4 Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: ATIVIDADES, DESAFIOS, ATITUDES E PERSPECTIVAS ENVIRONMENT EDUCATION AT SCHOOL: ACTIVITIES, CHALLENGES, ATTITUDES AND PERSPECTIVES SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade 1; Resumo Esta pesquisa de Educação Ambiental envolveu alunos do 6º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Armando Campos Belo localizada no Jardim Santa Brígida, área periférica da cidade de Dourados/MS, com o objetivo de investigar a Educação Ambiental na prática e para a prática entre os alunos e o desenvolvimento de atitudes coerentes com a melhoria da qualidade ambiental. Realizou-se práticas de Educação Ambiental no ambiente escolar, como palestras, saída a campo, confecção de painéis e cartilha. A análise indicou que por meio da percepção e da construção de conhecimento em questões ambientais, as ações propostas contribuíram para que os alunos formassem seus próprios valores em relação ao ambiente e reconhecessem a responsabilidade de cada um na busca da mudança de atitudes visando um ambiente saudável. Palavras-chave: Educação ambiental. Mudança de atitudes. Atividades práticas. Abstract This search about Environment Education involved students at the sixth year on Armando Campos Belo Elementary Public School, located in District of Santa Brígida, suburban area in city of Dourados/MS, with the purpose to investigate the Environment Education techniques and to practice it among the students and the development of consistent attitudes about a better environment quality. Practices Environment Education were carried out in the school like discussions, field practice and the making of banners and folders. The analysis showed that through the perception and the construction about an environment knowledge, the actions contributed to students make their own worth about the nature and to admit their responsibility for changing their attitudes in order to get a wholesome environment. Key words: Environment Education. Attitudes Changing. Practice Activities. 1 Mestranda de Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil. SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade 5 Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 Introdução A Revolução Industrial ocorrida no século XVIII intensificou a exploração da natureza pelos homens, tendo como uma das conseqüências o desequilíbrio social e o desequilíbrio ambiental. Esses problemas de ordem social e ambiental “assinalam crises ecológicas que, por sua vez, se constitui numa crise cultural gerada ao longo dos séculos com a modernidade” (REIGADA, 2004, p. 149). O aquecimento global, o degelo das calotas polares, a reciclagem, o calor e o frio em excesso, a preocupação com a falta da água, entre outros assuntos ambientais nunca ocuparam tanto espaço na mídia como na atualidade. Estes temas estão presentes em universidades, organizações não-governamentais (ONGs), no ambiente de trabalho e nas escolas, o que tem contribuído para que a sociedade reflita e busque ações capazes de contribuir para mudar as suas atitudes, individuais e coletivamente, de forma a colaborar com o resgate do relacionamento harmonioso homem x natureza. Neste contexto, a Educação Ambiental vem se consolidando como uma das formas educativas mais eficazes na educação escolar quando se tem como objetivo formar um cidadão capaz de desenvolver atitudes de sustentabilidade coerentes à conservação do ambiente. De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), Lei nº 9.795/ 99, capítulo I, Art. 1º, entende-se por Educação Ambiental: “Os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. A Educação Ambiental dirigida à comunidade estudantil de forma efetiva desperta o interesse destes em participar de um processo ativo no sentido de resolver os problemas dentro de um contexto de realidades específicas, estimulando a iniciativa, o senso de responsabilidade e o esforço para construir um futuro melhor. Assim, por sua própria natureza, a “Educação Ambiental pode contribuir para a renovação do processo educativo” (VENANCIO, 1997, p. 19). É importante salientar que para o desenvolvimento de um trabalho eficaz de Educação Ambiental se faz necessário o entendimento da concepção de “educação” e “ambiente”. Sobre isso Segura, (2001, p. 43) diz que: A palavra “educação” sugere que se trata de uma troca de saberes, de uma relação do indivíduo com o mundo que o cerca e com outros indivíduos. O adjetivo “ambiental” tempera essa relação inserido a percepção sobre a natureza e a forma como os humanos interagem entre si e com ela. Em outras palavras, a Educação Ambiental busca a formação de sujeitos a partir do intercâmbio com o mundo e com outros sujeitos. Partindo deste entendimento se faz necessário embasamento teórico dos princípios fundadores da Educação Ambiental e as suas contribuições para mudanças no estilo de vida da sociedade. Considerando que o conhecimento é essencial para a perspectiva de mudanças de atitudes, é fundamental se pautar em alguns referenciais teóricos conceituais como respaldo na construção deste conhecimento. Segundo Guimarães (1995, p. 28), Educação Ambiental é: Um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida, afirmando valores e ações que contribuem para as transformações humanas, sociais e para a preservação ecológica. Para Pedrini (1997, p. 16) ela deve, de fato, “ser instrumentalizada em bases pedagógicas, por ser uma dimensão da educação, mas propagar pela transformação de pessoas e grupos sociais”. Portanto, visa à participação de todos os seus agentes, além de ter por fim o questionamento, a modificação e a aquisição por parte dos educandos de hábitos, posturas, condutas e SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 atos que estejam permanentemente em aperfeiçoamento. A Educação Ambiental deve estar voltada à aprendizagem de como gerenciar e melhorar as relações entre a sociedade humana e o ambiente, de modo integrado e sustentável. “Não substitui ou ultrapassa as disciplinas acadêmicas e escolares, mas deve ser aplicada a todas elas” (SÃO PAULO, 1997, p. 16). Entre os objetivos da Educação Ambiental está o que “consiste em o ser humano compreender a complexa natureza do meio ambiente, resultante da interação de seus aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais” (VENANCIO, 1997, p. 37), fazendo com que o ser humano considere-se parte integrante do ambiente. Reconhecidamente necessária, todavia, o processo de implantação da Educação Ambiental na sociedade ocorreu de maneira gradativa. No Brasil, “a deterioração, o uso dos bens ambientais nas atividades de produção e consumo ocorria de maneira excessiva porque estes eram considerados bens livres de apropriação gratuita” (BURSZTYN, 1994, p. 14), não refletindo escassez nem a raridade do mesmo. Quando a sociedade percebeu que esses recursos naturais eram limitados houve a necessidade da criação das leis ambientais e da efetiva implantação da Educação Ambiental no currículo escolar. Os primeiros projetos de Educação Ambiental no Brasil “surgiram no ano de 1975 em escolas municipais, estaduais e entidades de ensino privado, inseridos pelo poder público e foram aplicados inicialmente nos ciclos primários” (ALMEIDA JUNIOR, 1992, p. 85). Estes projetos ensejaram vasta produção de material didático como livros, jogos e audiovisuais. Em 31 de agosto de 1981, o então Presidente da República João Figueiredo sancionou a Lei 6.938, que dispunha sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formação e aplicação. Segundo DIAS (2000, p. 84) esta se 6 constituiu num importante instrumento de amadurecimento, implantação e consolidação da Política Ambiental no Brasil. Essa Lei foi modificada, em parte, pela Lei 7.804/89, para adequar seu texto à criação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), mantendo-se, porém as bases e os mecanismos antes instituídos (ALMEIDA JUNIOR, 1992, p. 74). A criação do IBAMA teve como objetivos formular, coordenar e executar a Política Nacional do Meio Ambiente. Competia-lhe também a preservação, a conservação, o fomento e o controle dos recursos naturais renováveis, em todo o território federal, proteger bancos genéticos da flora e da fauna brasileira e estimular a Educação Ambiental nas suas diferentes formas. Em 1985, o Conselho Federal determinou que a “ecologia não deveria se organizar como disciplina específica, dado o caráter multidisciplinar da matéria” (ALMEIDA JUNIOR, 1992, p. 87). A preservação do meio ambiente está prevista também na Constituição Brasileira, de 1988, que define no capítulo VI, Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Político e à coletividade o dever de defendêlo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. E ainda, sobre o papel do Poder Público em “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (DIAS, 2000, p. 87). Outro evento importante para a implantação da Educação Ambiental no Brasil foi a Conferência Rio – 92, e um “dos consensos foram à necessidade de disseminar entre as crianças e os jovens uma nova consciência e novas atitudes com relação ao cuidado com o planeta que habitamos” (VIANNA, et al,1992, p. 22). Assim, propostas de Educação Ambiental SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 para as escolas vêm sendo formuladas por órgãos governamentais, pelas redes públicas e privada objetivando uma Educação Ambiental que vise à conscientização e principalmente a sensibilização em todos os níveis educacionais. Com base na Conferência Rio-92 o Congresso Nacional instituiu no ano de 1999 a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), Lei nº 9.795. Esta lei define que a presença no ensino formal da Educação Ambiental deve abranger os currículos das instituições de ensino público e privado, englobando educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação superior e educação de jovens e adultos. Mas a mesma “não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino e sim como conteúdo interdisciplinar” (BRASIL, 2002, p.110). A Educação Ambiental ganha um grande impulso com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), no ano de 1998. Estes promoveram uma posição consolidada junto ao Conselho Federal de Educação de não constituir a Educação Ambiental como disciplina específica, porém adquirindo finalmente um caráter transversal, como também aprova a Lei 9.795. Diante do exposto, é fundamental que alunos e professores compreendam, estudem e estejam constantemente desenvolvendo trabalhos teóricos e práticos, e ainda, se conscientizem da necessidade de ações/atividades relacionadas às questões ambientais de maneira que o conhecimento em Educação Ambiental possa ser disseminado entre as pessoas. Situando a área e o local de estudos A pesquisa foi desenvolvida na cidade de Dourados, localizada na porção sul do Estado de Mato Grosso do Sul, com aproximadamente 179.810 habitantes e com vasta riqueza natural, (PREFEITURA DE DOURADOS, 2008). Sua economia está direcionada à agropecuária e, atualmente, às atividades canavieiras. 7 A cidade de Dourados possui um Programa Municipal de Educação Ambiental desde o ano de 2005, gerenciado pelo Instituto Meio Ambiente (IMAM), Prefeitura Municipal de Dourados. Este é composto de dois projetos que são desenvolvidos em cinco escolas municipais, são elas: Januário Pereira de Araújo, Lóide Bonfin Andrade, Neil Fioravante – CAIC, Professora Efantina de Quadros e Weimar Gonçalves Torres, todas localizadas na área periférica da cidade. O Programa tem como objetivo fazer com que os estudantes sintam-se partes integrantes do ambiente, exercendo cidadania e que busquem a melhoria do ambiente. Um dos projetos do IMAM é o dos monitores ambientais, no qual os alunos participam de aulas de campo com visitas aos córregos e ao aterro sanitário, mutirão de limpeza dos córregos, cultivo de mudas de espécies nativas, implantação de hortas orgânicas e plantas medicinais, reconstituição da mata ciliar dos córregos e monitoramento das atividades. Segundo as autoras Garcia e Sangalli (2005, p. 10), o projeto abre espaço para a reflexão e argumentação em torno das questões ambientais, fugindo da conscientização por imposição de idéias prontas e favorecendo a incorporação de mudanças de comportamento no cotidiano. O outro projeto é o de implantação ou aprimoramento da coleta seletiva nas escolas, cujos objetivos são informar conscientizar e sensibilizar a comunidade escolar (alunos, professores e funcionários), quanto à importância da segregação, coleta seletiva e reciclagem dos resíduos sólidos gerados no âmbito escolar, tendo como conseqüência à formação de cidadãos responsáveis com o meio ambiente e melhoria na qualidade de vida da comunidade. Embora a cidade de Dourados já possua um programa de Educação Ambiental, considerou-se relevante o desenvolvimento desta pesquisa uma vez que o objetivo foi verificar a Educação Ambiental na prática e para a prática entre SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 alunos do ensino fundamental por meio de ações/atividades e o desenvolvimento de atitudes coerentes com a melhoria da qualidade ambiental. Desta forma, para a realização da referida pesquisa selecionou-se a escola municipal Armando Campos Belo, localizada no Jardim Santa Brígida, área periférica da cidade de Dourados/MS. A opção por esta escola foi pelo fato de a pesquisadora atuar na mesma, ministrando aulas de Ciências. A escola atende alunos do ensino fundamental, além da educação de jovens e adultos (EJA) referentes também ao ensino fundamental, ofertando aulas nos períodos matutino, vespertino e noturno, perfazendo um total de 976 alunos. Como sujeitos da pesquisa, duas turmas de 6º ano do ensino fundamental foram escolhidas, sendo uma delas do período matutino e outra do vespertino. Em cada uma destas salas havia 35 alunos com idade entre 10 e 13 anos e residentes nas imediações da escola. O bairro é considerado de classe média baixa e cada família possui mais de quatro membros Diretora, coordenadora, professores da escola e um biólogo do Instituto do Meio Ambiente (IMAM) participaram, dando o total apoio às ações/atividades propostas para serem realizadas durante a pesquisa. Este estudo objetivou investigar a Educação Ambiental numa escola pública por meio de ações/atividades no cotidiano escolar na prática e para a prática, de forma a contribuir para que os alunos pudessem construir seus próprios conhecimentos das questões ambientais e desenvolver ações concretas visando à mudança de atitudes relativas ao relacionamento da comunidade escolar com o seu ambiente. Metodologia A pesquisa foi qualitativa partindo do pressuposto que as “pessoas agem em função de suas percepções, sentimentos e valores, e que para todo comportamento humano há um sentido, uma interpretação” 8 (MINAYO apud REIGADA e REIS, 2004, p. 151). Realizada no período de maio/2007 a junho/2008, desenvolveu-se em três etapas: levantamento bibliográfico da temática ambiental, coleta de dados e análise das ações/atividades. A primeira etapa consistiu no levantamento bibliográfico a respeito da temática ambiental e foram levantadas informações das questões ambientais, suas origens, as formas de intervenção do homem no meio ambiente e os métodos de manejo e preservação. A referida etapa consolidou-se no embasamento teórico para a sustentabilidade nas ações propostas, análise e avaliação. A segunda etapa constituiu-se no desenvolvimento das atividades/ações práticas, a saber: I. Palestras; II. Saída a campo; III. Plantio de mudas; IV. Arte; V. Confecção de cartilha e painéis; VI. Datas comemorativas e temas ambientais. Nesta segunda etapa realizou-se a coleta dos dados. A terceira etapa foi destinada para a análise e avaliação dos objetivos e propostas da pesquisa. Descrevendo as atividades A palestra com o tema: “O lixo nosso de cada dia” foi ministrada pelo biólogo Raphael Spessoto, do IMAM. Os alunos participaram ativamente questionando e discutindo a problemática dos resíduos sólidos. A saída a campo proporcionou estreitar o relacionamento destes alunos com o ambiente externo da escola. Os mesmos foram divididos em grupos: cinco grupos com sete componentes cada um e pela observação criteriosa realizaram estudos do meio procurando ressaltar as possíveis interferências do ser humano no ambiente visitado. Assim foram levantados problemas SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 ambientais que eram anotados pelos grupos para posterior discussão em sala de aula. Os principais problemas foram o lixo e a escassez de arborização do entorno escolar. Esta atividade foi significante, pois estes alunos vivenciaram a realização de uma pesquisa portando-se como alunospesquisadores nas imediações da escola. Os resultados de observações desta atividade foram para a plenária na sala de aula e os problemas ambientais, segundo as percepções dos alunos, foram apresentados pelos grupos e discutidos entre todos. A discussão foi mediada pela pesquisadora e professora da disciplina de Ciências. Em comemoração a data alusiva ao “Dia Mundial do Meio Ambiente”, a primeira semana do mês de junho é destinada a atividades relacionadas às questões ambientais realizadas por diversas instituições e órgãos ambientais no Brasil como um todo. A cidade de Dourados por meio do IMAM realiza todo ano a “Semana do Meio Ambiente”, com palestras e estandes discutindo temas atuais referentes ao meio ambiente e problemas ambientais mais comuns na cidade. Como parte de uma das propostas da pesquisa, os alunos visitaram os estandes durante esta semana com o intuito de verificar o que estava sendo mostrado, e as possíveis medidas para amenizar tais problemas. Durante esta visita procurou-se relacionar a leitura crítica do ambiente que os alunos estavam realizando com o que estava sendo apresentado tanto nas palestras como nos painéis. Outra data comemorativa foi o “Dia da Árvore”. Durante a saída a campo uma das questões ambientais percebidas pelos alunos foi à escassez de árvores tanto na parte interna da escola como no entorno. Assim, no dia em que se comemora o “Dia da Árvore”- 21 de setembro, foi realizada discussões nas duas turmas ressaltando a importância e benefícios da arborização e como proposta de ação, foram plantadas doze mudas arbóreas no pátio e fora da 9 escola. Estas foram doadas pelo Viveiro Municipal mantido pela Prefeitura por intermédio da Secretaria de Agricultura Familiar e as mudas escolhidas foram de Oiti (Licania tomentosa). Uma atividade proposta e que foi bem aceita pelos alunos envolveu a arte com meio ambiente, na qual os alunos mostraram toda a criatividade com a temática “Meio Ambiente”. Um grupo ficou responsável pela criação de telas que abordavam o meio ambiente degradado e o outro grupo pela criação de telas com o ambiente preservado. Com a orientação das professoras de artes, foram confeccionadas peças, tais como enfeites natalinos, com materiais recicláveis coletados na própria escola. No mês de setembro aconteceu em Dourados a semana do trânsito sendo considerado um evento tradicional importante, pois este é um dos grandes problemas atuais, na maioria das cidades, devido à liberação de dióxido de carbono para a atmosfera. Na oportunidade foi trabalhada com os alunos a conscientização e sensibilização para a diminuição dos efeitos poluentes dos veículos na cidade. Como resultado, os alunos fizeram pesquisas na biblioteca e via internet para a montagem de cartilhas que foram feitas em folhas A4 e coloridas pelos alunos, além de um painel que foi exposto na escola. A terceira etapa foi análise e avaliação da pesquisa por meio de observações realizadas durante o decorrer das ações/atividades. Como mais um instrumento para esta avaliação, foi solicitado aos alunos que apresentassem relatórios individuais no intuito de que se pudesse evidenciar, de fato, as possíveis mudanças, tanto nestes alunos como no próprio ambiente escolar, uma vez que se procurou verificar a Educação Ambiental na prática e para a prática. Resultados e Discussão Na palestra que discutiu a temática do lixo, os alunos participaram ativamente levantando questões e até mesmo possíveis SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 soluções para os problemas expostos, o que foi importante, pois, entre os elementos que contribuem com a especificidade da Educação Ambiental está a “solução de problemas concretos do meio ambiente humano” (GUIMARÃES, 1995, p. 26). A participação é a palavra chave para que alunos e professores se sintam estimulados para a realização de ações significativas para a qualidade ambiental. Como resultado prático do presente estudo foi implantado na escola lixeiras para a coleta seletiva, uma ação proposta pelos alunos durante a palestra. Em sala de aula os alunos aprenderam os significados das cores e a maneira correta de utilização. Os sujeitos envolvidos na pesquisa, tanto da turma do período matutino como a do período vespertino, passaram a cobrar dos colegas a utilização das lixeiras. Porém, quando se fala em Educação Ambiental, não bastam apenas atitudes corretas na escola. Segundo Guimarães (2006, p. 14) deve alterar também os valores consumistas, responsáveis por um volume crescente de lixo nas sociedades modernas. Mas é imprescindível que isso comece cedo, seja na escola, em casa, pois com simples atitudes podem-se formar cidadãos sensibilizados com a conservação do ambiente e como consequência adquirir hábitos que façam parte do cotidiano destas pessoas. A saída a campo, que aconteceu no entorno da escola, possibilitou a percepção de problemas ambientais destacando como principais, o lixo disposto inadequadamente na rua, nos terrenos baldios e na própria escola, e a escassez de arborização. Considerada pelos alunos como uma ação fundamental para a melhoria das condições ambientais e até mesmo para a aparência física da escola, foram plantadas no pátio e na parte externa, doze mudas de árvores. A 6ª série do período matutino ficou responsável pelo plantio de seis mudas e as outras mudas foram plantadas pela turma do período vespertino. A visita aos estandes na semana do meio ambiente proporcionou a percepção 10 dos problemas ambientais mais comuns, além de estimular idéias, como coleta seletiva e reciclagem, para redução do lixo que foi apontado como um dos grandes problemas presentes nas cidades. Relacionar o meio ambiente com atividades artísticas foi uma ação bem aceita pelos alunos, pois esta foi uma maneira deles expressarem seus conceitos ambientais. Dias (2006, p.185) afirma que a natureza é a maior fonte de inspiração para a expressão artística. Suas simetrias e infinitas combinações de cores e formas, aromas e sons são fontes contínuas para a criação de obras de artes. As telas constavam de ambientes preservados e degradados e as imagens restringiam-se a elementos naturais como árvores, montanhas e animais. Denotou-se a ausência da figura humana nos desenhos. Apenas cinco alunos expressaram em seus desenhos casas e pessoas. Pode-se perceber que os alunos não se sentiam parte do ambiente. Quando as pessoas não se sentem partes integrantes do meio ambiente o desenvolvimento de atitudes coerentes não condiz com as ações praticadas e isso foi claramente percebido durante a realização da pesquisa. Na atividade da semana do trânsito os alunos pesquisaram a temática e elaboraram as cartilhas e um painel. Nessa atividade observou que os alunos desconheciam os problemas ambientais causados pelo trânsito e a importância das árvores na absorção do gás carbônico. Na elaboração das cartilhas e do painel os alunos destacaram os efeitos nocivos dos gases produzidos, devido ao grande fluxo de veículos na cidade de Dourados, para o meio ambiente bem como medidas para amenização dos problemas ambientais, tal como rodízio de carros. A análise dos dados ocorreu por meio de observações sistemáticas realizadas continuamente e que possibilitaram avaliar que a Educação Ambiental na busca de atitudes coerentes com a melhoria ambiental é um processo longo com muitas barreiras a serem ultrapassadas, sendo necessária a SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 sensibilização das pessoas para a conservação do meio ambiente. Durante a pesquisa percebeu-se que o envolvimento dos alunos aumentava, sendo importante considerar que a “Educação Ambiental está intimamente ligada à necessidade de mudança de atitudes” (CHAPANI & DAIBEM, 2003 p. 23), essas mudanças ficaram visíveis no ambiente escolar, pois o mesmo estava organizado e limpo. Quanto aos relatórios dos alunos, foram unânimes as considerações feitas pelos mesmos no que diz respeito às transformações ocorridas em suas atitudes com o desenvolvimento desta pesquisa na escola e destacaram como principal mudança o cuidado em relação à disposição do lixo neste ambiente. Percebeu-se que as duas turmas das 6ª séries, tanto a do período matutino como a do vespertino, cada uma com suas características próprias, participaram ativamente de todas as ações/atividades propostas na pesquisa. Para Chapani e Daibem (2003, p. 35): A participação não apenas pode colaborar no desenvolvimento de atitudes requeridas, mas por si só é extremamente importante e deve ser incentivada no ambiente escolar a fim de que os alunos possam também agir de forma participativa em outras instâncias. Contudo, o trabalho de Educação Ambiental precisa ser compreendido num contexto de maior amplitude de forma que as ações/atividades desenvolvidas não caiam numa concepção voltada simplesmente para a idéia de natureza, bichos e plantas. Pois, para muitos a Educação Ambiental ainda está muito associada ao verde, à fauna e à flora. Sabe-se, porém, que com a transformação ecológica dos indivíduos é possível que ocorra a “transformação da sociedade” (GUIMARÃES, 2006, p. 14), e se esta propiciar mudanças de atitudes, ecologicamente corretas, certamente o resultado será o de uma sociedade que busca a superação dos seus problemas ambientais. 11 Para Carvalho (2004, p. 69) a existência de um sujeito ecológico põe em evidência não apenas um modo individual de ser, mas, a possibilidade de um mundo transformado, compatível com este ideal. Assim é importante que se cultive o olhar crítico e a busca da sensibilidade tanto para as questões ambientais quanto para as ecológicas nas práticas educativas. Acredita-se que a escola é um ambiente desafiador e adequado para se trabalhar propostas de mudanças. Conclusão A Educação Ambiental possui entre outros atributos a missão de contribuir com a formação de uma sociedade sustentável, e para compor essa sociedade necessitam-se pessoas educadas ambientalmente. Esta pesquisa comprovou que é possível ocorrer transformação da sociedade, o que pode ser promissor no ambiente escolar. Quando cada cidadão forma seus próprios valores por meio de projetos que visem a sustentabilidade em relação ao ambiente o seu comportamento torna-se diferente, e os conhecimentos adquiridos passam a ser sociabilizado envolvendo mais pessoas na busca do equilíbrio ambiental. Os resultados da pesquisa mostraram que mudança de atitudes é possível, o que foi percebido entre os alunos participantes da pesquisa, porém as atividades ambientais na escola não devem ocorrer por ações pontuais e sim como uma prática contínua. Assim, concluiu-se que a escola é um lugar que propicia a incorporação de ações de Educação Ambiental e que estas realizadas conscientemente e de forma planejada contribuem significativamente na formação e transformação de atitudes com perspectivas de que estas pessoas possam atuar como disseminadores de uma Educação Ambiental que contribua, de fato, para a melhoria do ambiente. SILVA, Cinthia Aparecida de Andrade 12 Interbio v.6 n.1 2012 - ISSN 1981-3775 Referências Bibliográficas ALMEIDA JÚNIOR, Brandão (org.). O Desafio do desenvolvimento sustentável. Brasília: MMA, 1992. _________. A dimensão ambiental na educação. Campinas, SP: Papirus, 1995. BRASIL. Secretaria de Educação Ambiental. 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