UMA SEQÜÊNCIA DIDÁTICA PARA INTRODUÇÃO DO SISTEMA DE COORDENADAS CARTESIANAS Autores:Prof. Adalberto de Oliveira Freitas Especialista em Ensino de Matemática – UFPE Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco-SEDUC/PE [email protected] 1 Introdução Numa tarde de um certo dia dois amigos estão brincando... “... B5? Vejamos... mas que sorte que você tem... avaria! Agora é a minha vez: D8! Água! E agora? Pra cima, para baixo, direita ou esquerda?...”. Enquanto isso, a milhares de quilômetros dali, no meio do Oceano Atlântico. “... Comandante, já recebi a posição para o encontro: 10o. Norte, 28o. Oeste”. Muito bem! Vamos para lá! Meia velocidade à frente!...”“. No outro lado do mundo, um casal de turistas está passeando pela cidade. “Aonde nós vamos? Conseguiu achar a rua no mapa?”. Nós estamos em A2. A igreja que queremos visitar fica em B3. Não é longe. Dá para ir a pé. Então vamos logo.”“. O que todos esse diálogos têm em comum? Todos estão falando de posição, dentro de um determinado sistema de coordenadas. - No primeiro caso os amigos estão brincando de Batalha Naval. - No segundo caso, a posição é dada em relação aos pontos cardeais, a partir da linha do Equador e do meridiano de Greenwich. - No terceiro caso, o casal de turista está procurando num mapa a melhor forma de chegar ao ponto turístico que desejam ver, uma vez que sabem aonde se encontram. 1 Prof. Aucrésio Antônio de Oliveira Freitas Especialista em Ensino de Matemática – FFPG Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco-SEDUC/PE Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 2 – Educação Matemática nas Séries Finais do Ensino Fundamental 2 Realizaremos uma seqüência de atividades didáticas para introdução das coordenadas cartesianas no ensino fundamental e médio. Esta seqüência explora o surgimento do conteúdo coordenadas no cotidiano dos alunos e propõem situações, como os professores devem explorar e fazer a interdisciplinaridades deste conteúdo. Desta forma, busca-se que o aluno vivencie, ao mesmo tempo, um conteúdo matemático em outras disciplinas. Com isto, possibilitará ao aluno fazer um comparativo entre o material didático e o dia-a-dia, os quais são tratados com ênfase em nosso trabalho. Marcos teóricos Vergnaud (1982, 1985) do ponto de vista cognitivo, a aquisição de um conhecimento ocorre dentro do que ele chamou de CAMPOS CONCEITUAIS, os quais se originam de uma rede de conceitos interrelacionados, que se apóiam num tripé constituído por: - um conjunto de situações (s) que dão sentido ao conceito; - um conjunto de invariantes operatórios(I) que são subjacentes ao tratamento dado pelo sujeito a essas situações; - um conjunto de significantes (S) que permitem representar os invariantes, as situações ou os procedimentos de tratamentos. “Um Conceito, remete necessariamente a vários situações, mas, reciprocamente uma situação reenvia a vários conceitos” (Vergnaud, 1985 p 249). Em suas pesquisas, Douady & Perrin-Glorian (1989) propuseram um modelo didático para o conceito de área de uma superfície plana que leva em conta a noção de quadro. Para Douady, “A palavra ‘quadro’ deve ser tomada no sentido usual que ela possui quando se diz ‘quadro algébrico’, ‘quadro numérico’ ‘quadro geométrico’..., mas também” quadro qualitativo’, “quadro algorítmico”. Dizemos que um ‘quadro’ é constituído de objetos de um ramo da matemática, das relações entre esses objetos, das diversas formulações e das imagens mentais associadas a esses objetos e a essas relações.”Douady (1989)”. Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 2 – Educação Matemática nas Séries Finais do Ensino Fundamental 3 Quadro GEOMÉTRICO Quadro da GRANDEZA Quadro NUMÉRICO Quadro ALGÉBRICO/FUNCIONAL A interdisciplinaridade, como questão gnosiológica, surgiu no final do século passado, pela necessidade de dar uma resposta à fragmentação causada por uma epistemologia de cunho positivista. As ciências haviam-se dividido em muitas disciplinas e a interdisciplinaridade restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas. Estas ciências aparecem com clareza em 1912, com a fundação do Instituto JeanJacques Ruosseau, em Genebra, por Edward Claparède. A interdisciplinaridade é entendida, nas ciências da educação como a relação interna entre a disciplina mãe e a disciplina aplicada. Piaget sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se chegar à transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio em que não haveria mais fronteiras entre as disciplinas. Público-alvo: Professores do ensino fundamental, médio e Alunos de graduação. Objetivos: - A compreensão das coordenadas cartesianas e a localização de pontos no plano. - A reta numérica desde a sua concepção até as convenções que a determinam como eixo cartesiano. ATIVIDADES PARA INTRODUZIR SISTEMAS DE COORDENADAS Atividade 1. • Dividir a turma em grupos de no máximo, 4 alunos. Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 2 – Educação Matemática nas Séries Finais do Ensino Fundamental • 4 Retângulos representarão quadras, e em cada quadra está um prédio que deve ser visitado (açougue, mercearia,...), dois deles são “colocados” no “mapa” de um grupo, de modo que cada grupo tenha duas informações, em seu mapa que nenhum outro grupo tem. • Todos têm um “referencial” - por exemplo, a Rodoviária - em seus mapas, no centro. • Cada grupo “descobre” onde está um determinado prédio atreves de informações. Por exemplo, o grupo que possui o cinema em seu mapa deve indicar aos colegas como chegar lá, dizendo quantos quadras devem andar, a partir da rodoviária, para cima, para baixo, para a direita ou para esquerda. Atividade 2. • Representar por um ponto (do papel milimetrado) a Rodoviária. • Traçar, por tal ponto, duas retas perpendiculares (que coincidam com duas retas do papel milimetrado). Tome como unidade de medida um quadradinho do papel milimetrado. • Fazer o mesmo esquema anterior, só que agora interseção de duas retas do papel representa um quarteirão. Tais linhas interceptam as posições dos quarteirões. • Associe Positivo: acima da rodoviária Negativo: abaixo da rodoviária Positivo: à direita da rodoviária Negativo: à esquerda da rodoviária. Atividade 3. • Trace dois eixos perpendiculares se interceptando num ponto 0. • Escolha uma unidade de medida em cada eixo. • Marque um ponto P no papel. • Trace paralela aos eixos por P. • Associe o ponto a um par ordenado, onde os elementos desse par ordenado são as coordenadas do ponto. Defina abscissas e ordenada do ponto Observação: nesse ponto definimos eixos cartesianos, ponto e coordenadas. Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 2 – Educação Matemática nas Séries Finais do Ensino Fundamental 5 Atividade 4. O professor escolhe algum ponto do plano cartesiano, e fornece pista quanto a sua localização. Após cada pista, os grupos podem tentar “adivinhar” onde está o obstáculo, entregando as coordenadas ao professor por escrito. Se errarem, saem do jogo. Se acertarem, ganham um prêmio e acaba o jogo. Exemplo das pistas: 1º. As coordenadas são números inteiros. 2º. A ordenada é negativa. 3º. A abscissa é positiva. 4º. A abscissa é maior que 2. 5º. A ordenada é menor que –1. 6º. A abscissa é menor que 8. 7º. A abscissa é maior que 11/2. 8º. A ordenada é maior que –5. 9º. A ordenada é menor que –3. 10º. A abscissa é maior que 6. Nesse ponto, se compreendido o conceito de coordenada e como se trabalha num sistema de coordenadas, os alunos sabem (não “advinham”) onde está o obstáculo. Observe que este jogo trabalha, também, os conceitos de ordem em conjuntos numéricos. No caso acima, o obstáculo está no ponto ( ___, ___). Bibliografia DOUADY, R & PERRIN-GLORIAN,M.J. Un Processus d’Apprentissage du Concept d’Aire de Surface Plane, Educational Studies in Mathematics, 20(4), 387 – 424,1989. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares nacionais (1ª a 4ª e 5ª a 8ª Série): Matemática, Brasília - 1998. SCHMITT, Tânia – VII ENEM – Rio de Janeiro, julho de 2001. VERGNAUD, G. Teoria dos Campos Conceituais in Anais do Primeiro Seminário Internacional de Educação Matemática do Rio de Janeiro, Projeto Fundão, Instituto de Matemática, UFRJ, 1993.