A utilização de badges no ambiente virtual de aprendizagem Moodle Fábio Pereira Alves, Cristiano Maciel, Kátia Morosov Alonso Instituto de Educação (IE) – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Cuiabá – MT - Brasil Tópicos de interesse: Gamificação, Moodle, Ambientes Virtuais de Aprendizagem. 1. Introdução Nos últimos anos os videogames tem tido crescente relevância na sociedade, tornando-se a indústria do setor de entretenimento que mais cresce no mundo e ocupando papel principal como elemento da cultura [Arruda 2013]. Esse movimento tem desencadeado uma série de efeitos em áreas não relacionadas ao entretenimento. Um desses efeitos é a chamada gamificação1, utilização de elementos de design de jogos em contextos não relacionados a jogos [Deterding 2011]. A educação tem sido um dos principais campos de experimentação da gamificação [Quadros 2010]. Algumas experiências envolvendo elementos de jogos, como a descrita por Sheldon (2012), obtiveram resultados positivos. Vários softwares educacionais têm utilizado a gamificação, como as ferramentas sociais para ensinoaprendizagem de idiomas Livemocha (livemocha.com) e Busuu (busuu.com), ou a ferramenta para criação de perguntas e respostas PeerWise [Denny 2013]. Apesar da utilização em vários softwares educacionais, pouco se tem visto da utilização de tais técnicas em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), principalmente quando utilizados em instituições de ensino superior formal. Os AVA são sistemas de gerenciamento de cursos on-line que facilitam a criação de um ambiente educacional colaborativo permitindo que o conhecimento seja construído por dois ou mais indivíduos por meio da discussão e da reflexão, tendo como mediador desse processo recursos computacionais [Almeida 2003]. O Moodle, AVA mais utilizado no mundo [Capterra 2012], a partir da versão 2.5 incluiu a possibilidade de utilização de badges, através da integração com a Open Badges Infrastructure (OBI), criado pela Mozilla Foundation. Os badges são artefatos virtuais concedidos a usuários que completam atividades específicas [Antin e Churchill 2011], e podem ser entendidos como representações digitais de uma habilidade ou conhecimento adquirido. A estrutura de badges utilizada em aplicações gamificadas apareceu em larga escala pela primeira vez em 2002, por meio do serviço Xbox Live da Microsoft e eram denominados Achievements (conquistas) [Antin e Churchill 2011]. Outras implementações relevantes desse tipo de sistema são os Wikipedia Barnstars; os badges do site StackOverflow; e os badges da rede social móvel Foursquare, ganhos através de “check-ins” em lugares específicos [Alves et al. 2012]. Para Rughiniș (2013) arquiteturas de badges bem definidas equilibram múltiplos 1 do inglês “Gamification” objetivos e combinam elementos heterogêneos para criar experiências de interação de usuário fluidas. Dessa maneira, verifica-se que a estrutura de Badges, quando bem implementada, pode ser utilizada em uma grande diversidade de contextos, com o objetivo de melhorar a experiência de uso dos sistemas. Os badges, a partir da integração do Moodle com a Open Badges Infrastructure, serão um recurso disponível para cursos de todo o mundo, inclusive em universidades federais brasileiras [Giusta e Franco 2003]. Porém, pouco se sabe sobre as contribuições que os elementos de jogos podem trazer para o processo de ensino aprendizagem em AVA. Sendo assim, o objetivo desse trabalho é compreender a integração realizada entre o Moodle e a Open Badges Infrastructure (OBI). Para alcançar o objetivo, foi realizado um experimento em ambiente não controlado, onde o pesquisador assumiu os diversos papéis disponibilizados pelo Moodle (administrador, professor, tutor e aluno). Foram testadas as possibilidades de disponibilização de badges no AVA, bem como a utilização da OBB, no intuito de descrever como ocorre o processo de integração entre o AVA e a OBI. 2. Open Badges Infrastructure Em 2011, a Mozilla Foundation, criou um framework chamado Open Badges Infrastructure (OBI), que permite a criação e disponibilização de badges aos usuários de aplicações web, com o objetivo de validar conhecimentos e habilidades adquiridas nas vivências online. A OBI é uma estrutura aberta, que possibilita, através de uma API, a integração de ferramentas externas que podem criar e conceder Badges a seus usuários. Tal estrutura utiliza-se de metadados inclusos na própria representação do badge (imagem PNG) são utilizados para garantir a integridade do sistema e para possibilitar que os badges produzidos por vários emissores (sites e ferramentas clientes da OBI) possam ser integrados à Open Badges Backpack (OBB). A OBB funciona como uma espécie de “curriculum” ou “portfólio” digital, que armazena os badges adquiridos pelo usuário, identificado por sua “persona” (conjunto de informações de autenticação). Na OBB, os badges podem ter o status de verificado (emitido e validado por uma instituição terceira) ou não verificado (emitido por um site sem vínculo formal com uma instituição), sendo possível verificar o peso dos badges adquiridos a partir das instituições que os validam. A OBB permite ainda que os usuários agrupem os badges de acordo com o grupo social, além de permitir o compartilhamento dessas informações em redes sociais, como Facebook e Linkedin. 3. Badges no Moodle A partir da versão 2.5 do ambiente virtual de aprendizagem Moodle foi incluído suporte à Badges, através da integração com o projeto OBI da Mozilla Foundation. O AVA, nesse caso, funciona como um cliente da OBI e a instituição que hospeda o site atua como um emissor de badges. Os Badges no Moodle são separados em duas categorias: Badges de Site: disponível aos usuários em todo o site e relacionados com atividades sobre o site, como terminar um grupo de cursos específico; Badges de Curso: disponível aos usuários matriculados em um curso e relacionados com atividades que acontecem dentro do curso. O Moodle permite que o administrador, professor, ou tutor do curso crie Badges que podem concedidas aos usuários a partir de critérios pré-definidos (como a conclusão de uma atividade) ou de maneira manual, concedido diretamente sem um critério prédefinido no sistema. Toda vez que um aluno ganha um badge, uma mensagem é enviada ao seu email, informando que o Badge foi ganho e possibilitando a visualização de todos os Badges ganhos até o momento. Porém, o badge não é mostrado instantaneamente dentro do AVA assim que ganho, a não ser que o usuário vá à área de badges do sistema. Os badges podem ser transferidos à OBB de duas maneiras: Upload manual: O usuário realiza o download do badge no AVA, acessa o OBB com sua “persona” e realiza o upload do badge; Transferência direta do Moodle para a OBB: Se o usuário estiver com as informações da sua conta na OBB configuradas no Moodle, o próprio AVA realiza a transferência e validação dos badges adquiridos. 4. Discussões De maneira geral, a eficácia de sistemas baseados em badges depende de diversos fatores, tal como fatores demográficos, o contexto da aplicação e o propósito da ferramenta [Denny 2013]. Porém, a implementação de badges em uma ferramenta como o Moodle, que é o AVA com maior número de usuários no mundo [Capterra 2012] e é utilizada por algumas das mais respeitadas instituições de ensino do Brasil, leva a crer que essa estratégia de engajamento e motivação está se tornando cada vez mais relevante no cenário atual. A integração com o framework OBI ajuda a fortalecer características psicológicas e sociais, como as elencadas por Antin e Churchll (2011), tal como status e afirmação social, identificação no grupo e reputação, uma vez que possibilita a exibição dos badges adquiridos no perfil da OBB, permite o agrupamento dos badges de acordo com o grupo social e compartilhamento em redes sociais. Além disso, a OBI permite certo nível de validação da habilidade ou do conhecimento adquirido e demonstrado através do badge, uma vez que possibilita a verificação junto a instituição provedora do badge. Características como definição de objetivos e instrução ainda dependem muito da maneira como essa ferramenta será utilizada pelos educadores. Esse trabalho traz reflexões iniciais sobre a contribuição da utilização de elementos de jogos em AVA, uma vez que badges são apenas uma das possíveis utilizações de elementos de videogames em aplicações do gênero. Além disso, são poucos os estudos sobre como os badges (e a gamificação) podem contribuir no processo de ensino-aprendizagem no Moodle, uma vez que essa implementação ainda é muito recente para produzir resultados mais concretos. No entanto, pesquisas como a de Denny (2011) levam a crer que esse mecanismo possibilitará resultados positivos. Essa é uma pesquisa em desenvolvimento e, são resultados esperados em uma pesquisa mais ampla, a compreensão de como os elementos de jogos contribui para o processo de ensino-aprendizagem em AVA e até que ponto sua utilização é interessante nesses ambientes. Referências ALMEIDA, M. E. B. Educação à Distância na Internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. In: ______. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 327-340, 2003. ANTIN, J. e Churchill, E. Badges in social media: A social psychological perspective. In: CHI 2011 Gamification Workshop, 2011. Vancouver. CHI 2011 Gamification Workshop Proceedings. Vancouver, 2011. ALVES, F. P.; MACIEL, C.; ANACLETO, J. C. Investigando a percepção dos usuários sobre os mecanismos de gamificação da rede social foursquare. In: IHC’12, 2012, Cuiabá. Companion Proceedings of the 11th Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems. Brazilian Computer Society, 2012. p. 31-32. ARRUDA, E. e ARRUDA, D. E se a escola virar brinquedo? Perspectivas do lazer e dos jogos digitais na aprendizagem. In: MILL, R. R. S. (Org.). Escritos sobre educação: desafios e possibilidades para ensinar e aprender com as tecnologias emergentes. 1ed. São Paulo: Paulus, 2013, v. 1, p. 132-167. CAPTERRA, Top 20 LMS Software. Capterra. 2012. Disponível em: <http://www.capterra.com/infographics/top-lms-software#.Uiz3asZQFWa>, Acesso em 01 set. 2012. DENNY, P. The Effect of Virtual Achievements on Student Engagement. In: Proceedings of the SIGCHI Conference on Human Factors in Computing Systems. ACM, 2013. p. 763-772. DETERDING, S.; DIXON, D.; KHALED, R.; NACKE, L. From game design elements to gamefulness: defining "gamification".In: Proceedings of the 15th International Academic MindTrek Conference: Envisioning Future Media Environments. ACM, 2011. p. 9-15. GIUSTA, A. da S., FRANCO, I. (orgs.). Educação a Distância: uma articulação entre teoria e prática. Belo Horizonte: PUC Minas Virtual, 2003. MOZILLA FOUNDATION, Introducing Open Badges: a new online standard to recognize and verify learning. Disponível em: <http://openbadges.org/about/>. Acesso em 1 de set. 2013. QUADROS, G. Gamificando os processos de ensino na rede. In: Anais do Congresso Nacional Universidade, EAD e Software Livre. 2013. Belo Horizonte, MG RUGHINIȘ, R. Badge Architectures in Engineering Education - Blueprints and Challenges. In: 5th International Conference on Computer Supported Education CSEDU 2013. 2013. Aachen. SHELDON, L. The Multiplayer Classroom: Designing Coursework as a Game. Boston: Cengage Learning, 2012.