JUVENTUDE E PARTICIPAÇÃO
Sílvia Maria Pires Moreira Semprebom1
Fábio Viana Ribeiro2
RESUMO:
A juventude representa um segmento determinante para a sociedade, pois constitui
uma categoria de importante relevância social e política, sendo fundamental refletir
sobre as aspirações que movem os jovens, sua consciência inquieta, seu poder de
enfrentamento e a força de suas idéias e atitudes. Desenvolver estudos que
abordem essa problemática e que aponte alternativas possíveis torna-se interesse
de todos aqueles que buscam entender como as próximas gerações atuarão sobre o
destino do país e de que forma a escola e a sociedade hoje podem contribuir para
isso. A temática central deste estudo se insere, portanto, no campo da participação
política da juventude brasileira, tendo como parâmetro a atuação dos estudantes ao
longo da história, especialmente na década de 1960. Enfatizando a atuação do
estudante no ambiente escolar hoje, considera como estratégia, subsídio de
referência e amostragem, pesquisa empírica realizada com alunos da Educação
Básica e análise sobre a atuação dos Grêmios Estudantis na rede pública de ensino.
PALAVRAS-CHAVE: Juventude. Escola. Participação.
ABSTRACT:
The youth represents a determinant segment to the society, because it constitutes a
category of important social and political relevance, being fundamental to reflect
about the aspirations that move the youths, their unquiet conscience, their power to
face everything and the force of their ideas and attitudes. To develop researches that
approach this subject and indicates possible alternatives, is interesting of all those
that look for understanding as the next generations will act on the country destiny
and in what way the school and the society can contribute today. The main theme of
this study is inserted at the participation of the youth Brazilian in politics, thinking as
parameter to the performance of the students along the history, especially in 1960.
Giving a special importance to the performance of the students at school today, this
work considers as strategy of sample and reference of subsidy, empirical research
performed with students of the Basic Education and analysis about the work of the
“Grêmios Estudantis” in the public schools.
KEY WORDS: Youth. School. Participation.
1
Professora da Rede Estadual, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do
Governo do Estado do Paraná – PDE [email protected]
2
Professor da Universidade Estadual de Maringá – UEM/Departamento de Ciências Sociais/
[email protected]
2
Introdução
“É melhor uma democracia ruim, do que uma boa ditadura” (Bobbio).
Esta afirmação endossa as aspirações e anseios dos que acreditam na luta
por direitos iguais, liberdade de expressão e justiça social, princípios que estiveram
sempre presentes nas ações da juventude e motivam os estudos sobre esta etapa
da vida caracterizada por conflitos pessoais e emoções intensas.
O estudo sobre a juventude é uma temática cada vez mais discutida e
abordada, tanto nos espaços acadêmicos de discussão e investigação, como nas
agendas para o desenvolvimento de políticas públicas.
No Brasil, hoje são 34 milhões de jovens entre 15 e 24 anos (IBASE, 2005)3,
ainda pouco reconhecidos e incluídos ativamente no processo democrático. Sobre
este grupo etário concentram-se grandes expectativas a respeito do futuro. Por outro
lado, vitimados por uma realidade econômica e social desigual e excludente, os
jovens são também um grupo vulnerável que sofrem e geram problemas.
O estudo sobre a juventude brasileira se configura como terreno instigante e
motivador, porém objeto novo para os historiadores.
Ao discutir sobre a tematização da juventude no Brasil, a socióloga Helena
W. Abramo (1997) destaca o crescimento de estudos desenvolvidos sobre o tema
nas universidades e a atenção conferida aos jovens nos últimos tempos, por parte
dos meios de comunicação de massa e das instituições governamentais e não
governamentais.
Cabe porém argumentar, que não se deve perder de vista que a juventude é
uma construção social e cultural, “em nenhum lugar, em nenhum momento da
história, a juventude poderia ser definida segundo critérios exclusivamente
biológicos ou jurídicos. Sempre e em todos os lugares, ela é investida também de
outros valores” (LEVI e SCHIMIDT,1996, p.14). Sendo, portanto, fruto de um
contexto social amplo e abrangente, que caracteriza a sociedade como um todo.
A ênfase em estudos sobre a juventude permeia o eixo curricular da
Educação Básica, sendo as Diretrizes Curriculares Nacionais4 o meio legal mais
3
4
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas.
Normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o planejamento curricular das escolas e
sistemas de ensino, fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
3
importante para difusão deste amplo debate. No Paraná, as Diretrizes Curriculares
Estaduais, apresentam conteúdos estruturantes5 que articulam os conhecimentos a
serem abordados. Estas Diretrizes têm como referencial teórico a Nova Esquerda
Inglesa e a Nova História Cultural, correntes historiográficas que fundamentam as
novas Diretrizes e que favorecem conceitos relativos à consciência histórica,
ampliando o estudo de movimentos e ações que promovam a participação e a
prática da democracia a partir da idéia da participação do povo e de seus agentes
(SEED, 2008).
A democracia, regime que assegura a oportunidade para todos6, garantindo
e estimulando a potencialidade dos que se apresentam como agente atuante na
sociedade, tem na juventude seu núcleo central, o que equivale considerar que a
sociedade vê na força de atuação do jovem a formação de novas lideranças e a
expectativa de um futuro melhor. Observa-se, contudo, a necessidade de analisar os
mecanismos que favorecem e contribuem para a formação do jovem, como avalia
Rosana Nazzari em seu estudo:
Existe consenso no mundo acadêmico de que, para a consolidação da
democracia numa sociedade, são necessários mecanismos que
favoreçam o desenvolvimento de cidadãos com eficácia política, e isso
passa necessariamente pelo processo de construção da cidadania, ou
seja, a existência de crenças e valores dos cidadãos em relação à
democracia como um valor em si, e de condições objetivas que lhes
permitam desenvolver um sentimento de interação e compromisso
com a dinâmica do sistema político, a fim de exercer uma atitude
participativa e crítica nas questões nacionais (NAZZARI, 2005, p.19).
Quanto a canais institucionais de participação democrática de estudantes na
gestão da escola, os Grêmios Estudantis tiveram papel relevante a partir da década
de 1960, quando foram instrumentos decisivos na atuação dos jovens nos
movimentos estudantis que lutavam contra o regime autoritário. Hoje, se configuram
como estratégia de atuação e intervenção nos processos decisórios da escola,
constituindo-se em ambiente de promoção e formação de lideranças.
O presente estudo revela a importância de se motivar os estudantes à
participação política e à prática da cidadania, através do entendimento da força de
5
São saberes ou conhecimentos considerados fundamentais para a compreensão do objeto e
organização dos campos de estudo de uma disciplina escolar.
4
atuação e representatividade dos Grêmios Estudantis, não apenas como um reflexo
de um passado idealizado, haja vista a força do Movimento Estudantil da década de
1960, mas principalmente como um espaço novo, aberto ao debate e ao
desenvolvimento de ações que promovam o protagonismo juvenil e a formação de
cidadãos conscientes e atuantes na sociedade.
Embora o conceito de participação de jovens na vida da escola não seja
novo, nas últimas décadas foram emitidos diferentes documentos oficiais – tanto em
nível federal (Lei nº. 7.398/85) 7, quanto nos estados - que explicitaram e valorizaram
essa
participação,
viabilizando
e
regulamentando
os
Grêmios
Estudantis.
Confirmando o argumento de que é por meio da participação dos estudantes que
cada unidade escolar democratiza sua gestão e cumpre efetivamente sua função,
tornando-se um espaço pedagógico atraente e desafiador para os jovens, de modo a
favorecer seu progresso intelectual, social e afetivo, e, ainda, um espaço
democrático confiável e culturalmente rico, estimulando desta forma a participação
dos jovens nas diversas esferas e formas de atuação social.
Apesar disso, estudos recentes sobre a juventude, divulgados pelo IBASE
em 2005, apontam para a pouca participação política dos jovens, uma geração sem
a força contestadora de outras gerações, considerando-se que há uma desconfiança
generalizada de toda a sociedade com relação à política e que em todos os lugares
há dificuldades de encontrar meios para resolução dos problemas coletivos. Neste
contexto, assim analisa Nazzari:
A participação política é condição básica para que o país alcance uma
democracia efetiva, porém o que se percebe é que estão ausentes,
tanto na cultura política, quanto nas instituições brasileiras, os valores
e crenças necessários para uma transição em curto prazo. As
instituições partidárias frágeis e sem credibilidade não conseguem
catalisar as demandas sociais, tampouco mobilizá-las para uma
participação consciente. (NAZZARI, 2005, p. 105).
A pesquisa realizada pelo IBASE relata ainda que, em grande medida, as
generalizações sobre a “apatia juvenil” são agravadas pelas dificuldades em se
conhecer e interpretar as situações pelas quais os jovens, em diferentes contextos e
condições econômicas e sociais, expressam seus anseios e inquietações,
7
Lei nº. 7.398/85. Dispõe sobre a organização de entidades representativas dos estudantes de 1º e
2º graus.
5
acreditando ser mais legítimos determinados ideais de participação ou mitos
participativos do passado, tais como aqueles que se associam ao jovem contestador
dos anos de 1960. Muitos jovens brasileiros têm mostrado um interesse coletivo por
organizações que expressam seus valores ou refletem seu estilo contestador de
mudança, fora de formas tradicionais de participação como a filiação a partidos,
sindicatos ou movimentos estudantis.
Sem dúvida, pensar os distintos significados da participação política para a
juventude pode representar um importante meio para captar os anseios e as
diversas formas de expressar, reproduzir e construir novas respostas a questões
que sensibilizam esta faixa etária da vida, tão determinante para a sociedade.
Juventude Brasileira: Uma História de Participação
Um breve olhar pela história recente de nosso país nos permite situar,
mesmo que de forma fragmentada, diversas passagens da atuação juvenil em
momentos decisivos para o Brasil.
Arthur José Poener, em O Poder Jovem, expressa objetivamente a idéia do
protagonismo juvenil e defende a tese de que a participação dos estudantes na vida
pública é uma tradição no Brasil.
Ao longo do tempo a história registrou diversos acontecimentos nos quais
os estudantes tiveram papel central. Estando à frente em campanhas assistenciais e
sociais, tomando partido em discussões políticas, o Movimento Estudantil foi
atuante, antes mesmo da criação da UNE (União Nacional dos Estudantes) em 1937
e de sua legalização em 1942, pelo então presidente Getúlio Vargas.
Do posicionamento contra o Eixo8 e o Nazi-facismo9, na Segunda Guerra
Mundial, ao movimento caras-pintadas10, que contribuiu para derrubar um
presidente, os jovens sempre mostraram sua força. Nas ruas ou dentro das
8
Grupo dos países formado por Alemanha, Itália e Japão que protagonizou a Segunda Guerra
Mundial.
9
Utiliza-se a expressão nazi-fascismo para referir-se as correntes ideológicas e partidárias do
Nazismo e do Fascismo, bem como aos governos de Hitler e Mussoline.
10
Caras-pintadas foi o nome dado aos jovens e estudantes que, em agosto e setembro de 1992,
pintaram o rosto de verde e amarelo e organizaram passeatas pelo impeachment do então presidente
Fernando Collor de Mello.
6
universidades, seja para defender o patrimônio nacional ou reivindicar um país mais
justo com educação pública e de qualidade.
Todavia, foi na década de 1960, que o Movimento Estudantil viveu seus
momentos mais marcantes. Foram anos intensos, quando jovens de todo o mundo
pareciam viver em sintonia por ideais políticos e comportamentais, fazendo do
protesto e da resistência uma forte maneira de expressar indignação e contestação.
Por isso, enfrentaram governos e o autoritarismo do poder, indo para as ruas
reivindicar direitos, liberdade e principalmente democracia.
Neste contexto, o ano de 1968 sacudiu o mundo, pois neste ano, jovens de
vários países participaram de manifestações e protestos numa intensidade nunca
antes registrada. Por toda a parte levantaram-se movimentos com diferentes padrões
de atuação, mas que de uma forma ou de outra, questionavam o sistema. Na França,
na Tchecoslováquia, nos Estados Unidos, no Brasil e em tantos outros países, os
estudantes foram para as ruas lutar por mudanças na ordem vigente e pelo direito de
ser ouvido. Uma geração que acreditou na luta política e na força de suas idéias.
Foi um ano de muitas lutas, paixões e resistência, quando as manifestações
artísticas se tornaram instrumentos de protesto e reação, quando a voz da juventude
ecoou pelos quatro cantos do mundo, através da música, das passeatas, dos
slogans e principalmente pela mudança na maneira de pensar o mundo e a
sociedade. No Brasil, sob as imposições do Regime Militar, a juventude teve papel
atuante, lutando contra o sistema e a falta de democracia. “Geração heróica e
idealista, talvez a melhor e a mais completa das gerações com que o país contou em
toda a sua história” (POENER, 1979, p. 307).
No ano de 1968 era mesmo muito difícil não ser polêmico, pois o espírito
contestador da época estava presente até mesmo nas letras das canções
consideradas “cafonas”, desvinculadas das canções de protesto elitizadas pela
classe urbana e intelectual que participava das manifestações e passeatas, mas
que ao retratarem a realidade das classes mais populares refletiam seu protesto
implicitamente (ARAÚJO, 2007).
Entretanto, no final de 1968, com a imposição do AI-511, o país mergulhou no
autoritarismo do Regime Militar e nas restrições democráticas que limitavam as
liberdades do cidadão. O Movimento Estudantil caiu na clandestinidade e as
11
Ato Institucional número 5, decretado pelo presidente Costa e Silva em 13/12/1968.
7
escolas passaram a reproduzir ideologicamente o regime, que manipulava a
educação a favor do sistema vigente.
Ao longo da década de 1970, as manifestações estudantis foram bem
poucas devido à perseguição e a clandestinidade do Movimento Estudantil. Na
década seguinte o movimento pelas Diretas Já12 em 1984, reviveu a força das
grandes manifestações e contou com a participação dos estudantes universitários.
Em 1985, com o país vivendo um novo momento de abertura política, foi
aprovada a Lei Federal 7398/85 que garante a organização autônoma dos
estudantes de primeiro e segundo graus, trazendo mais uma vez para a legalidade o
Movimento Estudantil (PESCUMA, 1990).
Hoje, passados mais de 20 anos do fim da Ditadura Militar, configura-se um
importante desafio articular a temática juventude e participação, incentivando a
formação crítica do jovem e contribuindo para uma sociedade mais participativa.
Para tanto, é importante propor questionamentos nos meios acadêmicos,
incentivando iniciativas participativas e procurando resgatar uma visão mais crítica
do papel do jovem na escola e na sociedade.
A escola é um espaço riquíssimo de possibilidades, onde os alunos
têm muito, não só para ouvir, mas para dizer; não só para aprender,
mas para criar; não só para reclamar, mas para agir. Ao lado dos
vários problemas do dia-a-dia da escola, que os alunos podem ajudar
a identificar e resolver existe um mundo de temas e atividades para os
quais a escola é o lugar perfeito de discussão e realização. As drogas
e a Aids, a formação profissional e a orientação sexual, a gravidez
prematura e o trabalho precoce, a ecologia e a cultura, as eleições e
os partidos, a violência no bairro e a falta de um semáforo na esquina,
tudo isso acompanhado do “bailão” dos sábados, dos campeonatos de
xadrez e futebol, do teatro e do cineclube, do passeio ecológico e da
feira de artesanato, são assuntos da maior importância e que
interessam aos alunos, fora e dentro da escola (LUZ, 1998, p.2).
A força do Movimento Estudantil na história do país confirma a importância
da participação dos alunos nas escolas, favorecendo um processo que motiva o
estudante a descobrir sua força de atuação e, sobretudo, possibilita que a escola se
fortaleça como instrumento fundamental para a formação do futuro cidadão.
12
Diretas Já foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil.
8
Neste contexto, os Grêmios Estudantis se constituem como meios
necessários ao envolvimento e despertar de uma consciência política no meio
estudantil.
Sendo importante considerar que, segundo alguns estudiosos, as práticas
políticas das últimas décadas marcadas por feições neoliberais, atribuem aos
Grêmios Estudantis a realização de tarefas e ações de caráter voluntário, voltado a
sensibilizar a juventude para a necessidade do trabalho solidário e para a busca de
soluções imediatas para os problemas que surgem na comunidade escolar.
Alguns autores afirmam também que esse processo configura-se numa
prática que reafirma as relações sociais de dominação, através da reprodução de
ações que ao ressaltar o voluntariado, intensifica um processo de despolitização do
jovem estudante.
Portanto, é fundamental refletir sobre a atuação do Grêmio Estudantil, órgão
colegiado, institucionalizado pela gestão democrática na escola, que deve estimular
a participação dos estudantes em suas ações e por isso, principal elemento de
estímulo à formação de lideranças no meio estudantil a partir da Educação Básica.
Torna-se um desafio ampliar a abordagem sobre o propósito do Grêmio
Estudantil nas escolas, cuja atuação nos dias atuais, muitas vezes está limitada
apenas ao voluntariado. Fato analisado por alguns como uma forma de reforçar aos
Grêmios um caráter de alienação, desvinculado do esforço de fazer deste órgão
uma forma ideal de representatividade participativa do jovem estudante.
Com certeza esta questão amplia o debate e vai além do propósito deste
estudo, cabendo, portanto, tão somente indicar a problemática e valorizar a
abordagem do tema.
Desta forma, este estudo propõe um levantamento sobre o perfil político do
estudante, constituindo como uma estratégia de se mensurar o nível de
envolvimento, interesse e participação dos estudantes para com a escola e com a
política de uma forma generalizada. Espera-se com isso, contribuir para ampliar a
visão sobre a atuação do jovem estudante em seu ambiente escolar, tomando como
parâmetro as escolas onde a pesquisa foi realizada, para assim aprimorar e
assegurar uma orientação política mais crítica do estudante, bem como oportunizar
maior eficácia nas formas de atuação e representatividade estudantil.
9
Pesquisa realizada entre jovens e adolescentes sobre o tema: Juventude e
Participação
Este estudo identifica-se com a proposta de construção de uma cidadania
participativa por meio da educação política, veiculada pela escola através de
mecanismos que viabilizam a participação juvenil no ambiente escolar.
Ao longo deste estudo, procurou-se analisar em que medida os jovens e
adolescentes demonstram no ambiente escolar suas crenças e valores democráticos
e, ao mesmo tempo, como revelam sua participação nas decisões coletivas,
percebendo a eficácia política de suas ações.
Procurou-se verificar, por meio da análise da pesquisa aplicada a
estudantes das séries finais do Ensino Fundamental e Médio, detectando os índices
de participação política internalizados entre adolescentes e jovens. Fase inicial da
juventude que é de suma importância, pois é quando o indivíduo adquire valores e
crenças que poderão determinar sua maior participação política e fortalecimento da
democracia (NAZZARI, 2005).
Desta forma, buscou-se valorizar a eficácia de ações que promovam a
orientação política dos estudantes no ambiente escolar e a importância de incentivar
instrumentos de participação e representatividade na escola, como a formação dos
Grêmios Estudantis.
Para este estudo o procedimento de amostragem utilizado, foi através de
um questionário com treze questões fechadas, sugeridas em pesquisa semelhante
realizada por Nazzari (2005). Os dados foram coletados e apresentados em forma
de gráficos, para análise de suas variáveis.
Participaram da pesquisa cem alunos da rede pública da Educação Básica,
entre 14 e 17 anos de idade do Ensino Fundamental e Médio, da cidade de Terra
Boa - Paraná.
A pesquisa teve caráter de amostragem e estratégia para subsidiar o tema
em estudo.
10
Pesquisa: Perfil Político do Estudante
Gráfico 1: Você costuma discutir os problemas da Escola com os colegas?
70
60
50
Sim 27%
40
Não 5%
30
Às vezes 68%
20
10
0
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008).
A questão foi apresentada com o intuito de investigar entre os alunos
participantes da pesquisa o grau de participação e envolvimento destes com relação
aos problemas ora apresentados e/ou verificados na escola, sejam eles quais forem.
Constatou-se, portanto, que a grande maioria tem um envolvimento apenas
superficial com relação ao que a questão sugere, pois 68% dos alunos responderam
que somente às vezes discutem os problemas da escola com os colegas, o que de
certa forma evidencia um caráter pouco crítico com relação aos problemas
referentes à escola. Neste sentido, torna-se fundamental ampliar o debate sobre
esta questão, viabilizando estratégias que sugerem entre os estudantes momentos
de discussão e interação dos problemas no ambiente escolar.
Gráfico 2: Em sua opinião os alunos deveriam ter influência nas ações da
Escola?
60
50
40
Muito 45%
30
Um pouco 53%
20
Nenhuma 2%
10
0
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008).
11
O resultado desta questão reflete o índice de participação dos alunos nas
ações que envolvem a escola, demonstrando que a maioria, 53%, decidiram por
opinar por uma participação superficial, com pouco envolvimento, o que talvez
confirme a necessidade de um maior esclarecimento das questões que dizem
respeito a participação dos alunos na escola. Levando em consideração que 45%
afirmaram ser muito importante a influência dos alunos nas ações da escola, fica
evidenciado o caráter representativo eminente entre os alunos, fator este que deve
ser levado em consideração ao se avaliar esta abordagem. Portanto, verifica-se a
existência de uma consciência participativa eminente entre os alunos e apesar do
resultado apontar certa isenção nesta participação, o confronto dos dados revela a
existência desta consciência participativa.
Analisando o contexto da pesquisa, que sugere uma investigação quanto ao
grau de interesse e participação dos estudantes em seu ambiente escolar, fica
evidenciado que para a construção de uma consciência participativa a escola é
fundamental, podendo colaborar para que se desenvolvam sentimentos de eficácia
política entre os estudantes.
Gráfico 3: O que você faz quando não gosta de alguma coisa na Escola?
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Reclama à
direção 7%
Procura a
orientação
27%
Procura o
grêmio 14%
Procura o
professor 15%
Não faz nada
37%
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008).
Os dados apresentados nesta questão destacam que 37% dos alunos
entrevistados não fazem nada quando há um descontentamento com relação à
escola. Este indicador revela a necessidade de uma maior autonomia entre os
alunos, motivando-os a participarem de maneira mais efetiva, com maior
envolvimento e interesse pelos problemas da escola e dos próprios alunos.
12
Deve-se observar ainda que, apesar da pesquisa revelar que a maioria dos
estudantes entrevistados considera que deveriam ter influência nas decisões da
escola, como destaca o gráfico 3, apenas 14% canalizam suas reclamações e
reivindicações a uma instituição representativa, no caso o Grêmio Estudantil.
Na soma dos dados, a pesquisa também revela que quando os alunos
reagem a alguma insatisfação na escola, a maioria procura a equipe pedagógica ou
professor e apenas 14% procuram seu órgão representativo, o que destaca o
despreparo dos alunos com relação à representatividade e participação no ambiente
escolar. Os dados sugerem que não há uma nitidez dos canais escolares quanto a
cumprir o papel de intermediar reivindicações de caráter estudantil. Ou seja, os
mecanismos de representação dos alunos na escola não estão cumprindo seu papel
de representar com eficiência os anseios dos estudantes, fato este que se
comparado ao comportamento político brasileiro, revela uma tendência pouco
participativa, pois identifica-se nas instituições democráticas clássicas certa
fragilidade e que por isso não garantem um caráter de representatividade,
confirmando assim uma tendência destas instituições a não se fortalecerem pois,
apesar de serem elementos fundamentais para a consolidação democrática, não
oferecem credibilidade institucional que garanta sua eficácia. Fragilidade esta
refletida na escola com os Grêmios Estudantis, que ao longo do tempo adquiriram
um caráter pouco participativo, voltado para o individualismo e fortalecendo uma
postura paternalista no ambiente escolar (NAZZARI, 2005).
Gráfico 4: Você considera importante sua participação em alguma organização
estudantil?
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Sim 86%
Não 14%
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008).
13
Pelos dados da pesquisa, observa-se que a grande maioria dos
entrevistados, considera importante sua participação em alguma organização
estudantil, pois 86% dos que foram entrevistados responderam que sim. Estes
dados sugerem uma tendência favorável dos estudantes à participação política,
apesar de estar evidenciado pelos dados das questões anteriores certa falta de
autonomia ou até mesmo fragilidade no entendimento sobre a importância da
democracia e da participação dos estudantes na escola.
Quando confrontados os dados dos gráficos 4 e 5, constata-se que enquanto
86% afirmam a importância da participação do aluno no ambiente escolar, na
questão seguinte 82% responderam que não participam. Desta forma é importante
buscar entender estas variáveis, já que os dados apontam um índice negativo
quanto ao interesse participativo entre os entrevistados. Mais uma vez constata-se o
reflexo de um comportamento político brasileiro que, na maioria das vezes, assume
uma postura política pouco participativa, como menciona Nazzari em seu estudo.
Gráfico 5: Você pertence a alguma organização estudantil?
100
80
60
40
Sim 18%
Não 82%
20
0
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008).
Apesar de a grande maioria dos alunos considerarem importante a
participação dos alunos em organizações estudantis, 82% responderam que não
pertencem a nenhuma organização estudantil. Esses dados apontam um índice
negativo, reafirmando a necessidade de uma orientação mais eficaz sobre a
importância da representatividade dos alunos na escola e numa visão mais ampla,
para o exercício pleno da cidadania.
14
Analisando os dados dos gráficos 4 e 5, observa-se certa incongruência
entre atitude e comportamento entre os estudantes entrevistados, pois mesmo
confirmando uma atitude favorável com relação à importância de sua participação, a
grande maioria se isenta desta responsabilidade, demonstrando na prática, pouco
entusiasmo na participação estudantil.
Gráfico 6: Você se interessa por política?
60
50
40
30
Sim 55%
Não 45%
20
10
0
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008)
Os dados da pesquisa indicam que há certo equilíbrio entre os entrevistados
sobre a questão apresentada, que questiona sobre o interesse pela política,
podendo ser interpretado sob o aspecto de se confirmar o que as questões
anteriores demonstraram. Ou seja, apesar dos alunos acreditarem ser importante a
sua participação política, poucos realmente demonstram ter atitudes de participação
e envolvimento nas questões que atestam este aspecto.
Considerando-se que o desinteresse por política em todas as sociedades de
massa contemporâneas é evidente e de que no Brasil o regime democrático não tem
tradição histórica (NAZZARI, 2005), os dados da pesquisa refletem e confirmam este
aspecto, possibilitando uma análise que busque revelar e entender este
comportamento político entre os estudantes.
15
Gráfico 7: Você acredita que pessoas como a sua família não têm nenhuma
influência sobre as ações do governo?
70
60
50
40
Concorda 66%
30
Discorda 34%
20
10
0
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008)
Os dados demonstram que a maioria dos estudantes entrevistados não
revelam autonomia no que diz respeito à participação política. Assumem uma idéia
de conformismo, refletida na impossibilidade de atuar junto a decisões políticas e
governamentais, demonstrando neste caso, a falta de um esclarecimento sobre a
importância do indivíduo estar ciente das ações do governo através daqueles que
foram eleitos pelo cidadão comum, entende-se com isso, que somente tendo esse
conhecimento é que poderão desenvolver condições de se posicionar de forma
coerente e participativa.
Entretanto, torna-se importante questionar e avaliar se assuntos sobre política
são relevantes no convívio estudantil e assim estabelecer um parâmetro para este
entendimento. Além de se confirmar a importância da escola na formação de
atitudes e conceitos que propicie aos estudantes ampliar e estabelecer valores
inerentes a um comportamento político participativo.
Gráfico 8: Com que freqüência você fala sobre política com os amigos?
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Sempre 8%
Às vezes 32%
Raramente
41%
Nunca 19%
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008)
16
O resultado desta questão específica confirma a pouca politização dos jovens
entrevistados, caracterizando mais uma vez a necessidade de se estabelecer
estratégias que viabilizem o debate e o esclarecimento do tema em questão perante
os estudantes, para que estes se sintam motivados em descobrir suas
potencialidades ligadas a aspectos que viabilizem a participação crítica e
responsável do jovem no ambiente escolar e social.
Gráfico 9: Em sua opinião os políticos prometem muitas coisas, mas
geralmente não cumprem?
100
80
60
40
Concorda 98%
Discorda 2%
20
0
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008)
O resultado desta questão confirma a idéia da desconfiança e do descrédito
que a classe política do país reflete na grande maioria dos estudantes, que muitas
vezes assumem um posicionamento de desinteresse por um comportamento político
mais participativo, pois vincula a noção de política aos escândalos e polêmicas que
envolvem o quadro político nacional. Com isso, evidencia-se mais uma vez a
necessidade de se desenvolver instrumentos e estratégias que propicie aos
estudantes desvincular uma visão sobre política generalizada e negativa, buscando
estabelecer meios que viabilize a formação de um conceito sobre política ligado a
idéia de representatividade e participação.
17
Gráfico 10: Você acha que bancos de praça, orelhões, placas de trânsito, livros
escolares, banheiros públicos, etc., pertencem:
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Comunidade
85%
Governo 4%
São seus 5%
Não tem dono
6%
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008)
A questão aborda temas como responsabilidade e compromisso, conceitos
e valores que a grande maioria dos que participaram da entrevista revelam ao
entenderem que bens públicos pertencem ao coletivo da sociedade. Mesmo fazendo
parte de uma sociedade que demonstra indiferença com relação a atitudes
participativas e tolerância em determinadas situações, a grande maioria dos
entrevistados refletem um comportamento que tem respaldo numa atitude
democrática. Apesar desse aspecto ser novamente confrontado com uma prática
inversa,
torna-se
fundamental
estabelecer
mecanismos
que
desenvolvam
estratégias e assegurem aos estudantes a garantia de uma formação crítica e
participativa, buscando-se a formação plena do cidadão.
Gráfico 11: Você acha que a corrupção acontece onde?
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Governo 14%
Sociedade 2%
Ambos 84%
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008)
18
Na questão sobre corrupção, os dados apresentados demonstram um
aspecto importante, revelando uma consciência política entre os estudantes ao
assumirem certa responsabilidade com relação ao que a questão aborda, pois 84%
dos entrevistados acreditam que a corrupção acontece não só entre os órgãos
governamentais, mas também na sociedade. Este aspecto é importante, pois
confirma que apesar dos estudantes apresentarem respostas negativas quanto à
participação política e autonomia na escola, os jovens respondem de forma positiva
ao serem questionados sobre a responsabilidade política de cada cidadão,
reconhecendo que a sociedade tem seu compromisso com o país.
Gráfico 12: Em sua opinião o governo está resolvendo os problemas do país?
70
60
50
40
Sim , m uito 4%
30
Mais ou
m enos 70%
20
Não 26%
10
0
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008)
Esta questão sugere a existência de um senso crítico entre os estudantes,
ao serem abordados sobre a atuação do governo. Os dados apontam que 70% dos
entrevistados vêem com relutância a atuação do governo e avaliam com certa
desconfiança esta atuação, o que caracteriza um quadro analítico e observador por
parte dos entrevistados, embora confirme um quadro de desconfiança com relação à
classe política, já avaliado em questão anterior. Estes dados demonstram ainda que
a ausência de posturas ideológicas delimitadas e a falta de uma orientação que
motive os estudantes para o desenvolvimento de atitudes participativas na esfera
política, remetem ao questionamento quanto a possibilidade de alguma mudança no
futuro.
19
Gráfico 13: Você sente orgulho de ser brasileiro?
100
80
60
Sim 95%
Não 5%
40
20
0
Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008)
Mais uma vez os dados da pesquisa apontam para a relevância da
participação política e para a importância de se oportunizar aos estudantes conhecer
melhor este tema. Se 95% dos entrevistados sentem orgulho de ser brasileiros, com
certeza, a questão política, se for orientada de maneira eficaz, poderá incentivar a
formação de lideranças, a prática da cidadania e a participação coerente e crítica
dos indivíduos nos mais diversos ambientes sociais, sendo a escola um espaço
privilegiado para esta função, tão primordial para a sociedade.
Conclusão
Este estudo teve como objetivo principal analisar o processo de participação
política
dos
estudantes,
numa
abordagem
contextualizada
historicamente,
apresentando como parâmetro uma pesquisa sobre o perfil político do estudante,
oferecendo subsídios para ampliar as discussões e contribuindo para resgatar esta
temática no ambiente escolar.
O processo de desenvolvimento da cidadania nas unidades escolares deve
favorecer aos estudantes esclarecimentos quanto a seus direitos e deveres, fazendo
com que se sintam motivados e curiosos em descobrir alternativas possíveis dentro
das diversas linguagens e, sobretudo, possibilitar que a escola se fortaleça como
origem da formação acadêmica do futuro cidadão atuante na sociedade. Para tanto,
é imprescindível que os estudantes se conscientizem sobre a sua importância para a
existência da organização estudantil nesse espaço.
20
Tornar possível uma postura que priorize e incentive a existência da
organização estudantil no ambiente escolar, como a formação dos Grêmios
Estudantis, levanta ainda a questão quanto à resistência de muitos profissionais da
educação em oferecer aos estudantes o reconhecimento de seu papel junto à
escola, que deve ser atuante, participativo e representativo.
Contudo, a autonomia que os estudantes devem ter dentro da escola, aos
poucos vem sendo reconhecida, mesmo que, como este estudo constatou, este
reconhecimento não seja suficiente. É preciso um esforço coletivo que viabilize a
formação e a orientação do estudante para que este se reconheça como
protagonista de suas ações e membro ativo no ambiente escolar. Ações que não
devem se restringir apenas a responsabilidades solidárias e voluntárias, mas que os
estudantes sintam-se comprometidos e responsáveis pela realidade que os
envolvem, adquirindo um caráter crítico e consciente, reconhecendo-se como
agentes reais de um processo de aprendizagem que vai além das esferas
acadêmicas e contribui para a formação plena do cidadão.
Com isso, pressupõe-se que a partir do convívio com experiências
participativas e democráticas no seu ambiente escolar, o jovem no futuro possa
posicionar-se politicamente de forma mais amadurecida e lúcida. Sugerindo-se
assim um protagonismo juvenil que remete à perspectiva da formação do cidadão
inserido nas transformações e dilemas da sociedade atual.
Esta é a principal proposta deste estudo, levantar questionamentos, indicar
problematizações, provocar posicionamentos e incentivar o debate, ampliando assim
a visão crítica do assunto. E sob uma perspectiva contextualizada, analisar e refletir
a realidade como parâmetro para o entendimento dos fatores abordados.
Certamente as respostas e os resultados vão muito além, deixando clara a
necessidade de refletir sobre as diferentes condições e percepções, sobre os
sentidos de ser jovem.
Cabe ressaltar que este estudo não tem o objetivo de oferecer uma resposta
pronta e acabada, mas, sem pretensões ambiciosas de alçar grandes esferas,
contribuir para instigar o jovem estudante ao posicionamento crítico, à formação de
lideranças, ao questionamento da importância da participação política e do
protagonismo juvenil.
21
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JUVENTUDE E PARTICIPAÇÃO Sílvia Maria Pires Moreira