alternada para pontos tipo η e u com sua numeração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 Resultado do modelo exp09 01hidr1d 01.m. Distribuições de elevação e correntes calculadas pelo modelo hidrodinâmico 1D forçado por oscilação harmônica no ponto inicial da grade, ao final de 30 minutos de simulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 9.2 10.1 Grade 2D alternada, para os pontos tipo η, U e V , definição dos espaçamentos de grade e numeração dos pontos de grade. . . . . 130 10.2 Resultado do modelo exp10 01hidr2d 01.m. Exemplo de resultado de modelo numérico hidrodinâmico 2D forçado por vento de Sudoeste, com elevações (esquerda) e correntes (direita) ao final de 10 minutos de simulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 11.1 Grades de Arakawa, dos tipos A (não alternada) e B, C, D e E (alternadas). Note-se que, em geral, ao utilizar grades alternadas, se consideram os mesmos ı́ndices (j, k) para cada trio de pontos η, U e V (como apresentado no Capı́tulo 10). Somente no estudo comparativo de grades deste Capı́tulo 11 é que serão utilizados ı́ndices (j, k) para cada posição ao longo dos eixos (x, y). . . . . . . . . . . 151 ix Lista de Figuras 11.2 Relações de dispersão analı́tica (11.6) e referentes às grades de Arakawa A–E (equações 11.8 a 11.12). . . . . . . . . . . . . . . 11.3 Aninhamento de grade em sub-região de interesse. . . . . . . . . 11.4 Aninhamento de grades e processamento com influência nos dois sentidos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11.5 Grades principal e aninhada (alternadas) e numeração de seus pontos, com ı́ndices J, K (maiúsculas) referentes à grade maior e ı́ndices j, k (minúsculas) referentes à grade menor. . . . . . . . . 11.6 Exemplo de grade inclinada. GP: grade principal; A1: grade aninhada 1 e A2: grade aninhada 2. . . . . . . . . . . . . . . . . 11.7 Exemplo de grade curvilı́nea. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11.8 Exemplo de grade irregular (com espaçamento variável ∆xjk ). . 11.9 Grade alternada com contorno terrestre variável no tempo, formada por pontos tipo u (−) e η (+), nesta ordem, com um ı́ndice j para cada par de pontos u, η. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 155 156 157 159 160 160 162 12.1 Grade e pontos (×) de coordenadas x0 e y0 com medições f0 a serem usadas no ajuste de mı́nimos quadrados para impor condições iniciais no processamento de um modelo. . . . . . . . 166 12.2 Resultado do modelo exp12 01hidr2d 01baia.m. Exemplo de cálculo de modelo numérico hidrodinâmico 2D numa região semifechada, forçado por vento de Sudoeste, com elevações (esquerda) e correntes (direita) ao final de 10 minutos de simulação. . . . . 170 12.3 Resultado da simulação do modelo exc12 04hidr2d reg geog.m, com elevações da superfı́cie e correntes médias na vertical, na Baı́a da Guanabara. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172 13.1 Esquema de modelo de duas camadas. . . . . . . . . . . . . . . 177 13.2 Resultado do modelo exp13 01hidr3d 01.m. Exemplo de cálculo de modelo numérico hidrodinâmico 3D numa região fechada, forçado por vento de Sudoeste, com elevações (esquerda) e correntes em vários nı́veis (direita) ao final de 30 minutos de simulação.184 14.1 Parte x, y da grade alternada tri-dimensional x, y, z: + pontos tipo η, − pontos tipo u e | pontos tipo v (elipses delimitam pontos com mesmos ı́ndices j, k). . . . . . . . . . . . . . . . . . 196 x Lista de Figuras 14.2 Parte x, z da grade alternada tri-dimensional x, y, z: + pontos tipo T S, − pontos tipo u e | pontos tipo w (elipses delimitam pontos com mesmos ı́ndices j, l). Os coeficientes de difusão vertical são referentes aos pontos tipo w. . . . . . . . . . . . . . 197 14.3 Parte y, z da grade alternada tri-dimensional x, y, z: + pontos tipo T S, − pontos tipo v e | pontos tipo w (elipses delimitam pontos com mesmos ı́ndices k, l). Os coeficientes de difusão vertical são referentes aos pontos tipo w. . . . . . . . . . . . . . 198 14.4 Grade alternada tri-dimensional x, y, z completa. . . . . . . . . 199 15.1 Modelos de grades com coordenadas verticais sigma, sobre um monte submarino (a cima, incluindo nı́veis z) e de uma região costeira para uma área profunda (a baixo). . . . . . . . . . . . . 203 15.2 Esquema de coordenadas hı́bridas, passando de coordenadas isopicnais (densidades ρ) para coordenadas de nı́vel e para coordenadas sigma. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 15.3 Resultado da simulação do modelo exc15 01hidr3d reg geog.m, com elevações da superfı́cie e correntes na superfı́cie, na Baı́a da Guanabara. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215 17.1 Grades de modelos de elementos finitos, de baixa resolução (a) e alta resolução (b). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226 xi Lista de Tabelas 1.1 1.2 1.3 4.1 4.2 4.3 4.4 6.1 Evolução dos espaçamentos de grade utilizados em modelos numéricos em Oceanografia no decorrer das últimas décadas. . . Diferenças finitas no espaço x e no tempo t, de 1a e 2a ordens, de 2 e 3 pontos, laterais (avançadas ou retardadas) e centradas. Nı́veis de tempo e representação da variável f na forma matricial. Resumo das condições de estabilidade para a equação da advecção. Resumo das condições de estabilidade para a equação da difusão. Resumo das condições de estabilidade para a equação do decaimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resumo das condições de estabilidade para a equação do oscilador. Caracterı́sticas de modelos lineares e não lineares quanto aos números de onda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 6 9 45 45 47 48 79 15.1 Esquemas de modelos 3D, 2D e 3D′ . . . . . . . . . . . . . . . . 201 xii Prefácio Este livro é produto de muitos anos ministrando cursos de Modelagem numérica em Oceanografia no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, desde 1982, ao nı́vel de graduação, pós-graduação e especialização. Tenho a agradecer imensamente a muitas turmas de alunos que se dedicaram a este aprendizado e me proporcionaram enorme experiência de ensino nesta área do conhecimento. Sem as correções, crı́ticas, observações e sugestões dos alunos esta obra não seria concretizada. Agradeço também a meus professores e docentes colegas da universidade, por seus ensinamentos e constantes trocas de informações e experiências. Agradeço em especial a meus orientadores, Alm. Alberto dos Santos Franco (in memoriam) e Prof. Dr. Afranio Rubens de Mesquita, e meu colega de inúmeras pesquisas, Prof. Dr. Ricardo de Camargo. Agradeço aos funcionários e técnicos do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, pelo apoio permanente em minhas atividades de ensino e pesquisa, especialmente a Sra. Vanilde Ferreira de Oliveira. Um agradecimento especial é dirigido a meus familiares, que tanto me apoiaram em todas as fases de minha carreira acadêmica, meus pais Cesar Youssef Harari ( )ז ״לe Rachel Harari ()ז ״ל, minha irmã Camille Harari, meus sogros Chyia Szajnbok e Dvorah Szajnbok, meus filhos Rachel Szajnbok Harari e Cesar Szajnbok Harari e, especialmente, minha querida esposa Gina Szajnbok Harari, autora de diversas cuidadosas revisões do texto. Finalmente, agradeço a Deus Todo Poderoso, Criador do Universo, fonte da sabedoria que permite aos homens desenvolverem as ciências e o conhecimento do Universo. Joseph Harari São Paulo, 2015 xiii Introdução Este livro tem como objetivo apresentar os conceitos básicos e as técnicas utilizadas na modelagem numérica em Oceanografia. Pode ser utilizado em cursos de vários nı́veis—como graduação, pós-graduação ou especialização— dependendo do grau de aprofundamento determinado pelos professores responsáveis em cada tópico abordado. Na parte inicial do livro são apresentados os conceitos básicos em modelagem numérica em Oceanografia, esquemas de diferenças finitas, análise de erros em modelos numéricos, determinação de condições de estabilidade, imposição de condições de contorno em modelos e utilização de filtragens de resultados de modelo. Ao final da parte introdutória, se encontram esquemas numéricos de alta precisão, soluções de equações elı́pticas e modelos numéricos hidrodinâmicos 1D (em uma dimensão, ao longo de um canal, por exemplo). Na parte final do livro, são apresentados numéricos hidrodinâmicos 2D (em duas dimensões, verticalmente integrados), com a utilização de grades cobrindo as regiões modeladas e métodos de iniciação de modelos numéricos; a seguir, são analisados modelos numéricos hidrodinâmicos 3D (em três dimensões), com vários tipos de solução na vertical. Como complementação, são apresentados, em linhas gerais, modelos atuais em Oceanografia, como por exemplo modelos do transporte de sedimentos, modelos de propagação de ondas de superfı́cie, modelos de qualidade da água, modelos ecológicos e, finalmente, o método de elementos finitos (em duas e três dimensões). Em cada capı́tulo, são fornecidos exemplos e exercı́cios com soluções, em linguagem MATLABr . Os exemplos são identificados como expCAP numeronome.m e os exercı́cios como excCAP numeronome.m, onde CAP é o número de xiv identificação do capı́tulo e numeronome contém o número e a identificação do exemplo ou exercı́cio. É altamente recomendável que alunos e usuários do livro tentem resolver os exercı́cios antes de consultar as soluções apresentadas. Os exemplos e exercı́cios foram organizados de forma simples e didática, evitando-se otimizações exageradas e procurando facilitar o seu entendimento pelos usuários. Também não foram elaborados com a finalidade de uso imediato em análises oceanográficas, porém podem vir a ser usados com este objetivo, desde que sejam ajustados os coeficientes e parâmetros de cada programa para as aplicações desejadas, e que seus resultados sejam devidamente comparados com medições ou informações independentes. Finalizando, é solicitado aos leitores deste livro que encaminhem ao autor correções, aprimoramentos, comentários e sugestões, para que o mesmo possa ser continuamente aprimorado e possa ser de utilidade a alunos interessados nas aplicações da modelagem numérica em Oceanografia. xv 1 Conceitos básicos em Modelagem Numérica 1.1 Introdução O método cientı́fico consiste em quatro etapas: 1. 2. 3. 4. observação de um fenômeno; medição de parâmetros, de modo a quantificar o fenômeno; elaboração de teorias para explicar o fenômeno; reprodução do fenômeno em laboratório ou sua previsão. Como exemplo da aplicação da metodologia cientı́fica, em meteorologia, são observados perı́odos de frio em latitudes médias da América do Sul; são realizadas medições de temperatura, pressão atmosférica, umidade e ventos; teorias sobre a geração de frentes frias em altas latitudes e sua evolução são desenvolvidas; e novos perı́odos de frio podem então ser previstos. Em Oceanografia, a modelagem numérica utiliza medições e teorias sobre o comportamento do oceano, de modo a possibilitar simulações e previsões dos processos que nele ocorrem, como a circulação marı́tima, o transporte de sedimentos, a cadeia alimentar, etc. Em particular, a modelagem numérica hidrodinâmica utiliza medições de nı́vel do mar, correntes e propriedades fı́sico–quı́micas da água do mar e resolve numericamente as equações hidrodinâmicas básicas, de modo a reproduzir e prever a circulação marı́tima e a distribuição de propriedades. De fato, a modelagem da circulação constitui a base dos demais modelos em Oceanografia, visto que seus resultados são utilizados na modelagem de ondas, sedimentos, poluentes, etc. . . Há dois tipos de modelos de circulação marı́tima: os gerais e os especı́ficos. Os modelos gerais procuram modelar o oceano da maneira mais completa 1 1.1. Introdução possı́vel, sintetizando conjuntamente diversos processos fı́sicos e adotando hipóteses simplificadoras e parametrizações dos processos de escala menores. Um exemplo de um modelo geral é o da circulação geral dos oceanos, que considera conjuntamente todas as componentes da circulação, devidas a ventos, marés e variações de densidade. Já os especı́ficos, procuram estudar fenômenos de forma individual, isolando-os de outros processos (até onde possı́vel). Um exemplo de modelo especı́fico é um modelo da circulação de maré, que evidentemente não inclui as componentes de circulação geradas pelo vento e por variações de densidade. Uma divisão importante nos modelos em Oceanografia (hidrodinâmicos, do transporte de sedimentos, da cadeia alimentar etc. . . ) é referente a suas escalas espaciais: 1. grande escala: para simulações em escala global ou de bacia oceânica; 2. meso-escala: estuda processos em plataformas continentais e 3. pequena escala: cobre regiões costeiras e estuários. A escala está intimamente relacionada com a resolução de um modelo, definida pela distancia horizontal entre os pontos de cálculo de uma grade computacional (δx, “espaçamento de grade”). A evolução da informática, de certa forma, definiu ao longo dos últimos anos a resolução adotada por cada escala, como exemplificado na Tabela 1.1. 2 Tabela 1.1: Evolução dos espaçamentos de grade utilizados em modelos numéricos em Oceanografia no decorrer das últimas décadas. Espaçamentos de grade [km] Escalas Década de 1980 Década de 1990 Década de 2000 Década de 2010 Grande Meso Pequena 100 010 001 10,0 01,0 10,1 1,01 0,10 0,01 0,100 0,010 0,001 1.1. Introdução 3 1.2. Método de diferenças finitas A resolução de um modelo define que fenômenos são efetivamente incluı́dos nas simulações e quais são omitidos ou simplesmente parametrizados, por possuı́rem distâncias horizontais caracterı́sticas da mesma ordem (ou menor) que os espaçamentos de grade adotados. É importante notar que os espaçamentos de grade devem ser muito menores que os comprimentos de ondas das oscilações modeladas (∆x ≪ L), ou seja, deve haver um grande número de pontos (e espaçamentos) de grade para representar um comprimento de onda (no mı́nimo, L = 20 ∆x ou L = 30 ∆x). Em geral, modelos requerem dados iniciais e de contorno para o seu processamento, além de dados para calibração e validação; esses dados podem ser obtidos através de medições in situ ou remotas, ou de resultados de outros modelos. A calibração consiste na comparação de resultados do modelo com um conjunto de dados, visando obter os valores dos coeficientes de fricção e de atenuação mais adequados. Uma vez calibrado um modelo, a validação consiste na comparação de seus resultados com outro conjunto de dados, de modo a inferir a qualidade dos resultados das simulações do modelo. É evidente que modelos, teorias e observações devem se desenvolver conjuntamente, afim que haja interação entre os mesmos, com observações resultando em teorias mais aprimoradas, que conduzem a modelos mais sofisticados, os quais, por sua vez, demandam observações melhores e possibilitam aprimorar as teorias. Por fim, vale ressaltar a grande similaridade entre a modelagem em Meteorologia e Oceanografia, uma vez que as equações que descrevem seus processos fı́sicos são muito semelhantes (Haltiner, 1971; Haltiner e Williams, 1980; Ramming e Kowalik, 1980; Kowalik e Murty, 1993). 1.2 Método de diferenças finitas A aplicação do método de diferenças finitas na modelagem numérica consiste em discretizar o espaço e o tempo, de modo que se possa substituir derivadas por diferenças finitas (Fortuna, 2000). A partir da discretização do espaço x com espaçamentos ∆x e ı́ndices j (x = j ∆x, ∆x > 0), o ponto de partida do método de diferenças finitas provém da Série de Taylor (1.1) de uma função f (x): ∆x2 ∆x3 ′′′ f (x + ∆x) = f (x) + f (x)∆x + f (x) + f (x) + ··· 2! 3! ′ ′′ (1.1) 4 1.2. Método de diferenças finitas Isolando a primeira derivada, tem-se: f ′ (x) = f (x + ∆x) − f (x) +R ∆x (1.2) ∆x onde o termo de maior ordem no resı́duo R é f ′ (x) . 2! Se R for desprezado, a aproximação 1.2 é chamada de diferença finita avançada, uma vez que ∆x é maior que zero, sendo uma diferença finita de 2 pontos e ordem ∆x, cuja representação é O(∆x). Esta ordem representa o erro de truncamento das diferenças finitas, o que indica sua precisão. Contudo, a série de Taylor pode ser expressa também da seguinte forma: f (x − ∆x) = f (x) − f ′ (x) ∆x + f ′′ (x) ∆x2 ∆x3 − f ′′′ (x) + ··· 2! 3! (1.3) que, analogamente ao primeiro caso, conduz a: f ′ (x) = f (x) − f (x − ∆x) +R ∆x (1.4) A equação 1.4 representa uma diferença finita retardada, de 2 pontos e também de ordem de precisão O(∆x). Ainda é possı́vel subtrair (1.1) de (1.2), resultando em: f ′ (x) = f (x + ∆x) − f (x − ∆x) +R 2∆x (1.5) Esta aproximação é uma diferença finita centrada, de 3 pontos e ordem de precisão O(∆x2 ), sendo portanto superior às outras duas. Embora de melhor precisão, a diferença centrada não pode ser aplicada no primeiro e no último ponto da grade, sendo necessárias as diferenças avançada e retardada, respectivamente. Também se pode somar (1.1) de (1.2), permitindo determinar a segunda derivada, em diferença finita centrada, com 3 pontos e ordem de precisão O(∆x2 ): f ′′ (x) = f (x + ∆x) − 2f (x) + f (x − ∆x) +R ∆x2 (1.6) Vale lembrar que para o modelo seja de qualidade é necessário que o espaçamento de grade seja muito menor que o comprimento de onda do fenômeno a ser estudado. 5 1.2. Método de diferenças finitas Tabela 1.2: Diferenças finitas no espaço x e no tempo t, de 1a e 2a ordens, de 2 e 3 pontos, laterais (avançadas ou retardadas) e centradas. Espaço Tempo ∂f fj+1 − fj = ∂x ∆x ∂f f n+1 − f n = ∂t ∆t ∂f fj − fj−1 = ∂x ∆x ∂f f n − f n−1 = ∂t ∆t ∂f fj+1 − fj−1 = ∂x 2∆x ∂f f n+1 − f n−1 = ∂t 2∆t fj+1 − 2fj fj−1 ∂ 2f = 2 ∂x ∆x2 f n+1 − 2f n + f n−1 ∂f = ∂t2 ∆t2 1a ordem 2 pontos avançada 1a ordem 2 pontos retardada 2a ordem 3 pontos centrada 2a ordem 3 pontos centrada Expressões similares a (1.2), (1.4), (1.5) e (1.6), referentes à coordenada x, podem ser estabelecidas para derivadas em relação às coordenadas y e z e ao tempo t. Para espaçamentos ∆x, ∆y, ∆z, ∆t e ı́ndices j, k, l, n, são consideradas discretizações da forma x = j ∆x , y = k ∆y , z = l ∆z e t = n ∆t, respectivamente. Uma função de x, y, z, t será representada por: n f = f (x, y, z, t) = f (j∆x, k∆y, l∆z, n∆t) = fj,k,l (1.7) de modo que as diferenças finitas, escritas em termos de ı́ndices, para x e t, se encontram na Tabela 1.2. Exemplo 1.1: exp01 01diferencas finitas.m programa exp01 01diferencas finitas.m, para cálculo de primeiras e segundas derivadas da função f (x) = sen(x), através de fórmulas analı́ticas e de diferenças finitas de 1a e 2a ordem, utilizando as relações (1.2), (1.4), (1.5) e (1.6), e incluindo estatı́sticas dos erros (ver Figura 1.1). 6 1.3. Diferenças finitas de alta ordem Função (azul) e diferenças finitas avançada (vermelho), retardada (verde), centrada (preto) f, df alta ordem dx 1 0,5 0 −0,5 −1 0 0,5 1 1,5 x 2 2,5 3 Figura 1.1: Gráfico da função e derivadas, como calculadas ao final da execução do programa exp01 01diferencas finitas.m. 1.3 Diferenças finitas de alta ordem Diferenças finitas laterais de segunda ordem podem ser obtidas através da utilização das expressões de Séries de Taylor (1.1) e (1.3), levando em conta aproximações da segunda derivada (1.6) centradas nos pontos (x + ∆x) e (x − ∆x); resultam então, para as diferenças finitas avançada e retardada de segunda ordem (Mitchell e Griffiths, 1980), ∂f −3fj + 4fj+1 − fj+2 = +R ∂x 2∆x 3fj − 4fj−1 + fj−2 ∂f = +R ∂x 2∆x (1.8) (1.9) Tomando a média dessas duas expressões resulta uma diferença finita centrada de terceira ordem: fj+1 − fj−1 fj+2 − fj−2 ∂f =2 − +R ∂x 2∆x 4∆x (1.10) 7 1.4. Equação da advecção Exercı́cio 1.1: exc01 01diferencas finitas alta ordem.m desenvolver o programa exc01 01diferencas finitas alta ordem.m, para calcular as primeiras derivadas da função f (x) = sen(x), através de fórmulas analı́ticas e de diferenças finitas de 2a e 3a ordem, utilizando as relações (1.8), (1.9) e (1.10), e incluindo estatı́sticas dos erros. Exercı́cio 1.2: exc01 02diferencas finitas qq f.m desenvolver o programa exc01 02diferencas finitas qq f.m, para calcular as primeiras derivadas da função f (x) = x sen(x) exp(−x2 ), através de fórmulas de diferenças finitas de 1a , 2a e 3a ordem, utilizando as relações (1.6), (1.5), (1.6), (1.8), (1.9) e (1.10). 1.4 Equação da advecção Uma primeira abordagem do método das diferenças finitas pode ser feita em uma equação linear simples com coeficientes constantes, comumente chamada de equação da advecção, que representa o transporte de uma propriedade: ∂f ∂f +c =0 (1.11) ∂t ∂x onde t é o tempo, x o espaço, f a propriedade advectada e c, diferente de zero, é a velocidade, ou ainda, a velocidade de fase, no caso de se considerar ondas. A equação (1.11) é similar à versão linearizada dos primeiros termos da equação do movimento, da equação da termodinâmica e da equação da vorticidade, entre outras. A equação da advecção considerada pode ser aproximada pelas diferenças descritas acima, sendo que, inicialmente, será utilizada a diferença finita avançada no tempo e retardada no espaço (portanto, de 1a ordem): n fjn+1 − fjn fjn − fj−1 +c =0 ∆t ∆x (1.12) cuja fórmula de recorrência é: fjn+1 = fjn − c ∆t n n fj − fj−1 ∆x (1.13) 8 1.5. Estrutura de um modelo Tabela 1.3: Nı́veis de tempo e representação da variável f na forma matricial. Nı́veis de tempo Variáveis Matrizes Instante (n − 1) (n) (n + 1) f n−1 fn f n+1 fant fatu fren “anterior” “atual” “renovado” onde ∆x corresponde ao espaçamento de grade e ∆t, ao passo no tempo. A seguir, a Tabela 1.3 apresenta a notação matricial (dependente do espaço) da variável f em função dos nı́veis de tempo n − 1, n, n + 1. Ao programar a fórmula de recorrência (1.13), a variável f é considerada em dois nı́veis de tempo, sendo portanto representada no espaço por duas matrizes, fren e fatu (ver Tabela 1.3). Portanto, a equação de recorrência para a equação da advecção (1.13), na forma matricial, pode ser escrita como: f ren (j) = f atu (j) − c ∆t (f atu (j) − f atu (j − 1)) ∆x (1.14) A solução da equação da advecção (1.11) por diferenças finitas centradas no tempo e no espaço, de 2a ordem portanto, conduz a: n n fjn+1 − fjn−1 fj+1 − fj−1 +c =0 2∆t 2∆x (1.15) cuja relação de recorrência é: ∆t n n fj+1 − fj−1 ∆x (1.16) ∆t (f atu(j + 1) − f atu(j − 1)) ∆x (1.17) fjn+1 = fjn−1 − c e sua forma matricial corresponde a: f ren(j) = f ant(j) − c 1.5 Estrutura de um modelo Primeiramente, vale lembrar que as variáveis em um modelo são usualmente representadas como matrizes espaciais. Além disso, uma variável 9 1.6. Método de elementos finitos em instantes distintos de tempo é representada através de uma matriz para cada instante, a qual é renovada a cada passo de tempo. Desta forma, nas equações discretizadas segundo a forma matricial, se considera que: o termo fjn−1 corresponde à matriz f ant (variável no instante de tempo anterior), o termo fjn corresponde a f atu (variável no instante atual) e fjn+1 corresponde à matriz f ren (variável no instante renovado). Assim, um modelo pode ser estruturado segundo as seguintes etapas: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Definição dos parâmetros do modelo (∆x, ∆t, c, etc.) Estabelecimento da grade computacional Cálculo de constantes iniciais Imposição de condições iniciais, por exemplo: fjn=1 e fjn=2 Inı́cio do laço (loop) no tempo Especificação de condições de contorno, quando houver Evolução da solução no tempo com a fórmula de recorrência Gravação de resultados (gráficos, arquivos, etc.) Transferência de variáveis no tempo (f ant = f atu e f atu = f ren, nesta ordem) 10. Retorno ao inı́cio do laço no tempo, até atingir o número total de iterações 11. Final do processamento 1.6 Método de elementos finitos Quanto à solução numérica das equações que compõem um modelo, há duas formulações: 1) no método de diferenças finitas, acima apresentado, as derivadas são substituı́das por diferenças finitas, para pontos de grade no espaço e nı́veis de tempo (Ferziger e Peric, 1997; Strickwerda, 1989); 2) no segundo método, o de elementos finitos, uma solução é expressa em termos de uma expansão com funções base que levam em conta sua dependência espacial (pré-estabelecidas), tendo cada função base um coeficiente que depende do tempo (a determinar). Ao substituir as expansões nas equações do modelo, resultam equações diferenciais ordinárias para os coeficientes; esses coeficientes, por sua vez, evoluem no tempo através de cálculos por diferenças finitas (Zienkiewicz e Morgan, 1984; Reddy, 1984). 10 1.6. Método de elementos finitos Um exemplo da aplicação do método de elementos finitos é dado para a equação da advecção linear 1D aplicada num canal de comprimento L: ∂f ∂f +c =0 ∂t ∂x (1.18) É considerada uma expansão da solução f (x, t) com funções base dependentes do espaço pré-escolhidas fr (x) e coeficientes dependentes do tempo a determinar φr (t); sendo r o ı́ndice de cada termo da expansão: f (x, t) = ∞ X φr (t) fr (x) (1.19) r=1 Ao substituir (1.19) em (1.18) resulta: ∂ ∞ X ∂ φr (t) fr (x) r=1 ∂t +c ∞ X φr (t) fr (x) r=1 ∂x =0 (1.20) Levando em conta a dependência das variáveis no tempo e no espaço resulta: ∞ ∞ X X ∂fr ∂φr +c =0 (1.21) φr fr ∂t ∂x r=1 r=1 Multiplicando esta equação por fs e integrando no domı́nio [0, L]: L ∞ Z X r=1 0 L ∞ Z X ∂fr ∂φr fs fr dx +c dx φr = 0 fs ∂t ∂x r=1 (1.22) 0 que pode ser escrito na forma matricial (para um número limitado de termos da expansão, suficientemente grande) L L Z Z fs fr dx ∂φr + c fs ∂fr dx [φr ] = 0 (1.23) ∂t ∂x 0 0 −1 L L Z Z ∂fr ∂φr (1.24) dx [φr ] = 0 + c fs fr dx fs ∂t ∂x 0 0 11 1.6. Método de elementos finitos a qual é resolvida por diferenças finitas: φn+1 r φn−1 r ZL −1 ZL ∂fr n dx [φr ] = 0 ∂x 0 0 −1 L L Z Z n+1 n−1 ∂fr n dx [φr ] = 0 φr − φr + 2∆t c fs fr dx fs ∂x 0 0 −1 L L Z Z n+1 n−1 ∂fr n − 2∆t c fs fr dx fs = φr φr dx [φr ] = 0 ∂x − 2∆t + c 0 fs fr dx fs (1.25) (1.26) (1.27) 0 Como as funções base fr são pré-escolhidas, as integrais que contém essas funções e suas derivadas em (1.27) podem ser calculadas antes da integração desta equação no tempo. Uma vez renovados os valores dos coeficientes φr , a expansão (1.19) é utilizada para renovar a solução (no espaço e no tempo). Vários tipos de funções podem ser considerados para as funções base, como por exemplo funções trigonométricas da forma: fr (x) = cos [(r − 1) πx/L] (1.28) Finalizando esta seção, é importante notar que a vantagem do método de diferenças finitas está na formulação matemática simplificada, seja nos procedimentos de avanço no espaço e no tempo dos esquemas explı́citos, seja na transformação de equações de 3 pontos em equações de 2 pontos dos esquemas implı́citos e semi-implı́citos. Por outro lado, a vantagem do método de elementos finitos se encontra na flexibilidade da escolha de pontos de grade no domı́nio espacial do modelo, a qual pode contemplar alta densidade de pontos em sub-áreas de interesse. Por outro lado, esquemas de diferenças finitas podem também adotar grades com espaçamentos variáveis. Na presente publicação, serão apresentadas as técnicas de modelagem baseadas no método de diferenças finitas; a utilização de elementos finitos será restrita aos capı́tulos finais, em modelos numéricos hidrodinâmicos bi-dimensionais (para as duas coordenadas espaciais) e tri-dimensionais (somente para a coordenada vertical ou para as três coordenadas espaciais conjuntamente). 12 1.7. Validação dos resultados de um modelo 1.7 Validação dos resultados de um modelo Um dos aspectos mais importantes da modelagem se encontra na sua validação, ou seja, na comparação de seus resultados com outro conjunto de dados, de modo a inferir a qualidade dos resultados das simulações do modelo (Cecı́lio, 2006). Há vários métodos estatı́sticos para esta finalidade, que serão abordados a seguir, considerando X n resultados do modelo e Y n observações em N instantes de tempo, que possuem valores médios Xmed e Y med, respectivamente (n é o ı́ndice de tempo, n = 1 : N ). O primeiro parâmetro comparativo é o coeficiente de correlação linear: X (X n − Xmed) (Y n − Y med) corr = X q n Xq 2 n (X − Xmed) · (Y n − Y med)2 n (1.29) n Este coeficiente varia entre −1 e 1, com os seguintes significados: corr = 1: há uma correlação perfeita positiva entre as séries Xn e Yn; corr = −1: há uma correlação negativa perfeita entre as duas séries, isto é, se uma aumenta, a outra diminui (e vice versa); e corr = 0: as duas séries não dependem linearmente uma da outra; no entanto, pode existir uma dependência não linear entre elas e, portanto, a comparação deve ser investigada por outros meios. O segundo parâmetro comparativo é o “erro absoluto médio” (EAM), calculado como: X |X n − Y n | (1.30) EAM = N O terceiro parâmetro é o “erro absoluto médio relativo à média” (EAMR), dado por: EAM EAM R = (1.31) Y med Outra forma muito conveniente de verificar a concordância entre resultados de um modelo X n com observações Y n (ou outras informações independentes) foi proposta por Wilmott (1981), que calcula um parâmetro “Skill”, o qual é mais próximo a 1 quanto melhor o ajuste entre as séries e mais próximo a zero quanto maior o desajuste, sendo o cálculo baseado na 13 1.7. Validação dos resultados de um modelo seguinte expressão: S =1− X X (|X n − Y n |)2 (|X n − Y med| + |Y n − Y med|)2 (1.32) Exemplo 1.2: exp01 02adv ordem01.m o programa exp01 02adv ordem01.m representa a advecção de um sinal com variação senoidal no tempo no ponto inicial da grade, com diferenças finitas de primeira ordem (1.12). Exercı́cio 1.3: exc01 03adv ordem02.m desenvolver o programa exc01 03adv ordem02.m, análogo ao do exemplo exp01 02adv ordem01.m, porém com solução de 2a ordem, com diferenças finitas centradas no tempo e no espaço (1.15). Comparando os resultados dos dois programas de advecção (Figuras 1.2 e 1.3), se nota que, para o mesmo passo de tempo, o de 1a ordem atenua a amplitude da oscilação no interior da grade, o que não ocorre com a solução de 2a ordem. 14 1.7. Validação dos resultados de um modelo Advecção de sinal senoidal na borda (1a ordem) tempo 360 segundos 0,6 0,4 [m] 0,2 0 −0,2 −0,4 −0,6 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Distância na grade [m] final do Figura 1.2: Configuração exp01 02adv ordem01.m. resultado do modelo 15 1.7. Validação dos resultados de um modelo Advecção de sinal senoidal na borda (2a ordem) tempo 360 segundos 0,6 0,4 [m] 0,2 0 −0,2 −0,4 −0,6 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Distância na grade [m] final do Figura 1.3: Configuração exp01 03adv ordem01.m. resultado do modelo 16