Dias com sol, calor... e muito aprendizado Por Danielle Basto Esses dias de imersão disseminando o conceito de inclusão e sociedade inclusiva em São Luis, Maranhão, foram uma das experiências mais profundas que vivi dentro da Escola de Gente. Viver intensamente as Oficinas Inclusivas é algo encantador e prazeroso. Depois desta série de oito Oficinas em São Luis, Maranhão, percebo que nosso papel é importante para empoderar jovens para que ajam como multiplicadores(as) do conceito. Percebo agora a importância do(a) Oficineiro(a) realizar Oficinas Inclusivas para que tenhamos vivências e, com elas, possamos criar novos mecanismos para impulsionar a sociedade a se tornar inclusiva. Porém, ser um(a) Oficineiro(a) da Inclusão é mais do que realizar Oficinas Inclusivas. É preciso acreditar na causa, se preocupar com o futuro do ser humano e como viabilizar um mundo com qualidade de vida para TODAS as pessoas. A Oficina Inclusiva é o momento instigante onde realmente lidamos com dilemas sobre como devemos atuar e acrescentamos um pouco de cada um nela. Esse é o momento em que muitas vezes os(as) participantes têm contato pela primeira vez com pessoas com deficiência, já que a metodologia prevê, como estima a Organização Mundial de Saúde, a presença de 15% de pessoas com deficiência, permitindo assim reproduzirmos a sociedade de maneira mais real e sem hierarquização de condições humanas. A Agência de Notícias dos Direitos da Infância – Matraca foi a organizadora de nossa jornada em São Luis e os(as) Oficineiros(as) da Inclusão Fabio Meirelles e Flavia Martins, a gerente de projetos da Escola de Gente, Patricia Moreira, e eu nos sentimos muito bem recebidos(as). Tudo foi cuidado carinhosamente por nossa amiga Jeane Pires, a pessoa que articulou junto com a Secretaria Municipal de Educação os espaços que trabalhamos. Também não poderia deixar de falar da Karoliny Lopes, da secretaria, sempre atenciosa. Neste período entre os dias 21 e 25 de maio, em que realizamos Oficinas Inclusivas em escolas e projetos sociais, pude perceber que há muito mais abertura para se falar de inclusão em São Luis do que aqui no Rio de Janeiro. Nessa terra onde Sol, calor, chuva fazem parte da rotina dos ludovicences (isso mesmo! quem nasce em São Luis se chama assim por conta da influência da colonização francesa) vivemos situações em que nossa formação como Oficineiros(as) da Inclusão era posta à prova. Conhecemos uma menina cega que tem amigos(as) surdos(as) e que aprendeu a Libras (Língua de sinais brasileira), um rapaz cego que quis que descrevêssemos o ambiente em que ele estava e mostrou aos(as) participantes da Oficina os equipamentos que usa, como relógio que fala a hora, a reglete, a bengala entre outras coisas, adolescentes envergonhados(as) que falavam baixo e pessoas que não queriam falar. Lidamos com a diversidade, aprendemos muito e sabemos que para sermos mais coerentes precisamos aprender Libras, braile e o que mais for necessário. O legal é que apesar de ser a mesma metodologia nenhuma Oficina é igual. Umas emocionam mais, outras são menos expressivas, mas sempre saímos achando que tocamos cada pessoa de uma forma e em uma intensidade diferente. No segundo dia, Fabio e Flávia estavam realizando uma Oficina Inclusiva na Faculdade São Luis para um grupo bem pequeno de 10 pessoas e havia uma menina com paralisia cerebral. Sem dúvida, ela me chamou atenção. Porém, apesar de estar interagindo e trocando com eles(as), havia momentos em que sua mãe passava por cima, como foi caso em que Fabio e Flavia pediram para cada um falar um talento e uma limitação. Quando sua mãe falou do seu talento para bordar, ela sorriu e balançou a cabeça, no entanto, quando se referiu a sua deficiência como limitação, ela ficou séria. Então, eu que estava de fora não consegui resistir e pedi a palavra para os(as) Oficineiros(as) em ação. Questionei a mãe se isso era o que a própria acha da filha ou se a filha se via assim. A senhora titubeou e respondeu que era o que achava a respeito da filha. Perguntei a menina se ela achava isso também e ela não fez sinal, pedi para que escrevesse sua limitação. Ela pegou a caneta e escreveu seu nome. Ela infelizmente me deixou sem resposta concreta, já que escreveu seu nome no papel, porém tive a certeza de que a deficiência não é sua limitação! Já fiz cinco Oficinas Inclusiva no Uruguai e Argentina com Marina Maria, outra Oficineira da Inclusão, mas em português só havia feito uma. Depois desta semana falando minha língua me senti fortalecida e pronta para fazer mais e mais. Quando pegamos o gosto pela metodologia, fica difícil parar. Descobrir o(a) outro(a) e trabalhar para que cada indivíduo participe a sua maneira é simplesmente fantástico. Nas Oficinas onde havia professores(as) participando, percebi que no momento em que dizíamos que não traríamos soluções concretas eles(as) ficavam de certa maneira frustrados(as), mas ao passar do tempo viam que as soluções para garantir a participação dos(as) alunos(as) nas sala de aula dependem mais deles(as) do que de outra pessoa que imponha o que têm que fazer. Não existe um padrão de sociedade inclusiva, um modelo. Esta é sociedade deve ser construída a cada dia, sempre aceitando que hoje não está bom e agindo para que o amanhã seja diferente. Vamos lá, juventude brasileira!!!