JUVENTUDE E PARTICIPAÇÃO Sílvia Maria Pires Moreira Semprebom1 Fábio Viana Ribeiro2 RESUMO: A juventude representa um segmento determinante para a sociedade, pois constitui uma categoria de importante relevância social e política, sendo fundamental refletir sobre as aspirações que movem os jovens, sua consciência inquieta, seu poder de enfrentamento e a força de suas idéias e atitudes. Desenvolver estudos que abordem essa problemática e que aponte alternativas possíveis torna-se interesse de todos aqueles que buscam entender como as próximas gerações atuarão sobre o destino do país e de que forma a escola e a sociedade hoje podem contribuir para isso. A temática central deste estudo se insere, portanto, no campo da participação política da juventude brasileira, tendo como parâmetro a atuação dos estudantes ao longo da história, especialmente na década de 1960. Enfatizando a atuação do estudante no ambiente escolar hoje, considera como estratégia, subsídio de referência e amostragem, pesquisa empírica realizada com alunos da Educação Básica e análise sobre a atuação dos Grêmios Estudantis na rede pública de ensino. PALAVRAS-CHAVE: Juventude. Escola. Participação. ABSTRACT: The youth represents a determinant segment to the society, because it constitutes a category of important social and political relevance, being fundamental to reflect about the aspirations that move the youths, their unquiet conscience, their power to face everything and the force of their ideas and attitudes. To develop researches that approach this subject and indicates possible alternatives, is interesting of all those that look for understanding as the next generations will act on the country destiny and in what way the school and the society can contribute today. The main theme of this study is inserted at the participation of the youth Brazilian in politics, thinking as parameter to the performance of the students along the history, especially in 1960. Giving a special importance to the performance of the students at school today, this work considers as strategy of sample and reference of subsidy, empirical research performed with students of the Basic Education and analysis about the work of the “Grêmios Estudantis” in the public schools. KEY WORDS: Youth. School. Participation. 1 Professora da Rede Estadual, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná – PDE [email protected] 2 Professor da Universidade Estadual de Maringá – UEM/Departamento de Ciências Sociais/ [email protected] 2 Introdução “É melhor uma democracia ruim, do que uma boa ditadura” (Bobbio). Esta afirmação endossa as aspirações e anseios dos que acreditam na luta por direitos iguais, liberdade de expressão e justiça social, princípios que estiveram sempre presentes nas ações da juventude e motivam os estudos sobre esta etapa da vida caracterizada por conflitos pessoais e emoções intensas. O estudo sobre a juventude é uma temática cada vez mais discutida e abordada, tanto nos espaços acadêmicos de discussão e investigação, como nas agendas para o desenvolvimento de políticas públicas. No Brasil, hoje são 34 milhões de jovens entre 15 e 24 anos (IBASE, 2005)3, ainda pouco reconhecidos e incluídos ativamente no processo democrático. Sobre este grupo etário concentram-se grandes expectativas a respeito do futuro. Por outro lado, vitimados por uma realidade econômica e social desigual e excludente, os jovens são também um grupo vulnerável que sofrem e geram problemas. O estudo sobre a juventude brasileira se configura como terreno instigante e motivador, porém objeto novo para os historiadores. Ao discutir sobre a tematização da juventude no Brasil, a socióloga Helena W. Abramo (1997) destaca o crescimento de estudos desenvolvidos sobre o tema nas universidades e a atenção conferida aos jovens nos últimos tempos, por parte dos meios de comunicação de massa e das instituições governamentais e não governamentais. Cabe porém argumentar, que não se deve perder de vista que a juventude é uma construção social e cultural, “em nenhum lugar, em nenhum momento da história, a juventude poderia ser definida segundo critérios exclusivamente biológicos ou jurídicos. Sempre e em todos os lugares, ela é investida também de outros valores” (LEVI e SCHIMIDT,1996, p.14). Sendo, portanto, fruto de um contexto social amplo e abrangente, que caracteriza a sociedade como um todo. A ênfase em estudos sobre a juventude permeia o eixo curricular da Educação Básica, sendo as Diretrizes Curriculares Nacionais4 o meio legal mais 3 4 Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino, fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). 3 importante para difusão deste amplo debate. No Paraná, as Diretrizes Curriculares Estaduais, apresentam conteúdos estruturantes5 que articulam os conhecimentos a serem abordados. Estas Diretrizes têm como referencial teórico a Nova Esquerda Inglesa e a Nova História Cultural, correntes historiográficas que fundamentam as novas Diretrizes e que favorecem conceitos relativos à consciência histórica, ampliando o estudo de movimentos e ações que promovam a participação e a prática da democracia a partir da idéia da participação do povo e de seus agentes (SEED, 2008). A democracia, regime que assegura a oportunidade para todos6, garantindo e estimulando a potencialidade dos que se apresentam como agente atuante na sociedade, tem na juventude seu núcleo central, o que equivale considerar que a sociedade vê na força de atuação do jovem a formação de novas lideranças e a expectativa de um futuro melhor. Observa-se, contudo, a necessidade de analisar os mecanismos que favorecem e contribuem para a formação do jovem, como avalia Rosana Nazzari em seu estudo: Existe consenso no mundo acadêmico de que, para a consolidação da democracia numa sociedade, são necessários mecanismos que favoreçam o desenvolvimento de cidadãos com eficácia política, e isso passa necessariamente pelo processo de construção da cidadania, ou seja, a existência de crenças e valores dos cidadãos em relação à democracia como um valor em si, e de condições objetivas que lhes permitam desenvolver um sentimento de interação e compromisso com a dinâmica do sistema político, a fim de exercer uma atitude participativa e crítica nas questões nacionais (NAZZARI, 2005, p.19). Quanto a canais institucionais de participação democrática de estudantes na gestão da escola, os Grêmios Estudantis tiveram papel relevante a partir da década de 1960, quando foram instrumentos decisivos na atuação dos jovens nos movimentos estudantis que lutavam contra o regime autoritário. Hoje, se configuram como estratégia de atuação e intervenção nos processos decisórios da escola, constituindo-se em ambiente de promoção e formação de lideranças. O presente estudo revela a importância de se motivar os estudantes à participação política e à prática da cidadania, através do entendimento da força de 5 São saberes ou conhecimentos considerados fundamentais para a compreensão do objeto e organização dos campos de estudo de uma disciplina escolar. 4 atuação e representatividade dos Grêmios Estudantis, não apenas como um reflexo de um passado idealizado, haja vista a força do Movimento Estudantil da década de 1960, mas principalmente como um espaço novo, aberto ao debate e ao desenvolvimento de ações que promovam o protagonismo juvenil e a formação de cidadãos conscientes e atuantes na sociedade. Embora o conceito de participação de jovens na vida da escola não seja novo, nas últimas décadas foram emitidos diferentes documentos oficiais – tanto em nível federal (Lei nº. 7.398/85) 7, quanto nos estados - que explicitaram e valorizaram essa participação, viabilizando e regulamentando os Grêmios Estudantis. Confirmando o argumento de que é por meio da participação dos estudantes que cada unidade escolar democratiza sua gestão e cumpre efetivamente sua função, tornando-se um espaço pedagógico atraente e desafiador para os jovens, de modo a favorecer seu progresso intelectual, social e afetivo, e, ainda, um espaço democrático confiável e culturalmente rico, estimulando desta forma a participação dos jovens nas diversas esferas e formas de atuação social. Apesar disso, estudos recentes sobre a juventude, divulgados pelo IBASE em 2005, apontam para a pouca participação política dos jovens, uma geração sem a força contestadora de outras gerações, considerando-se que há uma desconfiança generalizada de toda a sociedade com relação à política e que em todos os lugares há dificuldades de encontrar meios para resolução dos problemas coletivos. Neste contexto, assim analisa Nazzari: A participação política é condição básica para que o país alcance uma democracia efetiva, porém o que se percebe é que estão ausentes, tanto na cultura política, quanto nas instituições brasileiras, os valores e crenças necessários para uma transição em curto prazo. As instituições partidárias frágeis e sem credibilidade não conseguem catalisar as demandas sociais, tampouco mobilizá-las para uma participação consciente. (NAZZARI, 2005, p. 105). A pesquisa realizada pelo IBASE relata ainda que, em grande medida, as generalizações sobre a “apatia juvenil” são agravadas pelas dificuldades em se conhecer e interpretar as situações pelas quais os jovens, em diferentes contextos e condições econômicas e sociais, expressam seus anseios e inquietações, 7 Lei nº. 7.398/85. Dispõe sobre a organização de entidades representativas dos estudantes de 1º e 2º graus. 5 acreditando ser mais legítimos determinados ideais de participação ou mitos participativos do passado, tais como aqueles que se associam ao jovem contestador dos anos de 1960. Muitos jovens brasileiros têm mostrado um interesse coletivo por organizações que expressam seus valores ou refletem seu estilo contestador de mudança, fora de formas tradicionais de participação como a filiação a partidos, sindicatos ou movimentos estudantis. Sem dúvida, pensar os distintos significados da participação política para a juventude pode representar um importante meio para captar os anseios e as diversas formas de expressar, reproduzir e construir novas respostas a questões que sensibilizam esta faixa etária da vida, tão determinante para a sociedade. Juventude Brasileira: Uma História de Participação Um breve olhar pela história recente de nosso país nos permite situar, mesmo que de forma fragmentada, diversas passagens da atuação juvenil em momentos decisivos para o Brasil. Arthur José Poener, em O Poder Jovem, expressa objetivamente a idéia do protagonismo juvenil e defende a tese de que a participação dos estudantes na vida pública é uma tradição no Brasil. Ao longo do tempo a história registrou diversos acontecimentos nos quais os estudantes tiveram papel central. Estando à frente em campanhas assistenciais e sociais, tomando partido em discussões políticas, o Movimento Estudantil foi atuante, antes mesmo da criação da UNE (União Nacional dos Estudantes) em 1937 e de sua legalização em 1942, pelo então presidente Getúlio Vargas. Do posicionamento contra o Eixo8 e o Nazi-facismo9, na Segunda Guerra Mundial, ao movimento caras-pintadas10, que contribuiu para derrubar um presidente, os jovens sempre mostraram sua força. Nas ruas ou dentro das 8 Grupo dos países formado por Alemanha, Itália e Japão que protagonizou a Segunda Guerra Mundial. 9 Utiliza-se a expressão nazi-fascismo para referir-se as correntes ideológicas e partidárias do Nazismo e do Fascismo, bem como aos governos de Hitler e Mussoline. 10 Caras-pintadas foi o nome dado aos jovens e estudantes que, em agosto e setembro de 1992, pintaram o rosto de verde e amarelo e organizaram passeatas pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. 6 universidades, seja para defender o patrimônio nacional ou reivindicar um país mais justo com educação pública e de qualidade. Todavia, foi na década de 1960, que o Movimento Estudantil viveu seus momentos mais marcantes. Foram anos intensos, quando jovens de todo o mundo pareciam viver em sintonia por ideais políticos e comportamentais, fazendo do protesto e da resistência uma forte maneira de expressar indignação e contestação. Por isso, enfrentaram governos e o autoritarismo do poder, indo para as ruas reivindicar direitos, liberdade e principalmente democracia. Neste contexto, o ano de 1968 sacudiu o mundo, pois neste ano, jovens de vários países participaram de manifestações e protestos numa intensidade nunca antes registrada. Por toda a parte levantaram-se movimentos com diferentes padrões de atuação, mas que de uma forma ou de outra, questionavam o sistema. Na França, na Tchecoslováquia, nos Estados Unidos, no Brasil e em tantos outros países, os estudantes foram para as ruas lutar por mudanças na ordem vigente e pelo direito de ser ouvido. Uma geração que acreditou na luta política e na força de suas idéias. Foi um ano de muitas lutas, paixões e resistência, quando as manifestações artísticas se tornaram instrumentos de protesto e reação, quando a voz da juventude ecoou pelos quatro cantos do mundo, através da música, das passeatas, dos slogans e principalmente pela mudança na maneira de pensar o mundo e a sociedade. No Brasil, sob as imposições do Regime Militar, a juventude teve papel atuante, lutando contra o sistema e a falta de democracia. “Geração heróica e idealista, talvez a melhor e a mais completa das gerações com que o país contou em toda a sua história” (POENER, 1979, p. 307). No ano de 1968 era mesmo muito difícil não ser polêmico, pois o espírito contestador da época estava presente até mesmo nas letras das canções consideradas “cafonas”, desvinculadas das canções de protesto elitizadas pela classe urbana e intelectual que participava das manifestações e passeatas, mas que ao retratarem a realidade das classes mais populares refletiam seu protesto implicitamente (ARAÚJO, 2007). Entretanto, no final de 1968, com a imposição do AI-511, o país mergulhou no autoritarismo do Regime Militar e nas restrições democráticas que limitavam as liberdades do cidadão. O Movimento Estudantil caiu na clandestinidade e as 11 Ato Institucional número 5, decretado pelo presidente Costa e Silva em 13/12/1968. 7 escolas passaram a reproduzir ideologicamente o regime, que manipulava a educação a favor do sistema vigente. Ao longo da década de 1970, as manifestações estudantis foram bem poucas devido à perseguição e a clandestinidade do Movimento Estudantil. Na década seguinte o movimento pelas Diretas Já12 em 1984, reviveu a força das grandes manifestações e contou com a participação dos estudantes universitários. Em 1985, com o país vivendo um novo momento de abertura política, foi aprovada a Lei Federal 7398/85 que garante a organização autônoma dos estudantes de primeiro e segundo graus, trazendo mais uma vez para a legalidade o Movimento Estudantil (PESCUMA, 1990). Hoje, passados mais de 20 anos do fim da Ditadura Militar, configura-se um importante desafio articular a temática juventude e participação, incentivando a formação crítica do jovem e contribuindo para uma sociedade mais participativa. Para tanto, é importante propor questionamentos nos meios acadêmicos, incentivando iniciativas participativas e procurando resgatar uma visão mais crítica do papel do jovem na escola e na sociedade. A escola é um espaço riquíssimo de possibilidades, onde os alunos têm muito, não só para ouvir, mas para dizer; não só para aprender, mas para criar; não só para reclamar, mas para agir. Ao lado dos vários problemas do dia-a-dia da escola, que os alunos podem ajudar a identificar e resolver existe um mundo de temas e atividades para os quais a escola é o lugar perfeito de discussão e realização. As drogas e a Aids, a formação profissional e a orientação sexual, a gravidez prematura e o trabalho precoce, a ecologia e a cultura, as eleições e os partidos, a violência no bairro e a falta de um semáforo na esquina, tudo isso acompanhado do “bailão” dos sábados, dos campeonatos de xadrez e futebol, do teatro e do cineclube, do passeio ecológico e da feira de artesanato, são assuntos da maior importância e que interessam aos alunos, fora e dentro da escola (LUZ, 1998, p.2). A força do Movimento Estudantil na história do país confirma a importância da participação dos alunos nas escolas, favorecendo um processo que motiva o estudante a descobrir sua força de atuação e, sobretudo, possibilita que a escola se fortaleça como instrumento fundamental para a formação do futuro cidadão. 12 Diretas Já foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil. 8 Neste contexto, os Grêmios Estudantis se constituem como meios necessários ao envolvimento e despertar de uma consciência política no meio estudantil. Sendo importante considerar que, segundo alguns estudiosos, as práticas políticas das últimas décadas marcadas por feições neoliberais, atribuem aos Grêmios Estudantis a realização de tarefas e ações de caráter voluntário, voltado a sensibilizar a juventude para a necessidade do trabalho solidário e para a busca de soluções imediatas para os problemas que surgem na comunidade escolar. Alguns autores afirmam também que esse processo configura-se numa prática que reafirma as relações sociais de dominação, através da reprodução de ações que ao ressaltar o voluntariado, intensifica um processo de despolitização do jovem estudante. Portanto, é fundamental refletir sobre a atuação do Grêmio Estudantil, órgão colegiado, institucionalizado pela gestão democrática na escola, que deve estimular a participação dos estudantes em suas ações e por isso, principal elemento de estímulo à formação de lideranças no meio estudantil a partir da Educação Básica. Torna-se um desafio ampliar a abordagem sobre o propósito do Grêmio Estudantil nas escolas, cuja atuação nos dias atuais, muitas vezes está limitada apenas ao voluntariado. Fato analisado por alguns como uma forma de reforçar aos Grêmios um caráter de alienação, desvinculado do esforço de fazer deste órgão uma forma ideal de representatividade participativa do jovem estudante. Com certeza esta questão amplia o debate e vai além do propósito deste estudo, cabendo, portanto, tão somente indicar a problemática e valorizar a abordagem do tema. Desta forma, este estudo propõe um levantamento sobre o perfil político do estudante, constituindo como uma estratégia de se mensurar o nível de envolvimento, interesse e participação dos estudantes para com a escola e com a política de uma forma generalizada. Espera-se com isso, contribuir para ampliar a visão sobre a atuação do jovem estudante em seu ambiente escolar, tomando como parâmetro as escolas onde a pesquisa foi realizada, para assim aprimorar e assegurar uma orientação política mais crítica do estudante, bem como oportunizar maior eficácia nas formas de atuação e representatividade estudantil. 9 Pesquisa realizada entre jovens e adolescentes sobre o tema: Juventude e Participação Este estudo identifica-se com a proposta de construção de uma cidadania participativa por meio da educação política, veiculada pela escola através de mecanismos que viabilizam a participação juvenil no ambiente escolar. Ao longo deste estudo, procurou-se analisar em que medida os jovens e adolescentes demonstram no ambiente escolar suas crenças e valores democráticos e, ao mesmo tempo, como revelam sua participação nas decisões coletivas, percebendo a eficácia política de suas ações. Procurou-se verificar, por meio da análise da pesquisa aplicada a estudantes das séries finais do Ensino Fundamental e Médio, detectando os índices de participação política internalizados entre adolescentes e jovens. Fase inicial da juventude que é de suma importância, pois é quando o indivíduo adquire valores e crenças que poderão determinar sua maior participação política e fortalecimento da democracia (NAZZARI, 2005). Desta forma, buscou-se valorizar a eficácia de ações que promovam a orientação política dos estudantes no ambiente escolar e a importância de incentivar instrumentos de participação e representatividade na escola, como a formação dos Grêmios Estudantis. Para este estudo o procedimento de amostragem utilizado, foi através de um questionário com treze questões fechadas, sugeridas em pesquisa semelhante realizada por Nazzari (2005). Os dados foram coletados e apresentados em forma de gráficos, para análise de suas variáveis. Participaram da pesquisa cem alunos da rede pública da Educação Básica, entre 14 e 17 anos de idade do Ensino Fundamental e Médio, da cidade de Terra Boa - Paraná. A pesquisa teve caráter de amostragem e estratégia para subsidiar o tema em estudo. 10 Pesquisa: Perfil Político do Estudante Gráfico 1: Você costuma discutir os problemas da Escola com os colegas? 70 60 50 Sim 27% 40 Não 5% 30 Às vezes 68% 20 10 0 Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008). A questão foi apresentada com o intuito de investigar entre os alunos participantes da pesquisa o grau de participação e envolvimento destes com relação aos problemas ora apresentados e/ou verificados na escola, sejam eles quais forem. Constatou-se, portanto, que a grande maioria tem um envolvimento apenas superficial com relação ao que a questão sugere, pois 68% dos alunos responderam que somente às vezes discutem os problemas da escola com os colegas, o que de certa forma evidencia um caráter pouco crítico com relação aos problemas referentes à escola. Neste sentido, torna-se fundamental ampliar o debate sobre esta questão, viabilizando estratégias que sugerem entre os estudantes momentos de discussão e interação dos problemas no ambiente escolar. Gráfico 2: Em sua opinião os alunos deveriam ter influência nas ações da Escola? 60 50 40 Muito 45% 30 Um pouco 53% 20 Nenhuma 2% 10 0 Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008). 11 O resultado desta questão reflete o índice de participação dos alunos nas ações que envolvem a escola, demonstrando que a maioria, 53%, decidiram por opinar por uma participação superficial, com pouco envolvimento, o que talvez confirme a necessidade de um maior esclarecimento das questões que dizem respeito a participação dos alunos na escola. Levando em consideração que 45% afirmaram ser muito importante a influência dos alunos nas ações da escola, fica evidenciado o caráter representativo eminente entre os alunos, fator este que deve ser levado em consideração ao se avaliar esta abordagem. Portanto, verifica-se a existência de uma consciência participativa eminente entre os alunos e apesar do resultado apontar certa isenção nesta participação, o confronto dos dados revela a existência desta consciência participativa. Analisando o contexto da pesquisa, que sugere uma investigação quanto ao grau de interesse e participação dos estudantes em seu ambiente escolar, fica evidenciado que para a construção de uma consciência participativa a escola é fundamental, podendo colaborar para que se desenvolvam sentimentos de eficácia política entre os estudantes. Gráfico 3: O que você faz quando não gosta de alguma coisa na Escola? 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Reclama à direção 7% Procura a orientação 27% Procura o grêmio 14% Procura o professor 15% Não faz nada 37% Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008). Os dados apresentados nesta questão destacam que 37% dos alunos entrevistados não fazem nada quando há um descontentamento com relação à escola. Este indicador revela a necessidade de uma maior autonomia entre os alunos, motivando-os a participarem de maneira mais efetiva, com maior envolvimento e interesse pelos problemas da escola e dos próprios alunos. 12 Deve-se observar ainda que, apesar da pesquisa revelar que a maioria dos estudantes entrevistados considera que deveriam ter influência nas decisões da escola, como destaca o gráfico 3, apenas 14% canalizam suas reclamações e reivindicações a uma instituição representativa, no caso o Grêmio Estudantil. Na soma dos dados, a pesquisa também revela que quando os alunos reagem a alguma insatisfação na escola, a maioria procura a equipe pedagógica ou professor e apenas 14% procuram seu órgão representativo, o que destaca o despreparo dos alunos com relação à representatividade e participação no ambiente escolar. Os dados sugerem que não há uma nitidez dos canais escolares quanto a cumprir o papel de intermediar reivindicações de caráter estudantil. Ou seja, os mecanismos de representação dos alunos na escola não estão cumprindo seu papel de representar com eficiência os anseios dos estudantes, fato este que se comparado ao comportamento político brasileiro, revela uma tendência pouco participativa, pois identifica-se nas instituições democráticas clássicas certa fragilidade e que por isso não garantem um caráter de representatividade, confirmando assim uma tendência destas instituições a não se fortalecerem pois, apesar de serem elementos fundamentais para a consolidação democrática, não oferecem credibilidade institucional que garanta sua eficácia. Fragilidade esta refletida na escola com os Grêmios Estudantis, que ao longo do tempo adquiriram um caráter pouco participativo, voltado para o individualismo e fortalecendo uma postura paternalista no ambiente escolar (NAZZARI, 2005). Gráfico 4: Você considera importante sua participação em alguma organização estudantil? 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sim 86% Não 14% Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008). 13 Pelos dados da pesquisa, observa-se que a grande maioria dos entrevistados, considera importante sua participação em alguma organização estudantil, pois 86% dos que foram entrevistados responderam que sim. Estes dados sugerem uma tendência favorável dos estudantes à participação política, apesar de estar evidenciado pelos dados das questões anteriores certa falta de autonomia ou até mesmo fragilidade no entendimento sobre a importância da democracia e da participação dos estudantes na escola. Quando confrontados os dados dos gráficos 4 e 5, constata-se que enquanto 86% afirmam a importância da participação do aluno no ambiente escolar, na questão seguinte 82% responderam que não participam. Desta forma é importante buscar entender estas variáveis, já que os dados apontam um índice negativo quanto ao interesse participativo entre os entrevistados. Mais uma vez constata-se o reflexo de um comportamento político brasileiro que, na maioria das vezes, assume uma postura política pouco participativa, como menciona Nazzari em seu estudo. Gráfico 5: Você pertence a alguma organização estudantil? 100 80 60 40 Sim 18% Não 82% 20 0 Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008). Apesar de a grande maioria dos alunos considerarem importante a participação dos alunos em organizações estudantis, 82% responderam que não pertencem a nenhuma organização estudantil. Esses dados apontam um índice negativo, reafirmando a necessidade de uma orientação mais eficaz sobre a importância da representatividade dos alunos na escola e numa visão mais ampla, para o exercício pleno da cidadania. 14 Analisando os dados dos gráficos 4 e 5, observa-se certa incongruência entre atitude e comportamento entre os estudantes entrevistados, pois mesmo confirmando uma atitude favorável com relação à importância de sua participação, a grande maioria se isenta desta responsabilidade, demonstrando na prática, pouco entusiasmo na participação estudantil. Gráfico 6: Você se interessa por política? 60 50 40 30 Sim 55% Não 45% 20 10 0 Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008) Os dados da pesquisa indicam que há certo equilíbrio entre os entrevistados sobre a questão apresentada, que questiona sobre o interesse pela política, podendo ser interpretado sob o aspecto de se confirmar o que as questões anteriores demonstraram. Ou seja, apesar dos alunos acreditarem ser importante a sua participação política, poucos realmente demonstram ter atitudes de participação e envolvimento nas questões que atestam este aspecto. Considerando-se que o desinteresse por política em todas as sociedades de massa contemporâneas é evidente e de que no Brasil o regime democrático não tem tradição histórica (NAZZARI, 2005), os dados da pesquisa refletem e confirmam este aspecto, possibilitando uma análise que busque revelar e entender este comportamento político entre os estudantes. 15 Gráfico 7: Você acredita que pessoas como a sua família não têm nenhuma influência sobre as ações do governo? 70 60 50 40 Concorda 66% 30 Discorda 34% 20 10 0 Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008) Os dados demonstram que a maioria dos estudantes entrevistados não revelam autonomia no que diz respeito à participação política. Assumem uma idéia de conformismo, refletida na impossibilidade de atuar junto a decisões políticas e governamentais, demonstrando neste caso, a falta de um esclarecimento sobre a importância do indivíduo estar ciente das ações do governo através daqueles que foram eleitos pelo cidadão comum, entende-se com isso, que somente tendo esse conhecimento é que poderão desenvolver condições de se posicionar de forma coerente e participativa. Entretanto, torna-se importante questionar e avaliar se assuntos sobre política são relevantes no convívio estudantil e assim estabelecer um parâmetro para este entendimento. Além de se confirmar a importância da escola na formação de atitudes e conceitos que propicie aos estudantes ampliar e estabelecer valores inerentes a um comportamento político participativo. Gráfico 8: Com que freqüência você fala sobre política com os amigos? 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Sempre 8% Às vezes 32% Raramente 41% Nunca 19% Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008) 16 O resultado desta questão específica confirma a pouca politização dos jovens entrevistados, caracterizando mais uma vez a necessidade de se estabelecer estratégias que viabilizem o debate e o esclarecimento do tema em questão perante os estudantes, para que estes se sintam motivados em descobrir suas potencialidades ligadas a aspectos que viabilizem a participação crítica e responsável do jovem no ambiente escolar e social. Gráfico 9: Em sua opinião os políticos prometem muitas coisas, mas geralmente não cumprem? 100 80 60 40 Concorda 98% Discorda 2% 20 0 Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008) O resultado desta questão confirma a idéia da desconfiança e do descrédito que a classe política do país reflete na grande maioria dos estudantes, que muitas vezes assumem um posicionamento de desinteresse por um comportamento político mais participativo, pois vincula a noção de política aos escândalos e polêmicas que envolvem o quadro político nacional. Com isso, evidencia-se mais uma vez a necessidade de se desenvolver instrumentos e estratégias que propicie aos estudantes desvincular uma visão sobre política generalizada e negativa, buscando estabelecer meios que viabilize a formação de um conceito sobre política ligado a idéia de representatividade e participação. 17 Gráfico 10: Você acha que bancos de praça, orelhões, placas de trânsito, livros escolares, banheiros públicos, etc., pertencem: 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Comunidade 85% Governo 4% São seus 5% Não tem dono 6% Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008) A questão aborda temas como responsabilidade e compromisso, conceitos e valores que a grande maioria dos que participaram da entrevista revelam ao entenderem que bens públicos pertencem ao coletivo da sociedade. Mesmo fazendo parte de uma sociedade que demonstra indiferença com relação a atitudes participativas e tolerância em determinadas situações, a grande maioria dos entrevistados refletem um comportamento que tem respaldo numa atitude democrática. Apesar desse aspecto ser novamente confrontado com uma prática inversa, torna-se fundamental estabelecer mecanismos que desenvolvam estratégias e assegurem aos estudantes a garantia de uma formação crítica e participativa, buscando-se a formação plena do cidadão. Gráfico 11: Você acha que a corrupção acontece onde? 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Governo 14% Sociedade 2% Ambos 84% Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008) 18 Na questão sobre corrupção, os dados apresentados demonstram um aspecto importante, revelando uma consciência política entre os estudantes ao assumirem certa responsabilidade com relação ao que a questão aborda, pois 84% dos entrevistados acreditam que a corrupção acontece não só entre os órgãos governamentais, mas também na sociedade. Este aspecto é importante, pois confirma que apesar dos estudantes apresentarem respostas negativas quanto à participação política e autonomia na escola, os jovens respondem de forma positiva ao serem questionados sobre a responsabilidade política de cada cidadão, reconhecendo que a sociedade tem seu compromisso com o país. Gráfico 12: Em sua opinião o governo está resolvendo os problemas do país? 70 60 50 40 Sim , m uito 4% 30 Mais ou m enos 70% 20 Não 26% 10 0 Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008) Esta questão sugere a existência de um senso crítico entre os estudantes, ao serem abordados sobre a atuação do governo. Os dados apontam que 70% dos entrevistados vêem com relutância a atuação do governo e avaliam com certa desconfiança esta atuação, o que caracteriza um quadro analítico e observador por parte dos entrevistados, embora confirme um quadro de desconfiança com relação à classe política, já avaliado em questão anterior. Estes dados demonstram ainda que a ausência de posturas ideológicas delimitadas e a falta de uma orientação que motive os estudantes para o desenvolvimento de atitudes participativas na esfera política, remetem ao questionamento quanto a possibilidade de alguma mudança no futuro. 19 Gráfico 13: Você sente orgulho de ser brasileiro? 100 80 60 Sim 95% Não 5% 40 20 0 Fonte: Dados da pesquisa da autora (2008) Mais uma vez os dados da pesquisa apontam para a relevância da participação política e para a importância de se oportunizar aos estudantes conhecer melhor este tema. Se 95% dos entrevistados sentem orgulho de ser brasileiros, com certeza, a questão política, se for orientada de maneira eficaz, poderá incentivar a formação de lideranças, a prática da cidadania e a participação coerente e crítica dos indivíduos nos mais diversos ambientes sociais, sendo a escola um espaço privilegiado para esta função, tão primordial para a sociedade. Conclusão Este estudo teve como objetivo principal analisar o processo de participação política dos estudantes, numa abordagem contextualizada historicamente, apresentando como parâmetro uma pesquisa sobre o perfil político do estudante, oferecendo subsídios para ampliar as discussões e contribuindo para resgatar esta temática no ambiente escolar. O processo de desenvolvimento da cidadania nas unidades escolares deve favorecer aos estudantes esclarecimentos quanto a seus direitos e deveres, fazendo com que se sintam motivados e curiosos em descobrir alternativas possíveis dentro das diversas linguagens e, sobretudo, possibilitar que a escola se fortaleça como origem da formação acadêmica do futuro cidadão atuante na sociedade. Para tanto, é imprescindível que os estudantes se conscientizem sobre a sua importância para a existência da organização estudantil nesse espaço. 20 Tornar possível uma postura que priorize e incentive a existência da organização estudantil no ambiente escolar, como a formação dos Grêmios Estudantis, levanta ainda a questão quanto à resistência de muitos profissionais da educação em oferecer aos estudantes o reconhecimento de seu papel junto à escola, que deve ser atuante, participativo e representativo. Contudo, a autonomia que os estudantes devem ter dentro da escola, aos poucos vem sendo reconhecida, mesmo que, como este estudo constatou, este reconhecimento não seja suficiente. É preciso um esforço coletivo que viabilize a formação e a orientação do estudante para que este se reconheça como protagonista de suas ações e membro ativo no ambiente escolar. Ações que não devem se restringir apenas a responsabilidades solidárias e voluntárias, mas que os estudantes sintam-se comprometidos e responsáveis pela realidade que os envolvem, adquirindo um caráter crítico e consciente, reconhecendo-se como agentes reais de um processo de aprendizagem que vai além das esferas acadêmicas e contribui para a formação plena do cidadão. Com isso, pressupõe-se que a partir do convívio com experiências participativas e democráticas no seu ambiente escolar, o jovem no futuro possa posicionar-se politicamente de forma mais amadurecida e lúcida. Sugerindo-se assim um protagonismo juvenil que remete à perspectiva da formação do cidadão inserido nas transformações e dilemas da sociedade atual. Esta é a principal proposta deste estudo, levantar questionamentos, indicar problematizações, provocar posicionamentos e incentivar o debate, ampliando assim a visão crítica do assunto. E sob uma perspectiva contextualizada, analisar e refletir a realidade como parâmetro para o entendimento dos fatores abordados. Certamente as respostas e os resultados vão muito além, deixando clara a necessidade de refletir sobre as diferentes condições e percepções, sobre os sentidos de ser jovem. Cabe ressaltar que este estudo não tem o objetivo de oferecer uma resposta pronta e acabada, mas, sem pretensões ambiciosas de alçar grandes esferas, contribuir para instigar o jovem estudante ao posicionamento crítico, à formação de lideranças, ao questionamento da importância da participação política e do protagonismo juvenil. 21 Referências ABRAMO, Helena. W. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. Revista Brasileira de Educação. São Paulo: ANPED, número especial n. 5-6, 1997. ARAÚJO, Paulo César de. Eu Não Sou Cachorro Não. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. CURTY, Marlene Gonçalves, CRUZ, Anamaria da Costa, MENDES, Maria Tereza Reis. 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