SIMBOLISMO O Simbolismo é originário da França e se iniciou com a publicação de As Flores do Mal, de Baudelaire, em 1857. Nome inicial: Decadentismo. Bases Filosóficas Kiekegaard – o homem passa por três estágios em sua existência – estético (presença do novo), ético (gravidade e responsabilidade da vida) e religioso (relação com Deus). Bergson – não é a inteligência que chega a compreender a vida. É a intuição. Características Os autores voltam-se à realidade subjetiva, às manifestações metafísicas e espirituais, abandonadas desde o Romantismo. Buscavam a essência do ser humano, a alma; a oposição entre matéria e espírito, a purificação do espírito, a valorização do inconsciente e do subconsciente. "O Anjo Ferido" do pintor simbolista finlandês Hugo Simberg Madalena no bosque do amor – Émile Bernard • Musicalidade: música, a mais importante de todas as artes. “A música antes de tudo.” Aliterações, assonâncias, onomatopéias, sinestesias. • Linguagem vaga, imprecisa, sugestiva: não mostrava as coisas, apenas as sugeria. • Negação do materialismo: reação ao materialismo e ao cientificismo realistas. Retorno à mentalidade mística: comunhão com o cosmo, astros. Esoterismo. • Maiúsculas alegorizantes: personificação. •Mergulho no eu profundo: nefelibatas – habitantes das nuvens CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM SIMBOLISTA 1. Linguagem vaga, fluida, que prefere sugerir a nomear. 2. Utilização de substantivos abstratos, efêmeros, vagos e imprecisos; 3. Presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, paronomásias, sinestesias; 4. Subjetivismo e teorias que voltam-se ao mundo interior; 5. Antimaterialismo, anti-racionalismo em oposição ao positivismo; 6. Misticismo, religiosidade, valorização do espiritual para se chegar à paz interior; 7. Pessimismo, dor de existir; 8. Desejo de transcendência, de integração cósmica, deixando a matéria e libertando o espírito; 9. Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte, assim como momentos de transição como o amanhecer e o crepúsculo; Interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana (o inconsciente e o subconsciente) e pela loucura. • Conteúdo relacionado com o espiritual, o místico e o subconsciente: idéia metafísica, crença em forças superiores e desconhecidas, predestinação, sorte, introspecção. • Essa maior ênfase pelo particular e individual do que pelo geral e Universal: valorização máxima do eu interior, individualismo. • Tentativa de afastamento da realidade e da sociedade contemporânea: valorização máxima do cosmos, do misticismo, negação à Terra. • Os textos comumente retratam seres efêmeros (fumaça, gases, neve...). Imagens grandiosas (oceanos, cosmos...) para expressar a idéia de liberdade. • Conhecimento intuitivo e não-lógico. Ênfase na imaginação e na fantasia. Desprezo à natureza: as concepções voltam-se ao místico e sobrenatural. • Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos textos em prosa. Preferência por momentos incomuns: amanhecer ou entardecer, faixas de transição entre dia e noite. • Linguagem ornada, colorida, exótica, bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua sonoridade, num ritmo colorido, buscando a sugestão e não a narração. CRUZ E SOUSA João da Cruz e Sousa nasceu em 1861 na cidade catarinense de Nossa Senhora do Desterro. Filho de escravos alforriados, desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu matemática e ciências naturais. Em 1881, dirigiu o jornal "Tribuna Popular", onde já transpareciam suas idéias abolicionistas. Em 1883, foi recusado como promotor de Laguna por ser negro, o que lhe causou profunda insatisfação e lhe acentuou os ideais de abolicionismo. A poesia de Cruz e Sousa mantém a estrutura formal típica do Parnasianismo (uso de sonetos, rimas ricas, etc.), mas em um tom mais musical, rítmico, com uma variedade de efeitos sonoros, riqueza de vocabulários, e um precioso jogo de correspondências (sinestesias) e contrastes (antíteses). Transparece a preocupação social, onde a dor do homem negro (fruto de suas próprias experiências de preconceito) funde-se à dor universal humana, conferindo à sua obra um tom filosófico que reflete a angústia, o pessimismo e o tédio. A solução é sempre a fuga, a preferência pelo místico, a busca pelo mundo espiritual que o consola. É o eterno conflito entre o real e o irreal dentro do universo humano, os mistérios de Deus e do homem, da vida e da morte que convivem com o amor, o misticismo, e os desejos. O resultado é sempre o sofrimento do ser, muitas vezes personificado pela dor do preconceito (o que leva aos ideais abolicionistas dentro de sua obra). Em contraste com a cor negra, está o uso de um vasto vocabulário relacionado à cor branca: neve, espuma, pérola, nuvem, brilhante, etc. Isso reflete sua obsessão, tipicamente simbolista, pela imprecisão, pelo vago, a pureza e o mistério. Sua obra ainda é vastamente tomada pela sensualidade, pela busca da auto-afirmação e pela subjetividade (indicada no uso constante da primeira pessoa), pelo culto à noite, pela busca do símbolo e do mistério da existência, através de uma imagem obscura, sugerida e distorcida. Cárcere das almas Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza. Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! Cavador do Infinito Com a lâmpada do Sonho desce aflito E sobe aos mundos mais imponderáveis, Vai abafando as queixas implacáveis, Da alma o profundo e soluçado grito. Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito Sente, em redor, nos astros inefáveis. Cava nas fundas eras insondáveis O cavador do trágico Infinito. E quanto mais pelo Infinito cava mais o Infinito se transforma em lava E o cavador se perde nas distâncias... Alto levanta a lâmpada do Sonho. E com seu vulto pálido e tristonho Cava os abismos das eternas ânsias! Alma solitária Ó alma doce e triste e palpitante! Que cítaras soluçam solitárias Pelas Regiões longínquas, visionárias Do teu Sonho secreto e fascinante! Quantas zonas de luz purificante, Quantos silêncios, quantas sombras várias De esferas imortais imaginárias Falam contigo, ó Alma cativante! Que chama acende os teus faróis noturnos E veste os teus misteriosa taciturnos Dos esplendores do arco de aliança? Por que és assim, melancolicamente, Como um arcanjo infante, adolescente, Esquecido nos vales da Esperança?! VIOLÕES QUE CHORAM... Ah! plangentes violões dormentes, mornos, Soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, Bocas murmurejantes de lamento. Noites de além, remotas, que eu recordo, Noites da solidão, noites remotas Que nos azuis da Fantasia bordo, Vou constelando de visões ignotas. Sutis palpitações à luz da lua, Anseio dos momentos mais saudosos, Quando lá choram na deserta rua As cordas vivas dos violões chorosos. Quando os sons dos violões vão soluçando, Quando os sons dos violões nas cordas gemem, E vão dilacerando e deliciando, Rasgando as almas que nas sombras tremem Harmonias que pungem, que laceram, Dedos nervosos e ágeis que percorrem Cordas e um mundo de dolências geram Gemidos, prantos, que no espaço morrem... E sons soturnos, suspiradas mágoas, Mágoas amargas e melancolias, No sussurro monótono das águas, Noturnamente, entre ramagens frias. Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. Tudo nas cordas dos violões ecoa E vibra e se contorce no ar, convulso... Tudo na noite, tudo clama e voa Sob a febril agitação de um pulso. Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) DADOS BIOGRÁFICOS Afonso Henrique da Costa Guimarães, nascido em Ouro Preto no ano de 1870, concluiu seus primeiros estudos na sua cidade natal. Aos dezoito anos, presenciou um fato que marcaria profundamente toda a sua vida e suas poesias: a morte de Constança (filha de Bernardo Guimarães), sua prima e noiva, às vésperas do casamento. O poeta nunca conseguiria superar o trauma da perda, e toda sua obra parece refletir essa amargura. Alphonsus de Guimaraens A obra de Alphonsus de Guimaraens é toda marcada por uma profunda suavidade e lirismo, com uma linguagem simples e um ritmo bem musical, cheio de aliterações e sinestesias. Por ter uma formação mais clássica e uma influência de cunho medieval, há o emprego constante das redondilhas, além dos versos alexandrinos e decassílabos, com ênfase no soneto, forma pela qual o poeta domina com grande êxito. A presença da amada pedida, Constança, está sempre presente, retratada aos moldes medievais: uma divindade intocável, perfeita, livre de qualquer toque de erotismo e somente acessível através da morte. Por várias vezes ela é confundida com a imagem pura da Virgem Maria, de quem o poeta é profundamente devoto. • A morte é outro fator importante dentro de sua obra, o que o aproxima muito dos poetas românticos. Há a aceptividade, a simpatia e o desejo pela morte, já que ela é o único caminho para se chegar à amada. Ela é o destino último, insuperável, em contraste com a miséria do mundo real. Cria-se assim um ciclo de misticismo, amor idealizado e obsessão da morte, onde a melancolia é sempre um fator marcante, aliada aos sonhos e às amarguras pessoais do poeta, muitas vezes refletidas pelos traumas do passado. ISMÁLIA Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... Marcelino Vespeira