Relações Cooperativas entre Pequenas e Médias Empresas: um estudo de caso no arranjo coureiro calçadista do Vale dos Sinos (RS-BRASIL) Autoria: Yeda Swirski de Souza, Keila Guimarães Araújo de Souza Resumo Relações de cooperação entre pequenas e médias empresas, designadas por redes interempresas, redes organizacionais ou redes de cooperação, tem se revelado como estratégia favorecedora para a o aprimoramento gerencial, tecnológico e internacionalização. No entanto, as observações empíricas e depoimentos de gestores de empresas sugerem que, embora potencialmente promissoras, a formação e a operação de relações cooperativas não se estabelece naturalmente, sendo necessários esforços gerenciais específicos que implicam na participação de diferentes agentes econômicos e atores. O propósito deste artigo é discutir o processo de formação de relações de cooperação entre pequenas empresas. As considerações propostas se dão com base em um estudo do caso de um consórcio de pequenas empresas produtoras de componentes de calçados do Vale do Rio dos Sinos (Brasil/RS) e é orientado pelas seguintes questões: Que aspectos favorecem a cooperação? Que dificuldades são encontradas? Que benefícios são conquistados através da cooperação? Como se processa a gestão das relações de cooperação? Qual o alcance e quais os limites das relações cooperativas? Conclui-se que as ações cooperativas é um processo que depende da coordenação entre lideranças institucionais, gestores de empresas e políticas públicas. Introdução Relações de cooperação entre pequenas e médias empresas (PMEs), designadas por redes interempresas, redes organizacionais ou redes de cooperação, tem se revelado como estratégia favorecedora para o aprimoramento gerencial e tecnológico. Em um contexto de internacionalização da economia, diversificação e segmentação de mercados, produção flexível e novas bases tecnológicas, as PMEs, com estrutura organizacional enxuta e flexível, adquirem novas oportunidades de inserção competitiva (CASTELLS, 2001) . As dificuldades de competição das PMEs no contexto de um mercado globalizado apresentam-se mais acentuadas em função de fatores críticos associados à ineficiência das organizações de apoio, à distribuição de conhecimentos tecnológicos entre pequenas, médias e grandes empresas e à falta de transferência de tecnologia oriunda das instituições de pesquisa (PAIVA e BARBOSA, 2001). A cooperação emerge como uma estratégia de relacionamento entre empresas que possibilita ganho coletivo através do compartilhamento de recursos difíceis de serem obtidos através da ação isolada. No entanto, as observações empíricas e depoimentos de gestores de empresas sugerem que, embora potencialmente promissoras, a formação e a operação de relações cooperativas não se estabelece naturalmente. Esforços gerenciais específicos que implicam na participação de diferentes agentes econômicos e atores são necessários para a articulação de uma rede cooperativa. Neste estudo, considera-se o arranjo coureiro-calçadista como contexto próprio para o desenvolvimento da cooperação entre empresas e destas com as instituições voltadas à capacitação, pesquisa e políticas públicas. Entende-se que tais processos são atualmente altamente relevantes para que a região mantenha os padrões de competitividade e internacionalização. O Vale do Rio dos Sinos é reconhecido por abrigar um dos principais arranjos coureirocalçadistas da indústria calçadista mundial. Esse arranjo abriga uma concentração geográfica de indústrias e afins; a disponibilidade de mão-de-obra qualificada; a presença de serviços de apoio tecnológico; a divisão e a especialização interfirmas na cadeia vertical de produção de calçados; a relação horizontal, especialmente sob a forma de sub-contratação, para a elaboração de partes da produção; a existência de pequenas e médias empresas; a existência de associações patronais. No entanto, embora essas condições estejam presentes no arranjo, alguns estudos tem sugerido que o nível de cooperação interfirmas é baixo e o arranjo carece de um sistema ativo de interação. Não há uma rede de troca de informações e cooperação tecnológica, a comunicação contínua com usuários, fornecedores e concorrentes e, tampouco, o monitoramento das inovações que ocorrem em outros setores O desenvolvimento de relações de cooperação interempresas é, contudo, ainda incipiente, sobretudo tratando-se de cooperação horizontal, ou seja entre empresas que produzem e oferecem produtos ou serviços similares (FENSTERSEIFER e GOMES, 1995; RUAS, 1995; SCHMITZ,1998, 1999, 2000). Mais recentemente, através do incentivo de políticas da Agência de Exportações do Brasil (APEX) e ações coordenadas pela Associação Brasileira de Empresas de componentes para Couro, Calçados e Artefatos (ASSINTECAL) junto a um conjunto de PMEs da região, têm estabelecido ações cooperadas. O propósito deste estudo é investigar o processo de desenvolvimento dessas ações com o propósito de compreender sua dinâmica e, com efeito, identificar estratégias organizacionais facilitadoras para os processos de cooperação, interação e aprendizagem interfirmas. As considerações propostas se dão com base em um estudo do caso de um consórcio de pequenas empresas produtoras de componentes de calçados do Vale do Rio dos Sinos (Brasil/RS). O caso aqui discutido pode ser considerado como exemplar já que é avaliado pelas lideranças locais como o melhor sucedido nos esforços voltados à formação de consórcios e cooperação entre PMEs nesse arranjo coureiro-calçadista. Neste contexto o propósito deste artigo é discutir o processo de formação de relações de cooperação entre pequenas e médias empresas. O estudo de caso é orientado pelas seguintes questões: Que aspectos favorecem a cooperação? Que dificuldades são encontradas? Que benefícios são conquistados através da cooperação? Como se processa a gestão das relações de cooperação? Qual o alcance e quais os limites das relações cooperativas? Na primeira seção do artigo apresentamos os conceitos sobre redes de cooperação aqui considerados, bem como aspectos referentes à formação de consórcios e internacionalização de pequenas empresas. Esses aspectos são centrais no caso em discussão. Na segunda seção do artigo apresentamos o estudo de caso, esclarecendo-se o método que orientou a investigação, bem como a discussão dos dados obtidos. A análise do caso permitiu o estabelecimento de suposições de pesquisa e orientações para a ação, apresentadas como considerações finais. 1 Redes de cooperação e a formação de consórcios Intensifica-se na economia moderna, sob o marco da globalização e do processo de reestruturação industrial, as formas de relações intra e interempresas, particularmente aquelas envolvendo pequenas e médias empresa. A formação e o desenvolvimento de redes de empresas vêm ganhando relevância não somente para as economias de vários países industrializados como 2 a Itália, Japão e Alemanha, como também para os chamados países emergentes, ou de economias em desenvolvimento - México, Chile, Argentina e o próprio Brasil. (AMATO NETO, 2000). Segundo Pyke (1992 apud AMATO 2000), o sistema de cooperação entre empresas pode ser descrito como um composto de pequenas empresas independentes, organizado em um local ou região como base, pertencendo ao mesmo setor industrial. Empresas individuais especializam-se em uma fase em particular do processo produtivo e, organizadas juntas, beneficiam-se das instituições locais, através de relacionamentos de competição e cooperação. As redes interorganizacionais apresentam atributos estratégicos que potencializam a performance das empresas em ambientes hipercompetitivos como: fluidez, economias relacionais, aprendizagem, economias de escala, acesso a recursos tangíveis e intangíveis, redução dos custos de transação e credibilidade organizacional. A formação em redes facilita as pequenas e médias empresas a alcançar e manter vantagens competitivas frente a grandes empresas (BALESTRIN e VARGAS, 2002). O conceito de redes está tão associado à concepção de cluster a ponto de serem confundidos. Para Porter (1999), os clusters seriam grupos, agrupamentos ou aglomerados em concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividade e companhias correlatas. Ao reforçar a importância dos clusters quanto à perspectiva de um ambiente benigno para dar suporte à ação competitiva de uma empresa, Porter (1999) assegura que eles afetam a capacidade de competição das empresas da rede aumentando sua produtividade, sinalizando a direção e o ritmo da inovação e estimulando a formação de novas empresas. Portanto, um cluster bem desenvolvido pode vir a representar um meio eficiente para a aquisição de insumos relevantes, contratação de pessoal e acesso a informação tecnológica por meio de uma base sólida e especializada de fornecedores e instituições de apoio. E, no que concerne ao esforço de marketing, supõe-se que uma arquitetura de conglomerados geralmente melhora a reputação de uma região, aumentando a probabilidade dos compradores procurarem as empresas ali sediadas (PORTER, 1999). As redes que compõem parte importante dos clusters na dinamização da cadeia integrada, formada por atividades de agregação de valor, podem, através dos esforços de cooperação, apresentar vantagens na sua forma de se organizar, tais como a diluição do risco, o compartilhamento de recursos para se evitar a duplicação onerosa de esforços independentes, a maior geração de flexibilidade e um melhor acesso a know-how e à informação (PAIVA e BARBOSA, 2001). Cabe, contudo, considerar, acompanhando-se as observações de Lima (2000) que a gestão estratégica da cooperação entre PMEs ainda é incompleta na maior parte das redes estabelecidas. Lima (2000) destaca a existência de limitações associadas à não consideração de diferentes ações, como no caso de relações marcadas no simples fornecimento de produtos e insumos, sem caracterização de ações efetivamente cooperativas entre todos os atores de uma rede. A baixa cooperação para o desenvolvimento tecnológico e relacionamento com Centros de Pesquisa e Universidades é um aspecto particular a ser considerado. A relação de fornecimento com uma empresa maior é um diferencial importante nas modalidades de redes estabelecidas entre PMEs. Casarotto e Pires (1999) estabelecem esse critério da caracterizaçào de redes. Designam duas modalidades: redes topdown e redes flexíveis. Rede topdown é aquela na qual a pequena empresa é fornecedora ou subfornecedora de uma empresa mãe, mantendo com essa forte relação de dependência. A rede flexível designa aquelas em que as empresas unem-se por um consórcio com objetivos que podem ser mais ou menos 3 restritos, tais como formação de produto; valorização de produto; valorização da marca; desenvolvimento de produtos; comercialização; exportação. O caso aqui discutido inclui-se na caracterização de rede flexível, com relações horizontais já que se tratam de empresas que produzem produtos similares. Uma modalidade cooperativa entre PMEs em desenvolvimento consiste no estabelecimento de consórcios, geralmente estabelecidos com a finalidade de exportação. Como veremos abaixo essa tem sido a estratégia cooperativa adotada já que as relações cooperativas se estabelecem com fins de exportação. O consórcio de exportação pode ser definido como um agrupamento de empresas com o objetivo de unir sinergias e aumentar a sua competitividade, reduzindo os riscos e os custos da internacionalização (MINERVINI, 2001). Mais especificamente, Minervini (2001) classifica os consórcios nas seguintes categorias: a) promocionais: oferece aos membros uma série de serviços (secretárias, tradução, comunicação, etc.), consultoria legal, participação em feiras ou missões empresariais, realização de pesquisas no mercado internacional, avaliação do risco, criação de uma marca, identificação de novas tecnologias, entre outras. A venda é realizada individualmente por cada empresa integrante do consórcio; ou b) operacionais: criação de um plano de investimento e marketing, identificação de mercado e parceiros, desenvolvimento de fornecedores de matéria-prima e componentes, realização e administração das vendas, otimização e especialização dos processos produtivos, entre outras. Em relação aos membros, os consórcios de exportação podem ser (MINERVINI, 2001): a) monossetorial: agrupamento de vários fabricantes de um mesmo produto ou de produtos complementares pertencentes ao mesmo setor; ou b) plurissetorial: pode ser heterogêneo, no qual não há nenhuma relação de complementaridade entre os fabricantes agrupados, ou de complementaridade, no qual os fabricantes possuem linhas de produtos definidas e que podem ser complementadas. Consórcio de Exportação consiste no agrupamento de empresas com interesses comuns, reunidas em uma entidade estabelecida juridicamente sem fins lucrativos, na qual as empresas participantes tenham maneiras de trabalho conjugado e com cooperação com vistas aos objetivos comuns de melhoria da oferta exportável e de promoção de exportações (SEBRAE, 2003). Ao reunir diversas empresas com um fim comum, os consórcios permitem a otimização dos esforços de produção e comercialização. Demandas maiores, as quais não poderiam ser atendidas por uma empresa isolada, podem ser alcançadas através da cooperação entre as empresas do consórcio uma vez que haverá a reunião da produção de todas as empresas. Os investimentos em equipamentos modernos também podem ser facilitados pelos consórcios; outros custos que também podem ser divididos entre as empresas são: a contratação de profissionais de Comércio exterior , a participações em Feiras Internacionais e Missões Comerciais, gastos com pesquisas de mercado e com material promocional. Os principais objetivos do consórcio são: aumentar o número de empresas que participam do comércio internacional; aumentar o volume de exportação das empresas que já participam do comercio exterior; redução de custos e riscos para as empresas; desenvolver a cultura exportadora nas empresas; compartilhar conhecimentos de produção e comercialização entre as empresas e compartilhar conhecimentos específicos de comércio exterior. 4 A formação de Consórcios de Exportação tem sido a alternativa encontrada por empresas para entrar com mais força no mercado internacional, reduzindo custos com promoções de produtos e participação em feiras e conseguindo contratos mais vantajosos. A união ajuda também a enfrentar os entraves da primeira exportação, como os detalhes jurídicos e as adaptações dos produtos para o mercado externo (CARNEIRO, 2002; MACIEL E LIMA, 2002). Projetos dirigidos às pequenas e médias empresas com potencial de exportação são considerados instrumentos de promoção comercial que visam contribuir para aumentar as exportações para os atuais e novos mercados, ampliando o número de produtos exportados com maior valor agregado e o número de empresas envolvidas com o comércio exterior (CENTRO INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS DO RIO GRANDE DO SUL, 2003). As políticas da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (APEX) exemplificam uma ação dirigida com o propósito específico de fomentar a cooperação entre PMEs com vistas à internacionalização. 2 Consórcio “Moldes by Brazil”: cooperaçao entre as matrizarias do Vale do Rio dos Sinos 2.1 O método de pesquisa A identificação de um caso de cooperação horizontal entre PMEs, um consórico de matrizarias do Vale dos Sinos, que têm apresentado evolução positiva e resultados tangíveis motivou a estratégia de investigação elegida neste estudo. O Vale dos Sinos, segundo diferentes estudos voltados a compreender a dinâmica da governança nesse arranjo apontam para a fragilidade das relações cooperativas, sobretudo entre empresas que produzem produtos similares. Como já apontado acima, as relações verticais baseadas na terceirização, subcontratação de fornecedores e subfornecedores é usual. Esse padrão de governança tem caracterizado redes topdown e é francamente compatível com uma modalidade tradicional de internacionalização dos calçados do Vale dos Sinos, que implica na mediação de um agente de exportação, distanciamento do marketing e dos canais de distribuição, baixo investimento em inovação e design (FENSTERSEIFER e GOMES, 1995; RUAS, 1995; SCHMITZ,1998, 1999, 2000). Análises do setor calçadista de modo geral e do Vale dos Sinos, em particular, apontam para os riscos da competitividade do arranjo diante dessa modalidade de governança tradicionalmente praticada. A cooperação assídua entre empresas concorrentes ou não, aliada a políticas institucionais favorecedoras de inter-relações é apontada em diferentes setores, arranjos produtivos e regiões como promissora para ganhos em eficiência coletiva e competitividade. Formas associativas favorecem o intercâmbio sistêmico de informações com relevância para a competitividade e inovação das firmas (MORGAN, 1997; LINS, 2000; COOKE, URANGA E ETCHEBARRIA, 1997 apud LINS, 2000). Nesse contexto empírico e teórico, considerou-se que um caso exemplar poderia se tornar explanatório para o problema de pesquisa proposto, referente à compreensão de aspectos associados ao processo das relações de cooperação. As seguintes questões orientaram o estudo de caso: Que aspectos favorecem a cooperação? Que dificuldades são encontradas? Que benefícios são conquistados através da cooperação? Como se processa a gestão das relações de cooperação? Qual o alcance e quais os limites das relações cooperativas? Os dados foram obtidos através de documentos e de entrevistas. Foram entrevistados gestores das empresas participantes do Consórcio Moldes by Brazil da ASSINTECAL e lideranças dessa instituição. 5 Para a apresentação dos dados, analisados em seu conteúdo, foram estabelecidos os seguintes temas (categorias): - caracterização do setor; - a formação do consórcio; - a gestão do Consórcio, a política do fomento e as ações; - competição e cooperação; - regras de convivência; - o desafio da inovação tecnológica; - o desenvolvimento de competências. 2.2 Consórcio Moldes by Brazil: cooperaçao entre as matrizarias do Vale do Rio dos Sinos 2.2.1 Caracterização do setor A competência para a produção de moldes e matrizes vem se desenvolvendo no Vale dos Sinos há quase trinta anos, associada ao desenvolvimento da produção de calçados com componentes sintéticos. A matriz ou molde, geralmente produzido em alumínio ou aço, com tecnologia artesanal de fundição ou através de processos automatizados, destina-se à produção de componentes do calçado como solados, tiras, contrafortes, biqueiras, couro estampado, entre outros. A produção de matrizes é parte da cadeia produtiva do calçado, podendo estar integrada verticalmente como etapa da produção nas grandes indústrias calçadistas ou constituir-se como empresa independente. No Vale do Rio dos Sinos, assim como ocorre no cluster calçadista italiano, as matrizarias vem gradativamente tornando-se unidades independentes que fornecem seus produtos e serviços às indústrias. Algumas características das matrizarias ajudam a compreender seu potencial para se tornarem empresas independentes. Em primeiro lugar, as matrizarias apresentam competências específicas associadas à concentração de conhecimentos em alguns especialistas que detém amplo conhecimento tácito adquirido ao longo das experiências de trabalho. Além disso, uma matrizaria pode se tornar fornecedora de diferentes indústrias, sejam elas da cadeia coureirocalçadista ou não. As matrizarias do Vale do Rio dos Sinos também prestam serviços às indústrias integradas a cadeia metal-mecânica da região e vêm, como descreveremos a seguir, qualificando-se para se tornarem fornecedores de indústrias calçadistas da América Latina e Europa. O mercado das matrizarias do Vale dos Sinos não se restringe, assim, aos comparadores locais. Os matrizeiros entendem que o mercado externo é mais atrativo e que sua concorrência se estabelece em nível internacional. Como afirma um dos empresários consorciados: “... hoje [o preço de ] um produto na Europa é bem mais alto do que o nosso , por vários motivos, então a gente tem vários mercados para atuar ...” ( depoimentos colhidos na Empresa A em 06/05/2003). Registra-se o funcionamento de cerca de 200 matrizarias no Vale do Rio dos Sinos, sendo que muitas operam informalmente. São em geral empresas de pequeno porte e estrutura simples nas quais a grande parte dos processos administrativos e de produção centralizam-se na pessoa do empresário que é auxiliado por uma pequena equipe de funcionários. A participação de membros da família na empresa é bastante comum. Ainda, as cisões são freqüentes à medida que a empresa amplia seu porte, sugerindo que a matrizaria enquanto negócio funciona melhor em pequeno porte. O Consórcio Moldes da Associação Brasileira de Empresas de componentes para Couro, Calçados e Artefatos (ASSINTECAL) reúne doze matrizarias do Vale do Rio dos Sinos. 6 A marca Moldes By Brazil é resultado de esforço de conjunto da Associaçào brasileira de Máquinas e Equipaemntos (ABRAMEQ) e da ASSINTECAL, instituições que reúnem os fabricantes brasileiros de componentes para calçados e conta com o apoio da APEX (ASSINTECAL, 2003). 2.2.2 A formação do consórcio No final do ano 2000, lideranças do escritório da ASSINTECAL, estabelecido na cidade de Novo Hamburgo no Vale do Rio dos Sinos (RS), convidaram a seus associados para que se organizem em consórcios. Essa ação ocorre no ensejo das políticas de apoio à exportação estabelecidas pelo Governo Federal, através da Agência de Exportações do Brasil (APEX). O escritório regional da ASSINTECAL conta com um corpo técnico altamente qualificado tanto do ponto de vista acadêmico como profissional e extremamente bem informado quanto a políticas públicas e oportunidades de fomento para o setor A APEX estabeleceu regras para o fomento de ações estratégicas de pequenas e médias empresas, entre as quais a organização em consórcios regulados por normas operacionais e regras de funcionamento. O fomento da APEX é destinado a ações associadas à promoção e ao desenvolvimento gerencial e organizacional. Moldes é um dos consórcios formados no ensejo dessas políticas de incentivo. As lideranças da ASSINTECAL realizaram ações que favoreceram a reunião desse grupo de matrizeiros. Dez empresas convidadas pela entidade deram início aos trabalhos. Passados três anos, houve já mudanças no grupo de empresas participantes. Algumas se retiraram, dando lugar a novos participantes, mas o Consórcio segue ativo e produzindo resultados tangíveis. 2.2.3 A gestão do consórcio, a política do fomento e as ações Para que o consórcio tenha acesso aos recursos provenientes da APEX é necessário que esteja juridicamente constituído, tenha um estatuto, reuniões periódicas e registro de atas. O Consórcio deve apresentar a APEX, semestralmente, projeto de investimentos para então fazer jus aos recursos. Técnicos da ASSINTECAL apóiam o consórcio na elaboração desses projetos. Os consorciados, a cada investimento, tem uma contrapartida que pode ser de até cinqüenta por cento dos custos do investimento. O gerente do consórcio assume a função por indicação da ASSINTECAL. O gerente representa o principal elo de ligação entre a entidade e o consórcio, desempenhando, assim, importante papel de comunicação. Deve administrar a documentação da ação do Consórcio (projeto às agências de fomento, atas de reunião, relatórios, etc...). Cabe também ao gerente controlar a utilização dos recursos provenientes de fomento, além de outras atividades tais como o contato com consultores externos; a contratação para a participação em Feiras; a contratação de serviços para o Consórcio, etc... As reuniões do consórcio ocorrem na sede da ASSINTECAL de uma a duas vezes por mês. A participação em Feiras Nacionais e Internacionais e o encaminhamento do processo de certificação ISO 9000 são as ações mais destacadas e consideradas como resultado mais direto do trabalho do Consórcio Moldes by Brazil. Especialmente quando participa em uma Feira Internacional a marca Moldes by Brazil é divulgada, estabelecendo-se aí a cooperação na promoção do Consórcio e de cada uma das matrizarias do Vale dos Sinos coletivamente. 7 O Consórcio firmou um contrato de participação por três anos da FIMEC, principal feira nacional de componentes para calçados. Internacionalmente, tem se apresentado como expositor na Feira de ANPIC em suas duas edições uma em Leon no México e a outra em Guadalajara, na Feira FRANCAL e na IFLS na Colômbia. O processo de certificação ISO 9000 que vem sendo conduzido estaria fora do alcance das empresas consorciadas através de sua ação individual. As matrizarias, empresas de pequeno porte e com a ação muito centralizada na pessoa do empreendedor, não contam com estrutura e quadro gerencial suficiente para a condução de um processo de certificação. Além disso, a contratação coletiva da consultoria para orientar o processo de certificação favorece a cada uma das empresas não só pela oportunidade do fomento de cinqüenta por cento, proveniente da APEX, como também na negociação de valores com a contratada e no desencadeamento do processo propriamente dito. Além dessas ações, deve-se destacar a participação dessas matrizarias do Projeto Comprador que são rodadas de negócio com o objetivo de aproximar as empresas brasileiras de possíveis clientes no mercado externo (ASSINTECAL, 2003). 2.2.4 Competição e a cooperação Laços sociais, de amizade ou parentesco já existiam entre os matrizeiros do Vale dos Sinos. Os matrizeiros consorciados afirmam que alguma colaboração informal entre eles já vinha sendo praticada como o encaminhamento de pedidos que não podem ser atendidos por determinada matrizaria a outra da Região; a cessão de matérias primas não utilizadas; o partilhamento de informações sobre novas tecnologias. O consórcio é, contudo, a primeira experiência de cooperação formal e regular estabelecida entre as matrizarias do Vale dos Sinos. Moldes é também o único consórcio dos produtores de componentes de calçados da região estabelecido entre empresas concorrentes. “... o nosso consórcio é um pouco diferenciado dos outros porque todos são concorrentes ...”, afirma um dos consorciados. Uma das aprendizagens resultantes da ação do Consórcio é o entendimento que as matrizarias, embora concorrentes, apresentam diferenças em suas competências, fazendo com que mais facilmente possam compartilhar espaço no mercado. Como explica um dos consorciados: “... a gente só faz por encomenda, o modelo que eu faço para um cliente, o outro não vai querer igual ... Não tem muita concorrência entre nós, porque a gente não faz por produção, a gente faz por encomenda. Existe um pouco de concorrência, mas não muito, porque eu faço um tipo de molde o outro faz outro tipo, nós não fabricamos a mesma camisa, ou o mesmo copinho, ou o mesmo sapato, coisas de larga escala...” (depoimento colhido na C, em 21/05/2003). Esse entendimento alia-se à visão de que é mais vantajoso para o conjunto das matrizarias consolidar a imagem do Vale dos Sinos como solução para qualquer problema que um comprador de matrizes possa ter. Assim, por um lado, torna-se estratégico encaminhar um pedido que não pode ser atendido por uma determinada matrizaria à outra da Região. Por outro lado, o comportamento de concorrência selvagem para a disputa de clientes individuais passa a ser criticado, como se observa no depoimento abaixo: “... tem empresa que nem esses dias me falaram, que um do pessoal do consórcio, tem gente liquidando matriz, fazendo tipo leilão, a o fulano faz por $600,00, a não então eu faço por $400,00, para roubar o cliente, para nós ainda não chegou nada 8 disso, não tem ninguém leiloando matrizes para os nossos clientes, graças a Deus..” (depoimento colhido na empresa F, em 15/05/2003). Desenvolveu-se o entendimento entre os consorciados que promover coletivamente as matrizarias brasileiras, o cluster matrizeiro do Vale dos Sinos, agrega valor para o cliente internacional. As matrizes são desenvolvidas por encomenda para atender especificidades da moda. Os clientes buscam o fornecedor que pode atender com melhor precisão os detalhes do modelo desejado, dentro de condições competitivas de preço e prazo. Os consorciados entendem que se torna muito mais fácil atrair compradores internacionais quando há uma oferta de alternativas em matrizarias. Nas palavras de um dos consorciados: “... mas o pessoal [os clientes] já traz um folder, uma revista, geralmente uma revista, traz um diretório, por exemplo de uma feira, ou da feira da ANPIC , da feira da própria FIMEC, então ele já tem vários endereços .... de matrizarias ... ele vem aqui falar comigo, mas ele tem mais de meia dúzia guardado ali no bolso, de segunda opção, terceiras e quartas opções... ele vem aqui para testar ...com isso vai acabar cada vez se difundido aquela cultura que a gente tem matrizes de qualidade ... vamos lá na Itália, vou ver a moda e já compro a matriz lá ... isso já está mudando, o pessoal [os clientes] já está aceitando o Brasil como uma segunda opção ...” (depoimento colhido na empresa A, em 06/05/2003). 2.2.5 As regras de convivência A necessidade do estabelecimento de um código de ética para a regulação da ação dos consorciados é freqüentemente mencionada pelos membros. Passados três anos de atividades, os consorciados percebem os benefícios das ações de cooperação e, sabem que a concorrência desleal, a quebra dos laços de confiança, pode contaminar e comprometer um lento e árduo percurso de construção de laços sociais e de trabalho. Como dito acima, desenvolveu-se o entendimento que as matrizarias não eram totalmente concorrentes já que apresentam pequenas diferenças que as singularizam para o atendimento de pedidos determinados. Contudo, as competências das matrizarias dependem de conhecimentos tácitos e aprendizagens on the job que um matrizeiro adquire ao longo de uma trajetória de trabalho. A transmissão desses conhecimentos se dá em cada ateliê e é partilhado entre o empresário e os poucos membros de sua equipe. Com isso, cada membro de uma equipe de matrizaria torna-se fonte de saber estratégico. Nesse contexto, buscar profissionais em matrizarias concorrentes torna-se um meio de apropriar-se de competências específicas e, assim, de agregar novos diferenciais estratégicos. Diante dos esforços de cooperação, os consorciados consideram que buscar funcionários na empresa concorrente é uma falta ética grave. Uma empresa que cometa semelhante ato não será bem recebida pelo Consórcio. Não existem sanções explícitas para “quem rouba funcionário do outro”, mas, há, certamente, a produção de uma imagem negativa da empresa entre os pares. 2.2.6 O desafio da inovação tecnológica O contato com as demandas de clientes internacionais seja nas Feiras ou no Projeto Comprador tem colocado em evidência as deficiências das matrizarias do Vale dos Sinos que comprometem os quesitos prazo de entrega e qualidade do produto. Desenvolve-se o entendimento de que a promoção do cluster matrizeiro do Vale dos Sinos pode fracassar se o mesmo não vencer o gap tecnológico com o qual se enfrenta 9 atualmente. A imagem do Vale dos Sinos como provedor de soluções em matrizes só se consolidará diante de uma efetiva atualização tecnológica. Essa visão é expressa no seguinte depoimento: “... O consórcio é para exportar, o pessoal que vem comprar uma matriz aqui no Brasil, eu não estou falando de América Latina, eu estou falando de Europa África, México, ... ele não vem comprar um balde aqui, se ele pode fabricar lá, ele não é tão burro assim, ele vai comprar um balde aqui porque tem tecnologia, é uma coisa a mais, é um diferencial, vocês podem ver que no consórcio quem mais está exportando tem mais tecnologia...” (depoimento colhido na Empresa C em 21/05/2003). A fundição artesanal ainda é predominante entre os matrizeiros do Vale dos Sinos. As poucas matrizarias que automatizaram seus processos de projeto (CAD) e de fundição (CAM) são honrosas exceções. Entre os membros do Consórcio, apenas seis contam com processos automatizados, sendo que uma dessas desenvolve também tecnologia baseada em processos químicos de fundição. As matrizarias automatizadas ainda carecem de um sofware que seja específico para os seus fins. O depoimento abaixo é ilustrativo: “... O que nós fizemos foi pegar software que não é para calçado, esse software é para marcenaria... todo mundo tem um software diferente ... A gente usa algumas coisas que não são voltadas para o calçado....” (depoimento colhido na Empresa C em 21/05/2003). Estabelecer cooperação para o desenvolvimento tecnológico ainda é um desafio a vencer. Isso implica em uma ação planejada cujos resultados apareceriam em médio e longo prazo. Como aparece no depoimento abaixo: “…Tem que pegar cara bom, com nível universitário, que vai mexer num software, que vai mexer com linguagem, porque tem que ter dinheiro para bancar … tem que ter o apoio de uma universidade... Não seria um trabalho de curto prazo, levaria uns dois anos para dar resultados, e teria que unificar esses softwares todos …, o certo seria cada um dizer eu uso isso aqui desse software, e pagar o de cada um e juntar para fazer num só. Nós não podemos comprar software de 30 mil dólares, o mais barato que tem aí é de 10 mil dólares… ” (depoimento colhido na Empresa C em 21/05/2003). Atualmente, cada uma das empresas que conquistaram a automação de seus processos, desenvolve individualmente sua tecnologia, apoiando-se, sobretudo em conhecimentos buscados juntos aos fornecedores. Muitas vezes, a especificação de catálogos de fornecedores colhida nas Feiras é a via para a aquisição de novas tecnologias. 2.2.7 O desenvolvimento de habilidades e competências A formação de um matrizeiro capaz de lidar com as novas tecnologias é outro desafio a vencer. Na visão daqueles que já automatizaram seus processos, a formação de um matrizeiro capaz de lidar com o CAD/CAM deve reunir tanto as competências do matrizeiro tradicional, bem como os conhecimentos e habilidades para trabalhar com os softwares. Assim, o matrizeiro que reúne as competências compatíveis às estratégias de internacionalização tem um perfil híbrido. Não basta ser um especialista no manuseio das ferramentas tecnológicas e tampouco apenas um artesão. As competências para a matrizaria artesanal foram estabelecidas no Vale dos Sinos com a transmissão de conhecimentos tácitos desenvolvidos no interior de algumas indústrias calçadistas 10 que se voltaram aos calçados com componentes sintéticos. Os cursos técnicos do Serviço Nacional da Indústria (SENAI), que tem uma unidade instalada na Região voltada a capacitação para o trabalho com o couro e o calçado tem tido também um papel destacado na formação dos matrizeiros. Contudo, os gestores das matrizarias consideram que a formação técnica realizada atualmente pelo SENAI é básica, porém não suficiente para preparar um matrizeiro. Além disso, o SENAI também enfrenta gap tecnológico semelhante as matrizarias do Vale dos Sinos de modo geral. 2.3 Compreendendo o processo de cooperação através do caso Moldes by Brazil Algum nível de cooperação informal baseada em laços de parentesco e amizade já vinha sendo praticado entre as matrizarias do Vale dos Sinos, mas com fraca intensidade e pouca expressão nos negócios da região. A mudança dessa modalidade de relacionamento entre as empresas para o estabelecimento de cooperação efetiva só é estabelecida através de ações empreendidas por lideranças locais que atuam no escritório regional da ASSINTECAL. Técnicos com ótima qualificação, identidade com a região e conhecimento aprofundado do setor agregam competências que favorecem ao estabelecimento de liderança com credibilidade junto aos associados da entidade. Algumas das matrizarias mais tradicionais e consolidadas da região tornam-se participantes do Consórcio e se estabelecem às relações de confiança necessárias para o desenvolvimento de um trabalho de cooperação. Além disso, a existência de uma política de incentivo à promoção de exportações com a oferta de recursos contribui para a organização do conjunto de empresas em torno de um projeto que têm metas e prazos. Assim, aliado à liderança e à confiança, aspectos relacionais favorecedores, um método de trabalho estabelecido pelas necessidades do projeto fomentado pela APEX favorecem ao estabelecimento de cooperação. Isso não significa que as disputas e diferenças entre as matrizarias tenham se esgotado. Concorrência desleal e disputa por funcionários são realidades que colocam matrizarias em conflito entre si. Contudo, o trabalho continuado do Consórcio, a freqüência quinzenal ou mensal a reuniões e a conquista de resultados através do esforço coletivo, parece, paulatinamente, estabelecer um novo sentido e uma nova compreensão sobre o relacionamento entre pares. A noção de que o competidor não está na região e, sim, no mercado internacional e que a região deve consolidar a imagem de provedora de soluções em matrizes ganha cada vez mais expressão. Além disso, a aproximação das matrizarias evidencia que cada uma delas tem competências específicas e, assim, nem sempre aqueles que se consideravam como competidores, o são de fato. Os resultados em negócios gerados pela participação coletiva em feiras internacionais são eloqüentes na formação de um sentido renovado entre os gestores quanto às posturas de concorrência e cooperação. A exposição internacional traz também evidências do gap tecnológico a ser enfrentado para a conquista de competitividade em outros mercados. Desenvolve-se a consciência entre as pequenas matrizarias que a inovação tecnológica depende para a maior parte dessas empresas de um esforço coletivo, já que depende de investimentos que são inacessíveis para a maioria. Em suma, o processo de cooperação apresenta-se como um trabalho continuado que necessita de lideranças institucionais capazes de conquistar credibilidade junto aos gestores das pequenas empresas e de coordenar os projetos que se valem de políticas públicas e oferta de recursos. 11 A cooperação apresenta-se, sobretudo, como uma aprendizagem social construída no curso das relações, conversações e da percepção de resultados tangíveis conquistados através do esforço coletivo. Não se estabelece naturalmente e tampouco se mantém sem o esforço continuado de coordenação entre os atores envolvidos, a saber, lideranças institucionais, gestores de empresas e políticas públicas capazes de incentivar e apoiar os esforços de cooperação. 3 Considerações Finais Estabelecemos como propósito deste artigo discutir o processo de formação de relações de cooperação entre pequenas e médias empresas. Através do caso de cooperação Moldes by Bazil buscou-se compreender que aspectos favorecem a cooperação; que dificuldades são encontradas; que benefícios são conquistados através da cooperação; como se processa a gestão das relações de cooperação; qual o alcance e quais os limites das relações cooperativas. A análise deste caso sugere que a formação de relações cooperativas está associada a políticas institucionais de fomento que trazem bases para a criação de uma cultura de cooperação entre empresas que tradicionalmente competem entre si; logo, uma vez criadas as bases relacionais para a cooperação, confiança e percepção compartilhada dos resultados coletivos, novas ações tornam-se possíveis já em condição de semi-autonomia com relação aos agentes institucionais. A análise desse caso revela que o estabelecimento de relações cooperativas entre PMEs não é um movimento que se estabelece espontaneamente ou naturalmente. Políticas de fomento como a praticada pela Agência de Promoção de Exportações do Brasil (APEX) e mediadas por lideranças das entidades locais desempenham papel nuclear no desencadeamento de relações cooperativas. A interação entre concorrentes e o estabelecimento de relações de confiança é um aprendizado lento, favorecido pela mediação de lideranças locais que gozam de credibilidade e respeitabilidade. O entendimento por parte dos consorciados que, embora concorrente, podem também se beneficiar de ações cooperadas, consolida-se à medida que passam a perceber resultados das ações cooperadas. No presente caso, os contratos provenientes da participação em Feiras Internacionais tornaram evidentes os ganhos coletivos obtidos através da cooperação. O caso também revela que as ações cooperativas são estabelecidas incrementalmente e dependem de um processo de aprendizagem coletiva, políticas públicas e institucionais e da construção paulatina dos laços de respeito e confiança entre empresas para a consolidação de um efetivo trabalho coletivo. Neste caso, o compartilhamento de uma marca e ações coletivas para o desenvolvimento e inovação tecnológica são novos passos que começam a ser empreendidos após quase três anos de trabalho. Sugere-se, enfim, a realização de novos estudos para que as suposições sobre o processo de cooperação entre PMEs aqui consideradas. Projetos conduzidos em uma perspectiva de pesquisa-ação poderão desvelar evidências e especificidades sobre o processo de cooperação que podem ter permanecido inexploradas no presente estudo, dadas as suas limitações metodológicas. Referências AMATO NETO, João. Redes de cooperação produtiva e clusters regionais. São Paulo, Atlas, 2000. 12 ASSSINTECAL – Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos. Disponível em: http://assintecal.org.br. Acesso em 05 de novembro de 2003. BALESTRIN, A. ; VARGAS, L. M .Evidências Teóricas para a Compreensão das redes Interorganizacionais. 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