CÁLCULO DE EMPUXOS DE TERRA EM ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO USANDO UM AMBIENTE VISUAL DESENVOLVIDO NO MATLAB Fernando Augusto Dvoranen (PIC - UEM), Roberto Lopes Ferraz (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Maringá/Departamento Engenharia Civil/ Maringá, PR. Área e sub-área do CNPq: Engenharias, Engenharia Civil. Palavras-chave: Pressões laterais, muros de arrimo, software. Resumo: Neste trabalho foi desenvolvido um programa de computador para o cálculo de empuxos em estruturas de contenção usando o ambiente de programação Matlab 7, versão 2009a. A partir do programa é possível calcular empuxos em estruturas de contenção originados pelo maciço de solo, pela água e por carregamentos presentes na superfície do terreno. O programa permite a escolha entre as teorias de Coulomb ou de Rankine, possibilitando em cada uma delas o cálculo do empuxo no estado ativo ou no estado passivo. No caso da teoria de Rankine é possível obter os diagramas das pressões laterais atuantes na estrutura e, a partir dos mesmos, os empuxos. Para terrenos com superfície horizontal e paramento interno da estrutura vertical é possível considerar diversas camadas de solo com presença ou não de lençol freático. Quanto aos carregamentos na superfície do terreno, para as duas teorias foram implementadas soluções referentes aos tipos mais comuns encontrados na prática da engenharia, que compreendem o uniformemente distribuído, o pontual, o linear e o carregamento em faixa. A comparação de resultados obtidos com o uso do programa desenvolvido, com aqueles publicados na literatura, mostraram que o programa conduz a soluções que concordam com aquelas tomadas como referência. Introdução Os esforços laterais nas obras de engenharia são oriundos, principalmente, do peso do solo, da ação da água e da ação das sobrecargas existentes sobre a massa de solo. Geralmente a ação dos maciços de terra nas estruturas são obtidas em termos das pressões atuantes, sendo que em alguns métodos de cálculo esta ação é fornecida em termos da "força resultante" do maciço sobre a estrutura. Neste trabalho o termo “empuxo” foi utilizado para designar a força resultante sobre a estrutura por metro linear. A magnitude e a distribuição das pressões de terra em uma estrutura qualquer dependem, fundamentalmente, do tipo de deformação lateral imposta ao Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. solo adjacente à estrutura. Quanto a este aspecto, é possível distinguir três estados para cálculo de empuxos: estado em repouso, estado ativo e estado passivo. Os casos ativo e passivo geralmente são tratados com base na teoria do equilíbrio plástico dos maciços de terra, onde os métodos teóricos mais conhecidos são o de Rankine e o de Coulomb. No caso dos carregamentos aplicados na superfície do terreno, as pressões laterais nas estruturas de contenção são geralmente calculadas fazendo uso de soluções empíricas ou baseadas na teoria da elasticidade (BUDHU, 2000). Materiais e métodos A criação das interfaces gráficas do programa e a implementação das equações para cálculo das pressões laterais e dos empuxos nas estruturas de contenção foram feitos no ambiente de programação Matlab 7, versão 2009a, cujos fundamentos são descritos em Matsumoto (2004). No programa foram implementadas rotinas para o cálculo de empuxos devidos ao maciço de solo, à ação da água e de sobrecargas presentes na superfície do terreno. A ação do maciço de solo na estrutura de contenção pode ser obtida no estado ativo ou no passivo, sendo possível escolher entre as teorias de Coulomb ou de Rankine para efetuar os cálculos. No caso da teoria de Coulomb, o programa permite o cálculo direto do valor do empuxo de terra pesquisando a cunha de ruptura que provoca o empuxo máximo (caso ativo) ou o empuxo mínimo (caso passivo). Quando se trabalha com a teoria de Rankine, inicialmente são obtidas as pressões laterais atuantes na estrutura, a partir das quais são calculados os empuxos e seus pontos de aplicação. O programa permite considerar diversas camadas de solo com parâmetros diferentes (peso específico, ângulo de atrito e coesão) e com a presença ou não de lençol freático. Quanto aos carregamentos presentes na superfície do terreno, foram implementadas soluções para os tipos mais comuns encontrados em projetos de engenharia, que compreendem o uniformemente distribuído, o pontual, o linear e o carregamento em faixa. Resultados e Discussão Para a validação das rotinas de cálculo implementadas no programa de computador desenvolvido, foram resolvidos diversos casos encontrados na literatura. Esse procedimento visou comparar os resultados publicados com aqueles obtidos a partir da utilização do programa. Na Figura 1 é apresentado um dos casos resolvidos, proposto por Das (2007), para o qual foi solicitado o diagrama das pressões ativas atuantes, segundo a teoria de Rankine, bem como valor do empuxo total e a posição do seu ponto de aplicação na estrutura. Os diagramas de pressões apresentados por Das (2007) coincidem com aqueles mostrados na Figura 2, obtidos com o programa desenvolvido nesse trabalho. Além disso, segundo o autor, o valor do empuxo total é de 117,15 kN/m (direção horizontal) e seu ponto de aplicação se encontra a Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. 1,78 m acima da base. Como pode ser visto na Figura 2, o programa obteve resultados coincidentes com aqueles apresentados por Das (2007). 3m 3m N.A. Camada 1 γ = 16 kN/m3 ϕ’ = 30o, c’ = 0 Camada 2 γ = 18 kN/m3 (saturada) ϕ’ = 35o, c’ = 0 Figura 1 – Esquema do muro de arrimo e das camadas de solo presentes. Figura 2 – Tela do programa com os diagramas de pressões e valores dos empuxos. Para ilustrar a aplicação da teoria de Coulomb foi resolvido um outro caso proposto por Das (2007), cujos dados são apresentados a seguir e para o qual foi solicitado o valor do empuxo ativo, sua direção de atuação e a posição de seu ponto de aplicação na estrutura. Dados: Altura da estrutura: H = 4m Paramento da estrutura: β = 85o Inclinação do terreno: i = 10o Atrito solo-estrutura: δ = 15o Dados do solo: Peso específico: γ = 15 kN/m3 Coesão: c’ = 0 o Ângulo de atrito: ϕ’ = 30 Conforme Das (2007), para este caso o valor do empuxo de terra é de 46,46 kN/m e se encontra inclinado de um ângulo ΨEa = δ = 15o com a normal à face posterior do muro. Esse empuxo atua a uma distância acima da base do muro igual a YEa = H/3 = 4/3 = 1,33 m. Na Figura 3 é apresentada uma tela do programa com os resultados referente à teoria de Coulomb. Como pode ser observado a partir da mesma, Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. os valores obtidos (Eamax = 46,462 kN/m, YEa = 1,333 m e ΨEa = 15o) coincidem com aqueles apresentados por Das (2007). Além disso, segundo o programa, a inclinação da superfície de ruptura (em relação à horizontal) que conduz ao valor do empuxo ativo máximo é αcrit = 55,48o. Figura 3 – Tela do programa referente à teoria de Coulomb para cálculo de empuxos. Conclusões A comparação dos resultados obtidos a partir da utilização do programa de computador apresentado neste trabalho com aqueles disponibilizados na literatura mostraram que as rotinas de cálculo implementadas estão funcionando corretamente. Logo, o ambiente visual desenvolvido pode ser uma boa ferramenta para auxílio no cálculo de empuxos de terra em estruturas de contenção. Agradecimentos Ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá por tornar possível a realização desse trabalho. Referências BUDHU, M. Soil mechanics and foundations. New York: John Wiley & Sons, 2000. Das, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. New York: Thomson, 2007. Matsumoto, E. Y. Matlab 7: Fundamentos. São Paulo: Editora Érica, 2004. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.