Complexidade e Estilos de Liderança A habilidade de lidar com níveis crescentes de complexidade é a característica evolutiva que mais depende das fases de nossa vida. Embora a adaptação, aprendizagem, conexão e cooperação sejam todas elas competências evolutivas que dependem de nossa maturidade psicológica, elas são menos influenciadas pela idade do que nossa habilidade de lidar com a complexidade. A maturidade psicológica depende, basicamente, de nossa capacidade de individuar e autorealizar, enquanto lidar com a complexidade depende de nosso grau de exposição a experiências. Como resultado do aumento da segurança, prosperidade e educação que ocorreu no mundo ocidental, e em alguns dos países em desenvolvimento que mais rapidamente estão crescendo a sua renda per capita nos últimos cinquenta anos, cada vez mais crianças tem crescido com o apoio de pais autorealizados. Tendo como referência esses modelos de adultos, e não tendo que lidar com as adversidades da vida, essas crianças têm mais chances de amadurecer e desenvolver o seu pleno potencial. Consequentemente, nós vemos cada vez mais jovens e adultos de meia idade que estão bastante avançados no domínio das primeiras quatro competências evolutivas. Experiência A habilidade de lidar com a complexidade depende, em grande medida, da profundidade e amplitude de suas experiências de vida. Essas experiências expandem o seu banco de memórias, fornecendo assim mais informações para o funcionamento do seu processo lógico, sempre que novas situações emergirem. Essa é uma vantagem significativa para lidar com a complexidade, mas ela não pode ser acelerada. Isso significa que, para o gerenciamento de talentos, é fundamental assegurar àqueles que estão sendo identificados como potenciais candidatos a posições de influência, múltiplas oportunidades para viverem experiências diversificadas. Tipos de Mente A habilidade de lidar com a complexidade também depende de sua habilidade em desenvolver a mente autotransformadora. Essa habilidade depende do seu nível de maturidade psicológica. Deixe me explicar. Conforme crescemos e desenvolvemos, nosso cérebro/mente muda a sua maneira de funcionar, possibilitando-nos lidar com níveis cada vez maiores de complexidade. Graças à neuroplasticidade do cérebro, temos a habilidade de adaptar a maneira como vemos o mundo, em qualquer momento de nossas vidas. Em seu livro, “Imunidade à Mudança”, Robert Kegan aponta para as duas principais descobertas da sua área de pesquisa, relacionadas à maneira como lidamos com a complexidade. Primeiro, a habilidade dos adultos em lidar com a complexidade geralmente aumenta com a idade; e segundo, há três estágios de desenvolvimento da complexidade mental. Esses estágios são chamados de mente socializada, a mente de autoria pessoal e a mente autotransformadora. A mente socializada é uma mente dependente. A forma que uma mente socializada reage à uma situação ou demanda é fortemente influenciada pelo que ela acredita que os outros estão esperando, e como ela pode atender sua necessidade de sobrevivência, relacionamento e autoestima. Ela age a partir dos níveis inferiores de consciência pessoal. A mente socializada prefere receber instruções, que lhe digam o que deve ser feito. Dessa maneira, ela é capaz de superar sua ansiedade a respeito de ser julgada e de sua capacidade em atender suas necessidades básicas ou de deficiência. Se você age com uma mente socializada, é improvável que você queira ocupar uma posição de liderança significativa. O nível de responsabilidade e de accountability seria muito estressante. Você provavelmente prefere ir para casa depois do trabalho tão logo o dia acabe, ansiando para estar com sua família ou amigos, ou focando em outras atividades que são importantes para você. A mente de autoria pessoal é uma mente independente. A maneira que uma mente de autoria pessoal reage a uma situação ou exigência, é devolvendo aos outros o que ela necessita para progredir em seus objetivos. Ela está tentando expandir o seu senso de liberdade e independência. A mente de autoria pessoal percebe o mundo através de seus filtros de crenças. Ela ouve e vê somente o que quer. Aquilo que passa através dos filtros é a informação que ela procura para apoiar seus planos. Esse tipo de mente corresponde ao nível de consciência da transformação. A mente de autoria pessoal quer ser responsável e assumir iniciativas. Ela aceitará prontamente desafios. Se você está agindo com base numa mente de autoria pessoal, desejará assumir um papel de liderança. Verá isso como uma possibilidade de promover suas ambições e objetivos. Você terá mais êxito gerenciando pessoas com mentes socializadas, que trabalham em tarefas relativamente rotineiras. Você terá conflitos com pessoas da sua equipe que também agem de acordo com mentes autorais, e que tem uma visão diferente da sua em relação a como o trabalho deveria ser feito. A mente autotransformadora é uma mente interdependente. A maneira como a mente autotransformadora reage às situações ou demandas é buscando mais informações que possibilitem aumentar as chances de encontrar significado, fazer a diferença e estar a serviço. Ela corresponde aos três níveis mais elevados da consciência pessoal. A mente autotransformadora não está limitada por suas crenças, agenda ou posição. Ela está aberta aos pensamentos e idéias das outras pessoas, e consegue integrá-las numa visão de mundo mais inclusiva. Se você age com uma mente autotransformadora terá facilidade para gerenciar pessoas com mentes de autoria pessoal, e que estão trabalhando em tarefas que exigem criatividade e iniciativa – pessoas que em sua rotina lidam com altos níveis de responsabilidade. A mente autotransformadora é capaz de observar suas próprias crenças e idéias objetivamente, compará-las com outras, e integrar o melhor daquilo que ela percebe dentro de uma visão de mundo mais inclusiva. A mudança de um tipo de mente para outro não é algo que possa ser ensinada facilmente. É algo que evolui conforme a sua capacidade de lidar com seus medos e expandir a sua consciência. Nós evoluímos de uma mente socializada para uma mente de autoria pessoal quando somos capazes de superar nossas ansiedades e medos, nos individuar e nos sentir confiantes em nossa própria capacidade de sobreviver e prosperar. Nós evoluímos de uma mente de autoria pessoal para uma mente autotransformadora de acordo com a nossa capacidade de nos desapegarmos dos resultados que acreditamos serem necessários alcançar, e vivemos na expectativa de que conseguiremos exatamente aquilo que precisamos para obter o melhor resultado. Essa maneira de ser se alinha com uma compreensão espiritual da vida: a capacidade de confiar num universo benévolo; a habilidade de dissolver o apego a um resultado específico; e a habilidade de permanecer confortável na incerteza. Entre quarenta e cinquenta anos atrás, lideres de negócios e da indústria queriam funcionários com mentes socializadas. Eles queriam pessoas que trabalhassem bem em equipe, assumiam suas responsabilidades, eram leais à empresa e seguiam de forma rigorosa as direções ou instruções dadas por seus chefes. Hoje as empresas querem funcionários com um nível mais alto de conhecimento – pessoas que agem de forma responsável, têm iniciativa e trabalham de forma independente. A Indústria e os negócios necessitam de pessoas proativas e com autoconfiança – pessoas com mentes de autoria pessoal. Mas quem irá liderar esse tipo de profissional? Para essa tarefa nós precisaremos de lideres com mentes autotransformadoras pessoas que são capazes de ir além de suas preferências e maneiras de pensar, que percebem suas limitações e integram aspectos de outras visões e percepções de mundo dentro de suas próprias. O problema é que esse tipo de líder não se encontra com facilidade. Dois grandes estudos de profissionais de classe media que cursaram faculdade nos EUA, mostrou que 58% deles ainda não alcançou um nível de mente de autoria pessoal, e somente 6% ultrapassaram os limites da mente de autoria pessoal para desenvolver uma mente autotransformadora. Essa pesquisa levou Robert Kegan a seguinte conclusão: “Complexidade é realmente a história do relacionamento entre as demandas e arranjos complexos do mundo e nossa própria complexidade mental. Quando olhamos para esse relacionamento nós descobrimos uma lacuna: nossa própria complexidade mental ficou para trás em relação às exigências do mundo”. Para atender as necessidades de liderança do mundo complexo em que vivemos atualmente, nós precisamos: • • • Encontrar maneiras de acelerar a capacidade humana de lidar com complexidade através da aceleração da evolução da consciência humana; Fornecer mentores/líderes sábios para os nossos jovens líderes para que eles possam acessar a sabedoria daqueles que experimentaram esses papéis; Desenvolver nossas capacidades de conexão e cooperação no nível global para que possamos acessar a inteligência coletiva da nossa sociedade global através da Internet e das redes sociais e de negócios.