64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 ANÁLISE HISTÓRICO-DOCUMENTAL SOBRE O USO DA ANDIROBA (Carapa guianensis – Meliaceae) 1 Maria F.T. Medeiros *, Alexandre A. Dias 1 2 2 Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Arquivo Público Municipal Antonino Guimarães *[email protected] Introdução Considerável volume de informações acerca do conhecimento e uso presente da “andiroba” (Carapa guianensis – Meliaceae), principalmente como uso medicinal, cosmético e madeireiro têm sido apresentados pela literatura científica. Estes estudos vêm ressaltando a importância econômica desta espécie para a humanidade como um todo e, particularmente, para os agrupamentos humanos presentes em sua área de dispersão, que se estende desde o norte da América do Sul até a América Central. Em contrapartida, os dados devotados ao uso passado desta espécie, que podem ser coligidos de múltiplas fontes através da análise histórico-documental, têm sido pouco trabalhados. Neste sentido, a presente pesquisa teve como objetivo reunir, analisar e apresentar informações passadas, tomando como referencial o estudo dos andirobais às margens do Rio Munim, localizado no Estado do Maranhão, nordeste do Brasil, como também informações atuais sobre a C. guianensis a fim de preencher parte desta lacuna apontada quanto ao uso passado e permitir uma visualização das práticas humanas relacionadas à “andiroba” na dimensão temporal. Metodologia Os dados foram coletados por meio: 1. Recolha e análise de fontes históricas depositadas no Arquivo Histórico Ultramarino, Capitania do Maranhão em sete conjuntos documentais; 2. Consulta bibliografia abrangendo os temas: farmacologia, botânica econômica e etnobotânica, todos estes relacionados às palavras-chave “andiroba” e “Carapa guianensis”; 3. Levantamento dos depósitos de pedido de patente na base de dados online do EPO, JAPIO e INPI. Resultados e Discussão Registros passados afirmam que a “andiroba” era reconhecida por seu potencial de uso. Como medicinal, a casca da árvore era empregada em forma de decocto como febrífugo, anti-helmíntico e na forma de lavatórios para úlceras. Tem-se ainda o registro de que indígenas brasileiros empregavam este óleo contra a picada de insetos, esfregando-o na derme do corpo. Especificamente sobre a aplicação deste óleo, apresentase a seguir informações da região do atual Estado do Maranhão. No território maranhense, o povoado, depois vila de Icatu, surgiu da necessidade de proteger o acesso estratégico da baía denominada São José, em 1690, e foi sendo instalada na margem direita do rio Munim. Das matas do entorno, a população começa a fazer uso da semente da andiroba, recurso este que será colocado em risco pelos interesses produtivos voltados para a exportação. Sobre a região da vila de Icatu, [1] apresenta a seguinte descrição: “As terras desta vila são carregadas de boas matas, compostas de madeiras próprias para construção de casas, navios e móveis. Por toda parte floresce espantosamente a andirobeira, de cujas sementes ou castanhas se extrai o óleo da andiroba, da qual se faz o sabão da andiroba, sem auxílio de máquina”. Desta forma, dentro do processo de exploração dos recursos naturais a população da cidade de São Luís do Maranhão e da vila de Icatu fazia uso do óleo extraído das sementes de andiroba. Esse óleo era também empregado na iluminação. O óleo servia nas lâmpadas das igrejas dos conventos, e nas candeias e candeeiros dos pobres e ricos, no quartel do corpo da guarda, na residência dos governadores e quartéis de infantaria. Atualmente, tem-se o registro de patentes depositadas por norte americanos, europeus, asiáticos e brasileiros, para produtos com a utilização do óleo da “andiroba” como biocombustível, repelente, ou como uso cosmético e farmacêutico do extrato lipídico como antioxidante, com ação inibidora na formação de celulites e ação estimulante na ativação da produção de melanina, quando atua como preventivo no aparecimento de cabelos grisalhos. Conclusões Constatou-se uma prática continuada das aplicações da “andiroba”, com exceção de sua atual aplicação como fluido para iluminação. Espera-se que contemplando todo o cenário apresentado se encontre mais subsídios que auxiliem práticas conscientes relacionadas ao uso da “andiroba”. De certo que futuras pesquisas em fontes históricas ajudarão a elucidar e a otimizar as interpretações sobre as interações entre os agrupamentos humanos e a C. guianensis. Referências Bibliográficas [1] Marques, C.A. 1864. Apontamentos para o dicionário historico, geographico, topographico e estatístico da Provincia do Maranhão. Maranhão, Jose Maria Correa de Frias.