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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR IV – BIGUAÇU
CURSO DE PSICOLOGIA
RITA DE CÁSSIA VALÉRIO
A COMPULSÃO POR COMPRAS NA PERSPECTIVA DA TEORIA
COMPORTAMENTAL COGNITIVA
BIGUAÇU
2005
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR IV – BIGUAÇU
CURSO DE PSICOLOGIA
RITA DE CÁSSIA VALÉRIO
A COMPULSÃO POR COMPRAS NA PERSPECTIVA DA TEORIA
COMPORTAMENTAL COGNITIVA
Monografia apresentada para a obtenção do grau de
Bacharel em Psicologia – Universidade do Vale do
Itajaí – Centro de Educação Superior IV - Biguaçu,
sob a orientação da professora Drª Vera Baumgarten
Ulyssea Baião.
BIGUAÇU
2005
3
Dedico esta monografia ao meu marido, aos meus filhos, a minha
neta, aos meus familiares, pelo carinho e dedicação, contribuição
significativa para a conclusão desta pesquisa.
4
AGRADECIMENTOS
À Universidade do Vale do Itajaí.
À orientadora Profª Drª Vera B.
Ulissea Baião, por sua paciência e colaboração,
auxiliando com dedicação e competência os processos de construção desta
monografia.
Às colegas de curso, Adriana Peres Trajano, Cláudia Michelena e Nilce Nunes, pelo
companheirismo, parceria e cumplicidade demonstrados ao longo esta caminhada.
Às bibliotecárias, pela atenção, gentileza, competência e presteza no atendimento.
Á todos que de maneira direta ou indireta colaboraram para o desenvolvimento deste
trabalho.
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“Neste mundo de enganos
Nada é verdade ou mentira
Tudo depende da cor
Do cristal com que se mira”
(Gabriel de Campo y Amor)
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SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................7
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................8
2 METODOLOGIA....................................................................................................11
3
OS
PROCESSOS
DE
APRENDIZAGEM
SEGUNDO
A
TEORIA
COMPORTAMENTAL COGNITIVA......................................................................... 11
2.1Condicionamento Respondente............................................................................13
2.2Condicionamento Operante..................................................................................15
2.3Modelo Cognitivo..................................................................................................23
2.4Comportamento Compulsivo................................................................................29
2.5Compulsão por Compras .....................................................................................32
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................40
REFERÊNCIAS.........................................................................................................43
APÊNDICES..............................................................................................................46
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RESUMO
VALÉRIO, Rita de Cássia. A compulsão por compras sob a perspectiva
comportamental-cognitiva. 2005, 51 f. Trabalho de Conclusão do Curso (Graduação
em Psicologia). Universidade do Vale do Itajaí. Biguaçu, 2005.
Comprar é um comportamento característico da sociedade atual, é a forma pela qual
adquirimos bens, serviços e itens necessários para a nossa satisfação e sobrevivência.
O comportamento de comprar é, de acordo com as teorias de aprendizagem, aprendido
durante o período de desenvolvimento com os pais, cuidadores, amigos, seja por
observação, regra ou contingências. De uma maneira geral, comprar é uma experiência
comum e corriqueira, que a maioria das pessoas experimentará ao longo da vida.
Porém, comprar começa a ser um problema quando a pessoa perde o controle e passa
a comprar de forma exagerada, sem critérios ou limites por um período prolongado,
causando-lhe
problemas
econômicos,
sociais
e
profissionais.
Este
tipo
de
comportamento é o que chamam de comprar compulsivamente, cuja característica é
descrita como uma falta de controle, uma preocupação freqüente e intensa de comprar
itens desnecessários, o que leva a pessoa a gastar muito além do seu orçamento.
Estes comportamentos, de acordo com a teoria comportamental-cognitiva são
estratégias aprendidas com base em evitações que geram crenças centrais, e que
teriam como função, auxiliar as pessoas a evitar ou fugir de situação aversivas que lhes
causam emoções desagradáveis e com as quais não conseguem lidar. A metodologia
utilizada para a pesquisa foi a bibliográfica, procurando reunir as últimas publicações na
área da Teoria Comportamental-Cognitiva.
PALAVRAS-CHAVES: comprar, compulsão, comportamento, aprendizagem, cognição.
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IDENTIFICAÇÃO
ÁREA DE PESQUISA: TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS
TEMA: O COMPORTAMENTO COMPULSIVO POR COMPRAS SEGUNDO O
ENFOQUE DA TEORIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA
TÍTULO:
A
COMPULSÃO
POR
COMPRAS
SOB
A
PERSPECTIVA
COMPORTAMENTAL-COGNITIVA
ALUNA
Nome: Rita de Cássia Valério
Código de matrícula: 00.1.2661
Centro de Educação - Biguaçu
ORIENTADOR
Nome: Vera Baumgarten Ulissea Baião
Categoria Profissional: Psicóloga
Titulação: Doutora
Curso: Psicologia
Centro: Centro de Educação - Biguaçu
Curso: Psicologia
9º Semestre
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1 INTRODUÇÃO
No decorrer do curso de Psicologia temos a oportunidade de entrar em contato
com diversas vertentes teóricas cujas abordagens pretendem, a partir de uma
perspectiva específica, explicar os fenômenos tipicamente humanos sem, contudo,
esgotá-los. A partir desse contato, identificamo-nos com essa ou aquela abordagem,
com base em nossas experiências, referenciais e interesses, o que nos dá um
direcionamento acadêmico e uma definição profissional, caso da presente pesquisa.
A escolha do tema resultou de observações cotidianas, constatações que nos
levaram a refletir sobre a causa e os fatores que predispõem uma pessoa a comprar de
forma compulsiva, ainda que este comportamento se desdobrasse em conseqüências
desagradáveis, econômica, profissional e socialmente.
Um outro dado que nos desperta a atenção é o fato de vivermos em uma
sociedade marcadamente consumista, com fortes apelos mercadológicos, que ditam
padrões estéticos estereotipados, e que desde cedo induzem e ensinam a gastar. Este
fenômeno contemporâneo pode ser constatado, por exemplo, nas crianças em um
shopping ou supermercado acompanhando seus pais.
Apesar de entender o ser humano como dotado de vontade, também o entendo
vulnerável aos estímulos que podem alterar seus comportamentos. Diante desta
perspectiva, a escolha da abordagem para o presente estudo recaiu na teoria
comportamental cognitiva pois, esta nos pareceu aquela que reunia um arcabouço
teórico mais apropriado aos nossos interesses acadêmicos para a realização do
trabalho.
Por sua vez, as pesquisas e estudos sobre o tema compulsão por compras ainda
são escassos. Os trabalhos encontrados, na grande maioria teóricos, apresentam
relatos das experiências profissionais em consultórios, levando-nos a decidir por uma
pesquisa bibliográfica. Neste norte, o intuito de compreender o comportamento de
comprar compulsivamente a luz da teoria comportamental cognitiva seria contemplado,
garantindo assim os recursos necessários para a produção de mais um estudo na área.
Este trabalho, portanto, objetiva cumprir e respaldar a pretensão acadêmica
referente aos cumprimentos normativos institucionais, quais sejam, de apresentação de
10
uma monografia que demonstre nosso real aprendizado, priorizando a pesquisa com
vistas ao conhecimento, do mesmo modo que buscará guiar-se pelas normas da ciência
e ética que legitimam e autorizam o conhecimento.
2 METODOLOGIA
A presente monografia utilizou como procedimento para a coleta dos dados
necessários a sua consecução, a pesquisa bibliográfica, cujo objetivo primordial é,
segundo Marconi e Lakatos (1992, p. 97): “colocar o pesquisador em contato com tudo
aquilo que foi escrito sobre determinado assunto”, servindo como meio de explorar e
definir temáticas a partir de estudos anteriormente desenvolvidos e publicados. Apesar
de utilizar-se de conteúdos já publicados, a pesquisa bibliográfica não se constitui em
mera reprodução, mas em uma elaboração com base em um novo entendimento, com a
conseqüente construção de diferentes significados e conclusões.
De acordo com Gil (1999), a pesquisa bibliográfica apresenta como vantagem
principal o acesso ao pesquisador a um número imenso de informações, o que de outro
modo seria inviável, posto que seria impossível reunir a quantidade de dados e de
literaturas para o desenvolvimento adequado da pesquisa. Por outro lado, alerta, se faz
necessário atentar para os possíveis erros, para que os mesmos não sejam
reproduzidos ou ampliados. (p.66)
Para Barros e Lehfeld (2000), esse tipo de pesquisa pode atender os objetivos
dos alunos na sua formação acadêmica como também pode proporcionar a construção
de trabalhos inéditos a partir das interpretações, críticas e análises, contribuindo assim
com novas proposições e paradigmas nas mais diversas áreas do conhecimento. (p.70)
Os últimos autores também consideram relevante a pesquisa bibliográfica, pois propicia
ao estudante a obtenção de uma postura científica na recuperação e elaboração das
informações, permitindo desse modo que a aprendizagem ocorra através do
autodidatismo, caracterizada como uma das dimensões do aprender a aprender.
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3
OS
PROCESSOS
DE
APRENDIZAGEM
SEGUNDO
A
TEORIA
COMPORTAMENTAL COGNITIVA
Como o objetivo do presente trabalho é apresentar o problema segundo o
enfoque da teoria comportamental-cognitiva, passamos a abordar o tema inicialmente
desenvolvendo
brevemente
os
processos
de
aprendizagem,
ressaltando
os
mecanismos que envolvem o comportamento humano e suas finalidades, buscando
entender as causas do mesmo.
O comportamento, conforme definido por Matos (apud BANACO, 1999), é uma
série de movimentos organizados com uma finalidade que terá como resultado um
efeito. A referida autora em seu trabalho resgata a definição de Skinner em uma
publicação de 1938, “The Behavior of Organisms”, a qual passamos a citar:
Comportamento é apenas parte da atividade total de um organismo..., e
prossegue distingüindo comportamento de outras atividades do organismo, “...é
aquilo que um organismo está fazendo (grifo dele)...é aquela parte do
funcionamento de um organismo envolvido em agir sobre, ou em interação com
o mundo externo.
Comportar-se, no dizer de Skinner (apud MATOS, in BANACO, 1999) pode ser
definido como:
... movimento de um organismo, ou de suas partes, num quadro de referência
fornecido pelo organismo ele próprio, ou por vários objetos ou campos de forças
externos . É conveniente falar disto como a ação do organismo sobre o mundo
externo, ... (p.46)
Portanto, comportar-se está relacionado diretamente com as atividades
desenvolvidas por organismos, sejam eles pessoas ou animais, interagindo com o
ambiente, o que envolve a fisiologia no que se refere a musculatura estriada e lisa, bem
como a secreção de glândulas.
O comportamento é um fenômeno complexo, segundo de Rose (apud BANACO,
1999, p. 79):
Na linguagem cotidiana, freqüentemente nos referimos aos comportamentos
que envolvem a musculatura estriada como comportamentos voluntários ,
enquanto denominamos involuntários aqueles que envolvem musculatura lisa e
as glândulas. Numa linguagem mais rigorosa, esses termos são evitados, e
falamos de comportamentos operantes e respondentes (ou reflexos), (grifo
da autora)
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Considerando que a teoria comportamental postula que o comportamento
humano está fundamentado nestes processos, aceitando os mesmos como os
fundamentos da aprendizagem humana, passamos a abordá-los como base para o
entendimento da atual pesquisa.
Aprendizagem é uma outra palavra-chave dentro da perspectiva adotada,
podendo ser entendida como o ato ou efeito de aprender, reter algo na memória em
conseqüência de estudo, observação ou experiência, de acordo com Ferreira (1991,
p.119).
Para Catania (1999), a aprendizagem é um conceito central em Psicologia.
Questionarmos o que é possível para um organismo aprender é o mesmo que
perguntarmos o “quanto esse comportamento depende de sua história de evolução e o
quanto depende do que ele experimentou durante sua vida.” (CATANIA, 1999, p. VII)
A definição do conceito de aprendizagem é bastante difícil, no dizer do citado
autor. Não existem, no seu entendimento, definições satisfatórias do que seja
aprendizagem, dada a complexidade do fenômeno e das variáveis envolvidas. Ainda
conforme Catania (1999, p.23), podemos definir aprendizagem “Como uma mudança
relativamente permanente no comportamento resultante da experiência (cf. Kimble,
1961, pp.1-3)”.
Skinner assinala, na obra “Ciência e Comportamento Humano” (1998, p. 71):
O termo “aprendizagem” pode ser mantido proveitosamente em seu sentido
tradicional para descrever a predisposição de respostas em uma situação
complexa.
As diferentes perspectivas e contribuições dos citados autores, servem-nos como
base para entendermos a aprendizagem como um processo. Neste processo, podemos
observar etapas distintas, de aquisição de conhecimentos e de incorporação de
respostas novas. Estas respostas serão retidas no repertório de comportamentos
usuais de um organismo para que o mesmo as utilize no momento apropriado,
caracterizando assim o aprendizado. Resumindo, essa predisposição para agir,
responder é o que caracteriza a aprendizagem, base sobre a qual se desenvolveram as
teorias do condicionamento abordadas na seqüência.
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2.1 Condicionamento Respondente
A teoria sobre os processos de aprendizagem conhecida como condicionamento
clássico, condicionamento respondente ou condicionamento pavloviano, desenvolvida
por Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936), tem como pressuposto básico que a maioria dos
reflexos biológicos (por exemplo, a salivação, as respostas sexuais, etc.), associados
com um estímulo neutro, definida como emparelhamento, é responsável por um tipo
aprendizado.
Com base na teoria do condicionamento respondente, o emparelhamento de um
estímulo neutro com um reflexo condicionado biologicamente elicia uma resposta
reflexa. Nessa perspectiva, o aprendizado tanto pode ser inato quanto aprendido
através de nossas experiências cotidianas.
Segundo Skinner (1998), em seu livro “Ciência e Comportamento Humano”:
O processo de condicionamento, como foi relatado por Pavlov em seu livro
Reflexos Condicionados, é um processo de substituição de estímulos. Um
estímulo neutro adquire o poder de eliciar a resposta que originalmente era
eliciada por outro estímulo. A mudança ocorre quando o estímulo neutro for
seguido ou “reforçado” pelo estímulo efetivo. (p.58)
Reflexo pode ser definido como uma seqüência de estímulo-resposta, na qual o
estímulo provoca uma resposta. Segundo Pavlov (apud PESSOTI, 1979, p 44) “... é
legítimo chamar de reflexo absoluto a relação permanente entre o agente externo e a
atividade do organismo por ele determinada, e de reflexo condicionado, a relação
temporária.”
Estímulo, por sua vez pode ser entendido como qualquer evento que produza
uma excitação. Comer um alimento gorduroso, em um organismo que não possua o
hábito de ingerir esse tipo de alimento, pode ser um estímulo que provoca respostas
estomacais como náusea e vômitos.
A aprendizagem que envolve os princípios do condicionamento respondente
pode se dar de duas maneiras, por reflexos biológicos ou por reflexos condicionados.
O reflexo estabelecido biologicamente é o tipo mais básico pois não envolve
nenhum condicionamento. É chamado de estímulo incondicionado por ser composto
por um estímulo incondicionado que irá eliciar uma resposta reflexa e incondicionada.
Esse tipo de aprendizagem é inato, e a maioria dos seres humanos terá respostas
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semelhantes para eventos ou situações evocadores de estímulos, atuando inclusive
nas estratégias de sobrevivência. Por exemplo, a baixa temperatura nos causa
tremores quando não estamos vestidos apropriadamente.
Conforme assinala de Rose (apud BANACO, 1999, p. 79),
Nos comportamentos respondentes uma resposta é eliciada, provocada, por um
estímulo antecedente: a comida na boca (estímulo antecedente) elicia salivação
(resposta), um toque na pálpebra (estímulo antecedente) elicia um conjunto de
respostas, incluindo aceleração da taxa cardíaca, aumento da pressão arterial,
queda da resistência elétrica da pele provocada pela atividade das glândulas
sudoríporas, etc. A eliciação desse conjunto de respostas em presença desses
estímulos é importante para a sobrevivência do organismo, e constitui parte de
suas capacidades inatas.
O reflexo condicionado pode ser estabelecido por meio do condicionamento
pavloviano, ao se emparelhar um reflexo incondicionado com um estímulo neutro com
uma determinada freqüência, de tal forma que um estímulo condicionado seja capaz de
produzir uma resposta condicionada.
No dizer de Pavlov (apud PESSOTI, 1979, p.44) , “...a condição fundamental
para que um reflexo condicionado se forme é a coincidência , no tempo, uma ou várias
vezes
sucessivamente,
de
uma
excitação
indiferente,
com
um
excitante
incondicionado.”
De suas experiências com cães, Pavlov concluiu que os estímulos com maiores
probabilidades de tornarem-se estímulos condicionados são aqueles mais fortemente
relacionados com um estímulo incondicionado. Quanto mais forte a correlação entre o
estímulo condicionado e o incondicionado, mais pistas preditivas ela irá propiciar. Essas
informações são chamadas de estímulos preditivos por sinalizarem que um certo tipo de
estímulo e reflexo incondicionados estão prestes a surgir. Voltando ao exemplo do
alimento gorduroso, a simples visão do mesmo pode ser um preditor de que iremos ter
náuseas, por estar correlacionado com este tipo de estímulo. Os estímulos preditivos
antecipam a experiência (PESSOTI, 1979)
Whaley-Malott (1980-1981) pontuam que, a maioria dos comportamentos
emocionais são adquiridas a partir do condicionamento respondente, com o
pareamento repetido de objetos, tanto agradáveis como desagradáveis ou estímulos
aversivos com outros objetos ou estímulos neutros.
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A maior parte dos reflexos incondicionados envolvem um componente
emocional. O condicionamento pavloviano também propicia o surgimento de emoções
associadas aos estímulos que as elicia, que no dizer de Pavlov (apud PESSOTI, 1979,
p. 51), “são manifestações de nossa vida subjetiva.” A resposta emocional provocada
por um estímulo condicionado é denominada de resposta emocional condicionada.
Algumas vezes aquilo que pensamos (aspectos cognitivos) podem atuar como
estímulo condicionado para eliciar uma emoção (resposta emocional condicionada),
cujo surgimento depende dos antecedentes.
Normalmente o condicionamento pavloviano não ocorre de forma rápida. São
necessários vários emparelhamentos para que uma resposta aconteça, portanto são
necessárias experiências repetidas, nas quais um estímulo neutro seja emparelhado
com o reflexo incondicionado.
São inúmeros os reflexos que podem ser condicionados por meio desse
procedimento. Esses reflexos são mediados pelo sistema nervoso autônomo o que
garante o funcionamento biológico interno independente do nosso controle. Dentre eles
podemos ressaltar os reflexos envolvidos com o sistema digestivo como o reflexo de
salivar, com o sistema reprodutivo envolvendo os reflexos sexuais e de amamentação;
os envolvidos com o sistema circulatório e suas respostas que envolvem outros
sistemas; o sistema muscular cujos estímulos provocam tremor, contração pupilar, e
outros comportamentos reflexos; sistema respiratório, entre outros.
Prosseguindo com nossa pesquisa iremos abordar um outro tipo de
aprendizagem, teoria que estuda as conseqüências do comportamento e seus efeitos
no comportamento voluntário, conhecida como Condicionamento Operante.
2.2 Condicionamento Operante
E.L.Thorndike em 1898, a partir de experimentos, formula a “Lei do Efeito” com
base na observação de que o comportamento voluntário é influenciado por seus efeitos.
Conforme a lei do efeito, os comportamentos tendem a se tornar mais freqüente a
medida que produzem resultados esperados, aumentando a probabilidade de
respostas. (PESSOTI, 1979; SCHULTZ, 1981)
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B.F.Skinner, em suas pesquisas, desenvolve e amplia as noções do conceito de
probabilidade
de
respostas,
utilizados
por
Thorndike,
demonstrando
que
o
comportamento não é só influenciado por seus efeitos, mas por outras variáveis como
por exemplo, as pistas que o precedem, ou pistas antecedentes (PESSOTI, 1979;
CATANIA, 1999).
O comportamento sofre influências dos eventos que o precedem e também dos
efeitos decorrentes do mesmo, portanto, todo o comportamento tem uma ou mais
causas que são as pistas que o antecedem e tem como resultado uma conseqüência
(CATANIA, 1999).
As pistas antecedentes não devem ser entendidas como disparadores
automáticos do comportamento, são apenas sinais probabilísticos. Em termos
biológicos, o comportamento operante é produzido pelos sistema nervoso e muscular
voluntários, então as pistas antecedentes servirão como balizadores para a emissão de
um determinado comportamento que atenda de forma eficiente aos estímulos
recebidos.
Skinner (2000, p.38), em seu livro “Sobre o Behaviorismo” descreve e explica o
processo do condicionamento da seguinte forma:
Muitas coisas no meio exterior, tais como comida e água, contato sexual e fuga
a danos são cruciais para a sobrevivência do indivíduo e da espécie e, por isso,
qualquer comportamento que as produza tem valor de sobrevivência. Através
do processo de condicionamento operante, o comportamento que apresente
esse tipo de conseqüência tem mais probabilidade de ocorrer. Diz-se que o
comportamento é fortalecido por suas conseqüências e por tal razão as próprias
conseqüências são chamadas de “reforços”. (p.38)
As conseqüências são conceitos chaves no condicionamento operante, pois são
elas as responsáveis pela freqüência do comportamento diante de um estímulo. As
conseqüências determinam se e quando um comportamento irá acontecer ou não. A
probabilidade da ocorrência de um comportamento operante é determinada pela
conseqüência, podendo o comportamento aumentar ou diminuir.
No dizer de Skinner (2000, p. 43), também no livro “Sobre o Behaviorismo”, as
conseqüências são reforçadores que podem aumentar a freqüência do comportamento:
Quando um comportamento tem o tipo de conseqüência chamada reforço, há a
maior probabilidade de ele ocorrer novamente. Um reforçador positivo fortalece
qualquer comportamento que o produza: um copo d’água é positivamente
reforçador quando temos sede e, se então enchemos e bebemos um copo
d’água, é mais provável que voltemos a fazê-lo em ocasiões semelhantes.
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São denominados estímulos reforçadores as conseqüências que tornam um
comportamento mais freqüente. Os reforçadores são bons efeitos que fazem aumentar
as chances de ocorrência de um comportamento. Para Catania (1999, p. 91), o termo
reforço significa processo, nomeando uma relação entre o comportamento e o
ambiente, que resulta em conseqüência.
Segundo Souza (apud BANACO, 1999, p. 94), para entender a intensidade de
um comportamento, ou tendência de um organismo, em se comportar de uma maneira
em detrimento de outras em uma situação, é necessário observar as relações entre
“resposta-reforço” no que tange ao tópico das motivações. Afirma a autora que “Os
esquemas de reforçamento, tanto os simples como os complexos, são instrumentos
poderosos para estabelecer, alterar e/ou manter padrões variados e complexos de
comportamento.”
Os punidores são as conseqüências que fazem um comportamento se tornar
menos freqüente, são maus efeitos que diminuem a probabilidade de um
comportamento ocorrer. Segundo Catania (1999, p. 116), “punição é o oposto do
reforço, ela é definida pelas reduções no responder...”, os punidores tornam as
respostas menos prováveis.
Os estímulos que antecedem um comportamento podem ser internos ou
externos. As nossas sensações, pensamentos, emoções, as reações fisiológicas , etc,
dão origem aos estímulos internos. Os externos são os demais estímulos aos quais
estamos expostos no cotidiano e que interferem no nosso comportamento como os
fatores ambientais (sol, chuva, calor), nossos relacionamentos, um telefonema, uma
boa notícia, entre muitos outros.
São igualmente considerados estímulos as conseqüências que reforçam e as
que punem nossos comportamentos, e em ambos os casos o comportamento é
resultado e resulta dos estímulos que atuam sobre ele, e o processo pelo qual afetam o
comportamento é definido como reforçamento e punição.
Estímulo reforçador é todo e qualquer evento que faz um comportamento
aumentar ou manter a taxa de freqüência. Reforçamento é o processo pelo qual um
determinado comportamento se mantém ou aumenta de freqüência, como afirmam
Baldwin e Baldwin (1986). Na visão de Skinner (1998, p. 90), ao responder por que um
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reforçador reforça, apresenta a seguinte hipótese, “Uma teoria é que um organismo
repete uma resposta porque acha sua conseqüência “agradável” ou “satisfatória””.
A aquisição de um determinado comportamento depende de múltiplos fatores, da
complexidade da ação, da capacidade pessoal e dos reforçadores envolvidos. Como
exemplo, a aprovação em um concurso é um reforçador que pode aumentar o
comportamento de estudar. Ser aprovado é uma conseqüência do empenho nos
estudos e é também um estímulo reforçador que pode aumentar a freqüência do
comportamento de estudar.
Em algumas ocasiões os estímulos são pistas que sinalizam para a ocorrência
de determinadas respostas. Uma resposta seguida de estímulos reforçadores em um
contexto específico recebe o nome de Estímulo Discriminativo, pois discrimina a
probabilidade de uma resposta ocorrer ou não, estabelecendo uma possibilidade de
previsão para sua ocorrência no futuro, sem contudo causar o comportamento.
(CATANIA, 1999)
A tendência é optarmos por comportamentos que envolvam experiências
passadas bem sucedidas e prazerosas, exatamente por servirem como estímulos
reforçadores que predizem os bons resultados. Estudar muito pode servir como
estímulo reforçador para obter aprovação em um concurso, mas, o mesmo
comportamento pode não ser útil e eficaz no desempenho das outras atividades. Logo,
os estímulos que servem como pistas discriminativas de um comportamento podem não
valer para outro.
O reforçamento pode ser positivo ou negativo e em ambos os casos o
comportamento é fortalecido, pois aumentam a probabilidade da ocorrência do
comportamento no futuro. A diferença é que o reforçamento negativo ocorre quando se
retira um estímulo aversivo enquanto o reforçamento positivo se dá com o surgimento
de um estímulo reforçador. O reforçamento positivo está relacionado ao surgimento de
bons efeitos e o negativo com o término dos maus efeitos.
O reforçamento positivo é a forma ideal de aprendizado, e a maioria das pessoas
prefere aprender por meio de reforços positivos por proporcionar experiências
prazerosas e agradáveis na sua vida diária, bem como aumentar o potencial criativo.
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A maneira singular com que cada um de nós significa suas experiências
determina a forma como utilizaremos os esquemas de reforçamento, o que é uma
característica definidora das relações pessoais, profissionais e sociais.
Nessa perspectiva, o reforçamento negativo ocorre quando fugimos ou evitamos
os eventos ou experiências aversivas, envolvendo desse modo, duas classes de
comportamento: o comportamento de fuga e o comportamento de esquiva. O
comportamento de fuga ocorre, no entendimento de Whaley e Malott (1981, p.189),
“quando uma resposta específica permite que o organismo remova ou elimine uma
estimulação não desejada, ou termine coma perda de reforçadores positivos.”
Adotamos a fuga como uma resposta aos estímulos aversivos após a nossa
exposição aos mesmos. Conforme os citados autores, a fuga é uma das formas de
reagir aos eventos e às coisas que consideramos ruins ou impróprias, é uma reação
que surge após um estímulo aversivo. A resposta de fuga irá ocorrer depois que
experimentamos o estímulo aversivo, por exemplo, retiramos a mão quando sentimos o
calor do fogo queimando a pele. Desde muito cedo aprendemos a nos comportar
utilizando estratégias de fuga.
Um outro modo de reagir aos eventos aversivos é previnindo-os, adotando
estratégias comportamentais que nos impeçam de sofrer as conseqüências
desagradáveis. O comportamento definido como esquiva, é a adoção de medidas que
previnem os eventos aversivos. Habilidades que nos possibilitam prevenir e evitar
dificuldades são adquiridas mais tarde, a medida em que ganhamos experiência frente
a vida. A esquiva será uma resposta preventiva às situações desagradáveis, evitandoas. Esta resposta antecipará a ocorrência de estímulos considerados aversivos. Para
Whaley e Malott (1981), o comportamento de esquiva é mantido por reforçamento
negativo, o que, no entender dos autores, é um impedimento ou adiamento de contato
com um evento aversivo ou desagradável. O comportamento de esquiva “denota uma
circunstância na qual o organismo se evade de uma situação antes que esta ocorra”
(Whaley e Mallot, 1981, p.174), como no caso das compulsões.
A freqüência das repostas pode ser mantida ou mesmo extinta, dependendo da
freqüência e do tipo de reforçamento utilizado.
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À medida que o reforçamento é retirado observamos a diminuição do
comportamento, até sua extinção, conforme afirma Catania (1999, p.125), “Suspender
as apresentações do estímulo aversivo tem sido o procedimento de extinção mais
comum em esquiva...”. A extinção de um comportamento consiste na interrupção de
qualquer tipo de reforçador que serve para manter um determinado comportamento.
Punição é um estímulo que diminui a freqüência de um comportamento futuro. A
extinção e a punição são dois métodos que reduzem a freqüência do comportamento,
porém a punição é mais efetiva, mais rápida
que a extinção. A diferença entre a
punição e a extinção é que a primeira é um processo ativo de suprimir o
comportamento, enquanto a extinção diminui a freqüência por falta de reforçamento.
Quanto mais rápida e forte for a punição, mais intenso e eficaz seu resultado, chegando
a suprimir completamente o comportamento (Baldwin e Baldwin, 1986).
A punição pode ser positiva ou negativa. Quando positiva indica o surgimento de
um estímulo aversivo que acaba com o comportamento, ela ocorre com o surgimento
de maus efeitos. A punição negativa se dá quando o término de um estímulo reforçador
que elimina o comportamento, ou, a punição negativa ocorre com o fim de bons efeitos.
Quando perdemos coisas que são valorosas ou importantes somos punidos
negativamente pelo descuido no comportamento. A punição, tanto negativa quanto
positiva, não faz com que se esqueça um comportamento, apenas os retira
temporariamente do repertório de respostas, podendo ser recuperado oportunamente
(BALDWIN E BALDWIN, 1986; SKINNER, 1998).
Podemos aprender a partir de estímulos reforçadores do comportamento, fortes
o suficiente para generalizar uma resposta, tornando-a uma opção presente no
repertório de respostas. Ou seja, estímulos semelhantes aos já experimentados em
situações passadas podem controlar as respostas comportamentais, generalizando-as.
Como por exemplo, a criança que chora para ter seus desejos atendidos. Se esse é um
comportamento reforçado pelos familiares, ele pode se manter nas várias situações nas
quais a criança quer algo. Isso caracteriza a generalização com a ocorrência do mesmo
comportamento em novas situações, como na escola, na casa dos avós, etc., bem
como o aumento da probabilidade de que a mesma resposta aconteça quanto maior a
semelhança entre as situações (BALDWIN E BALDWIN, 1986).
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O processo de generalização demonstra a possibilidade que uma pessoa tem
“para responder de forma semelhante a vários estímulos diferentes, que guardam entre
si alguma relação, o que denota uma aprendizagem original para outros contextos e
objetos.” (PICCOLOTO, WAGNER, PERGHER E PICCOLOTO, 2003, p.118, apud
CAMINHA, 2003).
A generalização do comportamento pode ser entendida, de maneira suscinta,
como o processo que resulta em respostas semelhantes e conhecidas para eventos ou
estímulos diferentes, possuindo um caráter adaptativo. O repertório de respostas
armazenadas nas experiências passadas nos permite rapidez e habilidades
necessárias e suficientes para o enfrentamento dos desafios novos diários e/ou futuros.
Segundo Bandura y Walters (1978), as condutas aprendidas tendem a generalizar-se a
situações distintas daquelas em que se deu a aprendizagem. Na visão dos autores “a
conduta social seria muito ineficaz se em cada situação tivéssemos que adquirir um
novo conjunto de respostas. Neste caso, a socialização implicaria uma série
interminável de processos de ensaio e erro.” (BANDURA Y WALTERS, 1978, p. 21)
(Tradução nossa).
Quando diferentes estímulos ou eventos resultam em respostas distintas temos
um aprendizado por discriminação. Então, a discriminação é o processo de
aprendizagem no qual emitimos respostas diferentes para estímulos diferentes.
Bandura y Walters (1978), pesquisaram os princípios da aprendizagem social
com a finalidade de explicar o desenvolvimento e a modificação da conduta humana.
Confirmaram em seus estudos que adquirimos respostas novas e as incorporamos, a
partir da observação da conduta alheia nas experiências diárias. Ou seja, enriquecemos
nosso repertório de respostas através da observação do comportamento de outras
pessoas nas diversas situações do cotidiano, o que nos serve como fonte de
informação e orientação de ações futuras. À influência e a observação que produz
aprendizado e modificação de comportamento chamamos de modelação.
A definição deste fenômeno comportamental descrito como modelação ou
aprendizagem por observação é, no dizer de Bandura y Walters (1978, p.95)
“...a
tendência de uma pessoa a reproduzir as ações, atitudes ou respostas emocionais que
representam os modelos da vida real ou simbólica...” (Tradução nossa).
22
A criança desde cedo é influenciada pelos membros de sua família, comunidade
e sociedade. É observando o comportamento dos mesmos que passa a utilizá-los como
modelos da suas ações futuras. Nossas referências de como agir, falar são decorrentes
das observações que fazemos na nossa vida diária.
Os modelos que adotamos são resultantes da informação recebida pelas nossas
observações. Por exemplo, as crianças tendem a imitar o comportamento dos pais nas
brincadeiras, nas compras realizadas nos mercados, experiências que consideram bem
sucedidas são estímulos
suficientes para que sejam duplicados (BANDURA Y
WALTERS, 1978; BALDWIN E BALDWIN, 1986).
Uma outra fonte de aprendizado por meio do qual ampliamos nosso repertório
comportamental são as regras. Estas podem ser definidas como qualquer expressão
lingüística com significado suficiente para influenciar ou estimular uma resposta. As
regras podem ser instruções, indicações, sugestões, ou seja, todas as formas por meio
das quais desenvolvemos estratégias que nos auxiliam no cotidiano.
No dizer de Baldwin e Baldwin (1986), a aprendizagem por meio de regras pode
ser entendida como:
As instruções para se lidar com milhares de situações podem ser codificadas
simbolicamente – como regras – que ajudam as pessoas a aprender novos
padrões de comportamento rápida e eficiente. As regras são guias verbalmente
codificadas – tais como instrução, sugestão, indicações – que ensinam formas
de lidar com certas situações.
Aprendemos, a seguir, as regras com a aquisição da linguagem, quando seguílas leva ao reforçamento. Estamos aprendendo por regras quando passamos a pautar
nossas ações e condutas pelas regras e normas familiares, pois assim recebemos
elogios e bons resultados, que são reforçadores do comportamento.
Resumindo, os comportamentos são resultados das observações e das
experiências cotidianas. O comportamento é um fenômeno complexo composto por
múltiplos fatores, dentre os quais destacamos o condicionamento operante e
pavloviano, a generalização e discriminação, a modelação e as regras como formas de
aprendizado. Nossas motivações para nos comportarmos dessa ou daquela maneira
dependem principalmente das contingências, conseqüências, das observações e
informações recebidas na vida diária, e a forma como os significamos, pois somos
23
influenciados pelos modelos que adotamos, que podem funcionar como estímulos
reforçadores no desempenho habitual.
Prosseguindo em nossa pesquisa, abordaremos a seguir, os pressupostos que
embasam teoricamente a teoria cognitiva.
2.3 Modelo Cognitivo
Cada indivíduo possui, independente da realidade e dos fatos concretos, uma
forma de representação do mundo e dos eventos que o constituem, o que torna
imprescindível uma ciência que se proponha a investigar e apresentar as funções
envolvidas nessas representações mentais do psiquismo humano. Assim nos
deparamos com os princípios da Ciência Cognitiva que aponta para um sistema de
representação
humana,
considerado
como
um
fator
primordial
referente
ao
gerenciamento dos processos psíquicos, sejam esses processos psíquicos básicos ou
superiores, processo que envolve atenção, percepção e os significados a eles
atribuídos (CAMINHA E VASCONCELLOS, 2003).
Para os autores citados, é de importância capital conhecer o conteúdo das
representações
mentais dos pacientes, pois é delas que se originam as crenças
centrais, que por sua vez se manifestam como esquemas de pensamentos que irão
operar no comportamento dos indivíduos.
Caminha e Vasconcellos (2003, p.23) ao conceituar representação mental
afirmam:
...uma representação mental apresenta-se por meio de uma notação ou de um
sinal que “representa” algo para o sujeito, ou seja, que representa alguma coisa
na ausência dessa mesma coisa e que é normalmente ou um aspecto do
mundo externo ou mesmo do mundo interno, no sentido da imaginação do
sujeito.
A característica dinâmica, operativa e instrumental das representações mentais
é que elas garantem o tratamento das informações sociais e, desta forma,
também a planificação das condutas humanas em geral, assim como a
planificação para dirigir a ação do sujeito na realização de tarefas ou de um
trabalho.
Para Beck, “Cognição” é definida como aquela função que envolve deduções
sobre nossas experiências e sobre a ocorrência e o controle de eventos futuros” (Beck,
2000, p.23), processo esse entendido como a chave para o entendimento dos
24
transtornos psicológicos. Portanto, segundo o autor, é imprescindível observar a
relevância “da percepção fenomenológica das relações entre os eventos”, ou seja,
identificar o comportamento no seu acontecer, como um fenômeno no qual é possível
“identificar e prever relações complexas entre eventos, de modo a facilitar a adaptação
a ambientes passíveis de mudanças”.
No dizer do citado autor, o funcionamento psicológico se dá por meio de
estruturas cognitivas, as quais denomina “esquemas” e a partir das interpretações com
base nesses esquemas é que se confere “significados” aos vários eventos. Atribuir
significados é controlar os vários sistemas psicológicos, como o comportamento, a
emoção, atenção e a memória. (BECK, 2000, p.24)
Knapp e Rocha (2003) definem cognição como “aquela função da consciência
que envolve deduções sobre nossas experiências e sobre a ocorrência e o controle dos
eventos da vida.” Nossas construções e aprendizados são extraídas das nossas
experiências cotidianas do jeito pessoal e individual de sentir, pensar, experimentar e
interpretar os fatos e ocorrências nos quais estamos envolvidos.
No entendimento dos autores, e, segundo o modelo cognitivo proposto, as
emoções e os comportamentos são influenciados pela forma como cada um percebe e
significa os eventos da vida. Logo, nossos comportamentos e sentimentos são
diretamente afetados e dirigidos por nossos pensamentos, sendo que os transtornos
psicológicos ou comportamentos disfuncionais resultado da percepção distorcida que
afeta o humor e o comportamento.
É a partir da forma como o nosso sistema de representação está dinamicamente
organizado que se originam os esquemas mentais, que, no dizer de Caminha e
Vasconcellos (2003, p. 26),
...são situações cognitivas padronizadas, utilizadas a partir de inputs internos ou
externos, do ambiente ou do psiquismo, do sujeito. Os esquemas são formados
por crenças centrais, crenças subjacentes, pensamentos automáticos e reações
afetivas, fisiológicas e comportamentais; essas reações, produto final dos
esquemas, reforçam e mantêm a crença central, logo, a estabilidade e a
eficácia do esquema.
Segundo Baptista (apud GUILHARDI, 2002 , p. 236), o ser humano é dotado de
um suporte biológico que posteriormente será desenvolvido a partir de suas
25
experiências com o ambiente, fornecendo-lhe condições de desenvolver um padrão
com o qual se relacionará com o mundo – suas estruturas cognitivas.
As estruturas cognitivas podem ser entendidas como a forma segundo a qual os
seres humanos são influenciados nas suas experiências e como as mesmas alteram e
podem criar ou modificar comportamentos.
Ainda conforme o autor,
As cognições, segundo Bem (1972), podem ser consideradas como regras para
a ação e possuem uma estreita ligação com as emoções e com os
comportamentos, sendo que, segundo uma visão cognitivista, o indivíduo
responderia às representações sobre o estímulo e não diretamente ao estímulo,
em grande parte das situações complexas (Reinecke, Dattilio e Freeman, 1996).
(BAPTISTA, AUPD GUILHARDI, 2002, p. 237).
Para Beck (1997, p. 29), o modelo cognitivo tem como pressuposto que as
emoções e os comportamentos das pessoas recebem influências das percepções que
elas possam ter dos eventos. Uma situação em si não serve como critério para
determinar o que uma pessoa sente, mas o que irá servir como determinante é o modo
pelo qual elas interpretam uma situação. Portanto, o modo como “as pessoas se
sentem está associado ao modo como elas interpretam e pensam sobre uma situação.”
As emoções, crenças, esquemas de pensamentos são resultantes das
aprendizagens ocorridas ao longo da vida, influenciando
nas avaliações e nas
respostas dos seres humanos. As respostas e avaliações, por sua vez, se desdobrarão
em conseqüências que irão reforçar ou não os modelos cognitivos, resultando em
comportamento. Logo, existe uma interação recíproca e retroalimentadora entre
pensamento e ação, conforme aponta Baptista (2002), citando Salkovskis (apud
GUILHARDI, 1998):
...as emoções são o resultante da avaliação dos eventos, incluindo a avaliação
dos pensamentos; pelo processo de aprendizagem são desenvolvidos os
processos e estruturas cognitivas (crenças, esquemas, etc) que influenciam as
avaliações que o indivíduo faz das situações; as avaliações e as respostas
emocionais tendem a interagir reciprocamente e, por fim, as conseqüências do
comportamento do indivíduo influenciam as avaliações e vice-versa. (p.237)
Desse modo, os pensamentos ou eventos mentais disfuncionais caracterizam-se
por apresentarem distorções da realidade, mostrando-se automáticos ou arbitrários, de
tal forma que a pessoa não se percebe como e quando ocorrem, causando a distorção
cognitiva.
26
Os pensamentos geralmente expressam a maneira pela qual interpretamos as
situações, e eles por sua vez, irão influenciar as respostas, emocional, comportamental
e fisiológica subjacente. Existem situações normalmente aflitivas, como por exemplo,
um assalto, caso em que se justifica uma grande carga emocional, uma mudança de
afeto e de comportamento e uma resposta automática de defesa. Porém, algumas
pessoas interpretam de forma equivocada situações neutras ou positivas, evocando
seus pensamentos automáticos, pensamentos que surgem muito rapidamente sem que
possamos controlar (BECK, 1997).
Algumas características dos pensamentos automáticos foram descritas por Beck
(1997, p.88-89) que ao citar Beck (1964), afirma que os mesmos
“são um fluxo de pensamento que coexiste com um fluxo mais manifesto de
pensamentos, surgem espontaneamente e não são embasados em reflexão ou
deliberação. As pessoas estão mais cientes da emoção associada. [...]. As
pessoas com freqüência aceitam seus pensamentos automáticos como
verdadeiros, sem reflexão ou avaliação.” (BECK, 1997, p.89)
ou seja, os pensamentos automáticos são ocorrências espontâneas e comuns a todos,
mesmo que não estejamos cientes de sua ocorrência.
Além de ser espontânea e comum a sua ocorrência, esses pensamentos
automáticos podem ser previsíveis, desde que seja possível identificar as crenças
subjacentes. É possível segundo Beck (1997, p. 88) identificar os pensamentos
disfuncionais, aqueles que distorcem a realidade, que provocam aflição emocional e/ou
interferem nas atividades dos indivíduos. Pensamentos disfuncionais são na maioria
negativos.
Outra característica apontada é que os pensamentos automáticos são muito
breves, e o que se percebe mais, o que o indivíduo tem mais contato, é com a emoção
produzida do que com o pensamento que a provocou. Ainda, segundo Beck (1997, p.
89), os pensamentos automáticos podem ser testados com relação a sua validade e
utilidade. No entender da autora, o tipo mais comum é o pensamento distorcido de
alguma maneira que ocorre mesmo com evidências objetivas em contrário.
Esses pensamentos automáticos são comuns a todas as pessoas, são
intrínsecos ao pensamento, posto que a todo o momento estamos envolvidos com
interpretações de algum evento vivenciado por nós. Portanto, como parte do nosso
padrão de raciocínio, são habituais, não sendo percebidos conscientemente pela sua
27
familiaridade. Conforme Wainer, Pergher, Piccoloto (apud CAMINHA, 2003, p. 67), “É
esse nível de cognição que faz a mediação entre uma determinada situação vivida e as
reações dela advindas, sejam elas comportamentais, emocionais ou fisiológicas.” Os
sentimentos que experimentamos no cotidiano, são reflexos dos pensamentos
automáticos que aparecem quando damos um significado a essas situações.
A origem desses pensamentos automáticos está nas crenças, que são
considerados fenômenos cognitivos com uma duração maior, idéias consideradas
verdades inquestionáveis, as quais aceitamos passivamente, conforme Beck (1997).
As crenças, conforme a autora, tem origem na infância e são entendimentos tão
profundos, enraizados e fundamentais que as pessoas nem pensam sobre elas, são
idéias firmes e absolutas que não são questionadas. Ao definir o que são as crenças,
Beck (1997, p.30) afirma:
Começando na infância, as pessoas desenvolvem determinadas crenças
sobre si mesmas, outras pessoas e seus mundos. Suas crenças mais
centrais ou crenças centrais são entendimentos que são tão
fundamentais e profundos que as pessoas freqüentemente não os
articulam, sequer para si mesmas. Essas idéias são consideradas pela
pessoa como verdades absolutas, exatamente o modo como as coisas
“são”. As crenças atuam na cognição como uma lente que filtra os
eventos e que desconsidera os dados da realidade que possam
contrariá-las.
As crenças centrais são o nível mais profundo e fundamental de todas as
crenças que possamos ter, segundo Beck (1997, p.31), “elas são globais, rígidas e
supergeneralizadas”; elas influenciam as atitudes, regras e suposições.
Essas crenças centrais, são, na visão de Caminha e Vasconcellos (2003, p.27)
“a instância em torno do qual o esquema “gravita”, se organiza. Ela é intraduzível, ou
seja, não há traduções verbais...”. É uma sensação tão intensa quanto o amor por um
filho, exemplifica o autor.
28
Figura 1 – Modelo Cognitivo (Knapp e Rocha, 2003, p41)
Crença
central
Crença
intermediária
Situação
Pensamentos automáticos
Reações
Emocional
Comportamental
Fisiológica
As crenças centrais influenciam e resultam em uma classe intermediária de
crenças que se desdobram em atitudes, regras e suposições, são as crenças
intermediárias. Estas também são idéias ou entendimentos que as pessoas têm sobre
si mesmos, os outros e o as coisas em geral, porém elas são mais flexíveis, mais
maleáveis que as crenças centrais. Para Knapp e Rocha (apud CAMINHA, 2003, p. 42),
as crenças intermediárias, correspondem ao segundo nível de pensamento, ocorrendo
sob a forma de pressupostos, regras e crenças condicionais...”, são afirmações causais
tais como: “se.., então..”. Estas crenças, que refletem entendimentos e idéias bastante
enraizadas, e, apesar de serem mais maleáveis que as crenças centrais, são menos
modificáveis que o os pensamentos automáticos. Uma crença central dá sempre origem
a uma crença intermediária (KNAPP E ROCHA, 2003). Como exemplo, se a senhora X
pensa que todos devem amá-la, terá como regra que deve fazer qualquer coisa para
conseguir ser amada. Para atender a sua expectativa (regra) desenvolve um
comportamento de presentear a todos para garantir o afeto e atenção de todos.
29
Uma compreensão adequada de um quadro que envolve compras compulsivas,
requer considerarmos a estruturação cognitiva, os significados e representações
mentais construídas numa fase passada com base nas experiências pessoais e
modelos adotados. Os déficits comportamentais – a compulsão em comprar – seria o
resultado desses esquemas mentais disfuncionais, originados pelos pensamentos
automáticos e crenças centrais. Os esquemas mentais são nossos referenciais internos,
são os nossos modelos, que sendo ativados , codificam os estímulos e o conhecimento,
categorizam, aplicando-se a várias situações (CAMINHA E VASCONCELLOS, 2003, p.
26).
A intervenção cognitiva envolve estratégias para correção dos pensamentos
disfuncionais, como aqueles que fazem com que a pessoa compre compulsivamente
sem se dar conta do que está fazendo consigo, comportamento esse que passaremos a
descrever.
2.4 Comportamento Compulsivo
A descrição oferecida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno
Mentais - DSM-IV-TR (2002), inclui o comportamento compulsivo nos transtornos de
ansiedade, especificamente no transtorno obsessivo-compulsivo, ou TOC. O mesmo,
conforme o Manual, apresenta como características obsessões e compulsões
persistentes que fazem com que a pessoa desenvolva pensamentos persistentes e
intrusivos (obsessões) e comportamentos que se repetem (compulsões), acarretando
com isso, sofrimentos e prejuízos na sua vida.
As características essenciais do Transtorno Obsessivo-Compulsivo são
obsessões ou compulsões recorrentes (Critério A) suficientemente severas para
consumirem tempo (isto é, consomem mais de uma hora por dia) ou causar
sofrimento acentuado ou prejuízo significativo (Critério C). Em algum ponto
durante o transtorno, o indivíduo reconheceu que as obsessões ou compulsões
são excessivas ou irracionais (Critério B) (p.443)
Define-se
obsessão
como
idéias,
pensamentos,
imagens
mentais
que
insistentemente perturbam e causam ansiedade, sem que seja possível evitá-los, ou
seja,
a pessoa com obsessão não consegue
afastar
ou deixar de sentir os
30
pensamentos que a invadem, ainda que possam parecer ilógicos ou irreais (HOLMES,
1997; CORDIOLI, 2004).
O transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno mental classificado entre os
chamados transtornos de ansiedade, ao lado das fobias, fobia social, do transtorno de
pânico, entre outros. Os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo envolvem
alterações comportamentais como compulsões ou rituais, repetições, evitações;
alterações dos pensamentos como preocupações excessivas, dúvidas constantes,
pensamentos catastróficos ou ameaçadores, obsessões, e alterações emocionais,
envolvendo medo, culpa, depressão, aflição ou desconforto para a pessoa. A
característica principal do TOC é a presença de obsessão e/ou compulsão.(CORDIOLI,
2004).
Circunstancialmente, podemos experimentar momentos na vida em que alguns
pensamentos ou situações são persistentes, como resultado de uma situação
específica e passageira, preocupações familiares, pessoais ou profissionais, sem que
as mesmas causem embaraços ou prejuízos no dia-a-dia, o que não caracteriza uma
obsessão.
As obsessões são pensamentos intrusivos e invasivos, insistentes, demorados e
aflitivos que adquirem proporções emocionais exacerbadas, causando assim distorções
na avaliação dos eventos da realidade.
Na perspectiva de Baptista (apud GUILHARDI, 2002, p. 238),
A diferença entre os pensamentos intrusivos e as obsessões se baseia na
interpretação das conseqüências e severidade destes pensamentos. O exagero
na responsabilidade das conseqüências destes pensamentos (valorização
negativa do evento) tende a criar efeitos desagradáveis e severos às pessoas,
como o aumento de mal-estar, ansiedade, depressão e as respostas
neutralizadoras, com a finalidade de esquiva das conseqüências imaginativas
destes pensamentos (Rodriguez, 1998).
Cordioli (2004), afirma que as obsessões se originam nos pensamentos
automáticos, nas crenças, pensamentos que todos as pessoas têm, mas que algumas
delas atribuem significados especiais, interpretando-os de maneira distorcida. As idéias,
pensamentos ou crenças que assaltam as pessoas de forma persistente, fazem com
que elas interpretem suas percepções de forma distorcida, fazendo avaliações errôneas
ou inadequadas. Essa interpretação indevida leva-as a agir de forma compulsiva, sem
31
refletir sobre seus próprios atos, resultando em comportamentos ritualísticos ou
evitativos, com a finalidade de evitar ou diminuir o desconforto e ameaças sentidas.
Cordioli (2004, p. 21) afirma:
Acredita-se que essa interpretação errônea, em razão da aflição que
provoca, faça com que certos pensamentos intrusivos normais se
transformem em obsessões, levando a pessoa a agir (fazer um ritual ou
evitar) no sentido de diminuir as conseqüências desastrosas imaginadas
e a aflição sentida.
Portanto, essa distorção avaliativa com base nas obsessões é o que levaria a
uma ação, ou seja, a pessoa “precisa” desenvolver uma estratégia de enfrentamento
que lhe dê a sensação de reduzir o perigo ou a ameaça, caracterizando o
comportamento compulsivo ou simplesmente compulsão.
As compulsões podem ser entendidas como comportamentos repetitivos ou
rituais, que tem como finalidade reduzir a ansiedade originada pelas idéias persistentes
ou obsessões. Esses comportamentos repetitivos - compulsões, têm como objetivo
diminuir ou extinguir algum tipo de sofrimento ou evitar situações consideradas
ameaçadoras. Algumas pessoas, por exemplo, passam a comprar compulsivamente
quando se sentem tristes, solitárias ou frustradas, como uma forma de escapar dos
seus sentimentos e emoções.
Os comportamentos compulsivos podem interferir, e, muitas vezes interferem, no
cotidiano das pessoas, trazendo-lhes conseqüências sérias e prejudiciais em uma ou
em diversas áreas de suas vidas.
No dizer de Cordioli (2004 p.21), “Compulsões ou rituais são comportamentos ou
atos mentais voluntários e repetitivos executados em resposta a obsessões ou em
virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. ”As compulsões ou
comportamentos compulsivos são comportamentos que as pessoas com as
características apontadas, não conseguem deixar de emitir, elas sentem-se compelidas
a agir. Para Cordioli (2004, p.21), as compulsões baixam a ansiedade produzindo um
alívio momentâneo, todas as vezes em que a pessoa “é invadida por uma obsessão
acompanhada de aflição”, muito embora os atos nem sempre estejam conectados de
forma real ao pensamento ou evento mental. Holmes (1997) também define compulsão
como um comportamento que se repete indefinidamente, sem um sentido eficaz.
32
O comportamento
compulsivo pode ser originado por múltiplos fatores. De
acordo com estudos, atribui-se as causas e influências ao mau funcionamento químico
cerebral (teoria neurobiológica), aos fatores sócio-culturais (teoria sócio-cultural) e/ou
fatores psíquicos (teoria psicológica), que provavelmente atuam de forma combinada,
causando a disfunção comportamental. A separação desses três fatores, o
neurobiológico, o psicológico e o sociocultural, é difícil ou impossível, no dizer de Grant
e Kim (2003, p.113), muito embora, aqui somente nos ocuparemos do fator psicológico.
3.5 Compras Compulsivas
Muito embora a literatura e as publicações na área da saúde ainda não tenham
descrito um critério universal para identificar os aspectos básicos e sintomas
característicos desse comportamento, os profissionais da saúde mental utilizam os
critérios do DSM-IV para fins de diagnóstico da compulsão por compras (GRANT E
KIM, 2003). Especificamente o capítulo que trata dos “Transtornos do Controle dos
Impulsos Não Classificados em Outro Local” é o mais utilizado, já que o comportamento
compulsivo de comprar satisfaz os critérios diagnósticos apontados pelo Manual (2002,
p.577), conforme citamos a seguir:
O Transtorno do controle dos Impulsos Sem Outra Especificação é incluído para
a codificação de transtornos que não satisfazem os critérios para qualquer um
dos Transtornos específicos do Controle de Impulsos, descritos antes ou em
outras seções do manual.
Fazer compras é considerado uma compulsão se o indivíduo descreve que essa
é uma preocupação freqüente e intensa que o leva a comprar itens desnecessários
regularmente, mais que o seu orçamento permite, ou comprar por um tempo maior do
que tinha intenção. A compra compulsiva, segundo Grant e Kim (2003, p. 29)
requer também que os pensamentos, desejos ou a própria compra cause
angústia, desperdício de tempo, e interfira significativamente no funcionamento
social e ocupacional, ou ainda resulte em problemas financeiros.
Os compradores compulsivos visitam os shoppings com muita freqüência,
gastam excessivamente, como resposta a um evento ou sentimento negativo, e relatam
que antes das compras sentem um aumento da tensão, o que os faz buscar algum tipo
de alívio. Após as compras experimentam remorsos seguidos de sentimentos de culpa,
33
apesar do prazer momentâneo que sentem ao comprar, conforme pesquisado por
Kyrios, Frost e Steketee (2004, p.241) e relatado no artigo “Cognitions in Compulsive
Buyng and Aquisition”:
Comprador compulsivo é caracterizado pelo excesso de tempo consumindo,
idas repetidas aos shoppings ou consumindo para responder a sentimentos
negativos e/ou frustrações, resultando em conseqüências nocivas tanto sociais
quanto financeiras (Faber & O’Guinn, 1989, 1992; McElroy, Keck, Pope, Smith,
& Stakowski, 1994). Ela é precedida por um aumento de tensão e seguida por
sentimentos de culpa e remorso, apesar de um prazer inicial (Christenson et al.
1994) (tradução minha).
A disfunção do comportamento estaria associada a incapacidade de resistir à
compulsão o que leva a pessoa a comprar sem critérios e sem nenhum controle
(CORDIOLI, 2004; OTERO, 2002; WIELENSKA, 2002; KYRIOS, FROST e STEKETEE,
2004).
Os problemas relacionados as compras compulsivas fazem com que as pessoas
que apresentam esse comportamento tentem escondê-lo, guardando segredo por
vergonha e medo, para não serem julgadas, causando-lhes mais infelicidade e
sofrimento. (GRANT E KIM, 2003; KYRIOS, FROST E STEKETEE, 2004).
Wielenska (apud GUILHARDI, 2002, p. 318), ao analisar o comprar compulsivo,
define que:
Comprar compulsivamente é considerado sintoma ou sinal de quadros clínicos
distintos conforme o conglomerado de sintomas em evidência no indivíduo. Há
critérios que facilitam avaliar se o ato de comprar seria um problema clínico:
ausência de controle sobre o próprio ato, prejuízos ao orçamento, desperdício
usual do bem adquirido ou uma aquisição desprovida de propósito
cultural/socialmente validado, posterior arrependimento ou constrangimento
com a compra, etc.
Historicamente, o comprar pode ter sua origem no ato de consumir, necessário e
típico do comportamento humano. Desde os nossos ancestrais desenvolvemos
estratégias comportamentais que nos garantiam abrigo e alimento, ou seja, recursos
que podiam garantir nossa sobrevivência. Controlar a natureza para modificá-la é uma
característica da nossa espécie, construindo instrumentos, descobrindo o fogo,
aprendendo a acumular bens e recursos, culminando com as trocas e com a invenção
do comércio, variável cultural marcante em nossa sociedade. (WIELENSKA, 2002)
Porém são muitos os fatores e causas que podem contribuir e concorrer para
originar este tipo de comportamento, e provavelmente as pessoas desenvolvem o
34
padrão
de
comprar
compulsivamente
por
uma
combinação
de
variáveis
biopsicossociais. Na visão de Grant e Kim (2003, p.113) a separação das variáveis
envolvidas é uma estratégia artificial, pois essas variáveis interagem de maneira
complexa, o que torna difícil separá-las, e a ênfase dependerá do viés e da perspectiva
adotada pela pesquisa.
Com respeito a perspectiva psicológica nos problemas que envolvem e que
originam a compra compulsiva, de acordo com a linha teórica que nos dá suporte,
aprendemos a fazer compras com os nossos pais, modelamos os comportamentos dos
nossos familiares (BANDURA Y WALTERS, 1978). Nossas primeiras experiências do
que significa comprar irão ocorrer como mero expectadores, observando o
comportamento dos adultos, aprendendo a viver de acordo com as regras socioculturais
e adotando estratégias que significamos importantes para o ajustamento social. E,
como a atividade de comprar faz parte do repertório rotineiro e necessário dentro da
nossa sociedade, é algo que será incorporado pela criança como uma possibilidade de
ação. É na adolescência que o acesso às compras torna-se um comportamento
rotineiro, pois, é nessa fase da vida que começamos a adquirir um maior controle e
liberdade sobre as nossas decisões e desejos por sermos mais vulneráveis nesse
período do desenvolvimento (GRANT E KIM, 2003).
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos nos fornecem dados estatísticos de
que, em média, 8-10% da população apresenta problemas com compras compulsivas.
O problema, ainda segundo a pesquisa, se desencadearia numa faixa etária que varia
dos 18 anos aos 30 e se tornaria um problema sério nas pessoas com idades entre 31
e 39 anos (apud KYRIOS, FROST e STEKETEE, 2004).
No que se refere a questões de gênero, as mulheres despontam nas estatísticas
como as mais afetadas pelo problema. Kyrios, Frost e Steketee (2004) afirmam que
“Compradores compulsivos são geralmente mulheres por volta da casa dos 30 anos de
idade com alcance de renda vai de baixa à média com significantes débitos (Schlosser,
Black, Repertinger, & Freet, 1994) (tradução nossa).” Os bens mais consumidos seriam
sapatos, jóias, roupas, maquiagem, que, na maioria das vezes nem são usados.
Em contrapartida, Grant e Kim (2003) alertam que, apesar das evidências de que
as mulheres são as maiores afetadas, este dado pode estar alterado pelo fato de que a
35
maioria das pessoas que buscam tratamento são do sexo feminino, logo, não é seguro
tecer afirmações sobre a prevalência do problema quanto ao gênero,
Tomando-se por base as muitas variáveis que interferem no comportamento, na
quantidade de estímulos presentes tanto na formação, desenvolvimento e no cotidiano
de um ser humano, considerando que “os humanos ampliaram dramaticamente sua
qualidade de vida através de operações de permutas, compras e indevidas
usurpações...” (WIELENSKA, 2002, p.319), é complexo delimitar a fronteira que define
o prazer de comprar sem conseqüências danosas, do comprar compulsivo.
Cabe ressaltar que o comportamento de comprar compulsivo tratado aqui, não
pretende descrever os episódios envolvendo o transtorno bipolar de humor ou os
episódios maníacos, que também podem apresentar sintomas como “comprar em
excesso, consumir serviços ou bens desorganizadamente, endividar-se além dos limites
das próprias posses etc.” (WIELENSKA, 2002, p.320)
Otero (apud GUILHARDI, 2002, p.381), aponta que o comportamento de comprar
compulsivamente é considerado um distúrbio quando o indivíduo “apresenta uma
incapacidade de controlar o impulso de comprar, envolvendo a si próprio e a outros em
conseqüências desastrosas.”, também se reporta ao capítulo do DSM-IV acima citado
que classifica as pessoas com controle de impulso dentro dos mesmos critérios do
“jogar patológico”.
A pesquisa de Del Porto, 1996 (p.110), Otero (apud GUILHARDI, 2002, p. 382),
relata a descrição para dois tipos de comportamentos, os comportamentos compulsivos
e os impulsivos. Para o autor, os comportamentos compulsivos teriam como função
principal reduzir a ansiedade ou prevenir um sofrimento, enquanto os comportamentos
impulsivos teriam como finalidade a obtenção de prazer, apesar de ambos ocorrerem
sem o controle do indivíduo. No dizer do autor os comportamentos compulsivos e
impulsivos “... acontecem à revelia da pessoa dado que ela não consegue controlar a
própria vontade; ambos coexistem em um mesmo indivíduo e constituem padrões
repetitivos de comportamento.” (OTERO, 2002, p. 382)
Ainda citando Otero, que, com base na observação do comportamento humano e
nas diferentes funções e significados gerados pelas aquisições, especificamente nas
pessoas que apresentam dificuldades em controlar suas compras, realizou as análises
36
funcionais desses padrões de comportamento e aponta cinco grupos que demonstram
características comuns, relevantes para o entendimento da problemática do comprar
compulsivo.
Um dos tipos característicos é o do consumidor que sente prazer em comprar por
associar suas aquisições à capacidade de obter algo. Os aspectos descritos por
consumidores com esse perfil, (OTERO, apud GUILHARDI, 2002, p. 382), são
sensações de gratificações pela compra realizada, pela satisfação de realizar um
desejo, mesmo que o objeto adquirido não venha a ser usufruido. Essas pessoas,
conforme pesquisado, apresentam em algum momento de suas vidas “... algum tipo de
limitação de gastos, seja a determinada pela falta real de dinheiro ou a imposta por
outra pessoa (pais, esposos, filhos, etc.), ...”, porém, apesar das limitações, se
comportarão de forma a realizar suas inclinações e desejos. A gratificação buscada é
de conseguir comprar o que deseja, ao invés de sentir-se satisfeito com o objeto
adquirido. A necessidade no caso, ou, a força que impulsiona a pessoa a agir e
comportar-se de forma disfuncional gastando além de suas posses, segundo Otero é a
de “sentir-se capaz de obter algo”.
Algumas pessoas podem comprar compulsivamente com o intuito de sentirem-se
aceitas socialmente ou incluirem-se em um grupo social com maior poder aquisitivo.
Essas pessoas estariam “dirigindo comportamentos pela auto-regra que lhes diz que
se adquirirem um determinado bem sentir-se-ão incluídas na classe social a que
aspiram.” (OTERO, apud GUILHARDI, 2002, p.383).
Esse comportamento pode ser observado em pessoas que ascendem
socialmente, e isso pode ser comprovado com a aquisição de bens que antes lhes era
negado. Essas pessoas passam a vestirem-se com roupas de “grifes caras e esforçamse por exibí-las ou mostrá-las para alguém que supunham julgá-las como uma pessoa
inferior.” (OTERO, apud GUILHARDI, 2002, p. 383). Além desse grupo de pessoas,
aqui também incluem-se aquelas pessoas que exibem uma condição social que não
possuem, apesar de não possuírem condições financeiras, compram com a finalidade
de demonstrar e exibir um falso progresso financeiro.
Para os cognitivistas, tanto a procura por sentir capaz como os comportamentos
determinados, por auto-regras podem ser traduzidos em comportamentos ditados por
37
crenças e pensamentos automáticos, que, em ambos os casos resultam em estratégias
disfuncionais.
Um outro grupo é aquele no qual o comprar adquire a função ou significado de
manifestar afeto, pedir desculpas, exibir poder ou vingança ou pedido de perdão, o que
pode ser observado nas famílias e nos casais com uma dinâmica problemática. O
“poder comprar” e/ou “fazer compras” funcionaria como uma “moeda” de troca entre
casais, para que um dos cônjuges finja não perceber determinados comportamentos ou
atitudes. Esse fingir que não sabe o que acontece, essa dissimulação de conhecimento
é uma auto-regra, que orienta seu comportamento, escamoteando a realidade já que
isso lhe traz rendimentos outros. As compras também podem servir como uma forma
vingança, compensação, conforme exemplifica a autora, esposas que justificam seus
gastos excessivos como causadas pela ausência do marido, ou o marido que afirma
que a mulher pode gastar o quanto quiser, desde que não o importune. Os casais
podem ter nos seus relacionamentos regras explícitas, implícitas ou dissimuladas, que
contribuem para os comportamentos disfuncionais de comprar compulsivamente.
Algumas pessoas compram buscando compensação por um evento ruim
vivenciado, e que tenha lhes causado depressão ou ansiedade (OTERO, 2002). As
compras funcionam neste caso, “como uma estratégia
de enfrentamento de seus
estado internos desagradáveis (p.384)”. Esses sentimentos desagradáveis fazem com
que as pessoas procurem afastá-los adotando comportamentos de fuga e esquiva, e,
comprar é uma das formas encontradas de obter prazer e gratificação, reparando e
compensando assim o que elas não desejavam.
O comportamento de comprar de forma exagerada também é apontado como
uma forma de agir para evitar situações aversivas que venham a desencadear
estados internos negativos, como “raiva, irritação, braveza” (OTERO, apud GUILHARDI,
2002, p. 383). Algumas pessoas diante de sentimentos ou emoções que geram tensão,
sentem-se compelidas a irem ao shopping fazer compras, adquirindo qualquer coisa,
ainda que não necessitem ou desejem o bem comprado. Este comportamento é uma
estratégia de fuga e evitação das situações aversivas, e o comprar é uma forma de
obter prazer para compensar-se pelas emoções desagradáveis, reduzindo a tensão
psíquica.
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As estratégias comportamentais apresentadas - busca de sensação de
capacidade, inclusão social, dinâmica de troca entre casais, compensação, evitação de
situação aversiva – que levam as pessoas a adotar um comportamento compulsivo,
evidenciam a ação de comprar motivada por reforço negativo. Este reforço negativo
seria, conforme suporte teórico, a origem que está na base de todos os exemplos
relacionados, pois o que se observa é a remoção dos eventos classificados ou
percebidos como aversivos. O comprar seria uma forma de aliviar a tensão(conforme
explicaç já que sensação proporcionada – o prazer enquanto gasta – removeria, ainda
que momentaneamente, aquelas idéias, pensamentos, situações, consideradas
desagradáveis.
A saída encontrada no comprar compulsivo é uma estratégia para impedir ou
adiar de forma indefinida o contato com eventos que promovam as sensações de
tristeza, pesar, desprazer.
Comprar, adquirir bens ou serviços é, na maioria das vezes, uma atividade
agradável, seja pelo prazer experimentado, ou pelos objetos ou bens que adquirimos,
os quais nos trazem algum benefício.
Mas para que essa atividade tipicamente humana e corriqueira possa ser
realizada de maneira saudável, sem perder sua condição prazerosa, faz-se necessário
que adotemos atitudes adequadas, estratégias apropriadas para que nossas ações não
resultem em danos e conseqüências desagradáveis e nocivas. Educar para o
consumo, nos parece uma alternativa possível e viável enquanto possibilidade de
intervenção, como uma proposta psicoeducativa.
Aprender a comprar passa por:
• Identificar as possibilidades reais para concretizar a compra; as conseqüências
das compras que irão surgir a curto, médio e longo prazo; as reais funções do comprar;
as motivações que levam às aquisições; se de fato o bem adquirido será usado; refletir
sobre as escolhas das estratégias de enfrentamento nas diversas situações da vida;
descobrir e aprender a utilizar outras possíveis fontes de reforçamento; aprender a
administrar seus desejos e frustrações.
Otero (2002) nos sugere um elenco atitudes, que se aprendidas, ampliarão as
possibilidades de respostas das pessoas diante das dificuldades ou dos estímulos
39
presentes no cotidiano, tratando-se do comprar compulsivo, pois, comprar pode
funcionar como um reforçador positivo ou negativo. Ampliar nossas habilidades de
aquisição ou aprender a comprar, só irá os auxiliar a “controlar nossos impulsos e
nossas frustrações. Também nos ajuda a aprender e nos proporciona prazer.” (apud
GUILHARDI, 2002, p. 385)
Como sugestão, outra alternativa possível são as técnicas terapêuticas
oportunizadas pela Teoria Comportamental Cognitiva (TCC), o que segundo relatam os
estudos consultados, mostram-se bastante eficazes no controle dos sintomas e redução
dos comportamentos problemáticos. A metodologia utilizada para a modificação dos
comportamentos segundo esta teoria, busca atuar nas crenças, nos esquemas
conceituais disfuncionais responsáveis pelos erros avaliativos.
Os propósitos
fundamentais da Terapia Comportamental Cognitiva consistem em propiciar , por meio
de suas técnicas, um controle e monitoramento de seus pensamentos, identificando
aqueles que originam os comportamentos difuncionais para que possam ser
confrontados com a realidade para testar sua validade a partir de resolução de
problemas. (WAINER, PERGHER, PIICCOLOTO apud CAMINHA 2003)
40
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve início com o interesse em desenvolver uma pesquisa na
abordagem
Comportamental-Cognitiva,
buscando
assim
aprimorar
meus
conhecimentos nesta área teórica da Psicologia. Escolhida a área de investigação, o
tema compulsão por compras surgiu com base nas observações e experiências
cotidianas, e sensibilizada com a problemática reunimos material para explorar o
assunto em questão.
Porém, apesar do interesse, os trabalhos e pesquisas sobre o tema são
escassos, e a elaboração da presente monografia se caracterizou pela busca por
referenciais teóricos atualizados que permitissem abordar o tema escolhido.
Além da procura por referenciais teóricos que suportassem o trabalho, foi
igualmente necessária apropriação dos conceitos por parte da pesquisadora, para que
o aprendizado pudesse de fato ser incorporado de forma a elaborar satisfatoriamente a
tarefa, contando sempre com a colaboração da orientadora, Drª Vera Baião.
Após a devida revisão literária foi possível delinear e identificar os objetivos a
serem investigados com vistas a encontrar respostas que viabilizassem um norteador
frente ao transtorno definido como compulsão por compras.
Para alcançar os objetivos que almejavam identificar os fundamentos da
compulsão por compras, foi, em um primeiro momento, explicitada a teoria
comportamental desde os seus primeiros estudos com Pavlov, passando por Skinner
até os teóricos da atualidade. Foram pesquisados, o condicionamento respondente
(Pavlov), no qual foram desenvolvidos os conceitos de reflexo (condicionado e
incondicionado), estímulo e resposta, definições centrais para entendermos os
princípios da aprendizagem e dos comportamentos involuntários.
Na seqüência foi abordado o condicionamento operante (Skinner), que se ocupa
das influências dos efeitos (conseqüências) no comportamento voluntário. As
conseqüências são conceitos primordiais nesta teoria, pois para entendermos a
tendência de determinadas formas de agir faz-se necessário observarmos as relações
entre estímulo e resposta, definidores dos esquemas de reforçamento positivo ou
41
negativo. Em resumo, foram estudadas as formas de aprendizagem que determinam o
comportamento.
As contribuições dos autores nos levam a concluir, no que se refere aos
princípios da aprendizagem nos moldes apresentados, que as bases para o
comportamento de comprar compulsivamente principiam muito cedo, em algum
momento do desenvolvimento infantil por meio de estímulos que perduram no tempo
com força o suficiente para instalar uma resposta. Resgatando Bandura y Walters ao
falar do papel da imitação no desenvolvimento da personalidade, assinala a importância
da respostas aprendidas por meio da observação dos pais.
As crianças, se a
considerarmos como um sujeito em formação, tendem a imitar a conduta dos seus
cuidadores como uma forma de interação. Por ser um período de exposição muito
longo, essas respostas tendem a se perpetuar na vida adulta.
Igualmente, para satisfazer os objetivos inicialmente propostos,
foram
pesquisadas as bases da Ciência Cognitiva, segundo a qual os comportamentos são o
resultado das representações mentais, que se apresentam como crenças centrais e se
manifestam como esquemas de pensamentos. Nossas emoções e crenças são
resultantes dos aprendizados no decorrer da existência e a forma como os significamos
irão resultar em comportamentos.
É de acordo com esta perspectiva que chegamos ao comportamento compulsivo,
entendido como estratégia comportamental disfuncional, por estar alicerçada em
crenças e pensamentos distorcidos, que causam aflição e mal estar psicológico. A
característica de um comportamento compulsivo é a repetição do mesmo, ainda que ele
seja prejudicial, como no caso das compras compulsivas. Segundo os teóricos
pesquisados, a compulsão tem o objetivo de aliviar ou neutralizar um sofrimento,
desconforto ou medo. Nesta medida, Baldwin e Baldwin, explicam o comportamento
compulsivo em comprar como um entrelaçamento das teorias pavloviana e operante.
O comportamento de comprar seria uma estratégia para fugir ou esquivar-se de
um sentimento, idéia, crença, ou emoção que provoque sofrimento ou desconforto
psíquico, evidenciando o reforçamento negativo como base para esse tipo de resposta.
De acordo com os autores, as pessoas com esse comportamento procuram fugir de
algo que lhes incomoda, compram para evitar um sofrimento, como uma forma de se
42
aliviarem. Mesmo relatando um prazer a emissão do comportamento de comprar, este é
um sentimento passageiro, que necessitará ser novamente emitido, quando o indivíduo
for outra vez estimulado. É como estar em um círculo que não tem começo nem fim.
Mesmo com conseqüências danosas, o comportamento se repete, porque o próprio
comportamento irá alimentar e aumentar a aflição e o desconforto sentido, o que
novamente estimulará para a ação.
As experiências passadas são muitas vezes utilizadas pelas pessoas para
corroborar ou fundamentar sua forma de pensar, colocando-as num círculo vicioso,
dificultando a emissão de respostas apropriadas, como por exemplo, dar-se conta que o
comportamento de comprar não modifica os pensamentos e crenças que atormentam e
trazem sofrimento.
Com base nestes estudos, sensibilizados pela extensão dos prejuízos causados
por este comportamento, chegamos a conclusão que este tipo de problemática merece
que mais estudos sejam realizados. Por ser um tema onde existem poucos estudos,
parece-nos oportuno ressaltar a relevância das pesquisas, para tal, faz-se necessário
desenvolver instrumentos de pesquisa competentes, tornando possível a intervenção
conseqüente, beneficiando os indivíduos que tenham desenvolvido este tipo de
compulsão.
Percebemos que para uma compreensão mais adequada do fenômeno
compulsão por compras, seria relevante uma pesquisa empírica, por exemplo,
um
estudo de caso, na qual fosse possível o acesso aos dados de forma direta, pois
somente com aqueles trazidos pela bibliografia ficam lacunas a serem preenchidas.
Por meio desta metodologia, bibliográfica, torna-se complexo responder algumas
questões que seriam elucidativas para o completo entendimento do processo, pois os
dados são muito genéricos e, algumas vezes pouco esclarecedores.
Por este motivo
sugerimos um estudo empírico para colher dados que venham a corrobarar as teorias já
existentes.
A título de sugestão, anexamos um questionário adaptado de Grant e Kim
(2003), que poderá servir como indicativo para investigações do problema da
compulsão por compras, alertando que o mesmo serve como indicativo e não como um
diagnóstico, já que qualquer instrumento deve estar inserido num contexto maior.
43
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Comportamento. 1ª edição, Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2002. V.9.
46
APENDICE
47
QUESTIONÁRIO PARA IDENTIFICAR O COMPORTAMENTO DE COMPRAR
COMPULSIVAMENTE
1.Você faz compras com freqüência, comprando mais do que você pode pagar?
Sim
Não
2.Você costuma comprar itens que não precisa?
Sim
Não
3. Você tem desejos incontroláveis de comprar?
Sim
Não
4.Você vai fazer compras muitas vezes e passa longo tempo comprando?
Sim
Não
5.Os pensamentos e desejos de comprar o preocupam ou você gostaria que fosse
menos freqüentes?
Sim
Não
6.As compras ou o desejo de comprar causam muita angústia?
Sim
Não
7.As compras, ou o desejo de comprar interfere de forma significativa na sua vida?
Sim
Não
Se você respondeu afirmativamente para quatro ou mais das perguntas, você pode ter
desenvolvido o transtorno compulsivo por compras.
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Uma das teorias sobre aprendizagem conhecida como