O SEXISMO NA ESCOLA: ALGUMAS REFLEXÕES
Amanda de Souza Ribeiro, Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected].
Ricardo Fernandes Pátaro (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected].
Resumo: O presente artigo é um ensaio teórico que tem por objetivo refletir a respeito do sexismo
presente na escola e propor alternativas para superá-lo. Tomamos como ponto de partida situações
observadas nos estágios supervisionados de Gestão, Ensino Médio, Educação Infantil e Ensino
Fundamental, desenvolvidos ao longo do 3º ano do curso de Pedagogia da UNESPAR, campus de
Campo Mourão, e buscamos destacar algumas diferenças atribuídas aos sexos e suas implicações para
a aprendizagem de meninos e meninas. Entendemos que o sexismo está presente nos conteúdos
trabalhados na escola e conduz meninos e meninas para a aceitação da suposta superioridade
masculina, impregnando o cotidiano escolar de representações estereotipadas do masculino e
feminino. Este ensaio aponta para a possibilidade de uma educação que busque a igualdade de
oportunidades entre os gêneros quando nos conscientizamos e atuamos intencionalmente para romper
com o pensamento androcêntrico e sexista que ainda permeia nossas relações sociais.
Palavras-chave: Sexismo. Androcentrismo. Escola.
INTRODUÇÃO
Na sociedade em que vivemos, meninos e meninas, homens e mulheres compartilham de uma
visão androcêntrica na qual foram educados(as) e que norteia seus pensamentos e ações. A partir das
situações vivenciadas nos estágios do 3º ano de Pedagogia da UNESPAR, campus de Campo Mourão
surgiu o interesse em investigar de que forma, em quais espaços da escola o sexismo se faz presente e
quais suas implicações na educação de alunos e alunas. Procuramos abordar o androcentrismo e o
papel da escola na difusão desse pensamento.
Vivemos em uma sociedade desigual e androcêntrica onde é afirmado que todos(as) somos
iguais, homens e mulheres. Embora tenha ocorrido um importante aumento da quantidade de mulheres
que desempenham um trabalho remunerado (segundo dados do IBGE de 2011, as mulheres constituem
46,1% da população economicamente ativa) não se altera o fato de que mulheres, com o mesmo nível
de estudo dos homens, recebam salários inferiores aos deles. Em nossa sociedade se aceita de forma
natural que concluir um curso superior seja uma maior garantia contra o desemprego dos homens do
que para as mulheres. O IBGE aponta que as mulheres recebem cerca de 70% menos do que os
homens recebem, mesmo tendo o mesmo nível de escolarização ou superior que o dos homens.
A desigualdade entre mulheres e homens é frequentemente atribuída aos aspectos biológicos,
que são utilizados para legitimar uma suposta desigualdade entre ambos. Segundo essa concepção, o
fato de homens e mulheres nascerem com algumas características específicas do seu sexo – como a
capacidade da mulher de gerar e amamentar, por exemplo (VIANNA; RIDENTI, 1998) – seria
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suficiente para justificar a superioridade de um sobre o outro. Esse pensamento está na base do
androcentrismo e deve ser questionado.
O androcentrismo considera o homem, o sexo masculino, como o centro do universo, único
apto a governar, determinar leis e estabelecer justiça. O homem seria a base de medida para tudo,
único observador eficaz de todas as coisas que acontecem em nosso planeta. É essa proporção da
humanidade que detém a força, os meios de comunicação, o poder legislativo, além de serem
responsáveis por governar a sociedade e possuírem os meios de produção, as técnicas e a ciência
(MORENO, 1999).
A visão androcêntrica de mundo não é exclusividade dos homens, essa visão é compartilhada
pela grande parte dos seres humanos, sejam eles homens ou mulheres, pois assim foram educados e
não tiveram oportunidade, ou não quiseram, fugir dela.
Há tempos estamos acostumados a pensar segundo uma concepção androcêntrica, segundo a
ideia de que o homem é o centro do mundo. Essa visão é difícil de ser superada, pois as mulheres, ao
compartilharem desse pensamento, também compactuam com ele; ao tolerarem essa forma de pensar,
estão aceitando de forma inconsciente suas ideias e muitas vezes acabam sendo as principais
defensoras e transmissoras desse pensamento.
A visão sexista, de discriminação entre os sexos, é dominante em nossa sociedade e, por
consequência, nas nossas escolas. Tanto nosso comportamento como a forma que pensamos, sentimos,
falamos, sonhamos ou fantasiamos é influenciado pela imagem que possuímos de nós. Construímos
essa imagem com base nos modelos oferecidos pela sociedade em que vivemos. Não é a biologia que
condiciona nossos limites e possibilidades, nosso comportamento e modo de ser, quem determina é a
sociedade e a cultura. A necessidade da educação viria desse ponto, pois se os seres humanos fossem
guiados por seus impulsos biológicos e se os comportamentos considerados do sexo femininos e
masculino fossem naturais e predeterminados não haveria a necessidade de educar de forma tão
cuidadosa os aspectos diferenciais que fogem da conduta esperada de cada sexo, seria necessário
apenas deixar a natureza atuar, sem interferências (MORENO, 1999).
A visão que possuímos do mundo é parcial e também limitada por nossas crenças e por nossos
valores. Não agimos de acordo com a realidade, mas sim de acordo com a imagem de mundo que
possuímos. Não construímos essa imagem sozinhos, por meio de observações de algo real e concreto,
geralmente construímos a partir do que dizem os outros sobre os fatos, a partir do julgamento emitido
pelos demais – que podem ser professores, professoras, familiares, amigas ou amigos, entre outros.
Diante disso, estamos todos(as) sob influência do outro, sejam pessoas ou ideias, que também estão
sob influência de outros, e assim por adiante. As relações que se estabelecem e a construção coletiva
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da realidade, portanto, atingem a todos e não deixa a escola imune. A seguir, abordaremos como a
escola, enquanto instituição, ajuda a construir a visão androcêntrica e sexista que aqui apontamos.
A VISÃO SEXISTA NA ESCOLA
– Pai...
– Hummmmm?
– Como é o feminino de sexo?
– O quê?
– O feminino de sexo.
– Não tem.
– Sexo não tem feminino?
– Não.
– Só tem sexo masculino?
– É. Quer dizer, não...
Extraído de “Sexa”, Luis Fernando Veríssimo
Segundo Moreno (1999), um bebê aprende, junto com as primeiras palavras, a existência de
um pai e uma mãe. Depois aprende que existem meninos e meninas, e antes que o bebê saiba da
existência da palavra pessoa – que poderia ser usada para todas elas (meninas, meninos, pai, mãe) –
essa dicotomia já o terá diferenciado. Existem inúmeras formas de diferenciar as pessoas, nosso
idioma acabou por priorizar a característica sexo, a subdividiu e lhe deu nome específico.
A imagem de homem e de mulher que é transmitida aos alunos e alunas, por meio dos
conteúdos de ensino, contribui de forma intensa para a formação de seu eu social, de seus padrões
diferenciais de comportamento, com que modelo devem se identificar e para informar sobre a
diferente valorização atribuída pela sociedade aos indivíduos de cada um dos sexos.
Desde pequenas as meninas são ensinadas sobre sua identidade sexolinguística, mas logo
depois são ensinadas a renunciá-la. Quando alguém se refere a um grupo, onde se encontram meninos
e meninas, quase sempre ele usa somente a forma masculina e raramente somente a forma feminina ou
as duas formas. Como afirma Louro (2012):
É impossível esquecer que uma das primeiras e mais sólidas aprendizagens de uma
menina na escola consiste em saber que, sempre que a professora disser que “os
alunos que acabarem a tarefa podem ir para o recreio”, ela deve se sentir incluída.
(LOURO, 2012, p. 70).
Não é só a linguagem oral que reflete a discriminação sexista, a palavra impressa que recebe
muita importância desde o início, com a alfabetização, acaba por se encarregar em reforçar o modelo
linguístico androcêntrico. Para Moreno “Os livros de linguagem das primeiras séries do Ensino
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Fundamental parecem um tratado de androcentrismo para estudantes indefesos” (MORENO, 1999, p.
39). Apresentam frases e textos que destinam papeis diferenciados para meninos e meninas; as
meninas aparecem ligadas ao espaço doméstico em conteúdos ligados aos cuidados da casa e trazem
desenhos ilustrativos correspondentes ao conteúdo no texto. Os meninos aparecem ligados ao espaço
público, ao ler, estudar, entre outros.
De acordo com Moreno (1999) nos livros de história do Ensino Fundamental ou Ensino Médio
podemos encontrar histórias de guerras, heróis e todos os mitos machistas como a valorização da
força, do heroísmo, da virilidade. A imagem transmitida é a de que o melhor é o mais forte e o
importante é ganhar a qualquer custo.
A história escrita pelos homens, ou por mulheres que seguem os padrões por eles
estabelecidos, é uma história que se centra na investigação e no estudo daqueles
aspectos que eles consideram mais importantes e negligencia os restantes. Isto posto,
toda escolha se faz em função de alguns critérios prévios que supõem uma tomada
de partido. Nesse caso, os critérios de escolha indicam uma determinada concepção
do mundo, da sociedade e das relações entre seus componentes que se fixam na
valorização da força, da competição, e no desejo de domínio (MORENO, 1999, p.
49).
Segundo Moreno (1999) a história androcêntrica ensinada no Ensino Fundamental e Médio é
exclusivamente masculina, sem mulheres. É como se as mulheres não tivessem história, pois não são
retratadas nos livros didáticos.
No tópico seguinte iremos analisar algumas situações que foram observadas durante os
estágios supervisionados desenvolvidos ao longo do 3° ano de pedagogia da UNESPAR, campus de
Campo Mourão, destacando de que forma o sexismo está presente em nossas práticas.
ANÁLISE DE RELATOS DO COTIDIANO
Os relatos apresentados a seguir foram observados durante os estágios supervisionados
(Gestão, Ensino Médio, Educação Infantil e Ensino Fundamental) desenvolvidos durante o 3° ano de
pedagogia da UNESPAR, campus de Campo Mourão. Nosso objetivo não foi julgar, mas demostrar
por meio dos relatos como o sexismo está presente em nossas práticas cotidianas, muitas vezes sem
nos darmos conta da sua presença.
Uma mãe chega para deixar o filho na escola e, depois de entregar o menino, começa a
conversar com uma funcionária da escola. A mãe ouvira reclamações a respeito do comportamento
de seu filho. Segundo o que haviam lhe contado, seu filho estaria agarrando as meninas com
frequência, o que deixava a mãe preocupada. Segundo a mãe, no entanto, o marido aconselhou-a a
não interferir, já que era melhor que o filho agarrasse as meninas ao invés de evitá-las.
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No primeiro caso relatado podemos entender que os pais do menino, ao não interferirem em
relação ao comportamento de seu filho que estaria agarrando as meninas, estão aceitando e passando
ao filho que este comportamento é correto, para eles a postura do filho é aceitável e não aceitável seria
se o menino estivesse evitando as meninas.
As três únicas meninas de uma sala de educação infantil desenham, juntas, casas com
árvores, jardins, animais de estimação e princesas com coroas. Os meninos, por sua vez, desenham
super-heróis em poses de ação e carros de diversos modelos.
Nesse relato onde as três meninas desenham podemos notar a interiorização dos modelos do
que seria feminino e masculino. Ao desenharem, cada um, elementos que são ligados aos seus
respectivos sexos, entendemos que essas crianças estão aprendendo e interiorizando os modelos
determinados pela sociedade e correspondentes a cada sexo.
Na sala de aula há dois cartazes, um com os nomes das meninas da sala e outro com os nomes
dos meninos. O cartaz das meninas é cor de rosa e possui figuras de personagens femininos
estereotipados, já o cartaz dos meninos é azul e com figuras de super-heróis.
A partir desse relato, quando os nomes das meninas e dos meninos são separados em cartazes
diferentes com cores e figuras diferentes, podemos notar o que está sendo destinado a cada sexo.
Nesse caso, o que está sendo ensinado no ambiente escolar é que a cor rosa é atribuída somente às
meninas e à delicadeza e o azul aos meninos e à força. Moreno (1999) nos ajuda a entender a
colaboração da escola no aprendizado dos estereótipos sexistas e androcêntricos quando afirma que:
A escola colaborará eficazmente no esclarecimento conceitual do significado de ser
menina e fará o mesmo com o menino. Não o fará, porém, sempre de maneira clara e
aberta, mas na maioria das vezes de forma dissimulada [...] (MORENO, 1999, p.
16).
Dois meninos de 7 ou 8 anos de idade, nitidamente amigos, conversam sobre muitos assuntos
quando um deles, despretensiosamente, conta ao outro que faz serviços domésticos cotidianamente em
casa porque gosta de ajudar sua mãe. O amigo, ao ouvir, desdenha e diz que isso é “coisa de
mulherzinha”.
Nesse relato, quando um menino afirma que faz serviços domésticos em casa e é chamado de
“mulherzinha” pelo seu colega, podemos entender que essa criança já aprendeu conceitos do que é ser
homem ou mulher, segundo o que é posto pela sociedade e ao encontrar uma pessoa que se comporta
de forma diferente do que é determinado ao seu sexo critica seu amigo afirmando que isto não é coisa
de homem, seguindo o que lhe foi ensinado. Meninos e meninas são ensinados que existem atividades
e modos de comportamento que são destinados especificamente às mulheres e outros aos homens. De
acordo com Moreno (1999), cada sociedade escolhe algumas formas de atuação formando um modelo
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transmitido as pessoas ao longo da história, “ficando rigidamente estabelecidos como normas ou
modelos de conduta. Estes padrões ou modelos não são os mesmos para todos os indivíduos; existem
uns para o sexo feminino e outros para o masculino, claramente diferenciados.” (MORENO, 1999, p.
29).
Sastre et al (1999) afirma que:
Descobrir e praticar uma forma de ensino não-discriminatória não é difícil,
realmente difícil é abandonar velhas formas que durante anos nos parecerem as
únicas possíveis. Assim como as metodologias, os conteúdos da educação refletem
uma forma de conceber o mundo. Conforme imaginarmos este mundo,
acreditaremos na necessidade de desenvolver determinados conhecimentos, atitudes,
habilidades ou sentimentos para vivermos nele. (SASTRE et al, 1999, p. 13).
Moreno (1999) apresenta uma proposta para superar a visão androcêntrica, que consistiria em
apresentar mais de um modelo, vários submodelos ou esquemas comportamentais onde cada pessoa
tivesse liberdade para escolher o que mais se encaixaria à sua personalidade, sem que sua escolha
estivesse submetida aos preconceitos de gênero existentes e que são limitadores para ambos os sexos.
No próximo tópico, dedicaremo-nos a entender essa proposta de Moreno (1999).
NOVOS MODELOS DE EDUCAÇÃO
É comum encontrar nas escolas professoras e professores convencidos sobre a erradicação do
sexismo em suas aulas, pois eles acreditam que tratam de forma igual tanto as meninas como os
meninos. Nas aulas tentam não tratar de forma diferente os alunos e alunas, respeitam sua liberdade,
maneira de pensar e ser. Em um primeiro momento, essa postura dos professores e professoras pode
ser entendida como justa, mas devemos nos aprofundar para entender se realmente essa conduta
conduz a erradicação do sexismo.
Meninas e meninos, quando chegam à escola, já veem marcados por diversos elementos
externos que fizeram com que eles criassem para si uma imagem sua de mundo, com influência dos
valores da sociedade androcêntrica onde estão inseridos. A escola não deve permitir que as meninas e
meninos permaneçam com ideias pouco evoluídas. Não intervir seria o mesmo que apoiar o modelo
que já existe. Não podemos acreditar que deixando meninos e meninas fazerem o que querem
estaremos proporcionando sua liberdade, a tendência é que eles acabem reproduzindo os modelos
existentes em seu meio. De acordo com Moreno (1999):
A liberdade não nos é dada gratuitamente; é preciso aprender a construí-la e, para
isso, é necessário dispor de muitas possibilidades e saber escolher entre elas. Se
existe somente um modelo, só temos duas possibilidades: aceita-lo ou recusá-lo; se
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os modelos aumentam de número, aumentará proporcionalmente nosso grau de
liberdade. (MORENO, 1999, p. 74).
Moreno (1999) afirma que a escola pode contribuir de algumas formas como analisando com
alunos e alunas os papeis atribuídos a cada sexo pela sociedade, auxiliando-os a descobrir o que cada
um tem de bom e ruim e discutir sobre a limitação imposta a todas as pessoas quando necessitam
submeter-se aos estereótipos que a sociedade impõe a cada gênero. Ao realizar essa análise os alunos e
alunas poderão descobrir que existem vários modelos de comportamento atribuídos a cada sexo e que
estes não são determinados por capacidades inatas, mas sim pela reprodução dos modelos existentes.
Dessa forma “a sensibilidade, a ternura, (...) não têm por que ser patrimônio exclusivamente feminino.
Também os meninos (...) têm direito a expressar seus sentimentos, a não ter que reprimi-los
continuamente para que não se ponha em dúvida sua virilidade.” (MORENO, 1999, p. 75).
Quando o leque de condutas aumenta a personalidade se enriquece recebendo novas
contribuições, assim se aprenderá que existem muitas formas de ser mulher ou de ser homem.
Usando livros sexistas, dificilmente a escola conseguirá erradicar o sexismo ali existente. É
necessário promover a publicação de livros que não sejam androcêntricos, exercer um controle em
relação aos textos dos livros para que não tenham traços sexistas. Não se pode tolerar textos onde a
mulher seja discriminada, nem livros que ignorem a história das mulheres, pois isto produz nas alunas
um sentimento de inferioridade em relação aos homens, aproximando-as da crença que as ações
praticadas por mulheres têm pouco valor, e não influenciam no desenvolvimento da história.
Segundo Moreno (1999), os livros de textos são um reflexo de uma escola que foi pensada
apenas para os meninos e que pouco a pouco foi incorporando meninas, sem serem realizadas
modificações. Co-educar não é colocar meninos e meninas em uma mesma sala, nem unificar
eliminando as diferenças apresentando um modelo único. O objetivo deve ser ensinar os alunos e
alunas a respeitar o diferente e aproveitar a variedade ofertada.
Para conseguir uma educação não-sexista, portanto, é necessário ultrapassar os portões da
escola, pois essa tarefa cabe também à família e a toda a sociedade, pela escola é possível realizar um
trabalho importante de transformação. Primeiro é preciso que o corpo docente seja conscientizado
sobre o tema realizando seminários, discussões e desenvolvendo propostas de atividades. Depois
devem proporcionar aos alunos espaços para que juntos possam analisar por meio de trabalhos que
eles realizaram onde serão observados o papel e a imagem diferencial de mulheres e homens.
Posteriormente é necessário realizar com os alunos e alunas um estudo dos modelos masculinos e
femininos que a televisão, livros didático, leituras infantis, etc. proporcionam. Moreno (1999) afirma
que “não se pode mudar a sociedade a partir da escola, mas podem-se lançar alternativas, desenhar
novas possibilidades, ensinar a abrir caminhos e mostrar que nós, os seres humanos, podemos
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escolher.” (MORENO, 1999, p. 80). Acreditamos, assim como Moreno, que a escola não pode fazer
tudo, mas pode fazer alguma coisa. Para mudar a concepção androcêntrica que circula em nossa
sociedade e escola, portanto, é necessário que crianças e jovens sejam educados de uma maneira
diferente da forma com que foram educadas as gerações anteriores às suas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo inicialmente das situações observadas durante os estágios do 3°ano de pedagogia,
podemos concluir que há uma forte presença de ideias sexistas na fala e no comportamento dos adultos
e crianças com quem tivemos contato. A discriminação de sexo está presenta em nossa sociedade e por
consequência nas nossas escolas. É constante a utilização de aspectos biológicos para tentar legitimar
a desigualdade entre os sexos. Fomos educados a partir dessa concepção androcêntrica e estamos
acostumados a pensar de acordo com seus valores. Essa visão é difícil de ser superada, tanto homens
como mulheres ao compartilharem desse pensamento também compactuam com ele.
A imagem é que transmite aos estudantes sobre o que é ser menino ou menina, por meio dos
conteúdos de ensino, contribui para a formação de seus padrões diferenciais de comportamento e influi
nos modelos com os quais se identificam. É ensinado as meninas sua identidade sexolinguística, mas
logo depois não ensinadas também que precisam renuncia-la e aprender que quando a professoras
disser “os alunos” ela deve se sentir incluída. Não é só a linguagem oral que reflete a descriminação
sexista, a palavra escrita acaba por se encarregar em reforçar o modelo linguístico androcêntrico. Os
livros apresentam textos e frases que destinam papeis diferentes para meninos e meninas, geralmente
as meninas aparecem ligadas ao espaço doméstico e os meninos ao público.
Entendemos que quando as crianças chegam a escola, tanto meninos como meninas já veem
marcados por diferentes fatores externos que os fizeram criam uma imagem sua de mundo, com base
nos valores da sociedade androcêntrica a qual pertencem. A escola precisa intervir e não deixar seus
alunos e alunas permanecerem com tais pensamentos tão limitados, pois não intervir seria como apoiar
o modelo androcêntrico amplamente divulgado. Ao utilizar livros com conteúdos sexistas a escola não
conseguirá erradicar o sexismo, é necessário promover a publicação de livros não-sexistas, não tolerar
textos que discriminem as mulheres, nem livros que não contem a sua história, pois isto acaba
produzindo nas alunas um sentimento de inferioridade em relação aos meninos e dão a entender que as
ações praticadas por elas não têm valor.
Dessa forma, para se conquistar uma educação não-sexista é necessário o apoio da família e de
toda a sociedade, o docentes precisa ser conscientizado sobre o assunto por meio de seminários,
discussões e desenvolvendo propostas de atividades. Também se faz necessários que espaços sejam
disponibilizados para que alunos(as) possam analisar e discutir juntos a professores(as) sobre papel e a
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imagem diferencial de mulheres e homens, os modelos masculinos e femininos que a televisão, livros
didático, entre outros proporcionam. É preciso que sejam proporcionados meios e oportunidades de
análises e discussões sobre o assunto. O presente artigo buscou abordar esse tema para que, a partir do
que vivemos na escola, possam surgir questionamentos e possibilidades de um outro tipo de trabalho
escolar, não sexista e não androcêntrica, que busque a igualdade de oportunidades entre os gêneros.
Com as ideias organizadas neste trabalho esperamos, portanto, ter contribuído com a discussão sobre o
sexismo na escola.
REFERÊNCIAS
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
MORENO, M. Como se ensina a ser menina. São Paulo: Moderna, 1999.
SASTRE, Genoveva et al. Falemos de sentimentos: a afetividade como um tema transversal. São
Paulo: Moderna; Campinas: Ed. Unicamp, 1999.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Sexa. Disponível em: <http ://www .superte xtos. Com
/texto/Sexa/1897>. Acesso em: 12 nov. 2013.
VIANA, Cláudia; RIDENTI, Sandra. Relações de gênero e escola: das diferenças ao preconceito. In:
AQUINO, Julio Groppa (org). Diferenças e preconceitos na escola: alternativas teóricas e prática.
São Paulo: Summus, 1998.
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