Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca POLÍTICA DE INDEXAÇÃO NA VISÃO DOS INDEXADORES Milena Polsinelli Rubi1 Mariângela Spotti Lopes Fujita2 RESUMO A indexação visa fornecer, por meio de termos, representações de conteúdos de documentos que poderão ser recuperados pelo usuário no momento da busca. Para que haja correspondência entre os índices e os documentos recuperados, é preciso que os sistemas de informação adotem uma política de indexação condizente com esse propósito. Objetivou-se, portanto, identificar os elementos de política de indexação a partir da visão de indexadores de bibliotecas universitárias. Utilizou-se como metodologia a prática de leitura como evento social, verificando também a aplicabilidade quanto ao seu uso como instrumento para coleta de dados. Os resultados demonstraram que os indexadores reconhecem a importância da política de indexação para o sistema de informação, uma vez que, a partir da definição da mesma pode-se sistematizar o processo de indexação e, consequentemente, melhorar a recuperação da informação. Conclui-se, portanto, que a prática de leitura como evento social pode ser utilizada como metodologia pela riqueza e diversidade dos dados coletados durante a interação entre os indexadores. Palavras-chave: política de indexação; indexadores; leitura como evento social. 1 INTRODUÇÃO A indexação em Análise Documentária é, de forma prática, realizada em serviços de análise de conteúdos documentários de sistemas de informação que constróem e alimentam bases de dados referenciais e textuais com a finalidade de fornecer representações desses conteúdos documentários através de termos que poderão ser recuperados em estratégias de busca realizadas por usuários desses sistemas de informação. 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – UNESP – Marília. Bolsista CAPES. Email: [email protected]. 2 Professora Assistente Doutora – Departamento de Ciência da Informação – UNESP – Marília. E-mail: [email protected]. Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 2 Para satisfazer adequadamente a demanda de recuperação é preciso que esses sistemas de informação adotem uma política de indexação dotada de estratégias pertinentes ao alcance dos objetivos de recuperação do sistema de informação. Essas estratégias estão vinculadas a existência de elementos que caracterizam uma política de indexação. Propõe-se, em decorrência, identificar os elementos de uma política de indexação a partir da visão do indexador do sistema de informação. Responsável pela indexação, e portanto igualmente importante dentro do sistema de informação, o indexador tem a função primordial de compreender a leitura ao realizar uma análise conceitual que represente adequadamente o conteúdo de um documento de modo que ocorra correspondência com o assunto pesquisado pelo usuário. Considerando que a política de indexação de um sistema de informação deverá estar descrita formalmente em seus documentos oficiais, neste caso em manuais de indexação, em estudo anterior (RUBI, 2000), procurou-se verificar se os sistemas de informação Sub-Rede Nacional de Informação em Ciências da Saúde Oral, Centro de Informações Nucleares e Coordenação Geral de Documentação em Agricultura possuíam ou não um manual e, consequentemente, uma política de indexação que norteasse esse procedimento tão importante e imprescindível em grandes e pequenos sistemas. Nesse estudo, analisou-se comparativamente o conteúdo, a estrutura e, principalmente, os elementos de política de indexação presentes em seus manuais de indexação. Cumpre ressaltar aqui que um sistema de informação pode ser considerado um tipo de “empresa” que, geralmente, não visa lucro direto, mas que agrega valor à informação ao adquirila e processá-la tecnicamente de forma a torná-la disponível. Portanto, de maneira mais ampla, podemos considerar sistema de informação como uma organização. Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 3 Sob esse ponto de vista, Tamayo (1998), autor que trabalha com estudos sobre cultura organizacional, esclarece que existem duas abordagens principais que podem ser utilizadas no estudo dos valores organizacionais: a partir dos documentos oficiais da empresa e como os valores são percebidos pelos empregados. No nosso caso, entende-se por valores organizacionais os elementos de política de indexação que fazem parte do sistema de informação. A maior parte dos estudos feitos sobre os valores organizacionais têm utilizado a primeira forma, através de estudos da missão da empresa, dos seus documentos oficias, das suas políticas oficias e do discurso de seus dirigentes. Esse tipo de abordagem leva à identificação dos valores oficiais, aqueles que existem nos documentos oficiais considerados pelos dirigentes como orientadores da organização. No nosso caso, não é de nosso interesse estudar cultura organizacional dentro do sistema de informação, sob a perspectiva da administração. Mas, comparativamente, é o caso dos manuais de indexação dos sistemas de informação, em que se verificou as regras/diretrizes norteadoras do trabalho dos indexadores dos sistemas de informação. Entretanto, como nem sempre o que está descrito nos documentos oficiais (manual de indexação) é praticado pelos empregados (indexadores), a proposta para o desenvolvimento da nossa dissertação é observar como a política de indexação da instituição é percebida tanto pelos indexadores como pelos dirigentes regionais para elaboração de uma manual de indexação que seja realmente condizente com a sua realidade de trabalho, facilitando desse modo, a tarefa de indexação considerada tão importante em sistemas de informação. Para tanto, utilizou-se a metodologia denominada prática de leitura como evento social como um instrumento de coleta de dados para estudar a visão que os indexadores de bibliotecas universitárias têm a respeito de política de indexação. Essa metodologia também foi avaliada quanto ao seu uso como instrumento para coleta de dados na dissertação "Política de indexação Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 4 em serviços de análise da informação: subsídios à elaboração de manual de indexação para indexadores". 2 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO No que diz respeito à indexação em sistemas de informação, Fujita (1999) esclarece que ela é reconhecida como a parte mais importante do sistema porque condiciona os resultados de uma estratégia de busca. Além disso, a indexação pode ser observada em dois momentos distintos dentro do sistema: na entrada, no tratamento temático da informação, e na saída, na busca e recuperação da informação. Desse modo, observa-se a relevância em estudar não só a indexação isoladamente, mas também a política adotada pelo sistema de informação que influenciará todo o processo de análise documentária que resultará na indexação. A observação dos elementos de política de indexação pode ser feita principalmente por meio da documentação oficial do sistema de informação, ou seja, aquela produzida e/ou adotada como padrão para a realização de determinada tarefa ou ação dentro do sistema. O manual de indexação é um exemplo dessa documentação pois, além de ser produzido dentro dos sistemas de informação em questão, pressupõe-se que a maioria dos elementos constituintes de uma política esteja descrita nele. De acordo com Carneiro (1985), uma política de indexação deve, além de servir como um guia para tomada de decisões, levar em conta os fatores como características e objetivos da organização, determinantes do tipo de serviço a ser oferecido; identificação dos usuários, para atendimento de suas necessidades de informação e recursos humanos, materiais e financeiros, que delimitam o funcionamento de um sistema de recuperação de informações. Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 5 Cesarino (1985, p. 165) complementa a constatação de Carneiro explicando que uma política de indexação só pode ser estabelecida depois de observados os seguintes aspectos: identificação das características do usuário (áreas de interesse, nível, experiência, atividades que exercem); volume e características da literatura a ser integrada ao sistema; volume e características das questões propostas pelo usuário; número e qualidade dos recursos humanos envolvidos; determinação dos recursos financeiros disponíveis para criação e manutenção do sistema; determinação dos equipamentos disponíveis. Para Carneiro (1985) os seguintes elementos devem ser considerados na elaboração de uma política de indexação: 1. Cobertura de assuntos: assuntos cobertos pelo sistema (centrais e periféricos); 2. Seleção e aquisição dos documentos-fonte: extensão da cobertura do sistema em áreas de assunto de seu interesse e a qualidade dos documentos, nessas áreas de assunto, incluídos no sistema; 3. Processo de indexação: 3.1 Nível de exaustividade: “uma medida de extensão em que todos os assuntos discutidos em um certo documento são reconhecidos na operação de indexação e traduzidos na linguagem do sistema” (LANCASTER, 1968 apud CARNEIRO, 1985, p.232); 3.2 Nível de especificidade: “a extensão em que o sistema nos permite ser precisos ao especificarmos o assunto de um documento que estejamos processando” (FOSKET, 1973, apud CARNEIRO, 1985, p.232); 3.3 Escolha da linguagem: a linguagem de indexação afeta o desempenho de um sistema de recuperação de informação tanto na estratégia de busca (estabelece a precisão com que o técnico de busca pode descrever os interesses do usuário) quanto na indexação (estabelece a precisão com que o indexador pode descrever o assunto do documento). Portanto, a partir de estudos do Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 6 sistema, deve-se optar entre linguagem livre ou linguagem controlada e linguagem précoordenada ou pós-coordenada; 3.4 Capacidade de revocação e precisão do sistema: exaustividade, revocação e precisão estão relacionadas. Quanto mais exaustivamente um sistema indexa seus documentos, maior será a revocação (número de documentos recuperados) na busca e, inversamente proporcional, a precisão será menor; 4. Estratégia de busca: deve-se decidir entre a busca delegada ou não; 5. Tempo de resposta do sistema; 6. Forma de saída: é o formato em que os resultados da busca são apresentados. Tem grande influência sobre a tolerância do usuário quanto à precisão dos resultados. Deve-se verificar qual a preferência do usuário quanto à apresentação dos resultados; 7. Avaliação do sistema: determinará até que ponto o sistema satisfaz as necessidades dos usuários. Entretanto, em estudo anterior (RUBI, 1999; RUBI, 2000), observou-se que nem sempre o que está descrito nos manuais de indexação corresponde à prática dos indexadores. Isso ocorre devido a fatos como: manual desatualizado, falta de recursos humanos, indexadores com diferentes formações acadêmicas (bibliotecários, técnicos em Biblioteconomia, não bibliotecários especialistas na área de assunto do documento a ser indexado etc.) e falta de treinamento/ capacitação para a tarefa 3 LEITURA COMO EVENTO SOCIAL De acordo com Nardi (1999) a origem da prática de leitura como evento social está na metodologia introspectiva do protocolo verbal nos moldes de Ericsson e Simon (1987), pois ela Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 7 também é considerada um instrumento de coleta de dados introspectivos, entretanto é realizada em grupo mediante a discussão de um texto por um grupo de participantes. No protocolo verbal, de acordo com os autores, as observações do processo são como observações que fornecem informações sobre passos de processamento individual, tais como verbalizações espontâneas, seqüência de movimentos com os olhos, exteriorizando seus processos mentais e mantendo a seqüência das informações processadas. Segundo Cavalcanti e Zanotto (1994), protocolos são geralmente definidos como relatos verbais dos processos mentais conscientes do informante. Em outras palavras, eles se referem ao “pensar alto” do informante enquanto realiza uma tarefa de qualquer natureza. Nardi (1999, p. 38) apresenta seu ponto de vista sobre as possibilidades de interação social e cultural que se abrem numa leitura afirmando que o leitor pode interagir não só com o autor do texto, mas também com outros leitores que tenham explicitadas suas interpretações anteriores do mesmo texto, com outros autores de outros textos que de alguma forma se relacionam ao texto sendo lido construindo assim mapas inéditos de navegação. Para Bloome (1993), a visão de leitura como processo social e cultural sugere que a leitura possa incluir vários indivíduos interagindo entre si e com o texto ao mesmo tempo; evento em que as pessoas comunicam idéias e emoções, controlam outras pessoas, controlam a si próprias, alcançam objetivos sociais tais como: estabelecer ou reforçar relações sociais; posicionar-se socialmente, externar angústias, objetivos esses que podem tornar-se mais importantes do que atribuir significado ao texto. O autor explica que essa mudança de objetivo pode ser vista como “uma maneira programada de sair de um lugar e chegar a outro” (BLOOME, 1983), considerando assim que os efeitos sociais da leitura predispõem as pessoas a mudanças. Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 8 Zanotto (1997) estabelece importante paralelo sobre o que é leitura com evento social para Bloome (1983) e para ela. Embora a autora reconheça a visão de Bloome que considera todo o ato de leitura, mesmo o individual, como um processo social, ela enfatiza que seu trabalho considera a prática de leitura como evento social com o objetivo de socializar os significados individuais. Esta será a visão de leitura como evento social adotada no trabalho. Green e Meyer (1991) consideram como leitura não só aquelas atividades envolvam textos escritos mas também textos orais produzidos em grupo em interação, por sua vez relacionados a textos anteriores e aos textos futuros a serem construídos pelos alunos. Diante do exposto, esclarecemos que as noções de leitura e texto adotados no trabalho apresentam a dimensão demonstradas com autoras Green e Meyer (1991). Ou seja, será considerado texto não somente o texto-base selecionado para a tarefa, mas também o “texto” criado por cada participante a partir de seus relatos de experiência no serviço de indexação. Também será considerada como leitura não somente aquela realizada a partir do texto-base como também a “leitura” que cada participante fará de sua própria fala e dos outros participantes. No desenvolvimento do trabalho, utilizamos a metodologia da prática de leitura como evento social baseando-nos nos procedimentos relatados por Nardi (1999). A abordagem metodológica adotada é do tipo exploratório-interpretativo (GROTJHAN, 1987) em que o pesquisador fica próximo aos dados qualitativos, que vêem de palavras e de significados criados pelos participantes, tentando analisá-los e interpretá-los sob o ponto de vista dos mesmos. Os dados originam-se das falas dos sujeitos durante a realização da tarefa com interação da pesquisadora, tratando-se portanto de pesquisa-participante, com nível moderado de participação. De acordo com Spradley (1980), a observação participante se insere num ‘continuum’ que abrange desde a participação passiva (o pesquisador é mero observador), passando pela Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 9 participação moderada (o pesquisador alterna-se entre os papéis de observador e participante ativo) e participação ativa (procura fazer o que os outros participantes fazem) até chegar ao nível mais alto, o da participação completa (o pesquisador é um participante comum que decide analisar os dados do grupo). No início da coleta, minha participação foi passiva, agindo como mera observadora, pois não houve a necessidade de interagir com os outros participantes pelo fato da ‘conversa’ acontecer de maneira fluida. No decorrer da coleta, a medida em que julguei necessária a intervenção para instigar os participantes sobre aspectos que gostaria de observar, minha postura passou a participação moderada. 4 METODOLOGIA Para a realização da coleta de dados, a pesquisadora entrou em contato com bibliotecários que trabalham ou trabalharam em serviços de indexação de bibliotecas da cidade de Marília, SP. Foi informado que a pesquisadora estava desenvolvendo uma pesquisa sobre política de indexação e que gostaria de tê-los como participante. Caso houvesse interesse, a tarefa da pesquisa seria a leitura de um texto sobre política de indexação para posterior discussão a respeito do tema. Foi esclarecido que a pesquisadora estaria interessada na prática e experiência profissional de cada um e não na sua competência ou em avaliar a instituição à qual pertenciam. Foi assegurado também que haveria sigilo sobre suas identidades. Das duas instituições universitárias que possuem o serviço de indexação estruturado com profissionais bibliotecários destinados a esse fim, apenas uma instituição aceitou e autorizou a participação de duas bibliotecárias que fazem indexação cedendo inclusive o espaço físico para a realização da coleta. A terceira participante, também bibliotecária, embora esteja sem trabalhar no momento, trabalhou muitos anos no serviço de indexação e referência. Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 10 Foi selecionado para a realização da tarefa o texto ‘Política de indexação’3. Dividido em três partes, o texto aborda, primeiramente, a questão da análise e da a representação do conteúdo do documento perante a sociedade da informação apresentando o novo contexto da sociedade do conhecimento onde os organizadores do conhecimento passam a ocupar um lugar de destaque por agregar valor à informação. Posteriormente, o autor faz um paralelo entre as políticas de representação documentária e os novos documentos que, com a realidade digital, passam a transmitir a informação de maneira, não-linear e interativa reafirmando, assim, a importância da política de indexação. Finalmente, tendo em vista o contexto descrito, apresenta as principais funções e fatores da política de indexação, ressaltando não só o processo de indexação como também o próprio indexador e usuário do sistema de informação. Durante a sessão de realização da tarefa, a pesquisadora entregou o texto aos participantes e solicitou que fosse feita uma leitura silenciosa. Após a leitura, iniciou-se a discussão, em que a pesquisadora atuou na discussão como uma participante a mais que contribuiu com suas idéias, além de organizar a atividade, instigando os participantes a darem suas contribuições individuais. Toda discussão foi gravada. Após o término da sessão de coleta de dados, os dados foram transcritos na íntegra com identificação das fontes das falas individuais. Vale ressaltar aqui que, ao decidir utilizar o texto ‘Política de indexação’, foi feita uma leitura minuciosa a fim de ‘prever’ assuntos que poderiam ser abordados durante a coleta. Os assuntos previstos foram: Política de indexação; Manual de indexação; Formação continuada; Processamento técnico e serviço de referência (indexação na entrada e na saída do 3 Texto cedido pelo autor, Prof. Dr. José Augusto Chaves Guimarães, cuja versão em espanhol foi publicada no periódico espanhol Scire da área de Ciência da Informação: GUIMARÃES, J.A.C. Políticas de análisis y representación de contenido para la gestión del conocimiento en las organizaciones. Scire, Zaragoza, v. 6, n. 2, p. 48-58, jul./dic. 2000. Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 11 sistema de recuperação da informação); Usuário; Avaliação do serviço de indexação; Recursos humanos e financeiros. Entretanto, durante a sessão de coleta, outros assuntos concernentes à política de indexação foram abordados. São eles: Prática e valorização profissional; Linguagem/terminologia; Sistemas automatizados. A partir dessas constatações, foram construídas duas categorias para análise dos dados: a) Categorias previstas: - manual de indexação; - política de indexação; - formação continuada; - processamento técnico e serviço de referência; - usuário; - avaliação do serviço de indexação; - recursos humanos e financeiros. b) Categorias não-previstas: - prática e valorização profissional; - linguagem/terminologia; - sistemas automatizados. Após a construção das categorias, voltou-se aos dados para retirar trechos da discussão que exemplificassem cada fenômeno, cada categoria. Os dados foram analisados de modo a evidenciar qual a visão que os indexadores têm a respeito de política de indexação, manuais de indexação e sistemática utilizada para a realização da indexação. Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 12 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados serão apresentados de acordo com as categorias previstas e não-previstas: Categorias previstas I. Política de indexação Sobre a política de indexação, verificamos que os indexadores conhecem a importância de se adotar critérios sobre isso antes de se iniciar a indexação. Para isso, devem existir os manuais de indexação servindo como instrumento de trabalho dos indexadores, acompanhando as evoluções e mudanças do ambiente de trabalho e da área de assunto coberta pela instituição. Entretanto nem sempre é o que acontece. II. Manual de indexação A formação continuada é um fator importante para que essas atualizações aconteçam, pois é com a leitura da teoria que reflete-se e questiona-se a prática profissional tendo como conseqüência melhores resultados com a indexação, a recuperação da informação. III. Formação continuada ‘Indexação’ na saída do sistema de informação, recuperação da informação, por meio de formulações das questões de busca, é tão importante quanto a indexação na entrada do sistema. É exatamente aí o fim de todo o processo da indexação. Portanto, é necessário que o indexador faça, ou pelo menos acompanhe de perto, o serviço de referência para que ele possa avaliar seu trabalho e trazer novos conhecimentos, como o vocabulário do usuário, para o serviço de indexação. IV. Processamento técnico e serviço de referência (indexação na entrada e na saída do sistema de recuperação da informação) Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 13 É unânime a constatação de que os serviços de indexação e referência devem caminhar juntos. As participantes consideram fundamental o revezamento de pessoal pelos serviços da biblioteca e uma sintonia entre o ‘pessoal do fundo’ (indexação) e ‘pessoal da frente’ (referência). Além disso, é necessário que o próprio indexador atenda o usuário também para saber se o que está sendo feito na indexação está de acordo com os pedidos de busca dos usuários. V. Usuário O usuário, peça-chave, de todo o sistema de informação, afinal o sistema está ali para atendê-lo, é uma preocupação constante durante todo o processo. O indexador se coloca no lugar do usuário para que se faça uma indexação mais próxima à sua realidade de pesquisa. VI. Avaliação do serviço de indexação A realidade mundial e da instituição estão em constantes mudanças. Por isso é necessário que se faça constantes avaliações do sistema para verificar a atualidade da como estão sendo dispostas as informações, bem como se o atendimento está sendo feito de maneira satisfatória. VII. Recursos humanos e financeiros Apesar de toda a importância que se diz dar à biblioteca, ela é a primeira parte da instituição que, em meio a crises financeiras, sofre cortes orçamentários e de pessoal, o que se reflete também no serviço de indexação. Categorias não-previstas a) Prática e valorização profissional Com relação à prática profissional, o indexador aponta a ausência de grupos de estudos (pelo menos na cidade de Marília, onde há o curso de Biblioteconomia) que serviriam como apoio à prática profissional, uma vez que ele, geralmente, é o único responsável pelo serviço na biblioteca e, quando surgem dúvidas, é obrigado resolvê-la sozinho. Com o advento da Internet, a Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 14 função do indexador se tornou mais valorizada, não só pelos usuários, mas também pelos outros funcionários da biblioteca. Isso se reflete na consonância entre os serviços de indexação e referência. b) Linguagem/terminologia Há duas grandes preocupações a esse respeito: quanto a atualização da linguagem documentária utilizada pelo sistema de informação e a terminologia utilizada pelo usuário. O que acontece, às vezes, é que a linguagem documentária não acompanha a rapidez com que a realidade muda, gerando controles terminológicos desatualizados, comprometendo a indexação e recuperação. Entretanto, os instrumentos de controle terminológico (tesauros e vocabulários controlados) vêm sendo atualizados sistematicamente devido ao seu suporte atual: não mais só no papel mas também on-line. Já a questão da terminologia (vocabulário) utilizada pelo usuário é citada como um dos motivos para que o indexador faça o serviço de referência também, para verificar como os documentos estão sendo procurados. c) Sistemas automatizados Pressupõe-se que a automatização de serviços tem por objetivo facilitar a rotina da biblioteca. Porém, no dia-a-dia, a realidade da instituição pode mudar e o indexador fica impedido de desempenhar sua tarefa de maneira satisfatória quando as mudanças influenciam procedimentos realizados através do sistema, gerando até mesmo atritos entre usuário e bibliotecário. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi exposto até o momento, pode-se concluir que os indexadores reconhecem a importância da política de indexação para o sistema de informação, uma vez que, a Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 15 partir da definição da mesma pode-se sistematizar o processo de indexação e, consequentemente, melhorar a recuperação da informação. Quanto à metodologia utilizada, observou-se que ela é aplicável aos propósitos da dissertação em questão: verificar como a política de indexação é percebida na prática pelos indexadores. Essa constatação reside no fato de que alguns aspectos não previstos pela pesquisadora surgiram durante a interação da leitura como evento de leitura social e instigaram a participação e reflexão dos profissionais sobre a valorização profissional, linguagens e terminologias adotadas e sistemas automatizados. Aspectos estes que serviram para enriquecer a discussão e complementar a análise sobre política de indexação. Isso não seria possível, por exemplo, se usássemos um questionário ou fizéssemos uma entrevista individual, o que restringiria as respostas às perguntas feitas pela pesquisadora e não haveria a troca de informações e impressões a respeito da política de indexação e até mesmo sobre profissão. A contribuição para a dissertação com a utilização da metodologia de leitura como evento social está justamente na riqueza e diversidade dos dados coletados durante a interação entre os participantes. No nosso caso, essa interação ocorreu de maneira muito natural e, segundo as participantes, serviu até mesmo como um ponto de partida para a criação de um grupo de estudos sobre a prática profissional do bibliotecário. REFERÊNCIAS BLOOME, D. Reading as a social process. Advances in Reading/Language Research, v.2, p. 165195,1983. BLOOME, D. Necessary indeterminacy and the microethnographic study of reading as a social process. Journal of Research on Reading, v.16, n.2, p.98-111, 1993. Objetivo Comissões Palavra do Editor Relação de Títulos Relação de Autores Promoção Busca 16 CARNEIRO, M.V. Diretrizes para uma política de indexação. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v.14, n.2, p.221-241, set. 1985. CAVALCANTI, M.C.; ZANOTTO, M.S. Introspection in Applied Linguistics: meta-research on verbal protocols. In: BARBARA & SCOTT (Ed.). Reflections on Language Learning. Clevedon: Multilingual Matters Ltd., 1994. p. 148-156. CESARINO, M.A.N. 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