Meios de comunicação e população afro-colombiana. Visibilidade,
vozes e assuntos dos temas afro-colombianos nos meios de comunicação
Camilo Andrés Tamayo
__________________________________________________________________
Resumo investigação: “Meios de comunicação e população afro-colombiana.
Visibilidade, vozes e assuntos dos temas afro-colombianos nos meios de
comunicação”
Consultores: Camilo Andrés Tamayo, Julián Penagos e Patricia Boadas.
No ano de 2009, por um gentil convite do Projeto Regional “População
afrodescendente da América Latina”, do Programa das Nações Unidas pelo
Desenvolvimento –PNUD-, começou a realização de um exercício investigativo que
permitisse indagar as agendas informativas que os meios de comunicação colombianos
constroem sobre os temas das comunidades afro-colombianas e pelos standards de
qualidade presentes e/ou ausentes nas suas peças jornalísticas. Este estudo enfoca na
informação elaborada pelos meios de comunicação televisivos, radiais e escritos de alta
referência na Colômbia.
Este estudo pretende responder as seguintes perguntas de maneira rigorosa: Quais
agendas informativas sobre os temas das comunidades afro-colombianas elaboraram alguns
meios de comunicação televisivos, radiais e escritos na Colômbia? Quais standards de
qualidade jornalística estão presentes e/ou ausentes nas suas peças jornalísticas? Quais são
as narrativas, os sujeitos sociais, políticos e culturais que são visíveis nestas agendas? De
que assuntos falaram e quem falaram desses assuntos? Que pautas e lineamentos podem
ser criados para melhorar a qualidade jornalística sobre a cobertura dos temas das
comunidades afro-colombianas na Colômbia?
Que porcentagem de exposição midiática tem este tema dentro da oferta
informativa geral na Colômbia? Como é a estrutura geral dos meios de comunicação na
Colômbia e como esta temática é inserida nessa dinâmica? Como os meios de comunicação
ocidentais têm trabalhado historicamente esta temática e quais aprendizagens, conclusões,
paralelismos ou similitudes poderiam ser tidos em conta para o caso colombiano?
O principal desafio desta investigação foi o de escrever e analisar o conteúdo
informativo publicado de maneira direta e/ou relacionada sobre os temas afrocolombianos por um jornal de circulação nacional (El Tiempo), um jornal regional (El
Colombiano), uma revista de circulação semanal (Revista Semana), três radiojornais de
cobertura nacional (RCN Radio, Caracol Radio, La W), um radiojornal de cobertura
nacional (RCN Pasto) e três telejornais de cobertura nacional (Noticias RCN, Caracol
Noticias e Noticiero CM&). Em suma, dois jornais, uma revista, quatro radiojornais e três
telejornais (10 empresas jornalísticas no total) foram objeto de estudo por parte desta
investigação, buscando, com isso, gerar várias escalas de análise: por cobertura, regional –
nacional, e por natureza: radial, televisiva e escrita. O erro amostral deste estudo é ±5%
com 95% de confiabilidade e, no total, foram analisadas 416 peças jornalísticas.
O estudo definiu três categorias de análise: construção da informação, fontes e
sujeitos da informação e assuntos da informação, com suas 21 respectivas subcategorias,
produzindo as seguintes caracterizações: para os meios escritos analisados, os temas afrocolombianos são um acontecimento com epicentro basicamente nas cidades capitais, está
narrado mediante o gênero preponderante da notícia, elaborada a partir de uma única
fonte, majoritariamente masculina, tem uma exposição informativa média e as informações
são realizadas graças aos repórteres próprios do meio. Em 33% dos casos as fontes citadas
na informação para falar sobre temas afro-colombianos provém do âmbito da Sociedade
_______________________________________________________________
1
População afrodescendente da América Latina, PNUD – Publicações
www.afrodescendientes-undp.org
Meios de comunicação e população afro-colombiana. Visibilidade,
vozes e assuntos dos temas afro-colombianos nos meios de comunicação
Camilo Andrés Tamayo
__________________________________________________________________
Civil (Sujeitos Sociais [24%] e Organizações e Grupos Sociais [9%]) e 14% provém do
setor oficial (Governo [11%] e Estado [14%]), cujos pontos de vista giram em torno a
consensos sobre o tema, isto é, são pontos de vista que se ampliam e/o reiteram de umas
fontes para outras, mas que habitualmente não são contrastados; se trata, ademais, de uma
informação baseada em fatos de registro, nos quais primam os assuntos concernentes a
problemas raciais, criminalidade e patrimônio, memória ou tradições das comunidades
afro-colombianas.
Para os meios televisivos, os temas afro-colombianos são um acontecimento com
epicentro nas cidades capitais, estão narrados mediante o gênero preponderante da notícia,
elaborado a partir de uma única fonte, majoritariamente masculina, tem uma exposição
informativa média e as informações são realizadas graças aos repórteres próprios do meio.
Em 78% dos casos as fontes que são citadas na informação para falar dos temas afrocolombianos provém do âmbito da Sociedade Civil (Sujeitos Sociais [69%] e Organizações
e Grupos Sociais [9%]) e 28% provém do setor oficial (Governo [9%] e Estado [19%]), e
cujos pontos de vista giram em torno dos consensos sobre o tema, isto é, são pontos de
vista que se ampliam de umas fontes para outras, mas que habitualmente não são
contrastados; se trata, ademais, de uma informação baseada em fatos de registro, nos quais
primam os assuntos concernentes a problemas raciais e criminalidade das comunidades
afro-colombianas.
Para a rádio, os temas afro-colombianos são um acontecimento com epicentro
basicamente nas cabeceiras municipais, estão narrados mediante o gênero preponderante
da notícia, elaborados a partir de uma única fonte oficial na maioria das vezes,
majoritariamente masculina, tem uma exposição informativa entre média e alta e na grande
maioria dos casos não é especificado de onde provém a informação. Em 13% dos casos
as fontes que são citadas na informação para falar dos temas afro-colombianos provém do
âmbito da Sociedade Civil (Sujeitos Sociais [13%] e 52% provém do setor oficial (Governo
[13%] e Estado [39%]), e cujos pontos de vista giram em torno a consensos sobre o tema,
isto é, são pontos de vista que se ampliam de umas fontes para outras, mas que
habitualmente não são contrastados; se trata, ademais, de uma informação baseada em
fatos de registro, nos quais primam os assuntos concernentes a problemas raciais e
criminalidade das comunidades afro-colombianas, especialmente a delinqüência.
Qualitativamente esta investigação constata que não é possível chegar a concluir
que o uso dos estereótipos marcados nos meios de comunicação analisados, mas sim é
possível concluir uma parcial exclusão midiática na qual os afro-colmbianos são
convertidos em temas invisíveis, os quais não passam pelas agendas dos meios,
especialmente para a rádio e a televisão. Igualmente pode-se afirmar que nos meios de
comunicação analisados não existem jornalistas que estejam especializados nos temas das
comunidades afro-colombianas e que as notícias provenientes dos meios de comunicação
sobre a população afrodescendente não são tomadas em conta pelas agendas dos meios de
comunicação analisados. Da mesma maneira não é possível estabelecer uma relação direta
entre a população afro-colombiana e o crime, isto é, não é explicita uma “criminalização
da população afrodescendente” por parte dos meios de comunicação analisados.
Mas o que sim é possível estabelecer são quatro interessantes tendências: uma, a
“pobretização” das comunidades afro-colombianas, pois existe uma forte tendência nos
meios de comunicação colombianos a associar pobreza com afro-colombianide; dois, a
“vitimização” das comunidades afro-colombianas, pois na grande maioria das vezes são
_______________________________________________________________
2
População afrodescendente da América Latina, PNUD – Publicações
www.afrodescendientes-undp.org
Meios de comunicação e população afro-colombiana. Visibilidade,
vozes e assuntos dos temas afro-colombianos nos meios de comunicação
Camilo Andrés Tamayo
__________________________________________________________________
apresentados unicamente como vítimas e não como atores capazes de construir seu próprio
devenir histórico ; três, a “exoticidade cultural”, a qual se faz evidente em continuar
mostrando a cultura afro-colombiana desde um âmbito mais da “novidade” e “pouco
convencional” e não como uma característica cultural normal para nossa sociedade diversa
e pluricultural, e, finalmente, uma “exclusão simbólica” das comunidades afro-colombianas,
pois além da evidente exclusão midiática, quando são narrados estes assuntos há uma forte
carga simbólica em falar sobre comunidades que não fazem parte integral da nação, mas
que são “historicamente excluídas”, ou que estão “em via de integração” com o resto do
país.
Os resultados desta investigação também evidenciam uma tendência a associar as
populações afro-colombianas com temas de corrupção, malversação de fundos e pouca
capacidade para o uso de recursos, sobre tudo nas agendas dos telejornais e na imprensa, e
igualmente são percebidos geralmente como beneficiárias de subsídios ou cooperação.
Igualmente nunca se refere a essas comunidades como afro-colombianas, habitualmente se
aplicam as etiquetas lingüísticas “comunidades negras”, “caribenhos” ou “negros” ou
“afrodescendentes”.
Em suma, se for preciso falar em “estereótipos negativos” sobre as populações
afrodescendentes nos meios de comunicação colombianos estes seriam: comunidades
pobres, corruptas, vítimas, exóticas e abandonadas; e os “estereótipos positivos” seriam:
comunidades ricas culturalmente, principalmente em temas que tem a ver com a dança e a
comida. Resulta interessante como em algumas ocasiões são materializados na agenda
informativa como “objetos passivos” que recebem ajuda, cooperação ou aceitam políticas
estatais sem alterar-se.
A partir destes resultados os investigadores recomendaram aos meios de
comunicação melhorar indicadores informativos relacionados como a visibilidade, a
diversidade e a pluralidade deste tema no interior das agendas informativas dos meios de
comunicação colombianos, configurar agendas próprias de seguimento da informação dos
temas das comunidades afro-colombianas, abordar vários gêneros jornalísticos, realizar
mais e melhor investigações sobre este tema, abolir o uso de uma única fonte, a realização
de reuniões com os meios públicos de comunicação e velar pela qualidade jornalística, criar
manuais sobre cobertura jornalística, realizar monitoramentos permanentes das
informações sobre os temas afro-colombianos e definir políticas informativas, como
mecanismos para melhorar os standards de qualidade jornalística no interior de seus meios
de comunicação e abordar responsavelmente nas suas agendas informativas os temas
relacionados como a população afro-colombiana.
Finalmente esta investigação faz um convite ao Projeto Regional “População
Afrodescendente da America Latina” do PNUD para realizar conselhos de
leitores/ouvintes/telespectador sobre o tema afrodescendente, e a fomentar a construção
de manuais de cobertura jornalística ao interior dos meios, que igualmente promovam boas
práticas jornalísticas, bem como estudos de opinião sobre as percepções cidadãs em torno
ao tema afrodescendente; isso como parte de uma série de ações que possam redundar em
processos de interlocução com os meios de comunicação e os jornalistas em toda América
Latina.
_______________________________________________________________
3
População afrodescendente da América Latina, PNUD – Publicações
www.afrodescendientes-undp.org
Download

Meios de comunicação e população afro-colombiana