Informação e análise para decisores • nº 30 • Outubro-Dezembro • 2010
Bastidores do espetáculo
do crescimento
Em cena, o convívio de
velhos desafios e boas
soluções no novo momento
econômico do País
Série “Brasil 2015”
Contra a burocracia, em favor dos
negócios e da sociedade
Fome de cimento
Construção civil acelera como nunca
para transformar a infraestrutura do País
Há vagas!
Falta emprego? Não, pelo contrário;
procuram-se profissionais qualificados
O show precisa continuar
S
e um dia chegamos a viver incertezas sobre o futuro do Brasil e,
até mesmo, tivemos dúvidas se encontraríamos soluções para o
seu desenvolvimento, hoje, novas cortinas se abrem e revelam
oportunidades nos quatro cantos do País. O palco do nosso ambiente
de negócios se ilumina, sob os holofotes do crescimento brasileiro, atraindo
atenções de empresas e investidores locais e do exterior. O ciclo de expansão
que o País vivencia abre espaços de oportunidade tanto nos setores
empresarial quanto profissional.
“O palco do nosso
ambiente de negócios se
ilumina, sob os holofotes
do crescimento brasileiro,
atraindo atenções de
empresas e investidores
locais e do exterior.”
É isso o que mostra esta edição de Mundo Corporativo, que dá sequência
à série de reportagens especiais denominada “Brasil 2015 – as descobertas do
crescimento”. Desta vez, tratamos de um dilema bem comum nos dias atuais
e que precisa, de uma vez por todas, ser endereçado nos próximos anos:
“Como crescer com tanta burocracia?”.
Facilitar a realização de negócios e ofertar serviços de qualidade à sociedade
brasileira precisam ser prioridade absoluta. Felizmente, como mostra a revista,
já estamos trilhando o caminho da mudança, com esforços importantes de
desburocratização, implementados em empresas do próprio setor público.
Nesse mesmo contexto, a revista aborda outro desafio ao crescimento: a
necessidade da qualificação da mão de obra, para responder às novas demandas
do mercado. Por outro lado, quem já atrai aplausos é a construção civil, que
apresenta forte aceleração, ajudando a moldar a nova infraestrutura brasileira.
No Brasil dinâmico que vivemos, as lições de boas práticas podem vir de todos
os lados. É o que conta nossa reportagem sobre as entidades do Terceiro Setor,
que auxiliam as organizações em seus programas de responsabilidade social e
dão o exemplo na boa gestão de projetos. Outros assuntos relacionados a este
dinâmico momento da história econômica e de negócios do País também estão
tratados nesta edição.
A Deloitte, que sempre atuou em favor do desenvolvimento brasileiro, quer continuar
participando ativamente desse processo de grandes transformações do País.
Boa leitura!
Juarez Lopes de Araújo
Presidente da Deloitte
Nesta edição
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Especial – Série Brasil 2015
Um futuro com menos barreiras
A segunda reportagem da série sobre alternativas e desafios em meio à perspectiva de expansão
do País destaca o dilema “Como crescer com tanta burocracia?”
Perspectivas
Um país em obras
Setores da construção civil e pesada e toda a cadeia da infraestrutura aceleram seu
desenvolvimento para ajudar na transformação do Brasil
Há vagas! Onde estão os talentos?
No cenário atual, o maior problema não é a falta de trabalho, mas de profissionais aptos
a ocupá-los – eis um dos grandes desafios para o crescimento do País
Tendências
A década do consumo verde
Com um consumidor mais exigente por práticas sustentáveis, empresas investem mais
em um nicho que tem tudo para deslanchar no Brasil: o “mercado verde”
O peso dos intangíveis
Marcas, carteira de clientes, programas de computador e tudo o que possa ser classificado
como “ativo intangível” ganham evidência com as novas normas contábeis
Gestão
Um salto para o futuro
Pequenas e médias empresas se preparam para o mundo das normas contábeis internacionais,
atraídas pela perspectiva de crescimento e estabilização no mercado
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Correntes do bem
ONGs assumem programas de responsabilidade social de empresas e mostram que o
Terceiro Setor já pode dar lição nos princípios da boa gestão de projetos
42
O mundo e a corporação
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 3
Dilema do Brasil 2015: como crescer com tanta burocracia?
Um futuro com
Série Brasil 2015
As descobertas do crescimento
Mundo Corporativo estreou, na edição anterior,
uma série de reportagens que exploram alguns
dos grandes dilemas pelos quais devem passar
os decisores do meio corporativo ao longo
deste e dos próximos anos, que coincidem com
um período de alto potencial de crescimento
para o Brasil. Depois de tratar, na edição 29, do
dilema “crescer ou vender” – questão colocada a
proprietários e gestores de empresas emergentes
em um ambiente de consolidações –, a revista
chama a atenção, desta vez, para um tema
que se insere no chamado “Custo-Brasil”: a
burocracia que atravanca o desenvolvimento
dos negócios e da sociedade como um todo.
Para aproveitar as oportunidades associadas ao
crescimento econômico e ao potencial legado dos
megaeventos esportivos de 2014 e 2016, o Brasil
precisa acelerar o passo pela desburocratização.
Os efeitos nocivos da burocracia já são bem
conhecidos, mas as soluções ainda dependem
de debates aprofundados – e também de bons
exemplos. É justamente com bons exemplos,
em particular de empresas do setor público que
buscam a eficiência de sua gestão, que Mundo
Corporativo expõe, nesta reportagem, que há
razões para se acreditar na transformação.
Afinal, no mundo todo, a desburocratização
sempre foi um movimento que se inicia e se
desenvolve, primeiramente, dentro da gestão
pública. É o Estado, por meio da administração
direta ou das estatais que lhe servem de apoio,
o agente responsável pelo aprimoramento dos
serviços públicos, pela otimização da aplicação
dos impostos, pela simplificação dos processos
exigidos das empresas e assim por diante. Com
a gestão pública constantemente aprimorada
– do ponto de vista da gestão de pessoas,
tecnologias e processos –, a burocracia começa,
enfim, a ceder. E, desse modo, o crescimento,
de empresas e de todo o País, é efetivado.
4 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
A 2ª reportagem da série sobre desafios
e alternativas dos agentes de mercado
em meio ao atual ciclo de crescimento
do País expõe a urgência de acelerar a
desburocratização do Brasil, em favor
dos negócios e da sociedade. E destaca
sinais de mudança, implementados em
empresas do próprio setor público.
Por Gleise de Castro
R
emuneração variável por mérito
e baseada em avaliação por
desempenho, capacitação,
treinamento e plano de
carreira único. Quem tiver bom
desempenho pode ascender
mais rapidamente e os cargos de confiança
são preenchidos de acordo com um ranking de
profissionais que acumulam mais pontos em seus
respectivos postos. Nenhuma novidade nesses
critérios, desde que a organização que os adote seja
uma eficiente empresa privada. No entanto, trata-se
de um modelo que se aplica a funcionários públicos
da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso),
que está revolucionando sua gestão de pessoas com
um projeto previsto para ser aplicado em 2011.
Casos de modernização no setor público, como
o da Deso, podem ser observados em diferentes
pontos do País e significam um passo importante
quando se discute a necessidade de o Brasil acelerar
o passo na entrega de serviços públicos de melhor
qualidade. E, ao trilhar esse caminho, o Estado
brasileiro e a gestão pública como um todo podem
ajudar as empresas e toda a sociedade a enfrentar
gargalos que hoje atravancam a competitividade do
País perante outros grandes mercados emergentes
do mundo. Em uma palavra, irão colaborar para a
“desburocratização” do Brasil, em um movimento
que envolve busca da eficiência pública, melhor
menos barreiras
aplicação dos impostos arrecadados, facilitação
dos processos necessários à atividade empresarial
e assim por diante.
No caso da Deso, o objetivo é melhorar a
prestação dos serviços de água e esgoto aos
habitantes dos 75 municípios do Estado e
diminuir as tarifas pagas por eles. “O gestor
público tem de pensar na eficiência e usar a
estrutura do bem público em benefício da
população, com o mínimo possível de ingerência
política. É preciso mudar o conceito de serviço
público. Os funcionários têm de perder a
imagem de que são diferentes”, diz o gaúcho
Éverton Santos Teixeira, diretor administrativo e de
Finanças da Deso. Seu projeto exemplar inserese em um trabalho mais extenso para melhorar
a administração pública no País, englobado por
um programa do Ministério do Planejamento.
Para imprimir maior eficiência ao gasto público,
o Programa Nacional de Apoio à Modernização
da Gestão e do Planejamento dos Estados
Brasileiros e do Distrito Federal (PNAGE) conta
com US$ 155 milhões, dos quais US$ 93 milhões
são financiados pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e US$ 62 milhões vêm de
contrapartidas de Estados e da União.
A desburocratização é um dos temas mais
importantes de que o Brasil precisa tratar nos
próximos anos para aproveitar as oportunidades
do crescimento econômico. “O País está bem
porque há crédito para todo mundo, mas, nas
reformas necessárias, para termos mais eficiência,
caminhamos muito pouco”, resume José
Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento
de Competitividade e Tecnologia da Fiesp
(Decomtec). “Temos hoje grandes entraves à
competitividade de nossa produção, como carga
tributária alta e os piores serviços.”
A desburocratização já mereceu até um
ministério, comandado pelo economista Hélio
Beltrão na época do regime militar, entre 1979
e 1986, que nos legou o Juizado de Pequenas
Causas e o Estatuto da Microempresa.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 5
Trata-se de uma necessidade premente do País,
acelerada pelo intenso crescimento econômico nos
último anos, associado às perspectivas positivas
relacionadas aos megaeventos esportivos de 2014 e
2016, que não há mais como adiar e que estará na
pauta da sociedade brasileira nos próximos anos.
As duas conquistas demonstram que é possível
chegar a soluções viáveis quando se debate o
problema. “O movimento de modernização da
gestão pública começou no governo Fernando
Henrique e continuou no governo Lula. Há vários
projetos de modernização da gestão de pessoas
e de tecnologia, boa parte financiada pelo BID. O
processo está demorando porque faltam projetos.
Existe o dinheiro, mas falta pessoal técnico para
elaborar os projetos”, diz Elias de Souza, gerente
sênior da Deloitte dedicado ao setor público.
Tal situação tende a mudar, com a aplicação de
modelos modernos de gestão. “Nos próximos
quatro anos, devemos assistir a uma reviravolta na
gestão pública”, prevê Souza, ressaltando que essa
perspectiva independe do quadro político nacional
advindo das eleições de outubro.
“Há vários projetos de modernização
da gestão de pessoas e de tecnologia,
boa parte, financiada pelo BID.”
Elias de Souza, gerente sênior da Deloitte dedicado ao setor público
6 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
Tal mudança na gestão pública é apenas um dos
caminhos a serem trilhados para se chegar à
desburocratização do Brasil, reduzindo também
o peso excessivo de normas, procedimentos e
exigências do Estado na vida das pessoas e das
empresas. Estudo feito pelo Decomtec da Fiesp
quantificou o custo do problema para o País,
mostrando que o que se gasta anualmente com
burocracia equivale a 2,84% da receita líquida da
indústria de transformação, a 2,35% do consumo
final das famílias, a 10,14% de investimento privado
(pelo conceito “Formação Bruta de Capital Fixo”)
e a nada menos do que 293,53% do montante
aplicado por empresas privadas em pesquisa e
desenvolvimento. E, com a quantia gasta com
exigências burocráticas, os brasileiros poderiam
comprar 155 milhões de fogões (2.088% sobre
as vendas atuais), 213,6 milhões de micro-ondas
(aumento de 7.862%), 87,7 milhões de televisores
(mais 683%) e 780 mil automóveis (mais 33%) a
cada ano.
Rotinas burocráticas e possíveis soluções
O estudo da Fiesp é pródigo em comparações e
a que mais chama a atenção é a relacionada
a outros países, extraída da pesquisa “Doing
Business”, do Banco Mundial, que classifica os países
de acordo com a facilidade para se fazer negócios.
São usados para isso dez indicadores: abertura e
fechamento de um negócio, obtenção de licença
de construção, burocracia trabalhista, registro de
propriedade, obtenção de crédito, proteção aos
investidores, pagamento de tributos, comércio com
o exterior e cumprimento de contratos. O Brasil
ficou na 129ª posição em uma lista de 183 países,
atrás de Colômbia (37º), Peru (56º) e Argentina
(116º), com índice de 0,59, em uma conta que varia
de zero (menos burocrático) a 1 (mais burocrático).
A média dos países ficou em 0,49.
Éverton Santos Teixeira, da
Companhia de Saneamento
de Sergipe: “É preciso
mudar o conceito de
serviço público.”
Para combater o problema, o estudo dos
empresários paulistas elenca um conjunto de
propostas, começando pela simplificação dos
procedimentos e regulamentos legais, fiscais,
trabalhistas e tributários, a unificação dos sistemas
de cadastro e do processamento de informações
e a criação, em nível nacional, de centrais de
atendimento integrado, como o chamado
“Poupatempo”, de São Paulo. “Temos até cinco
órgãos para um mesmo documento. Por que não
centralizar tudo? Há dez regulamentos para a
O tamanho da burocracia a ser enfrentada
R$ 46,3 bilhões (ou 1,7% do PIB)
Este é o custo anual da burocracia no Brasil, nas três esferas de governo
R$ 20 bilhões
Este é o gasto anual de empresas e cidadãos para lidar com a burocracia tributária
Fonte: Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp (Decomtec)
mesma coisa, cuja atualização não é igual e cujos
textos dão margem a dúvidas. É preciso remover
esses entraves redundantes e os controles cruzados
e estimular mecanismos mais eficientes de controle
e auditoria”, diz Roriz Coelho, da Fiesp.
Outra pesquisa recente, encomendada pela Câmara
Americana de Comércio (Amcham) ao Ibope,
acrescenta outras propostas de empresas para
diminuir a complexidade dos entraves burocráticos
no Brasil, como o aumento da eficiência da gestão,
a punição rápida aos infratores, para reduzir a
chance de corrupção, e o cadastro positivo único
de idoneidade fiscal. O trabalho também fornece
mais informações sobre os impactos negativos da
burocracia. Para 91% das empresas consultadas,
ela retarda a concretização de negócios.
A cada ano, as empresas gastam, em média, R$ 263
mil para dar conta de todos os procedimentos. Para
manter as atividades formalizadas e regularizadas,
precisam contratar profissionais com conhecimento
específico. Esse pessoal representa, em média,
25% do quadro de funcionários, o que foi também
constatado no trabalho da Fiesp, que cita exemplos
como o da Gerdau. Em uma fábrica típica nos Estados
Unidos, a empresa brasileira tem duas pessoas
responsáveis pela área tributária. Em uma planta
similar no Brasil, ela precisa empregar 200 pessoas.
Na Dow, o departamento de administração tributária
emprega 25 funcionários no Brasil, o dobro do que é
necessário em suas fábricas da Argentina, do México,
da Venezuela e do Chile juntas. Não é à toa que,
para 62% das 211 empresas consultadas na pesquisa
da Amcham/Ibope, sua lucratividade aumentaria se
fosse possível eliminar as rotinas burocráticas para
atender às exigências do poder público.
“Um sócio importante das empresas hoje é o
Fisco, que fica com uma boa parte do lucro só em
impostos”, concorda Cristina Arantes Berry, sócia da
área de Consultoria Tributária da Deloitte. Quando
se fala em impostos, a criatividade no Brasil não
poderia ser maior, seja na criação de tributos, seja
na complexidade de suas bases de cálculo. São mais
de 50, entre impostos, taxas e contribuições. “Nos
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 7
Polícia com tecnologia de padrão mundial
A Polícia Militar (PM) do
Estado de São Paulo tem
uma experiência importante,
entre os casos bemsucedidos de modernização
do setor público no País.
Tanto que está prestes a
fornecer tecnologia para
uma das forças públicas
mais avançadas do mundo,
o Departamento de Polícia
de Nova York (NYPD). As
duas corporações firmaram
um acordo de cooperação
tecnológica e o NYPD se
interessou por um conjunto
de softwares desenvolvidos
pela PM paulista, que
permite localizar, em um
mapa, informações sobre
criminosos e as viaturas
policiais mais próximas dos
locais de onde se originam
chamadas de emergência,
para distribuição inteligente
do policiamento. “Na Polícia
Militar de São Paulo, a
modernização tecnológica é
constante. Em infraestrutura
de TI, é tão boa quanto as
melhores do mundo. O que
há de moderno no mundo,
ela tem”, diz o coronel João
Antonio Ferreira, diretor de
Telemática da PM do Estado
de São Paulo.
A polícia de Nova York ficou
sabendo dos softwares da
polícia paulista por meio de
fornecedores comuns. Uma
equipe da PM estava prevista
para desembarcar em Nova
York em outubro, para
apresentar seu sistema e
conhecer o de lá. “Vamos
ver o que há de bom nos
dois lados e, com isso,
fecha-se o intercâmbio”,
explica o coronel Ferreira.
Coronel João Antonio Ferreira, da PM do Estado de SP:
softwares que já inspiram a polícia de Nova York
8 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
Os investimentos
tecnológicos são uma
prática antiga na polícia
paulista. “Nossos oficiais
desenvolvem tecnologia
há muito tempo. Nosso
serviço de comunicação é
de 1932 e nosso Centro
de Processamento de
Dados é da década
de 60. Temos um parque
tecnológico de mais
de R$ 1,1 bilhão,
que inclui computadores,
rádios e sistemas de câmeras
para aumentar o alcance
do policiamento”, diz o
coronel. A rede de rádio,
por exemplo, atende
a 70% da população do
Estado em um sistema
de comunicação digital
à prova de escuta
clandestina. As ocorrências
e os telefonemas são
registrados em um sistema
de informação em rede
que permite deslocar a
viatura mais próxima no
menor tempo possível.
A área de TI conta com
uma equipe de 290
policiais, dos quais 17 com
mestrado ou doutorado,
e 130 profissionais
especializados contratados
pela PM, que desenvolve
seus programas e aplicações
de segurança.
Os avanços estão disponíveis
às PMs de outros Estados e
já foram adotados pelas do
Amazonas e do Piauí, que,
segundo Teixeira, já estão
adiantadas na montagem
da infraestrutura e no
treinamento de pessoal.
Um convênio com a
Prefeitura de São Paulo
também vai permitir que o
sistema seja compartilhado
com a Guarda Civil
Metropolitana, a exemplo
do que ocorre com a
Prefeitura de São José
dos Campos (SP).
Estados Unidos, existe a sales tax (tributo sobre
vendas), que é acrescida ao preço final. Aqui os
tributos são muitos e incidem, em alguns casos,
sobre as mesmas bases, em uma complexidade
muito grande e difícil de ser entendida por
investidores estrangeiros”, diz Cristina.
Ao quadro de problemas criados pela burocracia
se somam funcionários públicos desmotivados,
resultado de antigas heranças. Efeito disso é o
desafio que vigora no modelo de gestão atual da
Deso, de Sergipe. A começar pela existência de dois
grupos de funcionários na empresa – um deles reúne
quem entrou antes de 1988, quando os concursos
não eram obrigatórios no País, e o outro, uma nova
leva de pessoas que passaram em um concurso
de 2003. São dois planos de carreira diferentes e
jornadas distintas, de seis horas para uns e de oito
horas para outros. “O novo plano visa colocar todos
no mesmo patamar”, explica o diretor Administrativo
e de Finanças, Éverton Teixeira. Além disso,
haverá transparência nas indicações para cargos
de confiança, já que vai ficar mais difícil escolher
alguém de fora da lista dos mais pontuados, o que
deve diminuir, quem sabe, a ingerência política.
Quando a tecnologia faz a diferença
Não por acaso, o executivo que comanda as
mudanças na estatal de Sergipe veio do quadro
de funcionários do Banco do Brasil (BB), onde
trabalhou por 32 anos. Seu último posto foi o de
superintendente no Estado. O banco criado por
D. João VI há 202 anos, hoje uma empresa de
controle misto administrada pelo Estado, destaca-se
na governança corporativa e de tecnologia, quando
comparado com estatais e com bancos privados.
No ambiente competitivo do setor financeiro, em
que os grandes bancos disputam clientes com
lançamentos sucessivos de produtos e serviços,
a diferenciação tecnológica é uma vantagem e
o aprimoramento tecnológico, uma constante.
Para fazer frente a esses desafios, o BB desenvolve
um projeto para a reformulação de sua área de
tecnologia. O objetivo é a melhor eficiência na
resposta da tecnologia às necessidades estratégicas
do banco. Sergio Biagini, gerente sênior da área
de Consultoria Empresarial da Deloitte, dedicado
a instituições financeiras, lembra que “o Banco
do Brasil sempre teve um espírito inovador e
de prestação de serviços ao cliente; foi um dos
primeiros a lançar o mobile banking, além de
inovar em produtos e serviços para o segmento
corporativo”.
A modernização do BB, segundo Biagini, é
sustentada por três pilares: profissionalização,
busca constante pela eficiência e informatização,
tudo isso se refletindo em melhores resultados
financeiros e liderança no mercado nacional. Com
esses diferenciais, não se admira que a integração da
Nossa Caixa, adquirida pelo BB em 2008, tenha sido
concluída em apenas oito meses, seis a menos do
que o previsto. “A integração foi muito mais rápida
do que o mercado imaginava e bem-sucedida, pois
tivemos pouquíssimos problemas. Nos terminais das
agências, foi aplicada uma solução muito engenhosa.
Uma pessoa que, na sexta à noite, era cliente da
Nossa Caixa, no sábado, já pode fazer uma transação
como cliente do Banco do Brasil”, relata Anderson
Itaborahy, gerente executivo e responsável por alguns
dos projetos estratégicos do banco.
“Aqui os tributos são muitos e incidem,
em alguns casos, sobre as mesmas bases.”
Cristina Arantes Berry, sócia da área de Consultoria Tributária da Deloitte
Itaborahy nota que o negócio bancário hoje é
fortemente baseado em Tecnologia da Informação
(TI), porque o dinheiro se virtualizou e as operações
são feitas online. “Estamos constantemente buscando
inovações, pois a exigência do cliente cresce muito. É
por meio do uso intensivo de tecnologia que o Banco
do Brasil consegue operar uma base de 54 milhões de
clientes em um País tão extenso e diversificado como
o nosso”, diz ele, para explicar por que o BB resolveu
rever e aperfeiçoar seu modelo de governança
tecnológica. O projeto é dividido em duas etapas,
começando pelo diagnóstico dos pontos fortes e
fracos dos modelos disponíveis no mercado. A partir
daí, começa a fase de implantação, que deve ser
concluída até julho de 2011. “Saímos com algumas
dezenas de processos novos. Não que tudo tenha sido
reinventado, mas é preciso evoluir constantemente,
porque a tecnologia muda”, explica o gerente
executivo do BB.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 9
Cingapura, a ilha da globalização
País asiático desponta como o paraíso da desburocratização, com um
sistema que privilegia a facilitação dos negócios, a atração dos investimentos
e a prevenção à corrupção
Menos entraves burocráticos
também significam menor
chance de corrupção,
o que se traduz em um
ambiente mais aberto para a
realização de investimentos.
Estes podem se tornar mais
diversificados, em relação
tanto à sua origem quanto
ao leque de setores a que
se destinam, e o resultado
final é o estímulo ao
desenvolvimento econômico.
Cingapura, a pequena ilha
e cidade-Estado asiática,
é exemplo disso. Sua
altamente desenvolvida
economia, que combina
abertura de mercado,
estabilidade financeira e
um dos mais altos índices
de renda per capita do
mundo, floresce em uma
atmosfera transparente e
livre de corrupção, atraindo
investimentos de mais de
3 mil multinacionais.
No ranking anual sobre
percepção de corrupção
da ONG Transparência
Internacional, divulgado
no fim de 2009, Cingapura
ficou entre os países menos
corruptos, com índice de
9,2, atrás apenas de Nova
Zelândia (9,4) e Dinamarca
(9,3). Já o Brasil ficou em 75º
lugar entre os 182 países
da lista. Em outra pesquisa
divulgada neste ano pelo
Wall Street Journal e pela
Heritage Foundation, sobre
liberdade econômica, o país
asiático ficou em segundo
lugar, depois de Hong
Kong, em uma relação de
179 nações. Em uma prova
de quanto a burocracia
pode dificultar negócios
e investimentos, o Brasil
ficou em 113º lugar. Abrir,
operar e fechar um negócio
aqui, constata o estudo,
são iniciativas limitadas pela
forte regulação, enquanto
a potencial corrupção é
um dos empecilhos ao seu
desenvolvimento.
A força da economia
de Cingapura pode ser
constatada pela rapidez
com que se reergueu do
grande baque sofrido
com a crise econômica
mundial de 2008/2009. No
primeiro semestre de 2010,
o crescimento econômico
chegou a 17,9% em relação
ao mesmo período de
2009, e a previsão é de que
encerre o ano entre 13%
e 15% de aumento. Com
a expansão do turismo
e das exportações, sua
economia já havia registrado
no segundo trimestre uma
taxa anualizada de 26%.
Com isso, o país pode vir
a encabeçar a lista das
nações com crescimento
mais rápido. No processo de
recuperação da Ásia, vizinhos
como Índia e Malásia
precisaram elevar os juros,
enquanto Cingapura precisou
ajustar sua taxa cambial.
Com uma população de
4,7 milhões de pessoas e
renda per capita de US$
50,3 mil, Cingapura tem
uma economia fortemente
sustentada pelo setor de
serviços (72,4%), seguido
10 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
pela indústria (27,6%). Dos
tempos de colonização,
acumula experiência como
um dos grandes entrepostos
de comércio do império
britânico, além de herdar um
sistema legal e um idioma
(o inglês é uma das línguas
oficiais) que favorecem os
negócios. Investimentos
em educação, formação
profissional e tecnologia
foram incentivados por
isenções fiscais e constituem
uma das chaves do sucesso
da pequena ilha asiática,
que hoje atua como
intermediário financeiro,
embarcando matérias-primas
como borracha, madeira e
condimentos, oriundas do
Sudeste da Ásia em troca
de produtos acabados do
mundo todo.
Em Cingapura, o comércio
exterior também floresce
livre de controles e medidas
protecionistas. Quase 96%
de suas importações entram
no país sem pagar tarifas,
enquanto as exportações
também desfrutam dos
mesmos privilégios, com
exceção de restrições ditadas
por acordos bilaterais.
Seus principais parceiros
comerciais são Estados
Unidos, Malásia e Japão.
Como o único recurso
natural da ilha é seu porto
de águas profundas, ela
depende da reputação de
ter um governo livre de
corrupção, assim como
de uma bem preparada e
altamente educada força
de trabalho.
Exemplo asiático
Agilidade e atualização tecnológica seriam muito
bem-vindas a muitas outras áreas do setor
público, como atesta o empresário Rodrigo
Giraldelli, da trading Prado Giraldelli, de Maringá
(PR). Especializado em mercados asiáticos, ele é
testemunha de quanto as condições de comércio
exterior no Brasil poderiam melhorar caso se
espelhassem nas daqueles países. Nas compras que
faz na China, por exemplo, são exigidos apenas três
documentos: fatura, lista descritiva da mercadoria e
instrução de embarque. Depois de pronto, o produto
leva 30 dias no mar para chegar no Brasil. E aqui,
só para ser liberado, leva até 20 dias. Bem antes
disso começa uma rotina trabalhosa. O importador
precisa se cadastrar no Siscomex (Sistema Integrado
de Comércio Exterior) da Receita Federal, mediante
o preenchimento de 21 pontos de documentação,
5 formulários e 16 documentos. Precisa também ir
ao banco e mudar o status de sua conta, para poder
enviar o dinheiro para o exterior, fazer um contrato
e guardá-lo para a hora do desembarque.
Quando a mercadoria chega, é preciso ainda
enfrentar cinco sistemas, incluindo os da Marinha
Mercante e da Receita Federal. Se isso demorar
muito, o navio pode acabar indo embora antes
de a mercadoria ser liberada, pois os portos estão
saturados e as embarcações têm janelas de atracação.
“Os entraves são muito grandes”, diz Giraldelli. “A
gente pode ser romântico e imaginar que eles estão
protegendo a indústria nacional, mas o importador
paga todos os impostos, como a indústria. Essas
exigências prejudicam, na verdade, o empreendedor.”
Em uma viagem pela China, em 2007, o empresário
notou que, ao lado dos trilhos onde corria o seu
trem, havia um longo terreno aplainado para a
construção de outra linha. Quando voltou ao mesmo
lugar, 13 meses depois, na linha ao lado, já havia
um novo trem em operação. Considerando o antigo
apreço por papéis e carimbos dos chineses, Giraldelli
não imaginava tal rapidez. “As coisas andam na
China”, diz. A julgar pelos projetos de modernização
que começam a se replicar pelo Brasil, o mesmo
ainda pode (e precisa) vir a acontecer por aqui.
Um país em obras
Setores da construção civil e pesada
e toda a cadeia da economia ligada
ao desenvolvimento da infraestrutura
aceleram como nunca, diante dos
desafios proporcionados pelo
crescimento do Brasil e pela
necessidade de adequá-lo à
realização dos grandes eventos
esportivos.
Por Luciano Correia
A
mistura entre alta dos
índices de emprego formal,
aumento da renda e maior
acesso a crédito tem
ampliado, nos últimos anos,
o apetite de crescimento
do segmento de construção civil no País. Um
misto de demanda habitacional reprimida por
décadas com o movimento de reposição
natural de moradias – que ganhou força
pelo fato de que parte da população
ascendeu socialmente e agora se sente
segura para adquirir uma nova casa –
puxa o movimento, cujos reflexos são
visíveis em toda a cadeia.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 11
A Andrade Gutierrez
está entre as construtoras
que participam das maiores
obras em curso no País,
como o trecho Sul do
Rodoanel, em São Paulo
As empresas, atentas à necessidade de acompanhar
a demanda, vêm retomando projetos e planos,
afirma José Domingos do Prado, sócio da Deloitte
responsável pelo atendimento às empresas dos
setores imobiliário e de construção. “Passada a
capitalização da Petrobras, que, por suas dimensões,
concentrou as atenções do mercado, haverá muita
retomada” (para os segmentos da cadeia imobiliária
e de construção). Segundo Prado, várias empresas
do setor que já têm capital aberto preparam
novas captações por meio do lançamento de
ações ou mesmo de instrumentos de dívida, como
debêntures.
Há, no entanto, aquelas que estão em situação
privilegiada para aproveitar o bom momento, como
as que ainda têm recursos para acelerar o ritmo de
atuação. É o caso da BrasilBrokers, maior grupo
de intermediação e consultoria imobiliária do País.
Constituída em 2007, no auge do mercado de
capitais local, a companhia aproveita o fato de ter
levantado mais de R$ 300 milhões em sua oferta
inicial de ações para dar sequência a dois objetivos
centrais: levar à frente sua estratégia de atuação
nacional e ser uma das consolidadoras de um
segmento ainda muito fragmentado em pequenas
empresas regionais. “Estamos em 16 Estados, em
todas as regiões do País, e o objetivo é aproveitar o
bom momento para ganhar espaço nos principais
mercados, casos de São Paulo, Brasília e Curitiba”,
detalha o diretor de Operações da companhia,
Alexandre Fonseca.
Ao contrário da construção civil, que havia freado
preventivamente investimentos no momento
mais agudo da crise internacional e necessitou de
programas de estímulo governamental do tipo
“Minha Casa, Minha Vida” para não desaquecer,
os setores ligados à construção pesada saíram
praticamente ilesos do vendaval financeiro. E,
impulsionados pela exploração da camada pré-sal,
por grandes obras de infraestrutura, pela retomada
de projetos de mineração e siderurgia e pela
necessidade que o País tem de preparar-se para
os grandes eventos esportivos, como a Copa
do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016,
trabalham com perspectivas bastante
otimistas para os próximos anos.
“Se o andamento das grandes obras
dependesse apenas da vontade das empresas,
o ritmo estaria muito mais adiantado,
mas os governos, principalmente os
estaduais, ainda têm de desenhar e definir
adequadamente a modelagem jurídica
de muitos desses negócios.”
José Domingos do Prado, sócio da Deloitte responsável pelo atendimento às empresas dos setores
imobiliário e de construção civil, comentando os projetos relacionados aos grandes eventos esportivos
12 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
Um exemplo disso são as grandes empreiteiras,
que começam a demarcar território na disputa
pelas principais obras. A Andrade Gutierrez está
participando de quase todas – de projetos que
envolvem a construção de ferrovias a arenas
esportivas. Considerando apenas a reforma e
construção de estádios de futebol, a empresa
está envolvida em três grandes projetos. Dividirá
a reforma do Maracanã, no Rio de Janeiro, com
a Odebrecht, e participa da construção da Arena
Amazônia e da reconstrução do estádio Mané
Garrincha, em Brasília, aquele que deve ser a
segunda arena mais cara do evento.
Fora isso, a Andrade participa de vários projetos para
aumentar a capacidade de fornecimento de energia
elétrica. Um deles é a construção da usina de Angra
3, obra com 2 mil funcionários e fundamental para
ampliar a oferta de pontos de iluminação no Estado
do Rio de Janeiro ao longo da Olimpíada de 2016.
Outro grande projeto nessa área e no qual a
organização está engajada é o “Luz para Todos”.
“Somos responsáveis por 10% desse projeto, que
tem como meta levar 2 milhões de pontos de luz a
áreas rurais”, afirma Clovis Primo, diretor da Andrade
Gutierrez, que acredita que ainda há muito espaço
para o surgimento de novos negócios, principalmente
pela necessidade que as 12 cidades que irão sediar a
Copa de 2014 terão em melhorar a sua infraestrutura,
para além da criação e revitalização de praças
esportivas.
O crescimento econômico e as diversas frentes
que o estimulam trouxeram para o dia a dia dos
empresários um grau maior de previsibilidade. Com
negócios iminentes, fica mais fácil planejar e buscar
recursos para sua execução. Foi essa segurança
que permitiu que a Mills, tradicional empresa de
engenharia fundada em 1952, realizasse sua oferta
de ações na bolsa paulista em maio deste ano. Com
a operação, que levantou mais de R$ 420 milhões
às vésperas de o mercado acionário ter fechado
por novos problemas na economia europeia, a
organização conseguirá levar à frente um ambicioso
projeto de expansão. No total, será investido mais
de R$ 1 bilhão. Além do montante obtido com a
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 13
O boom da construção no Brasil
A construção civil apresenta um número de ofertas de ações muito superior a qualquer outro setor, reflexo das
demandas, oportunidades e perspectivas em um momento de franca expansão econômica do País
9,5
11
Movimentação de ofertas de ações por setor
Janeiro de 2009 a setembro de 2010
7,1
8
36,4
6
4,1
4
Construção
civil
Atividades
financeiras
Transporte
Valor das ofertas (R$ bilhões)
8,6
3
Alimentos
0,6
2
Informática,
TI e internet
1,3
2
Comércio
2,3
2
Farmacêuticos
e higiene
1,2
2
Energia
elétrica
120,2
1
Petróleo
e gás
Outras
atividades
Número de ofertas
Fonte: Research – Deloitte (a partir da consolidação de dados da BM&FBovespa e da Comissão de Valores Mobiliários – CVM)
oferta de ações, a empresa também utilizará sua
geração de caixa. Os planos incluem utilizar o
dinheiro para dobrar o número de filiais – para 40 –
e investir em compra de equipamentos ainda pouco
comuns no Brasil, casos de plataformas aéreas
utilizadas para levar cargas e pessoas a grandes
altitudes, além de crescer organicamente.
“Os investidores entenderam bem que, embora
sejamos muito beneficiados pelo setor de engenharia
e construção, não somos sujeitos aos mesmos
riscos”, acredita o presidente da empresa, Ramon
Vazquez. A Mills conta com quatro áreas, cada
uma delas respondendo a um segmento específico
do mercado: Construção (fornecendo formas e
escoramentos para obras e construção pesada),
Jahu (produzindo andaimes para obras residenciais e
comerciais), Serviços Industriais (atuando com pintura
e isolamento térmico) e Rental (voltada à venda e
locação de plataformas aéreas e outras máquinas
para construção pesada). Assim, ela é um caso
clássico de empresa que consegue usufruir do bom
“A grande maioria das obras urbanas e
até mesmo as de estádios está atrasada.
O Brasil precisa estar atento para
não perder essa grande oportunidade,
que veio acompanhada de uma
responsabilidade proporcional.”
Joseph Young, responsável pelo ranking das empresas da revista “O Empreiteiro”
14 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
momento dos setores de construção e infraestrutura
e da cadeia de exploração de óleo e gás do País.
Para bem além dos Jogos
Aproveitar a realização dos principais eventos
esportivos em solo brasileiro para melhorar a
infraestrutura doméstica e deixar um legado –
reforçando o transporte público e fazendo despontar
as vocações de cada cidade, a exemplo do que fez
Barcelona, na Espanha, nos Jogos Olímpicos de
1992 –, não será uma tarefa trivial. “Exige tempo e
planejamento adequado. A grande maioria das obras
urbanas e até mesmo as de estádios está atrasada.
O Brasil precisa estar atento para não perder essa
grande oportunidade, que veio acompanhada
de uma responsabilidade proporcional”, alerta
Joseph Young, diretor da revista O Empreiteiro, que
recentemente preparou um ranking que situa a
posição das 500 principais empresas brasileiras do
segmento. O levantamento destaca que as receitas
das gigantes empreiteiras, que concentram a maior
parte das obras de grande porte, serão bastante
beneficiadas pela realização desses eventos no País.
“Se o andamento das grandes obras dependesse
apenas da vontade das empresas, o ritmo
estaria muito mais adiantado, mas os governos,
principalmente os estaduais, ainda têm de desenhar
e definir adequadamente a modelagem jurídica de
muitos desses negócios”, pondera Prado, da Deloitte.
Parte desse tempo perdido deve ser recuperada
com a passagem do processo eleitoral, que impede
– por lei – que alguns investimentos e decisões
sejam tomados antes e durante o pleito, aponta
Leonardo Moreira, sócio do escritório de advocacia
Azevedo Sette. A banca assessora, atualmente,
diversos projetos relacionados à infraestrutura.
“O movimento de prospecção é intenso em várias
áreas. Há investidores estrangeiros interessados em
participar de grandes projetos de ferrovias, tratamento
de resíduos sólidos, saneamento, aeroportos e, até
mesmo, de Parcerias Público-Privadas (PPPs) em
hospitais. O movimento do início do próximo ano
será muito forte, só encontrando paralelo à época
das grandes privatizações”, compara o advogado.
Ramon Vazquez, da Mills:
depois de um bem-sucedido
IPO em 2009, a empresa de
engenharia se prepara para
um projeto de expansão
de R$ 1 bilhão
Limites para o crescimento
A discussão não é propriamente nova, mas
volta à tona sempre que as nuvens da crise se
afastam do Brasil e o País caminha rumo ao
crescimento, distanciando-se hoje dos problemas
que afligem os Estados Unidos e, principalmente,
a Europa. A grande questão é até quando os
problemas estruturais – ressaltados com falhas
em infraestrutura, transporte e logística – vão
impedir que o Brasil avance em direção às nações
desenvolvidas. Alimentada pelos segmentos de
construção civil e pesada, essa discussão volta a
aparecer. E preocupa especialistas. “Grandes obras
da indústria de óleo e gás e construção pesada que
necessitam de equipamentos como guindastes e
motoniveladoras já pressionam fornecedores de
máquinas. Há dois anos, antes da crise, a oferta já
não estava acompanhando a demanda, o que pode
voltar a acontecer já no primeiro semestre de 2012”,
acredita Luiz Fernando Santos Reis, presidente do
Sindicato Nacional da Indústria da Construção
Pesada (Sinicon).
Reis, que também é um dos executivos da Carioca
Engenharia, aponta que as empresas do segmento
estão habituadas à sazonalidade do mercado.
Por isso, costumam manter apenas um parque
mínimo de materiais, indo às compras com
intensidade quando a demanda por obras aumenta,
o que já acontece.
Contudo, não é apenas nos tradicionais gargalos da
economia brasileira que o interesse por investimentos
em construção civil, infraestrutura e construção
pesada começa a ganhar maior visibilidade. Pelo
lado do financiamento de projetos e empresas,
por exemplo, há um interesse cada vez maior de
investidores em aplicar no setor. Dos grandes fundos
de pensão às pessoas físicas, os títulos de dívida
atrelados a obras, construção ou projetos – tendo
à frente os Certificados de Recebíveis Imobiliários
(CRIs) – são considerados atraentes e seguros.
Para Robertson Emerenciano, sócio do escritório
de advocacia Emerenciano, Baggio e Associados,
outra ponta visível do interesse de investidores nos
segmentos é a procura de estrangeiros por novas
oportunidades no País. “Há empresas querendo
entrar no segmento de construção civil por meio de
aquisição de operações locais. Grandes escritórios
internacionais de engenharia e arquitetura também
buscam se posicionar no mercado local”, diz.
Querem aproveitar o bom momento – e as ótimas
perspectivas de crescimento da economia
brasileira – para atuar na cadeia de fornecedores
e prestadores de serviços.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 15
Há vagas!
Onde estão os
talentos?
No novo ciclo econômico, o maior problema
não é a oferta de postos de trabalho, mas a
falta de profissionais capacitados para ocupá-los.
A baixa qualificação de grande parcela
da população é o novo grande desafio do
desenvolvimento de um país que precisa,
enfim, priorizar a educação.
Por Eugênio Melloni
C
onhecidos como a “década
perdida” pelo longo período
de estagnação econômica,
os anos 80 ficaram marcados
também pelos altos índices de
desemprego, consequência
direta da economia desarrumada de um país
que parecia mergulhado em uma crise eterna. A
década que se avizinha, no entanto, promete ser
a antítese daquela época: a expectativa é a de que
o Brasil experimente um longo e sustentado ciclo
de prosperidade econômica, embalado por uma
diversidade de fatores, que vão da exploração das
gigantescas reservas de petróleo da camada pré-sal
até a realização dos dois maiores eventos esportivos
mundiais: a Copa do Mundo de Futebol, em 2014,
e a Olimpíada de 2016.
16 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
O que parece ser a ocasião perfeita para um
casamento entre a oferta e a demanda por trabalho,
contudo, está esbarrando, de antemão, em um dilema
que já afeta todos os setores da atividade econômica
brasileira: como pavimentar o vão entre as demandas
proporcionadas pelas perspectivas positivas, que
exigem mão de obra de alto nível, e a grande
parcela de profissionais com baixa qualificação?
Quando se fala em queixa, as corporações são
unânimes: boa parte dos trabalhadores brasileiros
apresenta sérias deficiências, envolvendo, em muitos
casos, a falta de habilidades básicas, que evidenciam
os efeitos da deterioração das condições da
educação no País. Por isso, as próprias corporações
assumem para si, cada vez mais, a tarefa de formar
a sua mão de obra por meio de programas de
capacitação e treinamento.
A falta de capacitação é um dos sérios desafios
do Brasil, ao lado dos temas “infraestrutura”,
“inovação” e “reconhecimento internacional”,
diagnosticados pelo estudo “Brazil unbound:
How investors see Brazil and Brazil sees the world”
(“Como os investidores veem o Brasil e como
o Brasil vê o mundo”). O estudo, realizado em
parceria pela Economist Intelligence Unit (EIU),
do grupo The Economist, e pelo banco HSBC, foi
produzido a partir de sondagens realizadas com
536 executivos seniores em todo o mundo. Desse
total, um terço apontou a falta de experiência
profissional como uma de suas maiores dificuldades
operacionais. Entre as empresas norte-americanas
consultadas, 47% delas consideraram o problema
o seu grande desafio.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 17
O estudo alinha uma série de dados e informações
ainda mais preocupantes. Por exemplo: em 2008,
20% da população economicamente ativa não
podia ler, escrever ou entender textos básicos – o
que representou um ligeiro avanço em relação a um
nível de 25% de analfabetismo funcional registrado
cinco anos antes. Para essa pesquisa, foi ouvido
o mexicano Alberto Rodriguez, especialista em
educação do Banco Mundial, que já atuou no Brasil
e que diz que, em 2008, somente a metade das
crianças brasileiras completou o ensino secundário,
o que consiste na segunda maior taxa de evasão
escolar do mundo, inferior apenas à registrada em
Moçambique.
A qualidade do ensino para a maioria das crianças,
que dependem da escola pública, é baixa, com falhas
estruturais que abrangem a falta de infraestrutura
e treinamento adequados para os profissionais
da educação. Segundo o estudo, os professores
também são parte do problema, lembrando
que há relatos de que, em algumas escolas, os
computadores que seriam utilizados como apoio
para o aprendizado dos alunos permanecem
encaixotados porque não há quem saiba utilizá-los.
O levantamento ressalva, porém, que houve alguns
progressos na educação no País, como o fato de todas
as crianças com idade entre 7 e 14 anos estarem
na escola. Houve ainda o incremento na média do
número de anos de estudo formal, que passou, em
20 anos, de uma média de 5,2 para os atuais 7,1
anos em 2008. Porém, de acordo com o relatório,
o Brasil ainda não atingiu o nível recomendado pela
Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (Unesco), o qual foi alcançado
pelos vizinhos Argentina, Chile e Peru.
“Já se sabia, há 15 anos, que, quando
o País voltasse a crescer, faltariam
profissionais capacitados, por conta da
falta de investimentos na educação.”
Stella Trad, do Instituto Ecosocial
18 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
Os reflexos dessas condições no desempenho
dos alunos brasileiros pôde ser medido em
testes da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), aplicados, em
2006, a jovens de 15 anos em 57 países. Os alunos
brasileiros ficaram na 53ª posição em matemática,
52ª em ciências e 48ª em leitura. E há consequências
maiores e mais graves. O trabalho lembra que, há
30 anos, Brasil e Coreia do Sul apresentavam níveis
de Produto Interno Bruto (PIB) per capita similares,
destacando que, hoje, os sul-coreanos exibem
números três vezes maiores. Segundo o estudo
da OCDE, a educação é uma das razões para essa
discrepante evolução.
Foco na qualidade
“As políticas públicas no Brasil buscaram, ao longo
das últimas décadas, combater o analfabetismo
e promover a democratização do ensino, mas
permanece ainda o desafio de prover qualidade
ao ensino, que deixa muito a desejar”, avalia a
professora Norma Sandra de Almeida Ferreira,
coordenadora associada do Curso de Pedagogia
da Faculdade de Educação da Unicamp. Ela lembra
que os esforços dos governos se concentraram em,
primeiramente, reduzir as taxas de analfabetismo,
o qual, nos anos 50, chegou a afetar a metade
da população brasileira.
“O fato é que nós ainda procuramos, nos últimos
anos, atender a demandas que foram resolvidas em
outros países ainda no século 19”, diz a professora.
“Com o desenvolvimento tecnológico, que implica,
entre outros fatores, a adoção de uma nova
linguagem, a educação precisa se abrir para isso e
passar a receber investimentos na melhoria da sua
qualidade.” Norma ressalva que ocorreram avanços
na educação ao longo dos últimos anos, mas
não foram realizadas, segundo ela, modificações
estruturais de fundo, que proporcionassem maior
qualidade ao estudo.
Trabalhando na ponta do recrutamento da mão de
obra, Stella Trad, do Instituto Ecosocial, considera
que o atual “apagão” na oferta de mão de obra
“é uma profecia que se materializa: já se sabia, há
15 anos, que, quando o País voltasse a crescer,
faltariam profissionais capacitados, por conta da
falta de investimentos na educação”. Stella destaca,
Norma Sandra de Almeida,
da Unicamp: “Ainda
procuramos, nos últimos
anos, atender a demandas
que foram resolvidas em
outros países ainda no
século 19.”
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 19
Pessoas no tamanho da oportunidade
Além de contratar profissionais capacitados, as empresas estão preocupadas também em redimensionar
os seus quadros para o novo momento econômico
O crescimento econômico brasileiro está levando as
empresas a enfrentarem outro desafio em relação ao
seu capital humano, tão importante quanto contar
com trabalhadores capacitados: redimensionar os
seus quadros, de forma que consigam aproveitar
as oportunidades proporcionadas pelo novo ciclo
de prosperidade. “Nos últimos dois anos, que
coincidiram com a crise econômica internacional,
as empresas buscaram racionalizar ao máximo os
seus custos, em uma estratégia de sobrevivência”,
diz Henri Vahdat, diretor da linha de serviços de
Consultoria em Gestão de Capital Humano da
Deloitte. “Agora, elas estão procurando contar
com as condições adequadas para viabilizar as suas
estratégias de crescimento. Não se ganha o jogo
apenas formulando a estratégia de crescimento,
mas executando-a com excelência”, diz.
Vahdat explica que o dimensionamento de pessoal,
entre outros benefícios, contribui para organizar
as relações internas da empresa e sua interação
com o mundo externo, e estimula a inovação.
Anderson Itaborahy,
do Banco do Brasil:
projeto de governança
para redimensionar
a área de TI da
instituição
“As novas estruturas adotadas permitem que as
organizações maximizem o seu capital humano no
processo de geração de valor”, conta. “Hoje são
muitas as situações em que ficam visíveis deficiências
no que se refere ao dimensionamento do quadro
de funcionários para as atividades e demandas de
diferentes áreas das empresas”, diz Leylah Macluf,
gerente da mesma linha de serviços. Segundo ela,
as aplicações de um correto dimensionamento
das áreas são muitas e sempre necessárias. “Há
empresas, por exemplo, que contam com um
grande número de profissionais próximos da
aposentadoria e que ainda não repassaram todo o
conhecimento da área em que atuam para as novas
gerações de colaboradores”, exemplifica.
A abordagem a essa questão é tão diferenciada
quanto as necessidades apresentadas em cada
caso, de acordo com Paulo Camargo Silva, também
gerente de Consultoria em Gestão de Capital
Humano da Deloitte. Nessa abordagem, é preciso
levar em conta o quanto a empresa pretende
investir, o nível de qualidade esperado e a demanda
da área. “É preciso sempre verificar a melhor
maneira de organizar a área da empresa para que
seja mais eficiente, aproveitando as competências
profissionais existentes”, explica. Nesse trabalho,
pode-se utilizar, por exemplo, um modelo
matemático que permita calcular a produtividade
da área em questão e, com base nisso, projetar os
resultados a serem gerados por uma reestruturação.
Entre as empresas que hoje estão realizando trabalhos
de reestruturação do seu capital humano estão a
Carbocloro e o Banco do Brasil. Na primeira delas, o
próprio presidente da empresa definiu a missão de
estruturar todas as áreas e revisar todos os processos,
estruturas e indicadores, a fim de criar novas bases
para o crescimento da empresa. Já no caso do Banco
do Brasil, o trabalho envolve a readequação da área
20 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
Leyla Nascimento, da
ABRH-Nacional: “Vivemos
esses problemas por conta
da falta de um planejamento
que atrele a formação da
mão de obra aos planos de
desenvolvimento do País.”
de TI, com a mobilização e o engajamento de 5 mil
funcionários da instituição, que vive um momento
de expansão. O projeto, batizado de “Governança
de TI”, teve início há dois anos e encontra-se em
implantação, devendo terminar em meados do
próximo ano, de acordo com o gerente-executivo do
projeto, Anderson Itaborahy. “Para nós, dimensionar
o trabalho é uma questão sensível, uma vez que
uma empresa estatal enfrenta limitações legais para
a contratação”, afirma. “Outra questão é que não
selecionamos externamente e, sim, recrutamos
internamente”, acrescentou Itaborahy, lembrando que
todos os funcionários são contratados por concurso.
“Todos entram na empresa como bancários. Para
adaptá-los às necessidades da área de TI, por
exemplo, investimos bastante em treinamento.”
O gerente-executivo acrescentou que, nesse
processo de reestruturação, recorreu-se às melhores
práticas em algumas questões e à prototipação
(teste com o dimensionamento da área para uma
pequena parcela do trabalho e seu posterior ajuste
de acordo com o desempenho encontrado). “O
grande desafio de se realizar o dimensionamento da
área de TI é que o trabalho está baseado fortemente
no conhecimento, o que pode resultar em grandes
variações de produtividade”, diz o executivo. Outra
questão levada em consideração foi a definição de
níveis de senioridade para os trabalhos. “Na área de
TI, se não se pode contar com o nível de senioridade
adequado, o trabalho pode ser comprometido”,
acrescenta o gerente-executivo.
Ele lembra, também, que a realocação de pessoal
deverá ocorrer por “ondas”: a primeira está prevista
para a virada do ano; a segunda deverá acontecer no
primeiro semestre de 2011. “Tivemos nesse processo
a preocupação básica de incluir instrumentos que nos
assegurem um aperfeiçoamento constante, como
deve sempre ocorrer na área de TI”, diz Itaborahy.
contudo, que o problema não ocorre somente
em níveis hierárquicos das empresas que dependem
mais diretamente da educação fundamental e
secundária. “Há problemas sérios na qualidade
do ensino ministrado em algumas universidades.
A universidade nem sempre oferece ao aluno
as condições necessárias para que ele exerça a
profissão escolhida”, acredita.
Leyla Nascimento, presidente da Associação
Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional),
acrescenta que o “apagão” da mão de obra no
País apresenta dois aspectos: a falta de qualificação
dos profissionais e a quantidade insuficiente de
pessoas formadas em áreas consideradas em alta
no mercado de trabalho, como engenharia e saúde.
“Vivemos esses problemas por conta da falta de
um planejamento que atrele a formação da mão de
obra aos planos de desenvolvimento do País”, diz
Leyla. Ela acrescenta que ocorre, por conta dessa
falta de planejamento, um excesso de profissionais
em setores menos demandantes de mão de obra,
enquanto há carência extrema de profissionais
em outras áreas.
A presidente da ABRH-Nacional considera positiva
a reação de as corporações buscarem proporcionar
aos seus funcionários a capacitação necessária. “Mas
existe uma questão que é o tempo. Por mais que as
empresas invistam em universidades corporativas,
elas não vão conseguir formar as pessoas no tempo
necessário”, diz. O “apagão” da mão de obra no
Brasil parece evidenciar que não há mais como adiar,
como antecipou o professor Armando Castelar
Pinheiro, professor do Instituto de Economia da UFRJ
(leia Mundo Corporativo nº 27), a implementação
de políticas educacionais e econômicas voltadas para
a competitividade do País e baseadas em uma lógica
bem diferente da que prevaleceu na maior parte
do século 20.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 21
A década do
A preocupação com ecologia e
sustentabilidade consolida-se cada
vez mais nas escolhas do consumidor
brasileiro, forçando empresas a investir
em inovação, tecnologia, produção,
preço atraente e ações institucionais
para avançar no próspero mercado
verde.
Por Dagoberto Souto Maior Jr.
R
eduzir, reutilizar, reciclar, cuidar da
água do planeta, das florestas e
das geleiras, gastar menos energia
e proteger a natureza. A causa
ecológica, considerada radical
há 40 anos, está norteando os
negócios e seus princípios são repetidos como
mantra por líderes empresariais de todo o País. As
razões são muitas e, entre elas, estão as que indicam
que o consumidor está mudando, que os mercados
“verdes” têm números de crescimento muito positivos
e que os recursos naturais que movimentam as
indústrias correm risco de acabar. Ouvidos atentos
ao mercado, as iniciativas empresariais na direção de
uma produção sustentável e de produtos associados
à causa verde se disseminam.
Apenas para mostrar um indício, a EBX, do
empresário Eike Batista, divulgou que vai investir
pesado no mercado de carros elétricos, construindo
uma fábrica de US$ 1 bilhão no Rio de Janeiro.
A promessa é de que o primeiro veículo esteja
rodando em 2014. Trata-se de um setor ainda
quase inexplorado no Brasil, mas com grande
potencial de desenvolvimento. Os anúncios de
investimento na produção e comercialização de
produtos sustentáveis nas mais diferentes áreas
tomam por base números, dos mais diversos
institutos, que apontam o crescimento do mercado
“verde” nos mais variados segmentos. Para citar
um deles, a Câmara de Comércio e Indústria de São
Paulo divulgou um levantamento segundo o qual o
mercado nacional de sustentabilidade corresponde a
0,8% do mundial, com expectativa de crescimento
entre 5% e 7% ao ano até 2020. No mesmo
período, o mercado mundial deve atingir uma taxa
anual de crescimento de 6,5%. Segundo a pesquisa,
os números otimistas tinham como base o fato de
as empresas brasileiras terem investido 1% de seu
faturamento em iniciativas sustentáveis.
Um horizonte a ser descoberto
O consumo desse tipo de produto também ainda
está aquém do desejado. Segundo a ONG Instituto
Akatu, apenas 33% dos consumidores brasileiros
estão preocupados com apelos ecológicos.
Enquanto isso, a comunidade europeia já lançou
o Ecolabel, selo que garante e identifica os produtos
que respeitam o meio ambiente.
Para Reynaldo Saad, sócio da Deloitte responsável
pelo atendimento a empresas dos setores de varejo
e bens de consumo, neste primeiro momento, em
que o mercado está se desenvolvendo e os preços
dos produtos ditos “verdes” ainda são altos para a
maioria dos consumidores, o mais provável é que
ocorra uma segmentação do mercado, com os
produtos sendo procurados por classes com maior
poder aquisitivo. “Essas pessoas têm mais clara a
percepção da importância da qualidade de vida.
À medida que outros produtos forem sendo
lançados, haverá capilaridade nas demais classes
sociais”, afirma.
22 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
consumo verde
Que o diga a Mundo Verde, pioneira no Brasil a
falar em consciência verde, produtos naturais e
postura ecológica. Há 23 anos, a empresa decidiu
que investiria em um futuro diferente para o planeta
e agora mostra seus resultados: a maior franquia
de produtos naturais na América Latina fechou
2009 com faturamento de R$ 120 milhões e prevê
encerrar 2010 faturando R$ 180 milhões e com 40
novas unidades.
No ano passado, a Mundo Verde deixou de ser um
negócio familiar e concluiu a venda de 100% de
suas cotas para um fundo de private equity. Agora,
os empresários Sérgio Bocayuva, Donato Ramos,
Marcos Leite e Eduardo Nogueira, experientes no
varejo brasileiro, levantam a bandeira da Mundo
Verde no Brasil e no exterior e acreditam que
o consumo desse tipo de produto no País está
amadurecendo e passando para um novo estágio.
Eram caros e feios no início, passaram a ser
“normais” e agora viraram ícones.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 23
“A mudança mais significativa do mercado de
produtos verdes no Brasil é a transformação de
um mercado que era de nicho para um mercado
de massa, e esse processo ainda está em estágio
inicial, devendo apresentar grande evolução nos
próximos 10 a 15 anos”, prevê Donato Ramos,
diretor de Marketing e RH da rede de franquias. A
meta da empresa é chegar a 2015 com 450 lojas.
O executivo chama a atenção para um detalhe
importante na formação do negócio: a educação
do consumidor. “A informação tem um destaque
importante, pois temos de ensinar a usar os
produtos e sua importância. Por isso, investimos
muito em treinamento, com aulas online e na
própria loja”, afirma. Para Donato, o fator preço não
é tão preocupante quanto a desinformação. “Se
os consumidores reconhecerem a importância do
produto, verão no preço um valor agregado”, diz.
Donato Ramos, da Mundo
Verde: produtos “verdes”
se transformando em um
mercado de massa no Brasil
Outra que vem priorizando o mercado ecológico no
Brasil é a Philips, que atua em vários segmentos e é
líder do setor de eletrônicos, tornando-se a primeira
do segmento a desenvolver um sistema nacional
24 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
para o recolhimento e a troca de seus equipamentos
usados. O sistema começou em março e está em sua
primeira fase, da montagem da estrutura logística
para recolhimento e descarte do aparelho. A segunda
fase envolverá uma campanha para conscientização
e estímulo do consumidor. No mundo, a Philips já
alcançou a marca de 50% de aparelhos reciclados.
Segundo o diretor de Sustentabilidade da
multinacional, Walter Duran, a meta global da
empresa é que, em 2015, 50% dos seus produtos
sejam “verdes”. Ele explica que o retorno das ações
em favor da natureza não representa ganho em
dinheiro para a empresa, pois, para cada tonelada
de material reciclado, a Philips ainda tem de
complementar com recursos próprios os custos
da reciclagem. A conta da reciclagem não fecha,
mas Duran garante que não há outro caminho.
“É inevitável. Primeiro porque, se a sua empresa
não fizer, outra empresa vai fazer. Depois, é a sua
reputação que está em jogo e, em um mundo
preocupado com ativos ambientais, má reputação
significa perda de clientes”, explica.
De acordo com o executivo, o mercado “verde”
vai crescer no Brasil, pois a indústria não tem outro
caminho a seguir. “O custo da energia tem de cair, e
o consumo dos aparelhos vem diminuindo de 10%
a 15% por ano. Há 15 anos, nenhum consumidor
se preocupava com energia. Hoje todos olham esse
detalhe na hora da compra”, diz. A importância da autenticidade
Reynaldo Saad, da Deloitte, chama a atenção para
um dos maiores riscos das ações sustentáveis. As
empresas precisam cuidar para que ações em favor
do “verde” não pareçam falsas aos consumidores,
ou isso trará prejuízo para a marca. “É preciso
fechar a cadeia produtiva e de vendas. A empresa
deve checar se seu fornecedor de matéria-prima
é sustentável, se é preocupado com o meio
ambiente e se os mais variados elos de sua cadeia
são verdadeiramente ‘verdes’, e deixar claro ao
seu consumidor que seus cuidados com o meio
ambiente ocorrem em todo o processo de produção
e venda. Só assim ficará claro que suas intenções
são verdadeiras”, afirma.
Como exemplo de caso bem-sucedido nesse
campo, ele cita o da maior rede de varejo do
mundo, o Walmart, que, além dos esforços para
incluir sacolas retornáveis em seus caixas, foi além:
determinou que as novas lojas da rede devem seguir
padrões ecoeficientes, usando materiais reciclados,
reduzindo consumo de energia e utilizando meios
para aproveitar a água da chuva. Foi uma entre
outras iniciativas da varejista para solidificar sua
cultura institucional “verde”.
As posturas positivas de algumas empresas
espelham-se nos números globais para o negócio
sustentável, em grande parte, muito animadores
em quase todos os segmentos. No segmento
de construção civil sustentável, por exemplo,
segundo a publicação norte-americana EL Insights,
especializada em energia e meio ambiente no
mundo dos negócios, o número de edifícios
comerciais “verdes” deve aumentar 18% até
2015. O consumo de embalagens que utilizam
material reciclado ou biodegradável tem previsão
“É preciso fechar a cadeia produtiva
e de vendas. A empresa deve checar
se seu fornecedor de matéria-prima
é sustentável, se é preocupado com
o meio ambiente e se os mais variados
elos de sua cadeia são verdadeiramente
‘verdes’.”
Reynaldo Saad, sócio da Deloitte responsável pelo atendimento
a empresas dos setores de varejo e bens de consumo
de crescimento anual de 8,4% até 2013, quando
alcançará a marca de US$ 43,9 bilhões. É o que
mostra um estudo realizado pela Freedonia Group,
especialista na pesquisa da indústria.
Nos Estados Unidos, o novo consumidor “verde”
ganhou até nome especial: scuppies, que pode ser
traduzido livremente como Pessoas Socialmente
Conscientes e em Ascensão Social (Socially Conscious
Upwardly Mobile Persons). Os scuppies avaliam o
impacto social, humano e ambiental dos produtos,
mas não deixam de consumir e usufruir da tecnologia
e do conforto dos tempos modernos. Eles reciclam o
lixo, consomem alimentos orgânicos e compram itens
produzidos com base no comércio justo.
Inovação pela sustentabilidade
O eloquente apelo dos produtos “verdes” encontra
receptividade primeiramente entre os produtos
reconhecidos como vilões da natureza. É o caso da
Michelin, fabricante mundial de pneus que criou,
entre inúmeras iniciativas voltadas para um mercado
sustentável, um grupo que desenvolve tecnologias
ecologicamente corretas. No mundo todo, mais de
6 mil pessoas trabalham nos setores de Pesquisa,
Desenvolvimento e Industrialização da Michelin. Em
2008, a empresa alcançou a tecnologia capaz de
desenvolver o mais moderno pneu quando o assunto
é a economia de recursos naturais: o Michelin Energy
Saver, para carros de passeio, que permite diminuir o
consumo de combustível a partir da ação dos pneus.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 25
Walter Duran, da Philips:
meta de que 50% dos
produtos sejam “verdes”
em 2015
“Atualmente, o nosso objetivo é desenvolver uma
mobilidade sustentável. Para ser sustentável, a
mobilidade deve utilizar tecnologias com o objetivo
de atender ao desejo generalizado de transportes
que tenham menor impacto no meio ambiente”,
afirma Glauce Ferman, diretora de Relações
Institucionais e Ações em Sustentabilidade da
Michelin. No Brasil, 75% dos pneus vendidos são
de baixa resistência à rodagem, ou seja, têm o
compromisso de reduzir o consumo de combustível
e, consequentemente, as emissões de CO2.
Além de desenvolver um composto mais moderno,
a Michelin reúne outras práticas sustentáveis que
englobam sua cadeia produtiva, como a certificação
ambiental das fábricas, a ampliação da vida útil
dos produtos para reduzir o volume de pneus
descartados e um programa para coleta e correta
destinação dos itens descartados, o Reciclanip,
desenvolvido em 2007. Mais de 240 milhões de
pneus de passeio tiveram destino ambientalmente
responsável, o equivalente a 1,2 milhão de toneladas
de pneus que não poderiam mais ser utilizados. O programa é desenvolvido por meio de parcerias
com as prefeituras, que cedem os terrenos para
receber o material. São 441 postos de coleta em
todo o País, de onde a Reciclanip recolhe e
transporta os compostos até as empresas
de trituração ou de reaproveitamento.
“As empresas que conseguirem
entregar um produto melhor,
mais barato, mais confiável ou
mais sustentável serão as líderes
mundiais.”
Henry Mason, chefe de Pesquisa da Trendwatching.com
26 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
Oportunidades em outras frentes
Se as empresas que realizam a produção e a
comercialização estão preocupadas com o meio
ambiente, é natural que os agentes financeiros – que
administram os recursos que movimentam o mercado
– também tenham as mesmas preocupações. Há
alguns anos, teve início uma tendência mundial de
os investidores procurarem empresas socialmente
responsáveis, sustentáveis e rentáveis para aplicar seus
recursos. Tais aplicações, denominadas Investimentos
Socialmente Responsáveis (SRI), consideram que
empresas sustentáveis geram valor para o acionista
no longo prazo, pois estão mais preparadas para
enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais. No
Brasil, a BM&FBovespa criou até um índice de ações
para servir como referencial para os investimentos
socialmente responsáveis, o Índice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE). Segundo estudo da Deloitte e da
Cleantech Group, os investimentos de capital de
risco em empresas de tecnologias verdes cresceram
43%, para US$ 2,02 bilhões, no segundo trimestre de
2010, em relação ao mesmo período do ano passado.
As iniciativas e o crescimento do mercado apontam
para o surgimento de oportunidades que podem ser
exploradas em alguns segmentos. Segundo o estudo
da Câmara de Comércio e Indústria de São Paulo,
algumas delas estarão presentes na adoção de uma
nova legislação, como a recente Lei de Descarte de
Resíduos Sólidos, que deverá resultar em processos
de privatização ou de concessão de serviços públicos
de água e saneamento.
Glauce Ferman,
da Michelin: aplicação
de novas tecnologias
para “desenvolver
uma mobilidade
sustentável”
Caminho sem volta, mundo afora
Como afirma Donato Ramos, da Mundo Verde, “o
mercado de consumo verde no Brasil é uma criança
‘recém-nascida’”. Em cada país, o desenvolvimento
desse mercado se dá em ritmos diferentes, mas,
seja onde for, o fato é que já não é mais possível
pensar o negócio sem se considerar a ótica das
“marcas verdes”. A Trendwatching.com, empresa
britânica especializada em tendências, verdadeiro
termômetro mundial para ajudar a diagnosticar
o comportamento do consumidor, divulgou
recentemente um grande estudo sobre as principais
tendências de consumo em diversos segmentos.
O levantamento comprovou o que todos esperavam:
os produtos ecologicamente corretos estão em
alta em todo o mundo.
Para o chefe do setor de Pesquisas da
Trendwatching, Henry Mason, a busca por produtos
e serviços sustentáveis não é apenas uma “fase”
do mercado. Ele sustenta que consumidores do
mundo todo estão conscientes de que o atual
sistema de produção e de hiperconsumo não pode
continuar. “Os sinais disso ficaram muito claros,
da crise financeira norte-americana à poluição que
atinge a China. Ter os cuidados ambientais entre
suas ações é apenas uma das posturas que os
consumidores exigem das marcas.”
Segundo Mason, apesar de os mercados de produtos
“verdes” estarem mais maduros nos Estados Unidos e
na Europa, a consciência ecológica já está presente em
todos os cantos do planeta. “Os consumidores estão
procurando por marcas que se provem relevantes,
generosas, mais humanas, abertas e responsáveis.
Por isso, qualquer fabricante ou prestador de
serviço precisa começar a repensar seu negócio, seu
produto, sua personalidade e sua cultura”, analisa.
Mason lembra que, para obter resultados
sustentáveis sérios, é preciso criar “ecofacilitadores”
para produtos e serviços. Isso significa apresentar
produtos sustentáveis sem mesmo que os
consumidores percebam e, se necessário, sem
deixar espaço para que consumidores e empresas
optem por qualquer outro tipo de produto que não
seja ecologicamente correto. Muitas vezes, para
o analista, isso pode significar ações mais fortes
de governos, o desenvolvimento de designs mais
arrojados, iniciativas mais corajosas das empresas
ou, ainda, todos esses fatores combinados.
Para se tornar líder mundial em ações sustentáveis,
na opinião do executivo da Trendwatching, o Brasil
deve apostar na qualidade. “As barreiras para
assumir a liderança estão caindo rapidamente. As
empresas que conseguirem entregar um produto
melhor, mais barato, mais confiável ou mais
sustentável serão as líderes mundiais, onde quer que
estejam. Os governos podem ajudar, incentivando
as indústrias, mas, em última análise, é a qualidade
da ideia e o brilhantismo de sua execução que
conduzirão ao sucesso”, conclui.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 27
O peso dos
As novas normas contábeis colocam
em evidência os chamados “ativos
intangíveis”, como marcas, patentes,
programas de computador e carteiras
de clientes, entre inúmeros outros,
que, embora não sejam concretos –
como os bens móveis e imóveis de
uma empresa –, também têm valor
econômico.
Por Luiz Silveira
28 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
uanto vale uma agenda de
telefones, repleta de contatos de
fornecedores e clientes? A resposta
é difícil, subjetiva e depende de
vários fatores, mas pode fazer
a diferença para o sucesso de
um negócio. Agora, a correta
identificação e avaliação dos
chamados “ativos intangíveis” estão ganhando ainda
mais importância com o processo de convergência do
Brasil para o padrão contábil internacional, o chamado
International Financial Reporting Standards (IFRS).
As novas normas contábeis colocam em evidência
esses ativos, como marcas, patentes, programas de
computador e carteiras de clientes, entre inúmeros
outros, que têm valor econômico, mas que não
são concretos como os bens móveis e imóveis.
“É essencial que as empresas se esforcem para
entender as regras e criar controles para a formação
de ativos intangíveis, valores que eram esquecidos
pela contabilidade, mas que nunca foram irrelevantes
para o mercado”, diz o sócio-líder da área de
Corporate Finance da Deloitte, José Paulo Rocha.
intangíveis
O fato de a nova contabilidade exigir que os
ativos intangíveis sejam discriminados com mais
detalhe nos balanços deve ser visto, portanto,
mais como uma oportunidade do que como uma
obrigação acessória, na avaliação do sócio. Em
muitos negócios, os ativos intangíveis têm um peso
muito maior do que os tangíveis. Grandes marcas
costumam valer muito mais do que todas as fábricas
e bens da empresa que as detém, por exemplo. “A
sofisticação dos negócios faz com que os intangíveis
tenham hoje um peso relativo bastante importante
nos balanços, e as empresas com dificuldade na
gestão desses ativos estarão em uma situação cada
vez menos confortável”, afirma Rocha.
O valor de uma marca e de vários outros intangíveis
pode ser calculado com base na projeção do
caixa que ela gerará ao longo do tempo, mas há
processos complexos envolvidos. Basta dizer que há
intangíveis impossíveis de serem dissociados do resto
da empresa para ter seu fluxo de caixa calculado,
como é o caso do histórico positivo de uma
organização com os seus fornecedores. “A maior
parte das empresas não está capacitada para avaliar
esses intangíveis e precisa da ajuda de especialistas
para montar projeções de fluxo de caixa ou outros
modelos de avaliacão desses ativos, por exemplo”,
opina o sócio da área de Global IFRS and Offering
Services (GIOS) da Deloitte, Bruce Mescher.
Tanto que, para fins contábeis, só podem ser
considerados ativos intangíveis aqueles identificáveis
e separáveis do resto da empresa, explica a
professora de Contabilidade Tânia Relvas, da
Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais
e Financeiras (Fipecafi). “Um bom executivo, por
exemplo, é um ativo intangível que influencia
no valor da empresa, mas que não pode ser
contabilizado como tal porque a empresa não
pode isolá-lo do negócio e vendê-lo”, diz Tânia.
A partir de 2010, as combinações de empresas feitas
no Brasil terão de ser reportadas nos balanços de
acordo com o IFRS, ampliando ainda mais os casos
em que os gestores terão de lidar com esse tipo de
ativo em seus balanços. “Considerando os volumes
crescentes de transações de fusão e aquisição
previstos aqui no Brasil e no mundo, essa mudança
é significativa porque qualquer fusão ou aquisição
gera um nível de intangíveis relevante”, diz Mescher,
da Deloitte.
Onde estão os intangíveis?
Saber contabilizar os ativos intangíveis de uma
aquisição, portanto, torna-se tão importante
quanto calcular os seus valores de mercado na
hora de fechar o preço de um negócio. No caso
das combinações de empresas, os ativos intangíveis
geram efeitos sobre a contabilização do ágio da
operação, que é a diferença entre o valor pago por
uma organização e o valor do seu patrimônio líquido.
É nessa diferença que estão os ativos intangíveis.
Tangenciando os intangíveis
Os três passos para contabilizar os intangíveis em uma operação de combinação de negócios:
•Identificar os ativos intangíveis que estão sendo agregados à empresa
•Atribuir um valor de mercado a esses ativos
•Definir a amortização para os intangíveis que tenham prazo de vida
Como funciona a dedução fiscal do ágio de operações de fusões e aquisições:
Categoria do ágio
Dedutibilidade
a) Mais-valia de ativos
Amortizado no valor do próprio ativo
b) Rentabilidade futura
Amortizado em, no mínimo, cinco anos
c) Outras razões econômicas*
Não dedutível
* Incluem os ativos intangíveis
Fonte: Deloitte
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 29
“A sofisticação dos negócios faz com que os
intangíveis tenham hoje um peso relativo bastante
importante nos balanços, e as empresas com
dificuldade na gestão desses ativos estarão em
uma situação cada vez menos confortável.”
José Paulo Rocha, sócio-líder da área de Corporate Finance da Deloitte
Apenas para dar uma ideia do peso do ágio nesse
tipo de operação, a compra do controle da Vivo
pela Telefonica gera, em tese, um ágio total de
cerca de R$ 14 bilhões. Mais de 80% dos € 7,5
bilhões (R$ 16,8 bilhões com o euro a R$ 2,30) que
a companhia espanhola pagou à Portugal Telecom
(PT) por sua participação de 29,71% no capital da
Vivo representam o ágio da operação. Isso porque
o percentual de ações detidas pela PT equivale a
apenas R$ 2,7 bilhões de patrimônio líquido da
Vivo. Mesmo considerando que o valor justo dos
ativos da Vivo representados pelas ações da PT
seja bem maior do que o seu valor patrimonial,
há outros fatores que se somam para chegar nos
R$ 16,8 bilhões. São eles os ativos intangíveis,
como as sinergias potenciais entre Vivo e Telefonica,
Lei do Bem também incentiva contabilização de intangíveis
Além da convergência
contábil e da maior
transparência para com os
investidores, outro fator que
serve como estímulo para
que as empresas contabilizem
da forma correta os
ativos intangíveis é a Lei
11.196/2005, conhecida
como “Lei do Bem”. Essa
legislação oferece benefícios
fiscais para as empresas
que investem em pesquisa
e desenvolvimento (P&D),
como forma de incentivar a
inovação tecnológica.
Para auferir parte dos
incentivos fiscais, os
investimentos que se
transformam em ativos
intangíveis precisam ser
contabilizados no balanço.
“Trata-se de uma grande
oportunidade para já
formalizar os intangíveis e,
ao mesmo tempo, otimizar
os investimentos em P&D”,
afirma Bruce Mescher, sócio
da área de Global IFRS and
Offering Services (GIOS) da
Deloitte. Além da dedução
direta dos investimentos
em P&D no imposto de
renda, a Lei do Bem prevê a
amortização acelerada dos
bens intangíveis, entre
outros incentivos.
30 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
Desde 2008, dentro do
processo de convergência
contábil, as empresas
podem contabilizar em seus
balanços os ativos intangíveis
decorrentes da fase de
desenvolvimento. “No
padrão norte-americano, os
custos de desenvolvimento
sempre foram registrados
como despesas, mas, no
IFRS, a regra é diferente e
acaba forçando as empresas
a rever processos e criar
controles para identificar
quando termina a pesquisa
e quando começa o
desenvolvimento”,
diz Mescher.
os ativos intangíveis da própria Vivo e o valor
do controle sobre a operadora de celular. Juntos,
esses fatores valiam muito mais do que o capital
representado pelas ações adquiridas.
No novo padrão contábil, uma empresa que
incorpora outra tem de detalhar melhor quais são
os ativos intangíveis que está recebendo e o
valor que está pagando por eles. “A identificação
das razões do ágio fica mais clara e isso facilita
a análise e a comparabilidade das operações”,
avalia o presidente da Associação dos Analistas
e Profissionais de Investimento do Mercado de
Capitais em São Paulo (Apimec-SP), Reginaldo
Alexandre. “A contabilização do ágio era uma das
grandes lacunas entre a contabilidade brasileira
e as internacionais. Na Europa, já é assim desde
2005 e, nos Estados Unidos, há mais de dez anos”,
afirma Mescher.
Além de dar maior transparência aos valores
envolvidos em uma fusão ou aquisição, a mudança
na contabilização do ágio pode gerar efeitos
sobre os resultados contábeis das empresas. “Os
resultados contábeis e algumas medidas de análise
acessórias são afetados pelas novas regras, mas o
principal indicador de um negócio, que é o fluxo
de caixa, não se altera”, diz Alexandre.
Questão fiscal
Outro fator que exige a atenção das empresas
envolvidas em fusões e aquisições a partir de agora,
com relação aos ativos intangíveis, é a forma de
deduzir a amortização e depreciação desses ativos
do imposto de renda. Embora a nova norma
contábil já esteja em vigor para as fusões e
aquisições, a legislação fiscal permanece inalterada,
o que gerou um descasamento entre a forma como
o ágio será declarado para fins societários e para
fins fiscais. “Há uma incerteza de procedimento
sobre como a Receita Federal interpretará os dados
até que uma nova lei seja criada”, afirma a sócia da
área de Consultoria Tributária da Deloitte, Cristina
Arantes Berry.
Tânia Relvas, da Fipecafi:
ativos intangíveis são
aqueles que podem ser
identificados e separados
do resto da empresa
A explicação é que, no passado, as empresas
declaravam a maior parte do ágio como “ágio por
rentabilidade futura”, que é passível de dedução
fiscal. Com a convergência contábil, as empresas
têm agora de detalhar melhor os ativos incluídos
no ágio. Se a companhia não conseguir isolar e
calcular o valor dos ativos intangíveis, eles podem
ser contabilizados em uma categoria de ágio
que não é passível de dedução fiscal. É o caso
do ágio por “outras razões econômicas”, que
representa a diferença entre o valor pago por uma
empresa e o valor justo de seus ativos líquidos.
Trata-se do chamado “ágio puro”, no qual estão
os ativos intangíveis que são impossíveis de serem
especificados e individualizados, explica Tânia Relvas,
da Fipecafi.
O caminho para evitar que operações de
fusão e aquisição gerem dedutibilidades fiscais
menores é, portanto, tornar os ativos intangíveis
o mais concretos possível. “Com a nova regra
contábil, ficou mais importante fazer uma
correta identificação, valoração e análise dos
ativos intangíveis para evitar a perda de possíveis
benefícios fiscais”, diz Cristina. Mais do que nunca,
será preciso identificar e atribuir valor para os ativos
intangíveis, afirma. “E com base nesta atribuição
será possível analisar se os mesmos seriam elegíveis
de dedução fiscal”, explica.
O problema traz à tona a pergunta inicial, sobre
como calcular quanto vale um ativo intangível. Mais
do que isso, a nuance fiscal tende a privilegiar as
empresas que saibam dizer por quanto tempo esse
intangível vai gerar caixa, quanto ele rende por
trimestre e quanto valor ele perde por trimestre.
Na avaliação de Alexandre, da Apimec-SP, o
tratamento do Fisco à dedução da amortização do
ágio não deverá trazer impacto financeiro para as
empresas, “porque, desde o início da convergência
contábil, prevalece o conceito da neutralidade
fiscal das alterações contábeis e não há nada
que indique que esse princípio deixará de ser
respeitado”, afirma.
“As primeiras respostas sobre a interpretação do
Fisco poderão vir no ano que vem, na análise dos
balanços de 2010. Além disso, o governo tem
cinco anos para revisar as demonstrações. O Fisco
também está aprendendo a lidar com as novas
regras”, diz Cristina. A solução definitiva, para ela,
é uma nova legislação fiscal adequada às mudanças
na norma contábil.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 31
Um salto para
A partir deste ano, pequenas e médias empresas também
precisam mergulhar no complexo mundo das normas contábeis
internacionais. Embora a adequação ao chamado “IFRS” não seja
uma tarefa fácil, ela pode ajudar as organizações emergentes a
crescer e se estabelecer melhor no mercado.
Por Jander Ramon
32 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
o futuro
D
a mesma forma como
já aconteceu com as
companhias abertas e as
organizações de grande
porte em geral, as pequenas
e médias empresas (PMEs)
brasileiras estão desafiadas a ingressar na nova
era da contabilidade. A partir deste ano, elas
devem gerar suas informações contábeis, apurar
resultados societários e tributários e elaborar
demonstrações financeiras adotando o padrão
internacional de contabilidade, conhecido como
IFRS (sigla em inglês para International Financial
Reporting Standards). Especificamente no caso das
PMEs, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC)
homologou, em dezembro de 2009, um conjunto
de regras simplificadas, chamado “CPC-PME”. “A
regra completa (full) do IFRS abrange 37 normas
e 27 interpretações, ou cerca de 2.600 páginas.
Elas foram convertidas em outras 55 normas e
interpretações do CPC. Já o CPC-PME engloba vários
tópicos em uma única norma, com 230 páginas.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 33
Sem dúvida, a remoção de opções complexas e de
tópicos não relevantes da versão completa, levando
em consideração a relação entre custo e benefício,
representa uma simplificação significativa para o
atendimento às empresas de menor porte”, avalia
Luciano Cunha, sócio da área de Global IFRS and
Offerings Services da Deloitte.
A simplificação não significa, entretanto, que a
mudança do padrão contábil seja tarefa fácil para
as organizações. Como a estrutura conceitual do
CPC-PME é nova, mesmo sua versão internacional,
apesar de já estar em discussão desde 2001 pelo
International Accounting Standards Board (IASB) – a
entidade que atualiza as normas internacionais de
contabilidade –, só foi emitida em julho de 2009.
Portanto, o maior desafio será entender como
aplicar o CPC-PME no Brasil sem parâmetros e
experiências anteriores de outros países, bem como
tornar os usuários dessas demonstrações financeiras
familiarizados com a nova estrutura.
E o mais importante: as PMEs precisam ter
pressa, pois devem fechar o balanço consolidado
de 2010 já tendo por base as novas regras. “Não
apresentar a contabilidade dentro das normas em
vigor significa que a empresa não está alinhada
com as novas exigências”, alerta Cunha. “A
pequena ou média empresa poderá também
enfrentar dificuldades numa operação de fusão e
aquisição ou para obter crédito, pois investidores,
parceiros ou financiadores não aceitarão a
contabilidade em desacordo com a normatização
vigente”, completa.
Por outro lado – muito mais relevante –, ao
seguirem o padrão internacional de contabilidade,
as PMEs passam a ter o benefício de terem uma
melhor compreensão de seus resultados por
agentes financiadores brasileiros e estrangeiros,
obtendo crédito e condições menos onerosas e
abrindo espaço para o crescimento. Abrem,
ainda, caminho para planos mais audaciosos
de acesso ao mercado de capitais, realizando,
eventualmente, o lançamento de ações em
bolsa de valores.
34 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
E quais são os critérios para caracterizar uma
PME sujeita às regras do CPC-PME? Tânia Relvas,
professora do Departamento de Contabilidade
da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade (FEA) da Universidade de São
Paulo (USP) e da Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), responde
a partir do critério da exclusão. Ela diz que o
pronunciamento CPC-PME indica que empresas que
sofrem regulação pelo governo (concessionárias de
serviços públicos, instituições financeiras, seguradoras
e companhias abertas), demais organizações
enquadradas na Lei nº 11.638/07 (Lei das Sociedades
por Ações) e empresas de grande porte, cuja receita
bruta anual seja a partir de R$ 300 milhões e/ou que
possuam ativos de R$ 240 milhões, não podem ser
enquadradas no conceito de PME. Todas as demais,
sim. “Como essas empresas de pequeno e médio
porte contam com uma estrutura menor, elas têm
um grau de dificuldade grande para a aplicação
da norma. Não se trata mais do mesmo serviço
de contabilidade porque, antes, se referia apenas
à escrituração. Agora, é uma contabilidade mais
complexa, que exige maior controle e que aproxima
as práticas das PMEs às das grandes empresas”,
analisa a especialista.
Edgard Leite, da Fort
Knox: “Com a adoção
de uma contabilidade
universal, conseguimos ter
referências, benchmarks
e como comparar nosso
desempenho em relação
aos concorrentes com
maior precisão.”
Carlos Eduardo Zanotta, gerente da área de
Auditoria do escritório de Porto Alegre da Deloitte,
pondera que a mudança regulatória atinge até
mesmo as empresas optantes pelo modelo Simples.
Segundo ele, o desafio de modernizar as práticas
contábeis é maior para as empresas qualificadas
como “emergentes”, aquelas que, em curto ou
médio prazo, poderão tornar-se de grande porte.
“Ao se adequar às normas, as empresas, sobretudo
as emergentes, terão condições de buscar um
sócio ou agente financeiro para suportar seu
crescimento”, pontua.
Mudanças internas
A implementação do IFRS implica mudanças
significativas nos processos internos das empresas,
atingindo praticamente todas as áreas, que passam
a fornecer informações para a contabilidade,
suportando o resultado final. Para efeitos fiscais,
a mudança deve ter efeito nulo, embora existam
algumas diferenças entre apresentar os resultados
com base no CPC-PME e no chamado “IFRS total”.
“As empresas devem produzir a contabilidade com
base no novo padrão e compará-la à regulamentação
anterior, da antiga Lei nº 6.404/76 (norma vigente
em 31/12/ 2007), considerando os efeitos sobre
ativo, passivo e resultado. Depois, para recolhimento
do Imposto de Renda, devem entregar a FCont e
reportar na DIPJ os resultados ajustados decorrentes
da ação do Regime Tributário Transitório (RTT)”,
ensina a sócia da área de Consultoria Tributária da
Deloitte, Cristina Arantes Berry. “Na prática, deve-se
neutralizar os efeitos fiscais provocados pela adoção
do CPC-PME para fins contábeis”, acrescenta.
A especialista da Deloitte explica que cada
organização deve analisar isoladamente, conforme
as características da empresa e do mercado no qual
atua, quais são os efeitos gerados pela aplicação da
nova norma contábil.
Alguns dos impactos mais significativos são notados,
geralmente, na mensuração de alguns ativos fixos
que passam a ser avaliados com base nos seus
valores justos, por exemplo, ativos biológicos
e instrumentos financeiros. Adicionalmente,
os componentes importantes que apresentem
“A empresa deve buscar treinamento
para os profissionais e melhorar a
gestão dos processos internos.”
Luciano Cunha, sócio da área de Global IFRS and Offerings Services (GIOS) da Deloitte,
comentando sobre as providências necessárias na adequação ao padrão contábil global
padrões significativamente diferentes de benefícios
econômicos são depreciados de forma separada.
Outro exemplo, explica Cunha, da Deloitte, está no
caso de aquisições de outras empresas. Por exemplo,
o CPC-PME, após ditar os requerimentos para a
alocação do preço de compra aos valores justos
dos ativos adquiridos e passivos assumidos, admite
a amortização do ágio pago pela outra empresa,
enquanto a norma integral do IFRS não permite
essa possibilidade.
A novidade tende, portanto, a gerar custos – ou
seriam investimentos? “A empresa deve buscar
investir em treinamento para os profissionais, na
identificação dos impactos contábeis e colaterais
decorrentes da adoção da nova regra, e na melhora
da gestão dos processos internos divorciando os
aspectos contábeis dos meramente fiscais tão
difundidos neste segmento”, indica Cunha.
Bons exemplos
PMEs que apresentam um ciclo robusto de
crescimento têm, como traço comum, a aplicação
de boas práticas de governança e gestão, entre as
quais, contar com uma contabilidade atualizada e
passar por auditoria externa. É o caso da Fort Knox,
empresa de serviços de segurança privada que
desponta como uma das PMEs que mais crescem
no Brasil, segundo o último levantamento anual
produzido pela Deloitte em parceria com a revista
EXAME PME. “Tratar as informações contábeis de
forma transparente e fiel, com parecer de auditoria
externa, agrega valor ao nosso negócio. Hoje,
percorremos um pedaço do caminho que buscamos,
de crescimento contínuo, mas ainda precisamos
evoluir”, relata Edgard Leite, diretor superintendente
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 35
da Fort Knox. “Já investimos alguns milhões em
sistemas de informação para aprimorar nossos
processos e controles e mitigar riscos, mas ainda
temos o desafio de melhorar esse procedimento, a
fim de ter uma aferição mais precisa no resultado
por contrato, cliente e site de serviços”, informa.
José Anderson Santana,
da TÜV Rheinland: “Não
existe migração contábil
pela metade e foi preciso
um realinhamento de
todos os trabalhos.”
Leite afirma que a nova dinâmica global de negócios
tem interferido diretamente na forma como a
empresa é administrada, chegando também à sua
gestão da contabilidade. Embora se refira ao setor
de segurança privada no Brasil para explicar a lógica
de atuação empresarial, o mesmo princípio vale
para outras PMEs nacionais. “No setor de atuação
da Fort Knox, a lei exige capital 100% nacional,
mas o mercado passa por mudanças rápidas e
é possível que seja aberto aos estrangeiros. O
segmento também é muito pulverizado e passará
por consolidação. Nossa empresa estará na ponta
compradora e, para sermos consolidadores, temos
de contar com uma contabilidade precisa para
acessarmos crédito e crescermos”, afirma. “Além
disso, com a adoção de uma contabilidade universal,
conseguimos ter referências, benchmarks e como
comparar nosso desempenho em relação aos
concorrentes com maior precisão.”
Contar com a aplicação do padrão internacional
de contabilidade também favoreceu a operação
da TÜV Rheinland no Brasil, braço nacional do
grupo alemão na área de certificação. A operação
brasileira faturou cerca de R$ 170 milhões, em
2009, e, desde 2006, a filial adquiriu outras quatro
empresas no Brasil. “Internacionalmente, utilizamos
o IFRS total para enviar os relatórios para a matriz da
Alemanha e, no mercado doméstico, adaptamos a
contabilidade ao CPC-PME, a fim de atualizar nossa
estrutura interna e absorver e superar os impactos do
novo padrão contábil”, explica Alexandre Prospero,
superintendente financeiro e administrativo da TÜV
Rheinland Brasil.
Segundo José Anderson Santana, controller da
empresa, a aplicação do IFRS – tanto a versão
completa como o CPC-PME – exigiu ajustes
significativos da estrutura operacional, como no caso
de avaliação dos ativos. “Não havia uma cultura de
avaliação, de estimar a vida útil de um bem e de
verificar a sua recuperabilidade; precisamos desenvolver
toda uma série de critérios”, conta. A empresa
teve de investir em treinamentos dos profissionais
e, ao mesmo tempo, explorar o conhecimento
gerado a partir da experiência de sofrer auditoria
nos processos e resultados. “Não existe migração
contábil pela metade e foi preciso um realinhamento
de todos os trabalhos”, informa Santana.
Como no caso da TÜV Rheinland, Cunha e Zanotta,
da Deloitte, recomendam às empresas avaliarem,
com base em seu perfil e nas perspectivas de
crescimento, qual a melhor regra contábil que deve
ser aplicada na empresa. “A versão completa deve ser
uma opção a ser considerada, principalmente pelas
empresas que estão em um movimento de expansão
e, em pouco tempo, podem ser enquadradas como
de ‘grande porte’. Nesse caso, toda a contabilidade
feita com base no CPC-PME terá de ser refeita,
ajustada”, alerta Cunha. “O mesmo vale para quem
pretende abrir capital. A Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) não aceita o padrão CPC-PME para
quem vai entrar na bolsa”, enfatiza Zanotta.
Em todos os casos, é importante que as organizações
que ainda não se enquadraram tenham pressa. O
último trimestre do ano já chegou e a contabilidade
precisa, necessariamente, estar ajustada.
36 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
Correntes do bem
As ONGs vão assumindo os programas de responsabilidade
social das empresas e provando a elas que dominam os princípios
da boa gestão dos projetos. Mais do que isso, deixam lições de
boas estratégias e excelentes resultados na construção de uma
sociedade melhor.
Por Celia Demarchi
B
oas quando o assunto é gestão,
as grandes organizações, porém,
podem se perder na administração
de projetos que não fazem
parte de seu core business
(negócio principal). É o caso dos
programas de responsabilidade social corporativa,
que as empresas brasileiras começam a transferir
para quem, de fato, têm expertise nessa área: as
Organizações Não Governamentais (ONGs). No
entanto, isso só tem sido possível porque essas
entidades conseguem, cada vez mais, comprovar
que aprenderam a fazer de forma eficiente o que
as empresas sempre fizeram: gestão. Porém, se
é verdade que as ONGs “bebem” nas fontes das
empresas, também é fato que elas têm algo a lhes
ensinar: “As organizações privadas podem aprender
com o Terceiro Setor a atrair e reter talentos e a ser
muito transparentes”, diz Nick van Dam, diretor
global de Aprendizado, Inovações e Soluções
de e-Learning da Deloitte e também fundador e
presidente da E-Learning for Kids, entidade que
estimula a educação pelo meio virtual e está
presente hoje em 190 países.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 37
A grande maioria das ONGs, porém, ainda
tem bastante a aprender com as empresas, de
acordo com van Dam. Deveriam, por exemplo,
ter profissionais voltados a construir e manter
relacionamento com as organizações, com o objetivo
de levantar recursos: “Particularmente no Brasil,
conta-se ainda com as relações pessoais para isso”.
Valdir Cimino, da Associação
Viva e Deixe Viver: “O
voluntário brasileiro ainda
se comporta de modo
assistencialista, não percebe
que precisa assumir um
compromisso.”
Exemplos de sucesso
Entre as entidades bem-sucedidas às quais as
empresas buscam se associar para investir em
responsabilidade social está o Instituto Ayrton
Senna. “Começamos com licenciamento, mas
as empresas começaram a nos procurar. Desde
então, cresceu muito o número das que optam por
patrocinar projetos e, assim, não precisar bater a
cabeça com algo fora de seu core business”, diz
Viviane Senna, presidente da instituição. Fundada
em 1994, a entidade trabalha para melhorar o
desempenho escolar de crianças e jovens de escolas
públicas por meio de programas pedagógicos com
“DNA” de gestão, como define Viviane.
Com 80 funcionários e um orçamento que varia
entre R$ 17 milhões e R$ 21 milhões por ano, o
instituto beneficiou, de 1999 a 2009, cerca de 10
milhões de crianças e jovens de 1,6 mil cidades de
todos os Estados brasileiros e do Distrito Federal,
com resultados surpreendentes (leia o quadro na
pág. 41). Neste ano, 2 milhões de funcionários
estão sendo atendidos.
Os programas atacam essa dura realidade: no Brasil,
a cada dez crianças que entram na primeira série,
apenas cinco chegam à oitava e três concluem
o curso médio. “É problema de gestão mesmo.
Uma empresa que fizesse isso viveria menos de
três meses”, diz Viviane. O Instituto desenvolveu
uma série de soluções cujo cerne é a gestão de
processos: ensinam o gestor público a ler os
números e a diagnosticar e montar planos de
intervenção para cada tipo de problema. Uma meta
óbvia é alfabetizar 100% das crianças, mas, para
cumpri-la, é preciso fazer o aluno frequentar as aulas
e ler diariamente determinados tipos de texto,
além de certa quantidade de livros por ano.
É nesse ponto que a gestão se torna crucial.
“As empresas privadas
podem aprender com
o Terceiro Setor a atrair
e reter talentos e a ser
muito transparentes.”
Nick van Dam, diretor global de Aprendizado, Inovações
e Soluções de e-Learning da Deloitte
38 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
A metodologia do Instituto Ayrton Senna possibilita
monitorar cada aluno, por meio de software,
alimentado com informações inseridas pelos
professores, diretores de escola e secretários.
Pode-se escolher, de São Paulo, uma cidade
qualquer do Brasil, uma escola, uma classe, um
aluno e descobrir, no mesmo momento, quantas
faltas ele teve no mês, quantos livros leu e suas
notas.
Assim como o Instituto Ayrton Senna, a Associação
Viva e Deixe Viver conquistou, ao longo de seus
13 anos, o patrocínio de várias empresas para um
trabalho cuja meta seu presidente, Valdir Cimino,
define como “humanização da saúde”. Trata-se
de contar histórias a crianças e jovens internados
em hospitais por meio de voluntários devidamente
capacitados. Na entidade, a gestão começa
na seleção dos voluntários, que é também um
treinamento. As vagas são concorridas. No Estado de
São Paulo, onde está a maior parte dos 83 hospitais
em que a entidade atua, distribuídos em nove
Estados brasileiros, a entidade tem de limitar a 600
a relação candidato/vaga a cada ano.
O processo seletivo, premiado pela Associação
Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), leva
três meses. Ao final, são admitidos apenas 150
Viviane Senna, do
Instituto Ayrton Senna:
“Cresceu muito o número
das (empresas) que optam
por patrocinar projetos e,
assim, não precisar bater
a cabeça com algo fora
de seu core business.”
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 39
Ana Lúcia Suzuki Araújo,
da Basf: “Elas (entidades
sociais) ficam com a parte
de relacionamento com
stakeholders (públicos de
interesse) e de monitorar
os resultados, pois esse
não é o core business
da empresa.”
candidatos, dos quais 25% devolvem o avental
da associação após seis meses de atividade. “O
voluntário brasileiro ainda se comporta de modo
assistencialista, não percebe que precisa assumir um
compromisso”, diz Cimino. Durante o processo de
seleção, o candidato assiste a palestras e participa
de vivências, bem como de dinâmicas dentro dos
hospitais. Só depois é que começará a ser testado
e treinado para, especificamente, contar histórias.
Após passar por essas etapas, o candidato ganha
uma vaga de contador de histórias: irá trabalhar
duas horas por semana voluntariamente em
um hospital. Uma vez admitidos e em ação,
os contadores de história são monitorados:
“Preenchem relatórios de suas atividades para
que se possa entender como trabalham e ainda
saber se são assíduos”, explica Cimino.
Os resultados do trabalho podem ser medidos de
forma objetiva. Uma pesquisa realizada em 2006
pela psicóloga Cláudia Mussa com 24 pacientes de 5
a 16 anos com câncer, internados na Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo, por exemplo, demonstrou
que, após uma sessão de história, diminuíram em
80% as reclamações entre os pacientes e em 75%
as queixas específicas de dores.
Também a E-Learning for Kids, fundada em
2004, ampara-se no modelo que associa vários
patrocinadores. E tem sido muito bem-sucedida,
em especial, nos últimos 12 meses, segundo Nick
van Dam, da Deloitte. Com várias dezenas de
parceiros em todo o mundo, a ONG dissemina
conteúdos educacionais acessíveis pela internet,
40 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
CD ROM e/ou programas instalados em
computadores. São cursos lúdicos e relacionados ao
currículo escolar, que visam facilitar o aprendizado
de crianças de 5 a 12 anos nos pontos mais remotos
do planeta. Neste ano, a entidade prevê alcançar
2,5 milhões delas.
Para desenvolver cursos, traduzi-los do inglês para
outras línguas, inclusive o português, e distribuí-los,
a e-Learning for Kids conta com 120 voluntários
de diversos países. Eles atuam no meio virtual e se
comunicam por meio do programa Skype e das redes
de relacionamento da web. Todo o gerenciamento
é feito por sistemas online de compartilhamento de
documentos entre computadores. “Temos padrões
de qualidade para design e desenvolvimento de
cursos, além de pessoas incumbidas de garantir a
qualidade”, diz van Dam.
Terceirização social
Já na multinacional de origem alemã Basf, a tendência
é cada vez mais os projetos serem gerenciados
pelas entidades sociais parceiras, segundo Ana
Lúcia Suzuki Araújo, gerente de Responsabilidade
Social Corporativa da empresa para a América do
Sul. “Elas ficam com a parte de relacionamento
com stakeholders (públicos de interesse) e de
monitoramento dos resultados, pois esse não é
o core business da empresa”, revela.
A Basf realiza, por exemplo, o programa
ReAção, que tem como objetivo ensinar Ciências
por meio de aulas práticas, com experimentos,
a fim de desenvolver a capacidade de raciocínio
dos alunos e melhorar seu desempenho escolar.
Parceira da Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público (OSCIP) Rever Juntos, que o
gerencia, o programa é desenvolvido nas escolas
públicas de Guaratinguetá, Estado de São Paulo,
onde fica uma das fábricas da Basf. A empresa
investiu cerca de R$ 400 mil no ReAção, desde
2006. Com apenas três coordenadores, a entidade
capacita, a cada ano, em torno de 500 professores,
beneficiando aproximadamente 10 mil alunos
de 23 escolas de educação infantil ao ensino
fundamental da cidade.
Sinais de gestão eficiente
Alguns dos resultados alcançados por dois dos
programas do Instituto Ayrton Senna
Acelera Brasil
(Presente em 955 municípios de 25 Estados
e no DF)
•Em cinco anos, 52% dos alunos na Paraíba
saltaram de série
•Em Pernambuco, a taxa de abandono (3,2%)
é bem menor que a média do Brasil (10,3%)
e do Estado (14,8%)
•No Tocantins, 99,5% dos alunos foram
promovidos em 2008
Se liga
(Presente em 890 municípios de 25 Estados e no DF)
•No Piauí, o índice de alfabetização ficou em 92,8%,
em 2008
•Em Sergipe, a taxa de abandono dos alunos de 1ª série que não participam do programa
é mais que o dobro do índice de abandono dos que participam
•No Tocantins, o percentual de alunos não alfabetizados caiu de 6,8% para 1%; quase
100% dos alunos aprenderam a ler e a escrever e as taxas de abandono zeraram
No começo, foi preciso orientar os professores
um a um, mas, desde 2008, cada escola e cada
turno contam com um professor multiplicador:
“Ensinamos a metodologia. Levanta-se a hipótese
e se faz o experimento”, diz Margarida Guimarães,
coordenadora pedagógica do programa.
O processo é monitorado por meio de registros
de alunos e professores e reuniões semanais da
coordenadora com os multiplicadores. De acordo
com uma pesquisa feita pela Rever Juntos,
em 2009, mais de 90% do professores engajados
no programa afirmam que não voltariam à prática
anterior. Entre 2006 e 2009, a reprovação caiu
em 15% e a evasão despencou 66,7% nas
escolas atendidas.
Em estatísticas e tantos casos bem-sucedidos,
o terceiro setor vai deixando suas lições para
as empresas brasileiras e o próprio governo,
comprovando que é sempre possível conciliar boas
práticas de gestão e resultados satisfatórios com
a construção de uma sociedade melhor.
Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 41
O mundo e a corporação
A colheita em tempos de escassez
“Se você
semear
as causas
certas,
colherá
os efeitos
desejados.”
Bryan Tracy, escritor e
especialista em liderança
empresarial
Enquanto o Brasil sofre com a escassez de mão
de obra qualificada e, com isso, corre o risco
de atravancar o seu desenvolvimento em meio
a demandas e oportunidades geradas por uma
economia estabilizada e em expansão, outros países
mostram que também têm dificuldades em recrutar
bons talentos para sua força de trabalho.
A pesquisa “Gestão de talentos em uma economia
turbulenta”, conduzida durante um ano de intensa
investigação pela Deloitte, em parceria com a Forbes
Insights, entrevistou mais de 350 funcionários e
recolheu 1.600 respostas de executivos e gestores
de Recursos Humanos que representam empresas
das Américas, da Ásia, da Europa, do Oriente Médio
e da África.
O estudo ressalta que a elevada taxa de desemprego
de hoje, nos países mais ricos, não garante que o
talento estará disponível quando se precisar dele.
Apontou também que empresas que utilizaram a
recessão como estratégia de retenção colocaram sua
conta em risco, que uma remuneração atrativa
é importante e que a empresa deve gerar
oportunidades para que seus funcionários se
diferenciem no mercado.
Ela identificou marcos fundamentais que os
executivos devem considerar em seus esforços
de traçar estratégias para recrutar e reter bons
profissionais, sobretudo neste novo ciclo da economia
mundial pós-crise. Entre as conclusões, a pesquisa
destaca que há um “paradoxo da abundância em
meio à escassez”, em referência ao grande número
de profissionais disponíveis no mercado, enquanto
apenas uma pequena parcela deles é capaz de se
adequar às oportunidades oferecidas.
MundoCorporativo
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Heloisa Helena Montes
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Colaboração:
ABRH-Nacional, Andrade
Fotos:
Gutierrez, Associação Viva
Fellipe Bryan Sampaio (Pág. 20)
e Deixe Viver, Basf, Fiesp,
Lindivaldo Ribeiro da Silva (Pág. 7) Fipecafi, PM-SP, Instituto
Walter Craveiro (Pág. 34)
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42 • Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010
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Mundo Corporativo nº 30 Outubro-Dezembro 2010 • 43
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