Variação Temporal do Material Particulado Atmosférico Fino em São José dos Campos, SP Patricia Alexandre de Souza1, William Zamboni de Mello2, Rauda Lúcia Mariani3 e Silvia Maria Sella4 1,2 Departamento de Geoquímca, Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense– Outeiro de São João Batista, s/nº,24020-141- Niterói-RJ-Brasil: [email protected] 3 Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais- Avenida dos Astronautas, 1758, CP5, 12227-10- São José dos Campos-SP- Brasil 4 Departamento de Químca Analítica, Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense– Outeiro de São João Batista, s/nº,24020-141- Niterói-RJ-Brasil ABSTRACT: Air samples of fine particulate matter (PM2,5) were collected in São José dos Campos from February 2004 to February 2005. The average concentrations ( SD) PM2,5, were equal to 22.6 7.5µg m-3 in the dry season (n = 14) and equal to 13.8 7.9µg m-3 for the rainy season (n = 39).Ammonium, K+ e SO42- were predominantly found in the fine fraction. Hierarchical cluster analysis and backward air mass trajectories indicate that during the dry period the NO3-, SO42-, NH4+ and K+ associated with PM2.5 are significantly influenced by continental sources. Palavras-chave: material particulado fino, partículas inaláveis e poluição atmosférica. 1 – INTRODUÇÃO A poluição do ar provocada pelo material particulado (MP) atmosférico é um sério problema ambiental que atinge inúmeras regiões do mundo, atingindo especialmente as áreas urbanas e industrializadas, causando impactos adversos sobre a saúde humana e ao meio ambiente (IPCC, 2007). O material particulado (MP) atmosférico é conhecido como uma mistura complexa de partículas líquidas e sólidas (aerossóis), de tamanho na faixa entre poucos nanômetros até aproximadamente 100 µm, em suspensão no ar. As PI são comumente subdivididas em partículas inaláveis finas e grossas (inhalable fine and coarse particles) (http://www.epa.gov/oar/particlepollution), sendo as primeiras aquelas de Da menor ou igual a 2,5 µm (abrev.: MP2,5) e as últimas as de Da entre 2,5 e 10 µm (abrev.: MP2,5-10). 2 - MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido em São José dos Campos (SJC) no Vale do Paraíba (SP). SJC encontra-se a 600 m de altitude rodeada pela Serra do Mar e da Mantiqueira. A amostragem do MP2,5 foi conduzida de fevereiro de 2004 a fevereiro de 2005 num local (23°12’48,6”S; 45°51’59,1”W) situado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em SJC, por intermédio de um amostrador dicotômico MP10 Graseby Andersen modelo 241, que separa o MP nas frações fina e grossa. As coletas foram realizadas num período de 24 h com intervalos de 6 dias entre uma coleta e outra. Os ventos predominantes são os de nortenordeste (NNE) e nordeste (NE), com contribuições das direções sul-sudoeste (SSW) e sulsudeste (SSE) (CETESB, 2006). A seguir são descritos sucintamente os métodos analíticos empregados. A massa do MP2,5 foi determinada por gravimetria (diferença de peso do filtro antes e após a coleta), e a solubilização do conteúdo dos filtros foi realizada pela adição de 50 mL de água destilada e deionizada, seguido da ultrassonificação (Thorton modelo GA-240) por 3 h. Em seguida, os extratos dos constituintes inorgânicos solúveis em água foram transferidos para frascos de 100 mL de polietileno e preservados em freezer. Os íons analisados foram: Cl-, NO3-, SO42-, NH4+, Na+, K+, Mg2+ e Ca2+. A descrição detalhada do procedimento analítico encontra-se em de Souza et al. (2010). 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o período de monitoramento foram identificados dois longos períodos de ausência de chuvas superiores à 20 dias consecutivos, o primeiro registrado de 13 de junho a 07 de julho (25 dias de estiagem), onde a concentração máxima de MP2,5 foi igual a 28,8 µg m-3. No segundo período de estiagem de 21 de julho a 17 de setembro (38 dias de estiagem), a concentração de MP2,5 foi ainda maior, com valor igual a 40,7 µg m-3 (Figura 1). Com o intuito de se avaliar o comportamento e as características químicas do MP fino mediante as condições de ausência prolongada de chuvas, decidiu-se por reunir os dados destes dois períodos sem chuvas (designado por período seco; PS) e compará-los ao restante dos dias juntos (designado período regular; PR), compreendendo o período de 24 de fevereiro a 11 de junho e de 27 de setembro de 2004 a 24 de fevereiro de 2005. 45 70 40 60 50 30 25 40 20 30 15 20 10 Precipitação (mm) MP2,5 (µgm-3) 35 10 5 Precipitação 18/02/2005 04/02/2005 21/01/2005 07/01/2005 24/12/2004 10/12/2004 26/11/2004 12/11/2004 29/10/2004 15/10/2004 01/10/2004 17/09/2004 03/09/2004 20/08/2004 06/08/2004 23/07/2004 09/07/2004 25/06/2004 11/06/2004 28/05/2004 14/05/2004 30/04/2004 16/04/2004 02/04/2004 19/03/2004 05/03/2004 0 20/02/2004 0 MP2,5 Figura 1- Distribuição das concentrações médias de 24 horas do material particulado fino (MP2,5) no INPE e da precipitação diária em São José dos Campos. A Tabela 1 apresenta a concentração média (em g m-3) da massa do MP fino, assim como, dos íons solúveis em água associados a esta faixa de tamanho, referentes ao PS (13 de junho a 07 de julho e de 21 de julho a 17 de setembro; n = 14) e ao PR (n = 39). A concentração média do MP2,5 foi 1,6 vezes superior durante o PS (22,6 µg m-3) em relação ao PR (13,8 µg m-3). Os íons SO42-, NH4+ e K+ foram os mais abundantes associados ao MP2,5, representando juntos 78% e 69% do da massa total das espécies inorgânicas respectivamente para o PS e PR. Estima-se que no PS e PR respectivamente 97 e 95% do SO42- associados ao MP2,5 originaram-se da oxidação do SO2. A Análise de Agrupamentos (AA) foi aplicada às amostras de MP fino durante o PS com a finalidade de se identificar possíveis episódios de características similares. Para isso, foi empregado o software Statistica 7.0. O dendograma resultante da AA definiu para as amostras de MP fino 2 grupos, ambos contendo 7 casos. O Grupo 1 inclui os dias: 23/07/04, 15/09/04, 05/07/04, 16/08/04, 10/08/04, 29/07/04 e 29/06/04 e o Grupo 2 os dias: 22/08/04, 09/09/04, 23/06/04, 03/09/04, 04/08/04, 28/08/04, 17/06/04 (Figura 2). Tabela 1- Concentração média (µg m-3) da massa do MP fino e dos íons inorgânicos solúveis em água durante o período seco (PS; n= 14) e o período regular (PR; n= 39). PS Media Desvio-Padrão PR Media Desvio-Padrão MP2,5 Cl- NO3- SO42- NH4+ Na+ K+ Ca2+ Mg2+ 22,6 7,5 0,22 0,15 0,45 0,28 2,95 1,22 1,28 0,51 0,30 0,22 0,73 0,30 0,34 0,14 0,03 0,01 13,8 7,9 0,40 0,32 0,35 0,27 1,93 1,33 0,86 0,71 0,36 0,27 0,38 0,33 0,28 0,27 0,03 0,01 MP2,5 10 9 8 7 Grupo 2 6 5 Grupo 1 Distância 4 3 2 1 0 17/06/04 28/08/04 04/08/04 03/09/04 23/06/04 09/09/04 22/08/04 29/06/04 29/07/04 10/08/04 16/08/04 05/07/04 15/09/04 23/07/04 Figura 2- Dendograma das amostras do material particulado fino (MP2,5) referente ao período sem chuvas em São José dos Campos. Na Tabela 2 estão compiladas as concentrações médias (em neq m-3) dos íons sulfato, potássio e cálcio excluídas as parcelas de origem marinha (exc-SO42-, exc-K+ e exc-Ca2+, NH4+, Na+, NO3- e Mg2+, e do déficit de cloreto (def-Cl-; parcela de cloreto volatilizada para a atmosfera do MP atmosférico; de Souza et al. (2010)) para cada um dos dois grupo formados. O Grupo 2 apresentou as maiores concentrações médias dos íons inorgânicos e maior déficit de Cl-. Tabela 2- Concentrações médias (neq m-3) dos íons inorgânicos solúveis em água para os Grupos 1 e 2 da análise de agrupamentos para o PM2,5 durante o período seco (PS) PM2,5 Grupo 1 Grupo 2 G2/G1 dep-Cl15,6 27,2 1,7 NO36,6 12,0 1,8 exc-SO4244,7 79,6 1,8 NH4+ 59,6 108,2 1,8 Na+ 24,9 32,6 1,3 exc-K+ 15,4 26,1 1,7 exc-Ca2+ 18,2 24,9 1,4 Mg2+ 3,2 3,5 1,1 C B A D F E G Figura 3 - Trajetórias reversas de massa de ar para o Grupo 1 (do dendograma) referentes ao MP2,5. D A B C D E F G Figura 4 - Trajetórias reversas de massa de ar para o Grupo 2 (do dendograma) referentes ao MP2,5. Através do programa HYSPLIT _4 MODELING SYSTEM (HYbrid Single-Particle Lagrangian Integrated Trajectory; http://www.arl.noaa.gov/ready/hysplit4.html) foram computadas as trajetórias reversas de massa de ar, visando uma melhor compreensão das características destes dois grupos no que tange potenciais origens dos íons estudados. Para isso foi utilizado o banco de dados meteorológico do tipo FNL (Final Meteorological database) que o modelo dispõe, e como tempo de duração da trajetória 144h a uma distância de 610 m do nível do solo. As trajetórias reversas do Grupo 1 (Figuras 3A-G) têm como característica comum percursos com extensões maiores sobre o Atlântico do que sobre o continente sul-americano em relação aos do Grupo 2 (Figuras 4A-G) Em 06/07/04 (Grupo 1; Fig. 3C) e 29/08/04 (Grupo 2; Fig. 4F) as trajetórias reversas tiveram origens no Pacífico. A origem continental e potencialmente antrópica dos íons NO3-, exc-SO42- , NH4+ e exc+ K é evidente ao se comparar as razões das concentrações médias Grupo 1/Grupo 2 (G1/G2), que para esses 4 íons foram 1,8, sendo este último 1,7 (Tabela 2), enquanto que para os íons de origem majoritariamente marinha, como o Na+ e Mg2+, as razões foram respectivamente 1,3 e 1,1. O maior tempo de permanência das massas de ar sobre o continente pode provocar transformações na composição química do MP em decorrência de reações que ocorrem durante o percurso especialmente em atmosfera poluída. Uma evidência disso está na razão G1/G2 para o def-Cl-. 4 – CONCLUSÕES Durante o PS a concentração média de MP fino foi 1,6 vezes maior comparado ao PR. Os íons SO42-, NH4+ e K+ foram os mais abundantes associados ao MP2,5. A AA distribuiu as amostras de MP fino em dois grupos, Grupo 1 e Grupo 2, sendo este último o que apresentou as maiores concentração. As trajetórias reversas de massas de ar de ambos os grupos foram computadas pelo Hysplit, e os padrões de comportamento das trajetórias reversas explicam possíveis contribuições de origens continentais, para a composição químicas das partículas finas, principalmente para o grupo 2, justificando as altas concentrações dos íons inorgânicos solúveis em água associados a esta faixa de tamanho. 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CETESB (Companhia de Tecnologia e Saniamento Ambiental). 2006. Relatório da Qualidade do Ar no Estado de São Paulo, Diretoria de Engenharia Ambiental/ Departamento de Qualidade Ambiental, São Paulo. 20p. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/Ar/publicacoes.asp>. de SOUZA, P.A.; de MELLO, W.Z.; MARIANI, R.L. & SELLA, S.M. Caracterização do material particulado fino e grosso e composição da fração inorgânica solúvel em água em São José dos Campos (SP). Quim. Nova (no prelo).2010. IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). 2007. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg1/en/contents.html>. Acesso em: jul. 2008.