ELOIZA HELENA CAMPANA RESISTÊNCIA AOS CARBAPENENS E SENSIBILIDADE ÀS CEFALOSPORINAS DE AMPLO ESPECTRO EM ISOLADOS CLÍNICOS DE Pseudomonas aeruginosa: ESTUDO DOS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA ENVOLVIDOS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Doutor em Ciências. São Paulo 2013 ELOIZA HELENA CAMPANA RESISTÊNCIA AOS CARBAPENENS E SENSIBILIDADE ÀS CEFALOSPORINAS DE AMPLO ESPECTRO EM ISOLADOS CLÍNICOS DE Pseudomonas aeruginosa: ESTUDO DOS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA ENVOLVIDOS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Doutor em Ciências. Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Gales Disciplina de Infectologia - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Coorientador: Dr. Danilo Elias Xavier Disciplina de Infectologia - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. São Paulo 2013 ii CAMPANA, Eloiza Helena Resistência aos Carbapenens e Sensibilidade às Cefalosporinas de Amplo Espectro em Isolados Clínicos de Pseudomonas aeruginosa: Estudo dos Mecanismos de Resistência Envolvidos. Eloiza Helena Campana - São Paulo, 2013. vi. 150f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Ciências Básicas em Infectologia. Título em inglês: Carbapenen resistance and susceptible to broad spectrum cephalosporins in Pseudomonas aeruginosa clinical isolates: Evaluation of mechanisms of resistance involved. 1. Pseudomonas aeruginosa; 2. Carbapenens; 3. Cefalosporinas de amplo espectro; 4. Sistemas de Bombas de Efluxo; 5. Proteína de membrana externa OprD. iii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DISCIPLINA DE INFECTOLOGIA Chefe do Departamento: Professor Dr. Álvaro Nagib Atallah Coordenador do Curso de Pós-graduação: Professora Dra. Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni Chefe da Disciplina de Infectologia: Prof. Dr. Celso Francisco Hernandes Granato São Paulo 2013 iv ELOIZA HELENA CAMPANA RESISTÊNCIA AOS CARBAPENENS E SENSIBILIDADE ÀS CEFALOSPORINAS DE AMPLO ESPECTRO EM ISOLADOS CLÍNICOS DE Pseudomonas aeruginosa: ESTUDO DOS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA ENVOLVIDOS Presidente da Banca Profa. Dra. Ana Cristina Gales Banca Examinadora Prof. Dr. Antônio Carlos Campos Pignatari Profa. Dra. Floristher Elaine Carrara Marroni Dr. Guilherme Henrique Furtado Profa. Dra. Maria Helena Matté Suplentes Profa. Dra. Elizabeth de Andrade Marques Prof. Dr. Nilton Lincopan São Paulo 2013 v Dedico este trabalho ao meu grande amor, meu sobrinho João Guilherme. Que me fez aprender a amar novamente e me ensina a cada dia a ser uma pessoa melhor. vi AGRADECIMENTOS Agradeço à minha orientadora Dra. Ana Cristina Gales, por ter me recebido há sete anos atrás e sempre me dado a oportunidade de crescer. Obrigada pelo exemplo de dedicação, inteligência e esforço que levarei comigo para o resto de minha vida. Agradeço a minha família, José Argemiro Campana (in memorian), Gilda Campana e Mayla Christina Campana pela paciência em esperar eu terminar minha pós-graduação. Obrigada por estarem sempre ao meu lado, pela dedicação, auxílio e força na minha formação pessoal e profissional. E principalmente, por sempre acreditarem no meu sucesso. Ao meu padrinho Issac Ortega e a Márcia Eckert por todos os momentos de apoio e carinho. Agradeço ao Professor Dr. Antonio Carlos Campos Pignatari pelo grande exemplo de vida. Obrigada pelo grandioso convívio e pelo apoio sempre. Levarei para sempre os seus ensinamentos. A Dra. Maria Rita Elmor de Araujo por, gentilmente, ter cedido às amostras de Pseudomonas aeruginosa do Hospital do Coração e Hospital Beneficência Portuguesa para esse estudo. Agradeço ao meu coorientador e verdadeiro amigo Danilo Elias Xavier, por todos os momentos de ensinamento, amizade e companheirismo. Obrigada por me ensinar a muito do que sou hoje. Agradeço a minha eterna veterana Renata Cristina Picão, minha colega de sonhos, companheira de apartamento e acima de tudo amiga. Obrigada pelas broncas, pelas palavras de carinho, pelos ensinamentos. São mais de 12 anos de uma amizade para a vida toda. vii Agradeço especialmente a minha amiga e colega Fernanda Petrolini, pela dedicação, auxílio nos experimentos e principalmente por ter me acolhido como uma irmã em sua família e na sua cidade que eu tanto adoro. Agradeço a Adriana G. Nicolleti, Lorena C. C. Fehlberg e Paula P. Barbosa amigas e colegas de laboratório há tantos anos. Obrigada por toda o auxilio, por toda a paciência e por cada palavra amiga quando eu mais precisei. Vocês estarão sempre presentes em minha vida. Agradeço imensamente ao aluno de estagio probatório, colega e amigo Jhonatha Moura, pelo auxílio nos experimentos, conversas e incentivo em todos os momentos. Agradeço de todo o coração às palavras carinhosas que recebi diariamente da colega Ana Carolina Ramos. Obrigada por me fazer ver que ser doce faz bem. Agradeço as minhas queridas amigas Karen Bauab, Milene Quiles, Flavia Palomo e Juliana Garcia por todo convívio, carinho, conversas, choros e amizade sincera. Vocês foram muito importantes nessa etapa da minha vida e serão para sempre minhas verdadeiras companheiras. Agradeço a Cecília Carvalhaes, amiga e colega. Por toda a paciência, conversas, auxilio e amizade. Agradeço aos meus colegas de Muay Thai, Jiu Jitsu e Treino, Mestre Reinaldo Dutra, Mestre Edinaldo Dias, Carla Borges, Fernanda Tavares, Raul Alexandre Hanashiro, Joaquim Vicente Alberico, Wallace Josef, Valéria Avila, Rodrigo Celebrone, Alexandre Nunes e Will Bonifacio por me ensinarem que é preciso exercitar o corpo e não só a mente. Obrigada por fazerem meus fins de dia mais felizes e alegres e também por deixarem minha vida mais leve. viii Agradeço meus eternos amigos de faculdade André Goto, Beatriz Balducci, Camila Justino, Francielli Vasconcellos, Rafael Ferreira e Sarita Rossato pela presença em minha vida há tantos anos. Pela amizade, conselhos, conversas e torcida sempre. As minhas amigas de colégio, minhas eternas lulus Amanda Andrade, Christiane Braghin, Katiane Soares, Mayla Fietta, Nancy Guetti, Natalia Albuquerque e Thais Simone por todo apoio, amizade, carinho, conversas. Nossa amizade é eterna. Agradeço aos meus amigos Marcos Antonio Silva, Rafael Ferreira, Rafael Nascimento, Rafael Azevedo e Thiago Rodrigues pela amizade, conversas, viagens. Agradeço as minhas amigas do Laboratório de Microbiologia Básica da UNIFESP Cecília Magalhães, Bruna Gil, Paola Rossi, Tavane Cambiaghi, e o amigo Fabiano Romão por todos os cafés, conversas, conselhos, “Brain Storm” e acima de tudo pela amizade que vale uma vida com vocês. Agradeço os pós-graduandos e colegas do Laboratório ALERTA Adriana Pereira, Anderson Fernandes, Bruna Nonato, Dandara Corsi, Eliete Frigatto, Fernanda Rodrigues, Graziela Braun, Juliana Provasi, Jéssica Werneck, Lucas Andrade, Lygia Schandert, Marina Visconde, Raquel Girardello, Rafael Affini, Rodrigo Cayô, Talita Barone e Vitor Marguti pela agradável e divertida convivência, pelos conhecimentos divididos e as experiências compartilhadas. Obrigado por todos os momentos vividos nestes últimos sete anos. Agradeço os pós-graduandos e colegas do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica LEMC, pelo companheirismo em todos os momentos. Agradeço também a Rosana Capecce pela amizade e auxílio em diversos momentos. Aos docentes e funcionários da Disciplina de Infectologia (DIPA/UNIFESP/EPM). ix "A ciência não pode prever o que vai acontecer. Só pode prever a probabilidade de algo acontecer." (César Lattes) x SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 01 2 OBJETIVOS .......................................................................................................................................... 03 2.1 Objetivo Principal ............................................................................................................................... 03 2.2 Objetivos Secundários ....................................................................................................................... 03 3 REVISÂO BIBLIOGRÀFICA ................................................................................................................... 04 3.1 Pseudomonas aeruginosa ................................................................................................................... 04 3.2 Epidemiologia das Infecções causadas por Pseudomonas aeruginosa .............................................. 05 3.3 Mecanismos de resistência em Pseudomonas aeruginosa ................................................................. 07 3.3.1 Produção de -Lactamases .............................................................................................................. 07 3.3.1.1 Serino--Lactamases – Classe A .................................................................................................. 08 3.3.1.2 Metallo-β-lactamases (MβL) – Classe B ........................................................................................ 10 3.3.1.3 -Lactamase cromossomal AmpC – Classe C .............................................................................. 11 3.3.1.4 Oxacilinases (OXA) – Classe D ..................................................................................................... 13 3.3.2 Hiperexpressão de Sistemas de Efluxo ............................................................................................ 15 3.3.3 Impermeabilidade de Membrana Externa ......................................................................................... 19 3.3.4 Alteração das Proteínas Ligadoras de Penicilinas (PBPs) .............................................................. 22 3.3.5 Resistência aos Aminoglicosídeos.................................................................................................... 22 3.3.6 Resistência às Fluoroquinolonas....................................................................................................... 24 3.4 Opções Terapêuticas para o Tratamento das Infecções por Pseudomonas aeruginosa..................... 25 4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................................................ 27 4.1 Amostras Bacterianas .......................................................................................................................... 27 4.1.1 Identificação dos isolados de P. aeruginosa por Matrix-assisted laser desorption ionization timeof-flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) ........................................................................................... 28 4.2 Avaliação do Perfil de Sensibilidade in vitro aos antimicrobianos ....................................................... 29 4.3 Análise da similaridade genética por Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE) ................................. 31 4.3.1 Preparação dos blocos de gel de agarose ....................................................................................... 32 4.3.2 Digestão do DNA bacteriano ............................................................................................................ 33 4.3.3 Eletroforese em campo pulsátil ......................................................................................................... 33 xi 4.4 Focalização do ponto isoelétrico (pI) ................................................................................................... 34 4.5 Teste in vitro de Hidrólise aos Carbapenens ....................................................................................... 35 4.5.1 Teste de Hidrólise Enzimática por Espectrofotometria ..................................................................... 35 4.5.2 Teste de Hidrólise por Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) ....................................................................................................................................... 36 4.6 Detecção de Genes Codificadores de β-lactamases ........................................................................... 36 4.6.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) ........................................................................ 36 4.6.2 Sequenciamento ..................................................................................................................................... 43 4.7 Avaliação fenotípica com inibidores de sistemas de efluxo e da β-lactamase cromossomal AmpC ... 43 4.7.1 Inibição da -lactamase cromossomal AmpC .................................................................................. 44 4.7.2 Inibição de Bombas de Efluxo .......................................................................................................... 44 4.8 Reação em Cadeia da Polimerase de Transcriptase Reversa em Tempo Real - qRT-PCR ............ 44 4.8.1 Extração de RNA Total ..................................................................................................................... 45 4.8.2 Síntese de cDNA .............................................................................................................................. 46 4.8.3 Quantificação relativa da transcrição gênica .................................................................................... 46 4.8.4 Análise da quantificação relativa da transcrição gênica ................................................................... 47 4.8.5 Análise da Amplificação dos genes dos sistemas de efluxo ............................................................. 48 4.9 Avaliação do perfil de proteínas de membrana externa por SDS-PAGE ............................................. 49 4.9.1 Extração de proteínas de membrana externa ................................................................................... 49 4.9.2 SDS-PAGE ....................................................................................................................................... 49 4.10 Pesquisa do Gene Codificador da Proteína de Membrana Externa – OprD ..................................... 50 4.10.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) ...................................................................... 50 4.11 Avaliação dos Mecanismos de Resistência às Fluoroquinolonas e aso aminoglicosídeos ........... 51 4.11.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) ...................................................................... 51 4.11.2 Sequenciamento ........................................................................................................................... 54 5 RESULTADOS ....................................................................................................................................... 55 5.1 Amostras Bacterianas .......................................................................................................................... 55 5.1.1 Identificação dos isolados de P. aeruginosa por Matrix-assisted laser desorption ionization timeof-flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) ........................................................................................... 55 5.2 Avaliação do Perfil de Sensibilidade in vitro aos antimicrobianos ....................................................... 56 5.3 Análise da similaridade genética por Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE) ................................. 59 xii 5.4 Focalização do ponto isoelétrico (pI) ................................................................................................... 62 5.5 Teste in vitro de Hidrólise aos Carbapenens ....................................................................................... 63 5.5.1 Teste de Hidrólise Enzimática por Espectrofotometria ..................................................................... 63 5.5.2 Teste de Hidrólise por Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) ....................................................................................................................................... 63 5.6 Detecção de Genes Codificadores de β-lactamases ........................................................................... 64 5.6.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) ........................................................................ 64 5.6.2 Sequenciamento ...................................................................................................................................... 65 5.7 Avaliação Fenotípica com inibidores ................................................................................................... 66 5.7.1 Inibição da -lactamase cromossomal AmpC .................................................................................. 66 5.7.2 Inibição de Bombas de Efluxo .......................................................................................................... 67 5.8 Reação em Cadeia da Polimerase de Transcriptase Reversa em Tempo Real - qRT-PCR ............ 68 5.8.5 Análise da Amplificação dos genes dos sistemas de efluxo ............................................................. 74 5.9 Avaliação do perfil de proteínas de membrana externa por SDS-PAGE ............................................. 74 5.10 Avaliação da presença do Gene Codificador da Proteína de Membrana Externa – OprD ............... 75 5.10.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) ...................................................................... 75 5.11 Avaliação dos Mecanismos de Resistência às Fluoroquinolonas e aos Aminoglicosídeos ........... 75 5.11.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) ...................................................................... 76 5.11.2 Sequenciamento ............................................................................................................................. 76 6 DISCUSSÂO ........................................................................................................................................... 77 7 CONCLUSÂO ......................................................................................................................................... 92 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS ........................................................................................................ 94 ABSTRACT ................................................................................................................................................ 127 ANEXOS .................................................................................................................................................... 128 xiii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Isolados de P. aeruginosa selecionados para este estudo de acordo com o sítio de Infecção e os Hospitais de isolamento .............................................................................................. 27 Tabela 2. Concentrações testadas na microdiluição em caldo dos antimicrobianos utilizados no estudo ................................................................................................................................................ 30 Tabela 3. Pontos de cortes utilizados para a interpretação das CIMs de P. aeruginosa segundo o CLSI 2013 .......................................................................................................................................... 31 Tabela 4. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados para a amplificação dos genes codificadores de β-lactamases pela técnica de PCR convencional e/ou multiplex neste estudo ............................ 38 Tabela 5. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados para a amplificação dos genes codificadores de β-lactamases tipo carbapenemase neste estudo pela técnica de PCR convencional e/ou multiplex ............................................................................................................................................ 40 Tabela 6. Cepas controles utilizadas neste estudo para a detecção de genes codificadores das -lactamases e carbapenemases, por meio da técnica de PCR convencional e/ou multiplex ....... 42 Tabela 7. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados na reação de qRT-PCR para os genes alvos mexB, mexD, mexF, mexY, oprD e ampC e para o gene de referência rpsL ................................... 47 Tabela 8. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados na reação de PCR para a avaliação do gene da oprD .............................................................................................................................................. 51 Tabela 9. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados para a caracterização dos mecanismos de resistência às fluoroquinolonas e aminoglicosídeos pela técnica de PCR convencional e multiplex nos isolados resistentes a estes antimicrobianos ............................................................................. 52 Tabela 10. Distribuição da potência e perfil de sensibilidade aos antimicrobianos dos isolados clínicos de P. aeruginosa estudados ................................................................................................. 56 Tabela 11. Teste de sensibilidade aos antimicrobianos para os isolados clínicos de P. aeruginosa, realizado pela técnica de microdiluição em caldo, segundo as recomendações do CLSI (2013) ....................................................................................................................................... 58 Tabela 12. Teste de inibição da β-lactamase cromossomal AmpC, na presença de cloxacilina (200 μg/mL), aos antimicrobianos para os isolados clínicos de P. aeruginosa ................................. 67 Tabela 13. Teste de inibição de bomba de efluxo, na presença de PAβN (50 μg/mL), aos antimicrobianos para os isolados clínicos de P. aeruginosa ............................................................. 68 Tabela 14. Média da expressão relativa dos genes estudados nos isolados clínicos de P. aeruginosa em relação a cepa PAO1 ................................................................................................ 69 Tabela 15. Mutações no QRDR dos isolados de P. aeruginosa estudados ..................................... 76 xiv ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Distribuição dos isolados clínicos estudados por sítio de isolamento ............................... 55 Figura 2. Porcentagem de sensibilidade aos diversos antimicrobianos dos isolados de P. aeruginosa estudados ....................................................................................................................... 57 Figura 3. Avaliação da similaridade genética entre os isolados de P. aeruginosa do H1 e H2 pela técnica de PFGE ............................................................................................................................... 59 Figura 4. Avaliação da similaridade genética entre os isolados de P. aeruginosa do H3 pela técnica de PFGE ............................................................................................................................... 60 Figura 5. Dendrograma do perfil genotípico determinado pela técnica de PFGE dos isolados de P. aeruginosa avaliados neste estudo ............................................................................................... 61 Figura 6. Curva de regressão linear da focalização das β-lactamases presentes nos isolados de P. aeruginosa .................................................................................................................................... 62 Figura 7. Teste de Hidrólise Enzimática por Espectrofotometria ...................................................... 63 Figura 8. Teste de Hidrólise por Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) ......................................................................................................... 64 Figura 9. PCR convencional de todos os isolados de P. aeruginosa para a β-lactamase cromossomal AmpC e OXA-50 ......................................................................................................... 65 Figura 10. Representação esquemática do integron In163 .............................................................. 65 Figura 11. Quantificação da transcrição relativa do gene mexB para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1 ........................................................ 70 Figura 12. Quantificação da transcrição relativa do gene mexD para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1 ........................................................ 70 Figura 13. Quantificação da transcrição relativa do gene mexF para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1 ........................................................ 71 Figura 14. Quantificação da transcrição relativa do gene mexY para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1 ........................................................ 71 Figura 15. Quantificação da transcrição relativa do gene ampC para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1 ...................................... 73 Figura 16. Quantificação da transcrição relativa do gene oprD para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1 ........................................................ 73 Figura 17. Perfil de proteínas de membrana externa por SDS-PAGE dos isolados de P. aeruginosa ......................................................................................................................................... 74 Figura 18. PCR convencional do gene codificador da proteína de membrana externa oprD dos isolados de P. aeruginosa ................................................................................................................. xv 75 ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABC - ATP-Binding Cassette AIM - Australian Imipenemase ATCC - American Type Culture Collection CIM - Concentração Inibitória Mínima CHDL - Carbapenem-Hydrolyzing Class D β-Lactamase CLSI - Clinical Laboratory Standards Institute CTX-M - Cefotaximase DBL - DBL numbering system DMT - Drug-Metabolite Transporter DNA - Ácido desoxirribonucleico EDTA - Ácido Etileno-Diamino-Tetracético ESAC - Extended-Spectrum AmpC ESL - Extended Spectrum -Lactamase EUA - Estados Unidos da América GES - Guiana Extended Spectrum GIM - German Imipenemase IMP - Imipenemase IS - Insertion Sequence KHM - Kyorin Hospital metalo-beta-lactamase KPC - Klebsiella pneumoniae Carbapenemase LEMC - Laboratório Especial de Microbiologia Clínica MALDI-TOF MS - Matrix Assisted Laser Desorption/Ionization - Time of Flight Mass Spectrometry MATE - Multidrug and Toxic Compound Extrusion ML - Metalo--Lactamase xvi MDR - Multi-Drug Resistance MFS - Major Facilitator Superfamily OMP - Outer Membrane Protein OXA - Oxacilinase PAN - Phenyl-Arginine--Naphthylamide PBP - Penicillin-Binding Protein PCR - Polymerase Chain Reaction PER - Pseudomonas Extended Resistant PFGE - Pulsed Field Gel Electrophoresis PI - Ponto Isoelétrico qRT-PCR - Quantitative Real Time Polimerase Chain Reaction RND - Resistance-Nodulation-Division rRNA - RNA Ribossomal SCOPE - Surveillance and Control of Pathogens of Epidemiological Importance SDS-PAGE - Sodium Dodecyl Sulfate Polyacrylamide Gel Electrophoresis SHV - Sulfhydryl-Variable -Lactamase SIM - Seul Imipenemase SME - Serratia marcescens enzyme SMR - Small Multidrug Resistance SPM - São Paulo Metallo--Lactamase TEM - Temoniera -Lactamase UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo UTI - Unidade de Terapia Intensiva VEB - Vietnamese Extended-Spectrum -lactamase VIM - Verona Imipenemase xvii RESUMO Objetivo: Esse estudo teve como objetivo avaliar os mecanismos de resistência em isolados clínicos de P. aeruginosa que apresentavam fenótipo de resistência aos carbapenens e sensibilidade às cefalosporinas de amplo espectro. Material e Métodos: Foram estudados 25 isolados de P. aeruginosa recuperadas de diferentes sítios infecciosos em três distintos hospitais da cidade de São Paulo. Os isolados foram submetidos ao teste de sensibilidade antimicrobiana por microdiluição em caldo (CLSI-2013). A similaridade genética foi avaliada pela técnica de PFGE, e a atividade enzimática das carbapenemases foi avaliada pelo método de hidrólise enzimática e MALDI-TOF. A pesquisa de genes que codificam as β-Lactamases foi realizada pela técnica da PCR, seguido por sequenciamento. A desrrepressão de ampC e a hiperexpressão dos sistemas de efluxo foram avaliados fenotipicamente pela adição de seus inibidores (cloxacilina e PAβN, respectivamente). A transcrição dos genes mexB, mexD, mexF e mexY, da β-lactamase cromossomal ampC e da porina oprD foi avaliada pela técnica de qRT-PCR. As proteínas de membrana externa foram avaliadas pela técnica de SDS-PAGE e em seguida foi realizada a técnica da PCR. A resistência aos aminoglicosídeos e ao ciprofloxacino foi avaliada pela a técnica da PCR, seguida por sequenciamento dos respectivos genes responsáveis por conferirem resistência a estes antimicrobianos. Resultados: O fenótipo de resistência a pelo menos um dos carbapenens (imipenem e meropenem) e sensibilidade às cefalosporinas de amplo espectro (cefepima e ceftazidima) foi confirmado em todos isolados clínicos estudados. A resistência à ciprofloxacina e aos aminoglicosídeos foi observada em cinco (20%) e dois (8%) desses isolados, respectivamente. A análise do perfil eletroforético por PFGE permitiu o agrupamento dos isolados estudados em 17 padrões distintos sem a predominância de um perfil clonal. Nenhum isolado apresentou atividade carbapenemase no teste de hidrólise, no entanto, no MALDI-TOF quatro isolados apresentaram resultados duvidosos. Porém, a pesquisa de genes codificadores de carbapenemases conhecidas foi negativa. Os genes cromossomais, blaampC e blaOXA-50 foram amplificados entre as amostras estudadas e seu sequenciamento revelou diversas mutações no gene blaOXA-50. O gene blaOXA-56 estava presente em um isolado. A inibição in vitro da AmpC cromossomal e da expressão dos sistemas de efluxo produziu uma variação de ≥ 2 diluições na CIMs dos antimicrobianos testados para a maioria dos isolados testados. A média da expressão relativa dos genes mexB, mexD, mexF e mexY nas 25 amostras de P. aeruginosa foram 1,92; 2,69; 6,04 e 1,56, respectivamente, em relação à cepa referência PAO1. A xviii β-lactamase AmpC estava hiperexpressa em 40% dos isolados de P. aeruginosa, enquanto todos os isolados tiveram redução da expressão de OprD. Uma alteração na banda de 46 kDa foi identificada pelo SDS-PAGE em todos isolados clínicos estudados. Os cinco isolados resistentes à ciprofloxacina apresentaram mutação na QRDR dos genes gyrA e parC e apenas um dos isolados resistentes aos aminoglicosídeos carregava o gene de resistência rmtD. Conclusão: Nossos resultados sugerem o envolvimento de múltiplos mecanismos cromossomais, como a hiperexpressão da β-lactamase cromossomal AmpC e a redução da expressão de OprD no fenótipo de resistência aos carbapenens e sensibilidade às cefalosporinas de amplo espectro entre isolados clínicos de P. aeruginosa. xix Introdução 1. INTRODUÇÃO Pseudomonas aeruginosa é um dos principais agentes de infecção relacionada à assistência a saúde em todo o mundo e no Brasil, estando principalmente associada a infecções em pacientes imunocomprometidos (Stover et al., 2000). Com base nos dados publicados pelo programa SENTRY de vigilância de resistência aos antimicrobianos, na América Latina, P. aeruginosa é o patógeno mais frequente isolado em casos de pneumonia; o terceiro patógeno mais frequente em infecções de pele e tecidos moles e o quinto em infecções de corrente sanguínea (Gales et al., 2012). P. aeruginosa é o quinto patógeno isolado em infecções de corrente sanguínea segundo dados do programa SCOPE no Brasil (Marra et al., 2011). A alta prevalência de infecções causadas por esses patógenos e sua grande importância clínica são atribuídas a sua versatilidade, a sua capacidade de adaptação à condições ambientais adversas, a sua resistência inata a múltiplos antimicrobianos, e a sua capacidade de adquirir múltiplos genes de resistência (Poole, 2001). A resistência intrínseca a diversas classes de antimicrobianos utilizados na clínica se dá pela produção induzível da β-lactamase cromossomal AmpC, pela perda ou diminuição da expressão de porinas e pela hiperexpressão de sistemas de efluxos (Livermore & Woodford, 2006; Lister et al., 2009). No entanto, além da resistência intrínseca apresentada por P. aeruginosa, essa espécie apresenta uma capacidade importante de aquisição de outros genes de resistência, principalmente aqueles que codificam distintas β-lactamases. A produção de β-lactamases é o principal mecanismo de resistência aos β-lactâmicos em bactérias Gram-negativas (Livermore, 1995). Frequentemente, esses mecanismos coexistem em uma mesma cepa bacteriana, o que confere resistência combinada a vários antimicrobianos (McGowan, 2006). Os β-lactâmicos constituem a principal opção terapêutica para o tratamento das infecções causadas por P. aeruginosa (Poole, 2004). No entanto, há aumento gradativo da resistência aos β-lactâmicos, incluindo os carbapenens durante a última 1 Introdução década nos países da América Latina, com maior proeminência no Brasil (Gales et al., 2001; Andrade et al., 2003; Andrade et al., 2008; Gales et al., 2012). Os carbapenens constituem uma importante opção terapêutica para o tratamento de infecções causadas por P. aeruginosa, devido a sua estabilidade frente a uma ampla variedade de β-lactamases em comparação aos outros antimicrobianos da classe dos βlactâmicos. Por essa razão, os carbapenens apresentam um particular valor no tratamento de infecções causadas por bactérias resistentes a múltiplos antimicrobianos e produtoras de β-lactamases (Hawkey et al., 2001). Nos últimos anos tem-se observado uma disseminação de P. aeruginosa produtoras de MβL, GES-5 e ESβL no Brasil. Para estas últimas, muitas vezes os carbapenens ainda podem ser utilizados para o tratamento das infecções (Martins et al., 2007; Picão et al., 2009; Polotto et al., 2012). Entretanto, o fenótipo de resistência aos carbapenens e sensibilidade as cefalosporinas de amplo espectro, assim como sensibilidade a outras classes de antimicrobianos, tem se tornado cada vez mais comum. Juntamente a este fenótipo, questionamentos e dúvidas a respeito do tratamento mais eficaz a ser adotado contra as infecções por microrganismos que exibem esse fenótipo têm sido feitos. Embora existam muitos estudos sobre resistência aos antimicrobianos em isolados clínicos de P. aeruginosa, não há até o momento a descrição deste fenótipo de resistência entre isolados clínicos de P. aeruginosa. Dada a importância dos carbapenens no tratamento de infecções causadas por P. aeruginosa, é essencial que se conheça os mecanismos envolvidos neste fenótipo incomum, assim como a prevalência dos mesmos. O conhecimento destes mecanismos é de suma importância, pois altas taxas de resistência aos carbapenens têm sido observadas em P. aeruginosa e o tratamento das infecções causadas por estes patógenos restringemse às polimixinas. 2 Objetivos 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Principal Determinar os mecanismos de resistência que pudessem justificar o fenótipo incomum, resistência aos carbapenens e sensibilidade as cefalosporinas de amplo espectro, em isolados clínicos de Pseudomonas aeruginosa. 2.2 Objetivos Secundários Confirmar o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos nos isolados de P. aeruginosa; Determinar a relação genética entre os isolados de P. aeruginosa pela técnica de PFGE; Detectar o ponto isoelétrico (pI) dos isolados de P. aeruginosa; Detectar a atividade enzimática contra os carbapenens nos isolados de P. aeruginosa; Pesquisar os genes codificadores de β-lactamases nos isolados de P. aeruginosa; Avaliar fenotipicamente a expressão das bombas de efluxo e da β- lactamase cromossomal AmpC nos isolados de P. aeruginosa; Avaliar a transcrição gênica dos sistemas de efluxo MexAB-OprM, MexCD-OprJ, MexEF-OprN e MexXY-OprM, da β-lactamase cromossomal AmpC e da proteína de membrana externa OprD nos isolados clínicos de P. aeruginosa; Determinar o perfil de proteínas de membrana externa e a presença do gene codificador da proteína de membrana externa OprD; Pesquisar os mecanismos de envolvidos na resistência às fluoroquinolonas e aminoglicosídeos. 3 Revisão Bibliográfica 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Pseudomonas aeruginosa O gênero Pseudomonas pertence à família Pseudomonadaceae e no ano de 1992, foi subdividida em outros gêneros, como Burkholderia, Stenotrophomonas, Comamonas, Shewanella, Ralstonia, Methylobacterium, Sphingomonas, Acidovorax e Brevundimonas. O gênero Pseudomonas compreende cerca de duas mil espécies já descritas, dentre elas P. aeruginosa, a espécie mais importante e estudada, P. fluorescens, P. putida, P. stutzeri, P. alcaligenes (Moore et al., 2006; Murray et al., 2010). P. aeruginosa são bacilos Gram-negativos não fermentadores da glicose, não esporulados e ligeiramente curvados. Medem aproximadamente 0,5 a 1 μm de largura por 1,5 a 5 μm de comprimento e usualmente são móveis, possuindo um ou vários flagelos polares. Podem ser isolado do solo, da água, de plantas e de animais. São capazes de utilizar uma grande variedade de substratos orgânicos como fontes de carbono e são oxidase positiva. Isolados de P. aeruginosa são estritamente aeróbios e são facilmente reconhecidos pela sua morfologia característica, brilho metálico, pigmentação e pelo forte odor de uva da sua colônia bacteriana (Gillardi, 1980; Pollack, 2000; Koneman et al., 2001; Blondel-Hill et al., 2007). Esta espécie produz quatro pigmentos importantes, são eles: piocianina (azul), piomelanina (marrom-escuro/preto), piorrubina (vermelho) e pioverdina (amareloesverdiado/fluorescente). Dentre estes pigmentos, a piocianina é encontrada em aproximadamente 80% dos isolados de P. aeruginosa, já a piomelanina e piorrubina são produzidos por menos de 2% dos isolados clínicos de P. aeruginosa. A pioverdina pode ser encontrada em outras espécies fluorescentes de Pseudomonas spp. (Visca et al., 1992; Pollack, 1995). Raramente, P. aeruginosa causa infecções em indivíduos saudáveis, no entanto, sua baixa necessidade de nutrientes para o crescimento, sua tolerância a uma série de condições físicas adversas e sua resistência intrínseca e adquirida a 4 Revisão Bibliográfica diversas classes de agentes antimicrobianos fez desta espécie um importante patógeno relacionado à etiologia de infecções relacionadas à assistência à saúde (Blondel-Hill et al., 2007; Pappas et al., 2009; Strateva & Yordanov, 2009). 3.2 Epidemiologia das Infecções causadas por Pseudomonas aeruginosa P. aeruginosa é um patógeno oportunista humano ubíquo de grande valor clínico e representa uma das principais causas de infecções relacionadas à assistência a saúde. Apresenta uma grande capacidade de adaptação ao ambiente hospitalar, sendo isolado de diversas fontes, incluindo equipamentos de ventilação mecânica e de diálise (Mandell et al., 2010; Murray et al., 2010). Isolados de P. aeruginosa podem colonizar transitoriamente o trato respiratório, gastrointestinal e áreas úmidas de pacientes hospitalizados e a grande maioria dos casos de infecção estão relacionados ao uso de dispositivos invasivos, como pneumonia associada à ventilação mecânica, bacteremia associada ao uso de cateter vascular e infecção urinária relacionada ao uso de sonda vesical (Almirante et al., 2012; Medell et al., 2013; Ortega et al., 2013). Também esta relacionada à meningite pós-neurocirurgica, endocardite e infecção de sítio cirúrgico (Chang et al., 2010; Sousa et al., 2012; Mackenzie et al., 2013). Também é um importante patógeno relacionado à fibrose cística (Hoban et al., 2003; Gibson et al., 2003; Psoter et al., 2013). Dados do National Nosocomial Infections Surveillance System – NNIS (agora denominado como National Healthcare Safety Network - NHSN) mostram que esse patógeno é o terceiro agente mais frequentemente associado à pneumonia ou sítio cirúrgico, o quarto patógeno mais frequente em infecção do trato urinário e o quinto mais comum em hemoculturas de pacientes com sepse (Richards et al., 2000). Um estudo publicado por Gales e colaboradores, em 2001, na qual foram avaliadas amostras de P. aeruginosa isoladas de cinco regiões geográficas (ÁsiaPacífico, Canadá, Europa, América Latina e Estados Unidos da América) mostrou que as taxas de resistências aos β-lactâmicos entre os isolados de P. aeruginosa, 5 Revisão Bibliográfica provenientes da América Latina, eram mais elevadas em comparação àquelas apresentadas por isolados provenientes de outras regiões geográficas. Neste mesmo estudo, a distribuição dos isolados de P. aeruginosa por sítio corpóreo de infecção foi o mesmo para todas as regiões: trato respiratório, seguido por pele e tecidos moles, urina e corrente sanguínea. Ainda na América Latina, segundo dados do Programa de Vigilância de Resistência a Antimicrobianos - SENTRY, P. aeruginosa foi o terceiro patógeno mais frequentemente isolado, precedido apenas por Staphylococcus aureus e Escherichia coli. Ainda de acordo com este estudo, este patógeno foi a causa mais frequente de infecções do trato respiratório inferior, a terceira causa mais frequente de infecções urinárias e de pele e tecidos moles e o quinto patógeno mais comum em infecções de corrente sanguínea, no período entre 1997 e 2001 (Sader et al., 2004). Além disso, dados do Programa SENTRY no Brasil, revelaram que 30,2% das amostras de P. aeruginosa coletadas em centros brasileiros, entre 1997 e 2001, eram resistentes aos carbapenens, e quando foram analisados isolados de pacientes internados em unidades de terapia intensiva, esta taxa aumentava para 40% (Sader et al., 2001). Mais recentemente, outro estudo de Gales e colaboradores (2012), demonstrou que P. aeruginosa foi o patógeno mais frequentemente isolado em pacientes com pneumonia hospitalar, o terceiro patógeno mais frequente em pele e tecidos moles e o quinto patógeno mais comum em infecções da corrente sanguínea. A taxa de resistência a imipenem no Brasil aumentou do período de 1997-1999 (34,1%) em relação ao período de 2003-2005 (42,0%), no entanto se manteve estável em relação ao período de 2008-2010 (42,1%). P. aeruginosa é considerado o patógeno mais frequentemente associado a infecções por pacientes hospitalizados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Segundo estudo do MYSTIC no Brasil, P. aeruginosa foi o patógeno mais frequentemente recuperado (30,3%) e estava relacionada a infecções da corrente 6 Revisão Bibliográfica sanguínea, trato respiratório, trato urinário e pele e tecidos moles. Sendo a taxa de resistência a imipenem de 36,6% nestes isolados (Kiffer et al., 2005). Segundo dados do programa SCOPE Brasil (The Brazilian Surveillance and Control of Pathogens of Epidemiologic Importance), P. aeruginosa foi recuperado em 3,9% dos casos das infecções de corrente sanguínea em pacientes pediátricos, sendo a resistência aos carbapenens superior a 20%. A taxa de mortalidade foi de 14,3% nas infecções por P. aeruginosa (Pereira et al., 2013). Um estudo anterior do programa SCOPE em 16 hospitais brasileiros demonstrou que P. aeruginosa foi o quinto (8,9%) patógeno mais frequentemente recuperado de infecção de corrente sanguínea. Sendo que 33,9%, 36,6%, 42,9%, 36,8% e 35,8% dos isolados eram resistentes à piperacilina-tazobactam, ceftazidima, cefepime, imipenem e meropenem, respectivamente (Marra et al., 2011). Na maioria das vezes, as infecções causadas por esse patógeno são difíceis de serem tratadas devido à resistência natural dessa espécie, bem como a sua notável capacidade em adquirir novos genes de resistência a diversos grupos de antimicrobianos. 3.3 Mecanismos de resistência em Pseudomonas aeruginosa P. aeruginosa pode apresentar resistência a uma grande variedade de antimicrobianos, entre eles os β-lactâmicos, aminoglicosídeos, fluoroquinolonas, tetraciclinas e cloranfenicol. Dentre os mecanismos envolvidos, os principais são: alteração na permeabilidade da membrana externa, hiperexpressão dos sistemas de efluxo, produção de β-lactamases, enzimas modificadoras de aminoglicosídeos e alteração do alvo das fluoroquinolonas (Livermore & Woodford, 2006; Lister et al., 2009). 3.3.1 Produção de -Lactamases Em bactérias Gram negativas, a produção de β-lactamases é o principal mecanismo de resistência aos β-lactâmicos (Bush, 2001). Essas enzimas agem 7 Revisão Bibliográfica inativando, pela catalisação do anel β-lactâmico, os β-lactâmicos antes que eles se liguem as proteínas ligadoras de penicilinas (PBPs), que se localizam na membrana celular interna (Bush et al., 1995; Livermore & Woodford, 2006). Em bactérias Gram negativas, as β-lactamases se concentram no espaço periplasmático, diferentemente das bactérias Gram positivas. O gene para a codificação das β-lactamases pode estar localizado no DNA cromossômico, ou em plasmídeos e transposons, sendo estes genes inatos ou adquiridos (Livermore, 1995). As β-lactamases apresentam uma grande diversidade estrutural e de espectro de atividade, fazendo que com isso, seja difícil estabelecer um sistema de classificação. Atualmente, duas classificações têm sido consideradas como de maior importância, as classificações de Ambler e a de Bush, Jacoby e Medeiros (Ambler, 1980; Bush et al., 1995), sendo que a última classificação foi revista em 2010 (Bush & Jacoby, 2010). As Classes A, C e D agem por meio de um mecanismo serino-dependente, enquanto a classe B ou metalo--lactamases (ML) utiliza o zinco como co-fator para sua ação hidrolítica (Ambler, 1980; Livermore, 1995). Um número significativo de lactamases de todas as classes moleculares são encontrados em P. aeruginosa, incluindo as ESLs das classes A, B e D (Zhao and Hu, 2010). 3.3.1.1 Serino--Lactamases – Classe A As enzimas classificadas nos grupos 2b e 2c incluem as β-lactamases de espectro limitado e que são inibidas pelos inibidores de serino-β-lactamases. Essas enzimas apresentam potente atividade contra as penicilinas e as cefalosporinas de primeira e segunda geração. Entre as enzimas pertencentes ao subgrupo 2b, TEM-1, TEM-2, TEM-90, TEM-110 e SHV-1 já foram identificadas em isolados clínicos de P. aeruginosa, enquanto que, entre as β-lactamases pertencentes ao grupo 2c, as variantes PSE-1, PSE-4, CARB-3, CARB-4 e AER-1 também já foram descritas nessa espécie (Strateva & Yordanov 2009; Zavascki et al., 2010). 8 Revisão Bibliográfica As β-lactamases de Espectro Ampliado (ESβLs) estão incluídas no grupo de enzimas da classe A (subclasse 2be), que apresentam atividade hidrolítica contra as penicilinas, às cefalosporinas e o aztreonam. A maioria dessas enzimas é sensível à ação dos inibidores de serino-β-lactamase (Paterson & Bonomo, 2005). ESβLs foram descritas inicialmente em Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli e, posteriormente, se disseminaram para as demais espécies de enterobactérias. No entanto, no início da década de 90, a produção de enzimas do tipo ESβL passou a ser observada também entre isolados clínicos de P. aeruginosa (Weldhagen et al., 2003) e, atualmente, já foram descritas os seguintes grupos de ESβL de classe A em P. aeruginosa: TEM, SHV, PER, VEB, GES, BEL e CTX-M (Strateva & Yordanov, 2009). No Brasil já houve relatos de GES-1 e CTX-M-2 em isolados de P. aeruginosa (Castanheira et al., 2004a; Pellegrino et al., 2006a; da Fonseca et al., 2007; Picão et al., 2009a; Picão et al., 2009b). As β-lactamases do tipo GES foram inicialmente classificadas como ESβL, no entanto, variantes com atividade carbapenemase já foram descritas. São elas: GES-2 em P. aeruginosa na África do Sul, GES-5 no Brasil, GES-13 na Grécia e a GES-18 na Alemanha (Picão et al., 2009b; Poirel et al., 2001; Kotsakis et al., 2010; Bebrone et al., 2013). As serino-carbapenemases ou carbapenemases de classe A pertencem ao grupo 2f de Bush (Bush & Jacoby, 2010) e a classe molecular A de Ambler (Ambler, 1980). Dentre todas as carbapenemases de classe A descritas, as mais importantes e disseminadas são as enzimas do tipo KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase). Essas β-lactamases têm sido descritas com maior frequência tanto em isolados clínicos de enterobactérias, como em P. aeruginosa e Acinetobacter spp. (Queenan & Bush, 2007; Robledo et al., 2010). São normalmente codificadas por genes localizados em plasmídeos e hidrolisam todos os agentes β-lactâmicos, incluindo penicilinas, cefalosporinas, monobactâmicos e carbapenens (Queenan & Bush, 2007). Estas enzimas são inibidas pelos inbidores das serino-β-lactamase, como o ácido 9 Revisão Bibliográfica clavulânico, o tazobactam e o sulbactam. Elas também são inibidas pelo ácido borônico e seus derivados. KPC-2 foi reportada pela primeira vez em P. aeruginosa na Colômbia em 2007, seguido por relatos em Porto Rico, Trindade e Tobago e nos Estados Unidos (Akpaka et al., 2009; Poirel et al., 2010c; Robledo et al., 2011). No Brasil, o primeiro relato de KPC-2 em isolados clínicos de P. aeruginosa ocorreu em Recife (Jácome et al., 2012). 3.3.1.2 Metallo-β-lactamases (MβL) – Classe B As MβLs classificadas no grupo funcional 3 e classe molecular B e são notáveis por seu amplo espectro de atividade, podendo degradar todas as classes de βlactâmicos. Diferem-se das outras β-lactamases por: (i) requerem íons Zn+2 ou outros cátions divalentes como cofator no sítio ativo; (ii) são resistentes à ação dos inibidores das serino-β-lactamases, embora sofram inibição por agentes quelantes como o EDTA, derivados do tiol e ácido dipicolínico; e (iii) não hidrolisam o monobactâmico aztreonam (Payne et al., 1997; Walsh et al., 2005). As MβLs se dividem em dois grupos, as MβLs intrínsecas, e as adquiridas ou móveis (Laraki et al., 1999; Chen et al., 2003; Bebrone, 2007). O grupo das MβLs é representado por enzimas, como: IMP (imipenemase metallo-β-lactamase), VIM (Verona imipenemase metallo-β-lactamase), SPM (São Paulo metalo-β-lactamase), GIM (German imipenemase metallo-β-lactamase), SIM (Seul imipenemase metallo-β-lactamase), NDM (New Delhi metallo-beta-lactamase), AIM (Australian imipenemase metallo-β-lactamase), KHM-1 (Kyorin Health Science metallo-β-lactamase), DIM-1 (Dutch Imipenemase metallo-β-lactamase), SMB-1 (Serratia metallo-β-lactamase), TMB-1 (Tripoli metallo-β-lactamase) e, mais recentemente a FIM-1 (Florence imipenemase metallo-β-lactamase) (Osano et al., 1994; Lauretti et al., 1999; Toleman et al., 2002; Castanheira et al., 2004b; Lee et al., 2005a; Yong et al., 2009; Yong et al., 2012; Sekiguchi et al., 2008; Poirel et al., 2010b; Wachino et al., 2011; El Salabi et al., 2012; Pollini et al., 2013). 10 Revisão Bibliográfica As MβLs têm sido descritas em diversas espécies bacterianas, tais como: Pseudomonas spp., Acinetobacter spp. e membros da família Enterobacteriaceae (Poirel et al., 2000; Riccio et al., 2000; Yan et al., 2001). Estes genes estão inseridos, quase sempre, em elementos genéticos móveis. Em isolados de Pseudomonas spp. já foram descritas as MβLs IMP, VIM, SPM-1, GIM-1, AIM-1, TMB-1 e FIM-1, sendo que no Brasil já foram descritas as variantes IMP-1, IMP-16, IMP-18, VIM-2 porém isolados produtores de SPM-1 são os mais frequentes devido à disseminação de um único clone no território brasileiro (Mendes et al., 2004; Mendes et al., 2007; Xavier et al., 2006; Gales et al., 2003; Zavascki et al., 2005; Carvalho et al., 2006; Pellegrino et al., 2006b; Cipriano et al., 2007). 3.3.1.3 -Lactamase cromossomal AmpC – Classe C Assim como algumas espécies da família Enterobacteriaceae (Citrobacter freundii, Enterobacter spp., Serratia marcescens, Providencia stuartii, e Morganella morganii), P. aeruginosa, produz uma β-lactamase cromossomal AmpC induzida que pertence ao grupo funcional 1 ou classe molecular C (Bush et al., 1995; Jacoby, 2009; Philippon et al., 2002). A atividade da β-lactamase cromossomal AmpC não é inibida por inibidores de β-lactamase utilizados na prática clínica. A β-lactamase cromossomal AmpC ou cefalosporinase cromossomal normalmente é produzida em pequenas quantidades e determina resistência apenas às penicilinas, à maioria das cefalosporinas de primeiras gerações e às cefamicinas (Langaee et al., 2000). Entretanto, na presença de um β-lactâmico indutor (especialmente imipenem) a produção desta enzima pode aumentar de 100 a 1000 vezes (Bagge et al., 2002; Ni et al., 2005). Esse fenótipo é conhecido como desreprimido e pode levar à resistência às cefalosporinas de quarta geração (Jacobs et al., 1997; Schmidtke & Hanson, 2006; Jacoby, 2009). Esta β-lactamase é codificada pelo gene ampC (Lodge et al., 1993) e três genes, principalmente, estão envolvidos no mecanismo de indução: ampG, ampD e ampR (Lodgee & Piddock, 1991; Jacobs et al., 1997). Os mecanismos de regulação da 11 Revisão Bibliográfica β-lactamase cromossomal AmpC em P. aeruginosa é semelhante aquele descrito em E. cloacae e está intimamente ligado a reciclagem do peptideoglicano (Jacobs et al., 1994; Höltje et al., 1994; Normark, 1995). O gene, ampG, codifica uma proteína transmembrana envolvida na permeabilidade do tripeptídeo N-acetilglucosamina(GluNac)-1,6-anhMurNac, que é convertido em uma molécula sinalizadora citoplasmática para indução da β-lactamase cromossomal AmpC (Dietz, et al., 1996). Sem o gene ampG, nem a indução e nem os altos níveis de expressão seriam possíveis (Korfmann & Sanders, 1989; Dietz, et al., 1997). O segundo gene, ampD, codifica uma proteína citosólica, N-acetilmuramil-Lalanina amidase, que hidrolisa o tripeptídeo 1,6-anhidro-N-acetilmuramico, atuando como um repressor da expressão ampC (Höltje et al., 1994; Jacobs et al., 1994; Jacobs et al., 1995). A inativação da proteína AmpD leva a uma hiperprodução semiconstitutiva ou hiperinduzida de AmpC em P. aeruginosa PAO1 (Langaee et al., 2000). A mutação no gene ampD que resulta na expressão de β-lactamases, mesmo na ausência de um indutor, coincide com o acumulo do tripeptídeo 1,6-anhMurNac (Jacobs et al., 1995). O terceiro gene envolvido, ampR, é adjacente à ampC, entretanto é transcrito de forma oposta, e codifica um ativador transcricional, membro da família LysR (AmpR). Este regulador é necessário para a indução da β-lactamase (Lodge et al., 1993). Na ausência de um β-lactâmico indutor, AmpR reprime a síntese de β-lactamase em 2,5 vezes, enquanto que a expressão e induzida de 10 a 200 vezes na presença do β-lactâmico indutor (Lindberg & Normark, 1987; Jacobs et al., 1997). Recentemente foi demonstrado que P. aeruginosa tem três homólogos de AmpD, a proteína AmpD, AmpDh2 e AmpDh3, que são responsáveis por um mecanismo de regulação positiva levando a hiperexpressão constitutiva desta cefalosporinase (Juan et al., 2006). Um quarto gene, ampE, forma um operon ampDE e codifica uma proteína de membrana citoplasmática, que atua como um molécula sensorial necessária para a indução (Honore et al., 1989). 12 Revisão Bibliográfica Estudos recentes mostram que outros genes podem estar envolvidos na expressão da -lactamase cromossomal AmpC. O gene dacB codifica a proteína de ligação à penicilina 4 (PBP-4) e a inactivação do gene dacB resulta em um alto nível de resistência aos β-lactâmicos e a hiperprodução de AmpC (Moyá et al., 2009). O gene nagZ codifica uma β-N-acetil-D-glucosaminidase, e inativação deste gene em P. aeruginosa parece diminuir a resistência aos β-lactâmicos (Asgarali et al., 2009). A inativação de nagZ em dacB ou ampD mutantes impede a hiperexpressão de ampC, no entanto, a inativação deste gene não parece prejudicar a indução da AmpC (Zamorano et al., 2010). Vários sistemas parecem estar envolvidos na expressão e indução do gene ampC, e ainda não é totalmente compreendido o sistema de regulação deste gene. A resistência ou sensibilidade intermediária ao imipenem em isolados clínicos de P. aeruginosa pode estar relacionado com a desrepressão da β-lactamase cromossomal AmpC associada a modificação estrutural ou perda da OprD (Gutiérrez et al., 2007). Em 2009, foram descritas as AmpCs de espectro ampliado (ESAC Extended-Spectrum AmpC). Neste estudo as CIMs para ceftazidima e imipenem tiveram redução na presença de cloxacilina. O gene, ampC, apresentava uma mutação ocasionando a substituição de um aminoácido específico (T105A) no sítio ativo da enzima, resultando na ampliação do espectro hidrolítico da enzima, sendo, portanto, capazes de hidrolisar cefepima e o imipenem (Rodriguez-Martinez et al., 2009a). 3.3.1.4 Oxacilinases (OXA) – Classe D As oxacilinases estão incluídas na classe D de Ambler e seu grupo funcional apresentado pelas classificações 2d (oxacilinases de espctro restrito), 2de (βlactamases de espectro ampliado - ESβL) e 2df (Carbapenem- Hydrolyzing Class D βLactamase - CHDLs). As OXAs receberam essa designação por apresentarem atividade hidrolítica potente contra as penicilinas resistentes à ação das penicilinases (oxacilinases, cloxacilina e meticilina). Uma característica importante deste grupo é de 13 Revisão Bibliográfica ser fracamente inibida pelo ácido clavulânico e fortemente inibida pelo cloreto de sódio (Poirel et al., 2010a). As oxacilinases podem ser divididas em quatro subgrupos: OXA-1, OXA-2, OXA-10 e outros (Poirel et al., 2010a). Sendo que o grupo da OXA-10 constitui as βlactamases do tipo OXA mais prevalentes entre isolados clínicos de P. aeruginosa. No entanto, recentemente foi observado pela análise da similaridade das sequências de nucleotídeos que as oxacilinases poderiam ser divididas em 10 grupos, sendo eles: OXA-1, OXA-2, OXA-5, OXA-10, OXA-18, OXA-20, OXA-45, OXA-46, OXA-50 e OXA198 (Petrolini et al., 2013). A OXA-56, uma oxacilinase do grupo da OXA-10, foi descrita em um isolado de P. aeruginosa produtor de SPM-1 no Brasil. Esta enzima apresenta espectro hidrolítico restrito. Este gene esta relacionado com a disseminação de SPM-1 e rmtD em P. aeruginosa no nosso país (Poirel et al., 2004a). As ESβLs do tipo OXA hidrolisam muito bem a oxacilina e a cloxacilina e não apresentam similaridade genética com as demais ESβLs e são mais frequentemente descritas em P. aeruginosa (Poirel et al., 2010a). Em P. aeruginosa, ocorre uma oxacilinase cromossômica e intrínseca, denominada OXA-50, pertencente ao subgrupo 2df. Esta oxacilinase apresenta uma diminuição na sensibilidade à ampicilina e ticarcilina e, curiosamente, a moxalactam e meropenem. É uma oxacilinase de espectro restrito (Girlich et al., 2004). Já foram descritas 10 variantes desta OXA, denominadas, OXA-50a a OXA-50j (Empel et al., 2007; Seok et al., 2011). Até o momento somente a variante de CHDLs, OXA-24/40, foi descrita em dois isolados clínicos de P. aeruginosa na Espanha (Sevillano et al., 2009), sendo estas CHDLs, mais frequentes em isolados de A. baumannii. No entanto, a OXA-198 descrita em um isolado de P. aeruginosa, é uma carbapenemase também pertencente ao subgrupo 2df e que apresenta resistência à maioria dos β-lactâmicos, incluindo o imipenem, mas apresentou uma sensibilidade intermediária ao meropenem. Contudo, o isolado manteve-se sensível à ceftazidima e ao aztreonam (El Garch et al., 2011). 14 Revisão Bibliográfica 3.3.2 Hiperexpressão de Sistemas de Efluxo A resistência inata em isolados de P. aeruginosa é em grande parte determinada pela interação entre a baixa permeabilidade da membrana externa e o efluxo ativo de antimicrobianos (Livermore, 2002). Sistemas de bombas de efluxo são um importante mecanismo não enzimático de resistência aos β-lactâmicos em P. aeruginosa. Esses sistemas contribuem também para o desenvolvimento da resistência múltipla a todos antimicrobianos com ação frente à Pseudomonas spp.. Os sistemas de efluxo são classificados levando em consideração três critérios básicos: (i) a fonte de energia utilizada pelo sistema, (ii) a relação filogenética com outros sistemas de efluxo e (iii) a especificidade de substratos. São agrupados em cinco famílias: ABC ("ATP binding cassette"), MFS ("major facilitator superfamily"), SMR ("small multidrug resistance"), MATE ("multidrug and toxic compound extrusion") e RND ("resistance-nodulation division"), distribuídos tanto em bactérias Gram negativas, como também em Gram positivas (Piddock, 2006; Lister et al., 2009). A família RND de sistemas de efluxo é a que possui especificidade a um maior número de substratos e engloba antimicrobianos de relevância clínica. Desempenha um importante papel na resistência intrínseca e adquirida em diversas bactérias Gram negativas. Geralmente, os genes que codificam os sistemas de efluxo pertencentes a essa família estão localizados no cromossomo bacteriano (Piddock, 2006). A habilidade do sistema de efluxo em reconhecer um grande número de compostos é, provavelmente, devido à hidrofobicidade, à aromaticidade e ao caráter ionizável (Saier et al., 1998). A grande maioria dos antimicrobianos são anfifílicos (possuem características hidrofílicas e hidrofóbicas), sendo assim, facilmente reconhecidos por varias bombas de efluxo (Kaatz, 2002). No entanto, cada sistema de bomba de efluxo tem afinidade preferencial por determinados antimicrobianos. As fluoroquinolonas são substratos universais de todas as bombas do tipo Mex (Piddock, 2006). 15 Revisão Bibliográfica Enquanto as outras famílias de efluxo são constituídas por um componente simples, a família RND é baseada na abertura de um canal que atravessa as membranas interna e externa bacteriana. Esse canal é um sistema de três componentes. O primeiro componente é uma proteína, que é a bomba propriamente dita, localizada na membrana citoplasmática, dependente de energia, e funciona como elemento transportador (MexB, MexD, MexF, MexY); o segundo componente é uma proteína de membrana externa, denominada porina (OprM, OprJ, OprN, OpmB, OmpG, OmpI). A terceira proteína localiza-se no espaço periplasmático e liga os outros dois componentes (MexA, MexC, MexE, MexY) (Livermore, 2002). Os genes que codificam esses sistemas estão organizados em operons, nos quais o primeiro codifica a proteína periplasmática, o segundo a proteína transportadora e o terceiro gene codifica a proteína de membrana externa (Lister et al., 2009). Dez desses sistemas foram caracterizados até o momento: MexAB-OprM (ABM), MexCD-OprJ (CDJ), MexEF-OprN (EFN), MexXYOprM (XY), MexJK-OprM, MexGHI-OpmD, MexVW-OprM, MexPQ-OpmE, MexMN-OprM e TriABC-OpmH (Lister et al., 2009; Strateva & Yordanov 2009). Apenas os sistemas de efluxo ABM, CDJ, EFN e XY têm sido relacionados à resistência intrínseca e adquirida a uma ampla variedade de agentes antimicrobianos de importância clínica em P. aeruginosa. MexAB-OprM MexAB-OprM é o sistema de efluxo mais importante em P. aeruginosa. É expresso constitutivamente e desempenha um importante papel na resistência intrínseca e adquirida a múltiplos antimicrobianos (Masuda et al., 2000). Os substratos preferenciais de ABM são variados e esta bomba ejeta: β-lactâmicos, os inibidores de β-lactamases, fluoroquinolonas, macrolídeos, tetraciclinas, cloranfenicol entre outros (Narita et al., 2003). Entre os β-lactâmicos ejetados estão os carbapenens, exceto o imipenem, devido à diferença na sua estrutura química (Yoneyama et al., 2000; Livermore, 2002; Strateva & Yordanov, 2009). 16 Revisão Bibliográfica A hiperexpressão desse sistema pode ser observada em três tipos mutantes: nalB, nalC e nalD. Os mutantes nalB apresentam alterações no gene mexR localizado à montante do operon mexAB-oprM, que codifica uma proteína repressora da sua transcrição (Saito et al., 1999; Saito et al., 2001). Os mutantes nalC apresentam o gene mexR intacto, mas no entanto apresentam uma uma mutação no gene PA3721, também chamado de nalC. A proteína codificada por este gene atua como um repressor que aparentemente, possui a capacidade de inibir a atividade de MexR (Srikumar et al., 2000; Cao et al., 2004). Mais recentemente, mutantes nalD foram encontrados. Eles apresentam uma mutação no gene PA3574, qua atua ligando-se a região promotora, aumentando a expressão do sistema ABM (Sobel et al., 2005). MexCD-OprJ O sistema CDJ não é expresso constitutivamente em P. aeruginosa, e assim não contribui para a resistência intrínseca. Porém, a hiperexpressão do sistema MexCD-OprJ pode ser observada entre isolados clínicos de P. aeruginosa com mutações no gene nfxB, repressor da transcrição desse sistema de efluxo, localizado na região à montante do operon MexCD-OprJ (Poole et al., 1996). Este sistema de efluxo exportam predominantemente quinolonas, tetraciclinas, cloranfenicol, acriflavina, entre outros (Masuda et al., 1996; Poole et al., 1996; Li et al., 2000). Mesmo esse sistema não possuindo como substrato preferencial os agentes βlactâmicos, ele é capaz de extruir cefalosporinas, especialmente, as de quarta geração (Strateva & Yordanov, 2009). Mutantes nfxB podem apresentar sensibilidade à carbenicilina, à ceftazidima, ao aztreonam e aos aminoglicosídeos, provavelmente pela diminuição da expressão de ABM, decorrente do mecanismo de corregulação da expressão desses sistemas (Poole et al., 1996; Lister et al., 2009, Masuda et al., 2000). MexEF-OprN A expressão de MexEF-OprN ocorre em cepas selvagens de P. aeruginosa em baixos níveis. A transcrição deste sistema é dependente da presença de MexT, uma 17 Revisão Bibliográfica proteína ativadora da sua transcrição, codificada por um gene localizado à montante do operon MexEF-OprJ. A transcrição de mexT é suficiente para ativar a expressão desse operon (Maseda et al., 2004). Este sistema é expresso em cepas denominadas nfxC, que apresentam resistência a múltiplas drogas como às fluoroquinolonas, ao cloranfenicol e ao trimetoprim, como consequência da ejeção direta, e indiretamente ao imipenem (Hooper et al., 1992; Fukuda et al., 1995). Os mutantes nfxC, apresentam aumento da sensibilidade aos β-lactâmicos e aos aminoglicosídeos, por meio da diminuição da expressão de outros sistemas como ABM e XY (Okamoto et al., 2002; Wolter et al., 2004a). A resistência ao imipenem exibida pelos mutantes nfxC pode ser explicada pela redução da expressão de OprD, já que acredita-se que MexT possui uma função regulatória repressora, implicando na inibição pós-transcricional da expressão da porina OprD (Kolayli et al., 2004; Wolter et al., 2004a; El AN et al., 2005). Em mutantes nfxC, que hiperexpressam EFN foi observado o aumento da expressão de fatores de virulência em P. aeruginosa (Maseda et al., 2004). MexXY-OprM O operon mexXY, diferentemente dos outros sistemas de efluxo em P. aeruginosa, não possui o gene codificador de proteína de membrana externa. Para esta função utiliza a OprM, que exerce o mesmo papel de canal ejetor como nos outros sistemas de efluxo (Poole 2001). A deleção de mexXY aumenta a sensibilidade aos aminoglicosídeos, à tetraciclina e à eritromicina, indicando que esse sistema é responsável pela resistência intrínseca de P. aeruginosa a esses antimicrobianos (Aires et al., 1999). Quando o sistema XY está hiperexpresso foi notada uma diminuição na sensibilidade às fluoroquinolonas e, portanto, esra classe de antimicrobianos constitui substrato para este sistema (Mine et al. 1999). Mutações inativadoras no gene mexZ, localizado à montante do operon, levam a hiperexpressão de XY, em decorrência da perda de sua atividade repressora. A resistência aos β-lactâmicos, como a cefepima e a cefpiroma, está associada à 18 Revisão Bibliográfica hiperexpressão desse sistema de efluxo, sendo o principal mecanismo responsável pelo fenótipo de resistência à cefepima e sensibilidade à ceftazidima em isolados clínicos de P. aeruginosa (Masuda et al., 2000; Hocquet et al., 2006). MexJK-OprM O sistema MexJK foi identificado como resultado da exposição ao triclosan, uma droga com atividade antibacteriana, selecionando assim, a mutação do gene mexL, cujo produto de sua expressão exerce a função regulatória do operon mexJKopmD (Chuanchuen et al., 2001; Chuanchuen et al., 2005b). Esse sistema, diferentemente dos outros, utiliza diferentes proteínas de membrana externa, dependendo do composto a ser ejetado. Para a ejeção de eritromicina e tetraciclina é utilizada a OprM, enquanto que OmpH é utilizada para a extrusão de triclosan (Chuanchuen et al., 2005a). MexGHI-OpmD O sistema MexGHI-OpmD contém além dos três componentes uma pequena proteína, MexG, cuja função é desconhecida. Esse sistema confere resistência à norfloxacina, brometo de etídio, acriflavina e rodamina 6G (Aendekerk et al., 2002). MexVW-OprM O MexVW foi o sistema de efluxo da família RND mais recentemente caracterizado e confere resistência às fluoroquinolonas, à tetraciclina, ao cloranfenicol, à eritromicina, ao brometo de etídio e à acriflavina (Li et al., 2003). 3.3.3 Impermeabilidade de Membrana Externa As bactérias Gram negativas possuem em sua composição uma membrana externa que fisiologicamente, caracteriza-se por ser a primeira linha de defesa contra compostos tóxicos. Esta membrana é composta por fosfolipídeos, lipopolissacarídeos e por proteínas de membrana externa (OMP, outer membrane protein) (Hancock & Brinkman, 2002). As OMPs, conhecidas como porinas, são responsáveis por controlar a passagem, seletiva, de compostos, incluindo os antimicrobianos. Essas proteínas 19 Revisão Bibliográfica formam canais constituídos de água no seu interior, permitindo a difusão passiva de solutos hidrofílicos e a extrusão de produtos não utilizados pela célula bacteriana (Nikaido, 1994). A perda das porinas ou até mesmo a diminuição da expressão dos genes codificadores destas, acarretam a redução da entrada do antimicrobiano na célula, diminuindo assim, a sua concentração interna e contribuindo para o mecanismo de resistência aos β-lactâmicos (Quinn et al., 1988; Hancock & Brinkman, 2002). As porinas das bactérias Gram negativas vem sendo classificadas segundo sua atividade, estrutura funcional, regulação e expressão (Pagès et al., 2008). Em isolados de P. aeruginosa diferentes porinas podem ser encontradas, como, OprC, OprD, OprE e OprF (Fung-Tomc et al., 1995, Huang & Hancock, 1996, Livermore, 2001). OprF é a porina mais abundante na membrana externa de P. aeruginosa, sendo provavelmente a mais utilizada na difusão dos β-lactâmicos para o interior da célula. Muitos estudos sugerem que a OprF se assemelha a OmpA de E. coli na estrutura e também na função (Hancock & Brinkman, 2002). OprC e OprE são canais inespecíficos (Vila & Marco, 2002). A OprD (conhecida também por D2) é uma porina, de aproximadamente 46 kDa, substrato-específica que facilita a difusão de aminoácidos e antimicrobianos para dentro da célula. A principal função fisiológica da OprD é permitir a passagem passiva dos aminoácidos básicos através da membrana externa. Esta porina é capaz de permitir a entrada de carbapenens, mas não de outros β-lactâmicos (Yoshihara et al., 1996). A perda da OprD ou a expressão reduzida do gene oprD, tem contribuído para a resistência ao imipenem (Livermore, 2001). Estudos revelaram que os loops 2 e 3 da proteína OprD são a entrada e/ou sítio de ligação para o imipenem. Assim, qualquer mutação ou deleção nesses loops, poderia resultar na resistência ao imipenem (Ochs et al., 2000; Pirnay et al., 2002; Chevalier et al., 2007). Sua associação com à hiperexpressão de sistemas de efluxo, acarreta na diminuição significativa da sensibilidade de P. aeruginosa a essa classe de antimicrobianos, afetando mais o imipenem que o meropenem (Lister et al., 2009; Köhler et al., 1999). Vários estudos 20 Revisão Bibliográfica demonstraram a seleção de isolados com mutações na OprD durante o tratamento com imipenem das infecções causadas por P. aeruginosa (Cometta et al., 1994; Jaccard et al., 1998; Zanetti et al., 2003). A afinidade e a capacidade de difusão do imipenem através desta porina são quase setenta vezes mais elevadas que para o meropenem (Nikaido et al., 1991). Enquanto a concentração inibitória mínima (CIM) de imipenem dos isolados oprD mutantes variam na faixa de 8 - 32 μg/mL as CIMs para meropenem são 2 - 4 μg/mL (Köhler et al., 1999,. Pai et at., 2001). Um estudo, demonstrou a presença de 19 proteínas com similaridade à porina OprD. Pela análise filogenética foi possível identificar dois grupos distintos, sendo um grupo menor que possuía alta similaridade com a porina OprD e um outro grupo que possuia maior semelhança com a porina Phak de P. putida. Seis proteínas descritas em P. aeruginosa (OpdJ, OpdI, OpdR, OpdO, OpdD e OpdQ) parecem ter surgido a partir de eventos de duplicação, apresentando funções exclusivas para P. aeruginosa. Além disso, nenhuma dessas seis proteínas homólogas a porina OprD foram relacionadas à resistência aos antimicrobianos até o momento (Tamber et al., 2006). A resistência antimicrobiana mediada por OprD pode envolver mecanismos que diminuem a transcrição do gene oprD e/ou mutações que podem interromper o funcionamento da porina na membrana externa (Lister et al., 2009). Alguns desses mecanismos já foram caracterizados, sendo: (i) interrupção da transcrição da porina, por meio de inserções e deleções na região à montante do gene promotor oprD; (ii) transcrição imatura do gene oprD; (iii) deficiência na função da porina causada por mutações, inserções e/ou deleções do gene e a presença de “stop codons”; (iv) e disrruptura estrutural do gene oprD pela adição de elementos de inserção. Assim como, a diminuição da transcrição por corregulação com mecanismos que conferem resistência a metais ou com o sistema de efluxo MexEF-OprN (Evans & Segal, 2007; Wolter et al., 2004b; Perron et al., 2004; Caille et al., 2007; Lister et al., 2009). 21 Revisão Bibliográfica A perda de porinas menos específicas, pode afetar o transporte de pequenos agentes hidrofílicos, tais como os aminoglicosídeos, as tetraciclinas e o cloranfenicol (Zavascki et al.,2010). 3.3.4 Alteração das Proteínas Ligadoras de Penicilinas (PBPs) As proteínas ligadoras de penicilinas (PBPs) constituem o sítio de ação para a classe de antimicrobianos dos β-lactâmicos. Essas enzimas estão envolvidas nas etapas finais da síntese do peptideoglicano, sítio onde se ligam covalentemente aos βlactâmicos impedindo a formação da parede celular e levando à lise osmótica da célula (Strateva & Yordanov, 2009). O número de PBPs pode variar de acordo com cada espécie e são denominadas numericamente de acordo com o peso molecular; quanto maior o peso molecular, menor a numeração que recebem (Poole 2004; Zapun et al., 2008). Sete PBPs diferentes já foram descritas em P. aeruginosa, são elas: 1a, 1b, 2, 3, 4, 6 e 7. As PBP-1a, -1b, -2 e -3 desempenham funções essenciais e não essenciais para a viabilidade da célula. Os carbapenens possuem afinididade pela PBP-2, enquanto as cefalosporinas se ligam à PBP-3 (Poole, 2004; Strateva & Yordanov 2009; Zavascki et al., 2010). Apesar de relatos pouco frequentes, alterações nas PBPs já foram descritas em isolados clínicos de P. aeruginosa. Alteração na PBP-4 em isolados de P. aeruginosa após tratamento com imipenem e com piperacilina/tazobactam. E a associação da produção da PBP-3 aumentada com a resistência aos β-lactâmicos (Farra et al., 2008). Em 2012, Moyá e colaboradores notaram uma tendência para o aumento da expressão da PBP-2 (imipenem) e da PBP-3 (ceftazidima e imipenem) em isolados de P. aeruginosa apresentando resistência aos β-lactâmicos. 3.3.5 Resistência aos Aminoglicosídeos A resistência aos aminoglicosídeos em P. aeruginosa está frequentemente relacionada com a produção de enzimas modificadoras de aminoglicosídeos, seja pela acetilação, fosforilação e/ou adenilação. Mas pode estar relacionada também a 22 Revisão Bibliográfica alteração da permeabilidade de membrana, bombas de efluxo e, mais dificilmente, a modificação do seu sítio de ação (Vakulenko & Mobashery, 2003; Poole, 2005; Magnet & Blanchard, 2005). Existem três classes de enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (AMEs): acetiltransferases (AAC), adeniltransferases (ANT), fosfostransferases (APH). Essas enzimas são codificadas por genes localizados em plasmídeos, transposons ou integrons (Poole, 2005). AMEs são comuns em isolados de P. aeruginosa, especialmente AAC (6’)-I (resistência à tobramicina, netilmicina e amicacina); AAC (6’)-II (resistência à gentamicina, netilmicina e tobramicina); AAC (3)-I (resistência à gentamicina); AAC (3)-II (resistência à gentamicina, netilmicina e tobramicina); ANT (2’)-I (resistência à gentamicina e tobramicina) e APH(3’)-II (resistência à canamicina e neomicina (Vanhoof et al., 1993; Miller et al., 1997; Torres et al., 2000; Llano-Sotelo et al., 2002). A metilação do gene 16S rRNA surgiu recentemente como um novo mecanismo de resistência aos aminoglicosídeos em bactérias Gram negativas (Doi & Arakawa, 2007). Os genes das 16S rRNA metilases são geralmente localizados em integrons, transposons e plasmídeos. Desde sua primeira descrição em 2003, 8 genes de 16S rRNA metilase foram descritos: armA, rmtA, rmtB, rmtC, rmtD, rmtE, rmtF e npmA, de varias regiões geográficas (Yokoyama et al., 2003; Wachino & Arakawa, 2012). As 16S rRNA metilases conferem elevado nível de resistência a todos os aminoglicosídeos. Já sendo descritos em isolados de P. aeruginosa, RmtA (Yamane et al., 2004; Jin et al., 2009), RmtB (Zhou et al., 2010), RmtD (Doi et al., 2007a; Doi et al., 2007b; Lincopan et al., 2010), e ArmA (Gurung et al., 2010; Zhou et al., 2010). Sendo que a RmtD está frequentemente relacionada com a coprodução de SPM-1 e ArmA com a coprodução de IMP-1 (Doi et al., 2007a; Gurung et al., 2010). Em 2007 El' Garch e colaboradores (2007) mostraram que o acúmulo de mutações nos genes galU, nuoG, mexZ e rplY leva a um aumento progressivo na resistência aos aminoglicosídeos. Mutações no gene galU levam a alterações no LPS 23 Revisão Bibliográfica e, com isso, prejudicam a ligação dos aminoglicosídeos à superfície celular. A ausência da expressão de nuoG inativa um complexo enzimático que contribui significativamente para o gradiente eletroquímico da célula e, assim, prejudica a absorção dos aminoglicosídeos. Os genes mexZ e rplY estão envolvidos na hiperexpressão do sistema de efluxo MexXY-OprM ( El' Garch et al., 2007). 3.3.6 Resistência às Fluoroquinolonas O alvo das fluoroquinolonas nas bactérias Gram negativas são as topoisomerases tipo II (DNA-girase) e a topoisomerase IV. O principal mecanismo de resistência de P. aeruginosa as fluoroquinolonas são as mutações nos genes que codificam a DNA-girase. Essas mutações ocorrem nas regiões determinantes de resistência às quinolonas (QRDRs) dos genes gyrA e parC. O alvo principal é a gyrA, sendo as mutações no gene parC secundárias, mas geralmente associadas a níveis mais altos de resistência. Ocorrem de maneira acumulativa através de mutações simples no alvo primário da droga (Yonezawa et al., 1995; Zhao et al., 1997; Hawkey, 2003). Existem alguns relatos de sensibilidade reduzida devido a mutações no gene gyrB (Le Thomas et al., 2001). Sistemas de bombas de efluxo também estão envolvidos na resistência às fluoroquinolonas em P. aeruginosa. Enquanto cada bomba de efluxo tem um conjunto preferencial de substratos, as fluoroquinolonas são substratos para os quatro principais sistemas de efluxo identificados em P. aeruginosa (Masuda et al., 2000). Mutações nos genes reguladores mexR e nfxB, das bombas de efluxo MexAB-OprM e MexCD-OprJ, respectivamente, estão relacionados a expressão aumentada destes sistemas e envolvidos com a resistência às fluoroquinolonas (Higgins et al., 2003). Um novo membro das bombas de efluxo da família RND, MexVW-OprM, foi descrita em P. aeruginosa em 2003. Esta bomba confere resistência às fluoroquinolonas, assim como, a outras classes de drogas (Li et al., 2003). A resistência de alto nível às fluoroquinolonas em isolados de P. aeruginosa esta 24 Revisão Bibliográfica atribuída à interação das mutações no QRDR e os sistemas de bomba de efluxo (Nakajima et al., 2002; Wang et al., 2007). Recentemente, a resistência às fluoroquinolonas mediada por plasmídeos foi reportada em membros da família Enterobacteriaceae. O gene responsável por esta resistência é chamado qnr (quinolone resistance), sendo já descrito os genes qnrA, qnrS, qnrB, qnrC, qnrD e qnrVC (Ruiz et al., 2012). Em adição aos genes qnr, há também, outro gene plasmidial, chamado aac(6’)-Ib-cr, capaz de inativar por acetilação, antimicrobianos de duas classes diferentes, aminoglicosídeos e fluoroquinolonas. Duas bombas de efluxo plasmidiais, QepA e OqxAB, que atuam por um mecanismo seletivo, já foram descritas (Périchon et al., 2007; Hansen et al., 2004). No entanto, até o momento não há nenhum relato desses genes plasmidiais em isolados de P. aeruginosa (Luzzaro, 2008; Coban et al., 2011). 3.4 Opções Terapêuticas para o Tratamento das Infecções por Pseudomonas aeruginosa As opções terapêuticas para o tratamento de infecções causadas por P. aeruginosa muitas vezes são limitadas devido ao fato deste patógeno ser intrinsecamente resistente a diversos antimicrobianos. Além disso, este microrganismo é altamente adaptável às condições adversas, podendo desenvolver resistência durante a terapia antimicrobiana à maioria dos antibióticos (Carmeli et al., 1999; Tenover, 2006). Juntamente com estes fatores, o desenvolvimento de novos antimicrobianos não ocorre na mesma velocidade (World Health Organization, 2012). Os antimicrobianos da classe dos β-lactâmicos que apresentam atividade contra P. aeruginosa e podem ser utilizados clinicamente são: as penicilinas, ticarcilina e piperacilina, e suas respectivas associações com inibidores de β-lactamase (ácido clavulânico e o tazobactam); as cefalosporinas de amplo espectro como a ceftazidima, a cefepima e a cefoperazona; o monobactam aztreonam; e os carbapenens imipenem, meropenem e doripenem. 25 Revisão Bibliográfica Dentre os antimicrobianos não β-lactâmicos, podem ser utilizadas as fluoroquinolonas, entre eles, ciprofloxacina, levofloxacina e moxifloxacina e em associação aos β-lactâmicos, os aminoglicosídeos, como, gentamicina, tobramicina e amicacina, na tentativa de potencializar a atividade antimicrobiana e de evitar o desenvolvimento de resistência (Giamarellou & Kanellakopoulou, 2008; Pappas et al., 2009). No entanto, no panorama atual de resistência em P. aeruginosa, o tratamento se restringe muitas vezes a drogas com alta toxicidade, como as polimixinas B e E (colistina) (Zavascki et al., 2010). 26 Material e Métodos 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Amostras Bacterianas Foram avaliadas 25 (vinte e cinco) amostras clínicas de P. aeruginosa isoladas de diferentes sítios de infecção (Tabela 1) de três diferentes hospitais da cidade de São Paulo. Os isolados foram previamente triados como resistentes aos carbapenens e sensíveis as cefalosporinas de amplo espectro, e assim, foram encaminhados ao Laboratório ALERTA para caracterização dos mecanismos envolvidos neste fenótipo. Tabela 1. Isolados de P. aeruginosa selecionados para este estudo de acordo com o sítio de Infecção e os Hospitais de isolamento. Isolados Número do Banco Iniciais do Paciente Data de coleta Sítio de Infecção Hospital de Procedência P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 P12070 P12119 P12255 P12249 P12713 P12714 P12715 P12716 P12717 P12718 P12719 P12720 P12721 P12722 P12723 P12724 P12725 P12726 P12727 P12728 P12729 P12730 P12731 P12732 P12733 J.A.N. J.A.O. J.D.T. A.E. A.C.C. A.C.C. M.R.V. C.S.S. A.C.C. I.R. V.A.B. V.A.B. A.C.L. V.A.B. D.G.O. B.S. B.S. SN_M.F.O.S. A.R.P.G C.S.F. A.C.L. D.S.L. A.J. M.J.S. SN_M.F.O.S. 07.05.12 13.06.12 14.09.12 04.06.12 28.01.13 28.01.13 28.01.13 31.01.13 04.02.13 07.02.13 08.02.13 08.02.13 09.02.13 17.02.13 19.02.13 19.02.13 21.02.13 24.02.13 24.02.13 25.02.13 01.03.13 01.03.13 02.03.13 11.03.13 13.03.13 Secreção Traqueal Secreção Traqueal Urina Secreção Traqueal Ponta de Cateter Ponta de Cateter Urina Hemocultura Ponta de Cateter Urina Secreção Traqueal Secreção Traqueal Lavado Bronco-Alveolar Secreção Traqueal Secreção Traqueal Secreção Traqueal Lavado Bronco-Alveolar Urina Secreção Traqueal Secreção Traqueal Secreção Traqueal Ponta de Cateter Urina Secreção Traqueal Hemocultura H1 H1 H1 H2 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 H3 27 Material e Métodos As amostras clínicas de P. aeruginosa avaliadas neste estudo foram isoladas em três hospitais terciários, que atendem casos de alta complexidade na cidade de São Paulo. Os três hospitais situam-se na Zona Sul da cidade e estão contidos em um raio de aproximadamente 4 Km. As amostras foram posteriormente bancadas em Tryptic Soy Broth – TSB (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) com 15% de glicerol a -70ºC, no banco de microrganismos do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica (LEMC) e subcultivadas por duas vezes em ágar sangue antes da realização dos testes, para a garantia da pureza e viabilidade das amostras. 4.1.1 Identificação dos isolados de P. aeruginosa por Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) A identificação dos isolados de P. aeruginosa foi confirmada pela técnica de Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry (MALDITOF MS) de acordo com o estabelecido por Claydon e colaboradores (1996), que consiste em identificar o gênero e a espécie do microrganismo estudado através da ionização de suas proteínas por tiros de raio laser. A extração das proteínas foi feita de acordo com as normas do fabricante (Bruker Daltonics, Bremen, Alemanha). Em um tubo de microcentrífuga, 20 colônias foram diluídas em 300 µL de água destilada, agitada e em seguida foram adicionados 900 µL de etanol absoluto. A mistura foi submetida à agitação cuidadosa e centrifugada a 13.000 rpm durante 2 minutos. O sobrenadante foi descartado e o sedimento foi ressuspenso em 50 µL de ácido fórmico à 70% (v/v), com formação de bolhas. Após, foi acrescentado a essa suspensão 50 µL de acetonitrila pura e a mistura homegeneizada. Esta solução foi centrifugada a 13.000 rpm durante 2 minutos. Um volume de 1 µL do extrato de proteínas, em triplicata, de cada amostra foi colocada em uma placa de aço inoxidável fornecida pelo fabricante e após a secagem à temperatura ambiente, foi acrescentado 1 µL de matriz (ácido α-ciano-4hidroxicinâmico, HCCA - 10 mg/mL; Bruker Daltonics, Bremen, Alemanha) em todas 28 Material e Métodos as amostras, incluindo o calibrante. Após secar a temperatura ambiente, a placa foi colocada no aparelho Bruker Daltonics Microflex LT MALDI-TOF para a leitura (Bruker Daltonics, Bremen, Alemanha). Os espectros de massa gerados para cada amostra foram comparados com uma série de espectros depositados no banco de dados do software Biotyper MALDI 2.0 (Bruker Daltonics, Bremen, Alemanha) para a determinação do gênero e da espécie bacteriana. A interpretação dos critérios de identificação bacteriana utilizados foram aqueles especificados pelo próprio fabricante, onde: scores ≥ 2.300 foram considerados como identificação altamente confiável para a espécie (+++), entre 2.000 e 2.299 foram consideradas como indentificação confiavél para o gênero bacteriano e provável para espécie bacteriana (++). Scores entre 1.700 e 1.999 foram considerados como identificação confiável apenas para o gênero bacteriano (+), enquanto scores de identificação abaixo de 1.699 foram considerados como não confiáveis (-), não sendo possível realizar a identificação bacteriana. 4.2 Avaliação do Perfil de Sensibilidade in vitro aos antimicrobianos O perfil de sensibilidade aos antimicrobianos foi determinado pela técnica de microdiluição em caldo de acordo com as recomendações do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). Os agentes antimicrobianos testados foram: amicacina (Sigma-Aldrich, St. Louis, USA), aztreonam (Bristol-Myers Squibb, Nova York, EUA), ceftazidima (Strides Arcolab, Bangalore, Índia), cefepima (Bristol-Myers Squibb, Nova York, EUA), ciprofloxacino (Fresenius Robi, Alemanha), gentamicina (Sigma-Aldrich, St. Louis, USA), imipenem (Merck Sharp, Nova Jersey, EUA), meropenem (Astra Zeneca, Londres, Inglaterra), piperacilina/tazobactam (Novafarma, Goiás, Brasil) e sulfato de polimixina B (Sigma-Aldrich, St. Louis, USA). As concentrações testadas para cada antimicrobiano podem ser vistas na Tabela 2. 29 Material e Métodos Tabela 2. Concentrações testadas na microdiluição em caldo dos antimicrobianos utilizados no estudo. Classe Aminoglicosídeos Monobactâmico Cefalosporinas Fluoroquinolonas Carbapenens Combinação β-lactâmico/Inibidor de β-lactamase Lipopeptídeos Antimicrobianos Concentrações (μg/mL) Amicacina Gentamicina Aztreonam Ceftazidima Cefepima Ciprofloxacino Imipenem Meropenem Piperacilina/Tazobactam Polimixina B 0,125 -128 0,06 – 64 0,03 – 32 0,03 – 32 0,03 – 32 0,03 – 32 0,03 – 64 0,03 – 64 0,125/4 – 128/4 0,03 – 64 Para o controle de qualidade, foram incluídas nos testes de sensibilidade, as cepas da American Type Culture Collection (ATCC) de E. coli ATCC 25922, P. aeruginosa ATCC 27853 e Staphylococcus aureus ATCC 29213. A solução mãe de cada antimicrobiano foi preparada em água ultrapura, numa concentração 200 vezes superior aquela desejada na placa de microdiluição, e diluída 1:10 em caldo Mueller-Hinton – MH (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) para obtenção da maior concentração de cada antimicrobiano a ser testado. A partir dessa diluição, foram realizadas diluições seriadas e 100 μL de cada diluição foi dispensado na placa de microdiluição. As placas foram armazenadas em freezer -70°C até a realização dos testes, exceto para os carbapenens (imipenem e meropenem) e polimixina B. Após o crescimento bacteriano em placas de ágar sangue por 18 horas, 3 a 5 colônias isoladas foram transferidas para tubos contendo 5 mL de caldo MH a uma turbidez correspondente à escala 0,5 de McFarland (1.5 x 108 UFC/mL). Um volume de 32 μL da suspensão bacteriana foi diluído em 968 μL de caldo MH fresco. Posteriormente, 500 μL desta suspensão foi transferido para um tubo contendo 4,5 mL de caldo MH, para obtenção de uma concentração bacteriana em torno de 5 x 105 UFC/mL. Um volume de 100 µL desse inóculo bacteriano foi utilizado para inocular a placa de microdiluição contendo 100 µL dos antimicrobianos a uma concentração duas vezes maior que a concentração desejada, de modo que a 30 Material e Métodos concentração final bacteriana foi de aproximadamente 2,5 x 105 UFC/mL. As placas foram incubadas a 37 °C, em aerobiose por 16-20 horas. Após esse período a leitura foi realizada por inspeção visual. A concentração inibitória mínima (CIM) foi considerada como a menor concentração capaz de inibir completamente o crescimento bacteriano. Após o resultado final, as amostras foram classificadas como sensíveis (S), intermediárias (I) ou resistentes (R) aos antimicrobianos testados de acordo com os critérios estabelecidos pelo CLSI para P. aureginosa (CLSI, 2013) (Tabela 3). Tabela 3. Pontos de cortes utilizados para a interpretação das CIMs de P. aeruginosa segundo o CLSI 2013. Antimicrobianos Amicacina Gentamicina Aztreonam Ceftazidima Cefepima Ciprofloxacino Imipenem Meropenem Piperacilina/tazobactam Polimixina B 4.3 Breakpoints (μg/mL) Sensível Intermediário Resistente ≤16 ≤4 ≤8 ≤8 ≤8 ≤1 ≤2 ≤2 ≤16/4 ≤2 32 8 16 16 16 2 4 4 32/4 – 64/4 4 ≥64 ≥16 ≥32 ≥32 ≥32 ≥4 ≥8 ≥8 ≥128/4 ≥8 Análise da relação genética por Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE) Para avaliar a relação genética entre os isolados de P. aeruginosa avaliados neste estudo foi utilizada a técnica de análise do DNA cromossômico por eletroforese de campo pulsado Pulsed-Field Gel Electrophoresis – PFGE (Pfaller et al. 1992), com o objetivo de verificar se a disseminação de um clone não poderia ser responsável pelo perfil de resistência encontrado. 31 Material e Métodos 4.3.1 Preparação dos blocos de gel de agarose As amostras foram incubadas por 18-24 horas em 10 mL de caldo Luria-Bertani – LB (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) e, então, centrifugadas por 20 minutos a 3.000 rpm. O sobrenadante foi desprezado e o precipitado, contendo as células bacterianas, diluído em 1 mL de solução salina 0,85% (m/v) , homogeneizado e transferido para tubo de microcentrífuga previamente pesado. Os tubos foram centrifugados por 5 minutos a 12.000 rpm e o sobrenadante removido. O material centrifugado (sedimento bacteriano) foi diluído em solução salina, na proporção 1:1 entre o volume do diluente e o peso do material obtido pela centrifugação, calculado pela diferença de peso do microtubo previamente pesado e do peso do mesmo contendo o pellet. Após minuciosa homogeneização, 40 L da mistura foi transferido para outro tubo contendo 300 L de tampão TEN (Tris 100 mM pH 7,5; EDTA 100 mM, NaCl 150 mM) e 340 L de agarose de baixo ponto de fusão foi adicionado e aplicado em moldes para a formação de blocos de gel contendo as células bacterianas. Após solidificação a temperatura ambiente por alguns minutos, os blocos foram incubados a 37 ºC, por no mínimo 4 horas em solução EC (Tris 6 mM pH 6,5, NaCl 1 M; EDTA 0,01 M, Brij 58 0,5%, Sarcosil 0,5% e Deoxiglicolato 0,2%). A solução EC foi removida e substituída por 2 mL de solução ES (EDTA 0,4 M pH 9,3 e Sarcosil 10%) contendo 1 mg/mL de proteinase K (USB Corporation, Cleveland, EUA). As amostras, então, foram incubadas por 12 horas a 50ºC. Após o tratamento com proteinase K, foram realizadas quatro lavagens com CHEF-TE (Tris 0,1 M pH 7,5, EDTA 0,1 M), de 30 a 60 minutos cada. Os blocos foram armazenados em CHEF-TE, a 5 oC, até o momento da digestão do DNA bacteriano. 32 Material e Métodos 4.3.2 Digestão do DNA bacteriano O DNA bacteriano contido nos blocos de agarose foi submetido à clivagem com SpeI, a 37 ºC por 12-18 horas, de acordo com instruções do fabricante (New England Biolabs, Ipswich, EUA). 4.3.3 Eletroforese em campo pulsátil A eletroforese foi realizada em gel de agarose 1%, em TBE 0,5x (Tris 0,089 M, ácido bórico 0,089 M e EDTA 0,002 M), no sistema CHEF-DR III (BioRad Laboratories, Califórnia, EUA) à temperatura de 13oC e utilizando corrente elétrica de 200 Volts (6V/cm). O gel foi corado com brometo de etídio 0,08 μL/mL e fotografado sob iluminação ultravioleta em transiluminador (BioRad Laboratories, Califórnia, EUA). O gel foi analisado utilizando os critérios de Tenover et al. (1995) e pelo programa BioNumerics versão 5.0 (Applied Maths, Kortrijk, Belgium) para avaliar o grau de similaridade genética entre os isolados avaliados. Segundo Tenover e colaboradores (1995), as amostras foram consideradas idênticas quando apresentaram perfil eletroforético idêntico (todas as bandas). As amostras que apresentaram diferenças do perfil de até seis bandas foram consideradas semelhantes (subtipos) e pertencentes a um mesmo clone. As amostras que apresentaram sete ou mais bandas discordantes foram consideradas amostras genotipicamente distintas. No programa BioNumerics, a definição de bandas foi realizada automaticamente pelo programa e depois conferida individualmente, por comparação visual. O coeficiente de similaridade que foi utilizado é o coeficiente de Dice (Dice, 1945). O dendrograma foi construído utilizando o algoritmo de análise filogenética UPGMA - Unweighted Pair-Groups Method using arithmetic averages (Sneath & Sokal, 1973). Os valores de otimização e tolerância utilizados para o conjunto de isolados foram de 0,8% e 1,0%, respectivamente. Amostras com coeficiente de similaridade acima de 80% foram consideradas relacionadas e pertencentes ao mesmo clone “cluster”. 33 Material e Métodos 4.4 Focalização do ponto isoelétrico (pI) Para focalização do pI foram utilizados extratos proteicos dos isolados de P. aeruginosa. As amostras bacterianas foram cultivadas em ágar sangue para isolamento de colônias. Com o auxilio da alça de semeadura, 10 a 15 colônias foram suspensas em 10 mL de TSB e incubadas por 18 horas a 37 °C. Apos a incubação, as amostras foram centrifugadas por 15 minutos a 3.000 rpm e o centrifugado foi ressuspenso em 1 mL de tampão (Tris HCl 1mM e ZnSO4 1mM). O inóculo foi ultrasonicado quatro vezes por 30 segundos, com amplitude de até 40% (Sonics Vibra CellTM; Newtown, EUA), e centrifugado a 13.000 rpm por 15 minutos a 4 °C. O sobrenadante foi transferido para um novo tubo e as amostras mantidas no gelo até o momento do ensaio. Um volume de 10 μL do extrato proteico bruto contendo as possíveis βlactamases foi misturado em placa de microdiluição com β-lactâmico cromogênio, nitrocefin (Nitrocefin 0,5 mg/mL, pH 7.0). Um volume de 1 μL, 3 μL, 5μL, 7 μL e 10 μL do extrato proteico foi pipetado gradativamente nas células que continham nitrocefin, para a determinação do volume adequado a ser utilizado de cada amostra no gel de pI. A focalização foi realizada em géis de poliacrilamida com intervalo de pH entre 3,5 - 9,5 (Amersham Pharmacia Biotech, NJ, EUA), utilizando o sistema Multiphor II Electrophoresis System (Pharmacia Biotech), seguindo os parâmetros de corrida eletroforética adequados ao intervalo de pH presente no gel. O gel foi revelado com 500 mM de nitrocefin (Becton Dickinson Microbiology Systems, Cockeysville, MD). O extrato proteico de bactérias sabidamente produtoras de β-lactamases com pontos isoelétricos conhecidos foram utilizados como controles (TEM-1, pI = 5,4; FOX-5, pI = 7,2; SHV-5, pI =7,8), e o posicionamento das bandas foi utilizado para cálculo do pI das β-lactamases presentes nas amostras testadas utilizando o teste de regressão linear do pacote de análises estatísticas do programa Excel (Microsoft™, Washington, EUA). 34 Material e Métodos 4.5 Teste in vitro de Hidrólise aos Carbapenens A hidrólise dos carbapenens foi utilizada para a detecção da atividade enzimática nos isolados de P. aeruginosa. Como controles positivos foram utilizadas as cepas de K. pneumoniae produtora de KPC-2 e de A. baumannii produtora de OXA23. Foram utilizadas duas técnicas distintas: espectrofotometria e espectrometria de massas. 4.5.1 Teste de Hidrólise Enzimática por Espectrofotometria Após o isolamento da amostra em ágar MacConkey – MC (Oxoid, Basingstoke, United Kingdom) 10 colônias foram inoculadas em 10 mL de caldo TSB contendo 0,5 µg/mL de imipenem, em estufa a 37 °C em agitação durante 12 horas. A suspensão bacteriana foi centrifugada por 15 minutos a 6.000 rpm, e, em seguida, o sobrenadante foi desprezado e o sedimento ressuspendido em 1 mL de tampão de amostra (TrisHCL 1mM e ZnSO4 1mM, pH 7,0). As amostras suspensas, então, foram ultrasonicadas 30 segundos por 4 vezes, e o produto centrifugado a 13.000 rpm por 3 minutos a 4 ºC. O sobrenadante foi transferido para um novo tubo e as amostras mantidas no gelo até o momento do ensaio. Uma solução de imipenem e meropenem foi então preparada em tampão de amostra de forma a se obter 1,5 a 2 unidades de absorbância a um comprimento de onda de 299 nm. Para o teste, foi adicionado a uma cubeta de quartzo 940 μL de tampão de amostra e 50 μL do extrato proteico. Esta mistura foi homogeneizada através de inversão da cubeta e a leitura de absorbância foi zerada. A seguir, 10 μL da solução do antimicrobiano foi adicionado a cubeta, e após nova homogeneização, o monitoramento da absorbância da solução foi realizado no espectrofotômetro Biomate 5 UV Visible (Termo Spectronic, Cambridge, Inglaterra) por 5 minutos a 299 nm. A diminuição gradativa da absorbância e valores negativos de variação de absorbância (Δabs/min, calculada por meio da diferença entre o valor de absorbância final e absorbância inicial após 5 minutos) foi considerada resultados positivos, isto é, hidrólise do agente β-lactâmico por uma carbapenemase. 35 Material e Métodos 4.5.2 Teste de Hidrólise por Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) Após o isolamento da amostra em ágar MH (Oxoid, Basingstoke, United Kingdom), 25 colônias foram inoculadas em 1 mL de tampão de solução (Tris-HCl 20 mM, pH 6,8) contendo 1 mg/ml de imipenem e incubada por 2 horas, sob agitação. A suspensão bacteriana foi centrifugada a 13.000 rpm por 5 minutos, e, em seguida, 1 µl do sobrenadante, em triplicata, de cada amostra foi colocada em uma placa de aço inoxidável fornecida pelo fabricante e após a secagem em temperatura ambiente, acrescentado 1 µl de matriz (ácido α-ciano-4-hidroxicinâmico, HCCA - 10 mg/mL; Bruker Daltonics, Bremen, Alemanha) sobre todas as amostras como recomendado pelo fabricante. Após secar a temperatura ambiente, a placa foi colocada no aparelho Bruker Daltonics Microflex LT MALDI-TOF para a leitura (Bruker Daltonics, Bremen, Alemanha). A hidrólise do imipenem foi considerada positiva se o pico de massa da molécula intacta (300,4 m/z) desapareceu e nenhum pico adicional foi observado (Sparbier et al., 2011) 4.6 Detecção de Genes Codificadores de β-lactamases 4.6.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) A pesquisa dos genes de resistência aos antimicrobianos codificados por βlactamases e carbapenemases foi realizada pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) convencional ou multiplex, de acordo com os genes pesquisados. O DNA das amostras bacterianas foi extraído utilizando o kit QIAamp DNA Mini Kit (Quiagen, Courtaboeuf, France) de acordo com as recomendações do fabricante. Para cada reação foram utilizados 50 ƞg do DNA das amostras estudadas para as reações de PCR. As reações de PCR foram preparadas em fluxo laminar, com volume final igual a 50 µL, contendo: 25 µL de master-mix 2x (GoTaqR Green Master Mix, Promega, Madison, EUA), 1.25 µM de cada oligonucleotídeo iniciador (Integrate DNA 36 Material e Métodos Technologies, IDT, EUA); água estéril (Water, Molecular Biology Grade, Eppendorf AG, Hamburg, Alemanha) q.s.p 50 µL. Foram pesquisados os genes codificadores de: (a) cefalosporinases (blaAMPC); (b) serino-β-lactamases (blaTEM, blaSHV, blaGES, blaCTX-M, blaBES, blaPER, blaKPC, blaSME); (c) oxacilinases (blaOXA-1, blaOXA-2, blaOXA-3, blaOXA-5, blaOXA7, blaOXA-18, blaOXA-45, blaOXA-46, blaOXA-50, blaOXA-23, blaOXA-24, blaOXA-51, blaOXA-58, blaOXA-20, blaOXA-48, blaOXA-62, blaOXA-143, blaOXA-198); (d) metalo-β-lactamases (blaIMP, blaVIM, blaSPM, blaGIM, blaSIM, blaNDM) e (e) integrons de classe 1. As condições de termociclagem do DNA (Eppendorf, Hamburg, Alemanha) e os oligonucleotídeos iniciadores, selecionados de acordo com os genes pesquisados, estão apresentados na Tabela 4 e 5. A revelação dos produtos da PCR foi realizada por meio de eletroforese em gel de agarose (UltrapureTM Agarose, Invitrogen, Carlsbad, EUA), sendo utilizada a concentração de 2% para PCR multiplex e 1% para PCR convencional. As condições de corrida foram: 110 V por 40 minutos em tampão TBE 0,5X (89 nM Tris-Borato e 2 mM EDTA pH 8.0). Como marcador de peso molecular, foi utilizado DNA ladder 100 pares de base (Invitrogen, Carlsbad, EUA). O gel foi corado com brometo de etídio (2,5 μg/mL) e as bandas foram visualizadas sob luz ultravioleta - 320 nm (GelDoc Quantity One; Bio-Rad Laboratories, EUA). As cepas controle utilizadas nas reações de PCR estão listadas na Tabela 6. 37 Material e Métodos Tabela 4. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados para a amplificação dos genes codificadores de β-lactamases pela técnica de PCR convencional e/ou Sequência (5’ – 3’) PreAmpC ATG CAG CCA ACG ACA AAG G PCR convencional Serino-βlactamases Serino-β-lactamases Oligonucleotídeos iniciadores PCR multiplex Tipo de reação de PCR PCR convencional AmpC multiplex neste estudo. Gene alvo blaAMPC PostAmpC CGC CCT CGC GAG CGC GCT TC MTEM F CCC TTA TTC CCT TTY TTG CGG MTEM R AAC CAG CCA GCC WGA AGG MSHV F CTT GAC CGC TGG GAA ACG G MSHV R AGC ACG GAG CGG ATC AAC GG MGES F AGC AGC TCA GAT CGG TGT TG MGES R CCG TGC TCA GGA TGA GTT G MCTX-1 e 2 F ATG TGC AGY ACC AGT AA MCTX-1 e 2 R CGC TGC CGG TTT TAT CSC CC MCTX-8 F AAC RCR CAG ACG CTC TAC MCTX-8 R TCG AGC CGG AAS GTG TYA T MCTX-14 F GGT GAC AAA GAG ART GCA ACG GAT MCTX-14 R TTA CAG CCC TTC GGC GAT GA BES-F GGC GCA ATA CAA CGA AGG BES-R ATC TTG CAG TAC CAG TCG PER-F CGC TTC TGC TCT GCT GAT Amplicom (pb) 1.243 Condições de termociclagem Referência Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 54ºC - 30 s Extensão: 72ºC – 45s Rodríguez-Martínez et al. 2009a 30 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. blaTEM-like 650 blaSHV-like 200 blaGES-like 750 blaCTX-M-1 876 blaCTX-M-8 512 blaCTX-M-14 333 Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 54ºC - 30 s Extensão: 72ºC – 45s Este estudo 30 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Denaturação: 94ºC – 10 min blaBES 227 Denaturação: 94ºC – 30 seg Anelamento: 53ºC – 1 min Este estudo Extensão: 72ºC – 1 min blaPER 500 35 ciclos 38 Contexto genético PCR convencional PCR convencional Oxacilinase PCR Multiplex Oxacilinases Material e Métodos PER-R GGCAGCTTCTTTAACGCC OXA-1_multi-F TAT CTA CAG CAG CGC CAG TG OXA-1_multi-R TGC ACC AGT TTT CCC ATA CA OXA-2_multi-F CGA TAG TTG TGG CAG ACG AA OXA-2_multi-R TCT TTG CAC GCA GTA TCC AG OXA-5_multi-F TGG CAC AGA ATC AAG TCC TG OXA-5_multi-R TTG CCA TGA TTT TCG TTG AA OXA-7_multi-F TTT TCA AAT GGG ACG GAA AG OXA-7_multi-R CCA CTT GAT TAA CTG CGG AAA OXA-18_multi-F ATG CAA CGG AGC CTG TCC OXA-18_multi-R GGC AGG GTG TTG AGG AAC T OXA-45_multi-F GCA GAT GCT CGA ATG CAC OXA-45_multi-R GGC AAT GCC TTG AGG AAG OXA-46_multi-F GAT CAG CGA TGC GAA ATT CT OXA-46_multi-R ACC AGC CAA ACC TGC CTT C OXA-50_seq-F ATG CGC CYY CTC YTC TTS Extensão final: 72ºC – 10 min. blaOXA-1-like 601 blaOXA-2-like 504 blaOXA-5 146 blaOXA-7-like 237 blaOXA-18 806 blaOXA-45 705 blaOXA-46-like 318 blaOXA-50-like OXA-50_seq-R TCA GGG CAG YAY SCC SAG RG IntI-1-F GCC TGT TCG GTT CGT AAG CT Intl1 QAC-R CGG ATG TTG CGA TTA CTT CG QacE∆1 789 Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 58ºC - 30 s Extensão: 72ºC - 1 min Este estudo 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 55ºC - 30 s Extensão: 72ºC - 1 min Este estudo 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. - Desnaturação: 94ºC - 10 min Desnaturação: 94ºC - 30 s Anelamento: 54ºC - 30 s Extensão: 72ºC - 2 min e 30 s 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Toleman et al., 2006 39 Material e Métodos Tabela 5. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados para a amplificação dos genes codificadores de β-lactamases tipo carbapenemase neste estudo pela técnica de PCR convencional e/ou multiplex. Metallo-βlactamases PCR multiplex PCR convencional Serino-βlactamases PCR convencional Metallo-β-lactamases Tipo de reação de PCR Oligonucleotídeos iniciadores Sequência (5’ – 3’) IMP-F1 mult GAA TAG RRT GGC TTA AYT CTC IMP-R1 mult CCA AAC YAC TAS GTT ATC Gene alvo Amplicom (pb) blaIMP-like 188 blaSPM-1 382 blaSIM-1 798 SPM-F1 mult CTA AAT CGA GAG CCC TGC TTG SPM-R1 mult CCT TTT CCG CGA CCT TGA TC SIM-F1 mult GTA CAA GGG ATT CGG CAT CG SIM-R1 mult TGG CCT GTT CCC ATG TGA G VIM-F2 mult GTT TGG TCG CAT ATC GCA AC VIM-R2 mult AAT GCG CAG CAC CAG GAT AG GIM-F1 mult TCA ATT AGC TCT TGG GCT GAC GIM-R1 mult CGG AAC GAC CAT TTG AAT GG 16S-8 F AGA GTT TGA TCC TGG CTC AG Controle 16S-1493 R ACG GCT ACC TTG TTA CGA CTT Interno Pre-NDM-F blaVIM-like 569 blaGIM-1 72 Pre-NDM-R CTG GGT CGA GGT CAG GAT AG KPC-F TCG CTA AAC TCG AAC AGG KPC-R TTA CTG CCC GTT GAC GCC CAA TCC SME-F AAC GGC TTC ATT TTT GTT TAG SME-R GCT TCC GCA ATA GTT TTA TCA Referência Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 52ºC - 30 s Extensão: 72ºC – 45 s 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Mendes et al., 2007 1.000 GGC GTT AGA TTG GCT TAC ACC blaNDM-like Condições de termociclagem 1.146 Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 54ºC - 30 s Extensão: 72ºC – 1min 30 s Este estudo 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. blaKPC blaSME 762 830 Denaturação: 94ºC – 10 min Denaturação: 94ºC – 30 seg Anelamento: 53ºC – 1 min Extensão: 72ºC – 1 min 35 ciclos Extensão final: 72ºC – 10 min. Este estudo 40 PCR convencional Oxacilinases PCR Multiplex Oxacilinases Material e Métodos OXA 23-F GAT CGC ATT GGA GAA CCA GA OXA 23-R ATT TCT GAC CGC ATT TCC AT OXA 24-F GGT TAG TTG GCC CCC TTA AA OXA 24-R AGT TGA GCG AAA AGG GGA TT OXA 51-F TAA AGC TTT GAT CGC CCT TG OXA 51-R TGG ATT GCA CTT CAT CTT GG OXA 58-F AAG TAT TGG GGC TTG TGC TG OXA 58-R CCC CTC TGC GCT CTA CAT AC OXA-20_seq-F TTG ATA ATC CGA TTT CTA GCA CTG OXA-20_seq-R CTA GTT GGG TGG CAA AGC AT OXA-48-F TTGGTGGCATCGATTATCGG OXA-48-R GAGCACTTCTTTTGTGATGGC OXA-62-F ACG CAC GCA AAC CTA TCA blaOXA-23 501 blaOXA-24 246 blaOXA-51 353 blaOXA-58 599 blaOXA-20-like 801 blaOXA-48 743 Denaturação: 94ºC – 25 seg Anelamento: 52ºC – 40 seg Extensão: 72ºC – 50 seg Woodford et al., 2006 35 ciclos Extensão final: 72ºC – 6 min. Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 54ºC - 30 s Extensão: 72ºC - 1 min 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 45 s Anelamento: 57ºC - 45 s Extensão: 72ºC - 1 min blaOXA-62 OXA-62-R Denaturação: 94ºC – 5 min Este estudo Poirel et al., 2004b Schneider et al. 2006 35 ciclos ATG TTG ATC GCG ACG CTG Extensão final: 72ºC - 10 min. PreOXA-143 A AGT TAA CTT TCA ATA ATT G PreOXA-143 B TTG GAA AAT TAT ATA ATC CC OXA-198_seq-F ATG CAT AAA CAC ATG AGT AAG CTC OXA-198_seq-R TTA TTC GAT GAT CCC CTT TGC blaOXA-143 blaOXA-198 789 Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 54ºC - 30 s Extensão: 72ºC - 1 min 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Higgins et al., 2009 Este estudo 41 Material e Métodos Tabela 6. Cepas controles utilizadas neste estudo para a detecção de genes codificadores das -lactamases e carbapenemases, por meio da técnica de PCR convencional e/ou multiplex. a Cepa e Número do Bancoa Tipo de β-lactamase Classe Molecular de Ambler (1980) P.aeruginosa 238 AmpC C E. coli 248 TEM-1 A E. coli 282 SHV-5 A P.aeruginosa 233 GES-5 A K. pneumoniae 308 CTX-M-2 A E. cloacae 452 CTX-M-8 A E. coli 391 CTX-M-14 A S. marcescens 256 BES A P.aeruginosa 285 PER A K. pneumoniae 393 OXA-1 D P.aeruginosa 394 OXA-2 D E. coli 392 OXA-10 D P. aeruginosa 298 OXA-18 D P. aeruginosa 238 OXA-50 D P.aeruginosa 131 IMP B E. cloacae181 VIM-1 B P.aeruginosa 396 SPM-1 B P.aeruginosa 219 GIM-1 B A. baumannii 218 SIM-1 B K. pneumoniae 462 NDM B K. pneumoniae 307 KPC-2 A S. marcescens 274 SME A A. baumannii 216 OXA-23 D A. baumannii 245 OXA-25 D A. baumannii 216 OXA-51 D A. baumannii 384 OXA-58 D K. pneumoniae 283 OXA-48 D A. baumannii 422 OXA-143 D P. aeruginosa 385 OXA-161 D Número da amostra referente ao banco de microrganismos do Laboratório Alerta. 42 Material e Métodos 4.6.2 Sequenciamento As reações de PCR positivas para a pesquisa de genes codificadores de βlactamases foram confirmadas por uma segunda reação de PCR e tiveram sua sequencia determinada por sequenciamento. Oprodutos de PCR foram purificados a partir do gel de agarose com o kit QIAquick Gel Extraction, conforme as instruções do fabricante (Qiagen, Hilden, Alemanha). O DNA obtido foi quantificado utilizando o espectrofotômetro digital NanoVue Plus Spectrophotometer (GE Healthcare, Canadá) e, então, 70 ƞg de DNA foi submetido à reação de sequenciamento no ABI 3500 Genetic Analyzer (Applied Biosystems, Perkin Elmer, EUA) utilizando o kit Big Dye Terminator Cycle Sequencing (Applied Biosystems, Foster City, EUA). As sequências de DNA obtidas e as sequências proteicas derivadas foram analisadas utilizando o programa Lasergene Software Package (DNASTAR, Madison, WI) e comparadas com as sequências depositadas e publicadas nos bancos de dados disponíveis na Internet FASTA e BLAST (http://www.ebi.ac.uk/fasta33/ e http://www.ncbi.nlm.nih.gov/blast/). 4.7 Avaliação fenotípica com inibidores de sistemas de efluxo e da βlactamase cromossomal AmpC A fim de avaliar a influência dos mecanismos de resistências na CIM dos carbapenens (imipenem e meropenem) foram realizados testes de microdiluição em caldo na presença de inibidores da -lactamase cromossomal AmpC e de bombas de efluxo. Foram realizados testes iniciais que comprovaram o crescimento de todos os isolados nas concentrações utilizadas para os dois inibidores usados, a fim de avaliar se os mesmos não inibiriam o crescimento bacteriano. 43 Material e Métodos 4.7.1 Inibição da -lactamase cromossomal AmpC Para a avaliação fenotípica da desrepressão da -lactamase cromossomal AmpC, as CIMs foram determinadas para os antimicrobianos imipenem, meropenem e ceftazidima como descrito no item 4.2, na ausência e na presença do inibidor de AmpC, cloxacilina (Sigma-Aldrich Corporation, St Louis, MO, EUA) em concentrações fixas de 200 μg/mL. A diminuição da CIM ≥ 2 diluições, para a associação do antimicrobiano com cloxacilina em relação à CIM do antimicrobiano sozinho foi considerada indicativa da hiperexpressão da -lactamase cromossomal AmpC. 4.7.2 Inibição de Bombas de Efluxo O teste de inibição de bomba de efluxo foi realizado na presença de fenilalamida arginina β-nafitilamida - PAβN (Sigma-Aldrich Corporation, St Louis, MO, EUA), inibidor de sistemas de efluxo, em concentrações fixas de 50 μg/mL. As CIMs foram determinadas para os antimicrobianos imipenem, meropenem e ciprofloxacino como descrito no item 4.2, na ausência e na presença do inibidor. A diminuição da CIM ≥ 2 diluições, para a associação do antimicrobiano com PAβN em relação à CIM do antimicrobiano sozinho foi considerada indicativa da hiperexpressão dos sistemas de bombas de efluxo. 4.8 Reação em Cadeia da Polimerase de Transcriptase Reversa em Tempo Real - qRT-PCR A técnica de qRT-PCR (reação de polimerase em cadeia em tempo real) foi utilizada para detecção e quantificação da transcrição dos genes que codificam componentes dos sistemas de efluxo de P. aeruginosa avaliados, mexB, mexD, mexF, mexY. Além da determinação da expressão das proteínas dos sistemas de efluxo, foram também mensuradas as expressões da proteína de membrana externa oprD e da β-lactamase cromossomal AmpC. Os resultados foram comparados às respectivas transcrições desses genes na cepa selvagem PA01. A expressão destes mesmos 44 Material e Métodos genes na ATCC de P. aeruginosa 27853 foi comparada àquelas da cepa selvagem PA01. 4.8.1 Extração de RNA Total Os isolados foram previamente semeados em ágar sangue e incubados durante 18 - 20 horas a 37 ºC. Após esse período, estes isolados foram cultivados em 20 mL de caldo LB na presença de 0,5 µg/mL de imipenem a 37 ºC, sob agitação, até atingirem a fase logarítmica de crescimento, correspondente à de 1,5 a 2,0 unidades de absorbância a um comprimento de onda de 600 nm (DO 600nm = 0,5 – 0,6) em espectrofotômetro Biomate 5 UV Visible (Termo Spectronic, Cambridge, Inglaterra). Quando essa absorbância foi atingida, 1 mL da cultura bacteriana foi ressuspenso em 1 mL de RNA ProtectTM Bacteria Reagent (Qiagen, Hilden, Alemanha) homogeneizado por completo em vórtex e incubado por 5 minutos em temperatura ambiente. Após esse período, as amostras foram centrifugadas a 12.000 rpm durante 10 minutos em temperatura ambiente (Eppendorf, Hamburg, Alemanha). Depois da centrifugação, o sobrenadante foi aspirado em bomba a vácuo e o sedimento ressuspenso em 100 μL de lisozima (Lysozyme from Chicken Egg White; Sigma, Steinheim Alemanha), sob agitação moderada durante 5 minutos. A extração do RNA bacteriano foi realizada com auxílio do Kit Rneasy Mini Kit conforme recomendações do fabricante (Qiagen, Hilden, Alemanha). Para retirada de resíduos de DNA bacteriano foi realizado um tratamento com RNAse Free-DNAse Set (Qiagen, Hilden, Alemanha) durante a extração do RNA. O RNA total foi quantificado utilizando-se o espectrofotômetro digital NanoVue Plus Spectrophotometer (GE Healthcare, Canadá). Adicionalmente, foi realizada, para cada amostra de RNA total, uma PCR utilizando oligonucleotídeos iniciadores que amplificam uma sequência do DNA ribossomal de eubactérias, com o intuito de confirmar a ausência de resíduos de DNA bacteriano contaminante na solução de RNA. Os oligonucleotídeos iniciadores 45 Material e Métodos utilizados e as condições de termociclagem (Eppendorf, Hamburg, Alemanha) estão na Tabela 5. 4.8.2 Síntese de cDNA A reação de transcriptase reversa foi realizada utilizando 30 ƞg de RNA de cada amostra, com High Capacity cDNA Reverse Transcription Kit (Applied Biosystems, Warrington, United Kingdom), de acordo com as recomendações do fabricante. A reação foi incubada por 10 minutos a 25 ºC, seguido por 120 minutos a 37 ºC, em termociclador (Eppendorf, Hamburg, Alemanha). O cDNA, produto da reação de transcriptase reversa, foi armazenado em freezer -80 ºC até sua utilização. 4.8.3 Quantificação relativa da transcrição gênica A quantificação relativa da expressão dos genes estudados foi realizada pela técnica de qRT-PCR, cujo principio do método baseia-se na detecção da fluorescência no tubo de reação à medida que a dupla fita DNA é gerada. As reações de PCR em tempo real foram realizadas em triplicata utilizando 12,5 µL de Platinum SyBR Green qPCR com ROX (Invitrogen, Eragny, France), adicionado de 0,25 µL de cada oligonucleotídeo iniciador (10 μM). À mistura, foi adicionado 2 µL de cDNA para obtenção de um volume final de 25 µL. A reação de PCR foi realizada no equipamento Real Time 7500 (Applied Biosystems, Warrington, United Kingdom). As reações foram incubadas a 50 oC por 2 minutos, seguidos de mais 2 minutos a 95 oC. As condições de termociclagem a seguir foram: 40 ciclos de 95 oC durante 15 segundos, 55 °C por 15 segundos e 60 oC por 30 segundos, de acordo com as recomendações do fabricante. A curva de desnaturação (melting curve) foi determinada no final da termociclagem para se certificar que havia a presença de uma única sequencia de DNA, resultado da reação de amplificação. O gene ribossomal rpsL foi utilizado como gene de referência para normalização da expressão dos genes alvos. As sequências de oligonucleotídeos iniciadores utilizados para a técnica de qRT-PCR são apresentadas na Tabela 7. 46 Material e Métodos Tabela 7. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados na reação de qRT-PCR para os genes alvos mexB, mexD, mexF, mexY, oprD e ampC e para o gene de referência rpsL. qRT-PCR Tipo de reação de PCR Oligonucleotídeos iniciadores Sequência (5’ – 3’) mexB-F GTG TTC GGC TCG CAG TAC TC mexB-R AAC CGT CGG GAT TGA CCT TG mexD-F CGA GCG CTA TTC GCT GC mexD-R GGC AGT TGC ACG TCG A mexF-F CGC CTG GTC ACC GAG GAA GAG T mexF-R TAG TCC ATG GCT TGC GGG AAG C mexY-F CCG CTA CAA CGG CTA TCC CT mexY-R AGC GGG ATC GAC CAG CTT TC oprD-F TCC GCA GGT AGC ACT CAG TTC oprD-R AAG CCG GAT TCA TAG GTG GTG ampC-F CTG TTC GAG ATC GGC TC ampC-R CGG TAT AGG TCG CGA G rpsL-F GCA AGC GCA TGG TCG ACA AGA rpsL-R CGC TGT GCT CTT GCA GGT TGT GA Gene alvo Referência mexB mexD mexF mexY Xavier et al., 2010 oprD ampC rpsL 4.8.4 Análise da quantificação relativa da transcrição gênica A análise da expressão foi feita utilizando o software SDS v 2.0 (Applied Biosystems, Warrington, Reino Unido) pelo método Ct comparativo (ΔΔCt), onde a expressão normalizada (EN) e calculada de acordo com a formula: ΔCt = Ctgene alvo - CtrpsL onde, CT (Ciclo Threshold) é o ciclo em que foi detectado fluorescência durante a amplificação na reação de qRT-PCR, acima do limite basal de fluorescência observada no inicio na reação. Para a correção do cálculo da RQ, a eficiência da reação de cada gene foi calculada utilizando o modelo matemático descrito por Pfaffl et al. (2001), utilizando o software SDS v 2.0. A eficiência das reações de amplificação dos genes estudados foi determinada de acordo com a fórmula: E = (10-1/slope -1) x 100 47 Material e Métodos onde slope representa a inclinação da reta no gráfico de regressão linear das médias dos valores de CT observadas nas 3 reações de qRT-PCR para as diluições seriadas do extrato da solução de cDNA da amostra de P. aeruginosa PAO1. A transcrição relativa de cada gene alvo para os isolados clínicos de P. aeruginosa foi calculada em relação à transcrição de cada gene na cepa de P. aeruginosa PAO1, a partir da diferença entre o ΔCt de cada gene alvo na amostra referência e o ΔCt de cada gene na amostra a ser testada. Dessa forma, o valor de RQ indica quantas vezes um gene foi transcrito em uma amostra em relação à expressão quantificada na amostra usada como referência, utilizando a fórmula: RQ = 2-ΔΔCt. Nas isolados clínicos avaliados, foram consideradas significativas alterações na transcrição gênica relativa de, no mínimo, duas e quatro vezes para os os genes mexB e mexY e mínimo de 100 vezes para mexD e mexF. Para o gene que codifica a βlactamase cromossomal ampC, foram consideradas significativas alterações na transcrição gênica relativa de, no mínimo, dez vezes e para o gene da proteína de membrana externa oprD, foram consideradas significativas a redução de 30% da transcrição dos genes dessa proteína em comparação à cepa referência PAO1 (Quale et al., 2006; Rodriguez-Martinez et al., 2009b). 4.8.5 Análise da Amplificação dos genes dos sistemas de efluxo A amplificação dos genes que codificam os componentes dos sistemas de efluxo de P. aeruginosa avaliados, mexB, mexD, mexF, mexY, além da proteína de membrana externa oprD e da β-lactamase cromossomal AmpC, foi realizada através da corrida eletroforética da reação de qRT-PCR das amostras estudadas. A revelação dos produtos da qRT-PCR foi realizada por meio de eletroforese em gel de agarose (UltrapureTM Agarose, Invitrogen, Carlsbad, EUA), sendo utilizada a concentração de 1,5%. As condições de corrida foram: 110V por 40 minutos em tampão TBE 0,5X (89 nM Tris-Borato e 2 mM EDTA pH 8.0). Como marcador de peso 48 Material e Métodos molecular, foi utilizado DNA ladder 100 pares de base (Invitrogen, Carlsbad, EUA). O gel foi corado com brometo de etídio (2,5 μg/mL) e as bandas foram visualizadas sob luz ultravioleta - 320 nm (GelDoc Quantity One; Bio-Rad Laboratories, EUA). 4.9 Avaliação do perfil de proteínas de membrana externa por SDS-PAGE 4.9.1 Extração de proteínas de membrana externa Os isolados de P. aeruginosa foram cultivados em 15 mL de caldo LB na presença de de 1 µg/mL de imipenem a 37 ºC, sob agitação, por 18-20 horas. Em seguida, foram centrifugados a 4.000 rpm, por 15 minutos, a 4 ºC. O sedimento bacteriano foi então ressuspenso em 1 mL de TrisMg (Tris 10mM; MgCl2 5mM), pH 7,3 e sonicado por 5 ciclos de 30 segundos, com intervalo de um segundo a cada 5 segundos corridos. Durante esse processo as amostras foram mantidas em banho de gelo. Após essa etapa, foi realizada uma centrifugação a 8.000 rpm, por 5 minutos, a 4 ºC para a remoção dos restos celulares. O sobrenadante foi transferido para outro tubo e centrifugado novamente a 17.000 rpm por 30 minutos a 4 ºC. O sobrenadante então, foi descartado e adicionado 800 µL de Sarcosil 2% para precipitação das proteínas de membrana externa (OMPs) por 30 minutos em temperatura ambiente. As amostras foram novamente centrifugadas a 17.000 rpm por 30 minutos a 4ºC e o sedimento foi lavado com TrisMg (Tris 10mM; MgCl2 5mM), pH 7,3 e centrifugado novamente a 17.000 rpm por 30 minutos a 4 ºC. O sedimento, correspondente à porção da membrana externa, foi ressuspenso em 40 µL de TrisMg (Tris 10mM; MgCl2 5mM), pH 7,3 e armazenado a uma temperatura de -80 ºC até sua utilização. Os extratos proteicos foram quantificados com reagente de Bradford. 4.9.2 SDS-PAGE Os extratos proteicos foram submetidos à análise do perfil de proteínas de membrana externa pela técnica de SDS-PAGE. As concentrações dos extratos proteicos foram igualadas com água estéril e depois adicionado 10 µL de tampão de 49 Material e Métodos amostra Laemmi Sample Buffer (BioRad Laboratories, Hercules, CA, EUA), após esta etapa, os extratos foram aquecidos a 99 ºC por 5 minutos. Vinte microlitros das amostras e 6 µL do padrão de peso molecular, Precision Plus Protein Standards – dual color (BioRad Laboratories, Hercules, CA, EUA) foram aplicados no gel de dodecil sulfato de sódio (SDS), contendo 15% de acrilamida (SDSPAGE 15%). A eletroforese foi realizada a uma voltagem de 10 V por 20 minutos para a inicial introdução do extrato proteico no gel, seguido por uma voltagem de 180 V por 1 hora no sistema V-16 Vertical Gel Electrophoresis System (Gibco BRL Life Technologies, Rockville, MD, EUA). Após a corrida eletroforética, o gel foi corado durante 15 minutos com coomassie blue R250 (Sigma-Aldrich Corp., St Louis, EUA). Como descorante, foi utilizada solução de ácido acético a 10% e metanol a 45%. A análise do perfil proteico das amostras foi realizada pela inspeção visual dos géis. Como controle foi utilizada a amostra de P. aeruginosa PAO1 sensível a todos os β-lactâmicos, aos aminoglicosídeos e às fluoroquinolonas testadas. 4.10 Pesquisa do Gene Codificador da Proteína de Membrana Externa – OprD 4.10.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) A avaliação da presença do gene da oprD foi realizada pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) convencional como descrito no item 4.4.1. As condições de termociclagem (Eppendorf, Hamburg, Alemanha) foram: desnaturação inicial a 95 ºC por 10 minutos, seguido por 35 ciclos de desnaturação a 95 ºC por 45 segundos, anelamento dos oligonucleotídeos a 51 ºC por 45 segundos e extensão das fitas a 72 ºC por 3 minutos. Após os 35 ciclos, foi realizada uma extensão final a 72 ºC por 10 minutos. Na Tabela 8 encontram-se descritos os oligonucleotídeos iniciadores utilizados neste estudo. 50 Material e Métodos Tabela 8. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados na reação de PCR para a avaliação do gene da oprD. Oligonucleotídeos iniciadores Sequência (5’ – 3’) OprD-F CGC CGA CAA GAA GAA CTA GC PCR convencion al Tipo de reação de PCR OprD-R Gene alvo Amplicom (pb) Referência oprD 1413 Este estudo GTC GAT TAC AGG ATC GAC AG 4.11 Avaliação dos Mecanismos de Resistência às Fluoroquinolonas e aso aminoglicosídeos Para avaliar os mecanismos de resistência às quinolonas foram estudadas as mutações nas regiões determinantes de resistência às quinolonas (QRDR) nos genes gyrA e parC e a presença dos genes qnr e qepA. A pesquisa de 16S rRNA metilase e aac6b’ foi realizada para avaliar o mecanismo de resistência aos aminoglicosídeos. 4.11.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) Pela técnica da reação da polimerase em cadeia (PCR) convencional de acordo com a técnica descrita no item 4.4.1, foi realizada a amplificação das QRDR dos genes gyrA e parC, detecção dos genes codificadores de qnr, qepA e 16S rRNA metilase. Foram avaliadas possíveis mutações nas regiões determinantes de resistência às quinolonas (QRDR) nos genes gyrA e parC das amostras sensíveis às quinolonas. As condições de termociclagem do DNA (Eppendorf, Hamburg, Alemanha) e os oligonucleotídeos iniciadores estão apresentados na Tabela 9. 51 Material e Métodos Tabela 9. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados para a caracterização dos mecanismos de resistência às fluoroquinolonas e aminoglicosídeos pela técnica de PCR convencional e multiplex nos isolados resistentes a estes antimicrobianos. qnr PCR convencional qnr PCR multiplex PCR convencional QRDR Tipo de reação de PCR Oligonucleotídeos iniciadores Sequência (5’ – 3’) GyrA-F CGT GTC CTT TAT GCC ATG GyrA-R GAT GTT GGT CGC CAT GC Gene alvo gyrA ParC-F Amplicom (pb) 390 TGA GCC TGG AAG GGG TC ParC-R GTC CAC CAG CGG ATA GC QnrA-F AGA GGA TTT CTC ACG CCA GG QnrA-R TGC CAG GCA CAG ATC TTG AC QnrB-F GGM ATH GAA ATT CGC CAC TG QnrB-R TTT GCY GYY CGC CAG TCG AA QnrS-F GCA AGT TCA TTG AAC AGG GT QnrS-R TCT AAA CCG TCG AGT TCG GCG qnrC-F GGG TTG TAC ATT TAT TGA ATC qnrC-R TCC ACT TTA CGA GGT TCT qnrD-F CGA GAT CAA TTT ACG GGG AAT A qnrD-R AAC AAG CTG AAG CGC CTG qnrVC-F CTT CTC ACA TCA GGA CTT GC qnrVC-R GCT CCA GTA ACT GTT CCT GT parC 305 qnrA 580 qnrB 264 qnrS 428 qnrC 447 Condições de termociclagem Referência Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 50ºC - 30 s Extensão: 72ºC – 45s 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 47ºC - 30 s Extensão: 72ºC – 45s 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Este estudo Desnaturação: 95ºC - 10 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 54ºC – 1 min Extensão: 72ºC – 1 min Cattoir et al., 2007 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Denaturação: 94ºC – 10 min Denaturação: 94ºC – 30 seg qnrD 582 Anelamento: 50ºC – 45 seg Extensão: 72ºC – 1 min Este estudo 35 ciclos; qnrVC Extensão final: 72ºC – 10 min. 52 PCR convencional Metilases PCR Multiplex Metilases PCR convencional qepA Material e Métodos qepA F CTG CAG GTA CTG CGT CAT G qepA qepA R CGT GTT GCT GGA GTT CTT C armA-F ATT CTG CCT ATC CTA ATT GG armA-R ACC TAT ACT TTA TCG TCG TC npmA-F GGA GGG CTA TCT AAT GTG GT npmA-R GCC CAA AGA GAA TTA AAC TG rmtA-F CTA GCG TCC ATC CTT TCC TC rmtA-R TTG CTT CCA TGC CCT TGC C rmtB-F GCT TTC TGC GGG CGA TGT AA rmtB-R ATG CAA TGC CGC GCT CGT AT rmtC-F CGA AGA AGT AAC AGC CAA AG rmtC-R ATC CCA ACA TCT CTC CCA CT rmtD-F CGG CAC GCG ATT GGG AAG C rmtD-R CGG AAA CGA TGC GAC GAT rmtD_tot_F GAG CGA ACT GAA GGA AAA AC CAG CAC GTA AAA CAG CTC Este estudo 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. armA 315 npmA 386 rmtA 635 rmtB 173 rmtC 711 rmtD 401 rmtD rmtD_tot_R 850 Desnaturação: 95ºC – 5 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 53ºC - 45 s Extensão: 72ºC - 1 min 730 Desnaturação: 95ºC – 5 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 52ºC - 45 s Extensão: 72ºC - 1 min Berçot et al., 2011 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. Desnaturação: 95ºC – 5 min Desnaturação: 95ºC - 30 s Anelamento: 52ºC - 45 s Extensão: 72ºC - 1 min Castanheira et al., 2008 35 ciclos Extensão final: 72ºC - 10 min. 53 Material e Métodos 4.11.2 Sequenciamento Todas as amostras resistentes a ciprofloxacino e as amostras sensíveis selecionadas, foram sequenciadas para avaliar as possíveis mutações presentes nas QRDR, assim como a amostra de 16S rRNA metilase encontrada de acordo com o descrito no item 4.4.2. 54 Resultados 5. RESULTADOS 5.1 Amostras Bacterianas Foram estudados 25 isolados clínicos de P. aeruginosa. A maioria dos isolados clínicos foi coletada de pacientes adultos, maiores de 18 anos de idade (92%) e do sexo masculino (76%). A idade dos pacientes variou de 10 meses a 90 anos de idade. Duas amostras clínicas apresentaram crescimento de dois isolados de P. aeruginosa com diferentes características morfológicas, sendo todas incluídas no estudo. Os isolados P5 e P6 foram recuperados da primeira amostra e P11 e P12 da segunda amostra. A Figura 1 ilustra a distribuição dos isolados de P. aeruginosa pelo seu sítio de isolamento. Figura 1. Distribuição (em porcentagem) dos isolados clínicos estudados por sítio de isolamento. 5.1.1 Re-identificação dos isolados de P. aeruginosa por Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) Todos os isolados estudados foram corretamente re-identificados pelo MALDITOF MS como P. aeruginosa. Os scores de cada amostra variaram como pode ser visto no Anexo 1. 55 Resultados 5.2 Avaliação do Perfil de Sensibilidade in vitro aos antimicrobianos A sensibilidade dos isolados de P. aeruginosa aos diversos antimicrobianos foi avaliada pela técnica de microdiluição em caldo. Na Tabela 10, podemos observar o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos testados de todas as amostras estudadas, assim como, a menor concentração de cada antimicrobiano que inibiu o crescimento de 50% e 90% das amostras (CIM50 e CIM90), respectivamente. Tabela 10. Distribuição da potência e perfil de sensibilidade aos antimicrobianos dos isolados clínicos de P. aeruginosa estudados. Antimicrobianos Amicacina Gentamicina Aztreonam Ceftazidima Cefepima Ciprofloxacino Imipenem Meropenem Piperacilina/tazobactam Polimixina B CIM (μg/mL) CIM50 CIM90 Sensibilidade S% 4 2 16 4 8 0,5 8 4 16/4 0,5 8 4 32 8 8 16 16 16 32/4 0,5 96 92 40 100 92 80 20 76 100 Intermediário I% Resistência R% 24 8 36 20 - 4 8 36 20 100 44 4 - O teste de sensibilidade aos antimicrobianos confirmou a resistência aos carbapenens (imipenem e meropenem) para a maioria dos isolados clínicos de P. aeruginosa, exceto para meropenem, onde 5 (20%) e 9 (36%) dos isolados foram sensíveis e intermediários, respectivamente. Adicionalmente, todos os isolados apresentaram sensibilidade à ceftazidima, no entanto 2 (8%) isolados apresentaram resistência intermediária à cefepima (Figura 2). 56 Resultados Figura 2. Porcentagem de sensibilidade aos diversos antimicrobianos dos isolados de P. aeruginosa estudados. Dentre as outras classes de antimicrobianos testados, 5 (20%) isolados apresentaram resistência ao ciprofloxacino. A resistência aos aminoglicosídeos foi encontrada em 2 isolados, sendo um deles resistente à amicacina e gentamicina e o outro resistente apenas à gentamicina. As CIMs de cada isolado de P. aeruginosa estudado frente aos antimicrobianos testados estão apresentadas na Tabela 11. 57 Resultados Tabela 11. Teste de sensibilidade aos antimicrobianos para os isolados clínicos de P. aeruginosa, realizado pela técnica de microdiluição em caldo, segundo as recomendações do CLSI (2013). CIM (μg/mL) Amostras P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 Amicacina Gentamicina Aztreonam Ceftazidima Cefepima Ciprofloxacino Imipenem Meropenem Piperacilina/ Tazobactam Polimixina B 2 4 8 8 4 8 4 8 4 4 2 4 1 2 8 8 8 >128 2 8 1 4 16 4 4 1 2 4 4 2 4 2 4 2 2 2 2 0,5 2 4 4 4 >64 16 4 1 2 0,5 1 2 2 32 8 16 16 32 32 32 16 8 8 16 8 4 4 32 32 8 16 4 8 32 32 16 32 2 4 2 8 8 8 8 4 2 2 1 8 4 2 1 4 4 1 4 2 2 8 4 4 2 2 8 8 8 8 8 8 8 4 4 2 16 2 2 8 8 16 2 8 8 4 8 4 8 8 0,125 0,5 32 0,25 0,25 0,5 0,5 0,5 0,25 0,125 0,125 0,125 0,5 0,125 16 0,5 1 16 16 0,5 0,25 0,5 8 0,5 0,25 8 8 8 16 8 8 8 16 16 8 8 8 8 8 8 16 8 8 16 8 16 16 8 16 16 2 8 2 4 4 8 4 4 8 2 8 8 4 4 1 8 8 4 4 2 8 16 4 16 16 4/4 16/4 8/4 32/4 16/4 32/4 16/4 8/4 16/4 4/4 8/4 32/4 16/4 4/4 4/4 16/4 16/4 32/4 >128/4 4/4 8/4 16/4 32/4 16/4 16/4 0,25 0,5 0,125 0,5 0,25 0,5 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0,25 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,25 0,5 0,25 0,125 0,06 0,5 0,25 58 Resultados 5.3 Análise da similaridade genética por Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE) Para a análise da similaridade genética dos 25 isolados de P. aeruginosa foi realizada a tipagem molecular pela técnica de PFGE. A análise do perfil eletroforético não relevou a predominância de um perfil clonal predominante entre os isolados estudados que foram agrupados em 17 padrões distintos de PFGE (A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P e Q), segundo a interpretação de Tenover e colaboradores (Tenover et al., 1995) (Figuras 3 e 4). Figura 3. Avaliação da similaridade genética entre os isolados de P. aeruginosa do H1 e H2 pela técnica de PFGE. λ. padrão de peso molecular (Kb). 59 Resultados Figura 4. Avaliação da similaridade genética entre os isolados de P. aeruginosa do H3 pela técnica de PFGE. λ. padrão de peso molecular (Kb). A análise do perfil eletroforético revelou a predominância do perfil F (5 amostras) e I (3 amostras) no H3. As amostras pertencentes ao grupo F foram divididas em dois subtipos: F1 (2 isolados) e F2 (2 isolados), sendo os dois isolados do subtipo F1 recuperados do mesmo paciente e os outros três isolados (P6, P22 e P23) de diferentes pacientes. O grupo I foi dividido também, em dois subtipos: I1 (1 isolado) e I2 (1 isolado), sendo os três isolados recuperados do mesmo paciente. Os isolados P5 e P6, recuperados da mesma amostra clínica apresentaram perfil clonal diferente. No entanto, os isolados P11 e P12 foram agrupados como um subclone. As 5 amostras de P. aeruginosa resistentes ao ciprofloxacino (P3, P15, P18, P19 e P23) pertenciam a padrões diferentes de PFGE. Assim como as amostras de P. aeruginosa resistentes aos aminoglicosídeos (P18 e P19). 60 Resultados As duas amostras pertencentes ao padrão E foram recuperadas do mesmo paciente em momentos diferentes. No entanto, as duas amostras (P21 e P22) pertencentes ao padrão K não foram recuperadas do mesmo paciente. A análise dos géis de PFGE, a partir do dendrograma obtido utilizando o programa BioNumerics (coeficiente de DICE 1,0%), demonstrou a presença de 17 padrões, sendo que 5 padrões apresentaram amostras relacionadas (Figura 5). P2 P3 P4 P18 P12 P14 P11 P20 P25 P21 P22 P8 P15 P7 P16 P17 P6 P23 P24 P13 P1 P5 P9 P10 P19 Figura 5. Dendrograma do perfil genotípico determinado pela técnica de PFGE dos isolados de P. aeruginosa avaliados neste estudo. 61 Resultados 5.4 Focalização do ponto isoelétrico (pI) Os valores de pI das bandas detectadas foram calculados a partir da curva de regressão linear obtida com a focalização das β-lactamases presentes nos extratos das amostras-controles, que apresentou coeficiente R2=0,9873 (Figura 6). Apenas uma banda foi observada na focalização do pI dos extratos protéicos dos isolados de P. aeruginosa estudados, que apresentou valor de pI igual a 8,2. Outra banda de valor de pI igual a 6,5 foi visualizada na amostra P18. Figura 6. Curva de regressão linear da focalização das β-lactamases presentes nos isolados de P. aeruginosa. 62 Resultados 5.5. Teste in vitro de Hidrólise aos Carbapenens 5.5.1 Teste de Hidrólise Enzimática por Espectrofotometria Entre as 25 amostras de P. aeruginosa estudadas, nenhuma apresentou hidrólise enzimática frente aos carbapenens testados (Figura 7). Figura 7. A. Isolado KPC-2 na presença de imipenem; B. Isolado KPC-2 na presença de meropenem; C. Isolado de P. aeruginosa P2 na presença de imipenem; D. Isolado de P. aeruginosa P2 na presença de meropenem. 5.5.2 Teste de Hidrolise por Matrix-assisted laser desorption ionization time-offlight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) A maioria dos isolados de P. aeruginosa não apresentou hidrólise enzimática frente ao imipenem no MALDI-TOF MS, no entanto quatro isolados apresentaram resultados duvidosos no teste (P11, P13, P15 e P16) (Figura 8). 63 Resultados Figura 8. A. Imipenem puro; B. Isolado KPC-2 na presença de imipenem; C. Isolado de P. aeruginosa P13 na presença de imipenem; D. Isolado de P. aeruginosa P15 na presença de imipenem. 5.6 Detecção de Genes Codificadores de β-lactamases 5.6.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) Não houve detecção de nenhum gene codificador das serino-β-lactamases blaTEM, blaSHV, blaGES, blaCTX-M, blaBES, blaPER, blaKPC e blaSME; das oxacilinases blaOXA-1, blaOXA-2, blaOXA-5, blaOXA-18, blaOXA-45 e blaOXA-46; das oxacilinases do tipo carbapenemase blaOXA-23, blaOXA-24, blaOXA-48, blaOXA-51, blaOXA-58, blaOXA-20, blaOXA-48, blaOXA-62, blaOXA-143 e blaOXA-198; das metalo-β-lactamases blaIMP, blaVIM, blaSPM, blaGIM, blaSIM e blaNDM nos isolados de P. aeruginosa estudados. No entanto, foi detectado em um isolado o gene blaOXA-7. Todos os isolados de P. aeruginosa apresentaram amplificação para a β-lactamase cromossomal AmpC e para a oxacilinase blaOXA-50 (Figura 9). 64 Resultados Figura 9. PCR convencional de todos os isolados de P. aeruginosa. A. β-lactamase cromossomal AmpC (1.243pb); B. OXA-50 (789 pb); a. P. aeruginosa ATCC 27853; *. P. aeruginosa PAO1; λ. padrão de peso molecular (Kb). 5.6.2 Sequenciamento O sequenciamento dos amplicons obtidos por amplificação do gene codificador das oxacilinases do grupo OXA-7 confirmou a presença do gene blaOXA-56 no isolado P18. O sequenciamento das porções adjacentes ao gene blaOXA-56, demonstraram que o mesmo encontra-se em um integron de classe 1 (Figura 10). attI1 59’-be 3´CS 5´CS intI1 aacA4 blaOXA-56 qacEΔ1/Sul1 Figura 10. Representação esquemática do integron In163, abrigando os dois determinantes de resistência: aacA4, seguido pela blaOXA-56, que foram sequenciados. As flechas representam os genes do integron e o sentido das flechas representa o sentido da transcrição dos genes. 65 Resultados O sequenciamento dos amplicons obtidos por amplificação de blaOXA-50 revelou uma grande variedade de mutações na maioria dos isolados de P. aeruginosa estudados. No entanto, todos apresentaram a sequencia STYK, comum na OXA-50 e nenhuma mutação nos 5 elementos estruturais da sequencia consenso das βlactamases da classe D (DBLs). Dentre os isolados avaliados, 12 apresentaram mutações diferentes das já descritas. 5.7 Avaliação Fenotípica com inibidores Todos os isolados de P. aeruginosa cresceram nas concentrações utilizadas de PAβN (50 μg/mL) e Cloxacilina (200 μg/mL) nos testes para avaliação do crescimento bacteriano. 5.7.1 Inibição da β-lactamase cromossomal AmpC Na avaliação fenotípica da hiperexpressão β-lactamase cromossomal AmpC, as CIMs variaram pouco para meropenem e ceftazidima, sendo que somente 4 isolados (16%) tiveram diminuição das suas CIMs ≥ 2 diluições para ceftazidima. No entanto para o imipenem, podemos notar que 15 isolados (60%) tiveram uma diminuição da CIM ≥ 2 diluições (Tabela 12). 66 Resultados Tabela 12. Teste de inibição da β-lactamase cromossomal AmpC, na presença de cloxacilina (200 μg/mL), aos antimicrobianos para os isolados clínicos de P. aeruginosa. Amostras P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 Imipenem Imipenem + Cloxacilina 8 8 8 16 8 8 8 16 16 8 8 8 8 8 8 16 8 8 16 8 16 16 8 16 16 2 2 4 4 4 4 2 4 4 4 4 4 4 4 2 4 4 4 4 2 4 4 2 4 4 CIM (μg/mL) Meropenem Meropenem + Cloxacilina 2 8 2 4 4 8 4 4 8 2 8 8 4 4 1 8 8 4 4 2 8 16 4 16 16 2 8 2 4 2 4 4 4 8 2 8 8 4 4 1 8 4 4 4 2 8 8 2 8 8 Ceftazidima Ceftazidima + Cloxacilina 2 4 2 8 8 8 8 4 2 2 1 8 4 2 1 4 4 1 4 2 2 8 4 4 2 1 4 2 4 2 1 1 4 2 2 1 1 2 2 1 4 2 1 2 2 2 4 2 2 2 5.7.2 Inibição de Bombas de Efluxo A grande maioria dos isolados de P. aeruginosa (92%) apresentaram uma diminuição da CIM ≥ 2 diluições para imipenem, no entanto para meropenem apenas 10 isolados (40%) apresentaram esta diminuição. Todos os isolados tiverem uma diminuição da CIM ≥ 2 diluições para ciprofloxacino, inclusive os 5 isolados resistentes a este antimicrobiano (Tabela 13). 67 Resultados Tabela 13. Teste de inibição de bomba de efluxo, na presença de PAβN (50 μg/mL), aos antimicrobianos para os isolados clínicos de P. aeruginosa. Amostras Imipenem Imipenem + PAβN 8 8 8 16 8 8 8 16 16 8 8 8 8 8 8 16 8 8 16 8 16 16 8 16 16 2 1 0,5 0,5 1 2 2 2 1 4 4 2 1 1 2 2 1 1 2 1 2 2 2 2 2 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 CIM (μg/mL) Meropenem Meropenem + PAβN 2 8 2 4 4 8 4 4 8 2 8 8 4 4 1 8 8 4 4 2 8 16 4 16 16 2 4 0,5 0,5 4 4 4 4 1 2 4 2 4 1 1 4 2 1 2 2 4 4 2 4 4 Ciprofloxacino Ciprofloxacino + PAβN 0,125 0,5 32 0,25 0,25 0,5 0,5 0,5 0,25 0,125 0,125 0,125 0,5 0,125 16 0,5 1 16 16 0,5 0,25 0,5 8 0,5 0,25 0,03 0,06 2 0,015 0,015 0,03 0,06 0,03 0,015 0,015 0,03 0,03 0,06 0,015 4 0,06 0,06 2 4 0,03 0,03 0,03 0,06 0,03 0,015 5.8 Reação em Cadeia da Polimerase de Transcriptase Reversa em Tempo Real - qRT-PCR Os valores da média da expressão relativa dos genes estudados nas 25 amostras de P. aeruginosa estão apresentados na Tabela 14. Os valores da expressão relativa dos genes avaliados de cada isolado clínico, da ATCC de P. aeruginosa e da cepa referência PA01 estão apresentados no Anexo 2. 68 Resultados Tabela 14. Média da expressão relativa dos genes estudados nos isolados clínicos de P. aeruginosa em relação a cepa PAO1. Gene Média Desvio Padrão Intervalo mexB 1,92 1,11 0,64 - 4,61 mexD 2,69 0,85 1,68 - 4,61 mexF 6,04 2,03 3,23 - 10,45 mexY 1,56 1,57 0,12 - 5,12 ampC 9,21 4,97 2,59 - 19,37 oprD 0,20 0,16 0,01 - 0,50 Das 25 amostras clinicas de P. aeruginosa, 9 (36%) espressavam mexB, no mínimo, duas vezes mais que a cepa referência PAO1 (Figura 11). Quando avaliamos a expressão de mexD, 20 (80%) isolados, expressavam duas vezes mais que a cepa referência PAO1. No entanto se utilizarmos os parâmetros estabelecidos para avaliar a transcrição deste gene, nenhum isolado apresentou aumento da transcrição (Figura 12). Onze (44%) amostras clinicas de P. aeruginosa, espressavam mexF, no mínimo, seis vezes mais que a cepa referência PAO1 (Figura ). No entanto, quando utilizarmos os parâmetros estabelecidos para avaliar a transcrição deste gene, todos os isolados apresentaram transcrição basal (Figura 13). Considerando o parâmetros estabelecido para identificar a transcrição de mexY, apenas três (12%) isolados apresentaram um aumento na transcrição deste gene. (Figura 14). No entanto, 13 (52%) apresentaram expressão menor que aquela observada entre a cepa referência PAO1. 69 Resultados Figura 11. Quantificação da transcrição relativa do gene mexB para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1. Figura 12. Quantificação da transcrição relativa do gene mexD para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1. 70 Resultados Figura 13. Quantificação da transcrição relativa do gene mexF para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1. Figura 14. Quantificação da transcrição relativa do gene mexY para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1. 71 Resultados Os cinco isolados sensíveis a meropenem (CIM, 2 μg/mL e 1 μg/mL) expressavam 2 e 4 vezes mais, em relação a PAO1, os genes mexD e mexF, respectivamente. Apenas um isolado, P3, apresentou expressão maior que duas vezes do gene mexB. Nove isolados apresentaram resistência intermediária ao meropenem (CIM, 4 μg/mL) e apenas dois (P7 e P8) hiperexpressavam o gene mexB. Os dois isolados que apresentaram resistência intermediária à cefepima (CIM, 16 μg/mL) apresentaram expressão maior que duas vezes do gene mexD e mexY, assim como de quatro vezes para o gene mexF. Dentre os cincos isolados resistentes a ciprofloxacino, apenas um (P3) apresentou expressão maior que duas vezes paro o gene mexB. No entanto, todos os isolados apresentaram uma expressão, no mínimo, maior que três vezes para mexF. Três destes isolados (P18, P19 e P23) tiveram uma expressão menor do que a cepa referência PAO1 para o gene mexY. Os dois isolados (P18 e P19) resistentes aos aminoglicosídeos testados, apresentaram expressão similar para os genes mexB, mexF e mexY, no entanto para o gene mexD, o isolado P18 expressou cerca de duas vezes mais este gene. Dez (40%) isolados de P. aeruginosa tiveram a expressão de ampC, aumentada em no mínimo 10 vezes; enquanto, 20 (80%) isolados tiveram a expressão de ampC, aumentada em no mínimo 5 vezes, em relação a cepa referência PAO1 (Figura 15). Todos os isolados de P. aeruginosa estudados tiveram redução na expressão de oprD em relação a cepa referência PAO1 (Figura 16). 72 Resultados Figura 15. Quantificação da transcrição relativa do gene ampC para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1. Figura 16. Quantificação da transcrição relativa do gene oprD para os isolados de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em relação a cepa PAO1. 73 Resultados 5.8.5 Análise da Amplificação dos genes dos sistemas de efluxo Todos os isolados de P. aeruginosa estudados apresentaram amplificação dos genes que codificam os componentes dos sistemas de efluxo avaliados, mexB (244 pb), mexD (165 pb), mexF (255 pb), mexY (250 pb), além da β-lactamase cromossomal AmpC (166 pb) e da proteína de membrana externa oprD (191 pb). 5.9 Avaliação do perfil de proteínas de membrana externa por SDS-PAGE Todos os isolados de P. aeruginosa estudados apresentam a OprF (32 kDa) sem nenhuma alteração, assim como a OprE (43 kDa). No entanto, na analise visual do gel de SDS-PAGE podemos notar a ausência da banda de 46 kDa, equivalente a OprD em todos os isolados. No entanto uma banda de aproximadamente 48 kDa pode ser visualizada em todos os isolados clínicos de P. aeruginosa estudados (Figura 17). Figura 17. Perfil de proteínas de membrana externa por SDS-PAGE dos isolados de P. aeruginosa. a. P. aeruginosa ATCC 27853; *. P. aeruginosa PAO1; λ. padrão de peso molecular (kDa). 74 Resultados 5.10 Avaliação da presença do Gene Codificador da Proteína de Membrana Externa – OprD 5.10.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) A maioria dos isolados de P. aeruginosa estudados apresentaram um amplicon de 1.400 pb, compatível com a oprD da cepa referência PAO1. No entanto, cinco isolados (P5, P9, P13, P15 e P21) apresentaram um amplicon de aproximadamente 2.100 pb e dois isolados (P7 e P22) não apresentaram nenhum amplicon com os oligonucleotídeos iniciadores utilizados (Figura 18). Todos estes isolados eram do H3. Figura 18. PCR convencional do gene codificador da proteína de membrana externa oprD dos isolados de P. aeruginosa. (1413pb); a. P. aeruginosa ATCC 27853; *. P. aeruginosa PAO1; λ. padrão de peso molecular (Kb). 5.11 Avaliação dos Mecanismos de Resistência às Fluoroquinolonas e aos Aminoglicosídeos Entre os 25 isolados de P. aeruginosa estudados, 5 (20%) isolados apresentaram resistência a ciprofloxacino e 2 (8%) apresentaram resistência aos aminoglicosídeos e com isso foram realizadas as pesquisas de genes codificadores de qnr, qepA e 16S rRNA metilase, assim como, a amplificação das QRDR dos genes gyrA e parC. 75 Resultados 5.11.1 Técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) Todos os isolados resistentes a ciprofloxacino, assim como, as amostras sensíveis selecionadas, tiveram os genes gyrA (390 pb) e parC (305 pb) amplificados e sequenciados. Apenas um isolado, resistente à amicacina e à gentamicina, amplificou para a 16S rRNA metilase rmtD. 5.11.2 Sequenciamento No sequenciamento para avaliação das mutações no QRDR, pudemos constatar que os cinco isolados apresentaram uma mutação no gene gyrA e uma mutação no gene parC, como pode ser visto na Tabela 15. Os isolados sensíveis selecionados para controle, não apresentaram nenhuma mutação no QRDR. Tabela 15. Mutações no QRDR dos isolados de P. aeruginosa estudados. Mutações Mudança de aminoácido Gene Isolados Códon gyrA P3 P15 P18 P19 P23 83 83 83 83 83 ACC ACC ACC ACC ACC - ATC ATC ATC ATC ATC Thr Thr Thr Thr Thr - Ile Ile Ile Ile Ile parC P3 P15 P18 P19 P23 87 87 87 87 87 TCG TCG TCG TCG TCG - TTG TTG TTG TTG TTG Ser Ser Ser Ser Ser - Leu Leu Leu Leu Leu No sequenciamento do gene codificador da 16S rRNA metilase, rmtD, no isolado P18, constatou-se 100% de similaridade com o gene descrito previamente por Doi e colaboradores (2007a). 76 Discussão 6 DISCUSSÃO P. aeruginosa é um patógeno humano oportunista e que apresenta alta capacidade de adaptação ao meio hospitalar. Apresenta resistência intrínseca e uma grande habilidade de desenvolver resistência à maioria dos antimicrobianos (Kiska & Gillian, 2003; Strateva & Yordanov, 2009). Hoje é um dos principais agentes etiológicos de infecções relacionadas à assistência à saúde, principalmente no Brasil (Gales et al., 2012). Este patógeno está relacionado a infecções nosocomiais graves, com elevada mortalidade, podendo esta taxa variar de 18% a 39% (Safdar et al., 2004; Osmon et al., 2004; Suàrez et al., 2009). Juntamente com o aumento na prevalência das infecções causadas por P. aeruginosa, podemos constatar um aumento nas taxas de resistência aos antimicrobianos utilizados no tratamento destas infecções (Diekema et al., 1999). Destacando-se a diminuição de sensibilidade aos antibióticos de maior espectro de ação para estes isolados, como as cefalosporinas de amplo espectro e os carbapenens (Gales et al., 2012). Sendo a produção de β-lactamases, principalmente as carbapenemases, o mecanismo de resistência mais importante descrito em P. aeruginosa (Goldberg, 2000; Kiska & Gillian, 2003; Landman et al., 2007). Outra característica preocupante relacionada à P. aeruginosa, é a resistência cruzada aos antimicrobianos, resultante da presença de múltiplos mecanismos de resistência num único isolado (Livermore, 2002; McGowan, 2006). Para esta tese, foram estudados isolados clínicos de P. aeruginosa recuperados de diversos sítios infecciosos de três hospitais localizados na cidade de São Paulo durante o ano de 2012 e 2013. Foram recuperados 25 isolados que apresentavam resistência aos carbapenens e sensibilidade às cefalosporinas de amplo espetro. A maioria dos isolados de P. aeruginosa estudados foram recuperados do trato respiratório inferior (56%) e de urina (20%). De um modo geral, estas são as fontes de isolamento mais frequentes deste patógeno (de Freitas & Barth, 2002). A grande maioria das amostras não é isolada de sítios estéreis, dificultando estabelecer 77 Discussão o real papel patogênico destas cepas. Este estudo teve como objetivo caracterizar microbiológicamente as cepas de P. aeruginosa, mas não o estudo epidemiológico, incluindo o modo de aquisição destas cepas. De qualquer maneira, o quadro de colonização geralmente precede o de infecção. Todos os isolados de P. aeruginosa estudados apresentaram o fenótipo incomum de resistência a pelo menos um dos carbapenens e sensibilidades às cefalosporinas de amplo espectro. A taxa de resistência ao imipenem foi de 100% (CIM50, 8 µg/mL), entretanto para meropenem (CIM50, 4 µg/mL), as taxas encontradas foram menores, sendo que 20% e 36% do isolados apresentaram sensibilidade ou resistência intermediaria, respectivamente. Entre as cefalosporinas de amplo espectro, notamos uma maior sensibilidade para ceftazidima (100%; CIM50, 4 µg/mL) em relação à cefepima (92%; CIM50, 8 µg/mL). Este fenótipo de resistência tem sido pouco reportado, mas é cada vez mais comum o seu aparecimento na rotina dos laboratórios de microbiologia do Brasil. A confirmação deste fenótipo reforça a dificuldade para a seleção de antimicrobianos efetivos para o tratamento das infecções causadas por esse patógeno. Uma boa taxa de sensibilidade à piperacilina/tazobactam (76%; CIM50, 16/4 µg/mL) foi encontrada nos isolados clínicos de P. aeruginosa estudados. Em estudo do Programa SENTRY com isolados clínicos de P. aeruginosa, procedentes dos cinco continentes, demonstrou que as maiores taxas de sensibilidade encontradas para esse antimicrobiano foram observadas na América do Norte (83%), enquanto a menor taxa foi encontrada na América Latina (74,8%) (Jones et al., 2009). Esses resultados sugerem que piperacilina/tazobactam poderia constituir uma boa opção terapêutica contra infecções causadas por P. aeruginosa na maioria das regiões geográficas. No entanto, em estudo mais recente do Programa SENTRY, avaliando isolados da América Latina, esta taxa caiu para 55,6% (Gales et al., 2012). Em outro estudo realizado na cidade de São Paulo, as taxas de sensibilidade a piperacilina/tazobactam foram mais baixas (36,5%) que a encontrada neste estudo (Picão et al., 2009b). 78 Discussão Provavelmente, as porcentagens de sensibilidade à piperacilina/tazobactam em nosso estudo foram superiores as encontradas anteriormente, porque a produção de carbapenemases conhecidas, como SPM-1 e GES-5, não foi encontrada em nenhum isolado clínico de P. aeruginosa. Apenas 5 isolados apresentaram resistência a ciprofloxacino (20%; CIM50, 0,5 µg/mL). Esse valor é discrepante daqueles descritos por Fehlberg e colaboradores (2012), onde nos isolados recuperados de um centro norte americano as taxas de resistência foram de 75% (CIM50, 4 µg/mL) e no centro brasileiro esta taxa chegou a 51,2% (CIM50, 4 µg/mL). O aumento da resistência à ciprofloxacino entre isolados bacterianos hospitalares e comunitários pode ser decorrente da ampla utilização das quinolonas para o tratamento de várias infecções, como as infecções do trato urinário adquiridas na comunidade e doenças sexualmente transmissíveis causadas por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. A ciprofloxacina é também, frequentemente, utilizada no tratamento de infecções causadas por P. aeruginosa, principalmente em pacientes com fibrose cística (Yao & Moellering, 2007). Em estudo recente do programa SENTRY a resistência aos aminoglicosídeos foi de 23,2% (CIM50, 4 µg/mL) e 35,2% (CIM50, ≤2 µg/mL) para amicacina e gentamicina, respectivamente (Gales et al., 2012). No entanto, neste estudo observamos uma taxa de resistência muito baixa para essa classe de antimicrobianos. As polimixinas B e E (Colistina) apresentam atividade bactericida contra isolados de P. aeruginosa, e as taxas de resistência tem se mantido relativamente baixa, aproximadamente, 0,1% (Gales et al., 2011; Gales et al., 2012). Neste estudo pudemos constatar que todos os isolados eram sensíveis a este antimicrobiano (CIM50 e CIM90, 0,5 µg/mL). No tratamento de infecções causadas por P. aeruginosa multirresistentes, em muitos casos, as polimixinas são uma das únicas opções clínicas disponíveis para tratamento. A análise do padrão de similaridade genética dos 25 isolados de P. aeruginosa deste estudo demonstra uma grande variabilidade genética em relação ao fenótipo 79 Discussão estudado. Nossos resultados evidenciaram que vários clones vem circulando ao mesmo tempo nos diferentes hospitais estudados, sugerindo que o uso de antimicrobianos age na seleção para o surgimento de clones resistentes distintos. Não havendo, portanto, evidência de uma transmissão intra-hospitalar de um único clone. Apenas no Hospital 3, isolados clonalmente relacionados foram encontrados, o que demonstra uma evolução distinta em cada instituição. As amostras que foram recuperadas do mesmo material clínico apresentaram variação clonal, o que sugere uma evolução destas cepas. A focalização do ponto isoelétrico permite a identificação do número e tipos de β-lactamases produzidas por um isolado bacteriano. No entanto, os valores de pI obtidos não correspondem aos pI reais, mas sim àqueles calculados a partir de uma curva de regressão linear. Com isso, os valores de pI obtidos não são exatos, e pequenas variações devem ser consideradas. Assim como, nem todos os géis de pI conseguem detectar perfeitamente pIs de β-lactamases próximas aos limites do gel (3,5 e 9,0). Em todos os isolados de P. aeruginosa, foi observada uma banda de pI com valor igual a 8,2. Esta banda poderia corresponder à β-lactamase cromossomal AmpC, que apresenta uma variação de formas, com pI de 7,6, 8,2, 8,3, 8,7 e 9,1 em isolados de P. aeruginosa (Walther-Rasmussen et al., 1999). Além disso, as bandas obtidas poderiam corresponder à enzima OXA-50, pois o gene codificador desta enzima é intrínseco às bactérias pertencentes a este gênero, e apresenta pI com valor igual a 8,6 (Girlich et al., 2004). Poderiamos também, ter outra β-lactamase, não conhecida, que tenha sido cofocalizada neste mesmo pH. Somente a amostra P18 apresentou uma outra banda, de pI aproximado de 6,5, correspondente a OXA-56 presente nesta amostra (Poirel et al., 2004a). Os testes da hidrólise enzimática aos carbapenens empregados neste estudo tiveram uma correlação maior que 80%, sendo que nenhum isolado de P. aeruginosa apresentou hidrólise no teste de espectrofotometria e quatro isolados apresentaram um resultado duvidoso no teste realizado no MALDI-TOF MS. Esse resultado 80 Discussão discrepante pode ser em decorrência da diferença de sensibilidade dos testes, assim como, da subjetividade da análise no teste realizado no MALDI-TOF MS já que foi utilizado como substrato o imipenem, e neste caso, os picos da matriz se interpõem com os picos de massa do imipenem. No entanto resultados excelentes com carbapenemases conhecidas já foram descritas para este teste (Carvalhaes et al., 2013). A disseminação de genes codificadores de β-lactamases têm sido relatados em diversas partes do mundo (Patzer et al., 2004; Nordmann & Poirel, 2002; Walsh et al., 2003; Toleman et al., 2005), e a produção de β-lactamases adquiridas em P. aeruginosa causa um impacto clínico significativo nos serviços de assistência à saúde em todo o mundo e, em particular, no Brasil. Muitas vezes as infecções causadas por microrganismos produtores de β-lactamases estão relacionadas com falhas terapêuticas e, assim, elevam o tempo de hospitalização, os custos e as taxas de mortalidade (Juan et al., 2009). Apesar da disseminação de isolados de P. aeruginosa produtores de MβL, GES-5 e ESβL no Brasil (Martins et al., 2007; Picão et al., 2009a; Picão et al., 2009b; Polotto et al., 2012), nenhuma β-lactamase adquirida ou carbapenemase foi encontrada nos isolados estudados. Apenas um isolado apresentou a oxacilinase de espectro restrito OXA-56. Essa oxacilinase foi descrita pela primeira vez em 2004, em isolados clínicos de P. aeruginosa, produtores de SPM-1, em um hospital de Recife (Poirel et al., 2004a). A OXA-56, no sequenciamento, apresentava três substituições em relação à OXA-7 (oxacilinase de espectro restrito) e OXA-35 (oxacilinase do tipo EsβL). Esta enzima não era inibida pelo ácido clavulânico (Poirel et al., 2004a). Em 2006, Carvalho e colaboradores relataram a presença de OXA-56 em isolados de P. aeruginosa produtores de SPM-1, no Rio de Janeiro. Nesse estudo, demonstraram que o gene blaOXA-56 estava localizado em um integron de classe 1, nomeado como In163. Esse integron era composto, além do gene codificador da OXA-56, de dois genes cassetes que conferiam resistência aos aminoglicosídeos (aacA4 e aadA7). Doi e colaboradores 81 Discussão (2008) descreveram o contexto genético de um isolado produtor de rmtD e caracterizaram com isso, o integron completo da OXA-56, que estava localizado à montante do gene da rmtD. Na amostra estudada P18, o gene blaOXA-56 estava localizado à jusante do gene aacA4 e à montante do cassete gênico qacEΔ1/sul1, demonstrando um arranjo igual aquele descrito previamente (Carvalho et al., 2006; Doi et al., 2008). O fato de este isolado carrear o gene rmtD também reforça a estrutura descrita por Doi e colaboradores (2008). Não houve a detecção da OXA-56 em nenhum outro país até o momento e talvez a disseminação restrita do gene blaOXA-56 esteja relacionado a coprodução da SPM-1. Apesar de todos os isolados apresentarem um baixo grau de resistência aos carbapenens (MIC90, 16 µg/mL para imipenem e meropenem) o que desfavorece o encontro de carbapenemases, dois relatos recentes em nosso país demonstrou a presença de isolados produtores de MβLs em isolados sensíveis aos carbapenens. No primeiro relato, Pellegrino e colaboradores (2009) isolaram uma P. aeruginosa produtora de SPM-1, sensível aos carbapenens. Em 2012, Picão e colaboradores descreveram dois isolados de P. aeruginosa produtores de IMP-16, com baixa resistência a imipenem e sensíveis ao meropenem. Como esperado, todos os isolados de P. aeruginosa carreavam as enzimas cromossomais e intrínsecas desta espécie, OXA-50 e AmpC. Diversas variantes de OXA-50 já foram descritas em isolados clínicos de P. aeruginosa de várias regiões geográficas, sendo denominadas de OXA-50a a OXA-50j (Girlich et al., 2004; Empel et al., 2007; Seok et al., 2011). Nos 25 isolados de P. aeruginosa estudados, pudemos constatar uma grande diversidade de OXA-50, assim como, um grande número de novos mutantes. Porém, estas mutações não estavam localizadas nos 5 elementos estruturais conservados da sequência consenso das DBLs, este fato poderia estar relacionado a uma alteração no perfil hidrolítico da enzima, no entanto mais estudos são necessários para se comprovar tal fato (Girlich et al., 2004). Dos quatro isolados que apresentaram hidrólise duvidosa na técnica de MALDI-TOF, três apresentaram 82 Discussão novas mutações e apenas um isolado apresenta a OXA-50e. No entanto, maiores esclarecimentos sobre o perfil hidrolítico destas enzimas nestas amostras se fazem necessários. Diversos trabalhos já demonstraram a utilização de cloxacilina, um β-lactâmico, para inibir a atividade da β-lactamase cromossomal AmpC (Corvec et al., 2003; Poirel et al., 2003; Jiang et al., 2006). Neste estudo notamos que a ceftazidima foi menos influenciada pela ação de inibição da cloxacilina que o imipenem. Este resultado poderia estar relacionado com alguma mutação no gene da β-lactamase cromossomal AmpC ou até mesmo com alguma alteração no perfil hidrolítico da OXA-50. No estudo de Rodríguez-Martínez e colaboradores (2009a) todos os isolados hiperprodutores de AmpC tiveram as CIMs de ceftazidima reduzidas na presença de cloxacilina. O inibidor, PAβN, foi o primeiro inibidor de bombas de efluxo de amplo espectro descrito (Ueda et al., 2005). Este inibidor foi capaz de potencializar de 8 a 64 vezes a atividade de levofloxacina contra cepas mutantes que hiperexpressavam o sistema MexABOprM quanto comparadas às cepas selvagens de P. aeruginosa (Kaatz, 2005). Os substratos, assim como, o inibidor foram escolhidos de acordo com estudos prévios (Lomovskaya et al., 2001; Denny et al., 2005). Todos os isolados apresentaram redução da CIM para cirpofloxacino na presença de PAβN, demonstrando o envolvimento de sistemas de bombas de efluxo no aumento da CIM para este antimicrobiano. Em um estudo recente de Sonnet e colaboradores (2012) foram avaliados isolados de P. aeruginosa com resistência às fluoroquinolonas. A CIM50 de ciprofloxacino reduziu três diluições (CIM50, de 16 µg/mL para 2 µg/mL) na presença de PAβN, assim como foi observado que a sensibilidade foi recuperada em 22,2% dos isolados estudados. Vários sistemas de bombas de efluxo estão envolvidos na resistência ás fluoroquinolonas (Lister et al., 2009). Diversos estudos demonstram que o PAβN é rotineiramente combinado com antibióticos da classe das fluoroquinolonas, mas poucos estudos avaliaram a sua utilidade em combinação com antibióticos βlactâmicos. Ainda que de forma mais discreta, as CIMs para imipenem também 83 Discussão diminuíram cerca de duas diluições. Lamers e colaboradores (2013) notaram que o PAβN reduziu as CIMs de vários β-lactâmicos em isolados de P. aeruginosa, no entanto, as alterações de sensibilidade não eram inteiramente devido à inibição de bombas de efluxo. O PAβN permeabilizou a membrana externa de todos os isolados de P. aeruginosa testados, aumentando a concentração da β-lactamase cromossomal AmpC e permitindo a entrada de moléculas que normalmente não atravessam a membrana externa de P. aeruginosa. A resistência aos antimicrobianos em isolados clínicos de P. aeruginosa, pode ser atribuída à associação de diferentes mecanismos de resistência, como, por exemplo, o efluxo ativo e a redução da permeabilidade da membrana externa. Os sistemas de bombas de efluxo expelem uma variedade de classes de antimicrobianos utilizados para o tratamento de infecções causadas por esse patógeno, reduzindo a concentração dos mesmos no interior celular. No entanto, pouco se conhece sobre o impacto clínico que esses sistemas podem causar (Yoshihara et al., 2009). Não existe um consenso que defina os limites de hiperexpressão dos sistemas de efluxo com a elevação da CIM para os substratos destes sistemas, sendo estes por sua vez muito arbitrários. No entanto, nesse estudo, utilizamos os critérios estabelecidos anteriormente: aumento da transcrição de no mínimo duas e quatro vezes para os genes mexB e mexY, mínimo de 100 vezes para mexD e mexF, mínimo de dez vezes para a β-lactamase cromossomal ampC e redução de 30% da transcrição do gene oprD em comparação com a cepa referência PA01 (Quale et al., 2006, RodriguezMartinez et al., 2009b). Neste estudo a média do aumento da transcrição dos genes que codificam os sistemas de efluxo avaliados foi maior para o sistema EFN (6,04) nos isolados clínicos de P. aeruginosa estudados, seguido pelo sistema CDJ (2,69). O sistema MexAB-OprM é expresso constitutivamente em cepas selvagens de P. aeruginosa e contribui significativamente para a resistência aos antimicrobianos. Este sistema responsável, muitas vezes, pela resistência de P. aeruginosa aos β- 84 Discussão lactâmicos, com exceção do imipenem, e a sua hiperexpressão pode comprometer também a sensibilidade às fluoroquinolonas (Poole, 2007, Lister et al., 2009). O aumento dos níveis transcricionais de mexB foi de 36% no isolados estudados e diversos trabalhos no mundo todo já demonstraram a relação da hiperexpressão do sistema ABM com a resistência aos agentes β-lactâmicos e com baixos níveis de sensibilidade à ciprofloxacino (Ziha-Zarifi et al., 1999; Hocquet et al., 2007). Esses achados podem explicar, parcialmente, os resultados obtidos na inibição com PAβN e à ciprofloxacino. Em nosso estudo, nenhum isolado de P. aeruginosa apresentou aumento da transcrição para mexD e mexF de, no mínimo,100 vezes, em relação à cepa referência PA01. No entanto, se utilizarmos o critério sugerido por Hocquet e colaboradores (2006), 80% e 100% dos isolados hiperexpressaram os sistemas CDJ e EFN, respectivamente. Cepas de P. aeruginosa que hiperexpressam o sistema MexCDOprJ, geralmente apresentam sensibilidade ao imipenem e aminoglicosideos (Wolter et al., 2005). A hiperexpressão do sistema MexEF-OprN, geralmente está associada a sensibilidade a maioria dos antimicrobianos, relacionando-se assim, com o fenótipo dos isolados de P. aeruginosa estudados (Okamoto et al., 2002). Existem relatos sobre a capacidade que o sistema MexEF-OprN tem em diminuir a expressão do sistema MexAB-OprM, numa atividade corregulatória (Maseda et al., 2004). O sistema XY é um dos principais responsáveis pela resistência intrínseca, em cepas selvagens de P. aeruginosa, sendo as fluoroquinolonas e a cefepima substratos preferenciais desse sistema de efluxo (Strateva & Yordanov, 2009). A hiperexpressão do sistema de efluxo MexXY-OprM esta relacionada a isolados resistentes à cefepima, porém, sensíveis à ceftazidima (Hocquet et al., 2006). A transcrição do gene mexY foi menor do que o da cepa referência em 52% dos isolados estudados. Apesar do sistema MexXY-OprM ser um dos principais mecanismo de resistência de P. aeruginosa aos aminoglicosideos (Morita et al., 2006), os dois isolados resistentes aos aminoglicosídeos não hiperexpressavam esse sistema de efluxo. 85 Discussão Hocquet e colaboradores (2006) sugeriram que os sistemas de efluxo estão hiperexpressos quando a sua expressão é duas vezes maior quando comparado com a amostra referência. Evidenciamos, assim, a falta de critérios que definam os limites adequados para a hiperexpressão dos sistemas de efluxo. Se considerarmos um ponto de corte da expressão de três vezes mais em relação a PAO1, observamos que 20%, 28%, 100% e 20% dos isolados hiperexpressam os sistemas ABM, CDJ, EFN e XY, respectivamente. Esses índices são menores ainda quando consideramos uma expressão maior que quatro vezes em relação à PA01 (8% para ABM, 8% para CDJ, 40% EFN). Estudos adicionais são necessários para o estabelecimento de criterios que possam detectar corretamente a presença de hiperexpressão de efluxo entre isolados clínicos de P. aeruginosa. Em 2010, o trabalho publicado por Xavier e colaboradores demonstrou que os sistemas de efluxo MexAB-OprM e MexXY-OprM eram frequentemente mais transcritos que os sistemas de efluxo MexEF-OprN e MexCD-OprJ (3,5%) em isolados clínicos de P. aeruginosa em um hospital da cidade de São Paulo. Resultados semelhantes foram reportados no estudo de Fehlberg e colaboradores (2012), no qual se verificou que o sistema de efluxo mais expresso foi o MexXY-OprM (41,6%) no centro Brasileiro. No entanto, quando foram avaliados os isolados do centro Norte Americano o sistema de efluxo mais expresso foi o MexAB-OprM (26,4%). Ambos os estudos avaliaram amostras do mesmo hospital de São Paulo, enquanto este estudo avaliou, na sua maioria, amostras de outros dois hospitais demonstrando que padrões de uso de antimicrobianos e políticas de controle de infecção hospitalar podem influenciar na seleção de cepas com distintos padrões de resistência. A hiperexpressão da β-lactamase cromossomal AmpC e a redução na expressão de oprD representam importantes mecanismos de resistência aos β- lactâmicos amostras clinicas de P. aeruginosa (Poole, 2004). A contribuição da βlactamase cromossomal AmpC para a resistência aos carbapenens parece ser mínima (Poole et al., 1996). No entanto, já foram descritas variantes da β-lactamase 86 Discussão cromossomal AmpC em P. aeruginosa cujo espectro hidrolítico inclui o imipenem, essas enzimas foram denominadas ESAC. Três variantes, PDC-2, PDC-4 e PDC-8 apresentaram resistência a imipenem e sensibilidade à ceftazidima, no entanto todas apresentaram resistência ou resistência intermediária à cefepime (Rodriguez-Martinez et al., 2009a). Neste estudo, a caracterização hidrolítica da β-lactamase cromossomal AmpC não foi realizada, não podendo assim, ser afirmado se esses isolados apresentam uma ESAC. O aumento da transcrição do gene ampC associado à redução da transcrição de oprD parece afetar, principalmente, o imipenem, apresentando pouco efeito contra o meropenem (Livermore, 1992). O gene ampC apresenta expressão basal em cepas selvagens de P. aeruginosa, podendo a sua expressão ser induzida a altos níveis na presença de βlactâmicos indutores, como o imipenem. 40% dos isolados estudados tiveram um aumento da transcrição desse gene, no entanto se utilizarmos um critério de expressão quatro vezes maior que à cepa referência PAO1, 88% dos isolados tiveram um aumento da transcrição desse gene. Isolados de P. aeruginosa que produzem altos níveis da β-lactamse cromossomal AmpC estão, frequentemente, associados à falha terapêutica, quando cefalosporinas de amplo espectro são utilizadas (Tam et al., 2007). A expressão de OprD estava reduzida em todos os isolados e a média da expressão da OprD foi de 0,2 nos isolados de P. aeruginosa estudados. A redução na expressão de OprD, configurou-se assim, como o principal mecanismo de resistencia ao imipenem. Estudos demonstram que a regulação do gene oprD por si só seria suficiente para elevar as CIMs do imipenem (Livermore, 1992). Assim como, a perda ou redução da transcrição do gene oprD, associado à hiperexpressão de diferentes sistemas de efluxo, contribui significamente para o aumento das CIMs dos carbapenens, especialmente do imipenem (Quale et al., 2006, Zavascki et al., 2010). Um estudo espanhol avaliou a expressão da β-lactamase cromossomal AmpC, MexB, MexD, MexF e mexY, e demonstrou que 39% dos isolados hiperexpressavam pelo menos ums dos mecanismos, sendo a AmpC o mecanismo mais predominante. 87 Discussão Assim como também, todos os isolados resistentes à imipenem apresentaram mutações de inativação no gene oprD (Cabot et al., 2011). As mudanças na expressão da porina da membrana externa OprD é um dos principais mecanismos de resistência aos carbapenens em isolados de P. aeruginosa (Yoneyama e Nakae, 1993). A perda da porina OprD têm sido associada, cada vez mais, a resistência ao imipenem (Livermore, 2001; Tomás et al., 2010; Fournier et al., 2013). Existem relatos na literatura científica que indicam que existem homólogos da proteína OprD, o que pode gerar porinas de tamanhos diferenciados (Tamber et al., 2006; Tamber & Hancock, 2006). Assim, a ausência de proteínas de 45 até 49 kDa são relatados e relacionados com fenótipos de resistência a imipenem (Nikaido et al., 1991; Müller-Premru & Lejko-Zupanc, 2002; Li et al., 2012). Todos os isolados de P. aeruginosa estudados não apresentaram a porina de 46 kDa, mas apresentaram uma porina de aproximadamente 48 kDa, no gel de SDS-PAGE, fato este que sugere que nenhum isolado perdeu a OprD. Entretanto, a presença desta banda não garante que esta seja a OprD, sendo necessários experimentos de Western-blot para a confirmação dos resultados. A resistência ao imipenem está associada a alterações na OprD que podem ser: alterações na transcrição do gene ou em genes reguladores da transcrição, mutações no gene estrutural e sequencias de inserção (Pirnay et al., 2002; Wolter et al., 2004b). Cinco isolados de P. aeruginosa apresentaram uma banda de aproximadamente 2.100 pb, sugerindo a presença de sequencias de inserção no gene codificador da OprD, como já descrito previamente (Evans & Segal, 2007). Dois isolados não tiveram amplificação com os oligonucleotideos iniciadores utilizados, fato este que sugere a presença de sequencias de inserção ou mutações na região de anelamento. No entanto, não podemos garantir que os isolados que apresentaram uma banda de 1.400 pb estejam codificando uma proteína funcionalmente ativa. Em um estudo avaliando seis isolados de P. aeruginosa pan-resistentes foi constatado a deficiência da OprD, devido a uma supressão parcial do gene oprD, 88 Discussão mutações pontuais levando a um stop códon prematuro, ou a falta de expressão de OprD na ausência de mutações do gene (Moyá et al., 2012). No entanto, um estudo realizado na Espanha demonstrou que a inativação por mutações na OprD em isolados clínicos de P. aeruginosa não se restringe apenas a isolados resistentes aos carbapenens, mas também aqueles sensíveis (CIMs para imipenem ou meropenem CIMs 0,06 a 4 µg/ml) (Ocampo-Sosa et al., 2012). No entanto, estudos mais aprofundados ainda devem ser feitos para a caracterização molecular do gene oprD e com isso podermos explicar a variabilidade de bandas no gel de SDS-PAGE e nas bandas obtidas pela amplificação do gene oprD, evidenciando se estes isolados apresentam a OprD mutada ou expressam outra porina. O fato dos cinco isolados que apresentaram elevado grau de resistência à ciprofloxacina, não terem suas CIMs reduzidas para serem categorizadas como sensíveis à ciprofloxacino na presença de PAβN sugere, que além da influência das bombas de elfuxo, exista a presença de mutações nas regiões de determinantes de resistência às quinolonas dos genes gyrA e parC. Mutações nos genes das topoisomerases II e IV é o principal mecanismo de resistência às fluoroquinolonas em diversas espécies bacterianas. Outros mecanismos de resistência como a hiperexpressão dos sistemas de efluxo ou alterações das proteínas da membrana externa, podem estar relacionados com a resistência a ciprofloxacino (Nakano, 1997; Poole, 2000). Um estudo com isolados de P. aeruginosa recuperados de diferentes sítios corpóreos de pacientes com fibrose cística em um hospital dinamarquês, demonstrou que a coexpressão dos sistemas CDJ e EFN estava associada a isolados recuperados de infecções pulmonares, enquanto as mutações nos genes gyrA e parC foram encontradas em isolados clínicos recuperados do trato urinário e de feridas (Jalal et al., 2000). No nosso estudo, dos cinco isolados que apresentaram mutações no QRDR dos genes gyrA e parC, três foram isolados de urina. O sequenciamento da QRDR do gene gyrA e parC apresentaram uma mutação no códon 83 e 80 em todos os isolados resistentes a ciprofloxacino, respectivamente. 89 Discussão Estes resultados são consistentes com aqueles reportados em estudos prévios com cepas clínicas de P. aeruginosa resistentes a essa classe. No, nosso estudo, como nos outros o ponto de mutação na posição 83 de gyrA sempre conduz à substituição de uma treonina para uma isoleucina (Thr83Ile) e na posição 80 de parC leva à substituição de uma serina para uma leucina (Ser80Leu). Estes resultados reforçam a hipótese de que estes aminoácidos podem ter um papel importante na formação de um sítio de ligação da DNA girase com as fluoroquinolonas (Mouneimné, 1999; Yonezawa, 1995; Akasaka et al., 2001; Oh et al., 2003; Lee et al., 2005b; Hansen, 2006). Os aminoglicosídeos, geralmente, são utilizados em esquemas terapêuticos combinados com β-lactâmicos em infecções graves por P. aeruginosa, minimizando assim, os riscos de falha terapêutica e a seleção de cepas resistentes (Safdar et al., 2004). No entanto, nos últimos anos a resistência à amicacina e gentamicina vem aumentando no mundo e no Brasil. As 16S RNA metilases vem sendo cada vez mais descritas como um importante mecanismo de resistência aos aminoglicosideos em patógenos Gram negativos, incluindo P. aeruginosa isoladas no Brasil (Doi & Arakawa, 2007; Doi et al., 2007a; Doi et al., 2007b; Castanheira et al., 2008; Lincopan et al., 2010). No presente estudo, apenas o isolado resistente a ambos os aminoglicosídeos, carreava o gene rmtD. Este gene foi descrito pela primeira vez em um isolado de P. aeruginosa produtor de SPM-1 no Brasil (Doi et al., 2007a). Existem diversos relatos de isolados coprodutores de ESβLs ou MβLs com 16S RNA metilases, contribuindo assim, para o aparecimento de isolados multirresistentes. Coincidentemente, o isolado P18, que carregava o gene blaOXA-56 e rmtD apresenta perfil clonal fortemente relacionado ao clone produtor de SPM-1 disseminado no nosso país desde 2001 (Toleman et al., 2002), mas não apresentava o gene blaSPM-1. Este fato pode indicar que o clone endêmico pode ter adquirido o gene blaSPM-1, ou que o isolado estudado perdeu o gene que carreava esta MβL. 90 Discussão Os resultados encontrados neste estudo sugerem o envolvimento de múltiplos mecanismos cromossomais no fenótipo incomum de resistência aos carbapenens e sensibilidade às cefalosporinas de amplo espectro dos isolados clínicos de P. aeruginosa. Refletindo a complexidade dos mecanismos em sua maioria, intrínsecos e reforçando a dificuldade da compreensão do papel individual que estes mecanismos cromossomais de resistência possam estar exercendo em isolados clínicos de P. aeruginosa. Este fenótipo incomum entre estes isolados clínicos de P. aeruginosa alerta para uma adaptação à pressão seletiva exercida por antimicrobianos e desenvolvimento de resistência às drogas. Com isso favorecendo a sobrevivência de isolados de P. aeruginosa, aumentando, assim, a chance de adquirir outros determinantes de resistência no ambiente hospitalar e contribuindo para o surgimento de cepas altamente resistentes a varias classes de antimicrobianos. Devido à importância crescente de P. aeruginosa como agente de infecções relacionadas à assistência a saúde e ao surgimento constante de amostras multirresistentes e com fenótipos incomuns, que tornam, muitas vezes, inviável qualquer esquema terapêutico antimicrobiano, é de grande relevância a vigilância constante para detectar precocemente o aparecimento e disseminação destes isolados. 91 Conclusões 7 CONCLUSÕES Todos os isolados clínicos de P. aeruginosa tiveram o fenótipo de resistência a pelo menos um dos carbapenens e sensibilidade as cefalosporinas de amplo espectro confirmado pelo método de referência. A polimixina B foi o antimicrobiano mais ativo frente aos isolados de P. aeruginosa. Uma alta diversidade de padrões de PFGE foi verificada nos isolados clínicos de P. aeruginosa. Todos os isolados apresentaram as β-lactamases cromossomais e intrínsecas desta espécie, OXA-50 e β-lactamase cromossomal AmpC. A produção da OXA-56 foi observada em apenas um isolado clinico de P. aeruginosa. Dentre as bombas de efluxo avaliadas nesse estudo, a hiperexpressão do sistema MexEF-OprN apresentou maior frequência, seguida pela hiperexpressão do sistema MexCD-OprJ. A hiperexpressão da β-lactamase cromossomal AmpC parece desempenhar um papel importante na resistência ao imipenem. A redução da transcrição do gene oprD foi o mecanismo mais frequente entre os isolados de P. aeruginosa estudados e pode desempenhar um importante papel na resistência ao imipenem. Nos cinco isolados de P. aeruginosa resistentes à ciprofloxacino, mutações na QRDR dos genes gyrA e parC foram detectados, parecendo ser o principal mecanismo de resistência relacionado. No entanto, o envolvimento dos sistemas de bombas de efluxo também foi evidenciado através da redução das CIMs na presença de PAβN. 92 Conclusões A presença do gene rmtD foi confirmada em um único isolado resistente aos aminoglicosídeos testados. Este isolado era produtor da OXA-56 e fortemente relacionado ao clone produtor de SPM-1 disseminado em nosso país. 93 Referências Bibliográficas 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aendekerk S, Ghysels B, Cornelis P, Baysse C. 2002. Characterization of a new efflux pump, MexGHI-OpmD, from Pseudomonas aeruginosa that confers resistance to vanadium. Microbiology. 148(8):2371- 2381. Aires JR, Kohler T, Nikaido H, Plesiat P. 1999. Involvement of an active efflux system in the natural resistance of Pseudomonas aeruginosa to aminoglycosides. Antimicrob Agents Chemother. 43(11):2624-2628. Akasaka T, Tanaka M, Yamaguchi A, Sato K. 2001. 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The transcription of genes mexB, mexD, mexF and mexY, AmpC chromosomal β-lactamase and porin oprD was assessed by qRTPCR. The profile of outer membrane proteins was performed by SDS-PAGE and PCR technique.The resistance to aminoglycosides and ciprofloxacin was evaluated by PCR followed by sequencing. Results: The phenotype of resistance to at least one of the carbapenems (imipenem and meropenem) and susceptibility to broad spectrum cephalosporin (cefepime and ceftazidime) was confirmed in all clinical isolates studied. The resistance to ciprofloxacin, and aminoglycosides was observed in five (20%) and two (8%) of these isolates, respectively. The isolates were clustered into 17 genotypes without predominance of a specific pattern. Carbapenem hydrolysis was not detected by spectrophotometer, however, by MALDI-TOF, four isolates showed equivocal findings but search for carbapenemases known encoding genes was negative. Chromosomal blaOXA-50 and blaampC genes were amplified and blaOXA-50 sequencing revealed multiple mutations. One of these isolates carried blaOXA-56. MICs varied ≥ 2 dilutions of the antimicrobials for the majority of the isolates tested in the presence of cloxacillin and PaβN. The average relative expression of genes mexB, mexD, mexF and mexY were 1.92, 2.69, 6.04 and 1.56, respectively. The AmpC β-lactamase was hyperexpressed in 40% of the isolates of P. aeruginosa, while all isolates had a decrease in the OprD expression. The SDS-PAGE assay suggested a change in the 46 kDa porin in all clinical isolates studied. Ciprofloxacin-resistant isolates presented QRDR mutations in gyrA and parC genes and only one isolate resistant to the aminoglycoside carried rmtD gene. Conclusion: Our results suggest the involvement of multiple chromosomal mechanisms, overexpression of the AmpC chromosomal β-lactamase and reduced expression of OprD in the phenotype of resistance to carbapenems and sensitivity to extended-spectrum cephalosporins among clinical isolates of P. aeruginosa. 127 ANEXOS Anexo 1. Scores da identificação bacteriana pela técnica de MALDI-TOF MS. Isolados P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 Score MALDI-TOF MS 2.303 (+++) 2.263 (++) 2.263 (++) 2.411 (+++) 2.047 (++) 2.200 (++) 2.039 (++) 1.982 (+) 1.982 (+) 1.897 (+) 2.129 (++) 2.070 (++) 2.130 (++) 1.736 (+) 2.009 (++) 2.074 (++) 1.896 (+) 2.323 (+++) 1.959 (+) 1.716 (+) 2.189 (++) 2.006 (++) 2.071 (++) 1.838 (+) 2.103 (++) 2.253 (++) 2.218 (++) 2.218 (++) 2.525 (+++) 2.253 (++) 2.133 (++) 1.941 (+) 2.021 (++) 2.021 (++) 2.035 (++) 2.052 (++) 1.954 (+) 2.035 (++) 2.114 (++) 2.048 (++) 2.164 (++) 1.935 (+) 1.957 (+) 1.894 (++) 1.894 (+) 2.348 (+++) 2.005 (++) 2.088 (++) 2.057 (++) 1.932 (+) Gênero e Espécie 2.428 (+++) 2.182 (++) 2.182 (++) 2.363 (+++) 1.860 (+) 1.968 (+) 2.064 (++) 1.948 (+) 1.948 (+) 1.882 (+) 2.038 (++) 2.036 (++) 2.098 (++) 2.012 (++) 1.943 (+) 2.316 (+++) 2.003 (++) 2.194 (++) 2.186 (+) 2.256 (++) 2.047 (++) 2.306 (+++) 2.207 (++) 1.945 (+) 2.301 (+++) Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa Pseudomonas aeruginosa 128 Anexo 2. Expressão relativa dos genes avaliados neste estudo para os 25 isolados clínicos de P. aeruginosa e da ATCC de P. aeruginosa 27853 em comparação à cepa referência PA01. Isolados Genes mexB mexD mexF mexY ampC oprD P1 1,55 2,94 5,51 2,63 5,61 0,50 P2 3,24 2,46 6,43 1,61 6,29 0,43 P3 2,09 2,34 4,44 3,20 10,09 0,41 P4 1,48 4,61 9,77 4,50 6,10 0,10 P5 1,29 2,17 7,61 2,17 2,59 0,01 P6 2,10 2,17 5,50 0,49 10,35 0,18 P7 2,46 2,54 5,60 0,43 8,02 0,02 P8 4,61 1,80 3,98 0,12 4,35 0,25 P9 1,41 2,67 8,73 3,54 3,94 0,07 P10 1,29 2,06 5,38 0,13 7,37 0,37 P11 1,23 3,82 6,04 1,16 9,71 0,19 P12 1,09 3,27 7,12 2,61 14,67 0,07 P13 0,64 1,84 10,45 0,20 17,93 0,19 P14 0,86 2,84 7,42 0,55 18,76 0,08 P15 0,73 2,71 5,66 5,12 12,18 0,01 P16 3,16 2,02 3,92 1,13 5,83 0,14 P17 1,41 2,14 4,98 2,33 5,27 0,13 P18 1,33 3,85 4,50 0,24 13,75 0,26 P19 1,28 1,68 3,23 0,36 19,37 0,50 P20 1,30 4,55 9,64 4,38 13,01 0,13 P21 4,57 3,18 6,08 0,32 4,95 0,25 P22 3,40 3,58 3,52 0,27 6,06 0,10 P23 1,11 2,24 7,34 0,37 2,68 0,01 P24 2,66 1,96 4,40 0,95 8,25 0,14 P25 1,70 1,80 3,77 0,15 13,18 0,47 ATCC PSA 1,13 0,38 12,04 0,24 0,51 0,52 PAO1 1 1 1 1 1 1 129 Anexo 3. Curva de amplificação dos isolados de P. aeruginosa, ATCC de P. aeruginosa 27853 e cepa referência PAO1 para os genes mexB, mexD, mexF, mexY, ampC e oprD. A B C D E F G H I 130 Anexo 4. Curva de melting dos isolados de P. aeruginosa, ATCC de P. aeruginosa 27853 e cepa referência PAO1 para os genes mexB, mexD, mexF, mexY, ampC e oprD. A B C D E F G H I 131 Anexo 5. Dendograma dos isolados de P. aeruginosa estudados, relacionados por padrão de PFGE, hospital, fenótipos, PCR e qRT-PCR. * Espectrof. – Teste de Hidrólise Enzimática por Espectrofotometria; Neg –Negativo; Duv – Duvidoso; AMI – Amicacina; GEN – Gentamicina; CAZ – Ceftazidima; CEP – Cefepima; IMI – Imipenem; MER – Meropenem; CIP – Ciprofloxacino; CLOX – Cloxacilina. 132