SUELI APARECIDA
NARDES
A INTERTEXTUALIDADE
ENTRE OS SERTOES
GUERRA DE CANUDOS
Trabalho
de conclusao
obtenr;ao do titulo de
lngll!!s pela Faculdade
E 0 FILME
de curso apresentado
para
graduado
em tetras Portugu~s
de Ci~ncias Humanas Lelras
e Artes sob orienta~o da professora Maria lucia.
CURTIBA
2009
RESUMO
o
mesma
objetivo
depois
do presente
trabalho
enfoca
de cern anos
continua
a estimular
campara-Ie com
semelhanyas
suas obras,
0
a estudo
as
do livre
estudos
e obras
Serfaes,
que
correlatas
e
filme Guerra de Canudos no intuito de descobrir as
e diferenyas
destacadas
e que novo sentido
0
pelo escritor
diretor
e diretor
Ihes atribui
na constrUyaO
de
ao resolver
reescrevEHa
a
criados
par Euclides
e
seu tempo.
Intenciona
tambem
camparar
Rezende, no que diz respeito
a
autores
nas
trata
principalmente
Palavras
esta
questao
de Antonio
chave:
intertextualidade,
Conselheiro,
Guerra
as personagens
religiosidade, e demonstrar como cada urn dos
de
religiosidade.
atitudes
de
cada
urn
dos
personagens
lider do movimento.
Canudos,
similaridades,
diferen<;:as,
SUMARIO
Dedicat6ria..
Agradecimentos .
Epigrafe....
Resumo...
Sumario...
Introdu98o....
.
1. Contextualiza98o..
1.1 Historica..
1.2 Vida e Obra..
1.3 Estilo Euctidiano..
2. 0 Romance:
Sertoes...
2.1 A terra....
2.2 0 Homem..
2.3 A Luta
2.4 Antonio Conselheiro aos olhos de Euclides...
3. A Guerra..
3.1 A Primeira Expedit;8o..
3.2 A Segunda Expedi,iio...
3.3 A Terceira Expedic;c3o...
3.4 A Quarta Expedi980 e a Chacina..
4. 0 Filme: Guerra de Canudos...
4.1 Linguagem Cinematografica..
4.2 Cenario....
4.3 Personagens..
4.4 Antonio Conselheiro aos olhos de Rezende...
5. Tragando um paralelo das Diferengas e Semelhangas..
5.1 Comparagoes Bfblicas..
Consideragoes Finais..
Referencias .
.
03
04
.. 05
.
06
.
07
08
13
.
13
.
14
.
15
18
..
19
..
20
21
.. 21
.
25
.
25
..
26
.
26
27
28
.
29
.
32
.
33
. .. 35
37
. 40
. 43
.
44
.
.
as
.
.
.
Introduc;ao'
o presente estudo focaliza "Os Sertoes
de Euclides da Cunha, que mais
ft
de cem anos depois de sua publicagao
obras correlatas.
Rezende,
Esse e
distribuido
o
0
em 1997, ocasiao do centenario
"Guerra
semelhangas
do confllto,
que tambem
texto original.
0
de
Canudos",
de
Sergio
Rezende,
importantes
dominante.
para
se
comparar
e diferengas entre os dois textos.
Os Sertoes e um relata da Guerra de Canudos.
jagungo
e
objeto de estudo focaliza a romance "Os Sertt'5es", de Euclides da Cunha
filme
dad os
estudos
caso da "Guerra de Canudos", filme dirigido por Sergio
0
sera analisado numa leitura contrastiva com
e
,
(1902), continua a estimular
do
cotidiano
da
guerra,
E uma abra litera ria com
porem
deturpada
pela
visao
Como tantos outros livros, "Os Serfees" nao considera a esperteza
um saber proprio de um povo. Essa leitura de Canudos
jagungo
e uma provocagao
satisfaz
com a Historia oficial.
leituras possibilitando
para a imagina<;ao criativa
Sendo assim,
uma visao diferenciada
e
do
pel a otica do
do leitor que nao se
necessaria
acrescentar
sabre a tema proposto,
outras
como por
exemplo, a filme Guerra de Canudos.
Basi (1996) considera
que
livre posta entre a literatura
0
naturalista assinala um fim e um camec;a: a tim do imperialismo
da analise
cientifica
aplicada
aos aspectos
mais
e a sociologia
litera ria, a comec;a
importantes
da sociedade
brasileira
Justifica-se
possiveis
sobre
esta
pesquisa
a tema
no
proposto
sentido
permitindo
de
acrescentar
aos
leitores
outras
enriquecer
leituras
0
seu
crescimento estetico.
Segundo
Tania Carvalhal
parte da estrutura
(2006),
de pensamento
Sempre que a cornparac;ao
e
comparar
do homem
e um procedimento
e da organizar;ao
que faz
da cultura.
usada como recurso no estuda critica, passibilita
uma explorac;.3.o adequada de seus campos propostos.
Com base nestes argumentos,
apresenta-se
a problematica
deste estudo,
assim enunciado:
Oe que forma a texto Os Sert6es
se relaciona
com 0 filme
Guerra
de
Carludos e quando urn ponto de confluencia,
semelhanc;as e diferenc;as entre eles
poderao ser apresentadas
de intertextualidade?
como evidencia
Qu, em autras
- 8-
palavras,
se a roteirista
Sergio Rezende
decidiu
reescreve-Io
(copia-Ie,
enfim,
reconta-Io no seu tempo) que novo senti do Ihes atribui com este deslocamente?
Como hipotese, presume-se
entre as obras e encontrar
Que e passivel sim fazer leituras contrastivas
semelhanyas
e diferen9as,
aponta para urn processo relacional entre linguagens
sempre
havera
esse dialogo
forma de metalinguagem
A intertextualidade,
de literatura,
portanto,
onde se toma como referencia uma linguagem
pais seguindo orientayoes
constroi
intertextual.
pais a metallnguagem
e, tratando-se
de Kristeva citada por Carvalhal
como mosaico de citayoes,
carregados
e
uma
anterior,
(2006), todo texto se
de outros textos,
inclusive
do
"texto" da realidade.
o
objetivo geral da presente pesquisa e esb09ar a arcabou90
dispunham
a autor de Os Sertees e a Diretor/roteirista
teorico que
de Guerra de Carludcs
para analisar a contexto de produ9ao, tanto do livro, como do filme e identifiear 0
sentido da expressao
literatura
favorece a generaliza9ao
Sao dais as objetivos
teorieas
e praticas
identificar
como
as origens
desses
questoes
a primeiro e aprofundar
para se observar
as personagens,
enfase
a fonte
a figura
atraves
e
a segundo,
de
do fanatismo
e demais personagens.
este trabalho
prop6e urn estudo que se baseara
suficientemente
a malha
de intertextualidade.
teorica
em face dos textos escolhidos.
relevantes
as questoes
as similaridades
principalmente
religiosa,
e a evolu9aO do conceito
preparar
conceitos
mental que
Sert6es e 0 filme Guerra de Canudcs;
dando
Como metodologia,
espera-se
as
sao constituidas
Conselheiro,
praticado pel a protagonista
buscar
espeeificos:
das intertextualidades
diferenc;:as entre a texto
Antonio
com parada como um procedimento
ou a diferenciac;:ao.
para a literatura comparada
Com
para a posterior
Dessa forma,
e rompe-se
ern
isso,
analise
enfrentam-se
com as fronteiras,
nao somente em termos de Literatura Nacional, mas tambem das que permeiam
as conceitos
confluencias
de texto e disci piina. As noc;:6es de intertextualidade,
entre textos buscam seus aspectos
literatura com parada.
logieo-formal
metodol6gicos
A comparac;:ao nao e um metoda especifico
paralel0 a uma atitude dedutiva, favorecendo
isto e, as
embasados
na
e, sim, urn ato
a generalizac;:ao au a
diferenciac;:ao.
Carvalhal
(2006)
ainda
afirma
que 0 sentido
da expressao
"Iiteratura
- 9-
com parada", complica-se
ainda mais ao se constatar que nao existe apenas uma
orienta gao a ser seguida e que as vezes
e adotado
certo ecletismo metodologico.
Quanta ao diretor do filme, Rezende, baseia-se em teorias semelhantes
de Euclides,
ao manter-se
realidade genuinamente
fie I a tecnicas
estrangeiras
para representar
a
uma
brasileira.
Cabera a esta pesquisa avaliar ate que ponto e de qual forma as duas
obras contribuem
para a formagao
de uma consciencia
nacional, tanto sobre 0
conflito como a natureza do brasileiro.
Como suporte teorico recorre-se
literatura
a Tania Carvalhal
com parada como a investigagao
literaturas. Nao apenas aproxima-Ias,
(2006) que conceitua
literaria que confronta
duas ou mais
mas descobrir, tanto as semelhangas
como
as diferengas, entre elas
Ainda afirma a autora que "Literatura com parada" rotula investigagoes
variadas,
analise
com diferentes
a
concedem
metodologias,
literatura
e pela diversificagao
comparada
vasto
campo
de atuagao,
motivos, mitos etc. A diversidade de estudos acentua a complexidade
A literatura
comparada
confronta
como recurs a analftico e interpretativo.
possibilita
de
temas,
da questao.
nao so pel a procedimento
A comparagao
bem
dos objetos
em si, mas
a este tipo de
estudo literario uma exploragao adequada de seus campos de trabalho.
A comparagao,
autores.
afirma Carvalhal (2006),
E a fungao da literatura comparada
em questao,
contemporaneo
busca
as raizes
de cada
e sempre
binaria, isto
e,
entre dais
e buscar as filiagoes de cada autor
um.
Par isso ela diz que
a autor
releu 0 anterior para produzir sua obra. Se a obra primeira
era tao conhecida,
nao
passa a ser a partir da escrita do ultimo. Ou seja, tornam-se
devedores um ao outro
Oiz-se entao, segundo
que todo texto
e
e absorgao
Bakhtin e Tynianov,
(citados
por CarvalhaI2006),
e replica de um ou varios textos, 0 processo de escrita
visto como resultado de um processo de leitura. Para as comparativistas
importa
qual obra
correlacionam
e
mais antiga ou qual
mais recente,
nao
e sim, se elas se
entre si.
Nesta mesma linha, Julia Kristeva,
nogao de intertextualidade,
intertextualidade
e
e embora
(citada por Carvalhal
ela quisesse
desvincular
2006), chega
a questao
dos estudos, contribuiu para que fosse renovado, isto
e,
a
da
abala a
- 10-
velha concepc;ao
anteriormente,
de influencia
entao
procedimento
e desloca
a que era entendido
0 sentido
como
da divida
tao ressaltada
dependencia
passa
a ser
natural e continuo de reescrita.
nao se ocupam apenas em contestar
a
que um texto resgata do outro, mas 0 que levou um autor reler textos anteriores
Sendo assim, aS comparativistas
e
que sentido
e
Ihes atribui,
levando
em considerat;aa
dais conceitos:
par6dia
estilizat;ao.
Seguindo
ainda
nesta
vertente
de
pensamento,
Afonso
Romano
Sant'Anna (2007) vai mais adiante. Ele percebe que ao trabalharem
dois conceitos
os comparativistas
par6dia tem sido estudada
outras
elementos,
em estado embrionario.
A
de forma isolada, entao, ele pro poe a inclusao
de
parafrase
deixam a questao
e
apropria9ao,
para
que
sejam
estudados
junta mente, pois, com os conceitos de ~efejton, udesvion e "aproximat;8Io",
se entender melhor os tipos de apropria90es encontrados
Romano de Sant'Anna
de
so mente com
podera
nos textos literarios.
(2007) cita alguns nomes que trac;aram definic;oes
de par6dia, como por exemplo, Brewer, em seu dicionario de literatura: "Par6dia e
uma ode que perverte 0 sentido
de outra ode (grego: para-ode),
isto se deu
porque a ode era um poem a para cantado ao lado de outra ode, tendo, portanto,
tem origem musical.
Na sua concepc;ao existem tres tipos de par6dia: a verbal, com a alterat;ao
de uma au outra palavra; a formal, em que as estilos e as efeitos tecnicos de um
escritor sao usados como forma de zombaria;
e a tematica,
em que se faz a
caricatura da forma e do espfrito do autor.
Ele afirma ainda que, mode rna mente a par6dia se define atraves de um
jogo de intertextualidade,
quando a autor utiliza texto de outros para escrever sua
pr6pria obra
Romano (2007) cita 0 estudo de Tynianov, onde ele sofistica 0 conceito de
par6dia lado a lado com 0 conceito de estiliza9.3.0. Para ele, a estllizac;ao esta
pr6xima da par6dia, uma e outra tern vida dupla. Assim sendo, a par6dia de uma
comedia
comedia.
pode ser uma tragedia
Mas quando
concordancia
e a par6dia de uma tragedia
ha a estilizaC;ao, nao ha mais
dos dois pianos: 0 do estilizando
pode ser uma
discord€mcia,
e a do estilizado.
e sim,
Pode-se dizer,
entao. que a estiliza9ao caminha na mesma diret;.3.o do texto e par6dia caminha
-11-
ern diregao oposta, distorcendo
0 sentido.
mais que urn passo, quando
a estilizagao
Enfirn, da estilizagao
a
par6dia nao ha
tem uma rnotivagao
carnica
ou e
fortemente marcada, se converte em par6dia.
Quanto
reafirmagao,
a par3frase,
pode
se definir
assim,
segundo
0 autor;
e, a afirmagao geral da ideia de uma mesma abra camo esclarecimento
passagem
e
u
a
ern palavras diferentes, do mesmo sentido de uma obra escrita, isto
de dificil entendimento",
de uma
pode Se dizer que e uma traduc;ao, isto e, a
obra passar a existir a partir da [eitura de outro texta
Neste casa,
0
autor canclui a ideia da seguinte forma: a par6dia deforma,
ou seja, inverte a significado:
a paratrase
conforma,
com um grau minima
de
alterac;aa e a estilizac;ao, reform a com urn desvio talerave!.
Em relac;ao
a
apropria<;ao, outro recurso
estilizagao e se opoe a parafrase. A apropriagao
de deslocamento,
e fruto da abson;ao
discorda
da
do material
lido para a construg3a de outro texto cam outro significado.
- 12-
1. CONTEXTUALlZA9AO
1.1 HIST6RICA
Apesar de
0
Pre-Modernismo
pade assim ser chamado
seculo
XX,
ende
se
nao se estabelecer
como uma escola literaria
0 periodo que compreende
destacaram
percebem-se
a precocidade
desenvolver
no Modernisrno.
alguns
as primeiros
autores,
em
cujas
20 anos do
caracterfsticas
da visao critica da realidade brasileira, que viria a se
Cujo objeto deste estudo se refere a urn destes
grandes nemes, Euclides da Cunha.
Estes autores ja promovem
urn
can~ter inovador,
humano
0
uma ruptura com
regionalismo,
marginaJizado,
mostrando
au seja, mostra-se
caipira etc., a liga9ao com fata politicos,
passado, utilizando-se
0
urn vasto painel brasileiro,
a figura do sertanejo
econ6micDS
de
0 tipo
nordestino,
a
e sociais e a den uncia da
realidade brasileira, onde a realidade oficial passa a ser a tematica do periodo.
Apes a Proclama<;:ao da Republica,
dois Presidentes
militares:
Peixoto, responsaveis
Marechal
em 1889,
0
Brasil foi comandado
Deodoro da Fonseca
e Marechal
por
Floriano
pela instala<;:ao e consolida<;:ao do regime republica no em
nosso pais. Este periodo e lembrado como a Republica da Espada (1889-1894).
Em 1894 assume a presid€mcia do Brasil, Prudente de Moraes,
0
primeiro
presidente
civil da nossa histeria. Nosso pais inicia uma nova fase: a chamada
Republica
das Oligarquias
Velha (1894-1930)
Paulo e de Minas Gerais.
formula que reconhecia
decisoes
ou Republica
assentava-se
economicas
Era conhecida
Enquanto
0
dos proprietarios
como a Republica
a lavoura cafeeira somada a pecuaria
e polfticas do pais. Nessa fase,
influencia de grandes fazendeiros,
ascensao
Cafe com Leite. A chamada
na hegemonia
sui e
0
0
Republica
rurais de Sao
Cafe com Leite,
0
devido peso nas
poder politico
sofre a
sobretudo dos ricos cafeicultores.
sudeste atingiam urn per[odo aureo, sustentados
do cafe, 0 Nordeste sofria as conseqOencias
econornicas
pela
e sociais do
acelerado declinio da cana- de - a<;:ucar.
A Republica nao correspondia
e as tao esperadas transforma90es
estavam
longe de acontecer. Os contrastes entre os dois Brasis eram visiveis. De um lado,
a elite detinha
0 dinheiro
e 0 poder representado
pelas oligarquias
furais,
de
- 13-
outr~, as camadas
sociais nao favorecidas
sofriam as diversidades
produzidas
pelo clima e falta de prosperi dade.
Esse quadro de tensao e desigualdade
resultou em agitar;:oes socia is em
alguns pontos do pais. Os conflitos deram-se em tempos e lugares diferentes.
para exemplificar:
as movimentos
0
S6
fen6meno do canga<;:o, a caso do padre Cicero em Juazeiro,
operarios em Sao Paulo (1914-18).
jagunr;:o de Canudos,
Destes movimentos,
0 nucleo
materia de Os Sertoes de Euclides da Cunha, sera focado
neste estudo.
1.2 VIDA E OBRA
EuC\ides
Rodrigues
Pimenta
da Cunha
nasceu
em Cantagalo,
Rio de
Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866 e ai morreu, em 1909. Logo cedo, aos tres
anos de idade, ficou 6riao de mae, e como 0 pai um guarda-livros
fazendas
fluminenses,
nao podia
assumir
a responsabilidade,
que percorria
foi criado
por
parentes mais pr6ximos. Apos haver conC\uido 0 ginasio e a colegio, no Rio de
janeiro, ingressou,
em 1884, na Escola Politecnica,
motivos financeiros do pai, acabou escolhendo
proporcionaria
para cursar Engenharia.
Par
a carreira das armas, pois esta Ihe
maior seguran<;:a e tranquilidade
Em 1886 transferiu-se
Janeiro que entao
para a Escola Militar da Praia Vermelha,
passava
par uma fase de ardente
Euclides, ainda cadete, num ate de apaixonada
positivismo
a
adesao
no Rio de
republicano.
doutrina que recebera
dos mestres, afronta 0 Ministro da guerra que visitava a Escola, lan<;:ando fora 0
proprio sabre; e excluido
esta para ser submetido
do Exercito e, confessando-se
a Conselho
militante
perdao. Mais tarde, com a prociama<;:ao da Republica reintegra-se
passa a alferes-aluno.
formando-se
em Engenharia
Militar e bacharelando-se
a
do Brasil. Por motivos
Em 1897 colabora
sabre
pela segunda
Canudos,
de Guerra,
em Matematica,
Cielncias
profissao de engenheiro e trabalha na Estrada de
politicos
trabalhar em Sao Paulo como Superintendente
comenta
no Exercito e
Cursa, de 1890 a 1892, a Escola Superior
Fisicas e Naturais. Oedica-se
Ferro Central
republicano,
de Guerra quando D.Pedro II lhe concede
que
e afastado
do Exercito
e passa
de Obras.
vez para 0 Estado; entre outros artigos
interpreta
como
uma
revolta
insuflada
por
- 14-
monarquistas
hesitou
renitentes.
em fazer
procurava
esmagar
vencer
Neste artigo,
sob
titulo
0
urn paralelo
entre
nos sertoes
e a revoluyao
os sertanejos
nas charnecas
a nossa vendeia,
ele nao
os jagunc;:os, que 0 governo
frances a que
da Bretanha.
brasileiro
tambem
tentava
Aqui como na Vendeia
a
Republica tambem sairia triunfadora.
o jornal
manda~o com correspondente
para acompanhar
as operac;:oes que
o Exercito iria executar na regiao para destruir "0 foco" Euclides 113.
permanece
de
agosto a outubro de 1897; de volta poe-se a escrever
na
fazenda
do pai, em Descalvado,
Historico e Geografico
expondo
uma ponte.
0 livre, que sai em novembro
nacional. Euclides e aclamado membro do Instituto
Brasileiro e eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Em 1903, escreve Contrastes
continuar
primeiro
depois em S.Jose de Rio Pardo (1898-1901)
para onde foi incumbido de reconstruir
de 1902, alcanya repercussao
Os Sertees,
os problemas
e Confront os, livro que tambem se prop6e a
brasileiros.
Em 1905, vai para a Amazonia
quando retorna publica Relatorio sabre 0 Alto Purus, resultado
como chefe da Comissao
de Reconhecimento
e
de seus estudos
do Alto Purus, cargo designado
pelo Barao do Rio Branco, seu grande amigo e ad mirador. Em 1909, passa no
concurso
para a cadeira de Logica do Colegio Pedro II. Fica pouco tempo, pOis,
par quest6es de hanra e assassinado.
0 historiadar
jovem
Euclides
tenente
Dilermando
de Assis.
e engenheira
chegou
armado
fai marto pelo
para matar ou
marrer em nome da hanra, uma vez que sua mulher, Ana de Assis, abandonara~a
pelo tenente.
Campeao
de tiro, Assis, alvejou~o primeiro.
Contava,
ao marrer,
quarenta e tres anos de idade
1.30
ESTILO EUCLIDIANO
Para alguns,
quanta
mais
inconfundivel
interiores, tanto maior sera a personalidade
for 0 estila
nas suas
marcas
do escritor.
A critica estrutural deslacau a eixa da analise e5tilistica para
3 campos da
semialogia, e com ela, a canceita de e5tilo trouxe novas conatac;:oes.
A maiaria das teoricos da literatura cansidera inseparavel
da expressividade
a ideia de e5tila
lingOistica, 5em a que nao havera literatura.
~ 15 -
Embora 0 estilo nao se esgote nos seus elementos
representac;:ao verbal que se podem estabelecer
seu mecanismo
interno
ou as linhas
mais
forma is, e atraves da
as suas qualidades,
caracteristicas
que
estudar 0
presidiram
a
elaborac;:ao.
o
historiador da literatura Bosi (1998) afirma que nao se deve enquadrar
livre em Udeterminado genero", ja que Ma abertura a mais de uma perspectiva
modo proprio de enfrenta-Io"
Ha quem viu, caso de Afrfmio
Coutinho,
0
e
0
0 texto
euclidiano
como "obra de ficyao"
Ha ainda aqueles, como Massaud Moises, que
entendem
como ~c6moda" a posic;:ao de nao enfrentar a questao da classificac;:ao
da obra - dar dizer que 0 livre se trata de um "ensaio recheado
de elementos
a
esteticos e literarios". A opiniao de Bosi e a mais coerente, e a que mais atende
natureza do livro. Isso porque a obra permite, efetivamente,
varias entradas.
Ela
acata leituras a partir de varios pontes de vista.
Achou-se
expoem-se
as
Parnasianismo,
impregnado
necessario
teorias
examinar
cientificas
0 contexto
da
uma vez que 0 estilo
epoca
social e cultural.
do
Realismo,
de Euclides
Sende assim
Naturalismo
da Cunha
e
foi fortemente
por estes estilos de epoca e atualizou muitas caracteristicas
vi gentes
deste perfodo.
Atraves destes elementos,
Euclides da Cunha elaborou 0 mundo sertanejo
Canudos e a arma militar atraves dos com bates
Segundo Basi ('1998):
E moderno em Euc1ides
homem
natureza,
brasileire.
Os
0
desejo de descobrir
0
misterio
da terra e do
Sertoes sao obra de urn escritor comprometido
com 0 hornem e com a sociedade.
com a
A descric;:ao que Euc1ides faz da
terra, do homem e da luta situa Os Sertoes, de pleno direito, no nivel da cultura
cientifica
e historica. Situando a obra na evoluyao do pensamento
brasileiro,
diz
na/uralisla,
as
lucidamente Antonio Candido:
Uvro
posta
SerlOes assina/am
o comec;:o
entre
da analise
da sociedade
a
e a
li/em/um
um fim e um comec;:o:
br8sileira
cientffica
apficada
sociologia
° fim do imperialisJllo
aos aspectos
mais
(no caso, as contradiC;:Oes coll/idas
de cullura efllre regi60s litor<1l1oas e
0
literario
e
impot1allles
na diferellc;:a
interior)
- 16-
Basi ainda afirma que a personalidade
as conflitos
violentos,
fanaticos, esmagados
de Euclides da Cunha pende para
par Isso as imagens
de Antonio
Conselheiro
e seus
pelas "ra9as do litoral", entraram em sua consciencia
e 113
ficaram eternamente
o
engenheiro,
determinismos
Euclides
da Cunha,
deteve
seu olhar na materia
enos
racials que 0 seculo XIX Ihe ensinara aceitar sem reservas.
5e a critico afirma que 0 escritor de Os sertoes sofre todas as influencias
das teorias cientificas
da epoca, e pertinente
critico
Posteriormente
das mesmas.
pesquisa-Ias
sera necessario
e fazer urn estudo
verificar
como
elas
se
atualizam no romance em estudo.
o
Realismo, 0 Naturalismo
mais expressivas
e 0 Parnasianismo
sao as correntes
escritor Euclides da Cunha, ainda total mente impregnado
atualiza
em seu livro muitas das caracteristicas
momenta
reflete
fortalecimento,
artisticas
da segunda metade do seculo XIX ate 0 limiar do SE!culo XX, 0
no
plano
enquanto
artistico,
classe
a
consolidayao
detentora
deste estllo de epoca,
vigentes
do
neste
da
poder,
em
periodo.
Este
burguesia
e
funy~1O do
triunfo
definitivo do capital industrial sobre 0 capital de comercio, e da implementayao
seu
do
capitalismo avanyado,
o
apogeu da Revoluyao
Industrial,
marcaram profundas transformayoes
o
impeto revolucionario
os avanyos
cientificos
e tecnol6gicos
na vida, na arte e no pensamento.
e contestat6rio
do periodo romantico, a exaltayao
da liberdade individual, da rebeldia sao substituidos
por novas palavras de ordem:
a ciencia, 0 progresso, a razao, que interessam a c1asse dominante,
estabilizayao
de suas conquistas,
de preservayao
no senti do da
da ordem, de maximizayao
da
produ.yao industrial.
A leva de escloitores que vivenciou
gerayao do materialismo,
toda a sua intelectualidade.
opondo-se
estes ideais pode ser chamada
pois 0 desenvolvimento
Estudantes
cientifico
de a
da epoca influenciou
aderem ao cientificismo,
ao materialismo,
a metafisica.
Algumas
muito visiveis
desenvolvida
doutrinas
cientifico-filos6ficas
dessa
epoca
na produ.yao litera ria. Oentre elas cila-se
por Augusto
Comte, que consiste
deixaram
marcas
° Positivismo,
doulrina
na observayao
dos fen6menos
- 17-
submisSDS a imaginac;:ao. Em seus estl.:dus abrangeu varios campos. da Teoria do
Conhecimento
pensamento
a Sociologia, caracterlzado
filosofico, atribuindo
importancia
a
rei a orientaC;:3o cientificista
que deu ao
constituic;ao e ao processo da ciencia positiva
capital para 0 progresso do conhecimento.
Outra
teoria,
tambem
muito
importante,
fOl desenvolvida
por Charles
Darwin. Parte do principia de que homem e 0 produto da evoluc;ao natural das
especies.
Este pass a a ser visto especial mente sob 0 aspecto
tornado como ser animal, regido pelo instinto biol6gico,
biofis;oI6gico,
pelas mesmas
leis que
regem todos os animais.
Ainda Qutra teoria merece ser destacada:
0 Determinismo,
sistematizado
por Hypolite Taine, que prop6e que 0 comportamento
humano seja determinado
por fo«;:as biol6gicas
sociologicas
(ecologia,
(0 instinto, a heranc;a genetica),
meio social) e historicas.
Todos os fatos psicol6gicos
e ambientais
e sociais
sao
manifestac;:oes naturais que nada tern de transcendencia
Das teorias
influenciou
citadas,
esta ultima,
a de Hypolite
Taine
fai a que
mais
a feitura do romance de Eliciides da Cunha, como sera demonstrado
neste estudo.
1\ descric;:aa minuciesa da terra, do homern e da luta situ a
uma leltura cientifica
autores
e tendemclas difundidas
influenciar
as
e historiea da realidade brasileira nordestina.
na personalidade
na epoca,
Serloes como
Uma serie de
de extrac;ao cientificista,
passou
do jovem cadete. Os ideais foram repassados
influencia direta com Benjamim Constant, urn intelectuaf brilhante e respeitado
epoca. Com a eonvivencia
absorveu
referencias
Taine, 0 Evolucionismo
a
por
da
direta ou nao com este professor, Euclides da Cunha
teorieas de autores e correntes
como 0 Determinisrno
de
de Spencer. 0 Darwinismo racial, 0 positivisrno de Cornte,
a visao do hero; de Thomas Cary Ie, para quem a Historia era feita grac;as a ac;ao
des grandes homens.
2. 0 ROMANCE: OS SERTOES
o
esquema
determinista,
de
Hypolite
Taine,
ja se pode
perceber
na
- 18-
composir;ao
terraH,
"0
da estrutura do Romance cujo nudeo e formado par tres partes: ~A
hamem", "a luta~
Para que
ocorridos
0
escritor pudesse entender a forma cientifica das acantecimentos
em Canudos
ambientais
geograficos
se mostrar
era necessaria
os cruzamentos
Homem);
das
ocasionaram
cansiderar
(A terra); das aspectos
entre as rar;as e
circunstancias
historicas,
cruzamenta
0
antropologicos
surgimento
0
culturais,
dos fatores
necessarios
politicas,
sociais
a guerra em Canudos (A luta). Nesta divisao percebe-se,
familiaridade
do
particularmente
escritor
com
a Determinismo
Cientificismo
0
do
para
do sertanejo
final
do
(0
que
portanto, a
seculo
XIX,
de Taine, conforme citado acima.
2.1A TERRA
Na primeira parte,
de Canudos,
0
escritor faz um minucioso
levando em conta
0
relato das condi~6es
flsicas
relevo, a clima, a fauna e a flora do lugar. A
profunda formar;ao de Euclides da Cunha em Ciencias Naturais e Geografia foram
fundamentais
para a realizagao
desse
estudo,
calcado,
portanto,
em bases
~cientificas"
Outro aspecto
informagoes
relevante
para a realizagao
repassadas
pelo
a casa
do amigo
continuamente
seu
amigo
para
relatar
caatinga. A medida que Euclides ia escrevendo
los, aos domingos,
controvertidos.
geologia,
a Teodoro,
Esses capitulos
aspecto,
dessa parte do livro foram as
particular
la
na
as capitulos, nao deixava de levadebater
fisica dos sert6es,
baiano,
Oebatiam sabre a constituigao
Sampaio.
presenciara
diziam
relevo. E Teodoro,
do vasto sertao
que
a fim de ouvir a seu juizo,
respeito
a natureza
velho conhecedor
Francisco e a ltapecuru dava-lhe todas as informa~oes
a regiao
Teodoro
episodios
da regiao entre 0 Sao
necessarias.
antes de Euclides,
as pontos
foi-the
Conhecendo
inteiramente
utH.
do solo, sabre as estudos de Hartt e Derby em
relar;ao as terras salgadas dos tabuleiros
arenosos, das montanhas
calcarias,
0
curso dos rios, a regime dos ventos e caracteristicas
da flora. Teodoro
foi a rna is valioso colaborador,
de seu livro. Como homem
desinteressado,
nessa fase preparat6ria
deu-Ihe tudo a que sabia e tudo a que possuia sabre
0
Sampaio
Nordeste.
- 19-
E uma paragem impressionadora.
As condiyOes estruturais
da terra la se vincula ram a viole!ncia
maxima dos agentes exteriores para 0 desenho de relevos estupendos.
o regime torrencial dos climas excessivos, sobrevindo, de subilo, depois
das insolayoes demoradas,
e embalendo
naqueles pendores, expos a
multo, arrebalando-Ihes
para longe lodos os elementos degradados.
as
series mais antigas daqueles ultimos rebenlos das montanhas: todas as
variedades crislalinas, e os quartzitos asperos, e as filadas e calcareos,
revezando-se
ou entrelatyando-se,
repontando dura mente a cada passo,
mal cobertos por uma flora tolhitya-dispondo-se
em cenarios em que
ressalta, predominante. 0 aspecto atormentado das paisagens. (... )
(...) as pesquisas de Fred. Hartl, de fato, eSlabelecem
nas lerras
circunjacentes
a Paulo Afonso, a existencia de inegaveis bacias
cr~taceas.
2.20
HOMEM
Nesta parte, a escritor
faz um estudo
detalhado
dos componentes
forjaram as etnias que habitam a regiao e apresenta a sertanejo
raga, produto de multiplos cruzamentos.
que
como uma sub-
Faz urn estudo das bases antropol6gicas
do homem brasileiro, orientado pelas teorias raciais do sEkulo XIX. Oeste estudo
resulta urn ponto de vista de fundo preconceituoso
o escritor a hist6ria da humanidade
fracas.
Mostra a prioridade
cruzamento
em relagao ao sertanejo.
da raga branca no processo
e de mestigagem.
Para
se faz pelo dominio das ragas fortes sobre as
A mistura
de negros,
de miscigena9:to,
portugueses,
indios
de
nao
permite a unidade racial do povo brasileiro. 0 sertanejo, visto como uma sub-raya
resultado de multiplos cruzamentos
Percebe-se,
representa uma involugao biol6gica.
mals uma vez a influencia
dos modelos
da Biologia
e das
Ciencias Naturais para os estudos da sociedade e da cultura.
Mas este estudo
e todo
marcado par paradoxos e contradigoes,
pais a certa
altura do livro encontramos:
o sertanejo
C. antes de tudo, um forte. Nao tern 0 raquitismo
dos mestir;os neurastenicos do litoral (p81).
Com asta afirmar:;ao mostra as diferenc;as entre 0 mestiC;o do
sertao e do litoral. 0 do serrao ficou isento da cultura ·superior', por ter
{icado iso/ado da civilizat;tlo, perdido nas caatingas, longe das cidades e,
par isso, /lao decaiu. Ja 0 do litoral, vivendo nas grandes cidades sofrell
o peso do desellvolvimenlo,
sllcllmbiu e degenerou-se.
o livro retrata aquele mestir:;o do serttio atraves de alltlteses
como sendo 11m H{JrclIles- QIJasimodo,
ou seja. gller(eiro,
valente,
porem feio, mirrado, quase om monstro.
(. ..) e da figura
vulgar do labareu
canlles/ro,
repon/a,
inespemdamente,
0 aspecto dominador
de um tita acobreado e potente,
I'um desdobramOflto
stfrpreendente
de rorfia e agilidade extraordinarias.
(p81)
exaus/ivo
- 20·
2.3 A LUTA
Neste capitulo do livra, Euclides narra todo 0 conflito, ate seu final terrivel e
melanc6lico.
resistencias
Faz um relata das varias
Nesta parte do livro, as esquemas
sendo
eiiminados,
dramaticos
expedi90es
contra
Canudos
e as
do sertanejo
e
0
texte,
como
deterministas
5e fosse
verificados
uma epopeia
ate entaD, vao
ganha
aspectos
e relata a vioh~ncia e a barbarie da guerra. 0 ataque final das foryas
do exercito,
ocorrido a 5 de outubro de 1897 poe fim a uma pagina negra da
nossa his tori a
(..) os triulltadores, aque/es triullfadores. os mais originais entre
lodos os Iriunfadores memorado$ pela Hist6ria, campreenderam que
naquele alldar acabaria por devora-Ios,
urn 8 !lm, 0 filtimo reduto
r:r;mbalido
2.4 ANTONIO CONSELHEIRO
A guerra de Canudos
ocorreram
em
1897,
estabelecendo
em
AOS OLHOS DE EUCLIDES
e conhecida
Canudos,
a regime republicano
como um dos principais
assinalando
a queda
conflitos
da
Monarquia
no Brasil. Antes de entramos
que
e
em detalhes
sabre a conflito da guerra, vale ressaltar aqui a trajet6ria do lider protagonlsta.
Antonio
Vicente
Mendes
Maciel,
Antonio
Conselheiro,
nasceu
em
Quixeramobim,
no Ceara, e viveu no meio da familia que possuia um padrao de
vida mediano.
Teve uma boa educa9ao
Geografia,
tomar
a Matematica
eonta
abandonou
dos
mulher
0
negecios
Conheeeu
igrejas
porem
contato
com a
Apes a morte do pal, passou a
nao
obtendo
muito
com sua prima, e passou
sueesso,
a exereer
na eidade de Campo Grande e Ipu. Mas foi abandonado
que Ihe rendeu vaguea90es
uma eseultora
Antonio Conselheiro
eonstruiu
da familia,
e na mesma epoea casou-se
fun90es juridicas
que Ihe proporcionou
e Unguas Estrangeiras.
e deste envolvimento
os abandonou
e passou
pela
pelo sertao nordestino.
e continuou
a ser conhecido
tiveram
urn filho, porem
suas peregrina90es
pela barba
grisalha,
pelo sertao,
bata azul,
sandalias de eouro e a mao apoiada em um bordao.
- 21 -
Possuia um espirito de lideran9a impressionante,
sua jornada
espiritual,
inumeros
Nordeste, como Pernambuco,
fieis advindos
capaz de arrebanhar
para
de varias partes de cidades
Ceara, Bahia e Sergipe. Sua peregrina9aO
do
durou
mais ou menos uns quinze anos, ate 1871, quando fundou 0 arraial de Canudos,
sede de seu reinado
Alem do mais, tinha uma linguagem clara, limpida, transparente.
biblia e suas cita90es latin as fundamentavam
transparecer
a conhecimento
como S. Agostinho,
Pregava a
suas opinioes religiosas.
das ideias dos mais importantes
Oeixava
santos cat6licos,
S. Tomas, S. Inacio e autores classicos como a poeta grego
Homero, a teatr610go Euripedes,
0 poeta latina Virgilio e a educador
Quintiliano.
Citava, ainda, a martir cat61ico ingles Thomas Morus, autor do livro A Utopia, que
relata sua imagina<;ao de uma comunidade
Antonio conselheiro
perfeita, que vivia em paz e igualdade.
se serviu deste modelo pra organizar a comunidade
sertaneja
de Canudos, e come<;ou, em 1893, a realizar sua utopia.
A Folhinha Laemmert. no Rio de Janeiro, em 1877 registrou a ocorrido:
Apareceu 00 sertlfo do norte, urn individuo, que se diz cllamar
Antonio Conse/heiro,
e que exerce grande influfmcia no espirito das
classes popu/ares,
servido-se
de seu exterior misterioso
e costumes
asceticos, com que imp6e a ignorancia e a simplicidade.
Deixou crescer
c.' barba e cabelos. veste uma /(mica de afgodao e alimenta-se
t~nllemeflte,
sendo
quase
lIfua
m/I/uia.
Acompanllado
de duas
professas, vive rezar terqos e fadainhas e a pregar e a dar conse/f,os as
tIlullidOes. que reune, onde Ille permitem
os parocos;
e, movendo
sentimen/os
re/igiosos,
vai arrebanlla/ldo
a povo e guiando-o a seu
gas/a. Revefa ser homem inteligente. mas sem cu/tura
Em 1893,
fixa-se
na Bahia,
em uma velha fazenda
de gada,
chamada
Canudos, e batizada mais tarde, pelo seu fundador, de Bela Monte. Ai teve inicio
uma
intensa
migra<;ao de fieis
chegando
ao final
edifica<;6es, com uma populac;ao que excedia
abandonavam
a sua casa e todos as seus pertences
santo, como eles 0 chamavam.
obra,
pois quase
com
mais
vinte mil pessoas.
de cinco
mil
As pessoas
e instalavam-se
no lugar
Toda regiao comeryou a sentir falta de mao de
toda a popularyao
migrava
para a terra do Santo
Antonio
Aparecido.
o
lider espiritual
pequenos comerciantes
cidade independente,
era 0 Antonio
Conselheiro,
seguido
de uma irmandade,
e 0 povo que para la se dirigia. Bela Monte se tornou uma
com norm as e condutas pr6prias. Defendia que os hom ens
- 22-
deveriam se Jivrar das opressoes
e injusti4tas que Ihes eram impostas,
superar os problemas de acordo com os valores cristaos e religiosos.
o adulterio
eram proibidos. Tambem 0 casamento
buscande
A bebida e
civil, a circula4tao do dinheiro
republicano e a acumula4ta.o de bens materiais.
A norma
canudos
era recusar
0 Estado,
criticar
0 modelo
republica no e afirmar
como a terra santa, 0 lugar onde seria posslvel
corrompido
salvar-se
do mundo
pel a a4ta.odo dinheiro, do presidente, dos padres que perderam a
se aliararn aos interesses
mundanos.
saber ao certo a que se opunham.
espat;:o religioso
que abrigasse
Seguiam
Queriam
fe e
sem
era mesmo a manuten4tao de um
excluldos
05
urn ideario meio confuse
e onde fosse
possivel
viver
a
verdadeira fe que ja nao existia fora de Canudos.
Ap6s 0 trabalho
igrejas
para
ouvir
Conselheiro
definiu
diario,
todos
Conselheiro.
algumas
05
que quisessem
E a medida
que
funt;:oes e atribuiu
se reuniam
Canudos
para pessoas
confian4ta, como Joa.o Abade que recebia as recem-chegados,
reporter
de Canudos,
Tim6teo
Pajeu era a comandante
era 0 sineiro,
militar e Antonio
diante
das
cresci a Antonio
de sua inteira
Antonio
Beato,
Manuel Quadrada,
0 curandeiro,
Vila Nova guardava
as armas
e
munit;:oes.
Apesar da pobreza, ninguem passava fame; apesar de todos trabalharem,
ninguem era explorado.
Os dirigentes da igreja cat6lica percebendo
nos seus interesses
e perdendo
influencias
resolveram
interferir, cheganda a Canudos,
Evangelista
e mais dois sacerdotes;
camunidade,
Num
dos
encontros
com
que iria aconselhar
encolerizados
em 1895, 0 missionario
fica ram em Canudos
ministraram casamentos.
Conselheiro
que estavam sendo contrariados
sobre muitas pessoas,
em defesa
Italiano Joao
13 dias observando
a
Evangelista
a
missas e batizados.
Conselheiro,
frei
0 povo a dispersar,
com tal fa4tanha e protestaram
Joao
expos
mas os canudenses
ficaram
contra 0 frei, pois entenderam
que 0
abjetivo era que a tudo volta sse a ser como antes. "Acatar a proposta do frei era 0
mesmo que acabar com Canudas
Conselheiro
H
e 0 lider,
Antonio
e negar a autoridade
conselheiro,
espiritual
fai categorico:
minha gente, mas tambem nao estorvo a santa missao"
e moral de
"Eu nao desarmo
E assim, angariava
vez mais pessoas para sua grei. Ou seja, enquanto os padres pregavam
cada
0 reino
- 23 -
dos ceus, Conselheiro
prometia 0 paraiso terrestre.
Para os canudenses
eles defendiam
nao importava
0 arraial de qualquer
alguns ate morreram defendendo
As autoridades
qual partido politico governava
forc;;a que se opusesse
uma ameaga
A aC;;aodo Antonio Conselheiro
e coroneis nordestinos,
viam na renovag30
a ordem
misticos,
social e religiosa
estabelecida.
acabou provocando
da igreja e dos republicanos
reagoes dos fazendeiros
em especial dos setores mais
radicais do Exercito, os jacobinos. Os canudenses
ignorantes,
e
seu guia.
e setores dominantes
de Antonio Conselheiro
0 pais,
ao Conselheiro
passaram a serem vistos como
bandidos de varias especies,
gente simples,
liderados
par
um louco que conspirava contra a nascente republica. E 0 Exercito decidiu enviar
tropas para destruir Canudos; a guerra estava instaurada.
Segundo
Canudos,
considerados
geograficos,
miseravel
isolando
Euclides da Cunha, as sertanejos
onde
criaram
culpados,
raciais
um eslilo
mas
produto
e historicos.
que se refugiaram
comunitario
de
vida,
de uma serie
Abandonados
nao
na vila de
poderiam
ser
de fatores
economicos,
governo,
a populagao
pelo
do sertao, formada pel a mistura de banco com 0 negro e Indio, foi se
cada
vez mais, organizando-se
atrasadas
culturalmente,
religiosos.
Com
facilitando
isso, criava-se
0
em comunidades
surgimento
fechadas
do misticismo
uma situac;;ao favoravel
e muito
e fanatismo
a atuagEio de lideres
capazes de arras tar multidoes com suas promessas de paraiso e redeng30.
Os sertanejos, esperanc;;osos, almejavam
viam a solugao em Antonio conselheiro,
muito carisma.
E a populag30 que se agregava
mais, causando incomodo e provocando
combale
foi-se tornando
cada vez mais violento,
conquistaram
a ele foi aumentando
a interierencia
diante da situaC;;3o, a apelar para 0 exercito.
tropas federais
por uma situac;;ao de vida melhor,
que deu conla deste papel, por possuir
levando
0
governo,
Depois de diversos
a vitoria, numa carnificina
cada vez
das tropas policiais.
chocante
Esse
impotente
confronlos
as
que arrasou 0
arraial de Canudos.
- 24-
3. A GUERRA
o
inicio da guerra de Canudos
Antonio Conselheiro
fol deflagrado
madeira em Juazeiro (SA) e pagou adiantado.
no tempo marcado,
por urn pequeno
incidente.
precisava concluir uma das suas igrejas e mandou comprar
0
!ider dos canudenses
Como a material nao foi entregue
resolveu ir pessoalmente
lote de madeira comprado. Tal atitude foi mal interpretada
buscar 0
pelo juiz da cidade, Dr.
Arlinda Leoni, que se <lproveitando da situac;ao, considerou
0
ato do beato
como
urn desafio a lei e uma amear;:a de invasao a Juazeiro.
Como as conselheiristas
Pires Ferreira
nao atacaram
ir ao encontro
deles,
Juazeiro,
0
juiz mandou
a tenente
para naQ ficar em ma posir;:ao diante
do
governador
3.1 A PRIMEIRA EXPEDI<;:AO
o
juiz, Or. Arlinda Leoni, solicitou ao governo estadual 0 envio de tropas a
fim de proteger a populagao da eidade, pensado na possivel invasao e ataque dos
canudenses.
Chegaram
Pires Ferreira
Canudos,
a
cidade, cento e sete homens eomandados
com a missao
de prender
a Antonio
pelo tenente
Conselheiro.
Enviados
a
desde os primeiros instantes tiveram que enfrentar muitas dificuldades
oeasionadas
pela seca, num terreno ingreme e longo (mais de cem qUiI6metros).
o
foi
resultado
reagiram
0
usando
resistencia
abandonaram
que se esperava:
velhas
inesperada,
a humilha9a.o e a derrota.
espingardas,
as
sold ados
foiees,
faeoes
entraram
em
Os canudenses
e garruchas.
Diante
da
debandaram
e
de 1896, no povoado
de
panico,
suas armas no local.
A vitoria dos canudenses,
em 21 de novembro
Uaua, nao fol ace ita pacifica mente pelo Estado. Estavam criadas
para 0 inicio de uma luta contra Antonio Conselheiro
Embora
0
governador
baiano nao quisesse
0
as condigoes
e seus seguidores.
comandante
do distrito militar
da Bahia, general Solon, conseguiu autoriza9ao pra uma nova expedigao.
3.2 A SEGUNDA
A segunda
Febronio
de
tradicionais,
EXPEDU;;AO
expe.·dic;ao reuniu quinhentos
Brito
e organizados
leva ram metralhadoras
em
homens,
colunas
comandados
macic;:as.
pelo major
Altern das
armas
e dais can hoes.
o major Febronio avaliou mal a luta que teria de enfrentar nos sert6es,
passando
15 dias se preparando em Monte Santo, ao passar par Queimadas
deixou parte de suas munic;6es, julgando- as dispensaveis
Apes dais dias de marcha, sob a calor infernal e de percorrer
can hoes retardavam a chegada. Enquanto
pedregosas,
as
preparavam,
com seus faeoes, faices, 8spingardas
i550,
e vel has garruchas.
Antes mesma de come9ar a luta, as sold ados jil estavam
expediC;:3o
acampou
Os conselheiristas
sao emboscados
na Serra do Cambaio,
por trilhas
as jagunc;os se
distante de Canudos
exaustos.
A
13 quil6metros.
cOlTIe~am a gritar dando vivas ao "Conselheiro~, e as sold ados
pel as jagun~os em terrenos acidentados,
e em Tabuleirinhos.
Perante as for~as militares, estaduais
no Morro do Cambaio
e federais,
mais uma
vez as sertanejos saem vitoriosos.
Diante desta grande humilha~ao,
a gaverno baiano telegrafa
ao presidente
da Republica solicitanda
ajuda federal para cam bater as canunendes,
movimentos
no Brasil,
dominantes
populares
as for~as
5e uniram, au seja, instaura-se
que
e como as
representavam
as classes
uma real guerra de exterminia.
3.3 A TERCEl RA EXPEDI<;:AO
o
presidente
interino da Republica,
Manoel Vitorino,
escolheu
a famoso
coronel Antonio Moreira Cesar para comandar a nova expedic;:ao contra Canudos.
Faram
importados
mil e trezentas
da Alemanha,
homens,
tragaram
armadas
com canhoes
Krup,
recem-
urn plano de acyao, porem sem os devidos
cuidados sabre uma regiao desconhecida.
A derrota
das expedi~oes
junto aos sertanejos,
anteriares
aumentou
0 prestigio
de Canudos
passando a receber milhares de novas adeptos, refor~ando
a defesa com a construc;:ao das trincheiras.
- 26-
o
coronel
dificuldades
Moreira
Cesar,
subestimando
os
sertanejos,
e nao avaliou os inimigos com quem iria defrontar,
nao
confiou
previu
apenas
em seus exitos e sem perceber estava caindo na armadilha dos conselheiristas,
ordenou 0 bombardeio,
atravessava
mas foram recebidos por uma intensa fuzilaria, e quando
0 rio Vaza Barris Moreira Cesar foi atingido p~r dois tir~s, culminando
em sua morte em marlfo de 1897.
Diante do incidente, tomou a frente 0 coronel Tamarindo, mas nao foi multo
adiante, sendo igualmente
tropas, comandada
atingido pelos sertanejos,
sendo a partir de entao, as
pelo major Cunha Matos, 0 que tambem nao teve muito exito,
fazendo com que os soldados saissem pelas caatingas perdendo-se
Assim,
recursos
foram abandonas
que seriam
utilizados
e morrendo.
pelos sold ados contra
em proveito dos proprios canudenses
Canudos
contra possiveis
ataques
algumas conseqOencias
politicas
futures.
3.4 A QUARTA EXPEDI(AO
E A CHACINA
A derrota da terceira expedi9ao repercutiu
e militares.
Primeire, descobriu-se
uma conspirat;:ao para tirar do poder
Luiz Vianna, sendo aprisionados
Segundo,
° governador
os implicados.
a Escola Militar do Rio de Janeiro revoltou-se
contra 0 governo,
mas foi control ada pele presidente Prudente de Morais.
o tal
presidente
ia-se fortalecendo
porem percebeu Que sua estabilidade
nova expedic;:ao a Canudos.
contra seus adversarios
civis e militares,
no governo dependia do resultado
Foi quando entao, convidou
de uma
0 general Artur Oscar
para comandar a quarta expedic;:ao, que aceitou com entusiasmo.
Foram cinco mil homens, comandados
Silva Barbosa e Claudio Savaget, enviados
duas colunas. A primeira
se socorrer
estrategia,
ataque
da segunda
dividindo-se
e cercada
pe\os generals Artur Oscar, Joao da
pelo suI. As tropas dividiam-se
coluna que, vitoriosa
em pequenos
maci90. Conseguem
em
pelos jagunc;:os no Morro da Favela e tem que
batalh6es.
em Cocorob6
havia mudado
As duas colunas
tamar boa parte do arraial,
de
tenia ram um
mas as sold ados mal
- 27-
resistem a fame e
a sede.
Comandados
pelo proprio Ministro da Guerra, 0 Marechal Carlos Bittencourt,
8000 hom ens deslocam-se
para a regh30 de Canudos,
em agosto
Canudos fica isolado e sem agua. A torre da igreja e derrubada
canhao.
Estarrecidos,
esperando
muitos foram degolados
fim da resistencia
a salvacr30, os sertanejos
de 1897.
per um tiro de
nao se renderam,
apes 0 assalto final, e quando as soldados chegaram
56 encontraram
quatre sobreviventes:
e
ao
um velho, um rapaz de
16 anos, um caboclo e um negro.
o
escritor Euclides da Cunha a tudo assistiu para fazer a reportagem
no
jornal A provincia de Sao Paulo, hoje, 0 Estado de Sao Paulo. Toda a est6ria de
Canudos
e seu massacre
fcram
depois recontados
no livre Os Sert6es,
escritor que assistiu a·~onito um crime praticado por uma nacionalidade
pelo
inteira
Fecflemos es/e livro.
Canudos n~o se rendel!. Exemplo unico em toda a Historia resisliv
ate ao esgotamen/o
complelo. Expugn8do palma a palma, fla precisao
integral do lerll1O, caiu flO dia 5. ao enlDrdecer,quando
cairam seus
ul/imos de{ensores, que lodos morreram. Eram qualro apenas 11m vel/lo,
dois Immens
{ei/os e vma criam:;8, 118 !rente dos quais rugiam
raivosamcnte cinco mil so/dodos
4. 0 FILME: A GUERRA DE CANUDOS
Ao contra rio da obra, em que Euclides da Cunha narrou atraves de um
personagem
masculino, 0 filme de Sergio Rezende mostra uma ViS30 diferenciada
do conflite ao utilizar um personagem feminine para narrar a historia.
Para isso Rezende se valeu de uma linguagem
de superproducr30,
hellywoodiano
produc;6es
imagens
cinema
cinemategrcHica "classica
H
isto 13, a forma de mostrar a "realidade"
difundida
,
no cinema
dos anos 40 e 50, e que ate agora e muito comum na maioria das
Norte Americanas.
tecnicamente
0 cinema nos moldes hollywoodianos
desenvolvidas
era vista como "linguagem
e moralmente
do dominante",
ideais.
A estetica
do poder economico,
mostra
deste
com
intuito de explicitar a superproducr30, que nao mostra 0 confronto violento entre a
imagem que 0 espectador
tem da realidade. Como afirma Nilza Rezende,
citada
- 28-
por Schafer (2006), em rela,ao
a
"superprodu,ao"
do filme Guerra de Canudos:
Conceitos sao para quem eria, para 0 espectador vale a emogao do ~filma90n
Rezende tem como embasamento
manter fiel a tecnicas estrangeiras
Euclides
embasou-se
teorias iguais as de Euclides ao se
para mostrar uma realidade
em pensadores
europeus
brasileira.
Isto e,
para e norte american os para
tentar elucidar a realidade brasileira e Rezende preferiu narrar como genera "filme
de
guerra",
baseado
estereotipados,
no cinema
texto euclidiano
apresentando
4.1 A LlNGUAGEM
Filme
e obra
ao espectador
foram
a ilusao de estar diante
constituidos
em epocas
fatos completos, pois ao relatar as informayoes,
faz-se
necessario
utilizadas como, por exemplo, 0 enquadramento
o enquadramento
0 designio
vez, sao distinguidos
entre
0
diferentes,
E, uma vez
cinematografica
demonstrar
primeiro
propriamente
as tecnicas
e 0 movimento
e a unidade basica do discurso filmico que se constitui
assunto (espago) por urn certo
se realiza para 0 espectador
do diretor na conduyao
em pianos e angulagoes,
da narrativa. Os pianos,
e 0
ou a maneira como foi recortado.
Teremos entao, 0 grande plano geral, onde se prioriza 0 ambiente,
mostra
por sua
pelo diretor na constru<;ao de seqOE!Ocias, pela distancia,
assunto e a objetiva da camera, isto e, a distancia entre 0 assunto
espectador,
geral,
Schafer
a Guerra e 0 Homem como
elas sao recortadas.
em continuagao de determinado
tempo. 0 enquadramento
reforyando
dos fatos
em relatos, segundo
com relagao a linguagem
por Rezende,
e linguagens
teorico cultural proprio de cad a tempo.
(2006), afirma-se que nem urn nem outro descrevem
Para discutirmos
igual aD do
do fato.
que, tanto a obra quanto 0 filme foram baseados
na representagao
personagens
CINEMATOGRAFICA
cada pressuposto
dita, usada
delineando
perder no filme aspectos do
mostra 0 alcance total da realidade criada atraves
narrados, como uma unica interpretayao
seguindo
americana,
que poderia atribuir 0 mesma objetivo denunciador
livra. A tecnica hollywDodiana
das imagens
norte
como no proprio conflito, fazendo-se
mostra ambiente
e personagem,
a rela9aO entre ambiente
plano medio ou de conjunto,
e personagens,
plano
0
plano
onde se
america no, onde
os
- 29-
personagens
sao
hollywoodiano,
mostrados
meia-figura,
da
que e
cintura
0
plano, primeiro plano, enquadramento
close-up,
onde se mostra apenas
para
cima,
comum
que e
0
com durac;:ao mais lon9a. T odos os enquadramentos
cinema
e primeiro
de rosto e ombros, primeirissimo
rosto, detalhe.
0
plano ou
enquadramento
de
e 0 enquadramento
parte do persona gem e parte do ambiente e plano sequencia,
movimentos
no
meio termo entre 0 americana
sao combinados
com os
e angula/foes, pelo direlor, para dar 0 rllmo das cenas.
Alem
das varia\=oes de pianos,
criac;:ao cinematogrcHica,
a angulac;:ao tern papel
importante
pois ambas subtraem parte do ~real~ para privilegiar
na
uma
ou outra abordagem do assunto
Pode-se considerar,
"moldura",
filmico para
e
segundo Schafer (2006),
0
enquadramento
como uma
Schafer (2006) diz que alguns autores utilizam a denominac;:ao nivel
0
conjunto participante
profflmico
para
enquadramentos,
a
forma
0
enredo
e
ambientac;:ao, sons)
mostrado
(angulac;:oes,
diferenciac;:ao de planas).
Quanto ao movimento,
diferenciador
do enredo (personagens,
como
das demais
os estudiosos
artes figurativas,
da arte
0
definiram
em especial
como principal
da fotografia,
e e
0
responsc3vel par transmitir a impressao de realidade sugerida ao espectador.
Todas
estas
realidades, que
montagens
t6cnicas
e a parte
sao
utilizadas
montagem
que os pIanos se unem urn ao outro constituindo
narrativo, semantico e estetico, estabelecendo
Schafer
(2006)
afirma
produc;:ao norte americana
As primeiras
e construc;:ao de
um relacionarnento
a analogia espac;:o x tempo.
que a identificac;:ao do cinema
se deu em consequencia
Pais, pois a industria cinematografica
importada.
na
mais relevante da confecc;:ao de um filme. E atraves das
necessitava
proje/foes se deram,
brasileiro
com a
do subdesenvolvimento
de tecnologia
no Brasil, entre
0
do
e mao de obra
ano de 1896 e
1897. A produc;:ao de Rezende aconteceu entre 1996 e 1997.
Em traca do cafe que exportava, 0 Brasil impoltava ate pali/o e
era /Jomlal que importasse tambem entretenimento
fabricado
nos
g'fjfldes cen/ros da Europa e America do Norte. Em algu/ls meses 0
cinema nacional eClipsou-se e 0 llIercado cinematogrtJfico
br8sileiro, em
canst ante desenvolvimento,
ficoll inteiramente
disposigtiO do filllIe
a
estrangeiro
- 30-
A hegemonia
do cinema norte americana
grande poder econ6mico
estetica
do
cinema
daquele
logo se estabeleceu
devido ao
pais. E pode-se ver ainda nos dias atuais, a
hollywoodiano
classico,
presente
em
grande
parte
das
produyoes.
A intenyao
hollywoodianos,
de Rezende,
foi
superproduyao.
ao produzir
exatamente
esta,
Guerra
explicitar
Por isso segue uma linha cronol6gica,
enredo com a historia de uma familia deslocada
seus designios
de superproduyao,
Rezende
tal
realidade
e representada
nos moldes
estetica
classica
de
clara e ao fim fecha a
pela guerra, e para completar
evita confrontos
violentos entre a imagem que e a espectador
qual
de Canudos
uma
excessivamente
tem da realidade e a maneira pela
pel a narrativa
cinematogr8.fica.
Enfim,
0
prop6sito e oferecer as pessoas a ilusao de estarem diante dos fatos narrados
sem ter que se perguntar em qual linha te6rica a filme foi contado,
mas e vista
como unica interpretayao.
Dessa forma, Rezende procurou criar
e par isso ele ignora a subdesenvolvimento
Isto fica claro pela quantidade
pobreza e a problematica
Rezende,
filme para representar
de figurantes
e cenarios verossimeis,
da seca sao dissolvidas
a realidade,
enquanto
a
nas cenas de ayoes de conflito.
diferente de Euclides, optou pela narrativa nos moldes classico
do genero "filme de guerra", difundida
personagens
0
e mostra a miseria em segundo plano
estereotipados
pel a cinema
Norte Americano,
trayando
e desprezou elementos do texto original, que poderia
dar ao filme uma "forya" denunciadora.
Porem, a maneira como foi feito a filme, entra em paralelo com as grandes
produyoes,
que
descompromissado
estao
mais
comprometidas
com
entretenimento
com a abordagem crftica de um tema.
Ambos os autores fizeram usa do discurso importado
obras; a escritor fez a conhecimento
figuras de linguagens
lei tor busca estabelecer
importado
trabalhar
na composir;;:ao das
paralelamente
e descrir;;:oes, em estado de tensao constante.
um sentido para
conflito, a luta, mas que a transcende.
0
0
conflito belico e se ve diante de outro
Com a conflito na narrativa
teoria e pratica sao revistas como verdade e mentira, agressor
partir desta instabilidade
com as
Assim,
as relayoes
e agredido.
E a
da-se a denuncia do crime e a tentativa de construyao
da
identidade brasileira.
-31-
Ambas as artes se deparam no mesmo campo semiologico
obstaculos esteticos: na obra, figuras, composiyoes
tecnicas se dao p~r meio do enquadramento,
movimentos
luz e as duas tambem tern 0 papel conotativo,
isso as tecnicas utilizadas
dos ajustes e
e versificayoes,
no filme estas
de camera e efeito de
sobrepondo-se
ao denotativo.
pelo autor e diretor sao comparadas,
Par
pois ambos se
embasam no mesmo acontecimento.
4.2 CENARIO
Schafer
(2006) afirma que Rezende
permaneceu
fiel ao filme Guerra de
Canudos, em tomadas externas, dando priori dade ao espa90 fisico.
Como Euclides, corne90u tam bern pela geografia da terra na primeira cena,
passando
em seguida
remetendo
para a procissao
as reflexoes
de Euclides
de Conselheiro
sobre
na segunda
a rellgiosidade
da
somente depois e projetado na tela 0 nome "Guerra de Canudos",
come9a 0 desenvolvimento
Na
primeira
apresenta9ao
cena,
da regiao
temos
um
plano
ao espectador,
seqOencia,
com
quando
dura9ao
em primeirissimo
forma9ao
de uma especie de [[quen no lado esquerdo,
panoramica
e
quando entao
da historia.
focalizada
viagem
cena,
popula9ao
de
acontece
1minS8s,
a
camera
plano (PP), uma rocha na qual pode-se observar
com movimento
em seguida
da camera mostrando
a
come9a
a caatinga
a
e alguns
morros.
No livro a foCaliza98.0 do sertao se da apos um grande percurso geogratico
p~r todo 0 pais, que contrap6e as dua5 realidades em antiteses.
No filme, tem-5e
inicio a primeira cena, 0 sertao. Essa diferen9a pode ser explicada
temporal
e contexte
precisava
mostrar
apresenta
0 filme na epoca em que 0 sertao nordestino
pela distancia
socie historico em que ambas fcram constituidas.
urn territorio
que
era
desconhecido
na epoca,
Euclides
Rezende
ja era cenhecide
em
virtu de de ter side palco de outros filmes.
Euclides conferiu ao homem e a terra vinculo de responsabilidade,
isto se
perde no filme e so pode ser percebido ao lei tor atento de Os Serfaes
Euclides
escreveu:
"Acredita-se
que a regiao
incipiente
ainda
esta se
- 32-
preparando para a vida:
0
liquen ataca a pedra, fecundando
do livre a imagem nao consegue
a terra~ Sem a leitura
extra polar 0 seu sentido denotativ~,
nenhuma
outra imagem e capaz de dar a rocha um significado mais amplo.
Acabada
a primeira cena, sobre a terra, esta nao ocupara
mais 0 centro
narrativo, aparecera apenas em alguns pianos ou cenas de ligac;:ao, com imagens
estaticas apenas para vincular uma cena a outra, sugerindo mudanc;:a no espac;:o
ou passagem
de tempo, ou seja, diferente de Euclides que deu a terra status de
personagem
o
espectador
pode notar
tambem
0 tom das cores
nas vestimentas
sertanejas iguais a terra. As roupas de couro cru confundem-se
mas nao estabelecem
explicito
relac;:ao entre 0 sertanejo
no filme a relac;:ao do sertanejo
com a vegetac;:ao,
e 0 meio ambiente,
na~ fica
com a sua terra, exceto na cena 111
onde Arimateia tern um vasto conhecimento
da regiao a que the facilita a cac;:ada
e sobrevivencia.
Na cena
147, Penha discute
daquele povo, contrariando
acreditei
no Belo
canudenses,
8elo
Monte"
Monte
com Lucena
0 porque
de estar ali junto
a ordem do arraial: "Nao acredito em milagres,
Para
ela, que
representa
representa
0 "Iado
a "terra prometida"
mas
nacional"
dos
livre de dominac;:6es
politico econ6micas.
Na cena 201 e ultima do filme, e mostrado 0 regresso de Luiza e Tereza,
desaparecendo
pel a mata entre as caatingas,
sem rumo certo.
Ha
ai apenas 0
movimento fIlmico, contrario ao movimento da camera da primeira cena.
Desta
embrenharem
forma,
remete-se
a um
futuro
nada
otimista,
0 fato
de
se
pela mata, e 0 fato de serem uma mulher e uma crianc;:a sugere a
ideia de urn novo cicio.
No filme a terra
e vista
apenas como espac;:o fisico enquanto na obra pode-
se ter varias leituras e estender
0 deserto a outras instancias
como 0 descaso
praticado contra aquela regiao
4.3 PERSONAGENS
Segundo Schafer (2006) Rezende apresenta
0
sertanejo,
no filme, atraves
de uma familia nucleo, par meia da qual a narrativa fa; desenvalvida.
- 33-
Os
personagens
convencionada
caracterizar
como
sao
verossimeis,
0 nordestino,
pois
se
apresentam
de
forma
e faz jus a observag<3o de Euclides
ao
a sertanejo como miseravel, ingenuo e religioso.
Tanto no filme com na obra tem-se a referencia
ao hamem que Euclides
trata na segunda parte do livro. Tanto 0 escritor como 0 diretor tra.yam a trajet6ria
de Conselheiro
ate Canudos, no filme, na cena dais tem-se a peregrina.yao que
acaba algumas cenas depois, na cidadela.
Esta aproxima.yao se da pelo mavimento
filmico traves da combina.yao de
imagens.
Rezende
canudense
mostra
uma
familia
e a define da seguinte
subsistencia,
um sertanejo
tambem um guerreiro.
sofrimento
tipica
forma:
que
Lucena,
representa
a
0 patriarca
e provedor
ingenuo e cheio de valores morais e religiosos,
Penha, a esposa dedicada
e submissa,
a miseria em que se encontra e preocupa-se
mas nao consegue transcender
questiona
a postura
comunidade
da
era
que resiste com
com a futuro dos filhos,
de sua situagao, e Luiza, a filha mais velha, que
passiva dos paiS e resiste as adversidades
pagando alto preyo para fazer cumprir seus designios.
com bravura,
Ela contesta a estere6tipo
formado pelo casal.
No filme a sertanejo e caracterizado
a populayao,
au seja, um personagem
atraves da familia e se estende a toda
E aqui
que tem rosto e conduz a narrativa.
que difere de Euclides, pois a autor do livre, com exceyao de algumas descri.yoes
aos persenagens
distante.
Tais
caracteriza-Io
de guerra,
concepgOes
os sertanejos
adquirem
certa
nao tem identificagao,
igualdade
quando
como vitima, onde 0 livro exp6e que 0 crime
e
e um ser
se
trata
de
0 de uma nagao
contra sua origem, a livro apresenta a guerra de urn exercito contra rebeldes.
Ao prom over a identificagao
espectador,
dos personagens,
mas nao Ihe conferiu profundidade
Rezende aproximou
a ponto de extra polar
0
luta e
universe
temporal da hist6ria, ficando lirnitado.
Outro fator que influenciou
do inimigo. Em Os
populagao;
esta limitagao foi a determinag30
maniquefsta
Sertoes, a exercito era apenas urn dos fatores que vitimavarn a
no filrne, ele se torna um antagonista,
de Luiza sobre a loucura de Conselheiro
conseguem desfocalizar
pois nem mesmo as reflexoes
e a ineficacia
dos ideais republicanos
a culpa dos militares pela situagao do conflito.
- 34-
Euclides
busca
luta p~r estabelecer
por uma
compreender
identidade,
0
sertanejo
brasileiro,
como
unico
isto e, a
capaz
de
e utilizar a terra em que vive em seu beneficio proprio, aqui a autor
o descreve
como
observar;ao
um tipo genuinamente
descrevendo
entidades
incorporeas
ele exclui do sertanejo
e duendes.
sua capacidade
Porem,
ao fazer
esta
de se integrar a sociedade
lelrada.
4.4 ANTONIO CONSELHEIRO
o
Conselheiro
Euclides
0
de Rezende
AOS OLHOS DE REZENDE
difere do de Euclides
em alguns
aspectos.
considera um insano, que reunia no misticismo doentio todos os erros
e supersti<;6es farm ados pela redur;ao da nacionalidade
e que arrastava
sertanejo porque era dominado pelas suas aberrar;6es. Segundo Euclides,
0
povo
0
meio
permitia com que ele realizasse a far;anha de angariar povos para si.
Rezende, em prime ira instancia,
0
caracteriza
como Euclides
esta vi sao e deturpada ao apurar mais profundamente
No filme, na cena 21, a peregrinar;ao
fundada a cidade. Ao chegar, Conselheiro
o sertao,
0
tern fim em Belo Monte,
profere seu discurso profetizando
e
onde
sobre
sermao sobre
0
conflito entre os jagunr;os contra as quatro expedir;6es.
Na cena 144, Conselheiro
0
fez, porem
mar, soldac!os do anti Cristo e a premonir;ao dos quatro fogos contra
0
inimigo futuro, que seria
finallzar
0
os fatos.
abre os brar;os a Luiza, em forma de cruz, ao
erguimento
0
de Jerusalem
e a vontade de Oeus. E na
cena 15, ao morrer, sua voz permanece presente na cena.
A beira da morte,
anciao tern sobre a mao 0 diario e
0
0
lapis, denotando
que mesmo morrendo ele escrevia e bastante. Esta ultima escrita demonstra
tom mais manse com parada aos discursos anteriores e a linguagem
mais erudita,
ponderagao.
espectador
estereotipado
0
espectador
distingue
urn Conselheiro
Nesta ultima escrita ele pede desculpas
e conduzido
a admitir
uma profundidade
de "insano", e tern a impressao
um
tambem esta
mais logleo e com boa
ao povo e se des pede.
maior
0
no personagem,
de que perdeu algo ate reconhecer
a perda de Belo Monte, por parte do fanatica, ja que nao se tern a presenga,
apenas a sua voz ecoando enquanto a igreja vai sendo destruida.
o
pedido de desculpas denota que ele admltiu seu proprio erro, mas nao
0
- 35-
fez antes por dois motivos: primeiro,
ao seu papel e segundo,
poderia desconcertar
porque desviaria
publico em relac;:ao
0
a atenc;:ao da protagonista,
a heroina
da historia.
Dai
classica,
dizer
pois
que
seria
Rezende
erro
se
manteve
problematizar
fiel a narrativa
outro
personagem
cinematografica
que
nao
fosse
protagonista.
a
Quanta
definida, devido
de facil
religiosidade,
a
manipulac;:ao, isla e, ingenuo.
espectador
a missaa de construir
esta possibilidade
seguem,
assegura
que
Quanta
um Antonio
e
um pova sem religiao
Considera-o
a Rezende,
Conselheiro
a ac;:ao
a
seguinte
a morte
entao, um povo
transfere
para
mais amplo,
fica fora de cogitac;:ao pela impessoalidade
pais na cena
sobrepondo
o
Euclides
mesti9agem e cren9as indigenas.
de Conselheiro,
das cenas
inicia-se
a
porem
que
a guerra
reflexao.
pedido de desculpas
proferido par ele a beira da morte sugere que ele
ad mite ter errado, mas nao 0 fai revelado antes por dois motivos: primeiro, criaria
um efeito desconcertante
ao publico, aprofundando
uma reflexao sabre seu papel;
segundo, desviaria a atenc;:ao de Luiza, a heroina da historia. Pais aos olhos de
Luiza, foi Conselheiro
0
responsavel
No filme, Conselheiro
carater doentio do texto euclidiano.
uma
identidade
desarticulado
nacional,
estereotipo
Mas Euclides
enquanto
de um argumento
sua complexidade
pelo desmoronamento
e considerado
para
de sua familia.
de fanatico,
reforc;:ando a
estava apenas em busca de
Rezende
0
personagem
mais amplo e consequentemente,
reduzido
fica
em
humana.
- 36-
5 TRA9ANDO
UM PARALELO
Como proposto
similaridades
DAS DIFEREN9AS
no inrcie do presente
trabalho,
E SEMELHAN9AS
0 objetivo
e
apontar
e diferen<;:as que escritor e diretor expoem evidenciando
de intertextualidade
as
aspectos
na composi<;:ao de suas obras,
e
Neste momento jell
passivel dizer que ambos au autores possuem
diferenc;as quanta semelhan<;:as, pois a
tanto
comec;ar pelo narrador, cnde Euclides 0
fez atraves do olhar masculino, dominante nos filmes de guerra, Rezende
5e
opoe
narrando atraves de um olhar feminino.
Na obra, Euclides da enfase aD ambiente citando·o
muito mais em relac;ao
as mulheres, dando a terra significado papel de esteril, infertil, hostil, comparandoa a fertilidade,
caracterizada
o
otica
cujo aspecto
cineasta
do conflito,
protagonista
religiosas,
S8 refere
como duas polaridades,
a
feminilidade.
Para ele a mulher
mostra urn dos medtos da Guerra de Canudos
transferindo-a
a uma mulher,
ao inverter a
mais especificamente
Luiza,
do filme. Enquanto seu pai, Lucena, se prende as suas persuasoes
Luiza faz
lim
caminho
completamente
diferente,
ilus6es e segue 5eu caminho livre da opre55aO patriarcal.
figuras masculina5,
deixa para tr<3Sas
Ela contesta
par destruir a familia. Quando Conselheiro
ajuda-Ia a se levantar,
ela recusa, fugindo ao encontro
transformando-se
despertar
aparece para
de seu proprio destino,
em prostituta.
da sexualidade
numa
menina
ingenua,
a principia,
evidente que ela cede a lugar de dominada e adquire a de dominadora,
urn soldado
para se casar com ele. Pode-5e
muito rapidamente
as duas
a pai par nao prover a suficiente para a alimentay.3o da familia
e a proprio Con5elheiro
o
e
bruxa au beata.
perceber
deixa
seduzindo
que ela 5e desenvolve
na construy.3o de seus sonhos felizes, mas a guerra que se
inlcia no sertao a impede de realiza-Ios.
Ela passa enta.J, do papel inicial que possui no inicio, de submissa
contestadora
a
e afronta alem do soldado com quem se relaciona, a pr6prio pai.
Ao perder a marido e a mae Luiza percebe que esta s6 de novo e precisa
salvar a irma, tera que lutar sozinha, assumindo entao a papel de guerreira.
Antes
convencida
de sairem
Tereza
da religiosidade
convence
a irma a rezar,
vista
adquirida junto ao povo de Conselheiro.
que ja esta
A reza indica
- 37-
a seriedade da mulher em amparar e fazer prosseguir a vida.
Penha tambem
mulher subordinada
tem papel representativo
e dependente,
e relevante.
A principio,
a fuga de Luiza ela tambem poderia ter seguido outro caminho,
onipotencia
uma
mas depois se rebela, ao perceber que como
contestando
a
pela perda do filho.
Fica
evidente,
impassibilidade
ao narrar
masculina,
mesmo sem demonstrar
pel a otica
pois enquanto
feminina
° pai
0 sentimento
aposto
a
se corta pela perda do filho,
a minima de em09i:'to, a mae, desesperada,
vai buscar 0
corpo.
A transforma9<30 do seu costume
Rezende,
0 que nao acontece
Euclides, que se mantem impassiveis:
na escolha. Ao adquirirem
frente
a realidade
com os personagens
e colocada
masculinos,
por
ditados
por
Penha e Luiza se utilizam do livre-arbitrio
esse aspecto de dominio
masculino,
se transformam
em guerreiras e atingem um patamar superior.
Diretor
conservar
e escritor
tiveram
como
fiel a tecnicas estrangeiras
e, Euclides embasou-se
elucidar a realidade
embasamento
teorias
para mostrar uma realidade
em pensadores
iguais
ao
se
brasileira.
Isto
europeus e norte america no para tentar
brasileira e Rezende
preferiu narrar como genera "filme de
guerra", base ado no cinema norte americano.
Quanto
a linguagem
hit certo distanciamento,
escreveu em epoca diferente, obviamente
se encaixar seguindo 0 pressuposto
Ambos
fizeram
linguagens
e descri90es,
importado
na composi9aO
em estado de tensao constante.
urn crime. A obra apresenta-se
composi90es
e versifica90es,
movimentos
papel conotativo,
utilizada tambem deveria
importado trabalhar paralelamente
era denunciar
enquadramento,
pOis visto que cad a um
cultural de cada tempo.
uso do discurso
escritor fez 0 conhecimento
a linguagem
no filme
a
das obras:
0
com as figuras de
intuito de Euclides
atraves de figuras de linguagens,
estas
tecnicas
se dao
por meio
do
de camera e efeito de luz e as duas tambem tern 0
sobrepondo-se
ao denotativo.
Mas ambos
se basearam
no
mesmo acontecimento.
Em rela9ao
diretor,
ao espa90 ffsico ha rela9ao de semelhan9a
apenas com urn pequeno
entre
autor e
de5vio, pois ambos iniciam suas obras
geografia, priorizando 0 e5pa90 fisico. Mas na obra fez-5e necessario
pela
uma viagem
- 38-
geogrMica ate chegar ao sertao nordestino,
pOis era a primeira imagem mostrada
daquela regiao. Quando Rezende fez 0 roteiro do filme, cem anos depois da obra,
esta regiao ja era conhecida.
Essa diferenga
pode ser explicada
pela distancia
temporal e contexto socia historico em que ambas foram constituidas.
Outro ponto marcante
plano,
denotando
e quando
a realidade
Euclides
da miseria,
segundo plano, a filme foi feito para representar
problematica
terra
mostra a guerra em primeiro
enquanto
Rezende
a mostra
em
a realidade, sem ter que expor a
da pobreza, como a fez Euclides. 0 autor conferiu ao homem e a
vinculo
de
personagem
responsabilidade,
podendo-se
Euclides
a representa
como
status
de
fazer varias leituras atraves dela, como por exemplo,
0
descaso com a regia a isto se perde no filme, pois acabada a primeira cena sobre
a terra, esta nao ocupara mais
0
centro narrativo,
planas ou cenas de ligat;ao, com imagens
aparecera
estaticas
apenas em alguns
apenas para vincular
uma
cena a outra, sugerindo mudanr;a no espat;o.
Rezende
utilizou-se
apresentando-os
comunidade.
algumas
de personagens
Ja os personagens
descrigoes
identificat;ao,
aos
euclidianos
0
na elaborat;ao
personagens
de
guerra,
0
do filme
e representando
sao inverossimeis.
e um ser distante. Tais concep96es
os autores quando se trata de caracteriza-Io
o crime e
verossimeis
atraves de uma familia nucleo, identificados
a
Com excegao de
sertanejo
nae
adquirem certa igualdade
tem
entre
como vitima, onde 0 livro exp6e que
de uma na9ao contra sua origem,
° livro
apresenta
a guerra de um
considera
Conselheiro
exercito contra rebeldes
Em se tratando do campo religioso,
Euclides
insano, que reunia no misticismo doentio tad as as erros e supersti96es
pela redugao
dominado
da nacionalidade
e que arrastava
pelas suas aberrayoes.
a pave sertanejo
um
formados
porque
era
Oiz ainda que e um povo ingenuo, desprovido
de religiao, e assim com a mestit;agem de ra9a, a sua religiao tambem se deu da
mistura de crenyas entre as povos, indios, africanos e portugueses.
Rezende,
no primeiro momenta
porem tal visao e deturpada,
marcante
no filme em compara9ao
Conselheiro
a tem com a mesma visao de Euclides,
pais pode-se observar como a religiosidade
com a obra. Islo fica evidente,
e mais
pois quando
morre, Beatinho se aproxima e vi! em seu diario sua ultima escrita,
sermao, demonstrando
que ele tinha urn tom mais brando e a linguagem
0
mais
- 39-
erudita, comparadas
aos sermoes anterieres,
nota urn Conselheiro
condusao
devido
rna is ponderado.
de um Conselheiro
as cenas
que
proferidos
mais amplo, embora
se seguem,
em vida. 0 espectador
Rezende transfere
com
para
0
espectador
a
isto seja quase impossivel
inieio da guerra,
impossibilitando
0
espectador de tirar tais conclus6es.
Outro fater relevante que marca a religiosidade
e
em Guerra de Canudos
quando ao final do filme Tereza convida a irma para rezar antes de sairem da vila.
Luiza, apesar de ter 5e rebelado contra Conselheiro
e ao seu fanatismo,
por ter
Ihe tirado a familia, neste momenta ela reza.
No decorrer das duas narrativas
pode-se, entao, perceber esta diferenya.
Eudides deu foco maior ao conflito e estava apenas em busca de uma identidade
nacional,
enquanto
argumento
para
Rezende
personagem
0
mais amplo e consequentemente,
fica desarticulado
reduzido
de
um
em sua complexidade
humana.
5.1 COMPARA~OES
SiSLICAS
Uma comparayclo significativa
pode ainda ser feita com relayao a biblia e
confrontar
a figura de Antonio conselheiro
com a figura do representante
do Velho
Testamento,
a flgura
Moises,
e com
biblico
de Jesus
Cristo,
do
Novo
por tirar
povo de Israel do
Testamento.
Na epoca de Moises, este era
0
respons8vel
0
Egito, livra-Io das maos dos egipcios e conduzi-Io a Terra Prometida.
Moises nao
se julgava preparado para tao grande cargo e questionou
ao Senhor Deus porque
sabia que ao iniciar a peregrinayao
interrogado
ele seria tambem
Porem, ordenado per Deus, ele deveria dar como resposta que
com ele, e
Moises
0
0
pelo povo.
proprio Deus era
havia enviada para libertayc3a do pava. E para que a pava cresse que
era enviada
de Deus,
Este Ihes mostrava
sinais
poderosos
atraves
daquele, afirmando que MoisEls Ihes seria como gDeus
ft
Entaa, a povo seguiu a Moises, acreditanda
Prometida,
e Maises Ihe pregava os mandamentos,
num lugar segura,
instruia-a
na Terra
no caminho
que
devia seguir e tuda a que Deus Ihe designava era repassada ao pava, acerca das
leis que devia seguir e a que Ihe era proibida,
exartanda-a
a obediE!ncia, e a
- 40-
pratica
do
bem.
E quando
qualquer
dos
mandamentos
fosse
viol ada,
era
necessaria oferecer sacrificios para remissao do pecado.
Assim
testamento,
como
encontramos
no
capitulo
3 do
livre
de
Exodo,
velho
que a anjo do Senhor apareceu a Moises e Ihe dizia que ele deveria
tirar a pavo do Egita conduzi-IO a Terra prometida,
diz que, urn dia, Jesus apareceu a ele e
penitencias,
pregando
persegui90es
0
evangelho,
dos hereges,
no inicia do filme Conselheiro
instruiu a sair pelos sertoes preganda
0
e as escrituras
sagradas,
e que sofreria
porem, deveria retribuir a todos com beneficios
por
onde quer que passasse, e que a Senhar a encheria de poder a ele e aos adeptas
para serem cheios de grar;a da Vida Eterna.
No Novo Testamento,
fai diferente,
epaca em que Jesus Cristo fai enviado a Terra, nao
pais Este tambem pregava
os mandamentos
fazendo
com que a
pavo seguisse a dautrina para fugir da ira futura que assolaria a terra, a salvar;ao
de suas almas, promulgava
as mandamentos
e as leis a serem cumpridas
implicar;Oes quando qualquer dos mandarnentos
e as
fosse violado. E isto se percebe
clara mente no inicio do filme, quando Conselheiro
chega a casa de Lucena e
pede agua para 0 seu pova e logo depois ele prega a sermao da montanha,
sermao esta no capitulo 5 do livre de Mateus, novo testamento,
cujo
e que foi pregado
par Jesus Cristo.
Igualmente
como
fatos se apresentarem
0
povo seguia a Maises e a Jesus Cristo, apesar de os
em epocas
muita distantes
uma da outra, era tambem
assim com a grande rebanho que seguia a Conselheiro.
mandamentos
Conselheiro
apascentava
Este Ihes pregava
as
a qual era seguido pelo povo.
se assemelha
a figura de Jesus tanto no carisma
com que
a rebanho quanta na maneira como se vestia. Trajava apenas uma
tunica de algodao e tinha a barba e os cabelos crescidos,
e a simplicidade
com
que andava apoiado ao bordao, e a sabedoria ao falar. E, do mesmo modo como
Cristo
sofreu
Conselheiro
perderem
perseguir;oes
foi
perseguida,
as trabalhadores
par aqueles
a
principia,
que nao aceitavam
pelos
que abandanavam
fazendeiras
a sua doutrina,
ucaroneis~,
pela igreja cat6lica, que resolveu canter as pregar;oes de Antonio
pedindo providencias
subversivas
por
as terras para segui-Io e depois,
Conselheiro,
ao governo baiano, dizendo que a lider pregava doutrinas
e que tai~ doutrinas
a dispersava
de suas abrigar;5es
fazendo
mal
- 41 -
tanto a igreja quanta ao Estado.
Conselheiro
foi um pregador de mensagens
biblicas, ou seja, escolheu
caminho do bern, dedicou sua vida a uma finalidade construtiva,
0
mesmo quando
tinha outra OPIYc3.0
a escolher diante de todo 0 mal que Ihe fora causado desde a
infancia, quando perdeu a mae, e ao ser trafdo pel a esposa na fase adulta de sua
vida.
Tantos
sofrimentos
poderiam
ter Ihe rendido,
vinganlYa, costume comum no Nordeste.
em nome
Porem, na sua humildade
da
honra,
a
procurou agir
como urn homem correto conforme a educa9ao que Ihe fora dado por seu pai, 0
que 0 tornou um menino aplicado, e ao desempenhar
estas ocupayoes
a fungc3.ode escrivao
0 fizeram conhecer
de
Juiz de Paz e Advogado
provisionado,
bern
a justi9a e a integridade.
Par isso sua escolha nao poderia ter side outra, senao 0
caminho do bem
- 42-
CONSIDERA~OES FINAlS:
Ao fim deste trabalho
assegura,
no palco
e
passivel
concluir
do comparativismo
que, como
processo
0
resultante do processo de leitura. A intertextualidade
modificayao
e abson;:ao de varios textos. E
0
Carvalhal
de esc rita
e
(2006)
vista
como
designa 0 trabalho de
que antes era entendido
como urn
fator de divida passa a ser vista como urn processo continuo de reescrita.
Pade-se dizer, entao, que Rezende leu Euclides e materializQu
num processo
de reescrita,
fazendo
usa de dais dos aspectos
seu filme
abordados
par
Romano de Sant'Anna, como par exemple, a paratrase e a estiliza9ao:
No
primeiro
apresentando
aspecto
reafirma<;:ao do conflito
tradu<;:ao, isto
leitura
e,
de outro
Pode-se
0
diretor
e suas causas
reafirma,
em
na guerra.
com uma outra linguagem
texto;
Segundo
concord~lncia entre dois pianos:
como
0
palavras
diferentes,
um mesma sentido no filme em relayao a obra de Euclides, isto
0
aspecto
0
Pode se dizer
que
e
e,
uma
filme passa a existir a partir da
diz respeito
do estilizando,
0
dizer, entao, que a estiliza<;:ao caminha
a estiliza<;:ao, onde
ha
filme, eo do estilizado, a obra.
na mesma
dire<;:ao do texto,
filme caminha na mesma dire<;:ao da obra.
Foram encontradas
obras, e
0
tanto diferen<;:as quanta
novo sentido conferido
semelhan<;:as entre as duas
pelo diretor ao recontar a seu tempo foi
trazer a mem6ria um fato que caiu no esquecimento,
senti do daquela guerra, de um crime praticado contra
0
de
em rela<;:ao ao verdadeiro
0
povo nordestino,
e passou
a ser lembrada apenas para exaltar os vencedores
Canudes
nao fei s6 um mevimente
de fanatices,
mas a luta de um pove
corajoso na reivindica<;:ao de seus direitos, que reunindo for<;:as buscava alento no
poder da religiao como unico melo de sobrevivencia
e
0
senso de justi<;:a.
- 43-
REFERENCIAS
BIBLIOGRAFICAS:
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Ed. rev. e
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Literatura
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COIN, Cristina. A Guerra de Canudos, Sao Paulo, Editora Scipione, 1994
COSTA,
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REZENDE, Sergio. Guerra de Canudos (film e), Morena Filmes, 1997.
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Affonso
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Par6dia,
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Editora
Atica, 2007.
SCHAFER,
Fabio
Mauricio.
Projer;ao
dcs
Sertees, Curitiba,
Imprensa
Oficial,
2006
- 44-
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