CONTROLE DE FONTES DE RADIAÇÃO NO BRASIL Silvia Maria Velasques de Oliveira, Celso Ferreira Menezes, Aristeu Dácio Alves Filho e Ana Maria Xavier Superintendência de Licenciamento e Controle, Comissão Nacional de Energia Nuclear, Rua Gal. Severiano, 90, Botafogo, Rio de Janeiro, Brasil e-mail: [email protected] fax: 55-21-5462494 ABSTRACT The radiological accident occurred in Goiânia, in 1987, brought to light several deficiencies in the conduction of the licensing processes of medical, industrial and research facilities that handle radioisotopes as well as in the control of radioactive sources in Brazil. The objective of this article is to describe some of the technical and administrative measures taken to ensure the adoption of appropriate radiological safety standards throughout the country, thus reducing the incidence of radiological accidents. INTRODUÇÃO SEGURANÇA RADIOLÓGICA INSTALAÇÕES RADIATIVAS 1.1. A Superintendência de Licenciamento e Controle, através de sua Coordenação de Instalações Radiativas, é o setor da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN responsável pela emissão de licenças e autorizações relativas a construção, operação e retirada de operação de instalações radiativas, pela concessão de autorizações para aquisição, inclusive importação, transferência entre entidades e exportação de materiais radioativos , bem como pela certificação da qualificação de supervisores de radioproteção, além do registro de profissionais para o preparo, uso e manuseio de fontes radioativas no país. Em 1997, cerca de 2300 instalações permaneceram cadastradas pela CNEN sendo que 70 % dessas operam na região sudeste. No entanto, com o crecimento do emprego de técnicas nucleares, é esperado um aumento de instalações que utilizem radioisótopos em medicina, indústria pesquisa nas demais regiões, o que vem exigindo ações efetivas da CNEN para o controle de fontes de radiação e de práticas radiológicas. A distribuição geográfica das instalações radiativas no período 19951997 pode ser vista na Tabela I .[1] A partir da identificação da necessidade de priorizar a atividade de revisão dos processos de licenciamento de instalações radiativas, foi regularizado o procedimento de emissão de autorizações para operação, conforme apresentado no gráfico 1 . A freqüência de inspeções a essas instalações foi estabelecida a partir das respectivas categorias de risco, tomando como referência as recomendações da Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA (Tabela II). A renovação das autorizações para operação obedece, também, a mesma periodicidade recomendada por aquela Agência [2]. Embora os serviços de radiografia industrial tenham sido formalmente autorizados desde a década de 80, a partir de 1996 as autorizações para operação passaram a ser limitadas pela capacidade operacional em função da instrumentação e equipes qualificadas disponíveis, segundo os critérios estabelecidos na Norma específica [3]. A adoção desse critério resultou numa redução do número de autorizações para 1 DE aquisição de fontes radioativas por empresas com carência de pessoal qualificado ou de instrumentação calibrada. Foi também constatado que, até dezembro de 1994, cerca de 60% de autorizações emitidas para pesquisadores encontravam-se vencidas, o que poderia ser interpretado como abandono da atividade com radioisótopos, sem comunicação à CNEN. A renovação-- do registro do pesquisador foi, então, condicionada a sua vinculação ao laboratório, com o cadastramento e o estabelecimento de procedimentos de radioproteção para a instituição como um todo. No período 1995-1997 foram cadastrados cerca de 500 laboratórios de pesquisa. O Gráfico 2 mostra a evolução dos registros de profissionais em conformidade com Norma específica, revisada em 1996 [4]. Ademais, a habilitação de todos os especialistas em radioterapia foi confirmada junto ao Colégio Brasileiro de Radiologia, órgão com competência para emitir títulos de especialistas para o exercício dessa profissão. De acordo com as Diretrizes Básicas de Radioproteção, existe a obrigatoriedade de pelo menos um Supervisor de Radioproteção em instalação nuclear ou radiativa [5]. Em 1995, a revisão da Norma específica para a Certificação de Supervisores de Radioproteção introduziu a obrigatoriedade de revalidação, a cada cinco anos, de todas as certificações de qualificação já emitidas [6]. Em termos de controle regulatório, essa exigência deverá resultar em uma avaliação mais criteriosa do desempenho desses profissionais, através de metodologia específica a ser adotada. A implementação da Norma de Certificação, na prática, vem implicando na necessidade de revalidação imediata de cerca de 1.200 certificações expedidas no período 1978-1995. através de (i) registro de inventários, periodicamente encaminhados pelos usuários, (ii) relatórios de inspeções e auditorias contábeis (iii) autorizações emitidas e (iv) balancetes de distribuição nacional de material radioativo encaminhados pelas empresas distribuidoras. Como conseqüência, as fontes de radiação são cadastradas e controladas estando sujeitas a atualização constante no banco de dados intitulado Inventário Nacional de Fontes de Radiação e de Equipamentos de Proteção Radiológica. Dessa forma, é possível disseminar tais informações para os diversos Institutos, Distritos e Centros Regionais da própria CNEN e demais autoridades regulatórias (Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho, Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, Secretarias de Estado de Saúde, Divisões Municipais de Vigilância Sanitária, entre outras). Até 1996, as autorizações para importação e exportação eram emitidas através de formulários próprios. Após a implantação do Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX, pela Secretaria de Comércio Exterior - SECEX, a CNEN passou a ser um dos órgãos anuentes daquele Sistema. As autorizações são emitidas por meio de terminal de computador, instalado na CORAD, permitindo maior agilidade e desburocratização dessa atividade. O material radioativo é imediatamente contabilizado e, posteriormente, o utilizador fornece os dados de identificação (fabricante, número de série, atividade inicial e data da atividade) para atualização. Pode-se verificar que o volume de importações cresceu em 1997, conforme mostrado no gráfico 3 [7]. Na área industrial, 341 instalações operam cerca de 3.000 medidores nucleares. Em empresas de radiografia industrial, 130 Serviços operam 207 fontes radioativas de Irídio192, fabricados pelo IPEN, Iinstituto da CNEN em São Paulo e 27 fontes de Cobalto-60. Os três irradiadores de grande porte localizados no estado de São Paulo, operam cerca de três milhões de Curies de Cobalto-60. INVENTÁRIO NACIONAL DE FONTES DE RADIAÇÃO fontes É garantido o controle físico das radioativas operadas no país 2 Em 200 Serviços de Radioterapia, são operadas cerca de 3.500 fontes radiotivas de braquiterapia e 125 equipamentos de Cobalto-60. O inventário de radioisótopos e respectivas atividades para fontes utilizadas em medidores nucleares, braquiterapia e teleterapia é mostrado nas tabelas III, IV e V, respectivamente. O consumo de radiofármacos em Serviços de Medicina Nuclear tem crescido significativamente nos últimos anos, conforme demosntrado nos gráficos 4 e 5. Com a implantação da revisão da Norma específica, a partir de 1995 [8], foram especificadas nas autorizações para operação, emitidas a partir de então, as quantidades máximas autorizadas para cada Serviço, em função do critério de compatibilização de instalações indispensáveis e número de pacientes por procedimentos bem como o projeto submetido para as instalações. Para a operação segura das fontes de radiação, torna-se necessária instrumentação nuclear adequada, devidamente calibrada segundo a periodicidade estabelecida em normas. Anualmente, os institutos da CNEN encaminham os dados sobre os instrumentos por eles calibrados. O incremento na produção e importação de fontes radioativas não foi acompanhado por uma expansão, na mesma proporção, da prestação de serviços de calibração da instrumentação nuclear associada. A demanda por instrumentos calibrados, conforme mostrado no gráfico 6, aponta para a necessidade da expansão da rede de laboratórios de calibração de instrumentos [8]. Relatórios de Análise de Segurança e demais informações necessárias para a orientação direta aos usuários, assegurando transparência aos processos de licenciamento e controle. O projeto de gerenciamento de dados, elaborado em conjunto com a Superintendência de Informática da CNEN, vem permitindo a implantação de um banco de dados corporativo, contemplando todos os parâmetros necessários para a avaliação do Sistema de Segurança Radiológica. Além do inventário de fontes de radiação e da instrumentação nuclear e do cadastro de profissionais, poderá ser avaliado, no futuro próximo, o desempenho das instalações radiativas em termos de doses individuais e coletivas, adequação da instrumentação, qualificação de recursos humanos e verificação da eficácia do programa de inspeções. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] SLC/CNEN. Relatório Anual de Atividades da Superintendência de Licenciamento e Controle, Rio de Janeiro, 1993, 1994, 1995 e 1996. [2] IAEA. Recommendations for the Safe use and Registration of Radiation Sources in Industry, Medicine, Research and Teaching. Safety Series 102. International Atomic Energy Agency, Vienna, 1990. [3] CNEN. Funcionamento de Serviços de Radiografia Industrial. Norma CNEN-NN6.04. Comissão Nacional de Energia Nuclear, Rio de Janeiro, 1988. [4] CNEN. Requisitos para o Registro de Pessoas Físicas para o Preparo, Uso e Manuseio de Fontes Radioativas. . Norma CNEN-NN-6.01. Comissão Nacional de Energia Nuclear, Rio de Janeiro, 1997. [5] CNEN. Diretrizes Básicas de Radioproteção. Norma CNEN-NE-3.01. Comissão Nacional de Energia Nuclear, Rio de Janeiro, 1988. [6] CNEN. Certificação da Qualificação de Supervisores de Radioproteção. Norma CNEN-NN-6.01. Comissão Nacional de Energia Nuclear, Rio de Janeiro, 1997. CONCLUSÃO Considerando o crescimento do uso de radioisótopos no Brasil e a necessidade de garantir a segurança radiológica em instalações médicas, industriais e de pesquisa, foi estabelecida como prioridade a padronização e divulgação de procedimentos relativos ao controle de fontes de radiação para as diversas unidades da CNEN no país, disponível na rede Internet, como guias de orientação para elaboração de 3 [7] CORAD/SLC/CNEN. Relatório Gerencial de Operação do SISCOMEX. Rio de Janeiro, 1997. [8] Oliveira, S.M.V. O Parque de Fontes Radioativas no País, em I Encontro do Grupo Assessor Técnico-Científico para a Resposta Médico-Hospitalar em Acidentes Radiológicos e Nucleares, UERJ, Rio de Janeiro, 1996. [9] CNEN. Requisitos de Radioproteção e Segurança para Serviços de Medicina Nuclear. Norma CNEN-NN-3.05. Comissão Nacional de Energia Nuclear, Rio de Janeiro, 1996. AGRADECIMENTOS: Ao servidor Rogério Gomes, por realizar as pesquisas no banco de dados com o espírito de colaboração que lhe é peculiar, permitindo que todas as dificuldades encontradas fossem superadas.. Aos sevidores Sidney Rabello e Ricardo Brito, pelas críticas construtivas e comentários valiosos. A todos os demais servidores lotados na Coordenação de Instalações Radiativas da SLC/CNEN, pela colaboração e dedicação ao trabalho realizado e descrito neste artigo. 4 Região Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Brasil 1995 35 234 1.485 270 91 1996 39 264 1.575 302 104 1997 38 263 1.599 304 102 2.115 2.284 2.306 Tabela I - Distribuição geográfica de instalações radiativas - 400 350 300 250 200 150 ATIVAS 100 INSPECIONADAS 50 0 Medidores Nucleares AUTORIZADAS Radiografia Industrial Técnicas Analíticas Perfilagem de Poços Medicina Nuclear Radioterapia Fonte: SINRAD/97 Gráfico 1 - Autorizações e Inspeções em Instalações Radiativas 2 Área de Área de Aplicação Aplicação Radioterapia Radioterapia Práticas Práticas Teleterapia Teleterapia Braquiterapia com Cs-137, Ir-192, Co-60 Braquiterapia com Cs-137, Ir-192, Co-60 Medicina Nuclear Terapia com I-131 e Sm-153 Medicina Nuclear Terapia com I-131 e Sm-153 Diagnóstico com Tc-99m, Tl-204, Ga-67, I-131 Diagnóstico com Tc-99m, Tl-204, Ga-67, I-131 I-125 I-125 Irradiadores de Esterilização e preservação de alimentos Irradiadores de Esterilização e preservação de alimentos Grande Porte Grande Porte Radiografia Instalações móveis Radiografia Instalações móveis Industrial Instalações fixas com Ir-192 e Co-60 Industrial Instalações fixas com Ir-192 e Co-60 Instalações fixas com Raio-X Instalações fixas com Raio-X Medidores Perfilagem de Poços de Petróleo Medidores Perfilagem de Poços de Petróleo Nucleares Instalações com 41 fontes de Co-60 e Cs-137 Nucleares Instalações com 41 fontes de Co-60 e Cs-137 Instalações com 11 a 41 fontes de Co-60 e Cs-137 Instalações com 11 a 41 fontes de Co-60 e Cs-137 Instalações com até 10 fontes de Co-60 e Cs-137 Instalações com até 10 fontes de Co-60 e Cs-137 Instalações com fontes de Nêutros Instalações com fontes de Nêutros Fabricante de Fontes Não Seladas Fabricante de Fontes Não Seladas Dispositivos Fontes Seladas Dispositivos Fontes Seladas Categoria de Periodicidade Categoria de Periodicidade Risco Risco A Bianual A Bianual A Bianual A Bianual A Bianual A Bianual A Bianual A Bianual A A Bianual Bianual A A B B B B B B B B B B B B B B A A B B Anual Anual Bianual Bianual Trianual Trianual Bianual Bianual Trianual Trianual Quadrianual Quadrianual Quadrianual Quadrianual Trianual Trianual Anual Anual Anual Anual Tabela II- Periodicidade de Inspeções e de Renovações de Autorizações para Operação Observação: Adaptação do Safety Series No.102 1600 1400 1200 1000 Total Geral 800 Total de Licenças Vencidas 600 400 Total de Licenças Renovadas 200 0 Total de Licenças Novas AL AP AN Gráfico 2 - Profissionais Registrados 3 1200 1000 800 600 400 200 0 94 95 Importação de Material Radioativo 96 Aquisição no Mercado Interno 97 Importação de Produtos em Geral Gráfico 3 - Aquisição de Fontes Radioativas Fonte Fonte No. de Fontes No. de Fontes Atividade (Ci) Atividade (Ci) Am-241 Am-241 Am/Be-241 Am/Be-241 Cm-244 Cm-244 Co-60 Co-60 Cs-137 Cs-137 Fe-55 Fe-55 Kr-85 Kr-85 Pm-147 Pm-147 Pu/Be-238 Pu/Be-238 Sr-90 Sr-90 381 381 50 50 11 11 321 321 1456 1456 20 20 178 178 20 20 1 1 411 411 102,4 102,4 113,6 113,6 4,7 4,7 56,4 56,4 821,1 821,1 1,4 1,4 90,0 90,0 8,9 8,9 42,3 42,3 5,3 5,3 TOTAL TOTAL 2849 2849 1246,1 1246,1 Tabela III - Inventário de Fontes Radioativas usadas em Medidores Nucleares 4 Fonte Fonte No. de Fontes No. de Fontes Atividade (Ci) Atividade (Ci) Co-60 Co-60 Cs-137 Cs-137 Ir-192 Ir-192 Ra-226 Ra-226 Sr-90 Sr-90 13 13 2424 2424 98 98 748 748 258 258 9,7 9,7 384,9 384,9 558,0 558,0 19,6 19,6 12,5 12,5 TOTAL TOTAL 3541 3541 984,7 984,7 Tabela IV - Inventário de Fontes Radioativas usadas em Braquiterapia MODELOS MODELOS No. de Equipamentos No. de Equipamentos Atividade (Ci) Atividade (Ci) GAMMATRON GAMMATRON ELDORADO ELDORADO THERATRON THERATRON ALCYON ALCYON PHOENIX PHOENIX Outros Outros 28 28 21 21 50 50 7 7 6 6 13 13 104,3 104,3 100,2 100,2 323,2 323,2 31,0 31,0 53,0 53,0 34,0 34,0 TOTAL TOTAL 125 125 645,7 645,7 Tabela V - Inventário de Fontes Radioativas de Co-60 usadas em Equipamentos de Teleterapia 5 Gráficos 4 - Distribuição de Radiofármacos do IPEN/CNEN/SP Gráficos 5 - Distribuição de Radiofármacos do IPEN/CNEN/SP 6 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Caneta Dosimétrica Geiger Mueller Monitor Sonoro Câmara de Ionização e Dosímetros Clínicos Outros Gráfico 6 - Demanda de Calibração para Instrumentação Nuclear 7