As Circunstâncias do Complexo Cafeeiro
Ricardo Barboza Alves - Rodrigo Fontanari
Artigos
As Circunstâncias do Complexo Cafeeiro
Ricardo Barboza Alves
Mestrando em História pela UNESP, Campus Franca
Rodrigo Fontanari
Mestrando em História pela UNESP, Campus Franca
Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar o avanço do café por meio
da íntima relação engendrada pelos fazendeiros cafeicultores, contido nas
formas de manutenção da cultura cafeeira no âmbito regional, nacional e
mundial, onde observaremos as nuances e as oscilações do complexo cafeeiro,
principalmente, na esfera da organização política e administrativa das
condições necessárias para manter as atividades da produção cafeeira de forma
sustentável. Analisaremos, na esfera do mercado interno, como os fazendeiros
cafeicultores - agentes dominadores da economia brasileira - engendraram um
intricado sistema baseado no domínio político, pelo qual levaram à criação
de um circuito favorável à atividade econômica cafeeira que compreendia
uma rede amplamente interligada ao principal estado produtor, São Paulo,
beneficiando sua atividade nuclear – o café, sendo que essa rede integrada
somente foi conspurcada graças à supremacia paulista no cenário político
nacional. Para a confecção do artigo, vamos nos basear na historiografia
“clássica” dedicada a econômica cafeeira junto com novos estudos pertinentes
ao complexo cafeeiro que nos permitam uma maior compreensão do processo
de burocratização realizado pelos cafeicultores, na esfera nacional, permitindo
compreender o árduo caminho de propagação do café e as mudanças sofridas,
durante o domínio econômico da produção cafeeira.
Palavras-chave: Cafeicultura. Política. Burocratização.
The Circunstances of the Coffee Production
Abstract: The aim of this article is to analyze the spread of coffee through the
intimate relationship engendered by coffee growers, contained in the forms of
maintenance of coffee culture at the regional, national and global levels, where
we observe the nuances and fluctuations in coffee production, mainly in the
field of political and administrative organization of the necessary conditions for
maintaining the activities of coffee production in a sustainable manner. We will
look in the realm of the home market, how coffee growers – dominant players
in the Brazilian economy – engendered an intricate system based on political
dominance, by which led to the creation of a circuit in favor of economic activity
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that coffee contained a widely interconnected network to the main state producer,
São Paulo, benefiting its main activity – the coffee, and integrated network that
was only tarnished by the supremacy of São Paulo in the national political scene.
To make the article, we will build in the “classic” historiography dedicated to
the coffee economy along with new studies related to coffee production that
enable us to better understand the process of bureaucratization achieved by
growers, in national scope, allowing understanding the hard way of the spread
of coffee and the changes experienced during the economic dominance of coffee
production.
Keywords: Coffee culture. Politics. Bureaucratization.
“A história só é feita recorrendo-se a uma multiplicidade de documentos
e, por conseguinte, de técnicas: poucas ciências, creio, são obrigadas a
usar, simultaneamente, tantas ferramentas dessemelhantes”.1
Antes de iniciarmos, propriamente o trabalho que tem como foco principal a atividade
cafeeira e sua complexidade relacional, devemos introduzir os meandros do momento
histórico que compreende nosso objeto de estudo. Quando se inicia no Rio de Janeiro,
o golpe republicano, em 15 de novembro de 1889, estava-se constituindo um sistema
republicano que conspurcaria grandes vantagens à elite cafeicultura, entretanto a elite
cafeeira foi extremamente astuta e contou com uma coalizão de forças para corroborar o
golpe que resultou:
“da conjunção de três forças: uma parcela do exército, fazendeiros do
oeste paulista e representantes das classes médias urbanas que, para a
obtenção dos seus desígnios, contaram indiretamente com o desprestígio
da Monarquia e enfraquecimento das oligarquias tradicionais.
Momentaneamente unidas em torno do ideal republicano, conservaram,
entretanto, profundas divergências, que desde logo se evidenciaram na
organização do novo regime, quando as contradições eclodiram em
numerosos conflitos, abalando a estabilidade dos primeiros anos da
República”.2
1
BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora,
2001. p. 27.
2
COSTA, Emília Viottida. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 5ª edição. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1997. p. 361.
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E, segundo Aristides Lobo, o propagandista da República: “o povo, que pelo ideário
republicano deveria ter sido protagonista dos acontecimentos, assistira a tudo bestializado,
sem compreender o que se passava, julgando ver talvez uma parada militar”3. Confirmando
o posicionamento da ala evolucionista do Partido Republicano Paulista, comandada por
Quintino Bocaiúva que queria uma transição política pacífica sem a participação do
povo e sem transtornos. Cabe ressaltar que o Partido Republicano Paulista teve um papel
importantíssimo nessa transição, onde:
“[...] o papel do Partido Republicano, na queda do regime monárquico,
acabou sendo mais significativo do que a historiografia vem
confirmando. Certo é que foi inexpressivo numericamente, pois, só em
1877, conseguiu colocar três deputados provinciais, ainda com o apoio
dos liberais; em 1884 elegeu apenas dois deputados de São Paulo –
Prudente de Moraes e Campos Sales – num total de 125 parlamentares.
Mas sua importância não pode ser medida por isso. Como já se viu, o
Partido, desde o início elegeu a propaganda como uma das prioridades.
E foi o que fez melhor. Coube-lhe um papel doutrinador efetivo, que
desenvolveu por vários canais. O alcance desta propaganda, apesar
do número restrito de alfabetizados, letrados, e sobretudo ilustrados,
não foi desprezível. Está confirmado no silêncio do dia seguinte à
Proclamação, quando o povo [...] assistiu à queda da monarquia como
fato consumado. Acontece que as lições de República, após 19 anos de
campanha, pelo menos uma parte do povo já sabia de cor”.4
A partir das circunstâncias da Proclamação da República estava aberto o caminho para
os políticos paulistas ampliarem sua força. Desta maneira, a elite cafeeira estendera
seus tentáculos amplamente no cenário político durante a República Velha, impondo
seus interesses e necessidades, amalgamados na principal mola propulsora da atividade
econômica brasileira que foi o café. Esses fazendeiros cafeicultores “modernizadores
viram na descentralização um recurso para obterem uma alocação de recursos mais
eficientes do que seria possível através de um governo autoritário e centralizado”.5
Sendo que a maior manifestação dos grandes fazendeiros cafeicultores na esfera política
tem sido a política de valorização do café que foi tentada pela primeira vez em 1906,
quando os fazendeiros se reuniram no Convênio de Taubaté e decidiram que o governo
deveria fazer um empréstimo para comprar a produção excedente. Todavia o governo não
aceitou e os fazendeiros fizeram o empréstimo por conta própria. Com o passar do tempo,
o governo assumira a política de valorização do café com uma política de estado durante
o período da República Velha, sendo que:
3
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987. p. 09.
4
MARTINS, Ana Luiza. República: um outro olhar.5ª edição. São Paulo: Contexto, 1997. p. 49-50.
5
LOVE, Joseph. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982. p. 11.
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“O plano era essencialmente simples: os recursos obtidos por meio de
um empréstimo externo seriam usados para comprar o café e cobrir os
custos da armazenagem. Nos ano de colheita pobre, esse estoque seria
liberado para o mercado internacional. Paralelamente, de todo o café
exportado seria cobrado um imposto suficientemente alto, de modo a
prover os fundos para o pagamento da dívida contraída no exterior”.6
Nesse cenário de conflitos, a elite cafeeira paulista se posicionou rapidamente como
dominadora no golpe republicano, ao estabelecer um acordo político com integrantes da
política mineira na República Velha, que também ficou conhecida como República do
Café com Leite, pois os paulistas e os mineiros se revezavam na presidência da República,
impondo seus interesses e necessidades relativos à atividade cafeeira. Vale ressaltarmos,
que nem sempre houve consenso entre os aliados, havendo períodos em que o país foi
presidido por representantes de outro estado, pelo qual foram constantes as oscilações e
as divergências, na questão relativa ao controle do poder político advindo do controle da
presidência da República.
Devemos ressaltar que devido às características da produção cafeeira com suas sucessivas
crises cíclicas7 e ao caráter de inelasticidade do preço do café, e da inserção do Brasil
na economia-mundo, como economia subordinada produtora e fornecedora de matériaprima sem valor agregado, o Brasil ficava incessantemente vinculado às instabilidades e
as oscilações do mercado externo que regia o valor pago pelo principal produto brasileiro
– o café. Por causa desse ciclo de vicissitudes inerentes à atividade cafeeira, os líderes
paulistas buscaram criar um melhor aparelhamento burocrático do estado por meio do
controle da economia para tentar atenuar essas dificuldades relativas ao preço do café,
pela qual:
“[...] procuraram expandir o controle sobre a economia cafeeira para
diminuir, dentro do possível, o seu grau de instabilidade e, ao mesmo
tempo, garantir mais eficiência na arrecadação de tributos. Com a
intenção de atingir esses dois objetivos, a burocracia promoveu um
constante aperfeiçoamento dos aparelhos de intervenção econômica e
de arrecadação”.8
Apesar dessas iniciativas de controle econômico, o caráter burocrático de aparelhamento
do estado, somente pode ser entendido pelas mudanças institucionais trazidas pela
Constituição Federal de 1891. Desta Carta Constitucional, derivaram-se várias outras
conseqüências para a organização dos aparelhos estatais, pois a Constituição Federal
valorizava o recrutamento e a igualização dos agentes sociais, estabelecendo o critério
6
Idem. p. 72.
7
Maiores detalhes ver DELFIM NETTO, Antônio. O Problema do Café no Brasil. São Paulo: Publicado
para o Instituto de Pesquisas Econômicas pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, 1981,
especialmente a primeira parte do livro.
8
PERISSINOTO, Renato M. Estado e Capital Cafeeiro em São Paulo, 1889-1930. Tomo I. São Paulo:
FAPESP; Campinas, SP: UNICAMP, 1999. p. 97.
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universal do mérito, sendo verdadeiramente os pilares organizacionais da burocracia do
estado capitalista. Desta maneira, em 14 de julho de 1891, a Constituição paulista ratificou
os preceitos e os valores contidos na Constituição Federal, abrindo, de fato, às condições
para a efetiva burocratização do Estado de São Paulo, pela qual:
“[...] nossa preocupação maior aqui é mostrar como os princípios
inaugurados pela Carta de 1891 foram eficazes, pelo menos em São
Paulo, no sentido de forçar uma reorganização do aparelho estatal,
cujo resultado foi aprofundar a introdução de princípios burocráticos,
e como estes foram acompanhados por uma centralização decisória
crescente. Heloísa Fernandes observou que o estudo de instâncias
particulares do aparelho de Estado insere-se sempre num quadro mais
amplo que é o da estruturação ou reestruturação deste aparelho como
um todo. A Constituição de 1891 jogou exatamente esse papel ao lançar
os princípios básicos de organização não deste ou daquele aparelho,
mas do Estado como um todo”.9
Cabe ressaltarmos que a burocratização não ocorreu “[...] de forma abrupta e implicado
a pronta anulação de práticas administrativas pré-capitalistas, como o clientelismo e o
filhotismo”.10 Entretanto, a burocratização colaborou também como um dos elementos
fundamentais no processo de expansão educacional perpetrado no Estado de São Paulo,
pela qual:
“Esta expansão educacional é, ela própria, um forte indício do processo
de burocratização pelo qual passou, no período, o aparelho estatal
paulista. Como mostra Weber, o desenvolvimento da burocracia,
ao exigir a profissionalização da função administrativa, substitui o
funcionário diletante pelo perito profissional. Este perito deve, então,
ser recrutado a partir de exames que testam sua competência técnica
para o cargo pleiteado. A proliferação dessas provas, por sua vez, tem
conseqüências importantes sobre o sistema educacional, que passa a ser
cada vez mais profissionalizante”.11
Esse fato da expansão educacional, por meio da ótica da burocratização do Estado
apresentado acima, é corroborado pela perspectivas de pessoas mais qualificadas para
exercerem as funções de administração do Estado de forma mais adequada, sendo que
essa circunstância é confirmada por algumas medidas profissionalizantes tomadas pelo
governo paulista, onde a “[...] estruturação da carreira na Polícia data de 1905-1906 e
o Judiciário apresenta talvez o mais elevado nível de profissionalização em todo o país,
pelo menos a partir das reformas introduzidas por Washington Luiz, em 1921”.12
9
PERISSINOTO, Renato M. Estado e Capital Cafeeiro em São Paulo, 1889-1930. Tomo I. São Paulo:
FAPESP; Campinas, SP: UNICAMP, 1999. p. 98.
10 Idem. p. 106.
11 Idem. p. 105.
12 LOVE, Joseph. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982. p. 226-227.
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Não obstante a posição hegemônica, conseguida pelos fazendeiros cafeicultores paulistas
no cenário político nacional, não podemos esquecer o sistema capitalista, pelo qual a
atividade cafeeira se baseou e conseguiu sua expansão colossal, passando de mera planta
ornamental, quando chegou pelos idos da década de 1776 no Rio de Janeiro, a ser a
potência econômica do Brasil, principalmente nos 30 anos iniciais do século XX. Para
isso, a elite cafeicultura engendrou um complexo sistema que atingiu lugares nunca antes
imaginados. Graças às relações capitalistas impetradas pelo café e sua força descomunal,
o café sobrepujou fronteiras, introduziu novos hábitos e enriqueceu seus controladores.
Por esse prisma, a atividade cafeeira se alastrou amalgamado com a força do capitalismo
como a hidra mitológica que era:
“[...] figurada como uma serpente descomunal, de muitas cabeças,
variando estas, segundo os autores, de cinco ou seis, até cem e cujo
hálito pestilento a tudo destruía: homens, colheitas e rebanhos. [...]
cortando as cabeças da Hidra, onde houvera uma, renasciam duas. [...]
a Hidra simboliza [...] ambição banalmente ativa”.13
Sobre o capitalismo, devemos ressaltar que a fazenda produtora de café foi uma empresa
com características extremamente capitalistas, sendo que os fazendeiros eram insaciáveis
na busca da obtenção dos lucros, “onde a acumulação de capital tinha objetivos alternativos
ao longo do tempo”14, porquanto:
“A riqueza é o progresso contínuo do desejo de um objeto para o outro,
a obtenção do primeiro sendo ainda apenas o caminho para o seguinte
[...] Afirmo tratar-se de uma inclinação geral de toda a humanidade
o desejo perpétuo e sem trégua de poder seguido de poder que cessa
apenas com a morte. E a causa disso nem sempre é o fato de que um
homem espera uma satisfação mais intensa do que aquela já obtida; ou
que ele não possa se contentar com um poder moderado. É porque ele
não pode assegurar o poder e os meios para viver bem, que no presente
ele possui, sem a aquisição de mais”.15
Essa cobiça desenfreada retratada acima dos fazendeiros cafeicultores, no anseio de
acumular cada vez mais capital, fez os fazendeiros mercantilizarem cada vez mais os
processos sociais como, não somente as trocas, mas também os meios de produção e
investimentos presentes em toda a órbita da vida econômica.16 Desta maneira, os
cafeicultores investiram amplos recursos necessários, principalmente na fazenda, para
13 BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Volume I. 3ª edição. Petrópolis: Vozes, 1987. p. 243.
14 WALLERSTEIN, Immanuel. Capitalismo histórico & Civilização capitalista. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2001. p. 14.
15 GIANNETTI, Eduardo. Vícios privados, benefícios públicos? A ética na riqueza das nações. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007. p. 33.
16 Conceito retirado de WALLERSTEIN, Immanuel. Capitalismo histórico & Civilização capitalista. Rio
de Janeiro: Contraponto, 2001.
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sustentá-la e obter lucro, buscando os recursos adequados para melhorar a infra-estrutura
do mundo rural, sendo assim a fazenda era “[...] um verdadeiro mundo em miniatura, em
que se concentra e resume a vida toda de uma pequena parcela de humanidade”17, pelo
qual havia, basicamente:
“casa sede da fazenda, casa de colonos simples e duplas construídas
de tijolos e telhas, casa para administrador, terreiro ladrilhado para
beneficiar café, moinho de fubá a motor elétrico, despolpador a vapor,
tulhas, cocheira, rancho, paiol, estribaria, casa para máquinas com
respectivos maquinismos e acessórios, celeiros, carpintaria, tenda de
ferreiros, lavador de café, serra circular para lenha, algumas fazendas
possuíam engenho para fabrico de aguardente, mangueiro para criação
de porcos, máquina de picar cana de açúcar, galinheiros, algumas
fazendas possuíam olarias”.18
No teatro de operações mundial, o sistema de ferrovias causou grande estrondo na
comunidade mundial e foi um dos principais artífices do fomento e consolidação da
revolução industrial, expandindo seus tentáculos pelo mundo e integrando lugares nunca
antes imaginados pelo homem, e de acordo com Hobsbawm:
“Nenhuma outra inovação da revolução industrial incendiou tanto a
imaginação quanto a ferrovia, como testemunha o fato de ter sido o
único produto da industrialização do século XIX totalmente absorvido
pela imagística da poesia erudita e popular. Mal tinham as ferrovias
provado ser tecnicamente viáveis e lucrativas na Inglaterra (por volta
de 1825-30) e planos para sua construção já eram feitos na maioria
dos países do mundo ocidental, embora sua execução fosse geralmente
retardada. As primeiras pequenas linhas foram abertas nos EUA em
1827, na França em 1828 e 1835, na Alemanha e na Bélgica em 1835
e até a Rússia em 1837. Indubitavelmente, a razão é que nenhuma
outra invenção revelava para o leigo a forma tão cabal o poder e a
velocidade da nova era; a revelação fez-se ainda mais surpreendente
pela incomparável maturidade técnica mesmo das primeiras ferrovias.
[...] A estrada de ferro, arrastando sua enorme serpente emplumada de
fumaça, à velocidade do vento, através de países e continentes, com
suas obras de engenharia, estações e pontes formando um conjunto de
construções que fazia as pirâmides do Egito e os aquedutos romanos e
até a Grande Muralha da China empalidecerem de provincianismo, era
o próprio símbolo do triunfo do homem pela tecnologia”.19
17 PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia. São Paulo: Brasiliense, 2004. p.
147.
18 Cartório Oficial de Registro de Imóveis e Anexos de Santa Cruz das Palmeiras. Livro hipotecário A e
B.
19 HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. 22ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2007. p. 72.
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No Brasil, esse aspecto foi extremamente relevante sobre a questão da infra-estrutura
relativa aos melhoramentos das condições de manejo da produção cafeeira, recaindo
grande discussão sobre a questão de quem deveria fazer os investimentos para a
implantação do transporte ferroviário tão fundamental para modernizar e dinamizar as
atividades do complexo cafeeiro. Desta maneira, houve grande pressão e influência dos
fazendeiros cafeicultores, para que o governo estabelecesse e aplicasse recursos públicos
na implantação do transporte ferroviário, para acabar com o gargalo dos transportes,
que dificultava a distribuição do café, e buscar a redução dos custos do escoamento da
produção. Sendo assim, os fazendeiros cafeicultores usaram como argumentação para a
implantação do transporte ferroviário, os exemplos dos países que já haviam aplicado
investimentos na fomentação do complexo ferroviário e estavam tendo bons resultados
no que tange ao escoamento da produção, mostrando que estavam amplamente antenados
aos avanços necessários para modernizar suas atividades. Todavia, aqui, o Estado deveria
garantir os investimentos para a implantação das ferrovias. Vejamos o posicionamento
dos fazendeiros sobre o processo de implantação das ferrovias:
“Fazendeiros de visão convenceram o governo provincial a colaborar
com a administração central no sentido de garantir as taxas de lucro
para as companhias ferroviárias. Estas expandiram suas operações
rapidamente: São Paulo contava com 140 km de trilhos em 1870, 1.200,
uma década mais tarde e 2.400. em 1890. Em 1937, o estado possuía
22% das linhas ferroviárias do país – 7.400 km, quase tanto quanto
Minas Gerais, cujo território é duas vezes maior. Embora o sistema de
estradas de ferro no Brasil já tenha sido criticado muitas vezes por sua
falta de integração, São Paulo teve a sorte de construir um regionalmente
integrado. Além do mais, em termos de quilômetros quadrados, possui
o sistema mais extenso em toda a América do Sul, com exceção da
região dos pampas úmidos, em torno de Buenos Aires”.20
Essa pressão do setor cafeeiro foi extremamente bem organizada pelos fazendeiros
devido à demanda da dificuldade provocada pelo gargalo do escoamento da produção e
para buscar uma alternativa mais rápida e viável que diminuísse os custos operacionais
relativos ao transporte, sendo que o investimento das ferrovias desprendia a formação e
desenvolvimento do espírito associativo, aglutinando o recurso de várias famílias para
sua implantação21, sendo que o alto custo do transporte foi a principal condição para haver
a organização e o espírito associativo, pois:
“Em 1863, antes da chamada da estrada de ferro, os custos de transporte
de Campinas a Santos representavam mais de 40% do preço de
exportação. É provável que, em média, a ferrovia tenha reduzido os
20 LOVE, Joseph. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982. p. 23-24.
21 Conceito retirado de PERISSINOTO, Renato M. Estado e Capital Cafeeiro em São Paulo, 1889-1930.
Tomo I. São Paulo: FAPESP; Campinas, SP: UNICAMP, 1999.
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custos do frete a 20% do preço vigente no porto. Na década de 1920, as
despesas com transporte representavam pouco mais de um décimo dos
gastos correntes incorridos pelos fazendeiros”.22
No que tange ao impacto da implantação da ferrovia na vida da província de São Paulo,
podemos destacar que a estrada de ferro colaborou para a incorporação de novos hábitos
e amplificou a interligação do circuito cafeeiro de forma dinâmica com a economia
nacional e mundial. E, também, ascendeu São Paulo de uma área de importância periférica
secundária, que era, para uma área altamente proeminente e pujante da economia brasileira.
Vejamos esta influência do sistema ferroviário no poema de Antônio Carlos de Almeida,
intitulado “a Locomotiva, dedicado ao Conselheiro Homem de Mello:
“Começa a arfar o trem./ A máquina flameja/ lançando em profusão o
fumo pelo ar!/ De dentro da caldeira mil jorros d’água fervida/ num
doído turbilhão impelem-na a andar.// Partiu. Lá vai correndo em
rápido galope/ como o raio cortando o vasto imenso espaço!/ não olha
para trás. Caminha, e as auras mansas/ alagam-lhe, beijando, o forte
peito de aço.// Transpõe como um leão as curvas do caminho,/ assusta
os animais, espanta-os, passa ovante!/ Penetra o rijo seio aberto das
montanhas/ imprimindo na treva um sulco lampejante.// Ó murmurosa
máquina, um gênio altivo e forte/ habita-te as entranhas batidas pelo
malho!/ É a Força, a Inteligência, a Luz que fez as forjas,/ as prensas e
o telégrafo aos hinos do trabalho!// Saudemos, pois, a máquina, a idéia,
o pensamento,/ o gênio do ideal fundo como o oceano!/ Saudemos
com calor esse poema enorme/ de ferro, fogo e aço do grande Engenho
humano!”23
Sobre o impacto das ferrovias, Martins resume assim as transformações:
“Antes da instalação da ferrovia, o transporte de toda a produção do
Brasil, fosse ela de açúcar, ouro, algodão e agora café, era feito em lombo
de burros, através de imensas tropas de muares que desde o extremo sul
do país chegavam até os centros consumidores mais distantes atingindo
os portos do litoral [...] Entretanto, à proporção que o café avançava
para o interior, o custo desse transporte aumentava. Quanto maior a
distância entre a fazenda e o porto de escoamento, mais se elevava o
frete e menor era o lucro do fazendeiro. A situação chegou a um ponto
em que plantar café além de Rio Claro, então ‘boca do sertão’, passou
a ser inviável devido ao alto frete. [...] A solução foi a ferrovia [...]
Com a locomotiva chegou o progresso. As distâncias encurtavam-se,
22 LOVE, Joseph. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982. p. 68.
23 MARTINS, Ana Luiza. Império do Café: a grande lavoura do Brasil, 1850 a 1890. São Paulo: Atual,
1990. p. 74.
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os fazendeiros não mais permaneciam nas fazendas, construindo seus
palacetes nas cidades e sobretudo em São Paulo, conhecida então
como Capital dos Fazendeiros. Com a facilidade dos transportes,
promoveram-se melhoramentos urbanos que embelezaram as cidades.
Até a circulação de notícias se fez com mais rapidez, com o transporte
de jornais das capitais para o interior. Eram os novos tempos”.24
“Para Morellet, os capitalistas formam um grupo, uma categoria, quase uma classe à
parte na sociedade”.25 Entretanto, esse caráter prosélito, desses agentes, no nosso caso
os fazendeiros cafeicultores que dominavam a sociedade, dava-se devido aos gracejos
voluptuosos e à astúcia dos mesmos em buscar salvar sua atividade econômica dos perigos
existentes e para isso, usaram um mecanismo extremamente eficiente engendrado na
amálgama entre a política e a atividade econômica, buscando o caráter modernizador que
favorecia somente as atividades da elite cafeicultora, sendo que a modernização sempre
era:
“parcial e excludente por sua própria natureza, o processo de
modernização urbana tornara-se espelho dos mecanismos mais gerais
que banalizavam a construção do país. Permaneciam as profundas
fraturas sociais herdadas da escravidão e do latifúndio, e persistiam no
poder os setores tradicionais, configurando um quadro de resistências que
limitaria qualquer mudança. A modernidade seria usufruída por poucos,
mesmo porque sua disseminação efetiva exigiria o questionamento de
nossas estruturas de dominação, propriedade fundiária e divisão social.
No seu lugar, teríamos apenas a eterna miragem da modernização”.26
Desta maneira, controlavam a máquina estatal que não conseguia impedi-los de impor seus
interesses na esfera política, apesar de haver algumas resistências sobre esse domínio, os
fazendeiros cafeicultores ultrapassaram todas as barreiras, determinando no jogo político
como seria formulado o conjunto legislativo que favorecia os desejos e as premissas desse
grupo sectário - controlador do café, principal produto gerador de divisas para o Brasil no
cenário da economia mundo. Baseavam sua força na divulgação de que o café era a base
da riqueza brasileira, corroborando essa figura de linguagem com a pujança da produção
cafeeira no cenário da economia mundo, já que “entre 1910 e 1920, o Brasil produziu
cerca de dois terços do café mundial, sendo as fazendas paulistas responsáveis por 70%
desse total, ou seja, quase a metade da produção mundial”.27
Com o advento da inserção das ferrovias, o universo se desabrochou às condições
favoráveis para a expansão da atividade cafeeira como um organismo multifacetado que
24 MARTINS, Ana Luiza. Império do Café: a grande lavoura do Brasil, 1850 a 1890. São Paulo: Atual,
1990. p. 15-16.
25 BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII. O Jogo das
Trocas. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 204.
26 CAMPOS, Candido Malta. Os rumos da cidade. São Paulo: Editora SENAC, 2002. p. 24.
27 LOVE, Joseph. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982. p. 65.
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pulsava e empurrava as perspectivas econômicas, modificando também o conjunto social
e cultural das áreas atingidas pelo sistema ferroviário. Colaboram para essa expansão
também os mecanismos internacionais e a economia mundial, consubstanciado pelo
caráter imperativo do capitalismo que imprimiram a dinâmica da atividade cafeeira
no Brasil. Desta maneira, o Brasil se insere na economia mundo pela perspectiva do
café, como principal centro fornecedor, sendo São Paulo seu principal artífice produtor,
quando o capital industrial estava se consolidando na Europa num processo dominaçãosubordinação, que veio a forçar o Brasil a posicionar-se como fornecedor de produtos
requisitados no mercado europeu. Sendo assim:
“O caráter primário-exportador não decorre simplesmente da força
material da produção predominante, alimentos e matérias-primas, e
da localização de mercado em que se realiza, o externo. Ao contrário,
advém, fundamentalmente, de que as exportações representam o único
componente autônomo de crescimento da renda,e, ipso facto, o setor
externo surge como centro dinâmico da economia”.28
Desta maneira, resumidamente: “o capitalismo industrial ‘propõe’ a formação de uma
periferia produtora em massa, de produtos primários de exportação, organizando-se a
produção em bases capitalistas, quer dizer, mediante trabalho assalariado”.29 Sendo que
no Brasil vários fatores se fundiram para haver a modificação das relações de trabalho na
zona cafeeira, pois havia uma mentalidade extremamente conservadora baseada na mãode-obra escrava, entretanto:
“a substituição do trabalho escravo por imigrante já fora tentada
ainda na década de 1850. No entanto, esses primeiros esforços foram
considerados mal sucedidos, os imigrantes sentiram-se tratados
como escravos e os fazendeiros reclamavam da ‘indisciplina’ dos
trabalhadores. As relações de trabalho na propriedade de Vergueiro,
em Limeira, perto de Rio Claro, causaram tal escândalo na Europa que
a Prússia proibiu, em 1859, o recrutamento dentro de seu território,
logo seguida pelo governo suíço, que recomendou a mesma política
aos cantões constituintes. Paralelamente, a imigração espontânea (não
subsidiada) foi restringida até os últimos anos da década de 1880
devido à alta lucratividade do trabalho escravo e ao custo da passagem
da Europa para o Brasil, nos navios a vapor, que chegou a custar o
dobro da passagem para os Estados Unidos. Mas afinal, a diminuição
nos custos da viagem, o excesso de população no sul da Europa, a
perspectiva mais certa da abolição, bem como a decisão de autoridades
dos governos central e paulista no sentido de subvencionar o transporte
de imigrantes, transformaram o pequeno número inicial em uma grande
onda. Cerca de 2.300.000 (57%) dos imigrantes que entraram no Brasil
entre 1888 [...] e 1935, dirigiram-se para São Paulo”.30
28 MELLO, João Manuel de. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. p. 29.
29 Idem. p. 45.
30 LOVE, Joseph. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982. p. 26.
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No cenário mundial, a posição do Brasil, sintaticamente há sido de subordinação, sendo
que:
“[...] as diferentes economias ‘nacionais’ são ligadas por relações de
subordinação-dominação. As leis que asseguram a reprodução ampliada
do capital em escala mundial asseguram ao mesmo tempo ‘uma forma
determinada de dominação-subordinação das diferentes formações
sociais, a reprodução do sistema das posições correspondentes a
essas relações de dominação-subordinação, os ritmos desiguais de
desenvolvimento que resultam dessas posições e as condições de troca
que delas resultam’. Ao nível da formação social, obstáculos e elementos
motores são efeitos contraditórios de uma mesma estrutura, a estrutura
econômica própria à formação social em via de desenvolvimento
capitalista à época da dominação das relações capitalistas em escala
mundial. [...] Essas relações, apesar de implicarem em formas de
dominação políticas e ideológicas tão violentas quanto às da época
colonial, apóiam-se fundamentalmente sobre relações econômicas. As
relações de dominação-subordinação internacionais que caracterizam o
mundo a partir do final Século XIX são o resultado – ou melhor, uma
manifestação – da dominação e reprodução das relações capitalistas em
escala mundial”.31
Sendo assim, o complexo cafeeiro foi profundamente orquestrado pela consolidação
do capitalismo industrial que, como um regente (maestro), determinava aos músicos
(fazendeiros cafeicultores) de que maneira a música deveria ser executada. Porquanto,
na esfera do mercado interno os agentes dominadores da economia engendraram um
intricado sistema, baseado no domínio político, pela qual levaram à criação de um circuito
favorável à atividade econômica que compreendia uma rede amplamente interligada no
principal estado produtor, São Paulo. Essa rede integrada somente foi introduzida graças
à preponderância paulista no cenário político nacional, sendo que “nos primeiros anos da
República, São Paulo liderava indiscutivelmente a vida política nacional, fato claramente
evidenciado pelo controle que a máquina política estadual exerceu sobre a presidência,
durante 12 anos, a partir de 1894”.32 Assim, de acordo com Quintaneiro e Oliveira:
“[...] é a dominação o que mantém a coesão social, garante a permanência
das relações sociais e a existência da própria sociedade. Ela se manifesta
sob diversas formas: a interpretação da história de acordo com a visão do
grupo dominante numa certa época, a imposição de normas de etiqueta
e de convivência social consideradas adequadas, e a organização de
regras para a vida política. É importante ressaltar que a dominação não
é um fenômeno exclusivo da esfera política, mas um elemento essencial
que percorre todas as instâncias da vida coletiva”.33
31 SILVA, Sergio. Expansão Cafeeira e Origens da Indústria no Brasil. 8ª edição. São Paulo: Editora AlfaOmega, 1995. p. 20-21.
32 LOVE, Joseph. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982. p. 149.
33 QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro
de. Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2.ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. p.
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Para finalizar, destacamos que esse estudo traça um panorama dos impactos no âmbito
nacional, internacional e estadual do complexo cafeeiro, perpassando brevemente
por aspectos de uma realidade múltipla, tentando evitar generalizações equivocadas
que provoquem interpretações inadequadas. Sendo assim, essa questão das atividades
relacionadas ao complexo cafeeiro, nosso objetivo foi articular o árduo caminho de
propagação do café e as mudanças sofridas durante o domínio econômico da produção
cafeeira, estabelecendo as conexões e as interações imprescindíveis para melhor
compreensão da vinculação e a volúpia dos cafeicultores em garantir a estrutura que
contribuísse para a obtenção de lucros na produção de café, subjacente sempre foram
movimentados pela cobiça a qual:
“[...] quando sonhos iludem nossos olhos errantes na pesada sonolência
da noite, e rendendo-se à pá a terra entrega ouro à luz do dia, nossas
mãos cobiçosas tocam a pilhagem e agarram o tesouro, o suor também
nos escorre pelo rosto, e nos torna o coração um medo intenso de que
talvez alguém sacuda nosso peito carregado, onde sabe estar escondido
o ouro: logo, quando esses prazeres fogem do cérebro de que zombaram,
e retorna a verdadeira forma das coisas, nossa mente anseia pelo que se
perdeu, e se move com toda a sua força entre as sombras do passado
[...]”.34
Considerações Finais
De forma geral, este estudo tem contribuído com um delineamento de um hemisfério
importante que foi o estabelecimento do complexo cafeeiro, compreendendo principalmente
o papel do crédito tão fundamental da esfera política dominada amplamente pelos grande
fazendeiros cafeicultores.
Podemos perceber que a atividade cafeeira tem percorrido um caminho tortuoso e
longo na esfera nacional amalgamado pelas influências da economica mundo esboçado,
principalmente, pela extremada dependência de nossa economia primária agrárioexportadora. Nesse cenário, para manter as atividades relativas à produção da atividade
nuclear – o café e sua lucratividade, os grandes fazendeiros cafeicultores com suas
fazendas detentoras de grande produção cafeeira, mesmo nos períodos de crise da
atividade, do caráter cíclico e de inelasticidade do café, sempre controlaram a política e
determinavam quais seriam as medidas tomadas para conseguirem obter e manter seus
lucros. Esses grandes cafeicultores devido ao grau íntimo de contato com as entranhas
do jogo político por serem membros da elite cafeeira, sempre tiveram acesso facilitado
as melhores vantagens, como o aparelhamento do Estado por meio de sua burocratização
que visava somente a atribuir melhores condições para garantirem os lucros advindos da
atividade cafeeira.
34 CHANCELLOR, Edward. Salve-se quem puder: uma história da especulação financeira. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001. p. 16.
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Nota-se, também, a grande influência da atividade cafeeira no fomento do desenvolvimento
da esfera social com a ampliação do complexo cafeeiro devido à implantação das ferrovias
e das relações comerciais secundárias derivadas da atividade cafeeira que atingiram
lugares nunca dantes imaginados pelos homens como forma viável de aproveitamento
econômico. Todavia não podemos esquecer de que a elite agrária cafeicultora conduzia
o jogo da forma que lhe interessava. Porém, devemos ressaltar que o café foi o pilar de
sustentação econômica do Brasil e da expansão pelo interior do país com o surgimento
de várias novas cidades e mudanças profundas na vida cultural e social da sociedade
brasileira.
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