Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ESTUDO PRODUZIDAS POR
PAIS, PROFESSORES E ALUNOS EM REDES SOCIAIS DA
INTERNET
KOGA, Viviane Terezinha (UEPG)1
ROSSO, Ademir José (UEPG)2
Agencia financiadora: Capes e CNPq
Introdução
As questões relacionadas à forma como os alunos estudam, bem como o seu
crescente desinteresse pelo estudo e a falta de motivação e participação dos alunos nas
atividades escolares são algumas das questões que atualmente vem sendo muito
discutidas entre os professores. (PREDIGER, BERWANGER, MÖRS, 2009).
É
frequente em escolas e até mesmo em cursos de formação de professores ouvirmos
reclamações acerca da “falta de participação e interesse dos alunos durante as aulas,
ausência no cumprimento das tarefas, conversas entre colegas [...]”, entre outras. (BINI,
PABIS, 2008, p.3). Considerando esse contexto os professores se veem cada vez mais
assustados, estressados e desprotegidos (AQUINO, 1997).
Rosso e Camargo (2011) ao pesquisarem as representações sociais de 128
professores de escolas estaduais do Paraná, verificaram que a causa do sofrimento e
desgaste no trabalho docente está vinculada a sentimentos de emoção e afetividade. O
desinteresse dos alunos pelo estudo aparece entre os elementos que possivelmente
compõem o núcleo central e, portanto se constitui como uma das situações que mais
interfere e causa desgaste no trabalho docente. Segundo os autores, o desinteresse dos
1
Licenciada em Ciências Biológicas. Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] – Ponta Grossa,
Paraná, Brasil.
2
Licenciado em Ciências e Biologia. Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Professor da Licenciatura de Biologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] – Ponta Grossa, Paraná, Brasil.
1
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
alunos é recebido pelos professores como negação e indiferença ao seu trabalho o que
dificulta o desenvolvimento das atividades em sala de aula.
Para Oliveira (2009), o desinteresse origina-se: de conteúdos escolares ensinados
de forma fragmentada e descontextualizada; das metodologias utilizadas que não
condizem com as expectativas dos alunos, da dificuldade de motivação para aprenderem
determinados conteúdos; e, dos conflitos existentes entre alunos e professores, que
fazem como que os alunos passem a ver o estudo como uma obrigação, e não como uma
contribuição ao seu desenvolvimento pessoal.
Grande parte dos alunos não estuda e se o faz é somente no período de provas,
motivados apenas pelas notas e pela cobrança dos pais e professores. Esses motivos se
caracterizam como fatores externos que nem sempre favorecem o aprendizado e a
autonomia. (NUNES, 2006). Para que esta seja desenvolvida é necessário que se
estabeleçam relações entre iguais que possibilitem com que o individuo conquiste a sua
consciência autônoma, a qual só é possível por meio de relações de cooperação. “Podese dizer que há autonomia moral quando a consciência considera como necessário um
ideal racional, independentemente de qualquer pressão exterior” (FREITAS, 2003, p.
92).
Por outro lado a heteronomia que representa a primeira forma encontrada pela
criança para regular a ação é oriunda de relações de coação instituídas entre elas e os
adultos. Como o próprio nome diz a norma proveniente do outro é que diz o que o
sujeito deve ou não fazer. Segundo, Vinha e Tognetta (2009) “a heteronomia, a
obediência ao princípio ou regra não se mantém, pois depende de fatores exteriores, ou
seja, a regulação é externa: em alguns contextos a pessoa segue determinados valores, e
em outros não mais os segue” (p.529). Por exemplo, se o aluno corre o risco de ser
punido, por meio de notas ou até mesmo devido à pressão dos pais, ele estuda,
entretanto se essa regulação externa desaparece, ele não mais o faz. Essa moral
predomina entre as crianças e em especial no período da adolescência, no qual o
individuo tende a rejeitar, ou pelo menos revisar tudo o que lhe foi imposto, como uma
forma de construir uma representação do mundo e um projeto de vida, próprios.
(FREITAS, 2003).
2
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
De acordo com Nunes (2006) para que o aluno desenvolva a autonomia é
necessário um trabalho desde o inicio da escolarização que vise à criação do hábito de
estudo e que ultrapasse os limites da sala de aula, pois como já apontado por Ramalho
(2001) a falta de hábitos de estudo reflete negativamente no rendimento escolar, alunos
que tem condições de obter sucesso na escola, não o tem devido à ausência de hábitos
de estudo. Segundo Magro (1979), grande parte dos determinantes do fracasso escolar
correspondem à falta de organização do tempo e das atividades escolares, nesse sentido
os hábitos de estudo merecem uma atenção especial, ao passo que contribuem para
melhorar o desempenho escolar e desenvolver a autonomia do aluno. Mesmo assim é
pequena a exigência em relação aos hábitos de estudo dos alunos, tanto que eles não
levam o estudo a sério e chegam até a acreditar que o aluno não precisa estudar, basta ir
à escola. Portanto, cabe à escola orientar o aluno para o estudo e estimular a criação de
hábitos de estudo. (SOUZA, 1985).
Os resultados negativos do PISA3, ao longo de mais dez anos (OCDE, 2000;
2003; 2006; 2009), as crescentes reclamações dos professores acerca do desinteresse
dos alunos pelo estudo, a falta de hábitos de estudo e de autonomia dos alunos apontam
para a necessidade de desvelar quais são as representações que os envolvidos nesse
processo, pais, professores e alunos, têm sobre o estudo, portanto este trabalho tem
como objetivo identificar as representações deixadas por esses sujeitos em redes sociais.
Segundo Moscovici (1978) e Jodelet (2001), a mídia tem um papel fundamental na
construção das representações sociais, pois produzem e veiculam imagens sobre a
escola e o estudo que são generalizadas e passam a integrar as representações sociais
acerca desses temas. (SALLES, 1995). Entende-se por redes sociais as diferentes formas
de relações sociais estabelecidas entre as pessoas que interagem em favor de uma causa
ou em beneficio de algo, mediada ou não pela informática. Essas interações se
3
PISA (Programa Internacional para Avaliação de Alunos), é uma avaliação realizada pela OCDE
(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) da qual participam países membros
como Alemanha, Coréia do Sul, EUA, Japão, etc e países convidados, como é caso do Brasil. Esse
programa compara internacionalmente, a cada três anos o desempenho de alunos de 15 anos em
conhecimentos de matemática, ciências e leitura, bem como avalia as suas competências e habilidades. A
cada aplicação é enfatizada uma das áreas, em 2000 foi a Leitura, em 2003 Matemática, em 2006
Ciências e em 2009 foi novamente a Leitura. A área com maior ênfase ocupa 60% da avaliação e os 40%
restantes são divididos entre as outras duas.
3
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
caracterizam como movimentos articulados nos quais não predominam indivíduos, mas
“representações” da coletividade. (AGUIAR, 2007).
As representações sociais caracterizam-se por expressarem a relação existente
entre o sujeito e objeto; o sujeito ao reproduzir um determinado objeto, o reconstrói, e o
atribui um sentido próprio. Ao deparar-se com um objeto novo, o sujeito aproxima-o do
seu universo, dos conhecimentos de que dispõem instituindo-se assim uma linguagem
particular assentada em valores e em conceitos. (MOSCOVICI, 1978; ALVESMAZZOTTI, 2008). Logo, as RS não são, apenas, “opiniões sobre” ou “imagens de”
um determinado objeto, mas são “teorias coletivas destinadas à interpretação e
elaboração do real” e conceitos que “determinam o campo das comunicações possíveis
dos valores ou das ideias presentes nas visões compartilhadas pelos grupos e regem
subsequentemente, as condutas desejáveis ou admitidas”. (MOSCOVICI, 1978, p.51).
Por isso as RS são importantes na medida em que nos guiam na definição e
classificação conjunta dos diversos aspectos que nos cercam, contribuindo para a nossa
interpretação e tomada de posição frente a um objeto novo. (JODELET, 2001).
Na educação, essa teoria vem ganhando força desde os anos 80, porque os
sujeitos que compõem o ambiente escolar, alunos, pais e professores, carregam consigo
e constroem conhecimentos sociais que influenciam as práticas escolares ao marcar as
suas interpretações acerca dos papéis que devem desempenhar na escola, o que por
vezes se contradiz as práticas acadêmicas. (MENIN; SHIMIZU, 2005). Segundo Gilly
(2001), a teoria das RS vem contribuindo significativamente para a educação, uma vez
que ela se concentra nos significados que os sujeitos atribuem à situação e dessa forma
possibilita ao pesquisador encontrar algumas explicações para as condutas dos sujeitos.
De acordo com Jodelet (2007), para estudar a constituição de uma RS de sujeitos
ou grupos sociais, deve-se prestar atenção a três esferas de pertencimento: esfera da
subjetividade, a da intersubjetividade e a da transubjetividade. A primeira está
relacionada não à compreensão de um sujeito isolado, mas de sujeitos sociais ativos,
distintos devido a sua inscrição na vida cotidiana e ao contexto social a que pertencem,
sendo que nesse contexto o sujeito compartilha interações com os outros sujeitos por
meio da comunicação.
4
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
A esfera da intersubjetividade nos remete a ocasiões nas quais o contexto
contribui para que os sujeitos compartilhem as RS. Nesse caso os sujeitos se comunicam
e de forma negociada transmitem informações, constroem saberes, fazem acordos ou
expressam divergências sobre um objeto de interesse comum, possibilitando com isso a
construção de significados e ressignificações consensuais e a transubjetividade é
composta de elementos que cruzam tanto a esfera da subjetividade quanto a da
intersubjetividade, portanto abrange os sujeitos, os contextos nos quais a interação
acontece, e ainda as situações de interação. Essa esfera refere-se aos espaços sociais no
quais as RS circulam que vão desde os meios de comunicação, passam pelas
instituições, chegando à ideologia dominante e as relações de poder. Espaços esses onde
os sujeitos estão imersos. Além disso, ela compreende as formas de pensamento e
atuação, os valores e as normas peculiares de uma cultura que de certa forma norteiam
as praticas dos sujeitos.
No nível subjetivo as RS têm a função expressar os significados que os sujeitos
dão ao objeto de acordo com seus interesses e objetivos. No nível intersubjetivo as RS
funcionam como uma forma de compreender as interpretações e os significados que são
compartilhados pelos sujeitos sobre um determinado objeto. E finalmente, no nível
transubjetivo as RS dizem respeito ao aparato sociocultural, bem como ao conjunto de
normas e valores impostos pela sociedade, nesse nível as RS evidenciam o repertório
que torna possível a visualização dos significados compartilhados socialmente.
(JODELET, 2007).
Coleta e análise dos dados
Esse trabalho caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, com caráter
descritivo, na qual foi realizado um levantamento dos comentários sobre o estudo
deixados, espontaneamente, pelas pessoas em redes sociais na internet.
Foram coletados 135 comentários em cinco sites diferentes, conforme consta na
tabela 1. Esses comentários foram deixados pelas pessoas como uma forma de expressar
seus conhecimentos, experiências e atitudes acerca de textos introdutores que eram
5
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
apresentados nesses sites e aventavam formas para superar a preguiça e o desinteresse
dos alunos pelo estudo. No site 1, o texto era mais voltado para questão da infraestrutura
das aulas, preparo dos materiais e equipamentos, além de chamar a atenção para as
particularidades de cada aluno (EAPRENDER, 2012). Já o site 2, 3 e 4 apresentavam
questões acerca do estudo enquanto conhecimento, o site dois era mais relacionado à
libertação, capacidade de pensamento e conquista da autonomia. (REVISTA
CRESCER, 2012). Enquanto, o site três e quatro, eram mais ligados ao estudo enquanto
possibilidade de conseguir um bom emprego e de ser alguém na vida. (TUDOLINK,
2012; BEM PARANÁ, 2012) No site cinco, o texto trazia os embates existentes ente
pais e filhos ligados ao estudo, principalmente no período da adolescência no qual a
vontade de estudar diminui. (SOCIEDADE CIVIL, 2012)
Tabela 1: Número de comentários por site
Site
N° de comentários
01
02
03
04
05
42
11
17
24
41
Fonte: Os autores.
A partir desse conjunto de comentários foi montado o corpus, cada comentário
foi considerado como uma unidade de contexto inicial (UCI) precedida de uma linha de
comando composta pelas variáveis: comentário (com= 135), site (site= 1, 2, 3, 4, 5),
sexo (masculino ou feminino), profissão (prof= alunos, pais ou professores).
Os dados foram analisados com o apoio do software ALCESTE (Analyse
Lexicale por Context d´um Esemble de Segments de Texte), desenvolvido por Reinert
em 1998. Esse programa é utilizado para a análise de banco de dados textuais, pois ele
realiza a análise lexicográfica mostrando os contextos textuais (UCE), caracterizados
pelas palavras, e por segmentos de textos que compartilham essas palavras. O corpus
inicial é dividido em classes que podem indicar as RS sobre determinados objetos.
(CAMARGO, 2007; CAMARGO, 2009).
A figura 1 apresenta as três classes de segmentos de textos obtidas pela
classificação hierárquica descendente do conjunto de comentários. Inicialmente o
corpus foi dividido em dois subcorpus, o primeiro deu origem a classe 1 (68,31%) e o
segundo foi subdividido originado as classes 2 (14,44%) e 3 (17,25%). As 135 UCIs
6
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
originaram 284 UCEs. Sendo que para a apresentação das classes foram consideradas a
frequência mínima de 4 palavras e o X² 3,84.
ANÁLISE DOS
COMENTÁRIOS, 135
UCIs, 284 UCEs,
81,14 %
Classe 1, 194 UCEs,
68,31%, Estudo na escola.
X²
Classe 2, 41 UCEs,
14,44%, O que fazer para
que meu filho estude?
Palavras
N
Aluno
80 16,67
Formação
20
9,98
Filho
Trabalho
22
8,64
Ano
Professor
48
8,33
Gostaria
8 31,48
Conhecimento
16
7,87
Interesse
13 31,31
Motivação
18
6,57
Artigo
Preguiça
69
6,01
Gostei
Deve
24
5,84
Quer
11 16,71
Importante
12
5,81
Notas
Causa
11
5,31
Conteúdos
11
5,31
Educação
10
4,81
Ajudar
Maneira
10
4,81
Sei
Parte
10
4,81
Falta
Classe 3, 49 UCEs, 17,25
%, Estudo em casa.
Palavras
N
18 44,22
Casa
15 40,33
14 33,81
Horas
9 33,41
Televisão
5 24,41
Vou
5 24,41
5 30,17
Emprego
6 23,56
8 17,36
Ir
5 14,75
Concentrem
4 14,04
7 15,08
Escrever
4 14,04
Fazer
14 15,07
Trocando
4 14,04
Saber
10 13,37
Tenho
Palavras
N
X²
X²
10 13,28
5 12,72
Chegam
6 13,27
5 12,72
Muita
6 13,27
Vai
6
11,1
Prova
8 12,74
Particular
4
10,6
Tempo
10 12,06
21
4,46
Aprendizagem
9
4,31
Série
4
10,6
Conversas
Informações
9
4,31
Ficar
8
9,28
Falar
Pessoas
9
4,31
Poder
5
8,91
Estudar
Principalmente
9
4,31
Estudo
23
8,48
Pensar
Questão
9
4,31
8,43
Querer
10
8,18
Sociedade
9
4,31
4
8,00
Existem
13
4,1
Família
13
4,1
Prática
4
5
11,8
5
11,8
28 11,59
9 10,41
Tira
4
8,43
Frente
Difícil
5
7,52
Tarefas
5
6,37
Dedicando
4
6,18
Vezes
8
6,1
6
5,74
12
4,85
Médio
6
6,37
Adolescência
5
5,4
Ler
5
4,58
Conseguir
Dizem
4
4,45
Fazer
Figura 1: Dendograma da classificação hierárquica descendente.
Fonte: Os autores.
A classe 1 contempla 68,31% do total das informações analisadas, recebeu a
denominação “estudo na escola”. Essa classe teve sua maior contribuição dos
professores, do sexo masculino, e se diferenciou das demais porque os seus
elementos fazem referencia a questão do estudo e do interesse do aluno
7
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
relacionados ao espaço escolar, mais precisamente ao trabalho do professor. Nesse
sentido entre os sujeitos podem ser destacados os elementos aluno, professor,
trabalho, conhecimento, conteúdos, informação, educação, pessoas, sociedade e
família. As ações são expressas pelos verbos formação e dever que denota a
obrigação relacionada ao trabalho do professor. Além do adjetivo importante que
diz respeito à necessidade do professor trabalhar desenvolvendo estratégias que
chamem a atenção, motivem e estimulem o aluno. Vejamos alguns segmentos de
texto que compõem as UCEs dessa classe:
Nos muitos anos de atuação em sala de aula percebi que a preguiça,
muitas vezes é causada por falta de estimulo de alguns colegas
professores. O aluno precisa estar estimulado a aprender e a
desenvolver as atividades em sala de aula e fora dela. É nosso dever,
como professores estimular de todas as maneiras possíveis os alunos.
Os alunos não tem preguiça de fazer atividades ou tarefas que lhes
são propostas, se isso acontece, infelizmente é falta de motivação e
interesse do professor em promover uma aula dinâmica e agradável.
O professor é a mola mestra para motivar seus alunos na realização
das atividades escolares que nem sempre são atrativas.
No caso de uma criança, pode estar faltando o apoio e o incentivo por
parte da família. Qualquer que seja o motivo, o professor sempre esta
na linha de frente para observar os sinais.
A classe 2, que recebeu a denominação “o que fazer para que meu filho
estude?”, correspondeu a 14,44 % das informações analisadas. Essa classe que teve
maior contribuição das mães evidencia as avaliações positivas frente aos temas ligados a
questão do desinteresse dos alunos pelo estudo. Aparecem como sujeitos: filho,
interesse, ano, oitava, série, notas, estudo, adolescência, computador, artigo e dicas. As
ações estão ligadas aos verbos: gostaria, gostei, saber, receber, tirar, ajudar, ler,
manifestam o desejo de obter maiores informações sobre esse tema. Quanto aos
adjetivos aparecem os elementos particular e difícil, indicando que possivelmente a
avaliação positiva dos artigos se deve a presença dos filhos, com os quais essa questão
do estimulo ao estudo vem se configurando como uma tarefa árdua, que vem exigindo
muito dos pais que não estão sabendo como lidar com essa situação. Isso pode ser
claramente percebido nos segmentos de texto que compõem as UCEs dessa classe:
8
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
Gostaria muito de receber algumas dicas para poder ajudar meu filho
adolescente que não quer fazer o segundo grau. Ele é ótimo aluno, vai
bem nas prova, tira notas altas, mas não quer mais estudar.
Gostaria de saber como devo fazer para ajudar o meu filho de
dezessete anos a se interessar pelo estudo, pois ele esta desestimulado
já repetiu a oitava série e possivelmente vai repetir novamente.
Oi, gostaria de saber o que fazer, pois meu filho tem dezesseis anos
está no primeiro ano do ensino médio e perdeu completamente o
interesse pelos estudos, só quer saber de jogos de computadores.
Gostei muito do artigo acima e concordo plenamente. Infelizmente
nossas escolas precisavam incluir os estudos no cotidiano dos alunos.
Gostaria muito de receber algumas dicas para poder ajudar meu filho
adolescente que não quer terminar o segundo grau.
Finalmente, a classe 3 denominada “Estudar em casa”, correspondeu a 17,25 %
e recebeu uma contribuição significativa dos alunos. No dendograma podem ser
destacados os sujeitos: casa, horas, televisão, emprego, prova, tempo, faculdade, livros,
tarefas. A ação relacionada ao estudo é expressa pelos verbos: vou, concentrar, escrever,
ter, chegar, falar, estudar, pensar, jogar, querer, dedicar, fazer, esforçar, conseguir,
sendo esse ultimo relacionado as possibilidades do estudo. Quanto aos adjetivos
podemos destacar: muita e imensa, ambos se referindo à preguiça de estudar.
A partir dos elementos da classe 3, encontrados nos segmentos textuais,
podemos verificar que essa classe diz respeito ao estudo fora do âmbito escolar, mais
precisamente o estudo em casa. Além disso, há uma dualidade nesses elementos. De um
lado eles apontam para a materialidade e para as possibilidades do estudo e de outro
para as questões funcionais ou práticas ligadas ao estudo, como por exemplo, a questão
da preguiça. Vejamos os segmentos de texto que compõem as UCEs dessa classe:
Tenho muita preguiça de estudar, penso que com o estudo vou
conseguir um emprego bom, ganhar bem, mas às vezes a preguiça é
maior e acabo trocando os livros pela televisão.
Eu tenho muita preguiça de estudar e isso me incomoda muito.
O mal de muitos alunos é não estar habituados à exigência. Querem
tudo feito como eles esperam, sem precisar se esforçar muito. O que
eu não consigo entender é como esses alunos conseguem chegar até a
faculdade, sem um método de estudo, só estudando nas vésperas das
provas.
9
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
Na minha humilde opinião, para perder a preguiça de estudar ou ler é
bem simples, basta pensar que para você ser alguém na vida você tem
que estudar e se dedicar a isso, que estudando e se dedicando você
terá mais chances de ter um bom emprego.
Considerações finais
Por meio desse trabalho foi possível localizar diversos comentários relacionados
ao desinteresse dos alunos pelo estudo (N=135), com isso pudemos evidenciar que há
nas redes sociais uma representação social sobre esse tema, nas quais visualizamos os
conhecimentos, imagens e atitudes dos pais, professores e alunos que expressam as suas
relações com o estudo. Assim, foi possível identificar quais são os conhecimentos
sociais edificados por esses sujeitos que acabam influenciando as práticas escolares.
Entretanto, se considerarmos a quantidade de queixas dos professores acerca da
falta de motivação, participação e interesse dos alunos nas aulas, podemos constatar que
esses temas não receberam a devida atenção nas redes sociais da internet. Uma vez que
a maior parte, dos textos que foram encontrados, se restringe em apresentar dicas para a
superação da preguiça de estudar, sendo que apenas em um dos sites foi levantada a
discussão do estudo enquanto conquista do conhecimento e da autonomia do aluno. Isso
mostra que a população possui uma representação social técnica do desinteresse dos
alunos pelo estudo.
Ao levarmos em consideração que o interesse decorre da interação entre o aluno
e o estudo, destaca-se a sua natureza intrínseca. Entretanto, na maioria dos comentários
encontrados há a representação do interesse pelo estudo ligado a fatores externos como:
infraestrutura e trabalho do professor; possibilidades e utilidade do estudo; e ainda
relacionado à família. Apesar de serem elementos importantes, que devem ser levados
em conta, pois contribuem para originar o desinteresse dos alunos pelo estudo, eles não
são os únicos e exclusivos determinantes. Segundo Nunes (2006), esses fatores são
externos e não favorecem o aprendizado e a conquista da autonomia.
Os resultados desse trabalho, a partir da análise do ALCESTE, mostraram a
constituição de três classes, a classe 1 denominada “Estudo na Escola”, correspondeu a
68,31% do total das informações analisadas, portanto a mais significativa, faz referencia
ao estudo no espaço escolar, condicionado exclusivamente do trabalho do professor.
10
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
Esses resultados mostram uma forte correlação com o trabalho de Oliveira (2009), para
o qual o desinteresse dos alunos pelo estudo é resultado de conteúdos
descontextualizados, metodologias inapropriadas e conflitos existentes entre professores
e alunos. No entanto, como já discutido anteriormente esses fatores se configuram como
exteriores ao aluno e podem influenciar o interesse pelo estudo, mas não podem ser
considerados como determinantes do desinteresse.
A classe 2 “O que fazer para que meu filho estude?” (14, 44%), está relacionada
a questão da família, especificamente às mães que avaliaram positivamente os textos
apresentados pelos sites e que manifestaram o desejo de obter mais informações sobre o
tema. Como apontado por Nunes (2006), para a construção de hábitos de estudo é
necessário um trabalho que ultrapasse os limites da sala de aula, nesse contexto os pais
se veem como atores no desempenho escolar dos seus filhos e a partir dos elementos
que constituíram essa classe podemos perceber que eles não estão sabendo como lidar
com esse tema. Além disso, essa classe evidencia que possivelmente há uma forte
heteronomia dos alunos durante o estudo, pois mostra a grande preocupação e cobrança
dos pais em relação às notas dos alunos.
Ligada a classe 2 aparece a classe 3, “Estudar em casa” (17,255). Essa classe faz
referencia a questões funcionais ligadas ao estudo, como a preguiça de estudar e as
horas dedicadas ao estudo em casa. Além disso, alguns elementos dessa classe
assinalam para as possibilidades e para a utilidade do estudo. Isso mostra que os alunos
que mais contribuíram para a composição dessa classe analisam o estudo a partir de
duas esferas distintas. Uma delas está ligada à subjetividade, se refere à forma como os
alunos, sujeitos sociais ativos, compreendem o estudo na prática e expressam os
significados de acordo com os seus interesses e objetivos. O outro lado faz referencia a
transubjetividade, na qual o estudo circula pelos meios de comunicação, passa pelas
escolas e sofre influencia direta da ideologia dominante na qual estudar é importante
para ser alguém na vida, nessa esfera o estudo é projetado como uma possibilidade de
mudança de vida no futuro, portanto essa representação do estudo se refere ao conjunto
de normas e valores impostos pela sociedade. (JODELET, 2007).
11
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
REFERÊNCIAS
AGUIAR, S. Redes Sociais na internet: desafios à pesquisa. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 30, 2007, Santos: Anais do
Evento, 2007. p. 1-15.
ALVES-MAZZOTTI, A. J. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à
educação. Revista Múltiplas Leituras, v. 1, n. 1, p.18-43, jan./jul. 2008.
AQUINO, J.G. Erro e fracasso na Escola: alternativas teóricas e práticas. São
Paulo: Summus, 1997.
BINI, L. R.; PABIS, N. Motivação ou interesse do aluno em sala de aula e a relação
com atitudes consideradas indisciplinares. Revista Eletrônica Lato SensuUNICENTRO, v. 3, n.1, mar. 2008.
ALLAIN, J. M.; NASCIMENTO-SHULZE, C. M.; CAMARGO, B. V. As
Representações sociais de transgênicos nos jornais brasileiros. Estudos de Psicologia,
v. 14, n.1, p. 21-30, jan/abr.2009.
ALLAIN, J.M.; CAMARGO, B.V.; O papel da mídia brasileira na construção das
representações sociais de segurança alimentar. Psicologia: Teoria e Prática, v. 9, n. 2,
p. 92-108. 2007.
ALLAIN, J.M.; CAMARGO, B.V. As representações sociais de transgênicos nos
jornais brasileiros. Estudos de Psicologia, v.14, n. 1, p. 21-30, jan/abr. 2009.
BEM PARANÁ. Disponível em: <http://www.bemparana.com.br/noticia/28704/e-semeu-filho-nao-quer-estudar>. Acesso em 14 abr. 2012.
EAPRENDER.
Disponível
em:
<http://www.eaprender.com.br/tikismartpages_view.php?pageId=1113>. Acesso em 11 abr. 2012.
FERNANDES, E. Psicologia da Adolescência e da Relação Educativa. Porto:
Edições Asa, 1990.
FREITAS, L. A moral na obra de Jean Piaget: um projeto inacabado. São Paulo:
Cortez, 2003.
GILLY, M. As representações sociais no campo da educação. In: JODELET, D. As
Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001, cap. 17, p. 321- 340.
JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. As
Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. cap 1. p. 17-44.
12
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
JODELET, D. Imbricações entre representações sociais e intervenção. In: MOREIRA,
A. S. P.; CAMARGO, B. V. Contribuições para a teoria e o método de estudo das
representações sociais. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2007. cap. 2. p.
45-74.
MAGRO, M. C. Estudar também se aprende. São Paulo: Editora Pedagógica
Universitária, 1979.
MENIN, M. S. de S.; SHIMIZU, A. de M. Experiência e representação social:
questões teóricas e metodológicas. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2005
MOSCOVICI, S.A. A representação social de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.
NUNES, C. O. C. Investigação sobre os hábitos de estudo e pesquisa de alunos do
ensino médio. 2006, 127f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e
Matemática). PUCRS, Porto Alegre, 2006.
ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICOS (OCDE). Conhecimentos e atitudes para a vida: resultados do
PISA 2000. São Paulo: Editora Moderna, 2000.
_______. Aprendendo para o mundo de amanhã: primeiros resultados do PISA.
São Paulo: Editora Moderna, 2003.
_______. Assessing Scientific, Reading and Mathematical Literacy – A Framework
for PISA 2006. Disponível em: <www.oecd.org>. Acesso em 25 out. 2010.
_______. Pisa 2009 Results: Learning to Learn – Student Engagement, Strategies
and
Practices.
Tradução
dos
autores.
vol.
3.
Disponível
em:
<http://dx.doi.org/10.1787/9789264083943-en.>. Acesso em 10 out. 2010.
OLIVEIRA, D. C. et al. Análise das evocações livres: uma técnica de análise estrutural
das representações sociais. In OLIVEIRA, M. I. Fatores psicossociais e pedagógicos da
indisciplina: da infância à adolescência. Linhas Críticas, Brasília, v. 15, n. 29, p. 289305, jul./dez. 2009.
PREDIGER, J. BERWANGER, L.; MÖRS, M. F. Relação entre aluno e matemática:
reflexões sobre o desinteresse dos estudantes pela aprendizagem desta disciplina.
Revista Destaques Acadêmicos, v.1, n.4, p.23-32, 2009.
RAMALHO, J. Os hábitos de estudo em estudantes do 3° ciclo do ensino básico e do
1° ano do ensino secundário. 91 f. Monografia. Universidade Fernando Pessoa, Porto,
2001.
13
Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
REVISTA
CRESCER.
Disponível
em:
<http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI19085-15146,00.html>. Acesso
em: 14 abr. 2012.
ROSSO, A.J; CAMARGO, B. V. As representações sociais das condições de trabalho
que causam desgaste aos professores estaduais paranaenses. Educação Temática
Digital, Campinas, v.13, n.1, p.269-289, jul./dez. 2011.
SALLES, L.M.F. A representação social da escola e dos estudos de alunos de 8ª série e
1° colegial. Didática, São Paulo, v. 30, p.81-96. 1995.
SOCIEDADE
CIVIL.
Disponível
em:
<http://sociedadecivil.blogspot.com.br/2010/01/quando-eles-nao-querem-estudar.html>. Acesso 14 abr.
2012.
SOUZA, C. P. de. A recuperação na escola. 3ed. Brasília: MEC/SEPS, 1985.
TUDO LINK. Disponível em: <http://www.tudolink.com/como-perder-a-preguica-deestudar-e-ler/>. Acesso em 14 abr. 2012.
VINHA, T. P.; TOGNETTA, L. R. P. Construindo a autonomia moral na escola: os
conflitos interpessoais e a aprendizagem dos valores. Rev. Diálogo Educ., v. 9, n. 28, p.
525-540, set./dez. 2009
14
Download

representações sociais do estudo produzidas por pais, professores