Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Só a memória enriquece e alimenta.
Não há pedra que mais sangre nem asa que mais nos liberte.
Talvez por isso os saberes da memória respiram um tempo e um espaço muito
próprios.
A morte que tudo transfigura pratica as artes supremas da imprevisibilidade.
E, nesta impreveidência se compraz, irremediavelmente, a nossa humana condição.
Manuel Lopes
Prefácio, 1995
“O Barco Poveiro”, de Octávio Lixa Filgueiras
1
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
INTRODUÇÃO
O forte de São Lourenço é um sítio arqueológico peculiar, visto ser a única
estrutura militar que se conhece em território português submersa em água e imersa
em areia. O forte foi erguido em plena Ria Formosa, rodeado de água, perto da Barra
Grande, num contexto defensivo da entrada da cidade de Faro. Os solos arenosos
onde o forte foi assente encontravam-se em constante movimentação para Levante,
numa dinâmica permanente, levando a uma deslocação da barra para longe da
fortificação. Os efeitos provocados pela sismicidade que ali se fizeram sentir, ajudaram
ainda mais a fragilizar a estrutura construtiva ao longo dos anos.
A dificuldade do estudo deste sítio provem do fato de os vestigios da estrutura
se encontrarem dispersos à superfície e os trabalhos arqueológicos serem muito
dificultados pelo fato de o acesso ao sítio ter de ser realizado em período de marés
vivas, que permitam trabalhar o sítio a seco. Em meio submerso os trabalhos são
dificultados pela forte corrrente existente. No entanto, estes trabalhos levados a efeito
no contexto da aqueologia em meio aquático, foram fundamentais para estudar este
tipo de sítio.
Pretende-se, pois, demonstrar a importância estratégica desta fortificação ao
longo da época moderna, integrado na planificação da defesa marítima da costa
algarvia e mais especificamente na defesa da Barra de Faro, num contexto construtivo
que representou o espírito da sua época. Pareceu-nos que este trabalho poderá ajudar
a melhor conhecer as estruturas militares levantadas no pós-Restauração, bem como a
evolução de um pensamento cujas opções de construção, podendo parecer estar
condenadas ao fracasso desde os primeiros anos, nunca foram totalmente
abandonadas, dada a importância estratégica para o qual a Forte foi planeado. Ele
poderá permitir, também, trazer novos dados sobre os equipamentos disponíveis no
Forte e a vida quotidiana da sua guarnição.
Não há praticamente estudos sobre o Forte de São Lourenço, salvo o
conhecimento do fundo particular de Carlos Pereira Callixto doado ao Arquivo
Histórico Militar, bem como os seus trabalhos editados nos Anais do Município de Faro
entre 1979 e 1986.
2
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Face à escassa informação disponível sobre o sítio, nomeadamente no que diz
respeito a desenhos e plantas, este trabalho obrigará a uma pesquisa pormenorizada
dos vestígios materiais existentes do Forte, relacionando-os e comparando-os com os
documentos cartográficos e iconográficos disponíveis da época, a fim de ser possível a
reconstituição histórica, o conhecimento sobre a sua construção e reconstruções
sucessivas, relacionadas com a condição geoeconómica, sísmica, quotidiano e
funcionalidade.
Assim, quanto à metodologia da investigação arqueológica, procurámos
alcançar os seguintes objectivos: relocalização do sítio arqueológico; definição das
áreas de incidência de materiais pertencentes ao Forte; interpretação topográfica /
batimétrica e geofísica rebocada; registo arqueográfico e posicionamento e recolha
eventual de espólio associado ao sítio. Pretendeu-se avaliar o potencial arqueológico
da zona, nomeadamente confirmar a existência de anomalias reveladas previamente
pelo side scan sonar.
Num trabalho de arqueologia histórica, será também muito importante
recolher toda a informação presente na documentação escrita sobre o Forte de São
Lourenço, investigando nomeadamente os pareceres dos Conselhos de Guerra
existentes no Arquivo Histórico Militar, bem como a informação contida nos relatórios
de inspecção às fortalezas da costa algarvia.
*
Dividimos este estudo em cinco capítulos. No primeiro, Enquadramento
geográfico, pretendemos analisar todo um contexto físico que se encontrava associado
à fortificação, iniciando com uma abordagem geral sobre o Algarve e particularmente a
região do Sotavento, mas centrando-nos essencialmente no sistema lagunar da Ria
Formosa. Esta caracterização terá em conta aspectos relacionados com o regime de
marés, os fundos e dinâmicas sedimentares, bem como a sismicidade histórica, visto
terem condicionado a história do Forte de São Lourenço. A relação entre a geografia
física e humana durante a Idade Moderna, a interacção histórica mar / terra e a
3
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
exposição da costa do Algarve a diversas acções militares, no contexto turbulento da
Idade Modera, serão outros temas aflorados.
No segundo capítulo, Construção e evolução da estrutura fortificada, foram
abordadas todas as questões relacionadas com a caracterização da estrutura militar e
também
as
características
e
o
material
utilizado
na
sua
construção.
Fundamentalmente assentes em documentação escrita e na iconografia disponível,
procuraremos traçar a evolução do Forte ao longo dos séculos posteriores à sua
ereção em 1653 e até ao seu abandono em 1821. Nesse sentido iremos expor os dados
históricos do Forte, a evolução da sua construção, referindo episódios que lhe estão
associados, reconstrução e as causas naturais que se reflectiram neste processo.
No terceiro capítulo, Caracterização do sítio arqueológico, foi feita uma análise
dos vestígios existentes no local, com vista à localização e caracterização do Forte. Foi
realizado em 2006 um primeiro levantamento da zona referenciada, mas sem
resultados conclusivos quanto à localização exata do Forte. Já no âmbito da realização
deste mestrado foi assumido como objetivo a continuação da caracterização dos
vestígios de superfície e, sobretudo, a delimitação das suas áreas de dispersão.
Efectuou-se um levantamento de todos os vestígios vísiveis em maré baixa através de
GPS. Procurou-se, igualmente, interpretar os dados obtidos anteriormente por sonar
de varrimento lateral, em comparação com a cartografia histórica.
No quarto capítulo, Os equipamentos militares e a guarnição fizemos uma
análise histórica sobre o quotidiano das guarnições que o Forte albergou. Apoiámo-nos
da leitura das Relações da Guarnição e Artilharia, existentes no Arquivo Histórico
Militar. Nesta documentação foi-nos dada informação sobre o número de efectivos, a
caracterização da guarnição e as patentes militares. Analiámos o uso da artilharia
utilizada no Forte e outros objectos relacionados com a a vida militar da fortificação,
nomeadamente no que dizia respeito à sua origem, número de peças, calibre e o
estado da sua conservação ao longo do tempo de vida do Forte. A documentação
proporcinou também dados relativos à assistência espiritual e à existência de uma
ermida.
No quinto capítulo, Utilidade estratégica e militar, foi definida e avaliada a
importância estratégica e militar do Forte de São Lourenço na defesa da Barra e Praça
4
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
de Faro, no contexto lagunar da Ria Formosa. Importou avaliar sobre a funcionalidade
e utilidade do Forte no seu período de actividade. Foi analisado o seu desempenho
militar durante este período, se serviu para a inibição de combates, defesa e amparo
das embarcações.
*
O contacto direto com as evidências arqueológicas e manifestações de cultura
constitui sempre uma apropriação e valorização da uma herança cultural, propiciando
uma consciêncialização para o estudo da história, em particular num sítio que se
caracteriza apenas pela existência de evidências dispersas e visíveis em alturas de
baixa-mar. Fatores indispensáveis neste contexto, e que nos motivam particularmente,
são a leitura do mundo que rodeia o sítio arqueológico, a promoção do diálogo e a
dinamização de atitudes geradoras de posturas civicas em relação ao património.
Desta forma, este estudo visa também ser um ponto de partida para a
valorização deste património, a sua defesa, recuperação e divulgação. É, pois,
importante que, para lá deste trabalho, se continue a consciencializar a população
local para este valor histórico, desenvolvendo actividades que propiciem a
aproximação a um património que é colectivo, nomeadamente junto das escolas do
concelho, promovendo palestras e incentivando os professores a visitar o sitio onde se
encontram os vestigios do Forte, com o apoio da capitania do Porto de Olhão. Uma
acção que julgamos pertinente é a realização de uma exposição fotográfica, com base
em todos os materiais recolhidos no decurso deste estudo, iniciativa que contaria com
o apoio da Câmara Municipal de Olhão e da Bilbioteca Municipal, instituições
fundamentais no desenvolvimento deste trabalho.
5
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
CAPITULO I
Enquadramento geográfico
A unidade territorial portuguesa ficou definida com a conquista do Algarve, em
1249, e com a assinatura do Tratado de Alcanices em 1297. O medo de Castela reduziu
a população na fronteira, a raia foi fortificada e intensificou-se o povoamento atlântico
para um destino marítimo. Mas a costa do Algarve, desde muito cedo, ficou exposta a
ações de força da mais variada espécie. Uma próspera e diversificada atividade
marítima, incluindo a recoleção, a pesca, o comércio de cabotagem e de longa
distância, além de uma agricultura e ganadaria proveitosa, haveriam de ser fatores de
grande cobiça desde muito cedo1.
Se relacionarmos o mar e a serra, a fachada marítima Algarvia voltada a poente
oferece-nos uma massa rochosa voltada aos difíceis ventos oceânicos, sendo de acesso
marítimo muito difícil. Meridionalmente, até à foz do Guadiana, encontramos duas
configurações distintas a definir a comunicação com o mar: até Albufeira, onde o
recorte do litoral é feito por arribas, o Barlavento, dos promontórios do Sudoeste,
dificultando o contacto com o mar; para nascente, um cordão de ilhas de natureza
aluvial que defendem a linha de costa e os portos do Sotavento, Faro, Olhão, Fuzeta e
Tavira, dando viabilidade a uma ativa e intensa economia marítima2. Em todo o caso, o
litoral algarvio proporciona inúmeros ancoradoiros, tanto no Sotavento como no
Barlavento.
Devido à ação de forças tectónicas que originaram e esculpiram diferenças
entre o Sotavento e o Barlavento Algarvio após a última glaciação, a subida do mar
1
Luís L. Guerreiro, “Depradações, combates e capturas na costa do Algarve”, in Dinâmica Defensiva da
Costa do Algarve. Do período islâmico ao século XVIII, Ed. Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Portimão,
dezembro de 2001, pp. 37-39
2
António Sérgio, Introdução geográfica-sociológica à História de Portugal, 2º edição, Livraria Sá da
Costa, Lisboa. 1974.
6
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
levou à movimentação de grandes quantidades de areia, fornecidas pelas ribeiras e à
movimentação de grandes quantidades de areia, fornecidas pelas ribeiras e rios, que
acosta, formando-se assim o Sistema das Ilhas Barreira3, na área Leste do Algarve.
A laguna da Ria Formosa integra um ambiente de deposição de sedimentos que
separa o cordão arenoso do continente. No decorrer da fase máxima da última
glaciação, os cursos de água que chegavam à Ria eram torrenciais e facilmente
entravam nos vales, escavando e alargando os leitos, formando depressões que, mais
tarde, com a invasão marítima, foram apoderadas pelo mar. Diz-nos Estrabão, no
século I. d.C., que “na costa da Tordetânia (Algarve) há muitas aberturas, formando
esteiros de água salgada onde se situam no interior cidades, tais como Ossonoba” 4.
Esta realidade explica-se pelo facto do volume do mar ser superior ao atual, facilitando
a penetração nos vales, que deveriam estar pouco assoreados.
Fig. 1 –Ria Formosa (in http://www.lnec.pt/organization/dha/nec/estudos_id/berna)
3
“
Filipe Ceia, Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na Óptica da Gestão”, in
Revista da Gestão Costeira Integrada, 9 (1): 57-77, 2009, p. 57.
4
Alberto Iria, O Algarve e os Descobrimentos, Vol 2, Tomo 1, Instituto da Alta Cultura, Lisboa, 1976, p.
236.
7
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
O sistema lagunar da Ria Formosa localiza-se, pois, no Sotavento Algarvio e é
atualmente composto por duas penínsulas, Ancão e Cacela, que constituem os limites
ocidental e oriental do sistema. É formado por cinco ilhas-barreira de Oeste para Este:
Barreta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas. Dentro deste espaço, existe um vasto
corpo lagunar com sapais, canais de maré, ilhotas e barras de maré, que, ao migrarem
de posição, começam a assorear e através deste processo, as ilhas vão sendo
progressivamente destruídas e construídas.5
O sistema de ilhas-barreira é assim designado por possuir um grupo de ilhas
que define, entre estas e o continente emerso, um corpo lagunar; as ilhas constituem,
assim, uma barreira entre a laguna e o oceano. Caracteriza-o uma dinâmica
sedimentar muito intensa, com dois tipos de migração: uma longitudinal, com
acumulação de areias na extremidade de uma ilha e erosão da extremidade da
seguinte; outra transversal, empurrando todo o sistema em direção ao continente,
respondendo a pequenas variações do mar. Os sedimentos têm naturalmente
tendência para migrar de poente para nascente, até atingir uma posição limite,
provocando assoreamento; este movimento leva a que, no decurso de um temporal
maior, se abra uma barra a ocidente, iniciando-se, assim, novo ciclo6.
Analisando e comparando as representações cartográficas do sistema, a partir
do século XVI, podemos inferir que as ilhas foram variando de forma e de localização.
Num mapa quinhentista existente na Biblioteca do Escorial7 aparece a zona Oriental da
atual Ria Formosa, delimitada de Tavira a Faro por cinco ilhas principais. Já a
representação de 1590, mostra que as ilhas se prolongam e movimentam de Faro,
passando por Figueira Godar, Tavira, Cacela e Castro Marim. A representação é,
porém, claramente mais esquemática, evidenciando uma barra junto a Marim, outra
em Tavira e a mais oriental em Faro. João Teixeira figura novamente esta zona em
5
P. Bernardo & J.A.Dias, “História da Ocupação das Ilhas Barreira da Ilha Formosa”, in 4º Simpósio sobre
a Margem Ibérica Atlântica, Espanha, 7/10 de julho de 2003, p. 189.
6
J. A. Dias, Ó. Ferreira e D. Mou “O sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa” in II Reunião Científica,
Rede Cyted-XVII – 3º Simpósio Interdisciplinar dobre Processos Estuarinos, UALG, 25-28 maio de 2004,
p.1.
7
Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade
Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957, p. 195.
8
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
1648, mostrando que o sistema lagunar se alterara, e, pelos pontilhados existentes no
desenho é-nos demonstrada a movimentação das ilhas, para Este. Acima de tudo a Ria
parece fechar-se paulatinamente, dificultando a entrada e saída de embarcações.
O mapa de 1772 compilado por Francisco Pereira de Sousa evidencia também o
prolongamento das ilhas para Oeste. São representadas as cinco ilhas barreira que se
estendem de Vale do Lobo até Cabanas e a posição das suas barras. Figuram-se as de
Farilhões, a Barra Nova junto a Faro, a Barra Grande a Sudoeste de Olhão, a Barra da
Fuzeta e a de Tavira. Junto a Olhão foi representado o Forte de São Lourenço, algo
afastado da Barra Grande.
Finalmente em 1811 já se apresenta uma composição próxima da atual. As ilhas
barreira estão então em ativa fase de migração e em direção ao continente.
Fig 2 - Costa do Algarve no Atlas da Península Ibérica (século XVI), existente na Biblioteca do Escorial (cf.
Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade
Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957, p. 195).
9
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 3 – Evolução geográfica do Sotavento do Algarve (cf. Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da
Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957).
10
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 4 – Mapa datado de 1772, compilado por Francisco Pereira de Sousa
As barras que separam as ilhas são de caráter migratório e deslocam-se, ao
longo do tempo, de Oeste para Este, até atingirem uma posição limite, onde começam
11
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
a assorear. Podemos provavelmente aduzir a conclusão de que as ilhas iam variando
de forma e localização.
As ilhas e penínsulas são atualmente separadas por seis canais de maré: Ancão
ou São Luís, Faro - Olhão, Armona ou Grande, Fuzeta, Tavira e Lacém ou Cacela. Estas
viabilizam trocas hídricas, sedimentares, químicas e de nutrientes entre o meio lagunar
e o oceano. Das barras aludidas, a de Faro-Olhão e a de Tavira são artificiais, estando
fixadas com molhes. Em termos gerais, o sistema tem cerca de 50Km de comprimento,
que se desenvolve entre as longitudes de 8º02´W e 7º31´W. A Ria estende-se pelos
concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, abrangendo uma
área de aproximadamente 18.400 hectares8.
Apresenta-se como uma lagoa expansiva, pois o seu volume de água aumenta
entre as maré baixa e a maré alta e a sua profundidade média situa-se entre os 3 a 5
metros. Esta grande variação é causada pela oscilação das marés mesotidais, as trocas
de água que se estabelecem com o mar em cada ciclo de maré, pela profundidade
média muito baixa da lagoa e pela existência de uma rede de canais que facilitam a
propagação de ondas que se movem de Sul para Norte através da barreira arenosa9.
O fundo da Ria é essencialmente constituído por um banco de areia
transportado pela deriva Oeste – Leste. Comunidades de plantas halófitas têm um
papel determinante na colmatação da laguna, pois ao empatarem a circulação da água
aliviam-na das matérias em suspensão, que se decantam e depositam no fundo,
elevando-o por vezes cerca de 10cm em apenas 1 ano10.
Esta região caracteriza-se também pela particularidade da sua planície costeira
ser recente, estreita e ladeada de calcários e relevos de xisto. A deposição destes
materiais reflete uma intensa atividade tectónica que é testemunhada por uma rede
de falhas ativas ainda mal conhecidas, por sismos e tsunamis intensos ao longo dos
anos.
8
“
Filipe Ceia, Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na Óptica da Gestão”, in
Revista da Gestão Costeira Integrada, 9 (1): 57-77, 2009, p. 58.
9
Idem.
10
M. E. Figueirosa, “Margem Continenteal - Linhas de Costa”, in Atas da I Reunião do Quaternário
Ibérico, Grupo de Trabalho para o Estudo do Quaternário, Vol. 1, Lisboa, 1985, p. 373.
12
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
O Algarve encontra-se numa região de moderada e elevada perigosidade
sísmica, dada proximidade de fronteira das placas Ibérica / Euro-asiática e Africana11. A
análise de dados mostra que Portugal, e muito em especial o Algarve, tiveram uma
atividade muito significativa. Dos quatro sectores de grande intensidade recenseados
em Portugal, dois situam-se na margem sul: Banco de Goringe, a SW do Cabo de S.
Vicente, onde se situam os epicentros dos sismos de 60 a.C., 382, 1356 e 1755 12, e as
falhas da região Loulé-Tavira, onde se situam os epicentros dos sismos de 1587, 1722 e
1856 . A maioria dos autores, fundamentados na distribuição dos danos, localiza a área
epicentral de alguns dos sismos históricos mais importantes que afetaram o território
de Portugal continental, no mar, a sudoeste do Cabo de São Vicente, na região do
Banco de Gorringe13.
Com dinâmica portuária ainda antes da romanização, o Sotavento Algarvio
conheceu intensa ocupação urbana costeira durante a partir do século I a. C.,
moldando-se progressivamente aos novos padrões civilizacionais e humanos do
império14.
Principal aglomerado urbano do Sotavento, em 1415, Tavira foi o porto de
partida da armada portuguesa para o Norte de África, iniciando um período de grande
prosperidade. Tornou-se escala de tráficos com o Magrebe, com a importação de cera,
mel, courama, pescado seco, tâmaras e gado em troca de mercadorias diversas,
nomeadamente para abastecimento às praças portuguesas conquistadas no Algarve de
Além. Foi elevada a cidade em 1520. A economia e a população estavam então em
crescimento, sendo o centro populacional mais destacado do Algarve. A sua principal
indústria era a armaria, o comércio marítimo era florescente e recebia privilégios como
forma de incentivo15.
11
Plano Regional de Ordenamento do Território - Apreciação do Risco Sismico no Algarve, Ministério do
Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Algarve, Vol II, anexo J– Caracterização e Diagnóstico, abril 2004, p. 7.
12
João M.C. Estevão, http://w3.ualg.pt/~jestevao/JEsismo_hist.html.
13
J.Alveirinho Dias,http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GA5_Sismos/57_Portugal/572_SismicidPort.html
14
Maria da Graça Marques, O Algarve da Antiguidade aos nossos dias, Edições Colibri, Lisboa, 1999.
15
Ofir Chagas, Tavira, Memórias de uma Cidade, Edição O Autor, Tavira, Dezembro 2004, pp..43-78.
13
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
O último quartel do século XVI em Tavira foi conturbado pela dominação
filipina e pelo surto de peste em 1580. O porto foi encerrado, a população diminuiu e
pragas de gafanhotos dizimaram culturas. Inimigos da monarquia hispânica
ameaçavam o porto, e um novo surto de peste em 1599 arrasou a cidade. Em 1622 o
assoreamento do rio e da barra acelerou a decadência da cidade.
A partir de meados do século XVI, com a decadência de Tavira, Faro foi
dominando todo o comércio marítimo do Sotavento algarvio, a zona da província que
mais contribuía nessa época para a exportação. Foi-se tornando assim o maior e mais
importante aglomerado urbano do Algarve16. A Ria Formosa dotava Faro de um
magnífico porto, que foi a causa determinante do seu desenvolvimento.
A Ria era, efetivamente uma zona de intensa atividade marítima. Frei João de
referia em 1577 que “Desta barra (Tavira) à de Farão (Faro) acima dela há quatro
léguas para a banda do poente e duma à outra corre um braço do mar por direito de
terra (…), Há continuamente pescadores neste rio e torna-se nele todo o género de
peixe e de marisco e tudo tão avantajado na bondade e sabor que facilmente se
conhece17.
A conjuntura de finais do século XVI, o domínio filipino e o pós Restauração,
foram caracterizados pelas investidas de piratas e corsários, o enfraquecimento da
presença portuguesa no Norte de África e o resgatar clandestino sucessivo dos galeões
das carreiras das Índias de Castela com metais preciosos, levando à consolidação do
sistema defensivo do Algarve18. Desde meados de quinhentos que as autoridades
algarvias manifestavam grande receio e representantes de interesses locais pediam
uma urgente proteção litoral. A relação dirigida ao rei, em 1631, por Rodrigo Rebelo
Falcão, provedor das almadravas, testemunhava a violência sistemática a que estavam
sujeitos os pescadores19.
16
Idem.
Frei João de S. José, Corografia do Reino do Algarve, Universidade do Algarve, Faro, [s/d] 1577.
18
António Borges Coelho, Questionar a História (ensaios sobre a História de Portugal), Editorial
Caminho, Lisboa, 1983, pp. 77 e 220.
19
Valdemar Coutinho, Dinâmica defensiva da Costa do Algarve, do Período Islâmico ao século XVIII,
Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Ed. Inventário e Itinerários, Portimão, 2001, pp. 39 - 53.
17
14
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Em 1638 temia-se um ataque à região e a Faro por holandeses e franceses. A
cidade era tida como sendo a “mais rica, menos forte e com mais dezembarcações (…)
os lugares mais abertos que nelle há”. O confronto entre franceses e espanhóis viria
também a ameaçar o Algarve, em 1639. A correspondência trocada com o governador
do Algarve, denuncia a defesa precária das povoações: cercas e baluartes em ruínas,
pouca população para lutar, poucos recursos financeiros, armas e munições 20.
A partir de 1640, com a Restauração da Independência, iniciou-se um esforço
para suster as tentativas de invasão dos exércitos de Filipe IV, até o tratado de Paz ser
definitivamente assinado, em 1668. O exército português foi, entretanto, amplamente
reorganizado e ocorreu também um muito importante processo de construção,
reconstrução ou readaptação de fortalezas e cercas urbanas21.
Ao longo dos anos, o assoreamento, a mobilidade das areias, o depósito de
aluviões, tornaram impraticáveis ou de difíceis entradas as barras de Tavira e de
Faro22. Outros povoados, foram então surgindo com os primitivos arraiais localizados
em locais próximos e estrategicamente posicionados face à respetiva armação de
pesca, onde os companheiros e seus agregados familiares se fixavam.
A convergência da intensa morfodinâmica da Ria, a pirataria, o corso,
associado a uma ineficiência do sistema defensivo, levaram a que, apesar do potencial
que a laguna constituía em termos de pescado, a ocupação das ilhas só se começasse a
processar mais ou menos permanentemente já tarde, com o fim dos ataques e o
intensificar das atividades piscatórias no fim do século XIX23.
Ao abrigo das ilhas que separam o mar da Ria, entre os esteiros e os sapais,
desenvolveu-se na segunda metade do século XVII, um povo de pescadores e
mareantes: os Olhanenses. Contudo, só a construção do Forte de São Lourenço, em
20
Carta dos Governadores do Algarve (1638-1636), Academia Portuguesa de História, 1978, p.52.
Natércia Magalhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas, Letras Várias, Edições e Arte, Faro,
novembro de 2008.
22
Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, Lisboa, 1993.
23
J.A. Dias, P. Bernardo; “História da Ocupação das Ilhas Barreira da Ria Formosa” , in 4º Simpósio sobre
a Margem Ibérica Atlântica, Vigo, Espanha, 7/10 de julho de 2003.
21
15
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
1653 criou as condições de segurança para uma instalação populosa permanente nesta
localidade24.
24
Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa,Lisboa,1980, p.112.
16
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
CAPÍTULO II
Construção e evolução da estrutura fortificada
“O pescador de Olhão bastava-se a si próprio. Oo espírito de independência reinava e desde a construção da
própria casa à improvisação das artes piscatórias e o aproveitamento dos meios materiais ao seu alcance,
constituíram uma forma de vida muito própria e notada no espírito da classe. As casas construiam-nas perto da
beira-mar, agrupadas om os meios que as rodeavam.. Nas dunas e barreiras das praias, colhiam o barrão, que com
estruturas de paus e canas da Índia, formaram as primeiras cabanas, que foram evoluindo para as paredes laterais
em alvenaria e finalmente foram substituídas por telhados com placas dee açoteias, sobre abóbodas de tijolos,
dando origem à primeira povoação no lugar de Olhão”.
Adérito Fernandes Vaz, “Olhão da Restauração no tempo e a 1ª Invasão Francesa em 1808, no contexto regional e
nacional”, Elos Clube de Olhão, 2º volume, 2009, p. 101.
Entre 1580 e 1640 a costa algarvia ficou particularmente vulnerável
militarmente e a partir da Restauração foram efetuados esforços para constituir um
sistema de vigilância da costa e a fortificação de variados locais, a fim de garantir o
apoio à navegação, a continuidade da atividade pesqueira e a luta contra a atividade
corsária25.
A cidade de Faro compreendia então as muralhas medievais que protegiam o
núcleo urbano. Para além disto existiam outras fortificações, algumas de carácter
provisório, edificadas em ilhas e construídas na sua maior parte com materiais frágeis
e de pouca consistência, de areia, faxina ou madeira e tendo como alojamentos
cabanas de junco e tabuado. Estas fortificações tinham pouco tempo de duração,
devido à ação do mar e à própria morfodinâmica da Ria26.
Neste contexto frágil de construção, propôs-se em 1653 a construção do Forte
de São Lourenço, para defesa da Barra de Faro. O engenheiro militar Pedro de Santa
25
Natércia Magalhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas, Letras Várias, Edições e Arte, Faro, 2008,
p. 29.
26
Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, sep do Anais do
Município de Faro, Nº VIII, Faro, 1979.
17
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Colomba, ao acompanhar o Governador e Capitão General do Algarve, em missão de
inspeção a todas as fortificações de Castro Marim a Sagres, sugeriu que o Forte fosse
construído na ponta de uma elevação de areia. A sua estrutura e alicerces deveriam
assentar em grade de madeira grossa, bem travada com pregaria, preenchida por
alvenaria miúda. Sobre ela deveria colocar-se lajes, a partir das quais arrancariam as
paredes27. O Forte deveria ter quatro baluartes, levantados em frente respetivamente,
exterior e que se estenderia de ponta a ponta do baluarte28.
O financiamento do Forte importou a contribuição de várias autoridades. Os
comerciantes de Faro ofereceram 2% dos impostos das fazendas que durante 6 anos
saíssem ou entrassem da Barra. A Câmara de Faro contribuiu com seis anos sobre as
sobras do cabeção das sisas e o próprio rei D. João IV decidiu autorizar uma despesa de
4.000 cruzados, tirados das sobras da alfândega da cidade ou, se esta contribuição
fosse insuficiente, de qualquer outra fonte de financiamento pertencente à Real
Fazenda.
A construção do Forte deve ter-se iniciado ainda em 1653, pois em abril do ano
seguinte se noticiava que a estrutura, assente em 2.000 traves de pinho grossas estaria
prestes a receber artilharia num dos quatro baluartes, pelo bom ritmo em que a
construção estava a ser levada a cabo previa-se que estaria concluído em dois anos29.
Mas em 1657 as obras ainda continuavam e, apesar de estar concluída a parte do
Forte voltado para a Barra, foi proposto que se fizessem de torrão os dois baluartes
27
ANTT, Conselho de Guerra, caixa 17, maço 14, Documento 181, consulta de 21 de Outubro de 1654.
Parecer do Engenheiro Pedro de Santa Colomba datado de 20 de Fevereiro de 1653, transcrito em
Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município
de Faro, Nº XI de 1981, pp. 217-218.
28
A planta que acompanhou o parecer de Pedro Santa Colomba não consta da Consulta em 3. Neste
desenho, a legenda informa-nos que a posição do forte já distava da Barra um quarto de légua e de
Faro, uma légua grande. Tem 3 peças de ferro calibre 18 e duas de bronze de calibre 6. A entrada, e do
lado direito, um poço, e ao fundo, a ermida. Os quartéis posicionam-se do lado esquerdo à ermida com
o paiol ao fundo. No exterior, a referência a ruínas e a um rochedo.
29
ANTT, Conselho de Guerra, Decretos, maço 14, decreto de 24 de Abril de 1654, compilado pelo
General Cláudio Chaby na “Synopse dos Decretos Remetidos ao Extinto Conselho de Guerra”, volume
1º, p. 287. Documento transcrito por Carlos Pereira Calixto, “Apontamentos para a História das
Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município de Faro, Nº 11, 1982.
18
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
voltados para terra, pois este flanco era igualmente importante defendê-la de
possíveis ataques30.
Contudo, cedo a estrutura demonstrou a sua fragilidade. Apenas oito anos após
o lançamento da primeira pedra, em 1661, o Forte “começou-se a arruinar”31. Foi
efetuado um esforço de reconstrução pela união das pedras com ferro, betume e mós
de moinho32. Parecia ser difícil a reparação com um dos baluartes muito destruído,
permitindo que as marés vivas alagassem o recinto até aos alojamentos. O estado do
Forte levou mesmo a que fossem retiradas as peças de artilharia. Assim, em pouco
tempo “ficaram as diligências baldadas e perdido o gasto pelo reparo se fez”33.
Não obstante a ruína em que o Forte se encontrava, a Coroa não desistiu da sua
posição e ordenou em 1661 a Pedro Santa Colomba uma deslocação ao local, a fim de
desenhar uma planta do terreno e da ruína, apontando o que seria necessário reparar
e conservar. Os custos deveriam ser poucos e a utilidade do Forte inquestionável para
defesa da barra e amparo aos pescadores e navios que fugiam dos corsários 34. O rei
acabou por determinar a reedificação do Forte de São Lourenço neste mesmo ano 35.
Contudo, em 1669, um dos baluartes do Forte estava destruído pelo mar 36. Devido à
falta de condições do terreno, a Coroa decidiu a reedificação em local mais seguro37.
Em 1701, temos a informação que o Forte ainda se encontrava imperfeito38, pelo que
podemos concluir que as ordens da Coroa não foram cumpridas ou que neste período
de tempo o Forte teria sido reedificado e logo a seguir sofrido nova derrocada.
30
Synopse dos Decretos Remetidos ao Extinto Conselho de Guerra, pelo Major Cláudio Chaby, Volume
2º, Nº 29, p 20, Lisboa 1870, Carta do Conde de Val de Reis, Governador e Capitão General do Reino do
Algarve, à Rainha Regente, 10 de Abril de 1657, anexa ao Decreto de 21 de Abril 1657.
31
Alberto Iria, Cartas dos Governadores do Algarve 1638-1663 p 411, documento 556, Carta do
Governador do Reino do Algarve Martim Correa da Silva, 21 de Abril de 1661.
32
Idem.
33
Idem.
34
ANTT, Conselho de Guerra, Livro de Registo da Secretaria da Guerra, nº26 (etiqueta nº 24), folha 92,
verso, 1661.
35
ANTT, Conselho de Guerra, º 25, 1661.
36
ANTT, Conselho de Guerra, caixa 28, maço 29, Consulta de 11 de abril de 1669.
37
ANTT, Resolução Real, caixa 28, maço 29 Consultas de 1669.
38
Geographia Histórica do Brasil, África, Ásia, Portugal, etc. Geographia do Reino de Portugal, fl 134,
1701.
19
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Devido à intensa dinâmica da Ria que conduzia a uma fragilidade do solo e dos
fundamentos dos alicerces da construção - as areias corriam de Poente a Levante, e
conjugando ainda a força das marés e do vento, o Forte ia derrocando sucessivamente
A reconstrução era sempre temporária até nova derrocada.
Em 1707, encontramos o Forte artilhado e guarnecido, conforme consta da lista
dos pontos fortificados do litoral português39. No seguimento de anteriores derrocadas
e reconstruções o forte ruíra por completo. Contudo a necessidade de defesa da Barra
levou à sua reedificação no governo do 10º Conde de Atouguia, D. Luis Peregrino de
Ataíde (1700-1758), sendo os fundamentos da nova estrutura erguidos sobre a
fortaleza arruinada. A documentação refere que foi erguida uma plataforma artilhada,
com o fim de servir de registo às embarcações que entravam e saiam da Barra40. A
subtileza da terminologia, opondo a nova “plataforma” à arruinada “fortaleza”, parece
indiciar um carácter menos militar ou mais precário da nova estrutura.
Com o terramoto de 1755, o Forte de São Lourenço sofreu grande derrocada,
tendo o mar arrasado por completo a construção 41. Porém, logo no ano seguinte a sua
reconstrução foi mais uma vez proposta e de novo concedida42. Em duas das visitas de
inspeção efetuadas nos anos seguintes aos pontos fortificados do litoral algarvio foi
representado o Forte de São Lourenço43. Atentando ao desenho do Sargento Romão
José do Rego, provavelmente de 1762, pensamos que este representa o estado do
forte após a referida reconstrução.
39
Veja-se a obra do Mestre de Campo António do Couto Castelo-Branco, Memórias Militares, Ed. Lit.
António de Novaes Ferram, 1707.
40
ANNT, Conselho de Guerra, maço 20, consultas de 28 de setembro de 1753.
41
ANTT, Papéis do Ministério do Reino, Ofício do Governador e Capitão General do Reino do Algarve, D.
Rodrigo António de Noronha e Menezes dirigido a Sebastião José de Carvalho e Melo, 9 de Fevereiro de
1756.
42
Arquivo Histórico Militar, DIV/1/06/28/46, ofício de José Vieira da Luz para D. Luís da Cunha Manuel,
Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, sobre a autorização para obras na Fortaleza
de São Lourenço da Barra, Setembro de 1756.
43
BN, Reservados – Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas do Ministério do Reino, doc Nº 2 e 6Relatório de Lagos, 22 de Junho de 1754 – Visita de Inspecção a todos os pontos fortificados do litoral
algarvio, publicado por Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de
Faro, A Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro”, in Anais do Município de Faro, Faro, 1978, Nº VIII,
p.88. Arquivo Histórico Militar, Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas
que há nos Armazens da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do século XVIII.
20
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
A fortificação apresentava a traça de um quadrado de 15 varas de
comprimento (16,50 m). Os alojamentos, alguns destruídos e outros em ruina,
situavam-se virados a Norte e a plataforma com as peças de artilharia a Este. Entre os
alojamentos e a plataforma, ao fundo da construção, encontra-se a ermida. É-nos
assinalado no desenho, do lado exterior à ermida, o sítio mais frágil do forte, onde se
iniciava nova derrocada. A toda a sua volta encontra-se registado o que nos parece ser
os reforços da estrutura, provavelmente posteriores ao terramoto e, finalmente, a Sul
representava-se a porta arruinada.
Fig. 5 – Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas que há nos Armazens
da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do século XVIII, Arquivo Histórico
Militar
21
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
No entanto, as obras de reparação do Forte sucederam-se, pois estão
documentadas em 177244. Em relatório de inspeção realizado em 1792 foi proposto
proceder a realização de trabalhos de consertos no Forte de São Lourenço, pois era
necessária a continuação da funcionalidade de fiscalização das embarcações que
entravam e saíam da Barra. Os trabalhos de reconstrução foram levados a efeito, pois
em relatório datado do ano seguinte é-nos indicado que o Forte já se encontrava
operacional e em bom estado de conservação, necessitando apenas de algumas
reparações nos seus telhados45. O Forte era então denominado como “pequena
bateria”46.
Baltazar de Azevedo Coutinho, capitão do Real Corpo de Engenheiros, deixanos um desenho do Forte de São Lourenço, datado de 1798.
Fig. 6 - ANTT, “Fortificações do Algarve”, 1798, Baltazar de Azevedo Coutinho, Capitão do Real Corpo de
Engenheiros.
44
ANTT, Registo da Secretaria da Guerra, Livro Nº 64, fl.20, de 6 de outubro de 1772.
Arquivo Histórico Militar, caixa 18, “Relatório do Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros,
Alexandre José Montana – Visita de inspeção feita a todas as fortalezas da costa algarvia desde o Forte
da Arrifana à Praça de Alcoutim, 1793”.
46
Arquivo Histórico Militar, DiV/4/1/04/22,“Projeto sobre as Fortificações do Reino do Algarve, 27 de
agosto de 1796”.
45
22
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Anastácio Joaquim Roiz, nesse mesmo ano de 1798, fornece-nos uma
minuciosa descrição do Forte de São Lourenço47. O Forte era então um quadrilátero,
com o maior lado de comprimento de 10 toesas. As suas frentes viradas a Oeste e
Norte não tinham plataformas para a artilharia e eram mais elevadas que as outras
duas. Era na parede Norte que encostavam as casas para a guarnição e uma
dependência para o Governador repousar, o conjunto edificado tinha também um
armazém, e uma capela, ao fundo, entre os alojamentos e a bateria. Estas últimas
dependências seriam cobertas de telha. Tinha uma guarita no ângulo Nordeste e no
ponto mais alto, um paiol adossado aos quartéis.
Nesta descrição Anastácio Roiz não refere a existência de poço, ao contrário do
desenho de Baltazar Coutinho, que o figura no canto Sudeste à entrada do Forte. Esta
fazia-se pelo lado Sul. Os parapeitos da bateria eram a barlete, pelo que as peças
assentavam sobre ele, não existindo canhoneiras; eram construídos de alvenaria e
tinham 1 pé e meio de espessura (0,49cm). O resto das muralhas era de pedra e terra,
com ¾ a 4 pés de grossura (1,20m). Para Este e para o lado do mar, a Sul, existiam
duas baterias em plano mais baixo, também à barla. São assinaladas ruínas a toda a
volta da fortificação, em especial do lado Sul.
Comparando a descrição de Baltazar Coutinho de 1798 com a mencionada
representação do Forte de Romão José do Rego, datada de 1762, observamos algumas
diferenças. No desenho de 1762 não encontramos referência à existência do poço, do
paiol ou de artilharia montada. Também não há referência a ruínas, mas sim “ao sítio
por onde mais propícia arruinar a Fortaleza”. A maior diferença é, porém, que no
desenho de Baltazar Coutinho se nota um alargamentos da estrutura fortificada em
dois flancos – no lado da bateria e no lado da entrada do Forte, pelo que podemos
deduzir que este alargamento serviria para reforçar a estrutura defensiva.
Em 1821, o Forte de São Lourenço era um reduto de alvenaria em ruinas,
cercado por um fosso e assente numa coroa de areia. Via-se a porta por onde se
entrava no Forte, os alojamentos da guarnição caídos, e a ermida arruinada. Por uma
47
Arquivo Histórico Militar, caixa 4, nº 6, Anastácio Joaquim Roiz, Rapport sur le Fort Appelé São
Lourenço de Olhão, 22 de março de 1798.
23
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
escada de pedra de 2 palmos de largo (4,44m), subia-se à bateria , levantada por 2
braças sobre o nível do mar, com plataformas de lajedo, em melhor estado que tudo o
resto, e tinha 24 passos de comprimento e 11 de largo (17,76m de comprimento e
6,06m de largura). Num dos ângulos, do lado da gola é de abóboda. O mar entrava na
construção, correndo o risco de ruir se não fosse reparada48.
Outra documentação coeva descreve o Forte. “Estava de tal modo arruinada
que não se podia observar, nem conhecer a sua configuração a não ser em baixa-mar”.
O alicerce da muralha, estava com a estacaria descoberta e parte da sapata caída a
Oeste. Ainda se podia observar a bateria rasante e superior, para Leste. A bateria
superior, deixava ver a sua configuração. Tinha ruína no alicerce da parede que ficava
para a bateria rasante49. Nos anos subsequentes50, revela-se a progressiva e
irreversível ruina do Forte de São Lourenço ao longo do século XIX.
*
No contexto das Guerras da Restauração, toda a costa portuguesa foi reforçada
militarmente. Foi, pois, quando o sistema medieval das torres de vigia deixou de
corresponder às necessidades tácticas da guerra anfíbia, praticada pela pirataria turca,
que se iniciou a construção de fortalezas modernas, a partir de meados do século
XVII51.
Após a Restauração, a principal preocupação foi assegurar a defesa do Reino
contra as investidas espanholas e, para isso, em 11 de dezembro de 1640 foi instituído
48
Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, “Memória Resumida do Reconhecimento
Militar feito à Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendiadas desde a Foz do Rio de
Odeceixe até à Foz do Guadiana, 1821”.
49
Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar – 3231, 1821.
50
Arquivo Histórico Militar, Decretos, “Reconhecimento de Todos os Pontos Fortificados desde o Forte
de Arrifana no Oceano Atlântico, à Praça de Alcoutim no Rio Guadiana, Comissão de Reconhecimento de
Oficiais do Real Corpo de Engenharia, 1825”. Arquivo Histórico Militar, 3D9SCIN49,“Mapa Geral das
Fortificações Existentes na 8ª Divisão Militar, 1840”.
51
Rafael Moreira, “A arquitetura militar do Renascimento em Portugal”, in Atas do Congresso
Centenário de João de Romão. Introdução da Arte da Renascença na Península Ibérica, Coimbra, 1980.
24
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
o Conselho de Guerra com a finalidade de coordenar a defesa do Reino52. A defesa
marítima foi assegurada por meio de fortificações de caracter precário e de efémera
existência pelos materiais nelas utilizadas e devido às sua fundações em areia, sendo
disto exemplo as Baterias de Farrobilhas, Ancão, Barreta, Barra Nova, Olhão, Bateria
de São José da Armona, Lama, e Ponta de Mós todas localizadas no mesmo contexto
geográfico do Forte de São Lourenço, a Ria Formosa
53
. Todas estas estruturas
obedeciam aos protótipos das pequenas fortificações marítimas, típicas da estratégia
seiscentista da defesa da costa54.
A chave da estratégia desta época foi pois a construção de pequenos fortes.
Ciclicamente, perante o ressurgir de ameaças à segurança do Reino, o terramoto de
1755, no envolvimento de Portugal na Guerra dos Sete Anos (1762-63), bem como em
iniciativas preventivas no pós Revolução Francesa (1793), foram lançadas programas
de reconstrução destas fortificações, nas quais o Forte de São Lourenço também foi
envolvido55.
Assim, as plantas de que dispomos do Forte de São Lourenço, mostram-nos os
seus espaços distintos. Ao nível da organização, o Forte segue as características que
identificam as pequenas fortificações costeiras erguidas durante a Restauração56. A
traça é simples, e as dimensões reduzidas. A bateria retangular, cuja plataforma
serviria para a artilharia, tinha na sua retaguarda, adossado, um edifício destinado aos
alojamentos,
igualmente
de
planta
retangular,
subdivididos
em
quatro
compartimentos. Ao fundo, a capela, entre os quartéis e a bateria. O paiol, localizavase junto aos alojamentos.
A organização funcional e o traçado destas estruturas modernas eram, pois,
comuns em muitos aspectos: adoptaram a solução das baterias voltadas a barlete,
usando-as na defesa da costa, por deste modo se dar menos tempo à direção das
52
Carlos Callixto, “As Fortificações Marítimas no tempo da Restauração”, in História das Fortificações
Portuguesa no Mundo, dir de Rafael Moreira, Edições Alfa, 1989.
53
Idem.
54
Mário Barroca, As Fortificações do Litoral Portuense, Edições Inapa, s/d, p 103.
55
Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações
Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, p 21.
56
Idem, p. 108.
25
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
bocas-de-fogo e em todos os sentidos contra um alvo, como uma embarcação,
permitindo assim uma mais eficaz movimentação das bocas-de-fogo57. Os alojamentos
(separados por um corredor central), ocupavam uma área sensivelmente igual à da
bateria. Os compartimentos eram destinados a servir de quartel, registando-se
normalmente um espaço destinado a cozinha, um a armazém, outro a paiol da
pólvora, a casa da palamenta, além de guaritas e poço ou cisterna58.
De notar que embora nas descrições destas fortificações seja referida a
existência
de uma cozinha, o fato é que não há qualquer referência a um
compartimento específico para estes fins no Forte de São Lourenço. Contudo, no
aparece-nos a referência sobre a existência de um tacho para cozinhar, a mesa e as
cadeiras da guarnição59, pelo que a guarnição confeccionava certamente as suas
refeições no local. Ao todo, este tipo de fortes podia ocupar uma área de 200m2,
como se verifica em alguns exemplares da costa de Cascais, para as quais existe estudo
sitstemático60.
Enfim, desde o ano da sua construção, até ao abandono da guarnição, em 1821,
o Forte de São Lourenço sofreu diversas derrocadas e intervenções de reconstrução,
ainda que efémeras. A sua história acompanhou vários contextos políticos e militares
do Portugal moderno, num total de 168 anos de presença num local de difícil
conservação, mas sempre presente no quotidiano da população.
57
Idem, p. 115.
Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações
Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, pp. 96, 101, 107-8, 122, 139, 140-143,
148, 183, 201-208.
59
Arquivo Histórico Militar, DIV/4/1/04/05, “Extrato dos Petrechos, Palamentas, Muniçoens que
existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”, de José Lopes de
Souza.
60
Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações
Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, p. 87.
58
26
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
CAPÍTULO III
Caracterização do sítio arqueológico
Os vestígios do Forte de São Lourenço não foram objeto de qualquer
investigação de terreno até 2006. Perduraram, porém, na memória local, até ao
presente, nomeadamente entre as comunidades marítimas de pescadores e
mariscadores da Ria, habituados a fazer as suas presas nas ruínas do Forte. Os três
canhões de ferro que se encontram in situ, são local constante apanha de polvos pelos
pescadores. A população local quando se desloca para uma certa zona da Ria, utiliza
vulgarmente a expressão, “vamos à pesca no Forte”, ou “vou buscar búzios ao Forte”.
Em 2006, uma equipa da Universidade Autónoma de Lisboa e da Universidade
de Connecticut realizou um primeiro levantamento da zona referenciada, mas sem
resultados conclusivos quanto à localização exata do Forte. Foi, contudo, possível
delimitar uma zona de potencial arqueológico, contituida por vestigios dispersos de
elementos em pedra, um conglomerado construtivo circular de 3,5m de diâmetro e
65cm de espessura e três bocas-de-fogo de ferro muito concrecionadas.
Apesar da sondagem arqueológica realizada no decurso daqueles trabalhos de
levantamento não ter permitido identificar com segurança a estrutura primitiva,
permitiu recolher espólio arqueológico do período moderno e contemporânio,
nomeadamente fragmentos de cerâmica, objetos em metal e material de construção.
Numa análise mais pormenorizada, verificou-se que os artefactos recolhidos, cuja
função seria doméstica, eram exógenos à zona sondada e que o depósito seria
resultante dos efeitos das marés61.
Em 2007, a Universidade Autónoma de Lisboa e a Universidade de Aveiro
realizaram nesta área trabalhos de prospeção geofísica através de sonar de varrimento
61
Proc. Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, CNANS 2006/024.
27
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
lateral, com vista a localizar a área onde se referenciavam os vestígios do Forte de São
Lourenço. Em março de 2011, e já no âmbito deste mestrado, esses resultados foram
objeto de tratamento e de avaliação. Assumimos, dentro dos limites logísticos
possíveis, que o trabalho de sonar por varrimento lateral foi realizado na extensão da
Ria onde se localizavam os vestígios superficiais do Forte de São Lourenço em 2006,
tendo sido gerados diversos arquivos de imagens digitalizadas.
Fig 7- Olhão e o sítio arqueológico na CMP 611 (1980)
Recentemente foram realizados trabalhos na mesma área sob a direcção de
Mário Ferreira e da signatária. Foi assumido como objetivo a continuação da
caracterização dos vestígios de superfície e, sobretudo, a delimitação das suas áreas de
dispersão. Efectuou-se um levantamento de todos os vestígios vísiveis em maré baixa
através de GPS. O acesso ao sítio tem de ser efetuado em períodos de marés vivas, que
permitem trabalhar no sítio a seco, caso contrário o trabalho em meio submerso é
28
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
mais dificil, uma vez que o sítio se encontra em local de muita corrente, sobetudo na
vazante. A metodologia de trabalho definida assentou pois no registo georeferenciado
e caracterização sumária dos vestígios de superfície. No caso das bocas de fogo, muito
concressionadas, optou-se por um registo gráfico e por uma caracterização cronotipológica seguindo o que foi estabelecida por Francisco Alves para o sitio de Faro B62.
Fig. 8 - Geoposicionamento dos achados arqueológicos (vestígios de superfície)
A área objeto de trabalho de terreno situa-se em plena Ria Formosa, em sítio
submerso e parcialmente a seco aquando das marés vivas, nas coordenadas WGS84,
Latitude 37.00813N, Longitude -7.81963W. Fundamentalmente, a superfície da área
de intervenção é constituída por uma dispersão de materiais de construção de
62
Francisco Alves, “Ponta do Altar B, Arqueologia de um naufrágio no Algarve nos alvores do século XVII,
in O Arqueólogo Português, Série IV, Volume 8 / 10, Lisboa, 1990-1992.
29
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
pequenas e grande dimensão, alguns blocos em alvenaria, que se crê fazerem parte
dos muros do Forte, registando-se grande dispersão destes vestígios por uma área de
289m2, orientado NE-SW.
Registaram-se 32 blocos aparelhados, com uma significativa concentração a
Nordeste do conglomerado circular; estes blocos mediam entre os 40 e os 80 cm de
comprimento, entre os 50 e 60 cm de largura e os 15 e 30cm cm de espessura (Fig. 15,
16, 17, e 18). Encontrando-se bastante concressionados, devem ter pertencido a
alvenaria de pedra e silharia, idêntica à de grande parte das construções desta época,
como é o caso do Forte da Conceição, em Tavira, o Forte da Meia Praia, em Lagos, o
Forte da Ponta da Bandeira, também nesta cidade, o Forte do Burgau, em Vila do
Bispo, o Forte de Santa Catarina, em Portimão, ou ainda o Forte do Rato, em Tavira,
todos erigidos no século XVII63.
Os edificios destinados a usos militares e de defesa, eram construções
resistentes com argamassas duráveis. As paredes dos edificios variavam com a época,
a região e tipo de edificio, mas com caracteristicas comuns, em função da resistência,
da proteção em relação aos agentes climáticos e às ações externas. Em geral os
materiais eram porosos e a capacidade de resistência e de proteção era assegurada
através da sua espessura64.
A Nordeste do conglomerado circular, já perto do limite oriental da área,
registaram-se dois fragmentos de muro aparelhados, com blocos envolvidos por
argamassa do tipo arenoso, de cor esbranquiçada . Os blocos nº 34 e nº 64 encontramse alinhados, podendo corresponder a um dos lados do Forte, dada a sua dimensão e
constituição, sendo um dos lados visivelmente alisado. O maior deles media 2,40m de
comprimento, 1,20m de largura e 60cm de espessura. (Fig. 19 e 20)
Verificou-se também uma maior dispersão de blocos de pedras de tamanho
muito variado, entre os 30 e 40 cm cm de comprimento e os 20 e 30 cm de largura,
63
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-930011ff2619a4d2.
64
Maria do Rosário Veiga, “Alvenarias de Edificios Históricos: intervenções sustentáveis com materiais
compativeis”, in VI Encontro Nacional de Estudos de Engenharia Civil, LNEC, abril de 2010.
30
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
com vestígios de argamassa, também a Este do conglomerado construtivo. (Fig. 21 e
22). Outros blocos dispersos, não aparelhados, foram registados a Norte e Nordeste
do conglomerado; estes podem corrresponder ao enchimento das cortins do forte, ao
ao contrário dos aparelhados, que deviam formar os paramentos (Fig. 23).
Fig. 9- Posicionamento das bocas-de-fogo
As bocas-de-fogo encontram-se localizadas a Nordeste do conglomerado
circular, junto ao referido local onde se detectou maior quantidade de blocos
aparelhados. Todas elas foram fabricadas em ferro, têm entre 3,10m e 3,15m de
comprimento, entre 0,35cm e 0,40cm de largura e 0,20cm a 0,23cm de diâmetro de
boca. Estas peças estão certamente relacionadas com o armamento do Forte, podendo
interpretar-se como esperas, muito comuns nos finais do século XVIII65. Com efeito, no
registo arqueológico é muito normal encontrarem-se peças de artilharia nas
65
Agradecemos esta informação a João Pedro Cardoso.
31
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
imediações de fortalezas66. Geralmente tratam-se de peças abandonadas, obsoletas do
ponto de vista militar, já sem utilidade (Fig. 24 e 25).
A dispersão dos materiais e ausência de alguma coerência construtiva deve-se
ao continuado desgaste pela ação das marés, que tem vindo a afastar de forma muito
desordenada as pedras de menores dimensões para longe da sua implantação original.
Acrescente-se a utilização destas pedras pela população local para a delimitação dos
viveiros de bivalves e também o reaproveitamento destas pedras para a construção de
habitações. Claro que se deve ter em conta que a estrutura foi continuadamente
erguida e reconstruída sobre areia, em certas ocasiões sobre estrutura de madeira, o
que impediu também uma melhor conservação. Em todo o caso, os dados
arqueológicos apontam para uma concentração de vestígios estruturais a EsteNordeste do conglomerado circular referido, local onde também repousam as peças de
artilharia. Este facto pode sugerir-nos uma eventual localização do cerne do Forte.
Encontraram-se, ainda, alguns fragmentos de cerâmica descontextualizados,
provenientes por arrastamento sendo atribuíveis a período cronológico recente. Em
ambientes de grandes movimentações de areias resultantes do assoreamento da ria
Formosa, o espólio recolhido não foi por isso revelador.
Outros materiais estão referenciados como sendo provenientes do Forte de São
Lourenço, embora essas informações careçam de confirmação segura. Por um lado,
registou-se uma boca-de-fogo em ferro no Museu Municipal de Olhão. Esta peça
encontra-se na reserva do Museu desde os anos 80 e foi entregue por pescadores que
na altura disseram pertencer aquele forte. (Fig. 26 e 27).
Por outro lado, Carlos Pereira Callixto informa-nos que em 1986 foi detectado
um pedaço de azulejo perto do sítio onde, estamos em crer, se encontrarem os
vestígios do Forte de São Lourenço. Fernando Cartucho, um pescador local, terá
66
http://www.igespar.pt/media/uploads/cnans/16/16.pdf
32
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
encontrado este material no local, mostrando-o depois ao investigador José Meco, que
o datou do século XVII67. Não foi possível confirmar a sua existência no Museu de Faro.
Não havendo especificidade quanto ao azulejo, pensamos que este poderá ter
pertencido à ermida, eventualmente revestida, pelo menos parcialmente, com este
tipo de material. Assim se verifica, por exemplo, no Forte de São Filipe, em Setúbal,
erigido em finais do século XVI, no Forte da Ponta da Bandeira de Lagos, datado do
século XVII, e no Forte da Insua, em Caminha68. Ao longo do século XVII foram
produzidos azulejos com composições de diferentes padrões, lembrando tapeçarias
suspensas, um efeito decorativo que resultava da repetição regular de padrõe69,
pricipalmente utilizado nos revestimentos de igrejas e capelas; incluíam composições
figurativas autónomas de pequenas dimensões, representando séries de santos e
episódios de narrativas religiosas. Estes registos representavam de um modo geral
cenas do Antigo e Novo Testamento e imagens de santos colocados sequencialmente
nas paredes. Podiam ainda figurar apenas símbolos da Eucaristia, sendo aplicados
então isolados em lugares especialemente simbólicos do espaço.
Existe também uma pedra de armas no Museu Paroquial de Moncarapacho, em
Olhão, que segundo a conservadora do Museu pertenceu ao Forte de São Lourenço 70.
A pedra, de calcário, apresenta o escudo real português, as cinco quinas, rodeada por
sete castelos. Peça simples, é característica da época de construção do Forte,
detetando-se idênticas em parte das fortalezas erguidas na época após a Restauração
(Fig. 28).
*
67
Informação obtida na consulta efetuada ao fundo documental de Carlos Callixto, existente no Arquivo
Histórico Militar.
68
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3607e
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-930011ff2619a4d2.
69
J.M. dos Santos Simões, e Emílio Guerra de Oliveira, Azulejaria em Portugal no século XVII, Tomo I, Ed.
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1971, pp. 11-13.
70
Esta pedra de armas foi adquirida pelo padre Isidoro Domingos da Silva a um particular. Encontrava-se
exposta à porta de uma taberna em Moncarapacho.
33
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Os dados obtidos por sonar permitiram registar uma anomalia na mesma área
onde realizámos os trabalhos arqueológicos atrás descritos e cujos vestígios
pensávamos poderem corresponder ao Forte de São Lourenço, nomeadamente a
referida concentração de elementos pétreos. Identificaram-se “alterações” no leito da
Ria, mostrando-nos diversas feições salientes no fundo, de coloração escura nos
registos. As áreas mais claras, diziam espeito a sombras e substratos incosolidados,
como lamas.
Fig. 10 – Levantamento de sonar
A
informação
obtida
pelos
dados
de
sonar
foi
cruzada
com
o
geoposicionamento dos vestígios de superficie e com a cartografia antiga. Utilizou-se a
cartografia de 1875, levantada sob a direção de Filipe Folque, com vista a relacionar os
dados antigos que localizam o Forte, com os vestígios revelados pelos trabalhos
arqueológicos. A Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos apresenta um trabalho com
bastante rigor, tendo sido possível sobrepô-la aos mapas atuais. Nele se indicavam
“Pedras do antigo Forte São Lourenço”, que nesta data estava já sem guarnição,
34
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
desmantelado e em ruínas, como referimos no capítulo anterior. Aparentemente
aqueles vestígios estavam então localizados sobre uma pequena ilhota, num dos
pontos mais altos do solo arenoso da Ria, perto da barra da Armona.
Fig. 11 - Plano hydrographico das barras e portos de Faro e Olhão [Material cartográfico] / levantado
por B. M. F. de Andrade, A. J. Pery e G. A. Pery ; sob a direção de F. Folque. - Escala 1:20000. [Lisboa] : Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos, 1875, com indicação da área provável de
localização do Forte de São Lourenço.
Esta ilhota foi confrontada com a cartografia militar de finais do século XX, bem
como com a fotografia aérea atual. A sobreposição revelou que a ilhota do mapa
oitocentista era ainda representada há três décadas, revelando uma assinalável
manutenção da orografia da Ria neste ponto, talvez em torno dos vestígios pétreos
enterrados do Forte. Note-se, no entanto, que na cartografia militar apenas subsiste já
uma porção da ilhota, devido a mudanças na configuração da Ria.
35
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 12 - Carta Militar de Portugal, 1:25, 0000, nº 611 , Faro, Instituto Geográfico do Exército, 1980,
assinalando-se a localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.
Fig. 13 – Ortofotografia assinalando-se a localização do Forte de São Lourenço representada na
cartografia de 1875.
36
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
FIg. 14 - Posicionamento sobre ortofotografia.
Enfim, verificou-se ma coincidência apreciável entre a área onde realizámos a
referida prospeção, detectando-se os referidos elementos pétreos e peças de
artilharia, a anomalia detetada no levantamento de sonar e a cartografia de 1875,
onde os vestígios do forte ainda eram visíveis, embora arruinados. A cartografia e
fotografia atual ainda assinalam aqui uma área mais elevada, coincidente com a antiga
ilhota. Assim, ficam claramente relacionados os vestígios arqueológicos identificados
com e o antigo Forte de São Lourenço.
37
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 15 – Conglomerado construtivo circular
Fig. 16 – Concentração de blocos aparelhados a Nordeste do conglomerado
38
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 17 - Bloco aparelhado junto ao conglomerado circular
Fig. 18 - Blocos aparelhados e dispersos junto ao conglomerado
39
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 19 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta)
Fig. 20 - Frgamento de muro junto ao conglomerado, com restos de argamassa (nº 64 da planta)
40
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 21 – Medição entre dois vestigios de muro (nº 34 e nº 64 da planta)
41
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 22 – Fragmento de muro com restos de argamassa
Fig. 23 - Blocos de pedra não aparelhados
42
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 24- Boca- de- fogo C1 (nº31 da planta)
Fig. 25- Bocas- de- fogo C2 e C3 (nº32 da planta)
43
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 26 – Boca-de-fogo do Museu Municipal de Olhão
44
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 27 – Boca- de-fogo no Museu Municipal de Olhão
45
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 28- Pedra de Armas no Museu Municipal de Moncarapacho
46
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Capitulo IV
Os equipamentos militares e a guarnição
A documentação coeva dá-nos alguns dados relativamente a diversos aspetos
da vida do Forte de São Lourenço, úteis para a compreensão da sua funcionalidade e
evolução. Um desses elementos tem que ver com os equipamentos militares.
O nascimento oficial da artilharia em Portugal data do século XIV. Por carta
régia de 29 de janeiro de 1515, D. Manuel I criou em Lisboa os bombardeiros da
nomina, em número de cem, considerados o primeiro esboço de organização da
artilharia em Portugal. Em 1641 esse número seria aumentado para trezentos. Mas só
no reinado de D. Pedro II, em 1701, foi feita oficialmente a militarização dos
artilheiros71. Nessa época, os requisitos para ser um bom artilheiro eram: “para saber
bem do seu offício hade ser bom christão, são de pés e de mãos, de boa vista e bom
juízo. Alem do seu ofício deve entender os seguintes: que meça, compare e pese,
entender do offício de polvorista, e carpinteiros, ferreiro, etc”72.
A partir de 1744, com a obra Exame de Artilheiros de Fernandes Alpoim e por
influência dos estrangeiros que se encontravam ao serviço do Exército Português, os
calibres por que eram designadas as bocas-de.fogo passaram a ter relação direta com
o peso da bala de ferro em arráteis ou libras. A normalização dos calibres nos moldes
atuais só viria a ser regulamentada a partir de 1865, já com as peças estriadas73.
A artilharia era, pois, a arma de combate fundamental à época de construção
do forte. Um ano após o início da construção do Forte, em 1654, existiam quatro peças
71
João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas,
Lda., abril de 2009, p. 25.
72
“Tratado de Artilharia de La isla”, cit. Por João Manuel Cordeiro, Apontamentos para a História da
Artilharia Portuguesa, s. 1., Typographia do Commando Geral da Artilharia, 1895, p. 186.
73
João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas,
Lda., abril de 2009, p. 43.
47
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
de artilharia no recinto74. Trata-se, contudo, de um dado único para o primeiro século
de existência do Forte, só se voltando a ter informação, então mais detalhada, a partir
de meados do século XVIII. Em 1753 as bocas-de-fogo eram apenas três75. A partir do
ano seguinte verificamos um aumento do número de peças para seis, mantendo-se
esse quadro até 1764. O reforço defensivo estará relacionado com a Guerra dos Sete
Anos (1756-1763).
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Fig. 29 - Número de peças
Por essa altura o Marquês de Pombal chamara a Lisboa o Conde de Lippe, a fim
de reformar o exército português, que se encontrava desorganizado, miserável, sem
fardamento e sem dinheiro. Lippe mandou restaurar e artilhar da maior parte das
fortalezas portuguesas76, de tal forma que muitas das bocas-de-fogo produzidas na sua
época ainda foram utilizadas durante a Guerra Peninsular, mais de meio século depois;
depois de 1763, chegou-se a fundir uma peça por dia em Portugal, tal era a capacidade
74
ANTT, Conselho de Guerra, consulta de 21 de outubro de 1654.
ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consulta de 28 de setembro de 1753.
76
Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, pp.
20-23.
75
48
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
e empenho neste domínio77. Este facto parece ter tido consequência na fortificação
marítima ao largo de Olhão, dado o referido aumento do dispositivo militar.
No ano de 1765 o arsenal voltou a reduzir-se para cinco peças, mas foi
rapidamente colmatado com um reforço de três peças de ferro provenientes do Forte
da Armona, que por esta altura já se encontrava arruinado78. Entre 1768 e 1786 o
número de peças manteve-se estabilizado em cinco unidades. Em 1793 verificamos um
reforço do número de peças, aumentando-se para sete unidades, facto que se poderá
relacionar com uma conjuntura política de conflitos armados, nomeadamente as
guerras revolucionárias francesas, que levaram a um confronto entre a França e a GrâBretanha, incluindo também os Países Baixos, a Espanha e Portugal, ficando os navios
portugueses sujeitos ao corso dos navios franceses.
O acréscimo de peças de artilharia foi, porém, fugaz, já que logo a partir de
179379, e até o período 1802-180580, o Forte manteve o seu número médio de cinco a
seis peças. Atingiu o seu número máximo nos anos das Guerras Peninsulares, entre
1805 e 1806, quando foram contabilizados oito bocas-de-fogo. As derradeiras
informações reportam-se ao período posterior à Revolução Liberal de 1820, quando
existiam no Forte de São Lourenço três peças.
Assim, verificamos que houve um aumento do número de peças, por altura,
respetivamente, da Guerra dos Sete Anos, e das Invasões Francesas. As estruturas e as
peças de artilharia eram alvo de maior ou menor cuidado de manutenção ao sabor da
oscilante sucessão dos períodos de guerra e paz81.
Quanto ao material das peças de artilharia de fogo registam-se bocas-de-fogo
em ferro e em bronze. O predomínio foi quase sempre das peças em ferro, sendo que
77
João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas,
Lda., abril de 2009, p. 43.
78
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87NS, Romão José do Rego, “Visita de Inspeção a todas as
Fortificações desde o Cabo de S. Vicente à Bateria da Fuzeta, 18 de julho, 1765”.
79
Arquivo Histórico Militar, Mapa da Guarnição e Artilharia, 1763.
80
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N54, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente aos meses de
junho e dezembro”, 1805 e idem.
81
Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, p.
183
49
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
entre os anos 1786 e 1793 não temos registo quanto à informação sobre o material
das peças existentes no Forte. Registamos que apenas nos anos de 176582, 176683 e
180684, o número de peças em bronze e em ferro foi igual.
Fig. 30 - Material das peças
Destacamos o fato de que em 1821, aquando do desmantelamento do Forte,
existiam três peças em ferro e duas em bronze85, e em 182386 sabemos haver três
82
Idem.
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N6, “Dos Governadores das Praças do Reino”, 1766.
84
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N56, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente ao mês de junho
1806”.
85
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do
Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz
de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado,
Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças
e Fortalezas do Reino”, 1821.
83
50
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
peças em ferro12. Deduzimos que pelo atrás anunciado relativamente ao
desmantelamento do Forte, e ao número de peças existentes, que as peças em bronze
existentes tenham sido levantadas nessa altura.
Sobre a utilização e operacionalidade de todas as peças em ferro e em bronze
atrás referidas entre os anos 1653 e 1821, encontramos referência no ano de 1758 a
seis peças montadas em carros na areia, por não estarem as muralhas do Forte de São
Lourenço suficientemente capazes estruturalmente para as susterem na sua posição
original87, o que nos leva a crer que nesta altura o Forte ainda estaria a sofrer as
consequências do terramoto de 1755.
Os reparos estariam incapazes em 1776, registando-se que as três peças em
ferro estavam encravadas e as peças em bronze desmontadas88. Esta situação
continuava em 177889, com uma das três peças de ferro encravadas, e em reparos
incapazes, e as peças em bronze desmontadas sem reparos ou em carros onde laborar.
Sem registo quanto ao seu material, encontramos em 1802 as seis peças
existentes montadas em carros na areia pois as muralhas não as podiam suster90. Em
plena invasão francesa, o Forte tinha três peças incapazes de ação, uma peça em
bronze montada em reparos arruinados e uma peça em bronze pronta a servir 91. No
ano do seu desmantelamento, o Forte de São Lourenço possuía três peças em ferro
desmontadas e incapazes e duas peças em bronze montadas mas em reparos
incapazes92. Relativamente ao estado de operacionalidade das peças, não obstante o
86
Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Miliar, nº 3189 / II, José Feliciano, “Relatório de
Inspeção”, 3 de janeiro de 1823, nº 3189 / II.
87
ANTT, Sebastião de Sousa, Dicionário Geográfico, vol. V, 1758.
88
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia”, 1776.
89
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia de 31 de dezembro de 1776 a 30 de abril
de 1778”.
90
Arquivo Histórico Militar, “Relação das Praças que tem Governadores na Província do Alentejo e Reino
do Algarve e as que se acham vagas, de 14 de junho de 1802”.
91
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço da
Barra de Faro, 8 de abril de 1807”,
92
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do
Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz
de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado,
Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças
e Fortalezas do Reino”, 1821.
51
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
referido que assinala-se que tal não impediu que cumprissem o seu papel. Veja-se por
exemplo os registos em 1758 e em 1802, onde vimos que as peças, apesar de se
encontrarem na areia, ainda se mantinham em função.
Assim, os números avançados inicialmente devem ser matizados. Embora seja
impossível avaliar a prontidão militar da artilharia do Forte ao longo destes séculos,
esta, deve ter conhecido flutuações mais importantes que as assinaladas. A momentos
de reequipamento militar, sucediam-se outros de quase ausência de defesa. Esta
situação não pode deixar de estar relacionada com as próprias construções e
reconstruções sucessivas do forte.
Relativamente ao calibre das peças, verificamos grandes variações e nem
sempre temos informações fidedignas. Assim, o primeiro registo de que dispomos data
de 1754, quando o Forte tinha três peças em ferro de calibre 18, provenientes do Forte
da Armona, que se havia desmoronado nesta data e três peças em bronze, duas de
calibre três e uma calibre cinco93.
Analisando os calibres e o material das peças, registamos que as peças em ferro
tinham calibres 18 e 24, ao passo que as de bronze tinham calibres três, quatro, cinco,
seis, oito, nove e 12. Registamos ainda que as peças de calibre 18 e calibre 24, em
ferro, foram as mais frequentes e que as peças calibre oito e calibre três, em bronze,
são as que mais se registam.
Cronologicamente, as peças de calibre menor (três e cinco) aparecem
registadas em 175494, a única de calibre quatro, em 176395. Entre 1770 e 1778, as
peças calibre oito e nove encontram-se registadas sempre juntas96. As peças em ferro,
de calibre 18, registam-se entre 175497 e 176398, em 180799 e após o
93
ANTT, Plantas do Ministério do Reino, Maço nº 625, documentos nº2 e nº 6, 1754.
Idem.
95
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N3, “Mapa de guarnição e artilharia de 31 de março de 1763”.
96
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia, 1776” e “Mapas de Artilharia de 31 de
dezembro de 1776 a 30 de abril de 1778”.
97
ANTT, Plantas do Ministério do Reino, maço n0 625, documentos nº 2 e nº 6, 1754.
98
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N3, “Mapa da Guarnição e artilharia, 31 de março de 1763”.
99
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço da
Barra de Faro, 8 de abril de 1807”.
94
52
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
desmantelamento do forte, em 1823100. Relativamente às peças em ferro, calibre 24
registam-se entre 1770 101e 1778102, e depois em 1821103 e em 1823104. Assim, as peças
de maior calibre foram as mais utilizadas no Forte, na segunda metade do século XVIII
e início do século XIX.
Fig. 31- Calibres
100
Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar, José Feliciano, “Relatório de Inspeção, 3
de janeiro de 1823, nº 3189 / II.
101
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia, 1776” e “Mapas de Artilharia de 31 de
dezembro de 1776 a 30 de abril de 1778”.
102
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do
Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz
de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado,
Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças
e Fortalezas do Reino”, 1821.
103
idem.
104
Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar, José Feliciano, “Relatório de Inspeção, 3
de janeiro de 1823”, nº 3189 / II.
53
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Bartholomeu da Costa (1731-1801), especialista em artilharia desta época,
informa-nos que, tipicamente, quanto maior era o calibre das bocas-de-fogo menor
era o seu número. Do seu trabalho avulta a normalização dos calibres, tendo como
referência as artilharia inglesa e a alemã. Assim, o calibres três, seis, nove e 12 eram os
mais indicados para utilização em campanha, enquanto que as peças de calibre 18 e 24
eram sobretudo de sítio105. Poderemos, pois, inferir que as peças em ferro foram as
que mais estiveram ao serviço do Forte, embora tenham sido as de menor custo e
longevidade.
Relativamente a outro material militar existente no Forte, encontramos apenas
uma descrição relativa ao ano de 1795, mas que de alguma forma podemos extrapolar
para toda esta época. Destacam-se as espingardas, pólvora armazenada, projéteis de
artilharia de vários calibres, e balas de chumbo, talvez para armas ligeiras. Ainda
relativamente ao equipamento militar, e no que diz respeito à palamenta,
encontramos soquetes (carregador), lanadas (alimpador), coxarras (colheres) de vário
calibre, diamantes (para desentupir o orifício através do qual se dava fogo à peça),
sacas de trapo, pranchadas de chumbo, agulhas e polvarinho de escovas. Tratavam-se
de ferramentas básicas, que procuravam assegurar o bom funcionamento da artilharia
instalada no Forte. Neste quadro, existe igualmente a informação sobre a bandeira do
Forte de São Lourenço.
Também faz parte desta lista outro material da guarnição, como barris para o
armazenamento de água, natural num contexto de uma fortificação rodeada por mar e
que, pelo menos até 1762106, não dispôs de uma fonte de água potável. Referem-se
ainda um tacho para cozinhar, provavelmente de grandes dimensões e para confecção
de alimento para toda a guarnição, além da mesa e das cadeiras da guarda, a candeia
de iluminação, e finalmente a tabuleta onde se inscreviam as ordens107.
105
João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas,
Lda., abril de 2009, p. 43.
106
Recorde-se o desenho de Baltazar de Azevedo Coutinho.
107
Arquivo Histórico Militar, DIV/4/1/04/05, José Lopes de Sousa, “Extrato dos Petrechos, Palamentas,
Muniçoens que existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”.
54
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Tratava-se pois de uma fortificação artilhada, que, nestes finais de seiscentos,
dispunham de seus apetrechos, palamentas e munições. A eficácia das fortificações
após a Restauração, prendia-se sobretudo pelo seu caracter dissuasor. As dificuldades
económicas levavam a que a defesa se organizasse em caso de perigo. Assim se
compreende que a maior parte delas se encontrasse sem guarnição ou munições108.
Por este quadro inferimos que estaria pronta e ativa e que a sua guarnição ali
permanecia. Claro que esta situação não foi permanente.
*
Sobre a guarnição do Forte de São Lourenço, verificamos a existência de duas
fases. Na primeira, de 1657 até 1755, o capitão residiu na própria fortaleza, em
habitação própria, e a guarnição era permanente. A partir do terramoto e até ao final
do uso militar da estrutura, em 1821, o capitão foi residir para Olhão e a guarnição
passou a ser rendida de 8 em 8 dias109.
A nomeação do capitão do Forte era da responsabilidade do Conselho de
Guerra, tendo isso ficado definido aquando do primeiro provimento, em 1657. De
notar que em 1753, o sistema de comunicação acerca da selecção de candidatos para
o lugar alterou-se ligeirmente, passando a ser efetuado por aviso do Secretário da
Guerra e pela edição de editais, para eventuais opositores poderem contestar no prazo
de quinze dias. Destacamos o fato de que neste aviso se obrigava o novo capitão a
residir no Forte, “pelo respeito que se lhe impõe tal cargo e prudência e pela
importância que tinha a Barra”110. A verdade é que, como referido, rapidamente esta
exigência foi abandonada.
108
Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, p 2023.
109
Arquivo Histórico Militar, 1D65L, fl. 167.
110
ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consulta de 28 de setembro de 1753.
55
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Encontramos variações quanto ao tempo de permanência no cargo de capitão e
diferenças no percurso das suas carreiras. Quanto ao mandato dos capitães, este
variava entre os 4 e os 31 anos, sendo que o primeiro capitão do forte permaneceu 19
anos, após o que professou como Agostinho Descalço. O capitão nomeado
posteriormente permaneceu 22 anos até à sua morte. Outro registo informa-nos sobre
outro capitão que, após 5 anos de permanência no cargo, pediu transferência para
outro posto, em Tavira. Assim, não obstante a grande diversidade de períodos de
permanência neste cargo, parece que a nomeação era na prática vitalícia, sendo
interrompida em caso de interesse do próprio ou de provimento noutro posto mais
apetecível.
Encontramos igualmente diferenças relativamente à proveniência de cada
capitão do forte. A Companhia do Terço da Guarnição do Reino do Algarve foi uma das
unidades de recrutamento mais comuns para os nomeados com a capitania. Outros
foram propostos no decorrer da publicação de editais. Tratava-se, pois, de um
destacamento face a militares que já serviam nesta região.
Havendo referências de tentativas de prática de contrabando através da Barra
onde se instalava o forte, dispomos de um caso em que o próprio capitão foi
implicado. Verificou-se logo em 1662, quando o capitão do forte foi acusado de
descaminho da Fazenda Real111, tendo a rainha mandado prendê-lo até prova em
contrário, foi efectivamente solto em 1667, optando poém pela vida religiosa112, talvez
como expiação para os seus inconfessáveis pecados.
Interessante também verificar como as relações familiares interferiam e se
envolviam com as relações profissionais. No caso supracitado, o filho do capitão
detido, que assentara praça no forte com apenas dezasseis anos, foi nomeado Tenente
em 1675, acabando por suceder ao pai113. Muito embora no ano seguinte sucedesse
novo capitão do Forte114, foi apresentada uma reclamação pelo Governador do Reino
111
ANTT, Secretaria de Guerra, L29, 46V, consulta de 12 de maio de 1662.
ANTT, Secretaria de Guerra, L33, 184, consulta de 1677.
113
ANTT, Conselho de Guerra, consulta de 17 de junho de 1676.
114
ANTT, Conselho de Guerra, maço 132, nº 141, consulta de 9 de fevereiro de 1677.
112
56
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
do Algarve junto do Conselho de Guerra por o filho do capitão ter assentado praça
muito jovem, e não ter antes ocupado o posto de Alferes na hierarquia115. Mas não
foram encontradas causas para que o acusado baixasse de patente e foi-lhe restituído
o posto para que fora nomeado pelo trabalho que executou durante o período em que
esteve ao serviço do Forte116.
Com o terramoto de 1755, o Forte de São Lourenço deixou de apresentar
condições para a prmanência do capitão nas suas instalações, pelo que este passou a
residir em Olhão117. A partir desta data os registos de nomeação são escassos, pelo
que apenas em 1762, 1786 e em 1804, voltamos a ter referências pelos registos dos
falecimentos dos capitães do Forte, enterrados respetivamente na Igreja Matriz118 e na
Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Rosário de Olhão119, localidade onde se teriam
certamente enraizado. Também a informação de óbito do último capitão, de que
temos registo120..
Relativamente à guarnição, vimos atrás que até 1755, ano do terramoto, será
predominantemente composta, além do capitão, que lá residia, por homens com as
patentes de tenente, artilheiro e soldado, e atestando-se também a existência de
prisioneiros em 1659121. Depois de 1755, foram integrados homens com patentes
diversificadas que se rendiam de oito em oito dias, até ao seu desmantelamento, em
1821. Além de praças, soldados e cabos, registam-se artilheiros, praças, sargentos,
tenentes, um tambor122 e um ajudante da fortaleza, a partir de 1802123.
Entre 1763 e 1767, o número de praças vai diminuindo de dez até sete,
seguindo-se um interregno de informação quanto à guarnição do Forte. A partir de
115
ANTT, Conselho de Guerra, caixa 35, maço.45, consulta de 12 de maio de 1685.
ANTT, Resolução Real de 11 de abril de 1687.
117
Arquivo Histórico Militar, 1D, 65, L44, fls 167, 1755.
118
ANTT, Livro de Óbitos da Freguesia de Olhão, fls. 164v, assento do Prior Sebastião de Sousa, 1762.
119
“Livro de Óbitos de Olhão”, assento do Prior Sebastião de Sousa,1762, fls 164V, 1718-1778, ANTT.
120
ANTT, Livro de Óbito da Freguesia de Olhão, fl.3-37v, assento do Prior António Joaquim Palma, de 14
de julho.
121
ANTT, Conselho de Guerra , caixa. 321, maço 19ª, de 8 de agosto 1659.
122
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N49-50, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de
Artilharia Avulsa da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do
mês de dezembro de 1799”.
123
Gazeta de Lisboa, julho de 1802.
116
57
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
1792, o número de soldados vai aumentando, até se atingir os vinte sete, em 1799124,
e os vinte e oito, em 1805125. A patente de sargento foi registada a partir de 1792126
até 1807127. O cabo foi registado a partir de 1799128, em número de três, e em 1806129,
o número era mantido, não havendo registos desta patente até 1821.
Como referido, o Forte contava com uma capela para apoio espiritual à
guarnição, onde eram celebradas missas, a que acorria também a própria população
de Olhão, além obviamente da guarnição do forte 130.
Quanto às peças que constituíam o acervo desta capela, temos registo do que
era considerado necessário para a devida assistência religiosa em 1795
131
. Assim,
nesta época e relativamente a peças sacras temos a imagem de São Lourenço; em
prata, com a palma e grelha, e um missal, com estante. Relativamente ao material de
apoio ao serviço religioso, temos registo de um frontal do altar, velho e incapaz,
colherinhas de prata, uma patena de prata, dois castiçais em estanho, palhetas e
pratinhos, toalhinhas de altar e de lavatório, uma casula, uma alva com cordas, uma
estola, uma cómoda de madeira de pinho para guardar ornamentos, uma candeia e
uma tabuleta para as ordens da missa.
Faça-se notar que o Bispo Algarve visitou a capela do Forte, em 1803132, tendo
opinado que o espaço era muito limpo e cuidado. Substituiu a pedra de ara por achá-la
124
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N49-50, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de
Artilharia Avulsa da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do
mês de dezembro de 1799”.
125
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N54, “Mapa dos oficiais de Infantaria”.
126
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N7, Conde de Oeynhausen, “Visita de Inspeção feita a todas as
fortalezas da costa Algarvia desde o Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim”, 1 de abril de 1792.
127
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço
da Barra de Faro, 8 de abril de 1807”.
128
Arquivo Histórico Militar, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa da
Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do mês de dezembro de
1799”.
129
Arquivo Histórico Militar, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente ao mês de junho”, 1806.
130
Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”, 3ª edição, Algarve em Foco
Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 236.
131
Arquivo Histórico Militar, José Lopes de Souza, “Extrato dos Petrechos, Palamentas, Muniçoens que
existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”.
132
Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”, 3ª edição, Algarve em Foco
Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 116.
58
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
imprópria e partida. O Forte de São Lourenço revelou-se um espaço de vivência e
convivência militar e espiritual. O equipamento militar que sempre sustentou aquele
espaço, e que foi característico de uma época, a guarnição que ali se manteve, mesmo
em alturas de continuada construção e reconstrução e das frágeis condições logísticas
em que se encontravam, devido à frequente erosão por ação do mar, fez parte da
história identificador daquela época naquele espaço. A comunidade local interagiu
com o Forte, fazendo daquele sítio um local também seu. Os seus destinos foram-se
ligando cada vez mais à emergente povoação de Olhão.
59
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
CAPITULO V
Utilidade estratégica e militar
“A população *de Olhão+ é marítima e de tanta habilidade que El-Rei só d´elles se serve nos seus escaleres da
Ribeira das Naus, indo para lá todos os annos quasi quatro centos homens, que se rendem em levas”.
Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”,
Algarve em Foco Editora, 3ª edição, Faro, 1999, p. 56
A grande fronteira do Algarve foi o mar, uma linha constantemente frágil. Alvo
de assédios de vária índole, eram comuns os assaltos da pirataria, corso e incursões
militares, originando insegurança junto das populações. Disso foi testemunho a
ocupação da fortaleza de Sagres por Francis Drake, em 1587, e o assalto a Faro por
Robert Devereux, conde de Essex, em 1596, no regresso de uma expedição a Cádiz. A
cidade foi pilhada, tendo o corsário levado parte do espólio da livraria do bispo do
Algarve, D. Fernando Martins Mascarenhas133.
Mas foi muito antes, a partir das definições jurídico-administrativas do Tratado
de Badajoz, em 1261, que o Algarve se inseriu numa zona estratégica para os intentos
da realeza portuguesa, para salvaguarda das fronteiras a Sul. Tal facto, demandou a
edificação de estruturas defensivas, como castelos, cercas, torres de vigia e fortes. Foi
só a partir de D. Sebastião que o sistema de defesa se veio a reforçar, embora com
enormes carências. Foi elucidativo o relatório de Alexandre Massai, iniciado em 1617
e terminado em 1621, resultado se uma inspeção ao estado das fortificações da região
133
Artur Manuel Ceia, “O Fenómeno da Guerra no último Quartel do Século XIV em Portugal, Tipologia e
Caracterização”, in Separata da Revista Militar, Lisboa, 1986.
60
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
algarvia: estas encontravam-se degradadas, algumas mesmo decrépitas, sendo mal
dotadas de armas e munições134.
Com D. João IV passou a dar-se muito mais atenção à questão da defesa da
costa marítima, no âmbito da Guerra da Restauração. As preocupações viram-se para o
estado dos sistemas defensivos, face a uma previsível reação de Filipe IV de Espanha,
nomeadamente os que defendiam os acessos diretos à capital135.
No século XVII, a cerca urbana islâmica de Faro não tinha capacidade para
alojamento de todos os habitantes, pelo que a cidade se tornou vulnerável aos ataques
do exterior e tornava-se imperativo defender as populações. Vivia-se o medo da
incursão de piratas e a ameaça das potências maritimas navais. Era necessário vigiar
convenientemente o litoral. Desde 1638 que se receava a aparição das armadas da
Holanda e da França, em resposta aos sucessos militares alcançados por D. Lope de
Hoces , general de mar e guerra ao serviço dos Austrias, pois temia-se um ataque à
região e Faro era tido como alvo previsível136.
Em 1639, as carências defensivas do Algarve preocupavam o Governador
Henrique Correia da Silva que considerava a cidade de Faro “abrigada por muros muito
pouco capazes de defensão”. Também “a uma légua da cidade se construíra uma
trincheira de 300 passos e um reduto para quatro peças de artilharia, tudo custeado
pela população”. Lugar marítimo de fácil acesso, a cidade não dispunha de capitão137.
A primeira noticia sobre a necessidade da construção de uma cerca urbana para
Faro, data de 1654, quando o Cabido de Faro se opõe às obras realizadas nas muralhas
e no Castelo Vila Adentro, insistindo na construção de uma cerca que envolvesse os
arrabaldes. Em 1662, Martim Correia da Silva, governador militar do Algarve,
determinou a construção dessa cerca, a fim de criar uma linha defensiva à cidade de
134
Alexandre Massai, “Descrição do Reino do Algarve – Na Relação e Traça da Cidade de Faro”,
Manuscrito da Coleção do Coronel Vieira da Silva (Museu da Cidade de Lisboa), 1621.
135
Margarida de Magalhães Ramalhão, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, setembro
2010, pp. 20-23.
136
Luis L. Guerreiro, “Depradações, combates e capturas na costa do Algarve”, in Dinâmica Defensiva da
Costa do Algarve. Do período islâmico ao século XVIII, Ed. Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Portimão,
dezembro de 2001, p. 49.
137
Idem.
61
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Faro, procurando prevenir a hipótese de eventual invasão espanhola, na sequência da
Restauração; pretendia-se dificultar quaisquer ataques que ocorressem nos flancos
urbanos orientados a terra138.
A fortificação era composta por seis panos de muralha, que integravam cinco
baluartes e dois meios baluartes. Paralelamente foi estabelecida uma zona “non
aedificandi” no seu perímetro fortificado, correspondendo a uma área de uso militar,
nomeadamente para melhor uso do poder de fogo. A cerca era extensa, com mais de
2800m, circundada por um fosso em toda a sua extensão, muros com pelo menos
quatro metros de altura e as linhas de fogo rasante chegavam a tingir 300m139. No
entanto, pela Memória Paroquial, referente aos efeitos do sismo de 1755 na cidade de
Faro, sabemos que a estrutura apresentava um estado de ruína140.
Desde meados do seculo XVII que eram, contudo, evidentes a falta de
condições para que a cidade de Faro se sentisse plenamente defendida no seu tecido
urbano, face à pouca protecção do setor marítimo. Foi a partir desta altura que se
formou a consciência real e efetiva para a urgente necessidade de reforço da defesa
maritima da cidade e da consolidação da defesa da costa maritima. Foram, pois,
levantadas fortificações, a nascente e a poente da cidade, a fim de atalhar a entrada na
Ria Formosa141.
No seguimento desta preocupação, D. Nuno de Mendonça, 2º conde de Val de
Reis e governador e capitão general do Reino do Algarve (1612-1692), bem como 27
personalidades de Faro emitiram uma ordem sobre a necessidade de se defender Faro
e bem assim a respetiva Barra142. Pedro de Santa Colomba, engenheiro militar
encarregue de várias obras de defesa da costa, e designado para servir “em Alentejo,
138
Natércia Magallhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas - As Muralhas como Património Histórico
Edit. Letras Várias, Edições e Arte, Faro, novembro 2008, p. 97.
139
Francisco Sousa Lobo, “O sistema defensivo da cidade”, in, Monumentos, nº 24, Lisboa, março de
2006.
140
Idem.
141
Livio da Costa Guedes, “Aspetos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII. A «Descripção» de
Alexandre Massai (1621)”, in Separata do Arquivo Histórico Militar, Lisboa, 1988.
142
ANTT, consulta de 21 de outubro de 1654, caixa 17, maço 14, Documento 181, Parecer do
Engenheiro Pedro de Santa Colomba datado de 20 de Fevereiro de 1653, transcrito por Carlos Callixto,
“Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município de Faro, Nº XI
1981, pp. 217-218.
62
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Lisboa e Algarve”143, foi incumbido de inspecionar todas as fortificações desde Castro
Marim a Sagres. Opinou que a defesa da Barra de Faro exigia a construção de um Forte
com a maior brevidade possível, justificando esta celeridade por achar a cidade muito
povoada e pouco defendida. Pedro de Santa Colomba assinou um contrato por três
anos, com 40$000 reis de soldo ao mês, pagos adiantadamente, e partiu de França
trazendo como ajudante o seu irmão, Bartolomeu de Massiac144.
O rei concordou com esta proposta e deu a escolher o nome da Fortificação a
D. Nuno de Mendonça, o referido governador do Algarve (1612-1692), afirmando que
“uma pedra seja posta, em local conveniente, em que se declare o nome da
fortificação que se obrou em meu e vosso tempo”145.
Começando-se a construir o Forte de São Lourenço, logo a seguir a sua utilidade
foi posta em causa pelo Cabido da Sé de Faro146, afirmando que a estrutura não
defendia a cidade, além do que a sua fundação em areias fragilizaria a construção.
Neste último ponto estava, como já vimos, correta a avaliação. Pedro de Santa
Colomba visitou as instalações do Forte e após concluir ser de pouco custo, propôs a
conservação do Forte após as primeiras destruições, pela necessidade de defender a
barra e servir de amparo aos pescadores e navios ameaçados pelos corsários147.Refirase que mais nenhum Forte existia naquela área, tendo este servido de dinâmica de
desenvolvimento populacional na então praia de Olhão148.
O Forte era, então, considerado como um importante ponto estratégico na
defesa da costa marítima, apesar de se verificar que a Barra de Faro se estava a afastar
meia légua de distância.149. Ao insistir em manter uma fortificação junto à Barra, em
zona claramente imprópria para a sua conservação, sem solo rochoso para se afirmar,
143
Portarias do Reino, Tomo 3º, p. 229, in Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda, História de Exército
Português, Lisboa, 1929, Volume 16, p. 76-77.
144
ANTT, Livro de Registos da Secretaria de Guerra, nº12, fla 155, Carta Patente de 8 de julho de 1648.
145
ANTT, Conselho de Guerra, consulta, carta Real, 1653.
146
ANTT, Conselho de Guerra, consultas, caixa 17, maço 14ª, documento 181.
147
ANTT, Conselho de Guerra, Livro de Registo da Secretaria da Guerra, nº26 (etiqueta nº24), folha 92,
verso, ANTT, 1661.
148
Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, s/d, pp. 112-113.
149
Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro, A Fortaleza de São
Lourenço da Barra de Faro”, in Anais do Município de Faro, Faro, Nº VIII, 1978, p. 88.
63
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
deveu-se ao facto de ser efetivamente a única hipótese de defender a Barra. O
afastamento da Barra face a terra impedia que uma eventual fortificação aqui erguida
tivesse alcance de fogo para proteger a principal entrada na Ria Formosa junto a Faro.
Em meados do século XVII, a construção e posterior reparação do Forte de São
Lourenço integrava-se no projecto de criação de um sistema defensivo de todo a costa
oriental algarvia. O Forte da Fuzeta, obra iniciada no tempo de D. Sebastião, foi
intervencionada no período da Restauração150. Instalado na costa junto a esta
povoação, procurava protege-la e à barra que lhe dava acesso. Já o Forte de Santo
António, em Tavira, e a Fortaleza de São João, erguida em Cabanas, deviam proteger o
acesso à velha povoação do rio Gilão. Este último foi edificado depois do Forte de Sto
António, que a partir daí passou a ter um papel secundário na estratégia defensiva151.
Quanto à Fortaleza de Cacela, cuja primitiva fortificação remontava à época islâmica,
foi reconstruído por ordem de D. Sebastião, neste mesmo contexto de defesa das
margens da Ria Formosa.
Enfim, todas estas estruturas tinham por missão defender as respectivas barras
de acesso à Ria Formosa, impedindo a entrada de corsários nos canais navegáveis de
acesso a Faro. Procuravam também segurar as povoações junto às quais estavam
implantadas, cabendo neste caso ao Forte de São Lourenço a defesa do principal
acesso à cidade de Faro. Note-se assim a influência e características do espaço ser
único onde se podia fazer tanto a defesa terrestre como da costa marítima. Estas
construções defensivas testemunham a preocupação da Coroa portuguesa com a
defesa da costa Algarvia durante os séculos XVI e XVII, uma vez que esta era
considerada então, como afirmava Frei João de São José, “ o muro e fortaleza cuja
sombra o Reino se tem por seguro”152.
Em meados do século XVIII, o Forte recebeu nos seus fundamentos uma
plataforma de artilharia de pequeno calibre, para servir de registo às embarcações que
150
Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, Monografia do Concelho de Olhão, 3ª edição, Algarve em Foco
Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 172.
151
in www.igespar.pt/ptpatrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/
152
www.igespar.pt/ptpatrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/
64
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
entravam e evitando-se deste modo o contrabando153. Assim, além da função
estritamente defensiva, ligada aos eventos militares, o Forte assegurava também um
policiamento da atividade económica, garantindo uma eficaz fiscalidade régia.
Fig. 32 – “Visita de Inspeção a todos os pontos fortificados do litoral algarvio”, de Lagos, 22 de
Junho de 1754. BN, Reservados– Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas do Ministério do Reino,
doc Nº 2 e 6.
A planta datada de 1754, de Francisco Lobo Cardinal, faz referência à existência
de quatro Barras na Ria Formosa: a primeira e mais próxima da cidade, a Barra da
Barreta (A), aparentemente sem grandes condições para o tráfego marítimo; a Barra
Nova (B), por certo aberta há menos tempo no já mencionado processo de evolução
deste sistema geográfico e cuja largura parece também limitada; a Barra Grande (C),
considerada a principal, figurada como a mais larga e com acesso interior mais livre de
153
ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consultas de 28 de setembro de 1753.
65
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
ilhotes ou bancos de areia; e a Barra da Fuzeta (D), em frente a esta povoação, com
acesso mais acidentado. Foram também identificados os povoados mais importantes à
época, a Fuzeta, Olhão, e, claro, a cidade de Faro.
A única estrutura militar representada é o Forte de São Lourenço, assente
sobre uma ilhota, com clara centralidade nesta área da Ria Formosa, muito embora um
pouco afastado da sua barra principal. Este facto, também relacionado com o citado
processo de evolução litoral, fazia com que a importância do Forte fosse decrescente,
para mais sendo constantemente assolado pela força do mar. Era, ainda assim, o único
ponto fortificado ou passível de defesa nesta parte da Ria Formosa. Era, assim, a única
forma minimamente viável de assegurar o controlo sobre o principal acesso à capital
do Algarve.
Refira-se que, anos antes, se procurara reforçar a defesa da mesma Barra
Grande. O Forte da Armona, de efémera existência pela sua construção sobre areias,
teve a sua edificação iniciada em 1743, durante o reinado de D. João V. Tinha por
objetivo complementar o Forte de S. Lourenço na defesa da principal Barra de acesso a
Faro, por onde entravam os navios de comércio com destino à cidade. A sua
construção revela ou um desejo de cruzamento de fogos entre as duas estruturas
fortificadas, ou mais provavelmente o intuito de implantar uma nova estrutura militar
mais próxima da embocadura da Barra, que mantinha a sua mutação para Leste. A
ação erosiva das ondas e esta deslocação da Barra, tornou-a impossível de
conservar154.
Com o terramoto de 1755, as fortalezas costeiras, sobretudo as do Algarve e da
Barra do Tejo, ficaram muito deterioradas. O Forte de São Lourenço sofreu grande
destruição mas continuou a ser mantido e conservado, certamente devido àquela sua
importância estratégica. Em finais do século XVIII os relatórios de inspeção sobre o
estado em que se encontravam as fortalezas algarvias referem, invariavelmente, a
mesma situação: a maior parte dos fortes estava desguarnecido de tropas, e o
armamento era sofrível.
154
Arquivo Histórico Militar, “Visita de Inspeção pelo Governador e Capitão General do Reino do
Algarve. D. Rodrigo de Noronha e Meneses”, 1754.
66
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
A função da defesa do acesso a Faro e de amparo aos navios e pescadores
contra os corsários foi-se esbatendo, dando lugar a outras funcionalidades. Na
segunda metade de Setecentos, o Forte passou a servir essencialmente como ponto
de registo e fiscalização das embarcações que entravam e saiam da Barra155. Era então
uma pequena bateria, que visava sobretudo um controlo sobre a actividade económica
do porto, isto é, mais um estabelecimento de guarda fiscal que uma estrutura militar.
Refira-se que mais nenhum Forte existia naquela área, tendo este servido de dinâmica
de desenvolvimento populacional na então praia de Olhão156.
Já em finais do século XVIII, esta parte da Ria Formosa foi objecto de novo
levantamento cartográfico. Comparando esta representação com a de 1754, esta
apresentava-nos, para além da Barra da Barreta, a Barra Nova, a Barra da Fuzeta e a
Barra Grande, esta útima sendo a principal e a mais larga. Nesta representação, a
Barra Grande apresenta-se mais fechada e mais afastada do Forte de São Lourenço. Já
as Barras de Ferrobilhas e de Tavira aparecem nesta representação, bem como o Forte
da Fuzeta, o Forte de Sto António e a Fortaleza de São João de Tavira e a Fortaleza de
Cacela, todas parte do referido dispositivo defensivo criado na centúria anterior. Faro,
Olhão, Monte Gordo e Tavira são os povoados figurados, numa clara conjuntura
defensiva tanto terrestre como maritima.
155
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N5, “Relatório do Sargento-Mor Romão José do Rego, 18 de abril
de 1765”.
156
Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, s/d, p 112-113.
67
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 33- Arquivo Histórico Militar, Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Códice 4, pasta 2. “Carta
corographica e hydraolica da Costa do reino do Algarve desde a Cidade de Faro até a vila de Alcoutim”,
do “Projeto sobre as fortificações do Algarve pelo General de Engenheiros José de Sande Vasconcelos”,
1796.
68
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
A utilidade do Forte de São Lourenço continuou a ser referida nos relatórios de
inspeção exarados regularmente157. E a sua utilidade foi ainda confirmada pela visita
de D. Francisco Gomes, Bispo do Algarve, efetuou à capela do Forte, em 1803.
As invasões francesas trouxeram outra dinâmica e funcionalidade ao Forte, pois
apoiou os sublevados, cedendo a pólvora que possuía. A sublevação de Olhão teve a
particularidade de ter sido a primeira das revoltas populares contra a ocupação
francesa, em que houve um real enfrentamento dos invasores. Por alvará régio de 15
de novembro de 1808, o futuro rei de D. João VI elevou o lugar de Olhão a “Vila de
Olhão da Restauração”, igualando-a “às vilas mais notáveis do reino”, expressamente
por este facto158.
Refira-se um relatório de inspeção realizado ao Forte em 1815, que conclui que
este fora útil quando a Barra estava próxima, deixando no entanto esta situação de se
verificar159, pela citada movimentação natural dos solos.
No ano em que o Forte foi desativado, em 1821, já deixara de cumprir a sua
funcionalidade, pelo continuado afastamento da Barra e pelo estado de ruina em que
se encontrava. O relatório exarado nesta data recordava que o local da construção era
estratégico, pois defendia a costa e a Barra Grande, que após o seu afastamento
deixou de ter defesa160.
O Forte de São Lourenço se encontrava integrado na planificação da defesa
marítima da costa Algarvia, por ser julgada a parte mais exposta de Portugal, mais
especificamente na defesa da Barra Nova, no contexto da guerra da Restauração e em
que toda a costa foi reforçada com construções defensivas.
157
Arquivo Histórico Militar, 3DSC87N18, Euzébio de Sousa Soares, “Relação das Praças Fortes e Baterias
Distribuídas por toda a Linha Fronteira do Reino do Algarve, Quais devem Ser Conservadas e Guarnições
que Devem Ter”, 12 de fevereiro de 1815.
158
Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, Monografia do Concelho de Olhão, 3ª edição, Algarve em Foco
Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p. 89-90.
159
Arquivo Histórico Militar, Euzébio de Sousa Soares, “Relação das Praças Fortes e Baterias Distribuídas
por Toda a Linha Fronteira do Reino do Algarve, Quais Devem Ser Conservadas e Guarnições que devem
Ter, 12 de fevereiro de 1815”.
160
Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, 3231, 1821.
69
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
A inibição de combates e o amparo dos pescadores e das embarcações,
associado ao seu funcionamento como registo às embarcações, infere-se que o seu
grau de prontidão sempre se manteve, desde que foi iniciada a sua construção em
1653 até á data do seu desmantelamento, em 1821.
70
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
CONCLUSÂO
A construção do Forte de São Lourenço não só pretendeu dar resposta a uma
necessidade estratégica que se impunha após a Restauração, como também veio
permitir a dinamização e o desenvolvimento de um pequeno núcleo populacional de
pescadores olhanenses que viviam na praia, em simples cabanas. População corajosa,
responsável pela primeira sublevação no contexto das invasões francesas, arriscou-se
no caique “Bom Sucesso”até ao Brasil, a fim de dar a Boa Nova ao Rei, foi o expoente
máximo desta gente no propósito dos seus objetivos e de coragem.
O contexto físico associado ao Forte foi determinante para a sua existência e
depois desmantelamento. A instabilidade do local de implantação, aliada à sismicidade
histórica, foram factores de fragilização da estrutura. Estas características refletiramse em todo o processo de construção e de sucessiva reconstrução da fortificação, ao
longo dos seus 168 anos de vida. Mas apesar das fragilidades verificadas, impôs-se a
sua continuidade ao longo deste período, num contexto de necessidade de defesa e de
salvaguarda da barra de Faro e das comuidades locais acossadas por habituais
incursões de piratas e de desamparo que sofriam no seu quotidiano.
Os trabalhos arqueológicos realizados no decorrer deste mestrado, bem como
a análise de dados produzidos em intervenções anteriores, possibilitaram a
delimitação das áreas de dispersão de vestígios de superfície. Associando estes
registos à cartografia antiga e aos dados de sonar de varrimento lateral, foram
relacionados os vestígios arqueológicos com o antigo Forte de São Lourenço, que assim
foi localizado com um grau de aproximação relativamente seguro.
A análise do equipamento material e da guarnição revelou ter havido
momentos de reforço da artilharia instalada, coincidente com os principais momentos
de perturbação ou reforma militar. A estrutura esteve sempre guarnecida, embora a
partir de meados do século XVIII o seu comando seja assegurado a partir de Olhão,
71
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
havendo maior rotação na guarnição residente. A assistência religiosa que decorria no
espaço do Forte, pela existência de uma ermida, e a acorrência habitual da população
à missa, deu-nos a conhecer uma realidade afetiva e vivenciada entre a comunidade
local e a fortificação.
Por último, quanto à importância estratégica militar do forte, no contexto
lagunar da Ria Formosa, ressalvamos que, não obstante as dificuldades e fragilidades
construtivas, houve um claro esforço para a manutenção desta posição, dado ser o
meio mais eficaz de proteger uma barra fundamental de acesso à cidade de Faro,
muito afastada da costa para que pudesse ser dali defendida.
A construção e a continuada e insistente reconstrução e conservação do Forte
ao longo de 168 anos, acompanhou toda uma evolução histórica no quotidiano de uma
população que continuadamente ali permaneceu e que ainda hoje se verifica pela
constante presença dos pescadores no sitio onde se encontram os vestigios do Forte.
As bocas de fogo que ali se encontram in situ continuam a servir de guarida aos polvos
que são regularmente apanhados pelos pescadores.
Os trabalhos de arqueologia que ali se têm vindo a realizar desde 2006, e
também as visitas ao local que foram proporcionadas com o apoio da Câmara
Municipal de Olhão, no âmbito das férias escolares dos alunos das escolas do
concelho, têm vindo a revelar-se de grande importância tanto ao nível regional como
municipal para as populações que se identificam com o património arqueológico local.
Nestes campos de férias, temos vindo a sensibilizar os jovens com idades entre os 12 e
os 17 anos, para um melhor conhecimento do seu património, conseguindo deste
modo aproximar a população da sua história e a valorizar a cidade onde vivem. Mais
ainda, a entenderem o quanto a arqueologia é importante para a compeensão do
passado. Embora não sejam estes vestigios os mais expetaculares, eles não deixam de
ser importantes para as comunidades locais e para a sua identidade.
Sendo de uma importância vital a existência de uma educação patrimonial que
não se quede apenas em atividades escolares de Verão, procurámos envolver nesta
temática as escolas em Olhão que pertencem à Rede de Escolas Associadas da
72
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
UNESCO, e que durante um ano letivo estas desenvolveram um projeto de trabalho
em conjunto, sobre a sua cidade e as suas tradições. Os alunos, em contato com a
comunidade local, com o saber antigo e as tradições, expresssas na arte de reconstruir
replicas de antigas embarcações de pesca que navegavam na Ria Formosa, souberam
reconhecer a importância do conhecimento patrimonial para o seu enriquecimento
pessoal e coletivo.
A escola, é, por excelência, o local ideal para a prática de valorização e defesa
do património e é pelo envolvimento dos jovens em projetos que saiem da sala de
aula, que a escola cumpre o seu papel como lugar de transmissão de valores da prática
da cidadania e do saber.
Enfim, a construção do Forte de São Lourenço testemunhou durante toda a sua
existência, um processo de desenvolvimento histórico, tendo sido uma importante
fonte de informação sobre a vida das pessoas que a ele estiveram ligadas. O seu
estudo permitiu-nos divulgar o conhecimento do património e através da observação
dos vestígios do passado ainda existentes no sítio, e pela leitura das fontes - registos
essenciais para a sua compreensão, sabemos que o Forte de São Lourenço fez parte
de um património que a todos continua a pertencer.
Pretendeu-se com este trabalho confirmar a existência de um património que
fez parte de um dado momento da história de Portugal, assegurar a sua memória junto
das comunidades locais e apoiar o desenvolvimento de atividades que propiciem uma
rede de conhecimento patrimonial depositário de memórias e de identidades
coletivas.
73
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
BIBLIOGRAFIA
Fontes cartográficas
Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N3, “Mapa da Guarnição e Artilharia”, 28 de
Fevereiro de 1763.
Carta geral da costa de Portugal, Arquivo Militar, Exército Português, Projeto
SIDCARTA.
Coutinho, Baltazar de Azevedo, Fortificações do Algarve, ANTT, Casa Forte – Tesouros
Nacionais, 1789.
Fortaleza d´S. Lourenço; Forte Novo; Torre da Quarteira, Exército Português, Projeto
SIDCARTA.
Fortaleza de S. Lourenço da Barra de Olhão; Ruína, Exército Português, Projeto
SIDCARTA.
Lopes, J. B. da Silva, Carta corográfica do Reino do Algarve, que faz parte da corografia
do mesmo Reino.
Mappa hidrographico da barra da cidade de Faro: feito por ordem do III.mo Senhor
Agostinho Moller & C. que governa as armas de este Reyno do Algarve… Exército
Português, Projeto SIDCARTA.
Plantas e perfis da Bateria da Armona e da Fortaleza de S. Lourenço, Exército
Português, Projeto SIDCARTA.
Reyno do Algarve, Exército Português, Projeto SIDCARTA.
Vasconcelos, José Sande de, Costa desde o Farol da Guia ao Forte de Santo António da
Barra, Exército Português, Projeto SIDCARTA.
74
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Vasconcelos, José Sande de, Mappa das Fortalezas e Baterias do R. no d´Alg. E
comprehendidas entre Faro e a Arrifana: Borrão de campo, 1794 (?), Exército
Português, Projecto SIDCARTA.
Vasconcelos, José Sande de, Mappa dos orçamentos do que podem custar as
redificações das fortalezas deste Reyno (do Algarve), 1794?, Exército Português,
Projeto SIDCARTA.
Vasconcelos, José Sande de, Plano hydrographico das barras e portos de Faro e Olhão,
1870/ 1873, Vasconcelos, José Sande de, Mappa hidrographico da barra da cidade de
Faro: feito por ordem do III.mo Senhor Agostinho Moller & C. que governa as armas de
este Reyno do Algarve… Exército Português, Projeto SIDCARTA.
Fontes manuscritas
Biblioteca Nacional de Portugal, Reservados,
Cod. 1076, Catálogo dos Governadores e Capitães - Generais do Algarve Que São
Presidentes da Junta da Justiça.
Cod. 10835, Memórias das Cousas que Convem se Porvejam neste Reino do Algarve –
Manuscrito sobre a Defesa do Algarve, 1629.
Arquivo Nacional Torre do Tombo
Chancelaria de D. Afonso VI, Livro nº 21.
Chancelaria de Filipe III – Doações, Livro 18, Fls 244-244V.
Conselho de Guerra – Consultas, 9 de Março 1644 a 28 de Setembro de 1753.
Conselho de Guerra – Decretos, 24 de Abril de 1654.
75
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Conselho de Guerra – Pareceres, 13 de Março de 1706.
Conselho de Guerra – Resoluções Reais, de 23 de Maio de 1661 a 20 de Dezembro de
1701.
Conselho de Guerra - Secretaria de Guerra, de 23 de Março de 1657 a 6 de Outubro de
1712.
Papeis do Ministério do Reino, Ofício do Governador e Capitão General do Reino do
Algarve, D. Rodrigo António de Noronha e Menezes, - Planta desenhada por Francisco
Lobo Cardenal- 9 de Fevereiro, 1756, Maço nº 625.
Arquivo Histórico Militar:
3D95C95N26, Mappa da Guarnição e Artilharia das Praças do Reino, 1776.
3D95C95N28, Mappa da Guarnição e Artilharia das Praças do Reino, 1777.
3D95C95N6, Mappa da Guarnição e Artilharia das Praças do Reino, 1766.
3D95C95N7, Mappa da Guarnição e Artilharia das Praças do Reino, 1861.
3D95C95N9, Mappa da Guarnição e Artilharia das Praças do Reino, 1768.
3D96C95N3, Mappa da Guarnição e Artilharia, 1763.
3D9SC2N7, Mapa Geral das Fortificações existentes na 8ª Divisão Militar, Comandante
da Divisão, Visconde de Tavira, 28 de Dezembro de 1861.
3D9SC87N13, Mapa da Guarnição referente aos meses de Junho e Dezembro,
Sargento-mor Comandante da Praça de Olhão, José Garcia, 1805.
3D9SC87N23, Memória Resumida do Reconhecimento Militar Feito às Costas e
Fortificações do Reino do Algarve compreendidas desde a Foz do Rio de Odeceixe até à
foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado,
Marechal de Campo Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros,
76
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Inspetor das Praças e Fortalezas do Reino, pelo 1º Tenente do mesmo Corpo, Gregório
António Pereira e Sousa, Maio de 1821.
3D9SC87N5, Relatório do Sargento-Mor Romão José do Rego, 1765 / 1771.
3D9SC87N5, Relatório do Sargento-Mor Romão José do Rego.
3D9SC87N8, Mapa dos Oficiais e Soldados a Pé de Castelo, 1793.
3D9SC88N15, Relatório conjunto: Situação do estado e Importância Militar das Praças
de Vila Nova de Portimão, Albufeira e Faro e dos Fortes de sua Dependência, Major do
Corpo de Engenheiros José Maria da Silva Carvalho e Capitão Comandante Interino do
Material de Artilharia da 8ª Divisão Militar Alexandre José de Barros, 15 de Setembro
de 1849.
3D9SC88N16, Relatório da Comissão encarregada pelo Duque de Saldanha de
examinar as fortificações da Costa do Sul, Brigadeiro Graduado G.A.P. de Sousa, 24 de
Abril de 1854.
3D9SC9 6 N4, Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de S. Lourenço da Barra de
Faro, 1807.
3D9SC95N4, Relação de guarnição e artilharia,1764.
3D9SC96 N46, Relação por Antiguidade dos Indivíduos Empregados na Dita Vila e
Fortaleza de São Lourenço da Barra, Major e Governador Agregado da Praça de Faro,
Francisco José de Almada, 15 de Setembro de 1829.
3D9SC96N45, Decreto Publicado no Rio de Janeiro, João Gomes Pincho (processo
individual), 17 de Dezembro, 1808.
3D9SC96N49 e 50, Mapa dos Oficiais Inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa
da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu Vencimento do
Mês de Dezembro de 1804.
3D9SC96N56, Garcia, José, Mapa da Guarnição referente ao mês de Junho.
77
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
3D9SCIN49, Relatório das Fortificações Permanentes da 8ª Divisão Militar, Major de
Engenharia Francisco António Garcez, 4 de Junho de 1840.
3DSC87N18, Relação das Praças, Fortes e Baterias Distribuídas por Toda a Linha
Fronteira do Reino do Algarve, Quais Devem ser Conservadas e Guarnições que Devem
Ter, 1815.
C4N22, Relação do Estado em que se acham as fortificações destinadas à Defesa das
Costas e Reino do Algarve, na última revista que se passou no ano de 1795, Lisboa.
D9SC96N56, Mapa da Guarnição referente aos mes de Junho Sargento-mor
Comandante da Praça de Olhão, José Garcia, 1806 .
DIV/1/02/4/39, Certificado de despesas com obras de fortificação do Reino do Algarve,
10 de Dezembro de 1656.
DIV/1/06/02/16, Relação (cópia) das munições necessárias para se despenderem e
passar a reserva dos armazéns do Reino do Algarve assinada por Timóteo Soares da
Paz. Do Quartel de Lagos, com ofício de remessa do Conde…1761.
DIV/1/06/02/16, Relação das munições necessárias para se despenderem e para
reserva dos armazéns do Reino do Algarve, ass por Timoteo Soares da Paz, do Quartel
de Lagos, com ofício de remessa do Conde de Vilar Maior, da Junta doe Três Estados
para Luís da Cunha Manuel e Relação das Praças e Fortalezas que há neste Reino do
Algarve, 1762 .
DIV/1/06/28/46, Oficio de José Vieira da Luz para Luís da Cunha Manuel, Secretário de
Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, sobre a autorização para obras na
Fortaleza de São Lourenço da Barra, Setembro 1756.
DIV/1/06/49/12, Observações avulsas sobre algumas Praças do Algarve e seus oficiais,
nomeadamente, Faro, Lagos, Tavira, Sagres, Albufeira, Portimão e Alcoutim.
DIV/1/09/04/31, Ofício do Armador-mor para Aires de Sá e Melo, Secretário de Estado
dos Negócios da Guerra, acerca da nomeação do Governador da Fortaleza de São
Lourenço da Barra de Faro, 11 de Junho de 1777.
78
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
DIV/3/01/01/01, Lacerda, António de Lemos de, Apontamentos sobre as Fortalezas
Marítimas da Estremadura e do Algarve, com duas Relações assinadas pelo TenenteCoronel de Infantaria António de Lemos de Lacerda, 1802.
DIV/3/01/01/14, Plano de defesa da costa do Reino do Algarve elaborado pelo Conde
de Val de Reis e dirigido a Luís Pinto de Sousa Coutinho, 25 de Abril de 1795 .
DIV/4/1/0/0/1, Extrato de artilharia, munições e víveres das praças principais de
Portugal 1763.
DIV/4/1/04/05, Relação de munições e víveres da Praça de Faro – Ofício do Sargento –
Mor José de Sousa, encarregado da Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, para
Luís Pinto de Sousa, a enviar as relações de munições da Praça de Faro, 1 de Fevereiro
de 1795 /1 de Janeiro de 1796.
DIV/4/1/04/22, Projeto sobre as fortificações do Algarve, pelo General dos Engenheiros
José de Sande Vasconcelos, 1796.
DV/4/1/04/25, Relação da Artilharia, Pólvora e bala que há nos armazéns da Cidade de
Faro, Bateria de Ferrobilhas e no lugar de Olhão para onde veio a artilharia de bronze
do Forte de São Lourenço, 31 de Janeiro de 1795 e 6 de Março de 1798.
Manuscrito Geographia Histórica do Brazil, África, Ásia, Portugal, etc, fl 134, Geografia
do Reino de Portugal, 1701.
Mapa demonstrativo de todas as Fortalezas Marítimas desde a Foz do Guadiana até à
Foz do Minho, Bocas de Fogo de cada uma das Fortificações e seu Municiamento em
Projécteis, 1832.
Mapa dos Oficiais Inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa da Guarnição de
São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu Vencimento do Mês de Dezembro
de 1799.
Memórias dos Governadores do Reino do Algarve, desde Marim Correa da Silva,
contemporâneo de Filipe III de Espanha, até ao Conde de São Lourenço, que morreu em
79
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
1715- Manuscrito anónimo que na miscelânea dos Reservados da Biblioteca Nacional
tem o nº 224.
Relação das Praças que tem Governadores na Província do Alentejo e Reino do Algarve
e as que se acham vagas, 14 de Junho 1802.
Relatório da Visita de Inspeção efetuada às Praças e Fortalezas do Reino do Algarve –
Mapa de vencimentos, 1830 e 1831, DGFP-2H0-5, mandado escrever no tombo por
nota nº 4817 –Pº 4003-T da 3-10-931, da 3ª rep.
Relatório da Visita de Inspeção feita a todas as fortalezas da costa algarvia desde o
Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim, do Tenente-coronel do Real Corpo de
Engenheiros Alexandre José Montana, 1793.
Relatório da Visita de Inspeção feita a todas as fortalezas da costa algarvia desde o
Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim, no rio Guadiana, Comissão de Reconhecimento
do Oficiais do Real Corpo de Engenharia, Decreto de 29 de Dezembro, publicado em
Ordem do Dia Nº 18, de 16 de Fevereiro de 1825, 1825.
Relatório do Conde de Oeynhausen, Visita de inspeção feita a todas as fortalezas da
costa algarvia desde o Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim, 1792.
Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar – G.E.A.E.M.,
Relatório do Capitão Engenheiro José Feliciano, Gabinete de Estudos Arqueológicos de
Engenharia Militar, 1823.
Fontes impressas
Aires, Cristovão, Portarias do Reino, V.16 -76/77, Tomo 3, p. 229.
Almanaque de Lisboa, Decreto de 3 de Julho de 1788.
80
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Baptista, Prior João, Livro de Óbitos de Olhão, fl. 80 (1778/1802) .
Cardoso, Luís, C.O., 1769, Diccionario geográfico, ou notícia histórica de todas as
cidades, villas lugares e aldeãs, rios, ribeiras, e serras dos Reynos de Portugal e Algarve,
com todas as cousas raras, que nelles se encontrão, assim antigas, como modernas /
que escreve e offerece…o P. Luis Cardoso, da Congregação do Oratorio de
Lisboa,Lisboa, Regia Officina Sylviana e Academia Real, 1747-17451 – 2vol.
Carta dos Governadores do Algarve (1638-1663), preparação do texto e pref. de
Alberto Iria, Academia Portuguesa de História, Lisboa, 1978.
Castelo-Branco, António do Couto, Memórias Militares, Ed. Lit. António de Novaes
Ferram, 1707.
Castro, João Baptista de, Mappa de Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1762.
Chaby, Cláudio de, Synopse dos Decretos Remetidos ao Extinto Conselho de Guerra,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1869-1892, 8 volumes.
Franzini, Marino Miguel, Carta Geral que comprehende os planos das principais barras
da costa de Portugal aqula se refere a carta reduzida da mesma costa (material
cartográfico) / construída por Marino Miguel Franzini Manjor do Real Corpo de
Engenheiros, 1812.
Gazeta de Lisboa, 12 de Fevereiro 1750.
Gazeta de Lisboa, 14 de Julho de 1795.
Gazeta de Lisboa, 30 de Setembro de 1786.
Gazeta de Lisboa, Agosto de 1802.
Lopes, J. B. da Silva, Corographia ou memória económica….do Reino do Algarve, Lisboa,
1841.
Massai, Alexandre, Descrição do Reino do Algarve – Na Relação e Traça da Cidade de
Faro, Manuscrito da Colecção do Coronel Vieira da Silva (Museu da Cidade de Lisboa).
Palma, Padre António Joaquim, Livro de Óbitos de Faro, Olhão, 14 de Julho 1804.
81
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Peçanha, Sebastião de Faria, Livro de Baptismos, Faro, fl 90, 1656.
Roiz, Anastácio Joaquim, Rapport sur Le Fort Appelé São Lourenço de Olhão, Arquivo
Histórico Militar, 1798 – Lisboa C4 N6.
Santos, Horácio Madureira dos - Catálogo dos decretos do extinto Conselho de Guerra
na parte não publicada pelo general Cláudio de Chaby. Separata do Boletim do Arquivo
Histórico Militar. Lisboa: Arquivo Histórico Militar, 1868.
Silva, A.A. Baldaque da, Roteiro Marítimo da Costa Occidental e Meridional de
Portugal, Tomo Primeiro, Lisboa, Imprensa Nacional, 1889.
Sousa, Prior Sebastião de, Livro de Óbitos de Olhão, fls 164 V, 1718 -1778, ANTT.
Vasconcelos, José Sande de, Mapa da Configuração de Todas as Praças, Fortalezas e
Baterias do Reino do Algarve, 1759.
Estudos
Almeida, João de, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa, Edição do
Autor, 1946, Vol. III.
Alves, Francisco, “Ponta do Altar B, Arqueologia de um naufrágio no Algarve nos
alvores do século XVII”, in O Arqueólogo Português, Série IV, Volume 8-10, Lisboa,
1990-1992.
Alves, Francisco, “Arqueologia Subaquática em Portugal -Uma questão inadiável (19801990)”, in Memórias, Vol. XIX. Lisboa, Academia de Marinha, 1990.
Alves, Francisco, “Inventário de coleções de arqueologia subaquática em museus no
quadro de um projeto de Carta Subaquática”, in O Arqueólogo Português, Série IV,
Nº17,1999, pp. 247-260.
82
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Amador, Pedro, “Armas de Artilharia da Guerra Peninsular”, in Revista de Artilharia,
2010.
Barroca, Mário, As fortificações do litoral Portuense, Ed. Inapa, Porto, 2001.
Bass, George F., Arqueologia Subaquática, Editorial Verbo, Cacém, 1966.
Belchior, Joaquim Lopes, Faro e a Ria Formosa, Edição do Autor, [S.I.], 1988.
Bernardo, P. Bastos, R. & Dias, J. A., Historic roots for barrieer islands occupation in the
Ria Formosa. Litoral, Porto, 2002.
Bettencourt, Pedro, Les environnements sedimentarires de la Côte Sotavento (Algarve,
Sud de Portugal) et leur évolution Holocéne et actuelle, Thèse présentée a L´Université
de Bordeaux I pour obtenir le titre de Docteur en Geologie Marine, - 1er volume, 1994,
(Tese não publicada).
Boiça, Joaquim, A Barra do Tejo. O Eixo São Julião / Bugio. Navegabilidade, Defesa e
Alumiamento, Câmara Municipal de Oeiras, 2000.
Callabuig, Luís, “Glosario de fortificación abaluartada – Glosario de términos de
fortificación abaluartada en el contexto de la fortaleza de Almeida”, in CEAMA-Centro
de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida, Vol. 1, 2008, pp 99-109.
Callixto, Carlos Pereira, A Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, 2ª parte,
Separata dos “Anais do Município de Faro”, Nº XVI, Faro, 1987, pp 1-43.
Callixto, Carlos Pereira, Apontamentos para a História da Fortaleza de São Lourenço da
Barra de Faro, 1ª parte, Separata dos Anais do Município de Faro, Nº XV, Faro, 1986,
pp. 1-10 e 14-22.
Callixto, Carlos Pereira, Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de
Faro, I – A Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, sep. Anais do Município de
Faro, nº VIII, 1979, p. 2.
Callixto, Carlos Pereira, Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de
Faro, V, sep. Anais do Município de Faro, Nº XI, 1982, pp. 17-31.
83
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Callixto, Carlos Pereira, Castelos e Fortificações Marítimas do Concelho de Lagos,
Algarve em Foco Editora, Faro, 1991, pp. 111-123.
Callixto, Carlos Pereira, Fortificações Marítimas do Concelho de Oeiras, 2ª Reedição
renovada, da Câmara Municipal de Oeiras, Julho de 2002.
Ceia, Artur Manuel, O Fenómeno da Guerra no último quartel do século XIV em
Portugal, Tipologia e Caracterização”in Separata da Revista Militar, Lisboa, 1986 .
Ceia, Filipe Rafael, “Vulnerabilidade das Ilhas-Barreiras e Dinâmica da Ria Formosa na
Óptica da Gestão”, in Revista da Gestão Costeira Integrada, 9 (1), 2009, pp. 57-77.
Chagas, Ofir, Tavira, Memórias de uma cidade, Edi. O Autor, Tavira, dezembro 2004, p.
43-78.
Chícharo, Luís António Zambujal, Sistemática ecologia e dinâmica de larvas e pós larvas
de bivalves na Ria Formosa, Faro, - Tese Doutoramento, 1996.
Coutinho, Valdemar, Dinâmica ofensiva da Costa do Algarve: do período Islâmico ao
Século XVIII, Instituto de Cultura Ibero - Atlântica, Portimão, 2001
Dias, J. A. P. Bernardo, “História da ocupação das Ilhas Barreira da Ilha Formosa”, in 4º
Simpósio sobre a margem Ibérica Atlântica, Universidade do Algarve, 2003, pp 189190.
Figueirosa, M. E., “Margem Continenteal- Linhas de Costa”, in Atas da I Reunião do
Quaternário Ibérico, Grupo de Trabalho para o Estudo do Quaternário, Vol. 1, Lisboa,
1985.
Gomes, Mário e Gomes, Rosa Varela, Levantamento arqueológico-bibliográfico do
Algarve, Faro, Delegação Regional do Sul, Secretaria de Estado da Cultura, 1988.
Guedes, Lívio da Costa, Aspectos do Reino do Algarve nos Séculos XVI e XVII: A
Descripção de Alexandre Massai, 1621, Arquivo Histórico Militar, Lisboa, 1988.
84
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Guerreiro, Luis, R. “Depradações, combates e capturas na costa do Algarve”, in
Dinâmica Defensiva da Costa do Algarve. Do período islâmico ao século XVIII, Ed.
Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Portimão, dezembro de 2001.
Iria, Alberto, A Invasão de Junot no Algarve (Subsídios para a história da guerra
peninsular, 1808-1814), Edição do Autor, Lisboa, 1941 (reimpressão fac-similada:
Amadora, Livro Aberto, 2004).
Iria, Alberto, Carta dos Governadores do Algarve, (1638-1663), Lisboa, Academia
Portuguesa de História, 1978.
Iria, Alberto, Da Importância Geo-Política do Algarve, na Defesa Marítima de Portugal,
nos Séculos XV a XVII, Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1976.
Lobo, Francisco Sousa, “O Sistema Defensivo da Cidade”, in Monumentos, Nº24, Março
2006.
Magalhães, Joaquim Romero, O Algarve Económico, Lisboa, Estampa, 1993.
Magalhães, Natércia, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas, Letras Várias, Faro, 2008.
Marques, Maria da Graça, O Algarve da Antiguidade aos nossos dias, Colibri, Lisboa,
1999.
Matos, Gastão de Melo, “Conselho de Guerra”, in Dicionário de História de Portugal,
Porto: Figueirinhas, 1895.
Moreira, Rafael, A Arquitectura Militar - História da Arte em Portugal – O Maneirismo,
Alfa, Lisboa, 1986, vol. 7.
Moreira, Rafael, A Arquitectura Militar do Renascimento em Portugal, Epatur,
Coimbra,1981.
Moreira, Rafael, Portugal no Mundo: História das Fortificações Portuguesas no Mundo,
Lisboa, Alfa, 1989.
85
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Neves, José, Estudo geográfico sobre Faro e a Formação Lagunar do Sotavento
Algarvio, 1974.
Oliveira, F. X. Ataíde de, Monografia do Concelho de Olhão, 3ª edição, Algarve em Foco
Editora, Câmara Municipal de Olhão 1999.
Quaresma, António, Alexandre Massai: a escola italiana de engenharia militar no
litoral alentejano (séculos XVI e XVII), Centro Emérico Nunes, 2008.
Rubim, Nuno J. Varela, A defesa costeira dos estuários do Tejo e do Sado desde D. João
II at´r 1640, Prefácio - Edição de Livros e Revistas, Lta, Lisboa, s/d
Santos, Gabriel Augusto, “A Artilharia na Guerra Peninsular”, in Revista de Artilharia,
Julho 2010.
Sepúlveda, Christovam Ayres de Magalhães, História Orgânica e Política do Exército
Português - Provas, 4 volumes, Imprensa Nacional, Lisboa, 1908.
Simões, J. M. dos Santos e Oliveira, Emílio Guerra de, Azulejaria em Portugal no século
XVII, Tomo I, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1971.
Vaz, Adérito Fernandes, Olhão da Restauração no Tempo e a 1ª Invasão Francesa em
1808, no contexto Regional e Nacional, Elos Clube de Olhão, 2009.
Veiga, Maria do Rosário, “Alvenarias de Edificios Históricos, intervenções sustentáveis
com materiais compativeis”, in VI Encontro Nacional de Estudos de Engenharia Civil,
LNEC, abril de 2010.
Vila-Concejo A.; Matias, A; Ferreira O; Ó. Duarte C; Dias, J.M.A. “Recent Evolution of
the Natural Inlets of a Barrier Island System in Southern Portugal”, in Journal of Coastal
Research, Special Issue 36, 2002.
Vila-Concejo A.; Matias, A; Ferreira O; Ó. Duarte C; Dias, J.M.A., “Quantification of
inlet-related hazards in barrier island systems. An example from the Ria Formosa
(Portugal)”, in Continental Shelf Research 26, 2006.
86
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Weinholtz, M.B., Contribuição para o estudo da evolução das flechas de areia na costa
do Sotavento do Algarve (Ria de Faro). Relatório da Direção Geral de Portos. Lisboa,
Portugal, 1978.
Internet
http://mnazulejo.imc-ip.pt/pt-PT/mnaz/salas/ContentDetail.aspx?id=358.
http://www.igespar.pt/media/uploads/cnans/16/16.pdf
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3607
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c2a18-4788-9300-11ff2619a4d2.
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c2a18-4788-9300-11ff2619a4d2.
www.igespar.pt/ptpatrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/
87
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Lista de figuras
Fig. 1 –Ria Formosa (in http://www.lnec.pt/organization/dha/nec/estudos_id/berna)
Fig 2 - Mapa da costa do Algarve que faz parte do Atlas da Península Ibérica (século
XVI), existente na Biblioteca do Escorial.
Fig. 3 - Representações cartográficas do Sotavento do Algarve, incluindo o sistema
lagunar da Ria Formosa, em 1590, 1648 e 1811.
Fig. 4 – Mapa datado de 1772, compilado por Francisco Pereira de Sousa
Fig. 5 – Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas que
há nos Armazens da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do
século XVIII, Arquivo Histórico Militar.
Fig. 6 - ANTT, “Fortificações do Algarve”, 1798, Baltazar de Azevedo Coutinho, Capitão
do Real Corpo de Engenheiros.
Fig 7- Olhão e o sítio arqueológico na CMP 611 (1980)
Fig. 8 - Geoposicionamento dos achados arqueológicos (vestígios de superfície)
Fig. 9- Posicionamento das bocas-de-fogo.
Fig. 10 – Levantamento de sonar.
Fig. 11 - Plano hydrographico das barras e portos de Faro e Olhão [Material
cartográfico] / levantado por B. M. F. de Andrade, A. J. Pery e G. A. Pery ; sob a direção
de F. Folque. - Escala 1:20000. - [Lisboa] : Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos,,
1875, com indicação da área provável de localização do Forte de São Lourenço.
Fig. 12 - Carta Militar de Portugal, 1:25, 0000, nº 611 , Faro, Instituto Geográfico do
Exército, 1980, assinalando-se a área provável de localização do Forte de São Lourenço
representada na cartografia de 1875.
Fig. 13 – Ortofotografia assinalando-se a área provável de localização do Forte de São
Lourenço representada na cartografia de 1875.
FIg. 14 - Posicionamento sobre ortofotografia.
Fig. 15 – Conglomerado construtivo circular.
Fig 16– Concentração de blocos aparelhados a Nordeste do conglomerado construtivo
Fig. 17 - Bloco aparelhado junto ao conglomerado circular.
88
Maria de Fátima Claudino
Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna
Fig. 18 - Blocos aparelhados e dispersos junto ao conglomerado.
Fig. 19 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta).
Fig. 20 - Frgamento de muro junto ao conglomerado, com restos de argamassa (nº 64
da planta).
Fig. 21 – Mediçãoo de dois vestigios de estruturas (nº 34 e nº 64 da planta).
Fig. 22 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta)??.
Fig. 23 - Blocos de pedra não aparelhados.
Fig. 24 - Boca-de-fogo C1 (nº31 da planta).
Fig. 25- Bocas- de- fogo C2 e C3 (nº32 da planta).
Fig. 26 – Boca-de-fogo do Museu Municipal de Olhão.
Fig. 27 – Boca- de-fogo no Museu Municipal de Olhão.
Fig. 28- Pedra de Armas no Museu Municipal de Moncarapacho.
Fig. 29 - Número de peças.
Fig. 30 - Material das peças.
Fig. 31- Calibres.
Fig. 32 – “Visita de Inspeção a todos os pontos fortificados do litoral algarvio”, de
Lagos, 22 de Junho de 1754. BN, Reservados– Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas
do Ministério do Reino, doc Nº 2 e 6.
Fig. 33- Arquivo Histórico Militar, Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Códice
4, pasta 2. “Carta corographica e hydraolica da Costa do reino do Algarve desde a
Cidade de Faro até a vila de Alcoutim”, do “Projeto sobre as fortificações do Algarve
pelo General de Engenheiros José de Sande Vasconcelos”, 1796.
89
Download

Maria de Fátima Claudino Forte de São Lourenço (Olhão