Editoria de Arte/ Fernando Alvarus INFOGRÁFICO O gás natural liquefeito foi a saída para garantir o abastecimento de energia no país em tempos de seca. Nesta edição, revelamos como funciona a tecnologia de transformação e transporte do combustível . P10e11 INDICADORES Brasil Ações da Marfrig ON (em R$) Econom ico 4,84 4,78 4,74 4,60 4,51 www.brasileconomico.com.br 16/5 19/5 20/5 21/5 22/5 PUBLISHER RAMIRO ALVES . CHEFE DE REDAÇÃO OCTÁVIO COSTA . EDITORA CHEFE SONIA SOARES . EDITORA CHEFE (SP) ADRIANA TEIXEIRA . SEXTA-FEIRA E FIM DE SEMANA, 23, 24 E 25 DE MAIO DE 2014 . ANO 5 . Nº 1.185 . R$ 3,00 Fundo Social do petróleo engorda superávit primário Criado em 2010 para investimentos em desenvolvimento regional, o fundo ainda não foi regulamentado pelo Ministério da Fazenda. Composta pela parcela da União nos royalties do petróleo, a arrecadação já chega perto de R$ 1,2 bilhão e, até o fim do ano, deve chegar a R$ 2 bilhões. Para especialistas, a demora é proposital e tem como objetivo ajudar o Tesouro na prestação das contas públicas. Os rendimentos da aplicação dos recursos deveriam ser destinados à Educação e à Saúde, segundo lei aprovada no ano passado. P8e9 Robert Galbraith/ Reuters Informação nem tão pública assim Pressionado pela tendência de redes em grupos fechados, o Facebook, de Mark Zuckerberg, voltou atrás na sua política de privacidade. Agora, os dados de quem entra na rede só serão vistos por amigos. Os 1,28 bilhão de usuários atuais terão mais opções para proteger seus dados. Pesquisa dá Dilma eleita no 1º turno No levantamento do Ibope, as intenções de voto na presidenta cresceram de 37% em abril para 40% em maio. O précandidato tucano, Aécio Neves, também subiu, passando de 14% para 20%. E Eduardo Campos foi de 6% para 11%. Os dois perderiam para Dilma num 2º turno. P3e32 Itaú muda de humor sobre a economia O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, manifestou ontem otimismo com a economia do país no longo prazo. “Estava mais preocupado com a inflação há seis meses. O BC está fazendo um bom trabalho. O crescimento não está como queremos, mas logo estará”, disse ele. P22 JULIO GOMES DE ALMEIDA O aumento de renda é o que tem adiado a procura por emprego. P6 AGENDA CULTURAL Festival de Cannes deste ano traz a força dos veteranos do cinema. P26e27 2 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 MOSAICO POLÍTICO GILBERTO NASCIMENTO [email protected] COM LEONARDO FUHRMANN CABRAL LUCRA COM OU SEM PDT “ Eu quero dizer à senhora que, onde quer que esteja no futuro, quando deixar o seu ou os seus governos, terá para sempre um admirador, que reconhecerá o seu gesto por Goiás” O PDT sonha com a vaga de vice do candidato a governador do Rio Luiz Fernando Pezão (PMDB). O diretório regional do partido sinalizou essa preferência, mas não descartou uma aliança com o candidato petista, senador Lindbergh Farias. As conversas prosseguem. Pezão quer a todo custo se aliar aos pedetistas para ampliar o seu tempo na televisão. Mas há uma avaliação entre peemedebistas de que a ida do PDT para os braços petistas não seja tão mau negócio assim. Como o PT já prometeu a vaga de vice ao PV, os pedetistas - se essa união com Lindbergh vier a ser confirmada -, indicariam o nome ao Senado na chapa. A vaga seria destinada ao próprio presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Essa composição agradaria ao ex-governador Sergio Cabral, candidato ao Senado. Fernando Souza Marconi Perillo Wilson Dias/ABr Alguns peemedebistas creem que seria mais fácil ele enfrentar Lupi do que a deputada Jandira Feghali (PCdoB), a princípio a candidata ao Senado na chapa petista. Embora indicada, Jandira preferiria concorrer à Câmara. Para a eventual entrada na chapa do PMDB, o PDT indicou como vice o deputado estadual Felipe Peixoto. A vaga de vice de Pezão, no entanto, é disputada por vários outros partidos, como o PP de Francisco Dorneles e o PSD do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab. A preferência pelo PDT é vista dentro do PMDB como um desejo pessoal de Pezão. Outros setores do partido preferem Dorneles, com o argumento de que ele abriu mão de disputar a reeleição em favor do apoio a Cabral. Dirigentes pedetistas dizem que, apesar de o partido ter sinalizado que prefere caminhar com o PMDB, a decisão ainda depende de “acertos programáticos”. Governador de Goiás (PSDB), a Dilma, ao agradecer obra no Estado Um erro cinematográfico O polêmico filme "Amor Estranho Amor", estrelado pela apresentadora Xuxa em 1982, foi dirigido pelo cineasta paulista Walter Hugo Khouri. Ontem, esta coluna o atribuiu equivocadamente a Carlos Reichenbach. Há anos, Xuxa tem conseguido na Justiça impedir a distribuição oficial do filme, o que aumenta a desinformação sobre seu conteúdo, muitas vezes tratado falsamente como pornográfico. Elza Fiúza/ABr Cajuína adoça relações entre petista e tucano PP próximo de apoio ao PT em São Paulo Pró-argentino O PP de São Paulo pretende anunciar no começo da próxima semana o apoio à candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha (PT) ao Palácio dos Bandeirantes. Favorece o acordo a boa relação entre os partidos no nível federal e na prefeitura da capital paulista. O PP, no entanto, também está na gestão do tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição. Padilha destaca a importância do PP em sua chapa, inclusive por causa do ministério que controla no governo Dilma, o das Cidades, encarregado de temas como a mobilidade urbana. Os pepistas não estão exigindo a participação na disputa majoritária, o que mantém aberta a vaga de vice na coligação. FALE CONOSCO O secretário-geral do PP paulista, Jesse Ribeiro, teve uma semana de negociações intensas. Além de discutir a coligação com o PT, tratou da contratação do técnico Ricardo Gareca pelo Palmeiras. Vice-presidente do clube, ele era um dos defensores da escolha do argentino, que foi contratado. O senador Wellington Dias (PT-PI) prometeu e cumpriu: presenteou cada senador com uma garrafinha de cajuína e castanhas piauienses para comemorar o reconhecimento da bebida como patrimônio cultural. Em meio aos debates acalorados, a cajuina foi capaz de selar momentos de paz com a oposição, como um brinde feito com o líder do PSDB, Aloysio Nunes (SP). Colaborou Edla Lula E-mail: [email protected] Cartas para a redação: Rua dos Inválidos, 198, 1º andar, CEP 20231-048, Lapa, Rio de Janeiro (RJ). As mensagens devem conter nome completo, endereço, telefone e assinatura. Em razão de espaço ou clareza, Brasil Econômico reserva-se o direito de editar as cartas recebidas. Mais cartas em www.brasileconomico.com.br Embalagens ficam Greves alertam o país para questões a dever no quesito além dos gramados informação Lentidão para liberar remédios prejudica validade As greves que se espalham pelo país mostram que os trabalhadores gritam por atenção. Não é à toa que estão ocorrendo às vésperas da Copa. Com os esforços voltados para o Mundial, fica a sensação de descaso com as questões e reivindicações do dia a dia. Quem sai perdendo é a população, que não tem um plano alternativo nos setores afetados. As embalagens brasileiras são mal concebidas. As letras da composição de alimentos e remédios são minúsculas. Se a pessoa tem uma alergia ou intolerância, tem que usar lupa para ler e não correr nenhum risco. Em várias, a impressão sai com facilidade, ou seja, data de fabricação e validade vão para o espaço. É preciso muita atenção. Todos os remédios que compro têm data de fabricação, mas a maioria deles foi produzida há mais de um ano. Sim, ainda estão no prazo de validade, mas são "velhos". Uma vez perguntei à farmacêutica que me atendia a razão dessa idade "provecta" dos medicamentos e ela alegou que a culpa é da Anvisa, que demora muito a liberar os produtos. Josué Brito Melissa Santos João Luiz Guimarães São Paulo, SP Recife, PE Via site INDICADORES O dólar fechou em alta ante o real ontem, após o presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmar que a demanda pelos swaps cambiais ofertados diariamente pela autoridade monetária está diminuindo. TAXAS DE CÂMBIO ▲ Dólar comercial (R$ / US$) COMPRA VENDA 2,2140 2,2160 ▲ Euro (R$ / E) 3,0203 3,0215 JUROS ■ Selic (ao ano) META EFETIVA BOLSAS ▲ Bovespa - São Paulo ▲ Dow Jones - Nova York ▼ FTSE 100 - Londres 11% 10,90% VAR. % ÍNDICES 1,15 52.806,00 0,06 16.543,08 0,01 6.820,56 Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 3 ▲ BRASIL Waldemir Barreto/Ag. Senado OPERAÇÃO LAVA JATO Nome de Collor em recibos de Youssef O juiz Sergio Fernando Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a Polícia Federal (PF) encontrou no escritório do doleiro Alberto Youssef oito comprovantes de depósitos bancários em espécie em favor do senador Fernando Collor (PTB-AL). Segundo o juiz, apesar dos achados, o senador não é investigado na operação. ABr Editor: Paulo Henrique de Noronha [email protected] Eleição: nova pesquisa traz pouca mudança Ibope mostra que total de indecisos diminui e candidatos da oposição sobem. Dilma, porém, ainda pode ganhar no 1º turno Paulo Henrique de Noronha [email protected] Depois do programa do PSDB de 17 de abril — que reforçou a ligação do presidenciável Aécio Neves com seu tio, o falecido presidente Tancredo Neves — e da propaganda similar do PT de 13 de maio — que usou a estratégia do “medo” de uma volta ao passado — boa parte do eleitorado que pretendia votar branco, nulo ou não sabia em quem votar na próxima eleição presidencial, começou a se decidir, de acordo com a mais recente pesquisa do Ibope, realizada entre 15 e 19 de maio e divulgada ontem. Pouca coisa mudou, entretanto, nas projeções de resultado do pleito. Dilma cresceu para 40% das intenções de voto e, mesmo com o crescimento de Aécio de 14% para 20%, e de Eduardo Campos (PSB), de 6% para 11%, continua com chances de ganhar já no primeiro turno. A soma das intenções de votos de todos os candidatos que concorrem com Dilma — além de Aécio e O total de indecisos caiu de 37% em abril, para 24% em maio. A maioria migrou para um candidato da oposição — Aécio Neves subiu 6 pontos percentuais, e Eduardo Campos, 5 pontos Campos, o Ibope pesquisou os nomes de Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV), José Maria (PSTU), Eymael (PSDC), Levy Fidélix (PRTB), Mauro Iasi (PCB) e Randolfe Rodrigues (Psol) — chega a 36%, abaixo dos 40% da presidenta. Porém, a margem de erro da pesquisa do Ibope é de 2 pontos percentuais, para cima ou para baixo, o que significa que uma vitória de Dilma em primeiro turno não é garantida e pode se dar por margem apertada. A soma das intenções de votos brancos, nulos, “não sabe” e “não respondeu” diminuiu significativamente em relação à pesquisa anterior: caiu de 37%, em abril, para 24% em maio. A maioria desses 13 pontos percentuais foi para candidatos da oposição. Aécio foi o maior beneficiado, subindo de 14% para 20%. Eduardo Campos ficou com outros 5 pontos percentuais, passando de 6% para 11%. E Dilma recebeu somente 3 pontos, indo de 37% para 40%. Nos dois mais prováveis cenários de segundo turno, a presidenta Dilma Rousseff continua com confortável folga para conseguir a reeleição. Se o candidato fosse Aécio Neves, Dilma ganharia por 43% contra 24%. Na pesquisa anterior, ela tinha os mesmos 43%, enquanto Aécio recebia 22%das intenções de voto — ou seja, o tucano cresceu apenas dois pontos percentuais. Na disputa contra Eduardo Campos no segundo turno, Dilma caiu dois pontos, de 44% para 42%, e o candidato socialista subiu de 17% para 22%. Mesmo assim, a petista ganharia com quase o dobro de votos. A avaliação positiva do governo Dilma Rousseff pelos brasileiros pouco mudou: a soma das respostas de “bom” e “ótimo” ficou em 35%, contra 34% em abril e 36% em março. Em maio, o total de eleitores que acham que o governo Dilma é ruim ou péssimo chegou a 33%. A diferença entre a aprovação e a reprovação do governo, que em março era de 9 pon- Dilma tem 40% das intenções de votos, contra 36% da soma de todos os demais candidatos. Se a eleição fosse hoje, ela ganharia em primeiro turno, mas talvez por uma margem bem apertada OS NÚMEROS DO IBOPE Pesquisa Ibope - Estadão/Globo - maio 2014 Intenção ç de voto, estimulado (%) 40 40 37 Dilma Rousseff (PT) 37 Em branco/nulo/ indecisos 24 Aécio A Neves N (PSDB) ( Eduardo Campos (PSB) 13 14 6 6 20 11 3 2 P t Pastor Everaldo (PSC) 3 MAR/2014 OUTROS CANDIDATOS 2% ABR/2014 Eduardo Jorge (PV), José Maria PSTU, Eymael (PSDC), Levy Fidélix (PRTB), Mauro Iasi (PCB), Randolfe Rodrigues (Psol) Rejeição Segundo turno Dilma Rousseff (PT) 33% 33% MAR/2014 MAI/2014 Aécio Neves (PSDB) MAR/2014 MAI/2014 MAI/2014 25% 20% Dilma 43% Aécio 24% Dilma 42% Eduardo Campos (PSB) MAR/2014 MAI/2014 tos percentuais, caiu para apenas 2 pontos em maio, mesmo com o “bom+ótimo” crescendo 1 ponto. Outro item importante mostrado pela pesquisa do Ibope pode ser motivo de comemoração nas campanhas de Aécio e Campos. A taxa de rejeição do eleitorado pela presidenta Dilma Rousseff manteve-se em 33%, de março para maio. Entretanto, a rejeição ao nome de Aécio Neves diminuiu 5 pontos, de 25% em março, para 20% em maio. E no caso de Eduardo Campos a redução foi ainda maior: de 21% para 13%. A pesquisa do Ibope mostra que Dilma parou de crescer na Região Nordeste, onde tem 51% de preferência do eleitorado, mas deu um salto no Sul, passando de 29% para 39% das intenções de voto, de abril para maio. Na segmentação por faixas salariais, Dilma cresceu mais entre os eleitores com renda acima de 5 salários mínimos, passando de 52% para 56% das intenções de votos. 21% 13% Campos 22% Avaliação do Governo Dilma Rousseff Março de 2014 Bom + Ótimo 36% Ruim+ Péssimo 27% Abril de 2014 Bom + Ótimo 34% Ruim+ Péssimo 35% Ruim+ Péssimo 30% Maio de 2014 Bom + Ótimo Por faixa salarial Até 1 salário mínimo Dilma subiu de 52% a 56% Campos desceu de 8% para 4% 1 a 2 salários mínimos 33% Regiões Onde Dilma mais cresceu SUL Dilma de 29% para 39% Aécio de 12% para 17% Campos de 4% para 9% Aécio subiu de 10% para 17% 2 a 5 salários mínimos Aécio subiu de 17% para 22% Mais de 5 salários mínimos Dilma subiu de 26% para 38% Onde Dilma menos cresceu NORDESTE Dilma manteve 51% Aécio de 8% para 11% Campos de 10% para 15% 4 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 ▲ BRASIL Fernanda Nunes [email protected] O rendimento em níveis elevados permitiu em mais um mês que as famílias optassem por manter os seus filhos nas escolas em vez de ingressá-los no mercado de trabalho. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou estabilidade no mercado de trabalho, porque o número de pessoas que procuram trabalho, sobretudo jovens, não cresce. A taxa de desemprego passou de 5% em março para 4,9% em abril. Em igual mês do ano passado, fora de 5,8%. A renda do trabalhador teve uma pequena queda, de 0,6%, na comparação com o mês anterior, mas cresceu 2,6% em 12 meses, uma demonstração de uma economia ainda vigorosa, principalmente no setor de serviços; embora, na indústria, o cenário seja mais crítico e com a perspectiva de piora a partir de 2015, segundo Clemente Ganz Lúcio, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômico (Dieese). “O que começamos a observar é um crescimento maior do desemprego na indústria, que, se não houver reversão no médio prazo, em 2015 e 2016, poderá ter efeito no mercado de trabalho. Em 2014, a Copa e as eleições tendem a gerar postos. A grande questão é o emprego industrial, fortemente assentado na questão do investimento”, salientou Lúcio. Em abril, a indústria foi o segmento que apresentou maior queda de ocupação, de 1,9%, comparado a março. Ante abril de 2013, a retração foi de 2%. O setor foi o único também cujo rendimento caiu na comparação anual, 1%. Frente ao mês anterior, a queda foi de 0,2%. No conjunto do mercado de trabalho, o retrato é de queda da população desocupada, de 3,3% em relação ao mês anterior, alcançando 1,17 milhão de pessoas. Comparado a abril do ano passado, o número de desempregados caiu 17%, o equivalente a 240 mil pessoas incorporadas ao mercado de trabalho. Mas, como o número de postos criados não avançou na mesma proporção — foram 34 mil — a interpretação do IBGE é que caiu o contingente à procura de trabalho, ou seja, a População Economicamente Ativa (PEA). “Percebemos que o que vem trazendo para baixo a taxa de desemprego é a população desocupada, que expressa a menor procura. A ocupação não tem apresentado movimentos para expandir e absorver empregados como se viu no passado. Hoje, há um cenário de estabilidade na geração de vagas”, afirmou a pesquisadora da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy. O professor João Saboia, especialista em mercado de trabalho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não vê incoerência entre a retração da procura por trabalho e os sinais de desaceleração recente. Em sua opinião, a renda das famílias continua suficientemente elevada para permitir que os jovens permaneçam na escola por mais tempo, em vez de ingressarem no mercado de trabalho. De fato, a variação do contingente à procura de emprego tem se mantido em 0,4%, mês a mês, desde 2008. Nesse período, as exceções foram os meses de março deste ano e fevereiro de 2010, quando foram registrados avanços de 0,5%. A PEA de abril, de 24,1 milhões de pessoas, é a menor registrada desde julho de 2012. “A notícia de que tem menos jovens ingressando no mercado, porque estão estudando por mais tempo, é positiva. Os dados da PEA podem indicar também um envelhecimento lento da população”, ressalta Saboia. Para Ganz Lúcio, o Brasil ainda vive uma dinâmica de inserção de trabalhadores, embora com menos intensidade. O contingente de mulheres disponíveis a ingressar no mercado de trabalho, diz ele, já não é o mesmo de alguns anos. “Não temos a mesma pressão da mulher, apesar de ainda termos espaço para o crescimento desse grupo. O incremento da participação das mulheres já foi muito forte. O que há, hoje, é um número de mulheres com idade mais avançada, que, se não entraram no mercado, dificilmente entrarão daqui para frente”, afirma. O economista vê na melhora da qualidade da educação e dos cursos de profissionalização técnica uma conquista dos jovens, que ascenderam profissionalmente em relação aos seus pais, e por isso valorizam o tempo de estudo, no lugar de anteciparem a procura por emprego. “Nisso, a escola pública é fundamental”, avalia. “ O que começamos a observar é um crescimento do desemprego na indústria, que, se não reverter no médio prazo, em 2015 e 2016, poderá ter efeito no mercado de trabalho” Clemente Ganz Lúcio Economista do Dieese Mais escola e menos desemprego Caiu o número de jovens em busca de postos trabalho, o que gerou estabilidade no mercado, na passagem de março para abril Henrique Manreza O setor de serviços é o que apresenta mais crescimento na ocupação, frente à indústria e construção Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 5 Divulgação TRIGO Camex vai avaliar redução de imposto O Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu ontem que irá avaliar a possibilidade de reduzir a alíquota do Imposto de Importação do trigo, para uma cota específica e por prazo limitado, tendo em vista os efeitos da sazonalidade da safra. O produto tem alíquota de 10%, estabelecida na Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul. ABr No conjunto do mercado de trabalho, o retrato é de queda da população desocupada, de 3,3% em relação ao mês anterior, alcançando 1,17 milhão de pessoas Expectativa de consumo cai e indústria aprofunda pessimismo Pesquisas da CNC e da FGV/Ibre indicam desaceleração da demanda doméstica Patrycia Monteiro Rizzotto [email protected] São Paulo Planejamento vê os preços subindo mais O governo aumentou a previsão oficial de inflação para este ano, segundo o Ministério do Planejamento. Pelo Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2014 passou de 5,3% para 5,6%. A projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi mantida em 2,5%. O percentual é levemente superior às previsões do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que espera alta de 2,3%. Embora o relatório seja divulgado pelo Ministério do Planejamento, as estimativas para a economia são feitas pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. As previsões do governo continuam mais otimistas que as do mercado financeiro. Segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, os analistas acreditam que o IPCA fechará o ano em 6,43%, próximo do teto da meta, de 6,5%. E o PIB, crescerá 1,62% em 2014. A queda do dólar nos últimos meses refletiu-se nas projeções oficiais. Segundo o relatório, a cotação média do dólar corresponderá a R$ 2,29 este ano. ABr Dois indicadores econômicos divulgados ontem reforçam a ideia de que a economia brasileira deve registrar este ano uma taxa de crescimento mais tímida, conforme análise contida no último Boletim Focus. De um lado a pesquisa mensal sobre Intenção de Consumo das Famílias, realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), apontou queda de 2,3% em maio, no comparativo com abril, e de 4,2%, em relação a maio de 2013 — atingindo o menor nível da série histórica iniciada em 2011. Do outro, a prévia do Índice de Confiança da Indústria (ICI), medido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), indica que houve um recuo de 4,6% em maio que, se for confirmado, será o pior resultado desde dezembro de 2008, quando o governo brasileiro buscava alternativas para evitar o impacto da crise financeira mundial na economia do país. De acordo com Juliana Serapio, economista da CNC, a retração do ímpeto de ir às compras por parte do consumidor no mês representa uma tendência observada desde dezembro de 2012. “Essa contenção se deve a uma série de fatores, sobretudo à retomada da trajetória de alta dos juros e à inflação dos alimentos e serviços”, afirma, mencionando que a intenção de consumo no país deve diminuir ainda mais até o final do ano. Segundo Juliana, o desânimo para as compras é maior entre os consumidores com renda familiar de até 10 salários mínimos, segmento que mais sente o peso do aumento dos preços dos alimentos no orçamento doméstico. “As perspectivas são tão desanimadoras que o comércio já revisou para baixo as suas estimativas de crescimento nas vendas em 2014, projetando uma alta de 4,9% contra a de 5,5% divulgada no início do ano”, diz. E essa percepção de recuo na demanda interna tem gerado pessimismo no setor industrial. “A queda na confiança dos empresários da indústria está em declínio há alguns meses, mas o aprofundamento dela é que nos pegou de surpresa”, afirma Aloisio Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos do FGV/Ibre. De acordo com ele, foi a perspectiva desfavorável de produção em descompasso com a demanda desacelerada que resultou no aumento dos estoques, gerando pessimismo generalizado no meio industrial. Mas, segundo Campelo, a percepção mais negativa da economia brasileira é observada principalmente entre os segmentos fabricantes de bens de capital e de bens duráveis. “A indústria de máquinas e equipamentos, e a indústria automotiva estão entre as mais prejudicadas pela alta de juros que dificulta o acesso ao crédito, por exemplo”, analisa, mencionando que o câmbio no patamar atual de R$ 2,20 voltou a afe- tar os segmentos que sofrem concorrência dos importados, como a de bens de capital, prejudicado ainda pela desaceleração dos investimentos produtivos no país. Campelo ressalta que mesmo os segmentos industriais que vinham sendo beneficiados pela realização da Copa do Mundo, como a indústria de eletroeletrônicos e alimentos e bebidas, já visualizam uma demanda mais fraca no segundo semestre. “O efeito Copa já se esgotou”, diz. Na opinião de Campelo, os empresários da indústria já sabem que o governo não deve oferecer novos incentivos fiscais, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI), por causa do superávit fiscal. “E para melhorar o ambiente de negócios do ano que vem é muito importante que o governo seja rigoroso com a questão fiscal e com o combate à inflação, porque há pouco a se fazer para recuperar o ânimo do setor industrial este ano”, afirma. “ Para melhorar em 2015 é muito importante que o governo seja rigoroso com a questão fiscal e o combate à inflação, porque há pouco a se fazer para recuperar o ânimo do setor em 2014” Aloisio Campelo Superintendente da FGV/Ibre 6 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 SINTONIA FINA JULIO GOMES DE ALMEIDA [email protected] BONS OU MAUS RESULTADOS? Editoria de Arte A pesquisa de emprego formal com base no Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho, e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo IBGE nas principais regiões metropolitanas, trouxeram apurações aparentemente contrárias sobre o andamento do emprego no país. A primeira registrou em abril o mais baixo volume de novos empregos formais nos últimos quinze anos, 105 mil novos empregos, quase a metade dos 197 mil do mesmo mês de 2013. Isso foi fruto de uma virtual paralisação das contratações líquidas na média de dois dos mais relevantes setores empregadores, que são a indústria e a construção civil. O primeiro demitiu em termos líquidos 3 mil pessoas; o segundo contratou somente 4 mil, praticamente um anulando o outro. Na agricultura e no segmento mais empregador do país, serviços, ocorreram reduções, mas o balanço de contratações e desligamentos manteve-se positivo e expressivo. No comércio, a geração de empregos ficou estável. Esse conjunto de informações dá suporte à interpretação de que a “conta” do baixo crescimento econômico, que já se prolonga por quatro anos, chegou. Mais: parece certo que, como o governo se vê limitado em executar ações anticíclicas devido às restrições fiscais, mesmo em um ano eleitoral como é 2014, a fraqueza do emprego revelada nos meses iniciais deverá prevalecer para o restante do ano. Se isto irá se traduzir em aumento da taxa de desemprego, quando poderá ocorrer e, caso se concretize, qual será sua influência eleitoral, são questões por enquanto em aberto. A pesquisa de emprego do IBGE, que cobre o emprego formal e o informal, sugere que o momento em que a deterioração das novas contratações se revelará em maior taxa de desocupação pode ser adiado por uma particular combinação de ritmos com que caminham a ocupação e a população economicamente ativa. A peculiaridade do caso brasileiro reside no fato de que a despeito do número de pessoas ocupadas já não mais evoluir como antes, e em alguns períodos registrar recuos, o que elevaria a taxa de desemprego, a população economicamente ativa — que avalia a dimensão da força de trabalho — tampouco marcha na velocidade de tempos atrás e recentemente revela tendência de recuo sistemático. Em outras palavras, se por um lado o emprego está mais fraco, por outro um menor número de pessoas se apresenta para trabalhar. É isto o que vem amenizando ou mesmo revertendo o impacto da queda do número de empregados sobre a taxa de desocupação. Pois bem, os últimos resultados da PME vêm mostrando uma leve melhora no ritmo da ocupação, que nos últimos quatro meses passou de variação negativa para variação zero. Paralelamen- Menos pessoas se apresentam para trabalhar. A explicação pode estar no aumento de rendimento, graças à redistribuição da renda, entre outros fatores te, era mantida a redução da força de trabalho em um índice próximo a 1%. Isto significa dizer que a geração de empregos pode continuar anêmica, sem que isso altere para pior a característica central do mercado de trabalho na atualidade: o emprego é alto e a taxa de desocupação é baixa. Por que a força de trabalho recua? A razão não parece ser o “desalento”, que leva uma parcela da população a desistir de procurar trabalho. Não estamos nessa situação. Também não está relacionada diretamente à oferta maior e condições mais favoráveis para que os jovens permaneçam mais tempo no ensino formal ou se dediquem a cursos de formação ou aperfeiçoamento técnico e profissional. A melhoria dessas condições de fato ocorreu, mas o que realmente propor- Em certo momento futuro aumentará o ingresso de pessoas no mercado, mas hoje a população economicamente ativa vem mantendo um ritmo regular de queda cionou às famílias um raio de manobra mais elástico para planejarem o ingresso de seus membros no mercado de trabalho foi o aumento de rendimento, promovido, dentre outros fatores, pela redistribuição da renda. Certamente, em certo momento futuro aumentará o ingresso de pessoas no mercado, talvez ampliando em alguns pontos percentuais adicionais o crescimento da força de trabalho, o que poderá ter efeito inverso ao que vem tendo atualmente sobre a taxa de desemprego. Nada disso parece estar em vias de ocorrer, pelo contrário, como já foi observado, a população economicamente ativa vem mantendo um ritmo regular de queda. Coluna publicada às sextas-feiras *Julio Gomes de Almeida, Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 7 Paulo Fridman/Bloomberg ▲ BRASIL ZONA FRANCA DE MANAUS Polo industrial entra em expansão A Zona Franca de Manaus se prepara para receber 41 novos empreendimentos na região por meio do Processo Produtivo Básico. Ao todo, o polo industrial receberá R$ 674 milhões em investimentos nos próximos três anos e vai gerar 470 empregos diretos. Do total de projetos, 13 são de implantação de novas empresas e 28 de atualização, diversificação ou ampliação das já instaladas. Redação Mais modais de transporte Com safra 50% maior em 10 anos, país vai precisar ampliar opções de transporte para ganhar competitividade Murillo Constantino A soja que sai de Sorriso (MT) rumo à China percorre 2,5 mil quilômetros até o Porto de Santos, ao custo de US$ 190 a tonelada. Nos EUA, com o uso de ferrovias, o custo da tonelada é de US$ 71 Patricia Büll [email protected] São Paulo A produção de grãos no Brasil deve aumentar entre 40 milhões e 50 milhões de toneladas nos próximos dez anos, aumentando em cerca de 50% a produção atual, de 87 milhões de toneladas. Isso significa que o país vai precisar de um porto com a capacidade do Porto de Santos para escoar essa produção, sob o risco de ampliar o caos logístico que o país enfrenta. Os dados foram apresentados ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), no último dia da Semana de Infraestrutura realizada em parceria com a Federação da Indústria do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Para o coordenador do Movimento Pró-Logística da Aprosoja, Edeon Vaz Ferreira, é preciso destravar as licitações para a construção de novos portos e agilizar as construções a tempo de atender à safra projetada. “Mas, além disso, é preciso pensar novos pontos de escoamento, fora do eixo Sul-Sudeste", disse. Segundo Ferreira, 54% de toda a produção de soja e milho do país fazem parte da nova fronteira agrícola, localizada na região central do Brasil, daí a necessidade de se pensar opções de escoamento ao norte do país, aliviando a demanda dos portos de Santos e Paranaguá, responsáveis hoje por 58% e 9% respectivamente do escoamento da safra do Mato Grosso”. Empresários discutem gargalos logísticos do Brasil, especialmente no transporte de carga agrícola Dessa forma, será possível também melhorar a competitividade da nossa soja”, afirmou Ferreira. Ele lembra que o custo logístico é um dos principais encargos dos produtores, o que diminui a margem de lucro. Como exemplo, cita que a soja que sai de Sorriso (MT) rumo à China percorre 2,5 mil quilômetros até o Porto de Santos, de onde é embarcada. Como a maior parte do trajeto é feita por rodovias, o custo de uma tonelada é de US$ 190. Já nos Estados Unidos, igualmente continental, mas que utiliza mais ferrovias, o custo da tonelada é de US$ 71. “Isso mostra a diferença que faz ter um modal de transporte diversificado, ao contrário do Brasil, que escolheu priorizar rodovias”. Ferreira reconhece que a escolha foi feita porque as rodovias chegam a qualquer lugar. “Mas se quiser aproveitar a janela de oportunidade que se desenha, o país te- rá de rever essa preferência e investir na intermodalidade”, afirmou. Enquanto discutiam os caminhos da logística no Brasil, a presidente Dilma Rousseff (abaixo) entregava trecho de 855 quilômetros da ferrovia Norte-Sul, retomando um modelo de transporte citado pelos empresários como o ideal para cargas de longa distância. Essa é a opinião também da diretora de logística da Odebrecht Transport, Juliana Baiardi. A em- Roberto Stuckert Filho/PR NOVO TRECHO DA FERROVIA NORTE-SUL É INAUGURADO ■ A presidenta Dilma Rousseff inaugurou ontem um trecho de 855 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, entre as cidades de Palmas (TO) e Anápolis (GO), complementando o segmento que já opera desde 2007 entre Palmas e Açailândia (MA). Na inauguração, a presidenta disse que a ferrovia funciona como uma “coluna vertebral” do sistema de logística do país, aproximando o interior do litoral. O projeto e a construção da linha férrea, que tem 27 anos, só foi retomado em 2007. A etapa da Norte-Sul inaugurada ontem contou com investimentos de R$ 4,2 bilhões, oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ABr presa já atua com transporte ferroviário de pessoas e agora, disse a executiva, a empresa estuda participar do novo modelo ferroviário como operador ferroviário independente (OFI). Essa figura é prevista no modelo chamado open access, que separa o responsável pela obra civil da via e os operadores dos trens e vagões. “A empresa quer se tornar um operador logístico completo e a ferrovia é parte dessa cadeia”. 8 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 ▲ BRASIL Nicola Pamplona [email protected] Criado em 2010 com o objetivo de investir em projetos de desenvolvimento regional e constituir poupança de longo prazo para o país, o Fundo Social com recursos dos royalties do petróleo vem servindo apenas para compor o superávit primário do país. Com uma receita acumulada de quase R$ 1,2 bilhão, o fundo ainda não começou a operar, por falta de regulamentação pelo Ministério da Fazenda. A expectativa é que a receita atinja a casa dos R$ 2 bilhões ao final do ano. O Fundo Social é composto pela parcela da União na arrecadação dos royalties cobrados sobre a produção do petróleo. Começou a arrecadar em 2012, quando teve receita de R$ 311,5 milhões, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em 2013, recebeu mais R$ 498,3 milhões. Este ano, em três meses, recebeu R$ 386,3 milhões. A receita tende a crescer nos próximos meses, com a evolução da produção de petróleo no país. Nenhum dos dois conselhos previstos em lei para gerir o fundo, porém, foi criado. Segundo a Lei 12.351, de dezembro de 2010, um deles, o Comitê de Gestão Financeira do Fundo Social, deve ter em sua composição o ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento, o Presidente do Banco Central do Brasil, entre outros representantes. Esse grupo terá como função definir a política de investimentos do fundo. Procurado, o Ministério da Fazenda não se pronunciou. “Parece que o fundo social será mais um fundo para compor o caixa único do governo, sem cumprir com o papel proposto”, comenta Cláudio Pinho, advogado especialista em petróleo da Araújo Pinho Advogados Associados, lembrando que estratégia semelhante já vinha sendo adotada com os royalties arrecadados antes da criação do fundo. “O setor de petróleo no Brasil vem sendo usado de forma recorrente para gerar superávit primário”, completa o especialista, autor de um livro sobre o marco regulatório do présal, instituído pela Lei 12.351. De fato, com base em dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Tesouro Nacional (Siafi), os economistas José Roberto Afonso e Vilma da Conceição Pinto, do Ibre/FGV concluem que o desembolso de verbas originárias da exploração de petróleo tem sido bem inferior à arrecadação. Em estudo intitulado “Entesouramento dos Recursos Federais”, eles concluem que 87,7% das receitas com a exploração de petróleo do pré-sal ficaram nas contas do Tesouro. Com relação aos royalties cobrados sobre cam- Petróleo social vira superávit Fundo formado com recursos do setor que seriam destinados à educação e à saúde ainda não foi regulamentado. Enquanto isso, R$ 1,2 bilhão entram na conta do Tesouro Lei prevê a instituição de um comitê gestor, para definir política de investimentos, e de um conselho deliberativo, para propor prioridades e aplicações dos recursos do fundo pos mais antigos de petróleo, 22% ficaram sem uso. O estudo considera a arrecadação e os desembolsos entre 2012 e janeiro de 2014. “É alegado que o governo pode reter boa parte do que se arrecada com loteria sob pretexto de aplicar nas áreas sociais, é pregado que os royalties do pré-sal financiarão a educação e que os royalties do pós-sal custearão a marinha que deve proteger as reser- vas. Até do cinema se arrecada a pretexto de beneficiar as artes, mas, no final, parcelas diferenciadas, mas expressivas de tais receitas deixam de ser gastas”, concluem os pesquisadores do Ibre. Eles citam ainda a Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide), cobrada sobre os combustíveis, nunca cumpriu seu papel de financiar investimentos em infraestrutura de transportes. Hoje, a alíquota foi reduzida a zero para segurar o preço da gasolina. “Ao aumentar cada vez mais o caixa, no fundo, só se está indiretamente transferindo receitas de uma finalidade para outra: reduzir a dívida líquida e assim gerar superávit primário”, resumem. O Brasil Econômico perguntou como estão sendo remunerados os recursos do Fundo Social Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 9 Divulgação CARTEL Cade faz operação em 10 empresas O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) divulgou ontem que a Superintendência Geral da autarquia realizou busca e apreensão em dez empresas na véspera, em operação que investiga suposto cartel nos mercados de resinas para revestimentos e compósitos. A operação ocorreu em escritórios e sedes das companhias em 12 cidades de São Paulo, Espírito Santo e Paraná. ABr Ag. Petrobras “ “Parece que o Fundo Social será mais um fundo para compor o caixa único do governo. O setor de petróleo vem sendo usado de forma recorrente para gerar superávit primário” Cláudio Pinho Mais R$ 30 bilhões em investimentos em óleo e gás Setor é carro-chefe em projeções do BNDES para aportes. O banco prevê R$ 4 trilhões até 2017 Sócio do Araújo Pinho Redação “ Até do cinema se arrecada a pretexto de beneficiar as artes, mas, no final, parcelas diferenciadas, mas expressivas de tais receitas, deixam de ser gastas” [email protected] O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prevê investimentos de R$ 4,07 trilhões na economia brasileira até 2017. O valor é pouco maior do que os R$ 3,98 trilhões projetados anteriormente, em outubro de 2013. O setor de petróleo e gás continua como o carro-chefe do investimento, com previsão de R$ 488 bilhões no período, ou R$ 30 bilhões a mais do que a estimativa do ano passado. Os números fazem parte da atualização do estudo Perspectivas do Investimento para o período 2014-2017, elaborado pela Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do banco. A revisão do documento incluiu investimentos em mobilidade urbana, que fazem parte do setor de infraestrutura social e inclui ainda saneamento. Segundo os técnicos do BNDES, serão investidos R$ 89 bilhões em mobilidade até 2017, valor 83% superior ao realizado entre os anos de 2009 e 2012. Ao todo, a indústria deve investir, R$ 1,15 trilhão, incluindo o setor de petróleo e gás, valor 31% superior ao estimado em outubro de 2013. Já o setor de infraestrutura responderá por R$ 575 bilhões, puxado sobretudo pelos segmentos de portos e ferrovias, contemplados pelo programa de concessões do governo. José Roberto Afonso Economista SECRETARIA DE SEGURANÇA URBANA enquanto não sai a regulamentação para a sua aplicação, mas não obteve resposta. A lei estabelece que os gestores do fundo divulguem relatórios trimestrais de desempenho. Procurado, o Tribunal de Contas da União (TCU) informou que ainda não realizou nenhuma auditoria específica no Fundo Social. Parte dos recursos vai para educação e saúde No ano passado, lei aprovada no Congresso destinou parcela dos recursos do fundo para investimentos em educação e saúde. Segundo o texto, 50% dos rendimentos das aplicações de royalties arrecadados com contratos de concessão assinados antes de dezembro de 2013 devem ter essa destinação. Para contratos assinados depois, 50% de toda a arrecadação devem ir para escolas e hospitais. Neste caso, já se inclui o campo de Libra, primeiro projeto licitado sob o modelo de partilha da produção, mas ainda não em operação. Além disso, a lei destinou toda a arrecadação de estados e municípios com royalties para investi- mentos em educação e saúde. Pinho diz que ainda há dúvidas sobre como se dará essa aplicação. “Não sabemos ainda se os recursos dos royalties serão encarados como verba para investimentos adicionais ou vão substituir as fontes hoje usadas pelos municípios nestes dois setores”, diz ele, ressaltando que é preciso também melhorar a fiscalização sobre os gastos. O deputado federal Carlos Zarattini, relator do projeto de lei que destinou os royalties para educação e saúde diz que os recursos carimbados do fundo ainda são pequenos, por contarem apenas com a receita de campos existentes do pré-sal, hoje produzindo cerca de 400 mil barris por dia. “Acredito que a regulamentação saia até o final do ano, para que os investimentos possam sair”, afirma. “Mas o grande problema é que o Brasil tem que cumprir o superávit primário. E cada vez que aumenta a taxa Selic, aumenta a dívida e mais dinheiro é preciso para atingir este objetivo”, finaliza. ABERTURA DE LICITAÇÃO Acha-se aberta na SECRETARIA MUNICIPAL DE SEGURANÇA URBANA, licitação na modalidade PREGÃO ELETRÔNICO N° 004/SMSU/2014 - Processo Administrativo nº 2014-0.040.576-5, que tem por objeto a AQUISIÇÃO DE 400 (QUATROCENTAS) ARMAS DE FOGO, TIPO REVÓLVER, CALIBRE 38, PARA USO DOS INTEGRANTES DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA NAS CONDIÇÕES E QUANTIDADES ESPECIFICADAS NO ANEXO I - TERMO DE REFERÊNCIA DO EDITAL. A abertura acontecerá no dia 05/06/2014 às 11:00 horas e o Edital e seus anexos poderão ser adquiridos pelas interessadas no horário das 9h30 às 15h30, até o último dia útil que anteceder a abertura, mediante o recolhimento aos cofres públicos da importância de R$ 0,15 (quinze centavos) por folha, por meio da DAMSP que será fornecida na SMSU, na Rua Augusta, 435 - 1º andar, Centro - São Paulo/SP, ou através da Internet pelos sites: http://e-negocioscidadesp.prefeitura.sp.gov.br http://www.bec.sp.gov.br ou http://www.bec.fazenda.sp.gov.br. SECRETARIA DE ESPORTES, LAZER E RECREAÇÃO EDITAL DE CHAMAMENTO PÚBLICO N° 01/SEME-GAB/2014 - “VIRADA ESPORTIVA 2014” A Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação - SEME comunica que estará aberto, no período de 23 de maio a 24 de junho de 2014, o prazo para as inscrições de propostas que pleiteiem celebrar convênios nos termos do artigo 116 da Lei Federal nº 8.666/93, de acordo com as disposições deste edital e do Decreto Municipal nº 48.266/07, para o evento “VIRADA ESPORTIVA 2014”, a ser realizado na Cidade de São Paulo, nos dias 20 e 21 de setembro de 2014 e, supletivamente, para outros eventos da Secretaria. 1.1 Objeto Constitui objeto deste chamamento a seleção de projetos destinados à realização em parceria com a SEME de eventos esportivos, recreativos e de lazer, prioritariamente de atividades participativas, que integrarão a programação oficial da Virada Esportiva 2014, e supletivamente outros eventos da SEME, apresentados por entidades sem fins econômicos, doravante denominadas “proponente”. 2. Da Inscrição e Apresentação do Projeto 2.1. Local de inscrição e horário de atendimento: O requerimento de inscrição e os demais documentos exigidos neste edital deverão ser entregues pessoalmente pelo representante legal do proponente ou seu procurador, devidamente qualificado, na Coordenadoria de Gestão de Parcerias e Organizações Sociais - CGPO da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, localizada na Alameda Iraé, nº 35, Moema, de segunda a sexta-feira, no horário das 10:00 às 16:00 horas, somente durante o período indicado no preâmbulo deste edital, mediante prévio agendamento do horário de atendimento, por correspondência eletrônica para o endereço [email protected], devendo o proponente interessado solicitar o agendamento com, no mínimo, uma semana de antecedência à data limite, isto é, até o dia 17/6/2014, às 13:00 horas. 10 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 ▲ BRASIL OS TERMINAIS DE REGASEIFICAÇÃO DE GÁS NATURAL LIQUEFEITO (GNL) NO BRASIL O novo caminho do gás Transporte Pelas características especiais do gás em estado líquido, os navios usados para transportar o GNL usam tanques esféricos. O design, conhecido como Moss, é de patente norueguesa, da Moss Maritime, e cada navio pode ter de quatro a cinco tanques Com a escassez de água nos reservatórios das hidrelétricas, o Brasil vem se tornando cada vez mais dependente de importações de gás natural para garantir o suprimento de energia. Além do contrato de 30 milhões de metros cúbicos por dia com a Bolívia, a Petrobras tem recorrido a outros mercados, por meio da compra de gás natural liquefeito (GNL), tecnologia que permite transportar o combustível em navios e caminhões. Mais caro que as outras fontes, o GNL respondeu em fevereiro por 21% da oferta de gás no país. Veja aqui como funciona este mercado. Porto de Pecém FORTALEZA 7 milhões de m3/dia Baía de Todos os Santos SALVADOR 14 milhões de m3/dia Gás vira líquido 1 O gás natural chega ao armazenamento 2 Para que passe ao estado líquido, o gás é resfriado a 161,1ºC negativos e submetido a alta pressão 3 Já liquefeito, o combustível é estocado aguardando transporte 4 O gás é enviado aos cargueiros Baía de Guanabara RIO DE JANEIRO 20 milhões de m3/dia Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 11 Paulo Fridman/Bloomberg COPA DO MUNDO Ethos: cresce transparência dos estados A transparência dos estados que sediarão os jogos da Copa do Mundo 2014 sobre os investimentos de infraestrutura aumentou neste ano, em comparação com 2013. É o que aponta a a segunda edição da pesquisa do projeto Jogos Limpos, elaborada pelo Instituto Ethos. Os maiores avanços ocorreram no Nordeste, sobretudo no Ceará e em Pernambuco. Redação Líquido vira gás de novo CONSUMO DIÁRIO DE GÁS NO BRASIL 7 5 Média, em milhões de m3 44,33 Estocado, o gás está pronto para ser utilizado Oferta nacional de gás O GNL é armazenado em tanques nos terminais 6 39,73 42,60 33,83 O combustível passa pelo processo de vaporização e retorna ao estado gasoso 44,51 32,97 31,75 28,04 32,07 27,54 22,20 Transporte por caminhões 26,91 26,86 21,17 22,10 FEV 2014 Importado da Bolívia No estado líquido, o gás pode ser transportado em caminhões, eliminando a necessidade de linhas de gasodutos 14,56 Média 2013 TANQUES ESPECIAIS 8,50 O formato esférico é vantajoso para o transporte do gás por oferecer mais resistência estrutural e evitar que o tanque fique em contato direto com o casco do navio. Além disso, diferentemente dos cascos quadrados, não existe o efeito de sloshing, ou chacoalhamento do conteúdo dos tanques Isolante térmico 11,61 7,64 0,72 Média 2009 Proteção externa GNL Média 2010 1,64 Média 2011 PAÍSES QUE EXPORTARAM PARA O BRASIL EM 2013 Noruega Camada de alumínio GÁS LIQUEFEITO Editoria de Arte/Fernando Alvarus Espanha Bélgica França Portugal Catar Argélia Egito Nigéria Angola Trinidad e Tobago 12 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 ▲ BRASIL Último dia da semana de Angola na PUC-Rio ‘Não! Não! Não! Não enganei a presidenta’ O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró voltou a dizer que Pasadena foi um bom negócio e que seria aprovado mesmo que as cláusulas polêmicas fossem apresentadas Universidade carioca promove debates de empresários, seminários e programas culturais Antônio Cruz/ABr Edla Lula Eduardo Miranda [email protected] Brasília [email protected] A Petrobras compraria a refinaria de Pasedena ainda que constassem do relatório apresentado ao Conselho de Administração as duas cláusulas que deram vantagens à ex-sócia Astra Oil. A aposta foi feita pelo ex-diretor da área Internacional da empresa, Nestor Cerveró, em depoimento, ontem, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga irregularidades na operação de compra, ocorrida em 2006. Em vários momentos da audiência, com duração de três horas, o executivo sustentou que o negócio foi bem sucedido e que as cláusulas Marlim, com garantias de rentabilidade, e Put Option, com garantias de saída, não eram as mais relevantes do contrato. Cerveró foi instigado pelo relator da comissão, José Pimentel (PT-CE), a opinar se o conselho rejeitaria a compra na suposição de que os dois itens fizessem parte de seu relatório. “Uma é cláusula de saída, e a outra é cláusula de proteção do negócio da refinaria. Ora, ninguém aprova um negócio pensando na saída. Isso é um detalhe contratual. Então, certamente, não seria rejeitada”, respondeu. Segundo o ex-diretor — acusado pela presidenta Dilma Rousseff de ter submetido ao conselho, do qual era presidente, um sumário executivo “técnica e juridicamente falho” — à época das negociações o que importava para a decisão era o cenário de crescimento do mercado americano e de necessidade de refino do petróleo pesado brasileiro. Funcionário concursado da empresa por 34 anos, Cerveró demonstrou irritação em um único momento, quando o relator questionou se teria omitido propositalmente as informações sobre as duas cláusulas. “Foi-me perguntado se eu teria enganado a então presidente do Conselho de Administração. Não! Não! Não! É evidente que não. Não só a presidenta: eu teria enganado todo o Conselho. Não!”, disse, acrescentando considerar “extremamente injusto” levantar a suspeita de que ele teria enganado Dilma. Cerveró depôs com a presença de apenas três senadores integrantes da CPI da Petrobras Em uma quinta-feira de Congressovazio, nem mesmo integrantes da CPI pertencentes à base aliada demonstraram interessepelo depoimento.Dos 13titularesda comissão, apenas os senadores Pimentel, VitaldoRego(PMDB-PB),presidente da comissão e Vanessa Grazziotin (PC do B – AM) acompanharam o depoimento. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), não compareceu por estar no velório do pai. “ Foi-me perguntado se eu teria enganado a então presidente do Conselho de Administração. Não! É evidente que não. Não só a presidente: eu teria enganado todo o Conselho” Nestor Ceveró Ex-diretor internacional da estatal Apesar das ausências — a oposição não participa por protestar contra a investigação parlamentar apenas no senado — a audiência seguiu o rito próprio do interrogatório, com o relator fazendo perto de 150 perguntas. Não houve réplicas nem confrontos. Esta foi a segunda oitiva da CPI da Petrobras, instalada há duas semanas. Na primeira, foi ouvido o presidente da estatal à época da negociação, José Sérgio Gabrielli. A próxima está marcada para 27 de maio, quando será ouvida a presidente da estatal, Graça Foster. O depoimento de Foster coincidirá com a instalação de outra comissão criada para investigar exatamente o mesmo assunto. Nesse dia, o presidente do Congresso, Renan Calheiros, anunciará o nome dos integrantes da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) da Petrobras. Pressionado pela oposição, que criou um site e instalou no Salão Verde da Câmara um telão com a lista dos partidos que não indicaram os membros para a CPMI, o PT da Câmara divulgou ontem os deputados Marco Maia (RS) e Sibá Machado (AC) como titulares e Esta foi a segunda oitiva da CPI da Petrobras. A próxima está marcada para 27 de maio, quando será ouvida a presidente da estatal, Graça Foster Afonso Florence (BA) e Iriny Lopes (ES) como suplentes. Os partidos da base no Senado ainda não fizeram suas indicações e têm até a próxima terça. Caso contrário, o presidente indicará, como fez com a oposição no caso da CPI do Senado. Será a primeira vez que duas CPIs tratarão do mesmo tema ao mesmo tempo. O presidente Renan argumenta que não há como cancelar a comissão do Senado por haver uma determinação do Supremo Tribunal Federal, provocada pela própria oposição. País africano com o maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 5,3% ao ano, Angola está sendo homenageada na PUC-Rio, com uma série de debates, seminários e eventos culturais. A universidade, por meio de sua Central de Estágios e Serviços Profissionais (CCESP), apresenta, também, um mapa de oportunidades em empresas brasileiras que estão em atividade naquele país. Coordenador do CCESP e responsável pela organização da Semana de Angola, o professor André Lacombe Penna da Rocha fez um balanço do evento, que começou na última segunda-feira e termina hoje. “Percebemos, ao longo da semana, que os participantes mostram muito interesse em conhecer o país, estabelecer parcerias, fazer investimentos, intercâmbio educacional e projetos de pesquisa em conjunto. Acredito que este evento pode ser o início de uma parceria mais estreita entre os dois países”, afirma. A escolha do mês de maio para a realização da homenagem à Angola tem relação com um encontro realizado na Etiópia, no dia 25 de maio de 1963, entre vários chefes de Estado africanos, que marcou a fundação da Organização da Unidade Africana (OUA). Hoje, a organização é conhecida como União Africana e, com o reconhecimento da ONU da importância deste encontro, foi instituído na década de 70 esta data como o Dia da África. Hoje, no campus da PUCRio, na Gávea, Zona Sul da cidade, professores e empresários angolanos e brasileiros conversam, às 9h, na mesa redonda Capital Humano para Angola; às 11h, a universidade promove a mesa Intercâmbio — MBA Atlântico (Angola, Brasil, Portugal); às 13h30, bailarinos apresentam danças tradicionais angolanas; às 15h, será exibido o filme ‘I Love Kuduro’. Até às 20h, fica em cartaz, no pilotis da PUC, a Exposição das Maravilhas de Angola. Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 13 Carlos Moraes PF E RECEITA Ação contra câmbio ilegal A Receita Federal e a Polícia Federal iniciaram ontem a Operação Sustenido, que visa desmontar uma organização criminosa que há mais de três anos faz ações ilegais de câmbio em Foz do Iguaçu, no Paraná, e no Paraguai. O grupo age por meio de compensações internacionais, atendendo a clientes envolvidos em “descaminho, contrabando, sequestro e tráfico de drogas”. ABr O CONSUMIDOR FLUMINENSE Os números gerais Por renda Alimentação 72,7 64,3 59,4 55,2 66 Cursos 20,4 25,1 24,9 22 18,5 17,5 15,9 12,1 9,8 14,7 22,2 32,7 22,9 Roupas 17,1 Viagens 15,6 Automóveis 7,5 12,6 16,3 15,4 11,6 12,4 10,6 6,8 7,7 10,7 12,8 13,5 11,4 Eletrodomésticos 11,3 Livros 10,1 Celular 7,5 Computador/tablet 5,3 Cinema 3,1 Teatro 2,2 Aumento nos gastos com alimentação é o principal receio dos consumidores locais, que vão preferir assistir aos jogos em casa EM SALÁRIOS MÍNIMOS Até 2 De 2 a 5 De 5 a 10 10 ou mais 7,5 8 7,1 6,5 4,6 6,4 5,5 3,9 2,5 3 3,4 5,2 1,4 2,3 3 4,2 Às vésperas da Copa, inflação preocupa no Rio Fonte: Instituto Informa OS CARIOCAS E A COPA Pretendem ficar na cidade durante a Copa do Mundo 91,6 Aline Salgado [email protected] A 21 dias da Copa do Mundo, a maioria dos cariocas vai preferir assistir aos jogos em casa. Muito além do conforto, a explicação pode estar na preocupação com o aumento dos gastos com a alimentação. É o que aponta duas pesquisas realizadas com moradores do Estado e da Cidade do Rio. Segundo a pesquisa do Instituto Informa, que ouviu 10.341 fluminenses, entre fevereiro e abril, a maioria dos moradores do Rio de Janeiro (66%) têm no custo da alimentação a maior expectativa de aumento de gastos. A percepção é maior, 72,7%, na classe de menor poder aquisitivo, pessoas que ganham até dois salários mínimos — R$ 1.448. No entanto, 55,2% dos que recebem dez salários ou mais também acreditam que gastarão mais com comida. Para Fábio Gomes, diretor-presidente do Instituto Informa, a comprovação pela experiência do dia a dia de que os alimentos estão mais caros pode ter influenciado a Pretendem acompanhar os jogos do Brasil em Casa 55,7 Afirmaram que nenhum legado será deixado para a cidade 55,7 Quem mais está ganhando com a Copa são os políticos 73,6 Quem mais está ganhando com a Copa são as construtoras 51,6 Disseram ser a favor da copa Nem contra nem a favor 45 16 Em alimentos e bebidas, a inflação 88,4 acumulada no ano, segundo o IPCA-15, Acham que as manifestações vão atrapalhar o andamento da copa chega a 5,43% no país 54 e, no Rio, a 6,28%. Se houver manifestações não vão participar Cidade é uma das 88,2 mais caras, perdendo só para Curitiba Fonte: Overview Pesquisa Acham que haverão manifestações expectativa do consumidor fluminense a respeito do aumento de seus custos ao longo deste ano. “No ponto de vista destes consumidores, a alimentação será a categoria de consumo que vai sofrer mais impactos. E isso ocorre independentemente da renda”, aponta Fabio Gomes. Desde o início do ano, a inflação no Rio de Janeiro não vem dando trégua. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, das nove regiões metropolitanas e mais duas cidades no país analisadas para a formulação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), o Rio de Janeiro é a que conta com a maior inflação acumulada no ano, até maio. O índice ficou em 3,89%, frente a 3,51% do indicador nacional. No item alimentos e bebidas, a inflação acumulada no ano, no país, chega a 5,43% e, no Rio de Janeiro, a 6,28% — uma das regiões mais caras, perdendo apenas para Curitiba, com 6,36%. Seguida da alimentação, a pesquisa do Instituto Informa mostra que os aumentos nos gastos com educação (cursos), roupas e viagens são os principais itens de expectativa dos fluminenses. O que, para Gomes, não significaria apenas uma preocupação com o peso da inflação. O resultado mostra também uma tendência dos moradores do Rio de investirem mais nessas áreas. “Quanto melhor a escolaridade, maior o interesse em investir em cursos. Embora o país tenha tido uma mudança na formação das classes sociais, o aumento de renda não significa diretamente um crescimento no consumo de bens ligados à educação”, diz Gomes, destacando os baixos percentuais de gastos com livros (10,1%), cinema (3,1%) e teatro (2,2%). Para a Copa do Mundo, a tendência é de que os cariocas fujam dos preços altos. Segundo levantamento da Overview Pesquisa, com 823 moradores da cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 12 de maio, 91,6% pretendem ficar na cidade durante o Mundial. Des- Mesmo apostando que haverá manifestações durante os jogos, levantamento da Overview Pesquisa mostra que 88,2% dos cariocas não planejam participar dos atos durante o Mundial se grupo, 55,7% planejam acompanhar os jogos em casa. Sócio diretor da Overview Pesquisa, Luis Eduardo Guedes acredita que os transtornos causados pelos jogos na cidade, como fechamento de ruas e esquema especial de trânsito, possam estimular o carioca a decidir assistir aos jogos em casa. “O aumento na compra de televisores reflete essa intenção. Nas outras Copas, as pessoas se deslocavam para a casa de amigos, mas com o evento aqui, a dificuldade de locomoção acaba sendo um impeditivo”, observa Guedes, descartando o medo das manifestações como causa. “Mesmo que 88,4% acreditem que haverá manifestações e 54% achem que os protestos vão atrapalhar o andamento da Copa, a maioria, 88,2%, disse que se houver manifestações durante o Mundial não vão participar. Quando os jogos começarem será uma festa para os cariocas. As manifestações vão perder força e os problemas vão ser deixados de lado”, aposta. 14 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 ▲ EMPRESAS Editora: Flavia Galembeck [email protected] Rodrigo Carro [email protected] Porto, Portugal Marcada para terminar em 15 de dezembro de 2015, a cobrança de tarifas de roaming na União Europeia significará bem mais do que um passo na direção da integração de seus 28 países-membros. A mudança vai afetar tanto a receita das teles como o próprio modelo de negócios adotado por elas — a tendência é de que as companhias se consolidem em grandes operadoras europeias, com cobertura em todo o continente. Com o fim do roaming na região, o cliente de uma empresa de telefonia móvel poderá utilizar a rede celular de outra companhia para serviços de voz ou dados sem pagar nada a mais por isto. Atualmente, existem mais de 200 operadoras de telecomunicações na região, sujeitas a regras distintas e com preços bastante diferentes entre si, de acordo com um relatório elaborado pelo Parlamento Europeu. O documento estima que essa fragmentação no atendimento ao mercado custe à Europa até 0,9% do seu produto interno bruto (PIB), o equivalente a € 110 bilhões por ano. A expectativa é de que, com a eliminação das tarifas de roaming, as empresas ganhariam 300 milhões de novos clientes. Em 2013, uma diminuição de 35% nas taxas de roaming de dados fez com que a utilização do serviço crescesse mais de 100%. Se para os clientes das teles europeias a notícia é positiva, para as companhias a eliminação da tarifa significará — pelo menos no curto prazo — perda de faturamento. “As receitas de roaming continuam a ser de muito valor para as empresas”, afirma Mário Rosas, arquiteto de Produto para Roaming e Interligação da WeDo Technologies, empresa de software e consultoria nas áreas de Garantia de Receita e Gestão de Fraudes. Com sede em Lisboa, a companhia tem cerca de 180 clientes — espalhados por 90 países — em seu portfólio, incluindo operadoras como Orange, Vodafone e Telefónica. “A competição e a consolidação no setor levaram à criação de alianças entre as operadoras,de forma a estender preços e benefícios para além das fronteiras nacionais. Provavelmente, vamos assistir à formação de MVNOs (operadores móveis virtuais) multinacionais, com atuação em toda a Europa”, diz Rosas. No modelo de operadora móvel virtual, as companhias alugam ou compram capacidade na rede de outras teles para prestar serviços ao cliente final. Esta seria uma forma de maximizar a infraestrutura de telecomunicações já existente na Europa, uma vez que — nos países onde não possuem rede — as operadoras poderiam funcionar como MVNOs. Fim de cobrança de roaming desafia teles na Europa Marcada para o final de 2015, mudança afetará a rentabilidade, trará consolidação e deve fomentar operadores móveis virtuais multinacionais Rosa: crescimento acelerado no Brasil não exerce a mesma pressão por competitividade Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 15 Tony Avelar/Bloomberg COMPUTADORES Receitas da HP seguem em queda Fotos Telmo Miller A Hewlett-Packard teve queda maior que a esperada das receitas trimestrais, enquanto enfrenta dificuldades para manter as margens num declinante mercado de computadores pessoais. Este é o 11º declínio consecutivo das receitas trimestrais da fabricante. A HP teve vendas de US$ 27,3 bilhões no segundo trimestre fiscal encerrado em 30 de abril, levemente abaixo dos US$ 27,41 bilhões previstos por Wall Street. Reuters Nos EUA, a competição também extinguiu a cobrança. Embora os acordos de roaming entre as teles ainda existam, para os clientes o serviço não é tarifado de forma diferenciada No Brasil, segundo um executivo do setor, a receita com as tarifas de interconexão móvel (pagamento que uma tele faz pelo uso da rede de outra operadora) é mais importante que a do roaming Sessenta operadoras, de 40 países, discutem até hoje os desafios das telecomunicações na cidade de Porto Na UE, a competição entre operadoras móveis extinguiu o chamado adicional de deslocamento, cobrado quando o cliente origina ou recebe uma ligação fora de sua área de origem. As chamadas de longa distância dentro de um mesmo país também usualmente não são cobradas de forma diferenciada. No Brasil, já são rotineiras as ofertas que incluem ligações de longa distância on net (entre celulares de uma mesma operadora) sem custo adicional. A competição também foi responsável pela extinção na cobrança do roaming e do adicional deslocamento nos Estados Unidos. Embora os acordos de roaming entre operadoras continuem a existir, para os clientes o serviço não é tarifado de forma diferenciada, nem o consumidor é avisado por mensagens sobre o uso da rede celular de outra companhia. “O contrato diz apenas que a empresa tem cobertura nacional. Não interessa ao cliente se essa cobertura será feita com rede própria ou não”, resume Thomas Steagall, diretor de Consultoria e Integração da Ericsson para a América do Norte. No mercado móvel americano, onde um pacote de mil minutos é considerado pequeno, as chamadas de longa distância já não são cobradas de forma diferenciada, mesmo entre fixo e móvel. Além da competição entre companhias, a evolução tec- NÚMEROS 0,9% do PIB É o custo aos países da Europa da fragmentação no atendimento ao mercado, segundo relatório do Parlamento Europeu. Isso equivale a € 110 bilhões por ano. 300 mi É o número de novos clientes que devem passar a usar o serviço de roaming com o fim da cobrança. No ano passado, a redução em 35% nas taxas de roaming de dados fez com que a utilização do serviço crescesse mais de 100% nos países da UE. nológica foi outro fator que propiciou a mudança, principalmente a partir do advento da tecnologia de transmissão de voz sobre protocolo IP. “O Voip produziu uma queda muito forte de custo em relação à chamada telefônica tradicional”, compara Steagall. Para o executivo da Ericsson, o perfil das ofertas de serviços de telecomunicações também caminha nesta direção no mercado brasileiro, inclusive no que se refere ao fim da cobrança do roaming. “Não vai demorar muito”, acredita Steagall, que participa de um evento organizado pela WeDo Technologies em Portugal. Presente ao encontro, um executivo do setor brasileiro de telecomunicações garante que as receitas provenientes do roaming têm atualmente pouca relevância no faturamento das operadoras nacionais. Muito mais importantes, do ponto de vista financeiro, são os ganhos com as tarifas de interconexão móvel, remuneração que uma empresa de telefonia celular recebe pelo uso de sua rede. O VU-M (Valor de Uso Móvel), que já representou entre 40% e 45% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) dessas empresas, hoje equivale a 30%, informou o executivo, que prefere não se identificar. Com a convergência crescente de voz, dados e outros serviços, a tendência seria o final da tarifas de roaming numa escala mundial? Na avaliação de Mário Rosas, da WeDo, a resposta a esta questão depende da maturidade dos mercados. “Em mercados que continuam a crescer de forma acelerada, como o Brasil, não há a mesma pressão de competitividade que na Europa”, diz. O executivo acrescenta que a preocupação em baixar as tarifas para ampliar a base de clientes não é prioridade em todos os mercados. Comissão discute roaming no Brasil No mercado brasileiro, a cobrança de deslocamento da taxa de roaming dentro da rede de uma mesma operadora — na qual o consumidor paga uma taxa extra por ligações fora da área de registro — é um dos temas que está sendo discutido no Congresso. Na semana passada, o Grupo de Trabalho de Telefonia da Câmara dos Deputados conseguiu a aprovação para a criação de uma comissão especial que irá analisar quatro projetos de lei e um projeto de lei complementar que alteram pontos da Lei Geral de Telecomunicações, de 1997. Um dos projetos em questão propõe o fim da cobrança adicional da taxa de deslocamento de roaming. “Todos esses projetos de lei têm como objetivo reduzir os custos de telefonia do consumidor e melhorar a qualidade dos serviços no país. Sob esse ponto de vista, as taxas de roaming é um dos motivos que impulsionam esses custos”, afirma o deputado Jerônimo Goergen (PP/RS), um dos autores dos projetos. Indicado para presidir e ser o relator da comissão especial ao lado do deputado Edinho Bez (PMDB/SC), o parlamentar afirmou que a intenção é concluir a análise de todos os projetos até o fim do ano. “Nossa ideia é finalizar todos os trabalhos da comissão até o fim do ano, para que todas essas questões entrem em votação no início de 2015”, observa. Mais que a questão do roaming, o deputado diz que a proposta é fazer uma revisão geral da Lei Geral de Telecomunicações. “Quando a lei foi aprovada, sete anos atrás, o mercado era diferente. Você tinha apenas sinal de voz. Hoje, temos sinal de dados. A legislação está desatualizada”. Entre outras questões, a comissão especial irá tratar de propostas relacionadas a aspectos de infraestrutura, de defesa do consumidor e questões tributárias. A dificuldade para a instalação de antenas — um dos desafios para o avanço dos serviços de telefonia — é um dos pontos. Uma das propostas estabelece que as operadoras serão automaticamente autorizadas a instalar esses equipamentos caso os municípios não se manifestem em um prazo de 60 dias. Outro item é a isenção de PIS/Cofins nas tarifas de interconexão. Ataque hacker ao eBay deixa muitas perguntas no ar Divulgada na última quarta-feira, violação expôs dados de 145 milhões de usuários A descrição do eBay sobre como hackers tiveram acesso a todo seu banco de dados de 145 milhões de usuários registrados deixa muitas perguntas sem respostas de como os criminosos orquestraram o que parece ser a segunda maior violação de dados da história dos Estados Unidos. O ataque foi descoberto no início de maio e divulgado na última quarta-feira. A empresa disse que os hackers atacaram entre o final de fevereiro e início de março, com o login de credenciais obtidas de “um pequeno número” de funcionários. Eles, então, acessaram um banco de dados contendo todos os registros dos usuários e copiaram “uma grande parte” dessas credenciais. Especialistas em segurança e analistas de Wall Street querem saber como eles conseguiram essas credenciais e se os empregados de quem as informações foram usadas tinham o direito de acesso irrestrito ao banco de dados de usuários, que contém algumas das suas informações mais sensíveis. Como as credenciais de funcionários foram obtidas e se eles tinham acesso irrestrito ao banco de dados dos clientes são algumas das perguntas sem resposta “Eles têm sido extremamente discretos e quase não forneceram informações. Eles deveriam estar mais abertos sobre o que aconteceu”, disse David Kennedy, presidente-executivo da TrustedSEC LLC, especialista na investigação de violações de dados. Em particular, Kennedy quer saber porque o eBay demorou três meses para detectar a intrusão. Um porta-voz do FBI disse que o escritório está trabalhando com o eBay para investigar a quebra de segurança, mas se recusou a falar. A empresa de e-commerce disse que contratou a divisão forense da FireEye para ajudar com a sua análise. Um porta-voz da FireEye não quis comentar. Reuters 16 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 ▲ EMPRESAS Guerra fiscal por corte de ICMS chega ao setor aéreo Maioria dos estados brasileiros cobra alíquota de 25% sobre combustível de aviação Erica Ribeiro [email protected] A negociação pela redução do ICMS sobre o combustível de aviação (QAV) está levando alguns estados onde a alíquota ainda permanece na casa dos 25% a negociar alternativas que se revertam em aumento de voos nos aeroportos locais e, consequentemente maior movimentação turística, em troca de baixas significativas no imposto. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) que representa as quatro maiores companhias do mercado nacional, o QAV é um dos itens que mais pesa nos custos do setor e chega a 40% dos gastos totais das empresas. Na avaliação da Abear, a redução do ICMS sobre o QAV não afeta a arrecadação dos estados. Adalberto Febeliano, consultor técnico da Abear, lembra que os estados carregavam o peso dos impostos na aviação em detrimento de outros setores. “Porém, ao longo do tempo, os estados perceberam que os voos começaram a encolher, reduzin- do também a conectividade com outras localidades e automaticamente a geração de negócios. O Rio de Janeiro, que tinha uma alíquota de 30% de ICMS para o QAV, perdeu voos nacionais e internacionais. No governo de Rosinha Garotinho, o imposto chegou a 2% e está em 12%”, diz o especialista, acrescentando que, apesar de os voos internacionais não serem afetados pelo ICMS, custos altos deste imposto também afastam a movimentação no mercado internacional, já que sem voos domésticos não há alimentação de voos internacionais. Pouco mais de um ano após ter negociado a redução de ICMS sobre o QAV no Distrito Federal , de 25% para 12%, os resultados dessa mudança foram apresentados ontem pela Abear. O Aeroporto Internacional de Brasília ganhou 206 novos voos e duas companhias aéreas passaram a operar no terminal. Com isso, a malha aérea passou a ter também 36 novos voos internacionais. “Por conta da redução, houve uma alta de 28% no consumo do QAV neste aeroporto, de 95 mil pa- “ Ao longo do tempo, os estados perceberam que os voos começaram a encolher, reduzindo também a conectividade com outras localidades e, automaticamente, a geração de negócios” Adalberto Febeliano Consultor Técnico da Abear ra 122 mil metros cúbicos. A arrecadação não mudou muito. Era de R$ 56,7 milhões no primeiro trimestre de 2012 e passou para R$ 56,2 milhões no primeiro trimestre deste ano. Houve aumento da conectividade e de movimentação do aeroporto de Brasília”, destaca Febeliano. “Outros estados estão negociando, caso de Fortaleza, onde a redução do imposto está vinculada a um aumento de voos internacionais, o que já está em andamento com companhias como TAM e Avianca estudando novos destinos de Fortaleza para o exterior”, completa. No caso de São Paulo, o ICMS permanece em 25% e, pelo visto, não há interesse na redução do imposto. O estado é o que que mais concentra voos nacionais e internacionais no país e se tornou o hub (centro de distribuição de voos) das principais companhias nacionais. Segundo uma fonte do setor, a lógica de reduzir o ICMS para aumentar o número de voos não é atraente para o estado, que já tem sobrecarga de voos e precisa ampliar sua infraestrutura para dar conta da demanda atual. Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 17 Divulgação FERROVIA Odebrecht estuda operar ferrovia A Odebrecht Transport, empresa do grupo Odebrecht, avalia participar de leilões de ferrovias como operadora e não como concessionária, afirmou a diretora de logística da companhia, Juliana Baiardi, acrescentando que o interesse é em ferrovias com acesso a portos, mas que a empresa ainda espera as decisões do governo para tomar uma decisão. Reuters Novos negócios impulsionam crescimento da Invepar Italferr estuda abrir operação no Brasil Companhia de engenharia enxerga boas oportunidades locais nos serviços de consultoria às empresas interessadas no programa de concessões de ferrovias O grupo registrou alta de 15,4% no MetrôRio e 16% no GRU Airport. Rodovias também tiveram aumento Patricia Stavis Moacir Drska [email protected] São Paulo Dois anos depois de começar a dar seus primeiros passos no Brasil, a Italferr - empresa italiana de projetos de engenharia de ferrovias pertencente ao grupo estatal Ferrovie dello Stato - estuda fortalecer sua presença no país. Após enfrentar alguns contratempos no mercado brasileiro, a companhia está em processo de avaliação para a instalação de uma operação local, para que os negócios enfim encontrem sua trilha de crescimento. “Apesar de um cenário complexo desse ano, em virtude de uma série de fatores, o mercado brasileiro tem boas perspectivas de investimentos em malha ferroviária a partir de 2015. Precisamos dar um passo adiante agora para nos prepararmos para esse momento”, afirma Marco Stegher, diretor de desenvolvimento de mercado da Italferr para a América Latina. Segundo o executivo, duas alternativas estão em avaliação pela matriz italiana. A primeira e mais provável seria o investimento direto na estruturação da operação. A segunda opção envolveria a aquisição de uma empresa brasileira para acelerar a entrada no mercado. “Existe uma possibilidade de a operação local ser inaugurada ainda neste ano”, diz Stegher. “ O mercado brasileiro tem boas perspectivas de investimentos em malha ferroviária a partir de 2015. Precisamos dar um passo adiante agora para nos prepararmos para esse momento” Marco Stegher Diretor da Italferr para a AL A postura cautelosa tem explicação, em virtude das primeiras incursões da Italferr no Brasil. Com experiência em iniciativas de trem de alta velocidade (TAV), o projeto do trem bala Rio de Janeiro —São Paulo — Campinas foi o chamariz para a empresa. Em julho de 2013, o consórcio formado pela Italferr e a Geodata do Brasil foi o vencedor da licitação da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) para gerenciar o projeto executivo de engenharia do trem bala brasileiro. Os outros sete consórcios foram desclassificados no processo.“No entanto, em setembro, recebemos a notícia que o processo de licitação havia sido revogado, por razão de interesse público”, explica. Poucos meses antes, a Italferr já havia enfrentado a suspensão por tempo indeterminado da licitação que a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) promoveu para o projeto do Expresso Jundiaí. “Hoje, o sentimento da companhia com o Brasil está se ajustando. Temos uma visão mais realista, mas ainda positiva”, diz. Sob essa nova visão, um dos focos são os investimentos previstos no programa do governo de concessões de ferrovias. “Passamos a olhar o setor privado como um cliente potencial no país”. A empresa redirecionou sua estratégia para prestar serviços de consultoria aos potenciais concessionários privados que estão se preparando para participar desses processos. Com dois contratos já assinados no Brasil — o nome dos clientes não foi revelado —, sendo um na área de transporte de cargas e outro na área de passageiros, a Italferr aposta não apenas em sua experiência de engenharia em projetos desse porte, especialmente na Europa e no Oriente Médio. “O programa envolve concessões de longo prazo e passa por questões que precisam ser avaliadas, como os custos operacionais envolvidos e a necessidade de se adotar um padrão de interoperabilidade entre as ferrovias. Não há muito conhecimento local sobre esses temas. Por outro lado, esse é o nosso mercado”, afirma. Stegher acrescenta que essas parcerias abre m boas oportunidades para a participação posterior da Italferr nesses processos, caso as concessionárias atendidas assumam as concessões previstas. As mudanças no acesso ao centro do Rio de Janeiro em função das obras na região, a reabertura da estação General Osório em Ipanema — fechada provisoriamente para as obras da Linha 4 e reaberta em dezembro passado —, além da inauguração da estação Uruguai na Tijuca, ajudaram o MetrôRio a registrar um aumento de 15,4% no fluxo de passageiros em abril, na comparação com o mesmo mês de 2013, segundo a Invepar, grupo que atua no segmento de infraestrutura de transportes e responsável por administrar a operação do MetrôRio. A Invepar também administra a concessão do GRU Airport (Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo) e, no mês passado, registrou um movimento de pouco mais de três milhões de passageiros. O fluxo é 16% maior do que o registrado em abril de 2013. No mesmo período, houve ainda um aumento de 8,1% nas operações de pouso e decolagem no aeroporto. Este número foi impulsionado principalmente pelo aumento da demanda de voos domésticos, em decorrência das estratégias das companhias aéreas de concentrar tráfego em Guarulhos, o que consolida o aeroporto como um importante hub no país. Entretanto, houve uma redução de 4,1% na movimentação de carga, justificada pela empresa como reflexo do atual cenário macroeconômico. Em sua atuação no segmento de rodovias, a Invepar registrou no mês passado crescimento de 12,2% no tráfego consolidado de Veículos Equivalentes Pagantes (VEP), chegando a uma movimentação de 19,6 milhões de veículos no período. O crescimento em relação ao mesmo mês de 2013 foi influenciado principalmente pelo tráfego na Concessionária Litoral Norte (CLN), impulsionado pelo crescimento do turismo da região litorânea da Bahia; pela melhoria da via que faz parte da Concessionária Bahia Norte (CBN) além do início da prestação de serviços da Concessionária Rota do Atlântico (CRA). Também se destacaram no resultado a movimentação nas empresas Concessionária Auto Raposo Tavares (CART) e Vía Parque Rímac (VPR), em Lima, no Peru, que está em fase de consolidação de seus investimentos e é a primeira concessão internacional do grupo Invepar. 18 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Daniel Acker/Bloomberg ▲ EMPRESAS ALIMENTOS Unilever vende marcas para grupo japonês A Unilever vai vender as marcas Ragu e Bertolli, de molho para massas, para a fabricante de temperos japonesa Mizkan Group por US$ 2,15 bilhões em dinheiro, deixando-a mais próxima de concluir a reestruturação de seu negócio de alimentos na América do Norte. O negócio de molho para massas da Unilever teve volume anual de mais de US$ 600 milhões. Reuters Sony volta a prometer lucro Divisão de TV, há 11 anos sem lucro, terá unidade dedicada à produção de aparelhos 4K, de ultra definição Reuters/Yuya Shino Kazuo Hirai está fazendo a mesma promessa que a Sony Corp. não pôde cumprir nos dois últimos anos: a unidade de TVs, que está em dificuldades, voltará a gerar lucro. O CEO disse hoje que as medidas que ele está implementando, incluindo cortar quase US$ 1 bilhão ao ano em custos, ajudarão a gerar o primeiro lucro na fabricação de televisores em 11 anos. Ele fez a mesma promessa no ano passado e a divisão perdeu 25,7 bilhões de ienes (US$ 253 milhões). A japonesa tem como meta um lucro operacional de 400 bilhões de ienes até o fim de março de 2016, impulsionado pela criação de uma nova unidade no setor de TV, segundo divulgou ontem, em Tóquio. A companhia também buscará reduzir US$ 300 milhões em custos em sua divisão de filmes no mesmo período. As ações da empresa negociadas na Alemanha subiram, embora a meta tenha sido vista com ceticismo. “A Sony não será capaz de cumprir sua previsão de lucro operacional de 400 milhões de ienes no próximo ano fiscal”, disse Makoto Kikuchi, CEO da Myojo Asset Management. “Ela já repetiu essas previsões otimistas várias vezes no passado”. A fabricante de TVs número 1 do Japão prevê inesperados 50 bilhões de ienes em perdas líquidas neste ano porque a queda da demanda por seus aparelhos e suas câmeras de vídeo foi agravada pelos custos de reestruturação e saída do negócio de computadores pessoais. Isso representa um retrocesso maior nos planos de Hirai para recuperar esse ícone japonês usando os consoles PlayStation e os smartphones Xperia para atrair consumidores da Apple e da Samsung. A economia virá com um corte de 20% nos custos totais nas unidades de vendas de eletrônicos e com uma redução de despesa das sedes e de funções de apoio até o ano-fiscal 2015, disse a Sony. A empresa espera completar sua saída do negócio de PCs e as outras reformas neste ano-fiscal. “Uma vez que cheguemos a isso poderemos criar uma nova Sony, capaz de impressionar nossos clientes novamente”, disse Hirai. Perdas com PCs e cisão na unidade de TVs A Sony prevê 135 bilhões de ienes em despesas, neste ano, relaciona- Há alguns pontos positivos para a Sony. O PS4 bateu o Xbox One, da Microsoft , e em abril, pelo quarto mês seguido, ficou em primeiro lugar na venda de consoles nos Estados Unidos Hirai, CEOda Sony: reestruturação de US$1 bi edúvidasdo mercado das à reestruturação e à saída do negócio de PCs. E projeta uma perda de 80 bilhões de ienes na unidade de PCs, valor que inclui 36 bilhões de ienes em perdas relacionadas à saída do negócio, disse a companhia em 14 de maio. A Sony anteriormente concordou em vender sua divisão de PCs, que produz notebooks com a marca Vaio, para comprar a totalidade da marca Japan Industrial Partners Inc. A Sony planeja dividir sua unidade de fabricação de TVs e formar uma entidade operacional separada. A divisão é focada nos chamados aparelhos 4K, que são ultra HD, e engloba a venda de 16 milhões de TVs com tela de cristal líquido no ano que termina em março, contra 13,5 milhões de televisores no ano passado. Há alguns pontos positivos para a Sony. O PS4 bateu o Xbox One, da Microsoft Corp., e em abril, pelo quarto mês seguido, ficou novamente em primeiro lugar na venda de consoles nos EUA, segundo a NPD Group Inc., que tem sede em Port Washington, Nova York. Jogos como o Killzone Shadow Fall, exclusivo do PS4, estão impulsionando a demanda. O filme “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro”, lançado neste mês nos EUA, arrecadou US$ 633 milhões em bilheteria em todo o mundo até 20 de maio, segundo o site Box Office Mojo, citando um valor da receita que é dividida com as salas de cinema. O filme, que custou US$ 200 milhões para ser produzido, segundo o Imdb.com, provavelmente será lucrativo, segundo Wade Holden, analista de pesquisas da SNL Kagan. Bloomberg Com a compra da DirecTV, AT&T deve aquecer disputa entre teles no Brasil Especialistas apontam que empresa mira a aquisição da TIM ou da GVT para fortalecer oferta de combo Após adquirir a empresa de TV paga DirecTV e aumentar sua presença no Brasil, a operadora norte-americana AT&T deverá oferecer, no longo prazo, serviços de banda larga fixa e Internet móvel, desafiando grupos de telefonia já estabelecidos no país. Para analistas e especialistas, a AT&T surge com força, inclusive, como potencial interessada em comprar a TIM Participações ou a GVT, caso uma dessas companhias seja colocada à venda por seu controlador, a Telecom Italia e o grupo francês Vivendi, respectivamente. No último domingo, a AT&T anunciou proposta de compra da DirecTV nos EUA por US$ 48,5 bilhões. Caso seja aprovada pelas autoridades regulatórias, ela passará a ser dona da companhia que no Brasil detém 93% da Sky. “A TV por assinatura é ponto de entrada importante,masé muitodifícil de se sustentar sozinho. É necessário verticalizar serviços”, afirmou o analista Lucas Marins, da corretora Ativa. Para ele, a aquisição da DirecTV fará a AT&T entrar no mercado de telecomunicações brasileiro “pela porta da frente”, em um segmento de forte crescimento. Números da Anatel mostram que somente em abril houve adição de 170 mil novas assinaturas de TV paga no país. O analista aposta que a AT&T não se contentará em ficar apenas no mercado de televisão por assinatura, realizando incursões no segmento de banda larga fixa e até eventualmente na telefonia móvel. Uma fonte próxima ao setor de telecomunicações que não quis se identificar concorda com essa avaliação. Segundo a fonte, a AT&T deverá seguir os concorrentes e oferecer pacotes de serviços que incluam banda larga fixa para poder crescer no mercado. “A Sky é uma empresa com foco só em TV paga, tendo dificuldade maior para vender pacotes”, declarou. “Com a junção de AT&T e Sky/DirecTV, surge uma empresa com capacidade de oferecer serviços mais diversificados”, disse a fonte, lembrando que atualmente a atuação da AT&T no Brasil é limitada a clientes corporativos. Opresidente da consultoria Tele- co, Eduardo Tude, avalia que qualquer ação da AT&T para ampliar sua presença no mercado brasileiro só deve acontecer, porém, após a consolidação de seus negócios com os da DirecTV nos EUA, o que pode levar de dois a três anos. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de abril, a Sky/DirecTV é vicelíder no setor de TV paga no Brasil, com participação de 29,66% e 5,51 milhões de assinantes. Em primeiro lugar está a mexicana Telmex (Claro/Embratel/Net), com fatia de 53,58%, ou 9,95 milhões de clientes. Reuters Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 19 ESTILO S/A MARCIA DISITZER [email protected] Fotos Chiara Gadaleta Poltrona com tecido de mestre Gustavo Silvestre, estilista Jana Rosa, apresentadora Marina Sanvicente, empresária de moda O estilista Alexandre Herchcovitch lançou uma nova linha de mobiliário com a Micasa. A coleção tem móveis, como aparadores e mesas de apoio, e inclui uma linha de tecidos. A poltrona acima tem design Micasa e é revestida com tecido Alexandre Herchcovitch. Por R$ 5.820. www.micasa.com.br. Karlla Girotto, estilista ECOS DA MODA H Inspiração que vem da Amazônia Daniel Klajmic oje e amanhã acontece a quarta edição do SP Ecoera, das 10h às 19h, no Museu A Casa (Avenida Pedroso de Morais 1234, Pinheiros, SP). O evento, idealizado por Chiara Gadaleta (E), tem como objetivo discutir questões sociais e ambientais do universo da moda, do design e da beleza. Nesta edição, Chiara — que já atuou como modelo, stylist e chegou a ter uma grife de bijus — faz um manifesto. “Quero que as pessoas se posicionem. Cabe ao consumidor fazer a escolha certa. Por isso, convidamos mais de 50 personalidades para participarem da campanha 'Qual é a moda que te representa?, vestindo a nossa camiseta”, explica. As fotos invadiram as redes sociais com as hashtags #manifestomodabrasil e #escolhacerta. A programação de hoje conta com desfiles coletivos, às 11h, de 11 marcas sustentáveis, como Gustavo Silvestre (crochê), My Basic (fios com certificado ecológico) e Será o Benedito (grife masculina que reaproveita lonas de caminhão descartadas). Amanhã, o destaque é o lançamento, às 11h, do Projeto Fashion Revolution Brasil, que vai conectar o o mercado sustentável brasileiro com o global. Chiara conta que o mundo se abriu para ela em 2008, quando começou a conhecer de perto o desperdício têxtil e o trabalho escravo dentro da indústria de moda. “Foi aí que quis ser a voz da minha comunidade”, diz ela. Para participar do evento, basta se inscrever no site www.ecoera.com.br. O colar de semente de açaí é assinado pela designer amazonense Maria Oiticica e mistura materiais naturais com dourado. O colar é um espetáculo. Por R$ 430. No Shopping Leblon, 1º piso, RJ. Vinte anos de um modelo icônico O modelo Le Pliage da Longchamp completa 20 anos e a grife francesa está em festa. A bolsa ao lado tem edição limitada e é o mais recente resultado da parceria da empresa com o designer Jeremy Scott. Preço sob consulta. Shopping JK Iguatemi, SP. ■ Fred Weissmann e Manu Andrade acabam de lançar uma novidade no restaurante Jaeé (RJ): cardápio de saladas com massas sem glúten. ■ Na clínica da dermatologista Karla Assed (21-3202-4650) faz sucesso o iLipo, tratamento que combate, por meio do laser diodo, gorduras localizadas e celulites. ■A 'Inequecível Casamento' é a revista oficial do evento 'Luxo de Festa', que acontece até domingo, em Brasília. ■ No salão Éclat (21-2287-4608), o tratamento à base de champanhe promete energizar o couro cabeludo e remover a oleosidade dos fios. ■ Acabam de ser lançados os perfumes Karl Lagerfeld eau de toilette for men e eau de parfum for women. A fragrância masculina apresenta uma variedade aromática de samambaia; já a feminina é floral verde. A partir de R$ 179 cada. 0800-970-9877. ■ Quarta-feira, a marca carioca Addict lança em sua loja do Leblon (Rua Aristides Espínola 64, Leblon, RJ) uma linha de camisetas inspirada nas principais obras do artista Helio Oiticica. As peças foram desenvolvidas em parceria com Cesar Oiticica e João Vilhena, idealizadores do documentário 'Helio Oiticica'. Fotos Divulgação PONTO A PONTO Cooler vintage e muito roqueiro O cooler da Cia Vintage tem pegada roqueira e garante bebida gelada sempre. Por R$ 750. www.ciavintage.com. Coluna publicada às sextas-feiras 20 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 FINANÇAS ▲ Editora: Eliane Velloso [email protected] Marcelo Loureiro [email protected] Léa De Luca [email protected] No álbum de um ano do processo de normalização monetária nos Estados Unidos, a última figurinha ainda gera expectativas. Desde que o então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sinalizou o desmonte do programa de estímulos (quantitative easing), os agentes econômicos esperam pela alta dos juros nos Estados Unidos, espalhando volatilidade pelos países emergentes, que passaram os últimos 12 meses tentando atrair e manter o capital externo num cenário com menos liquidez. O Brasil, que nos primeiros meses viu o dólar saltar de R$ 2,05 para R$ 2,45, comemora agora o câmbio em torno de R$ 2,2, após a atuação eficaz do Banco Central movimentar o equivalente a mais de R$ 100 bilhões no mercado de derivativos. Mas ainda falta o último passo, a normalização na taxa de juros norte-americana — entre os artificiais zero e 0,25%, atualmente —, o que vai deixar os títulos do Tesouro dos Estados Unidos (treasuries) mais atraentes e provocar nova pressão sobre o real. No álbum do Fed, alta do juro é figura que falta Há um ano, o desmonte do programa de expansão da liquidez nos EUA começou a afetar o real, que em 2014 se recuperou. A preocupação agora é o aumento no retorno dos treasuries “Naturalmente, o Brasil e outros países dessa categoria vão sofrer quando o juro norte-americano subir. Veremos uma mudança no fluxo cambial quando isso acontecer”, acredita Mauro Schneider, economista-chefe da corretora CGD Securities. “Mas como o mercado costuma adiantar movimentos, é possível que uma comunicação do Fed nos próximos meses sobre a iminência da correção dos treasuries possa trazer volatilidade antes mesmo do aperto nos juros”, disse Schneider, lembrando que a comunicação do Fed tem sido muito boa até agora. “Espero que ela continue sendo eficiente porque os desafios são novos e o que acontecerá a partir de agora é “ Naturalmente, o Brasil e outros países dessa categoria vão sofrer quando o juro norte-americano subir. Veremos uma mudança no fluxo cambial quando isso acontecer” Mauro Schneider Economista-chefe da CGD Securities 3/JUL/2013 O Ibovespa despenca para 45.044 pontos, com a perspectiva de fuga de investidores após o fim do programa expansionista do Fed inédito. É a primeira vez que o Fed sairá de anos de excesso de liquidez e de décadas com juros tão baixos”, contextualiza Schneider. Adriana Dupita, economista do Santander, acredita que a situação do câmbio atual é mais tranquila do que no início do ano, quando a moeda chegou a R$ 2,43 e parte dos especialistas acreditava que a divisa poderia se aproximar de R$ 2,9. O repique da moeda ocorreu junto ao início de fato do tapering, em janeiro, quando o Fed cortou os primeiros US$ 10 bilhões. Como figurinhas repetidas, o Fed anunciou quatro cortes idênticos na sequência, deixando o quantitative easing atualmente em US$ 45 bilhões. Mesmo com a mudança no comando do Fed, que em fevereiro passou a ser comandado por Janet Yellen — a primeira presidente mu- Dólar R$ 2,45 R$ 2,05 nke Ben Berna 21 e 22/AGO/ 2013 O dólar atinge a cotação máxima de R$ 2,45, uma das maiores desvalorizações entre os emergentes; o BC lança programa de leilões de swap cambial para evitar volatilidades 22/MAI/2013 R$ 2,05 56.429 pontos Discurso do então presidente do Fed, Ben Bernanke, sinaliza o início do "tapering", a redução do programa de estímulo do Fed, que injetava US$ 85 bilhões por mês na economia dos EUA Bovespa 50.405 5 45.044 Ibovespa Alexandre Tombini, presidente do BC lher em 100 anos de história da instituição —, não restam muitas dúvidas quanto à cadência do desmonte; o pacote que resta fechado guarda a data do ajuste nos juros e a consequência disso para o Brasil. “Acredito que a alta dos juros nos Estados Unidos virá no primeiro semestre de 2015, mas o mercado vai tentar se adiantar ao Fed, levando recursos para lá antes mesmo do anúncio. Uma das consequências desse movimento é o real perder valor. Esse patamar de R$ 2,2 não veio para ficar”, crava Adriana. “Não acreditava que o dólar romperia a barreira dos R$ 2,9 no começo do ano nem que vai abaixo de R$ 2,2 agora”. Olhandoopassado,Adriana consegue enxergar ganhos nos 12 meses de convivência com o tapering. “O discurso do Bernanke foi um Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 21 Murillo Constantino CORREÇÃO DA POUPANÇA Bancos recorrerão de decisão do STJ A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou ontem que os bancos vão recorrer da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em favor de correntistas em casos de perdas geradas por planos econômicos das décadas de 1980 e 1990 no rendimento da poupança. Em nota, a entidade afirmou que os bancos vão interpor junto ao próprio STJ o recurso de “embargos de declaração”. Reuters “ Mais recentemente temos observado certo arrefecimento da demanda (por swap). Investidores não residentes reduziram ligeiramente a busca por essa proteção” Alexandre Tombini Presidente do Banco Central 19/DEZ/2013 Fed, enfim, confirma o início da redução do programa de estímulos para janeiro de 2014, com cortes mensais de US$ 10 bilhões alerta, umestalopara oBrasilentender que esse período de liquidez exuberante não duraria para sempre. Mostrou que não éramos tão competitivos, algo que as empresas já sabiam. Criou a percepção de que oBrasil teria de lidar com uma liquidez inferior no mundo,que nos exigirá mais competitividade para trazer recursos”, recorda Adriana. A passagem pela novidade não foi incólume. “Como o real é a mais líquida das moedas dos emergentes, investidores que procuram esse tipo de país se posicionam na nossa divisa, o que acaba trazendo mais volatilidade em momentos assim. Por isso tivemos muita emoção no período”. A forma encontrada pelo BC para enfrentar a volatilidade foi elogiada por Adriana. “Sou bastante favorável ao programa de swap cambial feito pelo banco porque esses derivativos atuam como amortecedores para aqueles setores da economia que têm custos ou receitas em dólar. Foi muito inteligente da parte do nosso BC usar swaps e não a reserva cambial”, destacou. “É fato que aumenta a exposição da nossa dívida, mas ainda há muito espaço até o limite. Como o real vem se apreciando, o banco vem inclusive ganhando com essa estratégia. O mais inteligente do programa é que os contratos são curtos. Se o cenário mudar, é só não rolar a totalidade dos swaps. É o que tem acontecido; quase metade dos swaps não serão rolados esse mês”. Apesar do sucesso do programa, é possível que ele não perdure até a subida dos juros nos Estados Unidos. Com validade até 30 de junho, as rações diárias talvez estejamperdendo força no BC. “Maisrecentemente temos observado certo arrefecimento da demanda”, afirmou Alexandre Tombini, presidente da autoridade monetária durante evento em São Paulo. “Por um lado, swaps continuam sendo canalizados para empresas não financeiras e fundos de investimentos. Por outro, investidores não residentes reduziram ligeiramente a busca por essa proteção”, explicou. Até a fala de Tombini, o dólar caia mais uma vez; após se apreciou até fechar o dia em leve alta de 0,24%, a R$ 2,22. O programa de intervenções teve início em 22 de agosto passado, quando o dólar estava em R$ 2,43. Naquele momento, o BC ofertava todos os dias até 10 mil contratos de swaps, com exceção das sextasfeiras, quando fazia leilões de venda de dólares com compromisso de recompra, conhecidos como leilão de linha. No início deste ano, com o dólar mais comportado a R$ 2,35 e com o gradualismo do corte promovido pelo Fed, o BC reduziu a intervenção. Passou a fazer leilões diários apenas de swaps cambiais, com apenas 4 mil contratos por dia, prometendo atuar assim até 30 de junho. Mas, nos últimos dois meses, rolou apenas 75% dos contratos vencidos. A proporção caiu para 50% nos últimos dias. Tombini, contudo, destacou que as intervenções no mercado de câmbio foram bem “ Acredito que a alta dos juros nos Estados Unidos virá no primeiro semestre de 2015, mas o mercado vai tentar se adiantar ao Fed, levando recursos para lá antes mesmo do anúncio” Adriana Dupita Economista do Santander sucedidas e reduziram a volatilidade da economia brasileira, cumprindo seu papel. Mesmo que o programa de swap não seja mantido, Adriana acredita que o Brasil chega mais forte para enfrentar a competição por recursos provocada pelo aumento de juros nos Estados Unidos do que esteve em outros momentos delicados da história recente. “Parabenizo o BC por ter aproveitado os anos de liquidez para formar essas reservas internacionais. A variável mais importante para evitar contaminação de crises internacionais. Passamos anos questionando o custo dos juros de uma reserva tão grande. A reserva é cara até aparecer a primeira crise, aí ela vira um ótimo investimento”. Persio Arida, sócio do BTG Pactual e co-head da área de gestão de recursos do banco, concorda que o novo cenário terá impacto no Brasil. Mas não necessariamente será negativo. "Como vai evoluir para a frente, depende. É óbvio que a normalização nos EUA é um perigo. Mas talvez não seja tão radical quanto se imaginava, o que é bom. Hoje, o cenário atual é surpreendentemente bom para o Brasil", acredita. Para Arida, a grande surpresa deste ano é a queda dos juros dos treasuries, uma vez que todo mundo esperava uma alta quando o país começou a reduzir a compra de títulos para estimular a economia. "Para o Brasil não poderia haver situação mais favorável: recuperação dos EUA com juros em baixa", disse em evento promovido ontem pela Bloomberg. R$ 2,4371 R$ 2,3503 d nos Edifício do Fe R$ 2,2105 2,,210 05 EUA 3/FEV/ 2014 Janet Yellen assume a presidência do o Fed no lugar de e Ben Bernanke e passa a conduzir o desmonte do programa expansionista do banco centr ral central norte-american no norte-americano Janet Yellen 51.633 46 6 46.147 52,20 03 52,203 Editoria de Arte/Fernando Alvarus 21/MAI/2014 O Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc) do Fed divulga ata sinalizando que já discute como fará para iniciar a alta da taxa de juros após o fim do programa de estímulos 22 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Rodrigo Capote ▲ FINANÇAS NOVA EMPRESA Ex-executivos do Citigroup abrem MKP Três ex-executivos do Citigroup Inc. abriram uma empresa de assessoria para fusões para lucrar com o auemnto de negócios na maior economia da América Latina. Gustavo Marin, ex- CEO do banco no Brasil, fundou a MKP Assessoria e Gestão com André Kok, ex-chefe de banco de investimento e de banco corporativo, e David Panico, que foi codiretor do negócio de banco de investimento em NY. ‘Sou otimista no longo prazo’ Presidente do Itaú diz que crescimento e inflação logo voltarão ao normal e que não está adiando investimentos Patricia Stavis Léa De Luca [email protected] São Paulo O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, manifestou ontem otimismo com a economia do país no longo prazo, prevendo a melhora dos problemas pelos quais o Brasil passa atualmente. Durante evento promovido pela Bloomberg em São Paulo, Setúbal disse que acredita na redução da inflação e nan retomada do crescimento. “Estava mais preocupado com a inflação há seis meses. Acho que o Banco Central está fazendo um bom trabalho e ela logo voltará ao normal. O crescimento não está como queremos mas logo estará”, afirmou Setúbal. O presidente do maior banco privado do país disse que está mais preocupado com o cenário externo do que com o interno. “Todos os emergentes estão sofrendo”, diz. “Os brasileiros tem a mania de achar que a culpa é só do governo, mas o cenário externo não está favorável a emergentes, principalmente com a recuperação econômica dos Estados Unidos”, acrescentou. A sucessão presidencial, segundo Setúbal, não muda planos de negócios da instituição no país. “Não estamos adiando investimentos por causa das eleições. O Brasil é maior do que quatro anos. Seja qual for o governo em quatro anos teremos outra eleição, e depois outra. Estamos sempre olhando para oportunidades”, disse. Independentemente da conjuntura, Setubal vê o negócio de banco no limiar de uma radical mu- dança nos próximos anos. “Os maiores direcionadores dessa mudança são a regulamentação e a tecnologia”, diz. A tecnologia influencia muito o segmento de varejo. E a regulamentação, que está exigindo mais capital, vai tornar mais difícil para os bancos manter sua rentabilidade — quanto mais capital, mais será preciso “trabalhar” para remunerá-lo. Aexigência de capitala que serefere são as regras de Basileia III, a terceira fase do acordo internacional de capitais do setor bancário. “Estou preocupado com o que está em discussão. Os bancos tem que ser capazes de ter capital em conformidade com o risco que carregam. Mas limitar alavancagem e o uso de modelos internos de avaliação de risco pode ser um problema”, diz. Ao alocar mais capital, os bancos vão ter que deixar de investir em áreas e regiões geográficas on- “ A tecnologia está mudando o banco de varejo. Aqui no Brasil a abertura de novas agências ainda está em alta. Mas acredito que em dois ou três anos, veremos uma reversão dessa tendência” Roberto Setubal Presidente do Itaú Unibanco Setubal, do Itaú: ”Estou mais preocupado com o cenário externo” de não tem expertise nem vantagens competitivas, pois vai ficar mais caro sustentar as ineficiências, explica. Com isso, o banqueiro acredita que vão surgir mais oportunidades para o Itaú comprar outras instituições e/ou outros negócios. Outra oportunidade que deve surgir com o aumento de capital é o desenvolvimento do mercado de capitais: “Crédito corporate, para grandes empresas, vai passar a pesar muito no balanço, será preciso recorrer a outras alternativas”,disse. Fora do Brasil — “que cresce pouco” — Setubal vê mais oportunidades na América Latina e não vê vantagens em investir na Europa e nos Estados Unidos. O executivo diz que nos EUA tem mais oportunidades, “pois o mercado ainda está em consolidação — mas é um mercado muito competitivo”, diz. “Mas não estamos desanimados com o Brasil. O PIB cresce, 2%, mas o crédito ainda cresce bem mais”, diz, afirmando que no imobiliário, especificamente, o Itaú continuará aumentando a um ritmo de 30% ao ano. Já no financiamento ao consumo, vê limites para endividamento e, com o aumento dos riscos, os bancos estão exigindo mais garantias. Em relação a revolução provocada pela tecnologia, Setubal lembra que os novos meios de pagamento e da mobilidade estão crescendo muito rápido. E faz uma profecia: “Aqui no Brasil a abertura de novas agências ainda estão em alta. Mas acredito que em dois ou três anos, veremos uma reversão dessa tendência”. Para Arida, problemas do Brasil são internos Patricia Stavis Sócio do BTG Pactual cita ‘contabilidade criativa’ e inflação alta como razões para mau-humor com país Marco regulatório instável, sujeito a mudanças abruptas; inflação alta, “contabilidade criativa” nas contas públicas e clima geral de insatisfação da sociedade. Para Persio Arida, sócio e co-head do departamento de gestão de recursos do Banco BTG Pactual, são essas as razões que estão por trás do atual mau-humor da comunidade financeira internacional e do empresariado local com o Brasil. “Poderíamos dizer que nossos problemas são causados por fato- Arida, do BTG: ‘Com BC independente juros precisam subir menos’ res desfavoráveis no mercado externo. Mas não é o caso. Os problemas do Brasil são internos”, diz. “A situação fiscal atual é insustentável a longo prazo, seria preciso estabelecer uma meta, uma regra para restaurar a credibilidade e trazer de volta a confiança ao Brasil”, disse ontem, em evento promovido pela Bloomberg em São Paulo. As constantes mudanças de regras na forma de calcular os gastos do governo são, para Arida, um problema também porque acabaram tirando a credibilidade da série histórica do indicador. Para Arida, também, há ainda um conjunto de incertezas em função da troca de governo — o que não é bom para os investidores estrangeiros em carteira. Mas o executivo faz uma ressalva: o investidor do setor real é menos sensível, pois tem uma visão mais de longo prazo. Para esses, é a taxa de crescimento que importa. Persio Arida, que foi presidente do Banco Central do Brasil entre janeiro e junho de 1995, disse ainda ser favorável a transformar a entidade independente no Brasil. “BC independente tem mais credibilidade. Com risco de intervenção política afastado, as expectativas ficam ancoradas e as taxas de juros precisam subir menos. Com isso não só o governo mas toda a sociedade tem custo de financiamento mais baixo”. Léa De Luca Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 23 O MERCADO COMO ELE É... LUIZ SÉRGIO GUIMARÃES [email protected] ACENO DE MUDANÇA PUXA DÓLAR Editoria de Arte O mercado de câmbio brasileiro teve ontem duas justificativas domésticas para puxar o dólar para cima. A primeira decorreu de uma frustração, o avanço da preferência do eleitor por Dilma Rousseff. A segunda, de uma obviedade técnica: o Banco Central se prepara para mudar, ou mesmo extinguir, seu programa de intervenção cambial. O dólar fechou cotado a R$ 2,2157, em valorização de 0,24%. No mercado futuro de juros, os investidores prosseguiram no realinhamento para baixo de suas estimativas de taxas. Cada vez mais o pregão se convence de que a anemia econômica não recomenda ao BC outra decisão a não ser congelar a Selic em 11% por um longo período, segundo mandato adentro. A pesquisa de intenções de voto feita por conta própria pelo Ibope foi precedida, no início da semana, por um boato e por um contraboato. O primeiro foi que a opção pela candidata petista ainda não oficializada cairia a ponto de exigir um segundo turno. Completamente oposto, o segundo foi que subiria, dispensando a reconsulta. Venceu este último. A pesquisa de ontem mostrou a recuperação da candidata. Depois de cair de 40% em março para 37% em abril, Dilma voltou aos 40% agora. Como a soma dos demais postulantes atinge 36%, levaria já no primeiro turno, um feito não logrado pelo seu padrinho político. Como a margem de erro, em todos os casos, é de dois pontos, na pior hipótese Dilma ficaria com 38%, e os demais candidatos, na melhor, também com 38%. O trabalho do Ibope não foi inteiramente decepcionante para o mercado porque a candidatura de Aécio Neves persiste conquistando terreno. A opção pelo senador subiu de 13% em março para 14% em abril e para 20% agora. Ganhou seis pontos. O ex-governador pernambucano Eduardo Campos avançou cinco, passando de 6% em março e abril para 11% em maio. A esperança do mercado está depositada no início do horário eleitoral obrigatório. Torce por um atropelo avassalador do tucano. Mas não dá para apostar dinheiro nisso. O que deve ser feito é a construção de proteções cambiais para a hipótese hoje mais provável, a vitória de Dilma no primeiro ou no segundo turno. É aí que entra o BC e o seu programa de intervenção cambial. Tópicos cambiais inseridos no discurso feito ontem pelo presidente Alexandre Tombini em seminário foram interpretados pelos investidores como sinais preparatórios ao anúncio de alterações nos mecanismos de fornecimento de hedge. Embora ressalte a importância dos instrumentos para assegurar um horizonte de previsibilidade aos tomadores, Tombini disse já ter notado um arrefecimento na procura por hedge, sobretudo do demandado pelos investidores estrangeiros. A demanda hoje está mais concentrada nas empresas não financeiras, com dívidas em moeda americana, e nos fundos de investimentos. A observação é muito importante, uma vez que o player historicamente capaz de promover arruaças especulativas no câmbio, os hedge funds globais, está fora do mercado. “O programa tem sido bem-sucedido para distencionar o mercado de câmbio, contribuindo para a redução dos prêmios de risco”, congratulou-se. A demanda pelos swaps cambiais vem se reduzindo desde março. A febre especulativa que ardeu nos mercados emergentes entre o fim de janeiro e o início de fevereiro dissipou-se completamente. Tanto é que ontem o banco central da Turquia baixou o seu juro básico, que havia sido elevado a 10% durante o surto febril, para 9,5%. A Turquia fez o choque de juros mais para atrair capitais externos e menos para combater a inflação. Não é o caso brasileiro. Por isso, não se espere que o Copom venha logo a seguir o exemplo turco e diminuir a Selic. O BC maneja o câmbio hoje mais por meio dos instrumentos diretos de intervenção do que pelo uso da taxa de juros. Em conformidade com o menor interesse por proteção cambial, o BC reduz desde março a oferta de swaps especificamente destinados a rolar os que vencerão. Em março e abril, rolou cerca de 75% do volume a vencer, percentual que baixou para 51% em maio. Mas não mexeu nos termos formais do seu programa. Desde janeiro leiloa por semana US$ 1 bilhão em swaps novos, metade da oferta do compromisso original, firmado em agosto. A tendência é de o BC não pôr um fim explícito ao programa. Seria muito embaraçoso ter de voltar atrás no segundo semestre caso a febre retorne. Mas deverá cortar de novo a oferta primária. Pela metade como fez em dezembro? Provavelmente. A sintonia da taxa de câmbio será feita no dia a dia por meio do manejo da oferta de rolagem dos contratos a vencer. Ou seja, trata-se de uma continuidade do que está sendo feito hoje, mas em observância das imposições de cada momento peculiar do mercado. O BC deve fechar um pouco as janelas, mas mantendo desbloqueadas todas as saídas de emergência. A gestão Tombini nunca dá um passo do qual não possa se arrepender se as condições mudarem. Por enquanto, as condições externas não enviam nenhum sinal de alteração: boa disposição de compra de ativos de emergentes porque os indicadores americanos persistem desarmônicos, necessidade de reforço à liquidez europeia e promessa de recuperação da China. Indicadores muito fortes nos EUA poderiam sobrepujar as boas notícias vindas da Europa e da China. Mas não foi o que aconteceu ontem. O crescimento dos EUA atenuou-se em abril, segundo o índice de atividade nacional calculado pela regional de Chicago do Fed. Após subir 0,34 em março, caiu 0,32 em abril. Valores negativos indicam que a economia está se expandindo abaixo da média histórica. Outros dois indicadores vieram um pouco mais positivos. O índice de indicadores an- tecedentes do Conference Board subiu 0,4% no mês passado, enquanto as vendas de imóveis residenciais usados cresceram 1,3% também em abril. Já foi suficiente para a taxa da T-Note de 10 anos subiu de 2,54% para 2,55%. O melhor dado do dia veio do outro lado do mundo. O PMI chinês subiu de 48,1 em abril para 49,7 em maio, ante expectativa de alta leve para 48,3. As medidas que visam ajustar a economia à meta de crescimento oficial de 7,5% este ano parecem ter começado a surtir resultado. A alta do dólar, como não refletiu fatores externos, não suavizou a queda dos juros futuros. Também não serviu de paraquedas o recuo da taxa de desemprego de 5% em março para 4,9% em abril, pois decorreu de um encolhimento de 0,8% da população economicamente ativa. Fez mais preço o desânimo dos empresários. A FGV constatou uma baixa de 4,6% na confiança da indústria, a quinta queda consecutiva. Praticamente todo dia sai um dado negativo da área industrial. Não basta para reacender o “espírito animal” dos empresários a manutenção do juro por longo período. Mas já é um começo. A taxa para a virada do ano caiu de 10,92% para 10,89%. E para janeiro de 2017 de 11,92% para 11,81%. 24 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 25 ▲ FINANÇAS FORMAÇÃO DE MERCADO GoldmanSachs vende operações para IMC O Goldman Sachs venderá, por US$ 30 milhões, os direitos de operar como formador de mercado de mais de 600 papéis listados na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) à empresa holandesa de negociação de alta frequência IMC Financial Markets. A IMC é uma das maiores empresas do setor do mundo e opera em mais de 100 bolsas de valores, como a Nyse, Nasdaq, Bats e CBOE, entre outras. Com Reuters Yasuyoshi Chiba/AFP Eldorado Brasil Celulose S.A. Companhia Aberta CNPJ/MF nº 07.401.436/0002-12 - NIRE: 35.300.444.728 Ficam os Senhores Acionistas da (“Cia.”) convocados para se reunirem, no dia 06/06/2014, às 10h, em AGE, na sede social da Cia., localizada no Estado de São Paulo/SP, na Rua General Furtado do Nascimento n° 66, Alto de Pinheiros, CEP 05465-070, a fim de deliberar sobre a alteração do Art. 15 do Estatuto Social da Cia., para inserir novo inciso em referido artigo. Informações Gerais: Os documentos e informações contidos neste edital e os demais previstos na Instrução CVM n° 480/2009, foram apresentados à CVM, por meio do Sistema IPE, nos termos do Art. 31 de referida Instrução, e encontram-se à disposição dos Srs. Acionistas na sede social da Cia., no seu site (www.eldoradobrasil. com.br) e no site da CVM (www.cvm.gov.br). São Paulo, 22/05/2014. Joesley Mendonça Batista Presidente do Conselho de Administração. O Ibovespa subiu 1,15%, a 52.806 pontos, com giro financeiro de R$ 5,7 bilhões Ibovespa sobe 1% apoiado em Vale e reação de bancos Valorização da ação da Vale por dados da indústria da China e recuperação de perdas de ações de bancos levam índice ao azul A Bovespa fechou ontem em alta de mais de 1% e interrompeu série de três baixas, sustentada por ações de bancos e da Vale. O Ibovespa subiu 1,15%, a 52.806 pontos, com giro financeiro de R$ 5,7 bilhões. O destaque no setor bancário foram as ações do Banco do Brasil que subiram 3,54%, após registrarem queda superior a 7% na quarta-feira. Itaú Unibanco e Bradesco também fecharam no azul. Os papéis das instituições financeiras foram derrubados na véspera por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em favor dos poupadores no caso sobre perdas geradas por planos econômicos das décadas de 1980 e 1990 no rendimento da poupança. Com valorização de mais de 1%, ambas as ações da Vale também ampararam o mercado. A performance foi sustentada pelo melhor desempenho da indústria da China em cinco meses em maio, segundo indicador preli- minar do HSBC, embora ainda tenha contraído ligeiramente. “O pessimismo do mercado com a China arrefeceu um pouco”, disse o economista da Elite Corretora Hersz Ferman. Além disso, ontem os preços do minério de ferro no mercado à vista da China, principal destino das exportações da Vale, mantiveram recuperação ante a mínima de 20 meses. O destaque no setor bancário foram as ações do BB que subiram 3,54%, após registrarem queda superior a 7% na quarta-feira. Itaú Unibanco e Bradesco também fecharam no azul A estatal Petrobras acabou fechando no azul na esteira de um dia de volatilidade, quando reagiu a nova pesquisa do Ibope sobre a eleição presidencial de outubro. Divulgado no início da tarde, o levantamento apontou que as intenções de voto para a presidente Dilma Rousseff subiram para 40%, sobre 37% na sondagem anterior, em abril. Já o senador Aécio Neves (PSDB) subiu para 20%, de 14%, e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) avançou para 11%, de 6%. “O mercado está enxergando que a oposição melhorou, mas os 40% da Dilma são um banho de água fria para quem achou que o jogo estava virando”, disse o operador da corretora BGC Liquidez Pedro Arantes. No último mês, o mercado comemorou a queda da presidenta Dilma Roussef em pesquisas eleitorais, em um momento de ceticismo com a condução da política econômica e a intervenção considerara excessiva em estatais. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 19ª REGIÃO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 19ª REGIÃO AVISO DE LICITAÇÃO PREGÃO ELETRÔNICO Nº. 32/2014 AVISO DE LICITAÇÃO PREGÃO ELETRÔNICO/SRP Nº. 33/2014 P.A. 34.315/2014 UASG 080022 Objeto: Contratação de empresa para prestação de serviços de formação e acompanhamento de um clube de caminhada/corrida, envolvendo magistrados e servidores do Tribunal Regional do Trabalho 19ª Região. Data da Sessão: 11.06.2014, às 11h00. Local, Informações/cópias do Edital: Av. da Paz, 2076, sl. 603, Centro, Maceió-AL – Tel.: (82) 2121-8182. Das 08h às 14h ou sites www.trt19.jus.br, www.licitacoes-e.com.br. P.A. 38.871/2014 – UASG 080022Objeto: EVENTUAL AQUISIÇÃO DE LIVROS. Data da Sessão: 06.06.2014, às 09h00min. Local, Informações/cópias do Edital: Av. da Paz, 2076, sl. 603, Centro, Maceió-AL – Tel.: (82) 2121-8182. Das 08h às 17h ou sites www.trt19.jus.br, www.licitacoes-e.com.br. Maria Nely Duarte Ribeiro Pregoeira Luís Henrique Alves Salvador Pregoeiro TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO SECRETARIA-GERAL DE ADMINISTRAÇÃO DIRETORIA DE LICITAÇÕES AVISO DE LICITAÇÃO PREGÃO ELETRÔNICO n.º 26/2014 Objeto: fornecimento parcelado de água mineral, natural, potável, com e sem gás, de mesa, para o Tribunal de Contas da União, em Brasília-DF. Sessão Pública: 04/06/2014, às 14 horas. Local: sítio www.comprasnet.gov.br. Edital à disposição dos interessados no mencionado endereço ou no sítio www.tcu.gov.br, opção “Licitações”. Leonardo Anthony Costa de Araújo Bezerra Soares Pregoeiro Viver Incorporadora e Construtora S.A. (Cia. Aberta) CNPJ nº 67.571.414/0001-41 - NIRE 35.300.338.421 Aviso aos Debenturistas da 2ª Emissão Privada de Debêntures não Conversíveis - Comunicação de Aquisição Facultativa A Viver Incorpoiradora e Construtora S.A. (“Companhia”) comunica aos titulares de debêntures da 2ª Emissão de Debêntures Simples, Não Conversíveis em Ações, da Espécie Quirografária, de Emissão da Companhia (“Debenturistas”, “Debêntures” e “2ª Emissão”, respectivamente), que realizará a aquisição facultativa parcial de até R$ 11,085 milhões em Debêntures (“Aquisição Parcial”), nos termos da Cláusula 6.18 do “Instrumento Particular de Escritura de Emissão Púbica de Debêntures Não Conversíveis em Ações da Segunda Emissão da Viver Incorporadora e Construtora S.A.”, celebrado em 31 de maio de 2011, entre a Companhia e Pentágono S.A. Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (“Agente Fiduciário”), posteriormente aditada (“Escritura de Emissão”), e do parágrafo segundo, do artigo 55, da Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, conforme alterada (“Lei das S.A.”). Os termos iniciados em letra maiúscula que não forem expressamente definidos neste comunicado terão o mesmo significado a eles atribuídos na Escritura de Emissão. A Aquisição Parcial será paga mediante a entrega de unidades autônomas do Empreendimento denominado “Happy Days Manguinhos”, de propriedade de subsidiária da Companhia, por seu valor de mercado, conforme laudo de avaliação preparado pela ENGEBANC-Engª e Serviços Ltda., em 29 de abril de 2014. Após a publicação do Aviso aos Debenturistas no jornal Brasil Econômico, na cidade de São Paulo e no Diário Oficial do Estado de São Paulo, os Debenturistas terão o prazo de 30 (trinta) dias corridos para aderir à Aquisição (“Prazo de Adesão”), por meio do preenchimento e entrega na sede da Companhia, do Termo de Adesão à Aquisição Facultativa, a ser disponibilizado no site de relações com investidores da Companhia. Após o Prazo de Adesão, para aqueles que optarem pela Aquisição, a Companhia irá operacionalizar processo de liquidação mediante a entrega de unidades autônomas aos Debenturistas aderentes, mediante a assinatura e registro das respectivas escrituras públicas em data a ser estipulada pelas partes, observado que a Companhia somente poderá adquirir a quantidade de Debêntures que tenham sido indicadas por seus respectivos titulares em adesão à Aquisição (“Período de Liquidação”). O valor dos imóveis oferecidos em pagamento em relação a cada uma das Debêntures indicadas por seus respectivos titulares em adesão à Aquisição será equivalente ao saldo do Valor Nominal Unitário, acrescido (i) da Remuneração calculada até a data. São Paulo, 23 de maio de 2014. Viver Incorporadora e Construtora S.A. 26 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 AGENDA CULTURAL Editora: Flavia Galembeck [email protected] T odo ano, a pequena Cannes, no litoral sul da França, transforma-se na capital mundial da cinematografia quando sedia o Festival Internacional de Cinema de Cannes. Neste ano, a 67ª edição do festival teve início na última semana e segue até domingo, dia 25, quando a Palma de Ouro será entregue ao vencedor. Ao todo, 49 produções de 28 países foram escolhidas para integrar a Seleção Oficial deste ano, sendo 18 em competição pela Palma de Ouro. Homenageando o filme “Oito e Meio” de Federico Fellini, esta edição traz uma combinação de veteranos na competição ao prêmio principal que vai de Jean-Luc Godard, Ken Loach, Mike Leigh aos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne. Entre tantos grandes nomes, o ganhador será escolhido pelo júri presidido pela cineasta Jane Campion, primeira mulher a assumir a cadeira. A diretora alcança marcas inéditas desde 1993, quando se tornou a primeira, e única até hoje, diretora da história do festival a ganhar a Palma de Ouro, com o filme “O Piano”. As produções brasileiras mais uma vez ficaram de fora da competição. Apenas na mostra paralela “Un Certain Regard” o documentário “O Sal da Terra” sobre o fotógrafo Sebastião Salgado, dirigido pelo alemão Wim Wenders e pelo filho de Sebastião, Juliano Ribeiro Salgado, será exibido. A VEZ DOS VETERANOS NO FESTIVAL DE CANNES Deux Jours, Une Nuit A seleção oficial do festival deste ano inclui três filmes de realizadores premiados, em edições anteriores, com a Palma de Ouro. Favoritos ao prêmio, os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne retornam à competição com “Deux Jours Une Nuit”, em que dirigem a estrela do cinema francês Marion Cotillard pela primeira vez. Os irmãos pertencem ao seleto grupo de realizadores que ganharam duas Palmas de Ouro e têm todos os seus filmes anteriores desde “Rosetta”, de 1999, participando da competição. Outro veterano em competição é o britânico Ken Loach. Ganhador do prêmio em 2006, o cineasta já apresentou 16 filmes no festival. Este ano, ele exibe “Jimmy's Hall”, que conta a história de Jimmy Gralton, líder comunista irlandês que desafiou a igreja católica questionando sua censura à liberdade de expressão. Loach compete nesta edição ao lado de outra referência do cinema bri- tânico, o cineasta Mike Leigh. Habitué de Cannes, o diretor que já conquistou a Palma de Ouro uma vez, há oito anos, volta à competição com “Mr. Turner”. O filme marca o retorno de Leigh ao cinema de época e à biografia, ao contar a história de J.M.W. Turner, um dos precursores do impressionismo francês, conhecido por suas paisagens marítimas. Além de Leigh, Loach e os irmãos Dardenne, a mostra competitiva marca a volta de Jean-Luc Godard ao festival, com “Adieu au Langage”. Muito aplaudido na sua exibição na última quarta, dia 21, é a quinta vez que o realizador concorre à Palma de Ouro, prêmio que nunca conseguiu conquistar. Em “Adieu au Langage” Godard inova ao produzir pela primeira vez em 3D, ao mesmo tempo em que apresenta elementos que marcaram sua carreira: os movimentos de câmera, o som não sincronizado com a imagem, uma narração que deixa a impres- são de não ser o elemento mais importante no filme. Com tantos nomes do cinema de arte europeu em exibição, as estrelas de Hollywood não têm dado sorte em Cannes. O festival exibiu em sua abertura o filme “Grace de Mônaco”, de Olivier Dahan. A produção, estrelada por Nicole Kidman no papel de Grace Kelly, foi massacrada pela crítica internacional e considerado por muitos o pior filme de abertura dos 67 anos do festival. Já a produção “The Captive”, um thriller sobre sequestro de crianças e pedofilia estrelado por Ryan Reynolds, teve uma recepção gelada e recebeu muitas vaias durante a sessão de apresentação. ONDE CONFERIR ■ Os principais filmes em competição em Cannes ainda não têm previsão de estreia no Brasil. NOTAS ’Cidade’ traz romance inédito de Nelson Rodrigues ‘Dominguinhos’ chega aos cinemas CINEfoot une cinema e futebol na Copa do Mundo No livro “Cidade”, André Sant’Anna, Carlito Azevedo, Aldir Blanc e Veronica Stigger Dar foram convidados para concluir uma narrativa iniciada por Nelson Rodrigues. A proposta foi lançada pela editora Nova Fronteira, a partir de um capítulo publicado pelo escritor, em 1937. O livro já está à venda nas principais livrarias. Desde ontem o documentário está em cartaz em sete estados brasileiros. Com direção de Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar, o longa traz imagens inéditas e shows célebres, embalados pela narração inconfundível do “rei da sanfona”. Com programação já acontecendo no Rio, São Paulo e Belo Horizonte, a 5ª edição do CINEfoot apresenta o número recorde de 79 filmes, entre mostras competitivas e paralelas. Com filmes nacionais e internacionais, o evento segue rota itinerante pelas 12 cidades-sede da Copa do Mundo a partir de 10/6, pouco antes do mundial. Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 27 Fotos Divulgação Mr. Turner A arte que nasceu em campos de concentração Adieu au Languagem A capacidade humana de projetar novas realidades pode surpreender. É o que mostra a exposição “As meninas do Quarto 28”, em cartaz a partir de hoje no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo. A mostra traz desenhos feitos por 50 meninas judias em um campo de concentração nazista, durante a II Guerra Mundial. Coloridos e cheios de vida, os desenhos são fruto da passagem da artista plástica Friedl Dicker Brandeis pelo campo de concentração Theresienstadt. Considerada a precursora da Arteterapia, ela estimulou as meninas a fugir da dura realidade por meio de tintas e papel. aquele desenho, porque é muito colorido, com sol, e a gente sabia que ela estava num campo de concentração. Ficou essa dúvida. Passaram-se vários anos e era muito difícil ter informações por causa do regime comunista. Só sabíamos que ela tinha morrido em Auschwitz.” Em 2012, incentivada por um amigo, Karen resolveu voltar a procurar informações. Com a ajuda da internet, conseguiu contactou o diretor do museu. “ O diretor me respondeu, três dias depois, que não tinha apenas um, mas trinta desenhos de minha tia. Consegui montar esse quebra-cabeça e dar um presente à minha mãe, 70 anos depois — um fechamento para uma história que estava em aberto”. Karen destaca a genialidade de Friedl, que utilizava os recursos de que dispunha para estimular as crianças. No momento que acabou a tinta, ela começou a usar colagem com papéis coloridos de presentinhos que as meninas recebiam, como geleias. “Vamos ter uma mesa redonda com arteterapeutas. Isso é bacana também, de mostrar como no Brasil, que tem crianças abandonadas, a arte pode ser uma ferramenta de expressão.” A mostra tem duas atrações de peso na estreia. Às 15h, uma visita guiada seguida de palestra com a jornalista alemã Hannelore Brenner, autora do livro que deu origem à exposição, e Vera Krainer, sobrevivente da II Guerra. ONDE CONFERIR ■ Até29/06 noMuBE,que ficanaAv.Europa,218,emSP. Divulgação A relação entre os desenhos e o Brasil extrapola os limitesda exposição. Uma das meninas, Erika Stransky, cujo trabalho está exposto, morreu em uma câmara de gás em Auschvitz. Em 1946, o pai dela, George Stransky, e sua meia irmã, Monika, se mudaram para São Paulo. Décadas depois, em 1974, durante uma visitaa Praga,Monikadescobriu que Erika tinha sido uma das meninas do Quarto 28. A filha de Monika,Karen Stránská,lembra como se fosse ontem: “Estávamos no Museu Judaico de Praga quandominha mãe viu a assinatura de Erika em um dos quadros. Ela ficou congelada. Eu não entendi muito bem Mostra exibe acervo inédito de fotos e filmes da escola Bauhaus, no Rio The Captive Fundada em 1919 por Walter Gropius como primeira escola de design, a alemã Staatliches-Bauhaus tornou-se referência mundial nos estudos de vanguarda de arquitetura e design. Pouco conhecido pelo público, oacervode fotografias e filmes também teve um papel importante dentro da produção artística da escola. Pensando nesse conteúdo inédito no Brasil, a mostra “bauhaus.foto.filme” reúne 50 fotografias e 20 filmes dos dois acervos mais importantes da Bauhaus, oArquivo Bauhaus/Museu de Design e a Fundação Bauhaus Dessau. O acervo pouco conhecido é composto por mais de 40 mil registros fotográficos e experimentações em audiovisual produzidos pelos alunosdaescola antese depoisdainclusão da fotografia em seu currículo oficial, em 1929. Com curadoria de Christian Hiller, Philipp Oswalt, Thomas Tode e de Anja Guttenberger, a mostra remonta instalações originais, que exibem a mesma programação de filmes apresentada por Walter Gropius, na cerimônia de inauguração do novo prédio da Bauhaus, em 1926. Além dos filmes e fotos produzidos pelos alunos, a exposição traz entrevistas e adaptaçõesposteriores de projetos de Werner Graeff, Kurt Schwerdtfeger e Kurt Kranz, compondo umpanorama geraldorepertóriocinematográfico da escola. “bauhaus.foto.filme” segue em cartaz até 20/07 no Oi Futuro Ipanema, no Rio. 28 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 ▲ MUNDO Jock Fistick/Bloomberg CONFLITO NA UCRÂNIA Otan já admite retirada de tropas russas O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou ontem que movimentações de tropas russas podem indicar a retirada parcial da fronteira com a Ucrânia. “No fim da noite de quarta-feira, vimos uma atividade limitada de tropas russas perto da fronteira com a Ucrânia, o que pode sugerir que parte das forças se preparam para a retirada", afirmou Rasmussen à imprensa de Montenegro. Editor: Gabriel de Sales [email protected] Câmara aprova reforma da NSA O texto, que vai para o Senado, acaba com a coleta sistemática de dados telefônicos pela agência junto às operadoras A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou ontem a primeira tentativa de reforma da Agência de Segurança Nacional (NSA), após as revelações de Edward Snowden, sem o apoio de ONGs e empresas do Vale do Silício que criticam a ambiguidade do texto. Cerca de um ano depois das revelações do ex-funcionário da NSA, a Câmara aprovou por 303 votos a favor e 121 contra o projeto de lei “USA Freedom”, a primeira reforma do programa de vigilância eletrônica da agência desde os ataques de 11 de setembro de 2001. De acordo com o texto aprovado, que ainda deve ser analisado pelo Senado nas próximas semanas, a NSA não pode forçar as operadoras americanas a fornecer integralmente os metadados (datas, duração, número) de chamadas telefônicas feitas em suas redes nos Estados Unidos. Para ter acesso a estes dados, o FBI e a NSA devem primeiro obter uma ordem judicial individual do tribunal secreto dedicado às escutas telefônicas, o Foreign Intelligence Surveillance Court (Fisc), com base em uma suspeita “razoável”. No entanto, após discussões com a Casa Branca, descritas como “intensas” pelos legisladores, alguns trechos muito técnicos foram modificados na terça-feira com relação à versão aprovada em comissão no dia 8 de maio. A Casa Branca indicou na última quarta-feira que apoiava totalmente a nova versão. A mudança provocou uma reação negativa da ampla coalizão de organizações de defesa da privacidade e de grandes empresas da internet, incluindo Google, Apple e Microsoft. Eles argumentam que a reforma impede efetivamente a coleta de dados eletrônicos dos americanos, mas nada impedirá a espionagem em massa pela NSA de grupos de pessoas, potencialmente milhões. “A versão mais recente cria uma lacuna inaceitável que poderia permitir a coleta em massa de dados dos internautas”, considerou em um comunicado a coalizão Reform Government Surveillance, que inclui AOL, Apple, Dropbox, Facebook, Google, LinkedIn, Microsoft, Twitter e Yahoo!. “Compartilho sua frustração”, declarou por sua vez o co-autor do projeto de lei, o deputado Jim Sensenbrenner. “Mas o melhor é inimigo do bom”, afirmou, depois de se vangloriar das novas disposições que vão aumentar a transparência das atividades da NSA. “É o fim das leis secretas, se a administração violar o espirito da lei, todos nós saberemos”, disse. AtravésdeSnowden,foidescoberto que a espionagem da NSA havia chegado a entidades como a ONU e a União Europeia e chefes de Estado e governo,comoachanceleralemãAn- gela Merkel e a presidente Dilma Rousseff.Depoisdadivulgaçãodainformação, Dilma cancelou uma visita a Washington e apresentou, junto com a Alemanha, uma resolução na AssembleiadaONUpedindoumarevisãomundialdaespionagem.Otextofoiaprovadoem novembro. Snowden apareceu ontem em uma “selfie” durante encontro com os jornalistas Glenn Greenwald e Laura Poitras. É a primeira reunião entre os três desde que o ex-agente passou arquivos secretos sobre a espionagem americana ao jornalista, em junho do ano passado. AFP Reprodução O QUE DIZ O TEXTO ■ A NSA não pode forçar as operadoras americanas a fornecer integralmente os metadados (datas, duração, número) de chamadas telefônicas feitas em suas redes nos EUA. ■ Para obter os dados das operadoras telefônicas, o FBI e a NSA devem primeiro ter acesso a uma ordem judicial individual do tribunal secreto dedicado às escutas telefônicas, o Foreign Intelligence Surveillance Court (Fisc), com base em uma suspeita “razoável”. ■ A nova lei dá mais poder à Fisc, por onde passarão os requerimentos do governo sempre que quiser obter dados considerados relevantes a investigações de segurança. ■ O texto prevê também que a agência só poderá obter dados de pessoas a “dois graus de separação” de um suspeito. Selfie: Edward Snowden com David Miranda e os jornalistas Glenn Greenwald e Laura Poitras Golpe de estado na Tailândia após sete meses de protestos e crise política Novo regime adotou o nome Conselho Nacional para a Manutenção da Paz e da Ordem O Exército tailandês tomou o poder ontem e suspendeu a maioria das liberdades civis após sete meses de crise política e protestos que causaram um impasse. O primeiro-ministro deposto, Niwattumrong Boonsongpaisan, e seu governo receberam a ordem de se apresentar ao novo regime, que adotou o nome de Conselho Nacional para a Manutenção da Paz e da Ordem. O Exército também ordenou que os manifestantes dos dois lados, acampados em Bangcoc, fossem para suas casas, e proibiu qualquer concentração de mais de cinco pessoas. Os manifestantes começaram a obedecer às ordens durante o início da noite. O novo Conselho também suspendeu a Constituição, mas decidiu manter o Senado, afirmando que isso permitirá governar o país sem problemas. Depois de menos de três dias de lei marcial, destinada, de acordo com o Exército, a forçar o diálogo entre os atores civis da crise O Exército ordenou que os manifestantes dos dois lados, acampados em Bangcoc, fossem para suas casas, e proibiu qualquer concentração de mais de cinco pessoas política, o poderoso chefe do Exército, o general Prayut Chan-O-Cha, apareceu durante a tarde na televisão para explicar que o golpe era necessário “para o país voltar ao normal”. O general destacou a violência no país, que deixou 28 mortos desde o início da crise no ano passado, principalmente durante manifestações. “Todos os tailandeses devem manter a calma e os funcionários públicos devem continuar a trabalhar como de costume”, acrescentou. Mas um toque de recolher foi decretado em todo o país a partir desta madrugada. Todasasemissorasdetelevisãoerádio precisaram interromper suas programaçõesedifundirboletinsdonovo regime militar. “O objetivo é fornecer informações precisas à população”, leu um porta-vozmilitarnatelevisão, queexibeapenasfotosdesoldadosem umfundobrancoentreasdeclarações lidaspelomilitar.Asredessociaistambém vão ser submetidas ao controle dos militares. O conteúdo considerado“crítico”vaiserbloqueado. A Tailândia sofreu 18 golpes de Estado ou tentativas em cerca de 80 anos. O último, em 2006, contra o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra. AFP Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 29 MUNDO EMERGENTE FLORÊNCIA COSTA [email protected] EFEITOS DA TSUNAMO Editoria de Arte N aMo tem 63 anos, a língua bem afiada e um temperamento indomável. Ganhou fama de autoritário, mas também de eficiente administrador, com apurado faro para negócios, além de hindu devoto. A partir das 18h dessa segunda-feira, 26, Narendra Modi vai passar a comandar o segundo país mais populoso do mundo e uma das estrelas entre os emergentes: a Índia, com seus 1,2 bilhão de habitantes. Será o décimo quarto primeiro-ministro da terceira economia da Ásia. Mas na terra da meditação contemplativa, sua vitória – comparada a uma tsunami - provocou reações contraditórias e intensas entre os indianos: paixão e fúria, esperança e medo. Desde Indira Gandhi (assassinada em 1984 por seus guarda-costas da religião sikh, em represália a um ataque a sikhs fundamentalistas que desafiavam o Estado), a Índia não tinha um primeiro-ministro que fomentasse tanto amor e ódio ao mesmo tempo. Assim como Indira (que era do Partido do Congresso, hoje derrotado), NaMo é dono de um estilo durão, provocador, que divide opiniões. Nos últimos dias, analistas o comparam a figuras do passado, como Richard Nixon, Margareth Thatcher, Ronald Reagan, e do presente, como o presidente russo Vladimir Putin e primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. Até pouco tempo atrás, o nome Narendra Modi era associado exclusivamente à violência religiosa, uma das pragas que ataca a Índia de tempos em tempos. Ele foi acusado de ter feito vista grossa ao massacre de mais de mil muçulmanos por hordas de hindus enfurecidos em 2002 no estado do Gujarat, que governou por 12 anos. A Suprema Corte considerou as evidências muito frágeis para apoiar as acusações contra ele. No entanto, a imagem de NaMo ficou tão associada à tragédia no Gujarat que o governo americano passou a negar visto a ele, baseando-se em uma lei que barra a entrada de estrangeiros que tenham cometido “severas violações à liberdade religiosa”. A proibição, é claro, já não vale mais. Barack Obama já telefonou para NaMo convidando-o para uma visita aos EUA. O futuro da Índia depende, entre outras coisas, da habilidade de NaMo em transcender suas raízes sectárias e governar para todos os indianos. Os muçulmanos são uma minoria religiosa (15% da população), mas somam mais de 170 milhões de pessoas: é o terceiro país com população islâmica do mundo, depois da Indonésia e do Paquistão. O BJP (Bharatiya Janata Party, ou Partido do Povo Indiano) de NaMo tem ligações com grupos radicais, como a RSS (Rashtriya Swayamsevak Sangh, ou “ Organização Patriótica Nacional”), paramilitar de direita. Durante a Segunda Guerra Mundial os líderes da RSS eram admiradores abertos de Adolph Hitler. His- toricamente, a RSS segue a chamada Hindutva, a filosofia nacionalista Hinduísta que prega a supremacia da religião seguida pela maioria da população e persegue outras minorias religiosas: além dos muçulmanos, os cristãos. Nathuram Godse, o assassino de Mahatma Gandhi, tinha ligações com essa organização antes de cometer o crime, há 66 anos. Gandhi foi morto porque defendia o direito dos muçulmanos na Índia independente. O secularimso que hoje consta da Constituição do país, foi uma bandeira de luta de Jawaharlal Nehru, o primeiro primeiro-ministro da Índia. Nehru fundou a dinastia política dos Nehru-Gandhi, que liderou o Partido do Congresso. Mas durante a eficiente campanha eleitoral de NaMo, sua imagem negativa foi atropelada por outra bem diferente: a de “Vikas Purush”, ou “Homem do Desenvolvimento”. A crença é de que o CEO do Gujarat – como é conhecido - vai fazer a Índia brilhar novamente. A reinvenção da imagem de NaMo (cuidadosamente trabalhada por uma empresa americana de relações públicas, a APCO Worldwide) aconteceu em 2008. Ratan Tata, um dos maiores empresários indianos, enfrentava problemas em uma de sua fábricas. Era uma unidade no estado de Bengala Ocidental, que construiria os famosos carros populares Nano. Os donos das terras compradas para a construção da fábrica reclamavam que haviam sido mal compensados financeiramente. Foi aí que NaMo estendeu o tapete vermelho para Tata, com um acordo generoso: a empresa reteria o dinheiro de impostos que deveria pagar ao governo como um empréstimo. Esse somente seria pago depois de 20 anos, a uma taxa de juros baixíssima. A notícia chamou a atenção mundial. Depois disso, outras motadoras estrangeiras procuraram NaMo em busca de acordos semelhantes. Por isso, muitos apostam que NaMo irá apressar os processos de aquisição de terra para construir parques industriais e outros empreendimentos – um dos maiores focos de tensão social da Índia. Dentro da Índia a aposta é de que NaMo não vai arriscar o sucesso de seu governo com atitudes que desemboquem em violência religiosa. Ele deverá focar na economia Do ponto de vista econômico, o BJP era originalmente protecionista e apoiava a filosofia do “Swadeshi” - defendida por Mahatma Gandhi durante a luta pela independência: a promoção de produtos indianos em detrimento dos estrangeiros. Mas nos últimos 15 anos, o BJP mudou e passou a defender o liberalismo econômico, como fez o governo de Atal Bihari Vajpayee (1998-2004). Dentro da Índia a aposta é de que NaMo não vai arriscar o sucesso de seu governo com atitudes que desemboquem em violência religiosa. Ele deverá focar na economia e impulsionar o esmaecido crescimento econômico (abaixo de 5%, pouco para o padrão indiano), com reformas liberalizantes, como a trabalhista. Já há quem diga que ele deverá abrir o setor do carvão para o capital estrangeiro. O carvão gera mais da metade da energia da Índia. Um de seus maiores desafios será criar empregos para os cerca de 13 milhões de jovens aptos a entrar para o mercado de trabalho a cada ano. NaMo, no entanto, foi bastante vago na sua campanha. Prometeu acabar com entraves burocráticos que prejudicam os negócios e lutar pelos pobres. Nos palanques, ele jurou fazer deste o século da Índia. Para compará-lo a mais uma personalidade mundial, o estilo de governo de NaMo no Gujarat lembra, segundo vários analistas, o de Deng Xiaoping. O líder chinês carregou nos ombros o peso do massacre da Paz Celestial (que completa 25 anos em junho), perseguiu escritores, jornalistas, artistas e ativistas, mas adotou uma política econômica que promoveu o crescimento sustentado. A vitória de NaMo inundou a Índia e o mundo de expectativas, boas e ruins. Mas apenas um homem conhece a sua mente. E esse homem é Narendra Modi. Coluna publicada às sextas-feiras 30 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 OPINIÃO Editoria de Arte Pontos importantes da relação com headhunters Laerte Leite Cordeiro [email protected] uanto mais a conjuntura econômica se complica, tanto mais as demissões e o desemprego crescem. Avida vai ficando maisdifícil, a inflação sobe, os salários perdem valor, os empregos entram emrisco e encontraruma nova oportunidade de trabalho torna-se uma tarefa complicada, quando as empresas não querem contratar ninguém. Se V. perdeu seu emprego nos últimos doze meses, pode bem estar ainda desempregado, vivendo de sua poupança e fazendo “bicos” aqui e acolá. Emprego que é bom, nada! Esse período difícil, que quase todos nósjávivemosumdia,obrigaaodesenvolvimento de nossa criatividade, na busca do nosso objetivo profissional. Esse é o momento em que devemos ter umfoco de carreira definido, para não dar a impressão que somos especialistas em generalidades ou que podemos “jogar nas onze”, tão competentes que somos. Precisamos, também, de um currículo que nos anuncie para o mercado, oferecendo o que ele quer, de forma clara e objetiva. Havemos, igualmente, de estar preparados para eventuais convocações para processos de recrutamentoeseleção,comeficienteparticipação em entrevistas de escolha. Organizado em termos do que é básico para se conseguir um emprego, começa aí a nova fase de divulgar nossa candidatura para as empresas e para os headhunters – estes que estão no mercado buscando profissionais para fecharem vagas em seus clientes, visando oportunidades compatíveis com seu perfil. É aí que o profissional desempregado deve buscar os seus amigos, conhecidos, colegas,chefese demais pessoasque componham o seu “network” pessoal/profissional para lhespedirapoiopara oportunidades que porventura lhes cheguem ao conhecimento.Deve,também, estarmuito atento para a rede social/profissional mais conhecida e circular por dentro dela, com toda a força, buscando alternativas de emprego. E embora pouco utilizados hoje em dia – principalmente para cargos de maior nível – não deixar de ler osclassificadosdos principais jornais e revistas, que vez por outra publicam anúncios interessantes. De propósito deixamos de lado, acima, os escritórios dos headhunters, que são os consultores contratados pelas empresas para buscar, no mercado de trabalho, os Q O profissional desempregado deve, também, estar muito atento para a rede social/profissional mais conhecida e circular por dentro dela, com toda a força, buscando alternativas profissionais que elas querem contratar. Elestêm asvagasemseus clientes. Épreciso lembrar que os headhunters ou “caçadores de talentos” recrutam e selecionam principalmente, executivos e profissionais de nível e são menos utilizados pelas empresas para o recrutamento relativo a posições de menor nível hierárquico. Portanto, se V. busca uma posição de maior destaque, principalmente em nível de gerência e direção, não deixe de dar uma atenção especial, em seu processo de divulgação, a esses escritórios que detém, sempre,umnúmerosignificativode oportunidades disponíveis, lembrando que há, pelo menos, cinco pontos principais na relação entre candidatos e headhunters, que precisam ser considerados: 1. Seu currículo deve ser divulgado para os headhunters por e-mail ou diretamente no site do cadastro da consultoria, procedimento que vai se transformando, cada vez mais, na forma preferida dos consultores. É uma maneira trabalhosa de se divulgar quando se pensa que só em São Paulo há mais de 70 escritórios de bons serviços e qualidade. O importante é que cada headhunter organiza seu cadastro e pede informações da maneira que lhe parece mais adequada aos seus propósitos de informação. 2. Um currículo de 2, no máximo 3 páginas, é tudo quanto o consultor precisa, quando o candidato mandar por e-mail. Uma carta curta de capa é delicado, mas não precisa mais do que isso. Quando for preciso fazer o cadastro, tudo o que os consultores quiserem estará lá para ser preenchido. 3. Uma vez divulgado o seu currículo para os headhunters, por cadastro ou e-mail, não é preciso fazer um contato telefônicoparasabersechegouequaloestágio do processo. Se houver alguma posição compatível sendo trabalhada e se seu currículo for de interesse, não se preocupe que o “caçador” virá atrás da “caça”, salvo num caso – hoje pouco frequente – de um extravio do seu currículo no caminho. 4. Lembre-se que um escritório de recrutamento e seleção de executivos recebe dezenas de currículos todos os dias e seu cadastro cresce a cada momento. Havendo interesse, o primeiro contato será provavelmente telefônico, convidando-o para uma entrevista preliminar na consultoria ou entrevistando-o desde logo e colhendo dados adicionais. 5. É bem provável que o candidato a emprego tenha que ir à consultoria mais do que uma vez, para testes e entrevistas, preliminares ou de profundidade. Só depoisde uma boa avaliação que conclua pela adequação do candidato ao perfil desejado pela empresa-cliente é que ele será apresentado, como uma das indicações da consultoria à posição em aberto. Muitas recomendações poderiam ser feitas para melhorar a relação dos candidatos com os headhunters. Aqueles que mostramos acima são apenas alguns dos cuidados que devem ser observados nas relações com os consultores. Vale, por último, lembrar, que os headhunters trabalham para as empresas contratantes e a elas devem atender,mas sempre sem prejuízo de um tratamento adequado, cortês e profissional aos candidatos. Geralmente é assim que acontece. Laerte Leite Cordeiro é consultor sênior em recrutamento, seleção e avaliação de executivos e profissionais Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 Brasil Econômico 31 FABIO FELDMANN ROBERTO FREIRE Consultor em sustentabilidade Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS Greves de ônibus e o caos urbano Controle de preços, a artimanha fajuta do PT São Paulo assistiu nos últimos dias a um caos no transporte público da cidade. Uma dissidência sindical levou motoristas e cobradores a realizarem piquetes que impediram a circulação de ônibus na cidade. Além disso, parte desses últimos foi estacionada de modo a evitar que motoristas pudessem furar a greve. Como conseqüência, a população “pagou o pato”, até mesmo pelo fato de que o movimento grevista foi feito sem nenhuma notificação prévia às autoridades e ao povo. O governo da presidente Dilma Rousseff vem segurando preços de combustíveis e energia para evitar impacto nos índices de inflação em ano eleitoral. Não se trata de uma acusação feita por umoposicionista, mas da confissãopública de ninguémmenos que o chefe da Casa Civil, Aloisio Mercadante, em entrevista à “Folha de S.Paulo”.Um dia depois do ataque de sinceridade do petista, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desautorizou as declarações do colega de Esplanada e negou que a atual gestão esteja represando tarifas. Mas o estrago já estava feito. Pessoas foram ao trabalho sem saber que não poderiam voltar para casa mais tarde. Em que pese a legitimidade da greve como recurso legal dos trabalhadores, não há como não se questionar a sua utilização quando a mesma impõe sofrimento à população. Especialmente àquela que depende do ônibus para se deslocar na cidade. Esta última greve me fez lembrar das conhecidas “operações tartaruga” nos aeroportos brasileiros, que impõem aos cidadãos que dependem dos serviços públicos o ônus dessas medidas. Se de um lado tais iniciativas dão visibilidade às reivindicações e criam ambiente propício às negociações, por outro trazem muitas vezes o caos que assistimos em São Paulo. Há poucos dias, a Política Militar da Bahia se utilizou desse mesmo recurso e, por conseqüência, os homicídios explodiram. Diante do descalabro da política econômica de um governo sem rumo, não surpreende que dois de seus principais ministros protagonizem um bate-boca sobre a contenção de preços. A desastrosa condução da economia pelo PT levou a reputação do Brasil ao chão, com uma série de previsões furadas do próprio Mantega sobre o crescimento do PIB, além da “contabilidade criativa” que mascara a expansão da despesa pública e da dívida governamental, gerando um ambiente de absoluta incerteza em relação à saúde financeira nacional. Enquanto Mantega e Mercadante não falam a mesma língua e a presidente afirma que “a inflação está sob controle”, o trabalhador sente no bolso que não vivemos às mil maravilhas. De acordo com o IPCA de abril, a inflação acumulada no ano chega a 6,28%, índice que continua muito acima do centro da meta estipulada pelo governo (4,5%) e bem próximo do teto de 6,5%. Desde a última greve de ônibus, pouco se avançou na discussão do transporte público urbano em São Paulo e no Brasil; a começar pela abertura da planilha de custos Com a chegada da Copa do Mundo certamente teremos muitas greves, além demanifestaçõesnasruasemnome de diversas causas. O direito de sua realização é incontestável. Mas o que está em debate é como separar o joio do trigo. Quer dizer reconhecer esse direito e também não penalizar, no casode serviçospúblicosessenciais,a população. No que tange às manifestações, reprimir os atos de vandalismo. Voltando à greve de ônibus paulista, o que mais surpreendeu foi o fato de que a mesma foi liderada, até onde se sabe, por uma dissidência sindical, uma vez que a assembléia da categoria teria aprovado um acordo no dia anterior. A única estratégia a ser seguida é a abertura de um diálogo por parte das autoridades com todos os atores envolvidos, com o objetivo de se estabelecer algum denominador comum. Este consistiria em se fixar algumas regras que protegessem os direitos dos cidadãos afetados potencialmente pelas greves. Certamente alguns leitores poderão dizer que já existe legislação a respeito do assunto. É verdade. Mas os episódios recentes demonstraram que é necessário um protagonismo antecipatório das autoridades. É interessante se assinalar que as manifestações de junho do ano passado foram motivadas exatamente contra o aumento das tarifas de ônibus. Desde então, pouco se avançou na discussão do transporte público urbano em São Paulo e no Brasil. A começar pela abertura da planilha de custos, que permitiria que soubéssemos exatamente como trabalhar no sentido de garantir uma oferta de transporte eficiente e barato. Se o maior custo é o combustível, como reduzir a taxação do mesmo? Com a transparência dos dados poderíamos enfrentar com mais qualidade essa discussão. Aliás, é bom lembrar que a destruição de ônibus pelos vândalos vai trazer custos adicionais ao usuário dos mesmos. Enfim, vamos aprofundar o debate e encontrar nas regras democráticas boas soluções. Sem credibilidade junto ao mercado e à sociedade, o país fica condenado a um círculo vicioso em que investidores deixam de investir e consumidores deixam de consumir A manipulação de dados gera uma onda de desconfiança que fere de morte a economia brasileira. Recentemente, nem mesmo o IBGE escapou da tal investida, que culminou na suspensão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que divulgaria números relativos ao emprego. Dian- te da péssima repercussão na opinião pública, a divulgação da pesquisa foi mantida para o início de junho. Sem credibilidade junto ao mercado e à sociedade, o país fica condenado a um círculo vicioso em que investidores deixam de investir e consumidores deixam de consumir, aumentando a sensação de que andamos de lado. Mais do que uma mera impressão, trata-se de constatação da realidade: segundo o IBGE, o crescimento médio do PIB nos três primeiros anos do governo Dilma foi de apenas 2%, o que significa que a economia brasileira cresce no menor ritmo desde Collor. Com a perigosa combinação de baixo crescimento com inflação e juros em alta, o governo petista se move por preocupações eleitorais quando decide represar as tarifas de gasolina, energia e outros preços administrados. Tudo em nome de uma reeleição que hoje, dado o percentual de brasileiros que desejam mudança (74%, diz o Datafolha), não parece muito provável. Com a ameaça cada vez maior de volta da inflação, tudo o que o Brasil não precisa neste momento é de um governo que não preza pela transparência. Segurar preços artificialmente para ludibriar os agentes econômicos e a população, em uma clara tentativa de salvar a presidente-candidata nas eleições, não passa de artimanha desonesta que só arranha ainda mais a reputação do país. Precisamos de menos Mercadantes, Mantegas e Dilmas, e de mais gente séria na condução da economia. De menos contabilidade criativa e mais credibilidade. Precisamos da decência, da competência e da honestidade que tanto têm faltado ao país nos últimos 12 anos. Presidente do Conselho de Administração Maria Alexandra Mascarenhas Diretor Presidente José Mascarenhas BRASIL ECONÔMICO é uma publicação da Empresa Jornalística Econômico S.A. Publisher Ramiro Alves Chefe de Redação Octávio Costa Editora-Chefe Sonia Soares Editora-Chefe (SP) Adriana Teixeira Diretor de arte André Hippertt Editor de arte Carlos Mancuso Redação (RJ) Rua dos Inválidos, 198, Centro, CEP 20231-048, Rio de Janeiro Tels.: (21) 2222-8000 e 2222-8200 Redação (SP) Rua Guararapes, 2064, Térreo, Brooklin Novo, CEP 04561-004, São Paulo E-mail [email protected] CONTATOS Redação Tels.: (21) 2222-8000 e (11) 3320-2000 Administração Tels. : (21) 2222-8050 e (11) 3320-2128 Publicidade Tels.: (21) 2222-8151 e (11) 3320-2182 Condições especiais para pacotes e projetos corporativos [email protected] Tel.: (11) 3320-2017 (circulação de segunda à sexta, exceto nos feriados nacionais) Atendimento ao assinante / leitor Rio de Janeiro (Capital) — Tels.: (21) 3878-9100 São Paulo e demais localidades — Tels.: 0800 021-0118 De segunda a sexta-feira — das 6h30 às 18h30 Sábados, domingos e feriados — das 7h às 14h www.brasileconomico.com.br/assine [email protected] Central de Atendimento ao Jornaleiro Tel.: (11) 3320-2112 Impressão Editora O DIA S.A. (RJ) 32 Brasil Econômico Sexta- feira e fim de semana, 23, 24 e 25 de maio de 2014 ASSINE JÁ! São Paulo e demais localidades: 0800 021 0118 Rio de Janeiro (Capital) : (21) 3878-9100 [email protected] Empresa Jornalística Econômico S. A. Rua dos Inválidos, 198, Centro - CEP: 20231-048, Rio de Janeiro (RJ) - Tels.: (21) 2222-8000 e 2222-8200 www.brasileconomico.com.br PONTO FINAL OCTÁVIO COSTA Chefe de Redação [email protected] Esta guinada positiva na economia seria uma das explicações para os números da mais recente pesquisa do Ibope, que aponta reação da presidente e o ressurgimento da tendência de uma decisão ainda no primeiro turno. Teria pesado também, segundo os analistas, o programa nacional de tevê do PT que AROEIRA advertiu sobre o risco das conquistas sociais serem abandonadas pela oposição – a chamada estratégia do medo, que acaba de ser proibida pela ministra Laurita Vaz, do TSE, exatamente em razão do forte impacto. Mesmo que seja temerário projetar o cenário de hoje para o que vai acontecer em outubro,o certo é Cada um interpreta as pesquisas de opinião como quer. Se o PT encontra motivos para ficar mais tranquilo, o PSDB e o PSB também veem luz no horizonte a partir da campanha oficial, entrará de vez na corrida eleitoral. Ahipótese de segundo turno havia sido apontada em outras pesquisas, principalmente se considerados os votos de candidatos nanicos como o Pastor Everaldo. É importante, porém, considerar que Aécio Neves e Eduardo Campos já tinham aparecido com intenções de voto muito semelhantes às da consulta do Ibope. Há pelo menos quinze dias, outros institutos de renome mostraram o neto de Tancredo com 20% e o neto de Arraes pela primeira vez acima de dois dígitos. Nesse sentido,nada mudou.Emais: nas simulações de segundo turno, Dilma derrota Aécio por 43% a 24%, e bate Campos por 42% a 22%. Além disso, o Ibope também mostrou que oíndice de rejeiçãoda presidente se estabilizou em torno de 33%. O Brasil vai parar para acompanhar a Copa em junho e a campanha para valer só começará em agosto. Mas, salvo um acidente de percurso, está aberto o caminho de Dilma Rousseff para a reeleição. SOBE E DESCE Elza Fiúza/ABr T udo indica que a inflação estancou e a possibilidade de furar o teto da meta está descartada. Eterno otimista, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai além e afirma que os preços vão continuar em queda, numa previsão recebida com reservas por alguns economistas. Mas as estatísticas sobre o desemprego também levam água para o moinho do governo. Dados divulgados ontem, mostram que entre abril e maio, a taxa recuou de 5% para 4,9%, o menor nível para o mesmo período desde o início da série histórica do IBGE em 2002. O resultado dá sustentação à tese de que o nível baixo de geração de emprego formal em abril – o pior dos últimos 15 anos – pode estar atrelado ao “fato de o país se encontrar em situação de pleno emprego”, como afirmou o ministro do Trabalho, Manoel Dias. Uma coisa é certa: o vento da economia mudou de direção e passou a soprar a favor de Dilma Rousseff. que, no levantamento feito entre 15 e 19 de maio, as intenções de voto na presidente Dilma subiram para 40%, contra 37% na pesquisa anterior. No Palácio do Planalto, o número foi comemorado e cresceu a impressão de que o pior já passou. Mas cada um interpreta as pesquisas de opinião como quer. E é isso que acontece com os números do Ibope. Se o PT encontra motivos para ficar mais tranquilo, o PSDB e o PSB também veem luz no horizonte. Aécio Neves pulou de 14% para 20% e Eduardo Campos quase dobrou nas intenções de voto, de 6% em abril para 11% agora. Os dois passaram a somar 31%, distantes apenas nove pontos percentuais da posição da presidente. Em abril, o fosso era muito maior, de 17 pontos percentuais. Por esse prisma, tucanos e socialistas têm motivo, de fato, para acreditar numa disputa acirrada com Dilma. Hoje, as chances de Aécio passar para o segundo turno parecem maiores, e Campos continua a apostar que, com maior exposição ■ A ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Política das Mulheres, iniciou campanha ‘Violência contra as mulheres - eu ligo’ para incentivar as denúncias via o telefone 180. A divulgação será na TV e terá aplicativo. Moreira Mariz/Ag. Senado SÓ UM ACIDENTE DE PERCURSO ■ O senador Sergio Petecão (PSD-AC), em seu segundo mandato, virou réu de ação penal no STF após a acusação de compra de votos na eleição de 2006. Pode ser condenado a quatro anos de reclusão.