Carstes e cavernas Profa: Ana Cristina Sanches Diniz CARSTES • Origem do nome: região calcária na fronteira entre a Eslovênia e a Itália - Kras. • Originalmente significa “terreno rochoso, desnudo”; • Paisagem peculiar associada a rochas carbonáticas (particularmente calcários e dolomitos); • Carstes são regiões que apresentam feições semelhantes e peculiaridades como: – a ausência de rios superficiais (a maior parte da água corre em condutos subterrâneos); – o fato da rocha – calcários, dolomitos, sal, gesso, arenitos e quartzitos - ser dissolvida por água ácida gerando feições como lapiás, dolinas, sumidouros, surgências, cavernas, dentre muitas outras. • O processo básico que provoca a geração das formas cársticas em regiões calcárias pode ser sintetizado pela equação: H₂O + CO₂ + CaCO₃ = 2HCO₃- + Ca2+ • A água de chuva absorve dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera e se torna ácida devido à formação de ácido carbônico (H₂CO₃); • Esta água ao entrar em contato com a rocha já é capaz de dissolver o calcário. CARSTES • A ação antrópica pode modificar esse processo de dissolução, através da alteração das propriedades físico-químicas das águas (acidificação) ou pela interferência na dinâmica das águas subterrâneas pelo bombeamento das mesmas. • Um famoso caso brasileiro relacionado a esse fenômeno, aconteceu na cidade de Cajamar (SP), em 1986, onde ocorreu o afundamento do solo formando cavidades de 32m de diâmetro e 13m de profundidade. • Esses afundamentos foram inicialmente associados à processos de carstificação. Porém, estudos posteriores mostraram que os referidos processos foram intensificados pelo bombeamento de água subterrânea através de poços profundos de grande vazão, que provocaram a migração do solo para ocupar o espaço deixado pela retirada da água, ocasionando, por conseqüência, a subsidência do terreno. SISTEMA CÁRSTICO • Exocarste (ou carste superficial), marcado por formas superficiais geradas primordialmente pelo ataque químico de águas meteóricas; • Domínio subterrâneo (endocarste ou carste subterrâneo), representado por cavidades subterrâneas, geradas pela dissolução por águas subterrâneas de origem diversa. • Epicarste, pode também ser reconhecido, dizendo respeito à zona logo abaixo da superfície, englobando o contato entre o solo, quando existente, e a rocha calcária. SISTEMA CÁRSTICO Carste superficial Carste superficial Carste superficial Carste superficial Carste superficial Endocarste Endocarste Epicarste Epicarste PSEUDOCARSTE • Paisagens que apresentam feições semelhantes às cársticas, tais como cavernas, dolinas e escarpas rochosas; • No entanto, essas feições não são formadas sobre típicas rochas solúveis como em um verdadeiro carste; • São desenvolvidas em rochas ferríferas (minério de ferro e canga), por exemplo. PSEUDOCARSTE Principais Feições do Carste • Lapiás; • Dolinas; • Sumidouros e Surgências; • Cavernas. Lapiás ou Karren • Correspondem a canalículos ou estrias na rocha por vezes pontiagudos, que são formados pela ação da água ácida da chuva. • Esta mesma água, ao penetrar no solo absorve ainda mais dióxido de carbono associado a raízes de plantas e ao húmus. Ao atingir a rocha a água estará bastante ácida, podendo então dissolver o calcário e alargar as fraturas da rocha. Dolinas (pequeno vale, em esloveno) • Dolinas estão entre as formas cársticas mais comuns. • Consistem em depressões no terreno por vezes suaves, por vezes abruptas • Podem ser formadas pela lenta dissolução de uma fratura, levando ao rebaixamento da superfície da rocha, ou mesmo pelo desmoronamento de uma caverna. • Tipos de Dolinas: – Dolina de dissolução: É o tipo mais comum. O material dissolvido, assim como restos insolúveis, são infiltrados através da fratura. – Dolina de colapso: É causada pelo desabamento do teto de uma caverna. – Dolina aluvial (ou de subsidência): Ocorre quando há coberturas de solo sendo introduzidas nas fraturas do calcário. Esta é diferente da dolina de dissolução pelo fato de que o rebaixamento do piso se dá por carreamento do solo e não por dissolução da rocha no piso inferior. – Dolina de colapso devido a carste subjacente: Difere-se da dolina de colapso pelo fato de que a camada de rochas carbonáticas que entra em colapso se encontra subjacente a uma camada de outra litologia que também entra em colapso. Tipos de Dolinas Dolina de Dissolução Dolina de Colapso Dolina de Subsidência Dolina de Colapso devido a Carste Subjacente Sumidouros e surgências • Marcam o local onde um rio superficial desaparece na rocha (sumidouro) ou surge sob forma de nascente (surgência). Sumidouros e surgências Cavernas • São apenas mais uma entre várias feições cársticas; • São condutos subterrâneos que transportam a água que se infiltra através de dolinas ou sumidouros. As cavernas fazem parte de um contexto e estão intimamente relacionadas com as outras formas cársticas. Classificação das Cavernas 1. Quanto ao tipo de rocha: – Primárias: são aquelas formadas simultaneamente às rochas que as contém. Ex: tubos de lava e cavernas em tálus; – Secundárias: são aquelas geradas após a rocha ter sido formada. Inclui a maioria esmagadora das cavernas conhecidas, como as cavernas cársticas. Ex: Gruta da Lapinha, Gruta de Maquiné, Gruta Rei do Mato, etc. Cavernas Primárias Tubo de Lava Havaí Tubos de Lava Topo do Halla-san (ou Hallasan) Patrimônio Mundial (Unesco) Coréia do Sul Cavernas Primárias Cavernas em Tálus SP/Brasil Cavernas Secundárias No estado da Bahia destaca-se a Serra do Ramalho e seus arredores, com várias cavernas importantes, entre elas a Gruta do Padre, com 16,3 km de extensão, a terceira maior caverna do país. Cavernas Secundárias Cavernas Secundárias Lapinha Cavernas Secundárias Cavernas Secundárias Classificação das Cavernas 2. Quanto a forma de atuação do agente espeleogenético: – Cavernas exógenas são criadas por meio de agentes que atuam no exterior do maciço rochoso, de fora para dentro. Ex: cavernas litorâneas (ação do mar), desérticas (ação do vento), fluviais (ação dos rios); – Cavernas endógenas, por outro lado, são formadas primordialmente por agentes atuantes no interior da rocha. Ex: cavernas tectônicas (fraturas ou falhas abertas pela movimentação natural das camadas rochosas) e cavernas cársticas, formadas pela ação química da agua ácida em rochas solúveis. Cavernas Exógenas Mar Cavernas Exógenas Rios Cavernas Exógenas Ventos Cavernas no Brasil • 10 mil cavernas cadastradas (dados de 2011); • Cerca de 90% das cavernas reconhecidas em todo o mundo desenvolvem-se em rochas carbonáticas; • No Brasil, arenitos e quartzitos são também muito susceptíveis a formação de cavernas. • Mais recentemente, a constatação de que áreas de minério de ferro e canga são extremamente favoráveis à formação de cavernas • Ocorrem também, embora em menor escala, cavernas em granito, gnaisse, rochas metamórficas variadas como micaxistos e filitos. • O potencial espeleológico do Brasil é, ainda, enorme. • Parece seguro afirmar que, hoje, menos de 5% das cavernas existentes tenham sido identificadas. • Nosso potencial espeleológico situa-se seguramente na faixa de algumas centenas de milhares de cavernas. • Apenas a título comparativo, em países mais desenvolvidos na identificação e exploração de cavernas, como Itália e França, com áreas equivalentes ao estado de Minas Gerais, cerca de 40 mil cavernas são conhecidas. A ausência de pesquisa, pequeno número de espeleólogos, dificuldades de acesso, dentre outros motivos, justificam o reduzido conhecimento que ainda temos do potencial espeleológico brasileiro.