ESTUDO DE JUROS COMPOSTOS NA PERSPECTIVA DE TRABALHOS EM GRUPO Autores: Grasiella VIEIRA, Afrânio Austregésilo THIEL. Identificação autores: Acadêmica de Licenciatura em Matemática; Orientador IFC – Campus Camboriú. Introdução A prática pedagógica que aqui se descreve foi aplicada no nono ano do ensino fundamental na Escola Básica Municipal Professor Artur Sichmann, na cidade de Camboriú – SC. Tendo o desafio de alcançar maior compreensão dos alunos sobre o conteúdo abordado, neste caso, Juros Compostos, contextualizado na matemática financeira, buscou-se algumas alternativas pedagógicas que proporcionassem aulas diferenciadas. Logo, optou-se pela realização de trabalhos em grupo, concordando que, É no fluxo da interação verbal que a palavra se concretiza como signo ideológico, que se transforma e ganha diferentes significados, de acordo com o contexto em que ela surge. Constituído pelo fenômeno da interação social, o diálogo se revela como forma de ligação entre a linguagem e a vida. (JOBIM E SOUZA, 1994, p. 120). Assim, pretendeu-se, por meio de trabalho em grupo, promover esta iteração verbal, voltada para juros compostos, entre os alunos da classe, de forma facilitar o ensino/aprendizagem. Isto, supondo que estes usam entre si uma mesma linguagem característica, a qual se pode chamar de fenômeno da interação social, podendo proporcionar maior entendimento sobre o conteúdo. Acrescentou-se ainda, atividades motivadoras, no intuito de despertar nos alunos o interesse pela matemática, incentivando-os aos estudos e a realização de exercícios. Para tanto, foi proposto uma disputa entre grupos, baseada numa série de questões, das quais foram resolvidas pelos alunos, objetivando a prática e compreensão do conteúdo, aplicando assim os conceitos de Skinner (1972, p. 7), ao considerar que: Estas teorias clássicas representam as três partes essenciais de qualquer conjunto de contingências de reforço: aprender fazendo acentua a resposta; aprender da experiência, a ocasião na qual a resposta ocorre; e aprender por ensaio e erro da ênfase às consequências. Contudo, o foco do experimento didático foi instigar os alunos na aprendizagem da matemática financeira e, investigar os pontos relevantes da teoria do desenvolvimento e capacitação cognitiva alcançada pela execução de trabalhos em grupo. Aqui se pretendeu também, fazer da sala de aula um espaço de interação social, desejando saber se impulsionam ou não o desenvolvimento, validando então, o conceito de Colaço et al (2004, p. 4), ao afirmar que, As situações de interação social assumem papel decisivo, pois são concebidas, como espaço simbólico gerador de conhecimentos, de apropriação de significados e de construção de subjetividades, por conseguinte, promotoras de aprendizagens que impulsionam o desenvolvimento. Neste caso, a situação social vivenciada, é a realização de trabalhos em grupo, e para ocorrer tudo da melhor forma possível foram necessárias atividades em que vários alunos estariam envolvidos ao mesmo tempo, tornando indispensável à contribuição de todos na elaboração e execução do trabalho. Assim, para realização deste experimento, a turma se dividiu em grupos, os alunos escolheram os membros das equipes, tendo ainda uma sequência de exercícios sobre juros compostos, relacionadas a temas da atualidade: cartão de crédito; limite de conta; financiamento; empréstimo e aplicação. Todas as perguntas e respostas trabalhadas durante as aulas oportunizaram esta disputa entre grupos. A disputa fez-se entre grupos, tendo as perguntas e respostas tempo cronometrado, despertando nos alunos um sentimento de desafio, instigando a resolução dos exercícios, já praticando a teoria de trabalhos em grupos. Material e Métodos Para dar início ao conteúdo de juros compostos, entregou-se para cada equipe uma lista com setenta e cinco questões, organizadas de forma aleatória, sendo quinze questões referentes a cada um dos temas: cartão de crédito; limite de conta; financiamento; empréstimo e aplicação. Estas questões foram trabalhadas durante as aulas antecedentes a disputa, em que os grupos resolveram os exercícios, de modo praticar o conteúdo, esclarecer dúvidas e se preparar para a disputa, já que esta seria realizada a partir destas questões trabalhadas. Como hipótese para o experimento didático esperou-se que: 1°) Ao encontrar as questões referentes ao seu tema, as equipes destacariam das demais, facilitando o andamento da disputa; 2°) Devido à interação dos alunos nas aulas anteriores e quantidade de questões resolvidas, as equipes estariam aptas a iniciarem a prática; 3°) Os alunos se sentiriam motivados a estudar, mostrando interesse no conteúdo. Para validação das hipóteses, foi esperado que ao término da disputa, cada grupo deveria ter resolvido em média quatro perguntas e quatro respostas, durante a prática. Realizou-se a disputa por meio de perguntas e respostas, nas quais o grupo iniciante perguntou para o grupo seguinte, formando um ciclo, como ilustra a figura a seguir: Figura 01: Exemplo do roteiro a ser seguido para a gincana Fonte: Elaborada pela autora. Entretanto, as perguntas deveriam ser sobre o tema do grupo na qual iria responder. Assim, para cada pergunta, delimitou-se dois minutos para responder e três possibilidades: 1°) Responder corretamente e ganhar 1 ponto; 2°) Responder incorretamente e ganhar 1 ponto a equipe que perguntou; 3°) Passar a vez; porém, o próximo grupo que respondesse ganharia 2 pontos, isto, por estar respondendo a pergunta que não diz respeito ao seu respectivo tema. Resultados e discussão Ao analisar o comportamento dos grupos, percebeu-se que em gera todos agiram da mesma forma, buscando resolver o maior número de questões, com a ideia de que teriam mais chances de ganhar, caso estivesse com maior parte das respostas. No entanto, a organização para alcançar esses resultados, foi diferente: Grupo Aplicação: Este grupo foi formado apenas por alunas, elas dividiram as por páginas, resolveram todos os exercícios propostos, esclareceram as dúvidas e corrigiram as respostas com a professora; Grupo Financiamento: Formado por alunos, estes, mesmo dividindo as folhas entre si, não conseguiram resolver todas as questões, pois sentiram muitas dificuldades na resolução. Grupo Empréstimo: Dois alunos pediram para trocar de equipe, pois havia componentes que além de não ajudar na resolução, atrapalhavam com conversas e brincadeiras. Logo o grupo ficou com apenas três componentes, dois que estavam com as médias muito baixas e sem expectativas de passar de ano, então, apenas uma aluna que se empenhou em resolver as questões, contudo, não conseguiu resolver muitas. Grupo Cartão de crédito: Aqui o grupo ficou subdividido entre alunos que conversam e outros que faziam, mas não se importavam com a conversa dos outros participantes. Grupo Limite de conta: este grupo era pequeno, conversavam muito e achavam o conteúdo difícil, no entanto, ao compreender os cálculos, gostaram e se empenharam em resolver as questões. Porém, todos os membros resolviam a mesma questão, o que dificultou na conclusão da atividade, ainda assim, ficaram poucas questões sem resolver. Com o intuito de perceber a validação das hipóteses, elaborou-se a seguinte tabela, de modo investigar o que pode ser melhorado para uma futura prática, com resultados mais positivos. Quadro: referente à validação das hipóteses Hipóteses Validação das hipóteses 1°) Ao encontrar as questões referentes ao seu Os grupos resolveram as questões pela sequência tema, as equipes destacariam das demais, de em que se encontravam, não necessariamente, as forma facilitar o andamento da disputa; perguntas voltadas para seu tema. Assim, os temas os temas foram desconsiderados, na realização da disputa. 2°) Devido à interação dos alunos nas aulas Houve desfalque nesta hipótese, pois alguns grupos anteriores e quantidade de questões resolvidas, terminaram as questões com antecedência, enquanto as equipes estariam aptas a iniciarem a prática; outros apresentaram dificuldades. Contudo, todos haviam respondido mais que 15 questões. 3°) Os alunos se sentiriam motivados a Visto que precisavam responder o maior número de estudar, mostrando interesse no conteúdo. questões, tiraram as dúvidas e, com isso, estimulando-se a solucionar as questões seguintes. Para validação das hipóteses, foi esperado que Foram respondidas 13 questões corretamente e 3 ao término da disputa, cada grupo deveria feito incorretamente . em média 4 perguntas e 4 respostas. Fonte: Elaborada pela autora. No início da disputa, os grupos demoravam em encontrar as respostas, e como apenas um grupo havia respondido todas as questões, nem todas as perguntas que feitas eram respondidas. Depois da terceira rodada, os alunos perceberam como funcionava o jogo, e ficaram mais animados, assim quando um grupo perguntava todos já procuravam a resposta e caso não tinham feito começavam a fazer na expectativa da pergunta cair no grupo e eles acertarem. Conclusão Referente à prática, os alunos mostraram interesse em querer ganhar o jogo, assim responderam as questões com entusiasmo, no entanto, o tempo destinado a prática foi insuficiente, assim que os resultados começaram a surgir, a disputa foi encerrada. Na realização do trabalho em grupo, pode-se constatar que houve maior compreensão do conteúdo, devido os alunos se ajudarem e terem a mesma linguagem de comunicação, confirmando assim o que dizem as teorias citadas. Contudo, acredita-se permitir os alunos escolher os componentes da equipe, acarretou em pontos negativos, isto porque, os grupos foram formados pela afinidade dos alunos, ocasionando conversa paralela, prejudicando em alguns momentos inclusive na explicação do conteúdo. Analisando o término da experiência, os resultados obtidos não foram correspondentes com o esperado, porém, a experiência foi válida para aperfeiçoar os planejamentos futuros, podendo ainda usar deste mesmo método, porém numa turma que já se conheça bem os alunos, a ponto de selecionar os membros das equipes de acordo com desenvolvimento na disciplina, procurando deixar as equipes equilibradas e por consequência alcançar com mais precisão os resultados esperados, tendo outros alunos como mediador do conhecimento. Referências COLAÇO, V. de F. R. et al. Estratégias de mediação em situações de interação infantil e seu papel na construção de conhecimento e subjetividade. 2004. Relatório de pesquisa não-publicado, Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. 2004. JOBIM e SOUZA, S. Infância e linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. Campinas, SP: Papirus, 1994. VYGOTSKY, L. Psicologia pedagógica. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2001 (Texto original publicado em 1928).