UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA CAMPUS DE ARAÇATUBA AVALIAÇÃO DA MATURIDADE PULMONAR DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS PELA ANÁLISE CITOLÓGICA, TESTE DE CLEMENTS E CONTAGEM DE CORPOS LAMELARES DO LÍQUIDO AMNIÓTICO Natália Cristina de Souza Médica Veterinária ARAÇATUBA-SP 2014 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA CAMPUS DE ARAÇATUBA AVALIAÇÃO DA MATURIDADE PULMONAR DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS PELA ANÁLISE CITOLÓGICA, TESTE DE CLEMENTS E CONTAGEM DE CORPOS LAMELARES DO LÍQUIDO AMNIÓTICO Natália Cristina de Souza Orientador: Prof. Adjunto Francisco Leydson F. Feitosa Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina Veterinária – Unesp, Câmpus de Araçatuba, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Ciência Animal (Fisiopatologia Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais) ARAÇATUBA-SP 2014 Catalogação na Publicação(CIP) Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação – FMVA/UNESP Souza, Natalia Cristina de S729a Avaliação da maturidade pulmonar de cordeiros nascidos a termo e prematuros pela análise citológica, teste de clements e contagem de corpos lamelares do líquido amniótico / Natalia Cristina de Souza. -Araçatuba: [s.n], 2014. 109 f. il.; + CD-ROM Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária, 2014. Orientador: Prof. Adj. Francisco Leydson Formiga Feitosa 1. Maturidade dos órgãos fetais. 2. Técnicas e procedimentos diagnósticos. 3. Neonatologia. 4. Ovinos I. T. CDD 599.649 DADOS CURRICULARES DA AUTORA NATÁLIA CRISTINA DE SOUZA – Nascida em Araçatuba no dia 2 de Outubro de 1984. Iniciou e concluiu o curso de graduação em Medicina Veterinária na FAI – Faculdades Adamantinenses Integradas (2005-.2009) Ingressou no Programa de Residência Médico Veterinária na área de Fisiopatologia da Reprodução e Obstetrícia Veterinária da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Araçatuba, São Paulo (2010-2011). Em 2012 iniciou o mestrado no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária (FMVA – UNESP) – UNESP – Araçatuba, São Paulo. “Vencedor não é apenas quem conquista algo. Vencedor é quem conquista, não perde sua essência e jamais esquece de onde veio e de quem o ajudou no caminho.” (Angélica Araújo) Dedicatória Dedico à minha filha e alma gêmea Maria Eduarda de Souza Faleiros, por me lembrar todos os dias, que eu tenho um grande motivo para ser feliz e correr atrás dos meus sonhos . Aos meus Pais, Sandra Aparecida e Gerson Ângelo, pelo carinho, pelo apoio, força e esforço para minha formação e realização de mais um sonho. Aos meus irmãos Aline Esther e Renan Ângelo, pela força e apoio nas horas em que mais precisei. A Deus, por toda a força e por tudo que me proporcionou ao longo destes anos, pelas oportunidades que me ofereceu, pela minha família que amo tanto e por me conceder a dádiva de ser mãe. AGRADECIMENTOS À FAPESP, pela concessão da bolsa de mestrado (2011/14933-3) e pelo apoio financeiro (2011/20219-1). Ao meu orientador, Francisco Leydson Formiga Feitosa pela oportunidade, confiança e pela compreensão durante esses anos de convivência. Aos meus pais, Sandra Aparecida e Gerson Ângelo, razões da minha vida, por todo esforço e preocupação em me tornar uma pessoa melhor, responsável e trabalhadora. Aos meus avós, alicerces da minha vida e toda minha família que sempre me mandaram força para eu seguir em frente. À minha mãe Sandra Aparecida, minha irmã, Aline Esther e minha tia Rosemary de Freitas, pela ajuda nos cuidados com minha filha, enquanto concluía este projeto. Aos meus colegas de trabalho Gabriel Isola , Fernanda Bovino, Larissa Gabriela, Jefferson Alcindo, Maurício Desck, Daniela Denadai, Renata Nogueira, Luis Gustavo Narciso, Fernanda Fink, Eduardo Panelli, Arthur Araújo, Eduardo Tadeu (Duzão), Thomas, Guto, Janete, Diogo Gaubeur, Guilherme, em especial à minha amiga Juliane Teramachi pela força e ajuda. Aos professores Paulo Ciarlini e Sueli Mogami Bomfim, pela autorização da utilização de seus laboratórios. À Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba FMVA- UNESP, por permitir a realização deste trabalho e aos funcionários da Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, pela colaboração do projeto, em especial a Isabel P. Matos, Lorinaldo Lopes e Martha Gonzales. E aos funcionários Cláudia Ribeirinho, Teresa e José Augusto do Departamento de microscopia eletrônica da UNESP de Jaboticabal – SP e da USP de Ribeirão Preto -SP, que foram anjos em minha vida, e pela educação, paciência e dedicação. SUMÁRIO PÁGINA 1 INTRODUÇÂO........................................................................................ 11 2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................... 13 2.1 O líquido aminiótico........................................................................... 15 2.2 Colheita do líquido aminiótico............................................................. 17 2.3 Avaliação da maturidade pulmonar e fetal ........................................... 18 2.4Testes propostos para avaliação da maturidade pulmonar e fetalError 19 2.4.1 Método citológico ............................................................................. 19 2.4.2 Teste de Clements........................................................................... 20 2.4.3 Contagem de corpos lamelares .................................................... 21 2.5 Análise hematológica dos neonatos.................................................. 22 2.5.1 Glicemia.......................................................................................... 22 2.5.2 Lactato ........................................................................................... 23 2.5.3 Hemogasometria............................................................................. 23 2.5.4 Hemograma.................................................................................... 25 2.6 Objetivos............................................................................................. 26 2.6.1 Objetivo geral.................................................................................. 26 2.6.2 Objetivos especificos...................................................................... 26 3 MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................... 27 3.1 Características dos animais e grupos experimentais ........................... 27 3.2 Instalações e manejo......................................................................... 28 3.3 Anestesia e procedimento cirúrgico .................................................... 28 3.4 Colheita e preparação das amostras de líquido amniótico................... 29 3.5 Avaliação do líquido amniótico.......................................................... 31 3.5.1 Coloração de azul de Nilo a 0,1%................................................... 32 3.5.2 Coloração Hematoxilina Shorr........................................................ 33 3.5.3Teste de Clements......................................................................... 33 3.5.4 Teste de Clements por Barreto (2006)........................................... 34 3.5.5 Contagem de Corpos Lamelares................................................... 35 3.6 Avaliação dos recém nascidos......................................................... 35 3.6.1 Colheitas e preparação das amostras ........................................... 37 3.6.1.1 Glicemia e Lactato........................................................................ 37 3.6.1.2 Hemogasometria........................................................................... 37 3.6.4 Hemograma.................................................................................... 38 3.6.5 Exame Radiográfico........................................................................ 39 3.7 Análise Estatítica............................................................................... 39 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................ 40 4.1 Análise do líquido amniótico ................................................................ 40 4.1.1 Método citológico- Coloração de Azul de Nilo 0,1%.................. 43 4.1.2 Método Citológico - Coloração Hematoxilina Shorr.................. 46 4.1.3 Teste de Clements (1972)......................................................... 49 4.1.4 Teste de Clements Modificado por Barreto.............................. 53 4.1.5 Contagem de corpos lamelares................................................. 53 4.2 Avaliação dos recém-nascidos ........................................................... 58 4.2.1 APGAR .................................................................................... 59 4.2.2 Frequência cardíaca ................................................................ 62 4.2.3 Frequência Respiratória .......................................................... 64 4.2.4 Temperatura Retal ................................................................... 67 4.2.5. Exame das mucosas.................................................................. 70 4.2.6. Glicemia ..................................................................................... 74 4.2.7. Lactato ....................................................................................... 75 4.2.8. Hemogasometria ........................................................................ 78 4.2.8.1. pH............................................................................................ 79 4.2.8.2. PCO2..................................................................................................................................... 80 4.2.8.3. Bicarbonato HCO3...................................................................................................... 80 4.2.8.4. Déficit e ou excesso de base (BE).......................................... 81 4.2.9. Hemograma................................................................................ 82 4.2.9.1. Hematócrito (Ht)....................................................................... 82 4.2.9.2. Hemoglobina............................................................................ 83 4.2.9.3. Proteína Total.......................................................................... 84 4.2.9.4. Fibrinogênio............................................................................. 85 4.2.9.5. Leucócitos Totais...................................................................... 86 4.2.9.6. Neutrófilos segmentados.......................................................... 87 4.2.9.7. Linfócitos.................................................................................. 87 4.2.9.8. Monócitos................................................................................. 88 4.2.10. Avaliação Radiográfica pulmonar dos recém-nascidos............ 89 5. CONCLUSÃO........................................................................................ 94 6. REFERÊNCIAS...................................................................................... 95 AVALIAÇÃO DA MATURIDADE PULMONAR DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS PELA ANÁLISE CITOLÓGICA, TESTE DE CLEMENTS E CONTAGEM DE CORPOS LAMELARES DO LÍQUIDO AMNIÓTICO RESUMO - O objetivo deste estudo foi avaliar a maturidade pulmonar de cordeiros, por meio do teste de Clements, da análise citológica pela coloração de Azul de Nilo e Shorr, e da contagem de corpos lamelares no líquido amniótico de ovelhas. Para tanto, foram utilizados 56 animais (24 ovelhas e 32 cordeiros), divididos em três grupos, a saber : Grupo I: constituído por oito ovelhas, com gestação em torno de 145 dias, e por 10 cordeiros nascidos de partos normais; grupo II: composto por oito ovelhas, com 138 dias de gestação, e por onze cordeiros nascidos de cesarianas; e, grupo III : constituído por oito ovelhas com 138 dias de gestação e que receberam 16mg/ovelha de dexametasona, por via intramuscular, 36 horas antes da cirurgia eletiva, e por 11 cordeiros delas nascidos. Na coloração de azul de Nilo observou-se diferença significativa entre os grupos I e III, porém esta técnica não foi satisfatória. Entretanto, a citologia utilizando a coloração de Hematoxilina-Shorr mostrou-se confiável, onde o grupo I diferiu estatisticamente do grupo III. Cerca de 20% dos cordeiros do grupo I possuíam maturidade pulmonar pelo teste de Clements. Contudo, o grupo II foi o que apresentou menor quantidade de bolhas (9,1%). O grupo III teve maior porcentagem de animais com maturidade pulmonar (36,4%), quando comparados aos grupos I e II. Os corpos lamenares apresentavam tamanhos variando entre 0,019 a 0,590 micrometros. A avaliação da maturidade pulmonar e fetal na neonatologia veterinária visa determinar o nascimento de paciente com alto risco, bem como o imediato estabelecimento de terapia de suporte ao recém-nascido, minimizando possíveis complicações e melhorando as taxas de sobrevivência. Palavras-chave: maturidade dos órgãos fetais, técnicas de diagnósticos, neonatologia, ovinos EVALUATION OF THE LUNG MATURITY IN NEWBORN AND PREMATURE LAMBS, USING CYTOLOGICAL ANALYSIS, CLEMENTS TEST AND LAMELLAR BODIES COUNT IN THE AMNIOTIC FLUID SUMMARY – The aim of this study was to determine pulmonary and fetal maturity of lambs by means of cytological tests using Nile Blue and HematoxilinShorr staining, Clements’ test and amniotic fluid lamellar body count. Amniotic fluid samples were collected from 24 sheep in order to evaluate pulmonary and fetal maturity of their 32 lambs, which were divided into three groups: Normal group included 10 lambs born at term, after 145 days of gestation; Caesarean group included 11 lambs delivered by caesarean section, after 138 days of gestation; and Caesarean+Dexamethasone group included 11 lambs born from sheep submitted to caesarean section, after 138 days of gestation, and dexamethasone 16 mg/animal (IM) administration two days prior to the surgical procedure.. A significant difference was observed between Normal and Caesarean+Dexametasone groups using Nile Blue staining. However, this technique was not effective. Hematoxilin-Shorr staining was reliable and it was possible to verify that the Normal group differed statistically from the group submitted to Caesarean+Dexamethasone. In Clements’ test, aiming to observe the presence of surfactant, which is characterized by the formation of bubble rings, approximately 20% of animals in the Normal group presented pulmonary maturity. However, the Caesarean group showed the least amount of bubbles (9.1%). The Caesarean+Dexamethasone group showed higher percentage of animals with pulmonary maturity (36.4%) when compared to the Normal and Caesarean groups The lamellar bodies were then measured to verify their size, which varied between 0.019 and 0.590 micrometers. Key-words: fetal organ maturity, diagnostic techniques and procedures, neonatology, sheep 11 1 INTRODUÇÃO A abordagem emergencial dos neonatos difere marcadamente do paciente crítico adulto pela fisiologia e pelos parâmetros hemodinâmicos particulares. Após o nascimento, inicia-se um período crítico chamado de “período de transição”, que engloba a adaptação do neonato da vida intrauterina para a extrauterina. Nesta fase, os sistemas corporais promovem ajustes fisiológicos considerados cruciais para o neonato. Sob condições não fisiológicas, relacionadas, em especial, aos partos distócicos e ao nascimento prematuro, estabelecem-se os quadros de asfixia precoce e tardia. A vulnerabilidade do neonato às condições adversas do meio relacionadas à imaturidade dos sistemas compensatórios e regulatórios orgânicos, bem como a ineficácia dos mecanismos de defesa intrínsecos ao período inicial do desenvolvimento, faz dessa categoria animal tópico especial na terapêutica veterinária. Neste prisma, pode-se pressupor que a adaptação e a vulnerabilidade ao meio externo são, indubitavelmente, ainda mais instáveis e desafiadores em animais prematuros. A neonatologia de animais pecuários ainda é área que caminha a passos lentos. Na pediatria, consegue-se, com certa facilidade, não somente a sobrevivência de pacientes de alto risco, como também, a quase certeza de que estes fetos prematuros terão, futuramente, qualidade de vida satisfatória. Atualmente, crianças nascidas prematuras, de mães com seis meses de gestação e pesando cerca de 600 g geralmente conseguem sobreviver sem qualquer tipo de complicação, fato improvável há alguns anos. Em veterinária, cabritos e cordeiros nascidos com apenas seis dias antes da data prevista para o parto apresentam enorme risco de morrerem antes mesmo das primeiras 24 horas de vida. 12 É sabido que quase a totalidade dos trabalhos científicos desenvolvidos no Brasil e em outros países é realizada com bezerros e potros, com pouquíssima atenção para os animais das espécies ovina e caprina. Existem escassos dados com relação às alterações clínicas e de componentes sanguíneos em cordeiros recém-nascidos normais e prematuros. Sem dúvida, os avanços da biotecnologia (Produção in Vitro, clonagens) têm trazido grandes benefícios à pecuária nacional, principalmente no que tange à rápida melhoria genética dos rebanhos. Contudo, vários problemas têm sido observados em decorrência dos mesmos, tais como : a) maior intervenção aos trabalhos de parto em virtude da elevada taxa de distocias em fêmeas primíparas, causadas pelo seu menor diâmetro pélvico e/ou pelo grande tamanho dos produtos gerados por técnicas avançadas de concepção; e b) necessidade de melhor e mais intensivista assistência ao recém-nascido, pelo desenvolvimento de inúmeras alterações orgânicas e funcionais (acidose respiratória e metabólica, falha de transferência de imunidade passiva, hipertensão, arritmias cardíacas, espessamento excessivo do cordão umbilical, entre outras). Infelizmente, poucos profissionais conhecem e militam na área de neonatologia veterinária, sendo cada vez mais necessárias pesquisas que viabilizem informações importantes aos colegas, para que procedimentos, durante o período perinatal, tenham sucesso e auxiliem a reduzir a taxa de morbimortalidade de animais recém-nascidos pecuários, e, em particular, de neonatos prematuros. 13 2 REVISÃO DE LITERATURA O período do periparto é fase de alto risco para o feto e a mãe. Cerca de 5 a 10% dos bezerros e 15 a 20% dos cordeiros nascidos por ano nos Estados Unidos morrem antes de mamar (VAALA; HOUSE, 2006). Entre 50 e 70% da mortalidade neonatal ocorrem nos primeiros três dias de vida (DWYER, 2008; SAWALHA et al., 2007), sendo a distocia, a inanição e a hipotermia, responsáveis por 50 a 60% dessas perdas (VAALA; HOUSE, 2006). Grande parte dos avanços ocorridos nas últimas décadas, com relação à assistência perinatal e neonatal, relacionam-se com a função respiratória, visto que a capacidade funcional pulmonar é imprescindível para a sobrevivência do neonato. A maturidade fetal pode ser clinicamente caracterizada, entre outros fatores, pela insuficiência respiratória. Dentro deste contexto é de grande importância para o clínico avaliar o grau de maturidade pulmonar fetal, levandose em consideração que qualquer problema na formação de algum componente pulmonar ou o nascimento prematuro pode acarretar problemas respiratórios ao neonato, como a síndrome da angústia respiratória (SAR) e outras. Evitar o nascimento prematuro constitui a principal medida preventiva para reduzir os riscos e sequelas da morbidade respiratória neonatal (LOBATO, 2011;TABORDA et al.,1998). Antes do nascimento não existem alvéolos maduros. Assim, em humanos, além das células endoteliais e das células epiteliais alveolares achatadas, outro tipo celular se desenvolve ao final do sexto mês. Essas células são denominadas de pneumócitos tipo II, que é uma célula rica em corpos lamelares (CL), que são estruturas intracelulares com 1 a 5 µ de diâmetro, ricas em lipídios e que armazenam as substâncias surfactantes, que são compostas por 70 a 80% de fosfolipídios, 10% de proteínas e 10% de lipídeos neutros, sendo esses fosfolipídios constituídos por fosfatidilcolina, fosfatidilinositol e fosfatidilglicerol (LOBATO, 2011; VAALA; HOUSE, 2006;). 14 O surfactante é estocado pelos corpos lamelares, os quais são estruturas carreadas para o espaço alveolar através dos movimentos respiratórios fetais e exsudação de líquido, sendo facilmente demonstradas no líquido amniótico (LA) por meio da microscopia eletrônica. Vários estudos têm demonstrado que os corpos lamelares aumentam com o progredir da gestação e a sua determinação no LA tem boa correlação com outros indicadores de maturidade pulmonar fetal (LEE, et al., 1996). As consequências clínicas da ausência desse líquido pulmonar (surfactante pulmonar) podem ser observadas em várias situações. Em humanos, neonatos prematuros que não possuem surfactante apresentam grande dificuldade para insuflar os pulmões, especialmente nas primeiras respirações. Mesmo quando seus alvéolos são insuflados artificialmente, é grande a tendência ao colapso espontâneo, por seus alvéolos serem menos estáveis sem surfactante pulmonar. Por essa razão, a ausência dessa substância ou alterações na quantidade ou qualidade dos fosfolipídios que o compõem, em um neonato prematuro, podem ser fatores importantes para desenvolvimento de síndrome da angustia respiratória (SAR) neonatal, também conhecida como síndrome da membrana hialina. Como consequência poderá ocorrer atelectasia progressiva, edema, alteração da relação ventilação/perfusão, levando à hipóxia tecidual; (DUBIN et al., 2000; GRENACHE ; GRONOWSKI, 2006; LOBATO, 2011; WIJNBERGER et al., 2009) O atendimento clínico ao animal recém-nascido é iniciado, tradicionalmente, ao nascimento. Porém, há crescente reconhecimento da importância da avaliação pré-natal e da parturiente para a subsequente viabilidade dos neonatos (RADOSTITS et al., 2002). Na medicina perinatal, um dos problemas encontrados está na determinação da morbidade respiratória neonatal. Os métodos de diagnóstico diretos, geralmente mais eficazes, são aqueles que utilizam amostras de LA para análise específica dos componentes do surfactante pulmonar, incluindo a medida da relação lecitina/esfingomielina (L/E), dosagem de fosfatadilglicerol (PG), relação surfactante/albumina (S/A), 15 contagem de corpos lamelares (CL) e teste de Clements (COSTA et al., 2001; TABORDA et al., 2000). 2.1 O líquido amniótico O LA desempenha importante papel no crescimento e desenvolvimento fetal. Circunda e protege o feto na cavidade amniótica, proporcionando um coxim contra os limites constritivos do útero gravídico, permitindo-lhe espaço para movimento e crescimento, e protegendo-o de traumatismos externos. Este espaço ao redor do feto é importante para o desenvolvimento e maturação de seus pulmões. Além disso, tem como funções manter a temperatura corporal, proteger contra desidratação, prevenir a aderência entre o feto e o âmnio, promover a dilatação da cérvix, vagina e vulva durante o parto, facilitando a passagem do feto, além de inibir o crescimento bacteriano e participar da homeostasia de líquidos e eletrólitos (JAINUDEEN; HAFEZ, 2004; MOURA et al., 2009). Os animais domésticos possuem os líquidos alantoideano e amniótico nas respectivas bolsas, diferenciando-se, assim, da mulher, que apresenta, como único líquido fetal, o fluido amniótico (GRUNERT; BIRGEL, 1984). Nos pequenos ruminantes, o LA predomina no terço médio da gestação e, nos outros momentos, o alantoideano prevalece. O fluido amniótico tem coloração esbranquiçada ou amarela clara, com aspecto transparente, consistência viscosa e volume de 350 a 1200 mL. Quanto à capacidade volumétrica, Malan et al. (1937) revelaram que o volume total de fluídos fetais aumenta com o avançar da idade do concepto, entretanto os volumes dos fluídos fetais separados mostram tendências diferentes. Assim, durante os três primeiros meses, o fluído alantoide se acumula lentamente, por exemplo, 131 mL aos três meses, ao passo que o aumento do LA ocorre em grande parte durante este tempo, de modo que, aos três meses, atinge 604 mL. No quinto mês o aumento do fluído alantoideano é 16 muito acelerado chegando a 485 mL, enquanto que o LA apresenta pouco aumento. Durante o último mês de gestação (quinto), o fluído alantóide quase duplica o seu volume para 834 mL, mas o volume de LA diminui para 369 mL. Quando há presença de gêmeos a totalidade de líquidos é de, aproximadamente, o dobro. O líquido alantoideano tem coloração amarela clara a âmbar, aspecto transparente, consistência aquosa e volume variando de 100 a 2000 mL (TONIOLLO; VICENTE, 1995). De acordo com Souza et al. (2000a), o aspecto do fluido amniótico em ovelhas varia do amarelo claro ao límpido viscoso, sendo visto nos últimos dias da gestação. Com o evoluir da gestação, o fluido amniótico vai se enriquecendo de células fetais originárias da pele fetal, do folheto amniótico e dos tratos respiratório, urinário e digestório (SOUZA et al., 2000b). A cavidade amniótica é formada entre 13 a 16 dias após a concepção em ovelhas e apresenta-se como um saco de camada dupla repleto de líquido e em íntimo contato com o feto (ROBERTS, 1998). A origem dos fluidos fetais (amniótico e alantoideano) e as secreções que para ele contribuem são complexas. Existem, pelo menos, quatro locais em que podem ocorrer a absorção e a secreção: sistema respiratório, urinário, digestivo e a pele (JAINUDEEN; HAFEZ, 2004). No feto ovino, a urina formada nos mesonéfrons passa para dentro da cavidade alantoideana por meio do úraco até os 90 dias de gestação. Depois disso, a urina migra em quantidades crescentes para a cavidade amniótica devido à oclusão do úraco e à abertura da uretra. Deste modo, a urina fetal forma a maior fonte de fluido amniótico na última fase da gestação em ovinos (JAINUDEEN; HAFEZ, 2004). O LA e o líquido alantoideano contêm constituintes metabólicos, eletrólitos, enzimas, hormônios, células do concepto e outras estruturas como pêlos, podendo encontrar mecônio em caso de sofrimento fetal (MOYA, 2005). 17 2.2 Colheita do líquido amniótico Para obtenção de fluidos fetais, o método eleito é o da amniocentese transabdominal, sendo procedimento seguro, que pode ser realizado no ambulatório humano. Em ovinos, Mellor e Slater (1972) indicaram a cateterização para a colheita de LA. Em estudos com amniocentese, Bongso e Basrur (1975) afirmaram que a técnica tem realização limitada, devido à anatomia do útero gravídico, dos sacos e fluidos fetais. Os primeiros estudos em medicina veterinária para analisar a fisiologia e o comportamento bioquímico do LA, obtido por amniocentese, foram realizados em ovinos (ALEXANDER et al., 1958; McDOUGALL, 1949; MELLOR e SLATER, 1972), em bovinos (LEIBO; RALL, 1990), em caprinos (AIDANASI; CHAUMAN, 1992), e em equinos (SCHMIDT et al., 1991). No entanto, Prestes et al. (2001) obtiveram o LA aos 70, 100 e 145 dias de gestação em ovelhas, para determinação bioquímica, por meio de laparotomia e punção direta do útero, sendo relatado que não houve problemas posteriores, como por exemplo, aborto ou morte dos fetos. Já em caprinos, Lovell et al. (1995) recomendaram a ultrassonografia como guia da via aspirativa, entre 59 a 65 dias de gestação, como técnica ideal. Entretanto, Khadjeh et al. (2007) realizando colheitas de LA durante o período gestacional de cabras, por meio de cirurgias nas quais o útero era incidido na sua curvatura dorsal e as carúnculas separadas dos cotilédones delicadamente, com posterior obtenção do LA; não relataram os resultados das cirurgias em relação aos possíveis problemas ocorridos. Já na espécie canina, Barreto (2002), empregou o procedimento cirúrgico (cesariana) para obtenção dos fluidos fetais de cadelas. 18 2.3 Avaliação da maturidade pulmonar e fetal por meio do líquido amniótico O LA é fonte importante para avaliação das condições fetais. Uma variedade de métodos bioquímicos, citológicos, biofísicos e imunológicos permitem a determinação do grau de maturação pulmonar, renal e epidérmica fetais, além de anormalidades genéticas e outras afecções (KJELDSBERG; KNIGHT, 1998). Para análise do LA, os métodos diretos geralmente são mais eficazes, por analisarem os componentes específicos do surfactante pulmonar, incluindo a medida da relação lecitina/esfingomielina (L/E), dosagem do fosfatidilglicerol (PG), teste de Clements, contagem de corpos lamelares (CL), relação surfactante/albumina (S/A), determinação da absorbância do LA a 650nm, além da citologia do LA (COSTA et al., 2001; DALENCE et al., 1995). A medida da relação surfactante/albumina (S/A), por polarização de fluorescência, é método de avaliação quantitativa da maturidade pulmonar fetal bastante utilizado na medicina humana de países desenvolvidos. Baseia-se na ligação competitiva de uma sonda fluorescente à albumina e ao surfactante no líquido amniótico. A polarização é alta quando a sonda está ligada à albumina e baixa quando ligada ao surfactante (GRENACHE; GRONOWSKI, 2006). A medida da relação L/E, descrita por Gluck et al. (1971), é uma das provas laboratoriais mais utilizadas na identificação de conceptos com pulmões imaturos em humanos, visto que vários estudos comprovaram a segurança da técnica. (COSTA et al., 2001; BERTINI et al., 1992). Esta medida é considerada o teste padrão ouro para maturidade pulmonar; no entanto, apresenta aspectos negativos, pois é técnica dispendiosa, laboriosa, devendo ser realizada em laboratório capacitado (DUBIN et al., 2000). A identificação de fosfatidilglicerol (PG) no LA oferece garantia de maturidade pulmonar ao nascimento, mas também é um método extremamente caro e demorado (BERTINI et al., 1992; TABORDA et al., 2000). O teste ideal para avaliar a maturidade pulmonar fetal é aquele de fácil execução, com gastos mínimos, equipamentos simples, que não necessite de 19 profissionais especializados, rapidamente reproduzível, clinicamente confiável e, finalmente, aplicável na maioria das gestações (FIELD, 1997). 2.4 Testes propostos para avaliação da maturidade pulmonar e fetal 2.4.1 Método citológico Mediante o estudo citológico do LA e suas modificações em relação ao período gestacional, pode ser factível a determinação da maturidade do concepto. Para a visualização das células do LA, uma das técnicas empregadas é a coloração por Sulfato de Azul do Nilo. Estabeleceu-se, em humanos, a proporção de células lipídicas coradas por esta técnica, que se apresentam alaranjadas, possibilitando, portanto, a avaliação da maturidade fetal. A presença de grande quantidade de células orangeofílicas no fluido amniótico é indicativa da maturidade das glândulas sebáceas, e a porcentagem dessas células está diretamente relacionada à maturidade fetal (KJELDSBERG; KNIGHT, 1998). Em ovinos, essas células alaranjadas praticamente inexistem no início da gestação, aparecendo em pequena proporção no terço médio e se proliferam até o momento do parto, representando cerca de 50 a 95% da população celular encontrada no LA, com maiores valores encontrados nos fetos mais velhos, revelando que a análise citológica é um bom meio para predizer a idade fetal (SOUZA et al., 2000b). A técnica de citologia de Azul de Nilo (0,1%) ou índice cito-lipídico consiste na mistura de uma gota de LA com uma gota de corante, homogeneização e posterior leitura em microscopia óptica (NOMURA et al., 2001). Esta técnica permite a classificação celular quanto ao grau de maturidade, pois quanto mais vermelho-amarelado, mais maduro (CAMPANA et al., 2003). Existem vários métodos de colorações além da técnica de citologia corada pelo sulfato de Azul de Nilo a 0,1% que podem ser utilizados para 20 analisar a citologia do LA. Dentre elas destacam-se o método Hematoxilina– Shorr, Lugol forte, Giemsa, entre outras. Martins (2003) realizou ensaio sobre a citologia do LA de cadelas, onde comparou os métodos de colorações de Hematoxilina Shorr, Giemsa e DiffQuick, e concluiu que apesar da coloração pelo método de Hematoxilina-Shorr ser trabalhosa e, portanto, mais lenta, permite melhor avaliação da morfologia e determina com mais exatidão o estágio de maturação fetal, em virtude de suas características tintoriais. 2.4.2 – Teste de Clements O teste de Clements, proposto por Clements et al. (1972), constitui-se prova rápida, simples, econômica e segura, que se baseia na propriedade biofísica do surfactante de manter a superfície de tensão na interface ar-líquido, representada pela formação de um halo estável de bolhas, pela reação com o álcool (esterificação). Em humanos, a acurácia desse teste não apresenta resultados falso-positivos, variando de 1 a 3%. No entanto, os falso-negativos são mais frequentes, variando de 8 a 40%. Cita-se que o teste de Clements deve ser utilizado como triagem para a presença de maturidade pulmonar, acreditando-se nos resultados positivos e submetendo, contudo, os resultados negativos a exames mais sensíveis (AMORIM et al., 1998). Em cães, o teste de Clements modificado pode ser empregado para a avaliação da viabilidade fetal e maturidade pulmonar (BARRETO, 2002). 2.4.3 Contagem de corpos lamelares A contagem de corpos lamelares (CCL) tem sido proposta também como um teste de triagem para avaliação de maturidade pulmonar (COSTA et al., 2001; CARRILLO et al., 1997). Esse método foi descrito por Dubin (1998), e é 21 um teste rápido, de baixo custo, requerendo pequeno volume de amostra, podendo ser facilmente quantificado por aparelhos habitualmente usados para realização de hemogramas (DALENCE et al., 1995), já que seu tamanho (1 a 5 µm) é muito semelhante ao das plaquetas (1-3 µm) de humanos (DUBIN, 1998). O surfactante pulmonar, produzido principalmente nos pneumócitos tipo II dos alvéolos, é “empacotado” em estruturas chamadas corpos lamelares, cujo diâmetro é de 1 – 5 µm, semelhante ao das plaquetas. Os corpos lamelares servem, aparentemente, de reservatórios intracelulares, que vão sendo secretados para a superfície alveolar por exocitose. Acredita-se que o estiramento do alvéolo pela insuflação de ar pode ser estímulo fisiológico relevante para secreção dessas organelas. Uma vez fora da célula, os corpos lamelares desenrolam-se para tomar a forma de mielina tubular, responsável pela diminuição da tensão superficial dos alvéolos (STEIBEL, 2008). FIGURA 1 – A) Microscopia eletrônica evidenciando corpo lamelar em líquido oriundo da espécie equina medindo 0,83 µm, (CASTAGNETTI, 2007); B) Microscopia eletrônica de corpo lamelar humano (WONG et al.,1998); C) Microscopia eletrônica evidenciando corpo lamelar de rato (STAHLMAN, et al., 2000). 2.5 Análises Hematológicas dos neonatos 2.5.1 Glicemia Os recém-nascidos sofrem alterações orgânicas que podem influenciar diversos constituintes sanguíneos, devido à maturação funcional dos órgãos e 22 sistemas, além da adaptação nutricional decorrente da ruptura do cordão umbilical no parto e interrupção do transporte de nutrientes materno-fetal. Portanto, a necessidade energética para suportar a termorregulação, respiração e atividade muscular, encontra-se aumentada. A glicose sanguínea, um dos substratos energéticos primários disponíveis ao ruminante neonato, é baixa no recém-nascido até a primeira ingestão de colostro (YANAKA et. al.,2012). Os teores de glicose em bezerros logo ao nascimento, na ausência da ingestão de colostro, estão relacionados ao metabolismo hepático e de glicogênio muscular, os quais respondem principalmente à ação de catecolaminas, como a noradrenalina e adrenalina (CHAN et.al., 1993). A maioria dos neonatos debilitados também são hipoglicêmicos, principalmente devido à depleção dos estoques de glicogênio e imaturidade hepática (MACINTIRE, 1999). Salhab et. al. (2004) observaram que a hipoglicemia é um fator de risco adicional à injúria cerebral, principalmente em neonatos deprimidos por hipóxia, isquemia e asfixia, ou submetidos à manobras de ressuscitação. Assim sendo, a determinação da glicemia, tornase essencial na neonatologia veterinária, podendo auxiliar no tratamento suporte do neonato. 2.5.2 Lactato Na obstetrícia humana, o lactato desempenha um papel central como marcador de sofrimento fetal e neonatal. A presença de lactato em níveis excessivos documenta a utilização de vias secundárias de oxigenação devido à hipóxia decorrente de eventos que ocorreram durante o parto (GROPPETTI et al., 2010; SAUGSTAD, 2002). 23 A mensuração da concentração de lactato é uma técnica minimamente invasiva que pode ser realizada com amostras de sangue venoso (McMICHAEL et al., 2005). Em humanos, os níveis de lactato têm se mostrado uma ferramenta útil para diagnóstico, monitoração e prognóstico de uma ampla gama de síndromes clínicas (BUENO et al., 2012). Segundo Koliski et al. (2005), em estudo sobre a utilização de lactato sérico como marcador prognóstico em crianças gravemente doentes, na maioria dos pacientes com concentrações de lactato acima de 2mmol/L evidenciou sinais clínicos de hipoperfusão. A normalização ou diminuição da concentração, a partir de 24 horas de internação, esteve significativamente relacionada com a maior probabilidade de sobrevivência (BARROSO et. al.,2006). 2.5.3 Hemogasometria Durante a fase gestacional, e durante o nascimento, o animal está sujeito a baixo suprimento de oxigênio. Os neonatos saudáveis sofrem de acidose discreta, sendo que os animais nascidos de partos laboriosos apresentam, invariavelmente, níveis significativamente mais baixos de pH sanguíneo (GARDINER, 1980; WILSON et al., 1976). As contrações uterinas e a ruptura das membranas fetais durante o parto normal causam distúrbios na circulação sanguínea uteroplacentárias, promovendo leve, porém transitória, acidose mista, considerada fisiológica, encontrando-se, o pH sanguíneo, em torno de 7,2 (RAVARY-PLUMIOËN, 2009). Observa-se acidose metabólica e respiratória transitória discreta após a ruptura do cordão umbilical, por causa da glicólise anaeróbia em tecidos pouco perfundidos, durante a transição do fornecimento placentário de oxigênio para o estabelecimento da função respiratória (VAALA; HOUSE, 2006). Esta condição é agravada pela reduzida capacidade respiratória do neonato, caracterizada por hipoventilação, que não garante a remoção do dióxido de carbono (CO2) na mesma intensidade em que é produzida, levando, pelo seu 24 acúmulo, à produção de ácido carbônico e, consequentemente, à diminuição do pH (PICCIONE et al., 2006). Para combater os desequilíbrios ácido-básicos o organismo se utiliza de três mecanismos principais, a saber: tamponamento químico pelo bicarbonato, ajuste respiratório e excreção de íons hidrogênio pelos rins. Os sistemas tampões e respiratório atuam em poucos minutos, ao contrário dos rins, que respondem mais tardiamente ao excesso de ácido ou de base (GUYTON; HALL, 2006; HOUPT, 2006). Em bezerros é descrito que os desequilíbrios ácido-básicos fisiológicos, presentes logo após o nascimento, são solucionados em torno de duas horas no caso da acidose respiratória e em torno de 24 a 48 horas para a acidose metabólica (VARGA et al., 1998; UYSTEPRUYST, 2006). Tal condição pode ser devida à reversão fisiológica da acidemia sofrida durante o parto, em virtude do início da atividade respiratória e do mecanismo de filtração renal, obedecendo ao novo padrão circulatório e respiratório estabelecido pelo organismo (BENESI, 1993; HASKINS, 1977). Em bezerros recém-nascidos observou-se a influência etária nos valores hemogasométricos e do balanço ácido-básico em suas primeiras 24 horas de vida, tanto no sangue venoso quanto no arterial (VARGA et al., 1998; LISBÔA et al., 2002; GASPARELLI, 2007). Yanaka (2009) observou que caprinos recém-nascidos possuíam valores mais baixos de pH sanguíneo, e valores de pCO2 aumentados, caracterizando, assim, acidose respiratória. Entretanto, às 48 horas de vida, estes valores apresentavam-se normalizados. Camargo (2010) descreveu a ocorrência de discreta acidose, para os cabritos nascidos de partos normais, e de acidose mais severa para os nascidos de cesarianas, os quais, às 24 horas de vida, já se encontravam bem próximos aos valores de referência. Normalmente, quando há indicação de cesariana, vários fenômenos encontram-se associados. Entre os mais importantes, cita-se a emergência requerida à distocia materna e/ou fetal, tornando o ato cirúrgico e a anestesia mais difíceis. Nestes casos o risco de morte aumenta, pois ocorrem eventos 25 fisiológicos que alteram a resposta da paciente e do feto em relação aos anestésicos (MASSONE, 2008). Os agentes anestésicos que afetam o sistema nervoso central materno produzirão os mesmos efeitos no feto, que são caracterizados, geralmente, por depressão e viabilidade diminuída (RAFFE; CARPENTER, 2007). A oxigenação uterina é diretamente proporcional à pressão de perfusão e indiretamente proporcional à resistência vascular uterina, ou seja, como na gestante anestesiada há diminuição na circulação uterina, pode haver redução na viabilidade fetal (GAIDO, 1997). 2.5.4 Hemograma A avaliação hematológica neonatal representa um recurso diagnóstico de grande valia. Mohri et al. (2007) afirmam haver relação entre à disponibilidade de ferro para os neonatos e à concentração de hemoglobina e o hematócrito. A hemoglobina fetal tende a desaparecer e ser substituída pela adulta logo ao nascimento. Os eritrócitos adultos são de menor tamanho e necessitam de menores quantidades de hemoglobina, sem necessariamente relacionar-se aos níveis sanguíneos de ferro. No período neonatal, o recém-nascido está mais susceptível às doenças (RADOSTITIS, 2002) e a mortalidade de neonatos constitui um relevante problema na criação da espécie ovina (CHRISTLEY et al., 2003) sendo importante, portanto, a realização dos estudos que auxiliem a compreensão dos mecanismos fisiológicos e esclareçam as causas das afecções para minimizar os prejuízos. Dentre os processos patológicos que comprometem a saúde dos pequenos ruminantes, destacam-se aqueles que, em sua evolução clínica, determinam o aparecimento de quadros de anemia (KANEKO; MILLES, 1970). A hematologia clínica constitui-se em importante área de estudo sobre o estado de saúde dos animais, sendo o hemograma um dos métodos auxiliares 26 de avaliação de diagnóstico e prognóstico de enfermidades (GAMA et al., 2008). Neste estudo, foram utilizados os valores de referência de acordo Jain (1993) e Meyer (1995). 2.6 Objetivos 2.6.1 Objetivo geral Avaliar a maturidade pulmonar de cordeiros nascidos a termo e prematuros, pela análise do líquido amniótico, por meio de citologia, do teste de Clements e contagem de corpos lamelares. 2.6.2 Objetivos específicos ● Determinar, avaliar e comparar a vitalidade, a coloração de mucosas, a temperatura retal, a frequência cardíaca e função respiratória (frequência e padrão respiratório) de cordeiros nascidos a termo e prematuros, ao longo das 48 horas de vida; ● Determinar, avaliar e comparar os valores do hemograma completo, incluindo volume globular (VG) e hemoglobina (Hb), ao longo das 48 horas de vida; ● Determinar, avaliar e comparar os valores de pH, PCO2, HCO3 e BE de amostras de sangue venoso de cordeiros nascidos a termo e prematuros, ao longo das 48 horas de vida; ●Determinar, avaliar e comparar os níveis séricos de glicose e lactato em cordeiros nascidos a termo e prematuros, ao longo das 48 horas de vida; ●Determinar, avaliar e comparar as taxas de morbimortalidade de cordeiros em decorrência do grau de imaturidade pulmonar; 27 ●Determinar e avaliar a utilização dos testes de Clements, contagem de corpos lamelares e as características citologias, visando à avaliação da maturidade pulmonar em cordeiros prematuros e a termo. 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Característica dos animais e grupos experimentais Para atingir os objetivos propostos, foram utilizados, no total, 56 animais (24 ovelhas e 32 cordeiros) da espécie ovina, mestiços de Suffolk, provenientes de rebanho da região de Araçatuba/SP, distribuídos em três Grupos experimentais, a saber: GRUPOS GRUPO I GRUPO II GRUPO III 3.2 ANIMAISANIMAIS Constituído por oito ovelhas, com gestação em torno de 145 dias, e por 10 cordeiros nascidos de partos normais. Composto por oito ovelhas, com 138 dias de gestação, e por oito cordeiros nascidos de cesarianas. Constituído por oito ovelhas com 138 dias de gestação e que receberam 16mg/ovelha de dexametasona1, por via intramuscular, 36 horas antes da cirurgia eletiva, e por 11 cordeiros. Instalações e Manejo Os animais foram mantidos a pasto e suplementados com silagem e ração comercial, indicada para a espécie ovina. Próximo à data prevista do parto e/ou da realização da cesariana, transferiu-se os animais para a baia, para facilitar a observação do parto. As ovelhas pertencentes ao grupo I foram monitoradas durante as 24 horas do dia, para que houvesse adequado acompanhamento, caso entrassem em trabalho de parto. 28 A fim de concentrar as parições e facilitar o manejo, adotou-se um protocolo de sincronização de estro com esponjas vaginais de progesterona b, seguidas da administração de 0,4 mL de prostaglandina (PGF2α) via intramuscular no dia zero (D0), e, no sétimo dia (D7), aplicou-se 5.000 UI de gonadotrofina coriônica equina (ECG)c e 0,4 mL de prostaglandinad por via intramuscular. O carneiro utilizado como reprodutor era marcado na região peitoral com tinta a cada 36 horas, sendo a sua cor alterada a intervalos de 15 dias. Com as datas de cobertura das ovelhas conhecidas, realizou-se exame ultrassonográfico (DP 2200 Vet, Mindray) abdominal para confirmação da gestação entre 45 e 60 dias após a última data de cobertura. 3.3 Anestesia e procedimento cirúrgico Para o procedimento anestésico adotado nas cirurgias cesarianas empregou-se a anestesia local com bloqueio paravertebral proximal nos ramos nervosos das vértebras T13, L1 e L2, utilizando-se cloridrato de lidocaína (Xylestesin® 2%, Cristália), no volume de 5 mL em cada ponto dorsal e ventral aos processos transversos. Associou-se à anestesia peridural lombossacra (L6- S1), sulfato de morfina (Dimorf®, Cristália) na dose de 0,1 mg/kg diluída em 5 mL de solução fisiológica. Nos casos em que a anestesia paravertebral não foi eficiente, realizou-se bloqueio infiltrativo no local da incisão com cloridrato de lidocaína. Após a retirada do feto, quando necessário, as ovelhas recebiam sedação com maleato de midazolam (Dormonid ®, Roche) na dose de 0,2 mg/kg. O procedimento cirúrgico foi feito com as ovelhas colocadas em decúbito lateral direito, para incisão em região do flanco esquerdo, conforme técnica descrita por Tibary e Van Metre (2004). 3.4 Colheita e preparação das amostras de líquido amniótico As colheitas de amostras aos 138 dias (Grupos II e III) foram realizadas em ovelhas submetidas à cesariana. Após a tricotomia, a fêmea 29 permanecia na mesa cirúrgica onde realizava-se a incisão em região do flanco esquerdo. O útero era localizado e exteriorizado, verificando-se a melhor região para a realização da incisão uterina, a fim de se evitar hemorragia excessiva e a contaminação da amostra com sangue. Após a exposição placentária rompia-se delicadamente a membrana corioalantóideana e amniótica, e com uma seringa de 20 mL e agulha 40x12 retirava-se a maior quantidade de LA possível. Nas ovelhas que pariram normalmente (Grupo I), o método de colheita do LA era feito após a expulsão da bolsa amniótica; caso a mesma permanecesse intacta, colhia-se com a utilização de uma agulha 40x12 acoplada a uma seringa de 20 mL. Caso rompesse, o mesmo era obtido por meio da colocação de um tubo “falcon” apoiado à vulva da fêmea. Devido a pouca quantidade de pessoas na equipe, e priorizando-se o conforto respiratório e o tratamento suporte do neonato, não foi possível a realização dos testes para avaliação de maturidade fetal imediatamente após a colheita. Dessa forma, as amostras eram mantidas refrigeradas em isopor com gelo reciclável, durante todo procedimento cirúrgico, sendo, posteriormente, separadas em alíquotas e congeladas a -18º C. 30 FIGURA 2- A) Obtenção do LA do grupo I (Parto normal), B) evidenciando a colheita do fluído amniótico pelo método de escoamento durante as contrações uterinas para o interior do tubo e/ou seringa descartável (20 mL), apoiando-se à vulva da fêmea. FIGURA 3 - Colheita de LA de ovelha submetida à cesariana (Grupos II e III). 31 3.5 Avaliação do líquido amniótico O LA foi avaliado em sua totalidade, incluindo os testes para avaliação da maturidade fetal e pulmonar propostos neste trabalho (Teste de Clements, contagem de corpos lamelares e citologia com azul de Nilo a 0,1 %), bem como a avaliação macroscópica (aspecto, viscosidade, coloração, volume e possíveis contaminações), além de sua morfologia celular. Além da técnica de azul de Nilo, realizou-se, concomitantemente, o método de Hematoxilina– Shorr, utilizada por Moya (2005), como método alternativo. Da mesma forma, realizou-se, além do teste de Clements et al (1972), o teste modificado como sugerido por Barreto (2006). Todos os dados obtidos foram anotados em fichas individuais (Figura 5). FIGURA 4 – Ficha de acompanhamento individual, onde foram anotados os dados obtidos após análises do líquido amniótico. 32 3.5.1 Método citológico - Coloração de azul de Nilo a 0,1% Uma gota (50uL) de LA foi colocada sobre uma lâmina de vidro e diluída em uma gota (50uL) de corante Azul de Nilo a 0,1%. Posteriormente, esta lâmina era coberta por uma lamínula (Figura 5) e observada à microscopia óptica com objetiva de 40 vezes, para facilitar a visualização do campo para a contagem, e em outra objetiva de 100 vezes, para evidenciar as nuances celulares. As porcentagens de células orangeofílicas (alaranjadas) foram relacionadas com às cianofílicas (azuladas). A observação de proporção superior a 10% foi considerada significativa para a maturidade fetal. FIGURA 5 – Preparo das lâminas para posterior análise em microscopia óptica. 33 3.5.2 Método citológico : coloração de Hematoxilina-Shorr Nos casos em que a amostra era acompanhada pela presença de muco, procedia-se nova centrifugação a 3.000 rpm por três minutos, para que não ocorresse lise das células. Posteriormente, era submetida à citocentrífugação. As amostras que não tinham muco eram imediatamente citocentrifugadas. Após a secagem da lâmina, procedia-se a coloração de Hematoxilina-Shorr. Moya (2005) relatou que devido à pequena quantidade de células nos fluídos fetais, as amostras necessitavam de nova centrifugação a 4000 rpm, durante seis minutos. Porém, o tempo de seis minutos foi mantido neste trabalho, mesmo realizando-se a centrifugação a 1000 rpm, já que tal velocidade mostrou-se adequada para a separação celular. As lâminas passaram por 19 fases de coloração, seguindo as recomendações de Oliveira, et.al. (2000). 3.5.3 Teste de Clements Clements et al. (1972) propuseram a prova com cinco diluições diferentes de LA (Quadro 1) em tubos de vidro de 14x100 mm, quimicamente limpos com éter e previamente numerados, nos quais eram distribuídos os volumes de LA, solução salina a 0,9% (SF) e etanol a 95% (E). Os tubos, fechados com tampa de borracha limpa, foram vigorosamente agitados durante 15 segundos e colocados verticalmente em suporte adequado. A persistência de um anel intacto de bolhas na interface ar/líquido após 15 minutos de observação configurou o resultado positivo. Neste estudo, o teste foi dividido em duas categorias de resultados: (1) negativo ou "imaturo" - não-persistência de bolhas no 1º tubo ou somente nos 2 primeiros tubos e ausente no 3º e (2) positivo ou "maduro" - espuma estável até o 3º tubo. (CLEMENTS et al., 1972; COSTA et al., 2001; TABORDA et al., 2000). 34 QUADRO 1. Diluições utilizadas para a realização do teste de Clements et al. (1972). 1°. Tubo 1,0 mL LA + 1,0 mL Etanol 95% 2°. Tubo 0,75 mL LA + 0,25 mL SF + 1,0 mL Etanol 95% 3°. Tubo 0,50 mL LA + 0,5 mL SF + 1,0 mL Etanol 95% 4°. Tubo 0,25 mL LA + 0,75 mL SF + 1,0 mL Etanol 95% 5°. Tubo 0,20 mL LA + 0,8 mL SF + 1,0 mL Etanol 95% Caso ocorressem problemas, como os verificados por Barreto (2006), que ao realizar a técnica proposta por Clements não se constatou halo de espuma em nenhum dos tubos, optava-se pela não diluição das amostras com solução fisiológica (teste de Clements modificado) conforme realizado por Barreto (2006). 3.5.4 Teste de Clements modificado por Barreto (2006) O teste de Clements modificado por Barreto (2006) tem como base a reação de saponificação dos surfactantes presentes. Realizaram-se diluições gradativas dos fluídos com etanol a 95%, observando-se possíveis halos de espuma nos tubos de ensaio. O halo recebeu valores de 0 a 4 de acordo com a sua intensidade. Optou-se pela exclusão da diluição com um (1) mL de solução fisiológica como preconiza o teste, pois não propiciou a formação de bolha. Excluiu-se, também, a maior (1mL) e menor (0,5 mL) diluições, em virtude do volume colhido (BARRETO, 2006). QUADRO 2- Teste de Clements modificado, proposto por Barreto (2006). 1° Tubo 2° Tubo 3° Tubo 4° Tubo 0,9 mL (LA)+ 1 mL (Etanol 95%) 0,8 mL (LA)+ 1 mL (Etanol 95%) 0,7 mL (LA)+ 1 mL (Etanol 95%) 0,6 mL (LA)+ 1 mL (Etanol 95%) 35 3.5.5 Contagem de corpos lamelares A contagem de CCL foi realizada no canal de plaquetas em analisadores hematológicos, necessitando-se de 0,5 mL de LA por amostra. O equipamento era calibrado com os parâmetros utilizados para a contagem de plaquetas entre 25 a 35 fL ovinos. As amostras foram filtradas, colocadas em tubos medindo 12 x 75 mm, sendo o sobrenadante testado por meio de sistema automatizado Coulter STKS®, no canal de plaquetas, por medida volumétrica e por meio da distribuição de tamanho, comparando-se a curva logarítmica (tecnologia de fluxo de arraste (FAKHOURY et al., 1994; LEWIS et al., 1999; CARRILLO et al., 1997). Caso a técnica proposta não se mostrasse satisfatória, uma alíquota de LA (com 2 mL, aproximadamente) de cada amostra era encaminhada ao Laboratório de Microscopia Eletrônica (Biocell) da Universidade Estadual Paulista – USP de Ribeirão Preto, para processamento e posterior análise por meio da microscopia eletrônica (MET JEOL JEM 100 CX II), com intuito de se avaliar a presença de corpos lamelares. 3.6 Avaliação dos recém-nascidos Com o objetivo de estudar as alterações dos parâmetros vitais e das características cardiorrespiratórias de cordeiros nascidos a termo e prematuros, todos os animais dos diferentes grupos foram submetidos à aferição da temperatura retal, frequência cardíaca, frequência respiratória e à avaliação das características respiratórias, ao nascimento, aos 15 e 60 minutos, bem como às seis, 12, 24 e 48 horas de vida. Para avaliação da vitalidade dos cordeiros, utilizou-se o escore Apgar modificado por Born (1981). Os quatro itens de avaliação, pontuados de zero a dois, foram os seguintes: a) movimentação da cabeça com água fria (zero – ausente; um - diminuída; dois - espontânea e com movimentos ativos); b) resposta reflexa óculo-palpebral e interdigital (zero – ausente; um – um reflexo presente; dois – dois reflexos presentes); c) tipo de respiração (zero – 36 imperceptível; um - lenta e irregular; dois – rítmica e profundidade normal); e d) coloração das mucosas visíveis (zero – branco-azulada; um – azul e dois – róseo-avermelhada), com pontuação interpretada da seguinte forma: sete a oito representam boa vitalidade; quatro a seis caracterizam animal com moderada vitalidade, e pontuação entre zero a três é sugestiva de que o recém-nascido encontra-se com baixa vitalidade (deprimido). Os cuidados referentes à manutenção de temperatura e suporte ventilatório, quando do desenvolvimento de hipotermia e hipóxia, foram feitos mantendo os neonatos em incubadora apropriada e ventilação com auxílio de ambu, respectivamente. Outros procedimentos terapêuticos eram realizados, caso houvesse necessidade, levando-se em consideração a manifestação clínica apresentada (hipoglicemia, hipovolemia), na tentativa de mantê-los vivos e saudáveis ao longo das avaliações. FIGURA 6 - Manutenção da temperatura e suporte ventilatório de cordeiro em incubador apropriada. Cordeiro com sondas nasotraqueal e esofágica. 37 3.6.1 Colheitas e preparação de amostras de sangue 3.6.1.1 Determinação da glicemia e do lactato As mensurações da glicemia e da concentração plasmática de lactato foram realizadas imediatamente após a colheita de sangue em cada momento, em glicosímetro (One Touch Ultra II®, Johnson & Johnson) e lactímetro (Accutrend Plus®, Roche), respectivamente, seguindo-se as recomendações dos fabricantes. 3.6.1.2 Hemogasometria Para a realização da colheita foram utilizadas seringas de plástico 2, contendo heparina lítio cálcio (80 UI de heparina), para volume de 1,6 mL, acoplada à agulha hipodérmica 25 x 0,7 mm. Quando presentes, o ar residual e as bolhas foram desprezados, e as seringas mantidas seladas e armazenadas em recipiente térmico contendo água e gelo reciclável, até o seu processamento, sem contato direto, sendo as amostras processadas, invariavelmente, em até 15 minutos após a colheita, como recomendado por Lisboa et al. (2002). Efetuou-se a determinação dos valores de pH, pressão parcial de gás carbônico (pCO2), bicarbonato (HCO3) e excesso/déficit de base (BE) em analisador clínico eletrônico portátil (i-Stat® Portable Clinical Analyzer), utilizando-se cartuchos específicos (EG7+ Cartridge) de acordo com as recomendações do fabricante, sendo calibrado automaticamente antes do processamento das amostras. Adicionalmente, como controle de qualidade, foi utilizado o simulador eletrônico (i-Stat® Electronic Simulator) para verificar o funcionamento correto do equipamento antes do processamento. Os valores de pH e pCO2 foram ajustados pelo aparelho, de 38 acordo com a temperatura retal de cada animal, aferida com termômetro clínico digital. 3.6.1.3 Hemograma Amostras de sangue venoso foram colhidas logo após o nascimento (M0h), aos 15 minutos (M15min), aos 60 minutos (M60min), às 24 horas (M24h) e às 48 horas de vida (M48h). Para a colheita das amostras de sangue realizou-se assepsia local, seguida por punção da veia jugular, utilizando-se agulhas 25 x 0,7 mm acopladas a tubos com anticoagulante ácido etilenodiamino tetracético3 (EDTA), para volume de cinco (5) mL, e tubos siliconizados sem anticoagulante4, para volume de 10 mL. O sangue recolhido para obtenção do soro era mantido em temperatura ambiente, ao abrigo da luz, até a coagulação e retração do coágulo. Em seguida, centrifugado a 3.000 r.p.m., durante cinco minutos, para melhor separação do soro, sendo, então, transferido para eppendorfs apropriados, divididos em três alíquotas, e congelado imediatamente a -20o C, até o momento do seu processamento. O teor de hemoglobina foi mensurado em espectrofotômetro semiautomático (Labquest, Labtest, Belo Horizonte, Minas Gerais), empregando-se o reativo comercial de cianometahemoglobina. O volume globular foi obtido com a utilização de tubos capilares e centrífuga para microhematócrito, sendo as amostras de sangue com EDTA centrifugadas a 13.000 x G, durante cinco minutos. A concentração plasmática de proteína total foi determinada utilizandose refratômetro clínico (Master-SUR/NM, ATAGO, Tóquio, Japão) e o teor plasmático de fibrinogênio realizado pelo método de precipitação pelo calor com posterior leitura em refratômetro (MILLAR et al., 1971). O leucograma foi realizado mediante a contagem leucocitária manual, em câmara de Neubauer (Neubauer Improved Bright-Lined, New Optik), diluindo-se a amostra com a utilização de pipetas (Pipeta de Thoma, Writeg, 39 Alemanha). Para cada amostra colhida preparou-se esfregaço sanguíneo corado, para a contagem de 100 células, com corante Panótico Rápido (LaborClin) visando a contagem diferencial de leucócitos (GARCIA-NAVARRO, 1994). 3.6.2 Exame Radiográfico Realizou- se o exame radiográfico pulmonar no momento do nascimento dos cordeiros (M0), às 24 e às 48 horas de vida (M24 e M48), por meio do aparelho5 de Raio-X fixo, posicionando-se os animais em decúbito látero-lateral. 3.7 Análise Estatística Os dados foram submetidos à análise de variância com medidas repetidas, por meio do procedimento MIXED do SAS (Statistical Analysis Sistem) e estrutura de covariância utilizada definida pelo critério de informação de Akaike. As comparações múltiplas das médias foram realizadas com o LSMEANS (Least Squares Means), ajustado para Tukey. Os valores das variáveis (tabelas com as medianas) foram analisados usando o teste de Kruskal Wallis para comparar os grupos em cada momento e teste de Friedman para comparar os momentos para cada grupo, seguido do teste de comparações múltiplas de Dunn. Os valores das variáveis, coloração da mucosa e do Teste de Clements utilizando o líquido amniótico, foram analisados usando o teste exato de Fisher. O nível de significância adotado foi de 5%. 40 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Análise do líquido amniótico Por maturidade fetal entende-se que determinados órgãos fetais em determinada categoria gestacional apresentam grau de desenvolvimento funcional semelhante ao encontrado em recém-nascido nascidos a termo. (NEME, 1988). Na medicina humana muitas técnicas são empregadas para avaliação tanto da maturidade fetal quanto da maturidade pulmonar, porém, na medicina veterinária, algumas técnicas utilizadas em humanos e denominadas como técnicas “padrão ouro”, são muito caras e difíceis de serem realizadas na rotina clínica. Na literatura são poucos os trabalhos desenvolvidos com a análise do LA e sua relação com a maturidade fetal e pulmonar em ovinos. Portanto, a maioria dos trabalhos propostos é baseada em trabalhos feitos em humanos. O LA é considerado como produto oriundo de secreções das paredes ou folhetos amnióticos, bem como pela saliva, secreção do trato respiratório do feto e, temporariamente, pela urina. Considerando que esse líquido envolve diretamente o feto, nele pode ser encontrado pêlos, células epiteliais, restos de escamações cutâneas e, em casos de sofrimento fetal, mecônio. (PRESTES, 2012). Portanto, antes de se realizar as análises para avaliação da maturidade fetal e pulmonar, foi preciso observar macroscopicamente o aspecto deste fluído amniótico após a colheita. Ressalta-se, que, por serem as ovelhas também submetidas à cesariana, existia a possibilidade de ocorrer sangramento e contaminação das amostras com sangue. As características macroscópicas verificadas no LA dos animais dos grupos I (Parto Normal), II (Cesárea) e III (Cesárea + Dexa) estão dispostas na Tabela 1. A classificação utilizada, no presente trabalho, para a avaliação macroscópica do LA foi: Coloração: CLARA (C), AMARELA (A) e VERMELHA (V); Aspecto: TURVO (T), TRANSPARENTE (TR); Viscosidade:0 para ausência de viscosidade, 1 e 2 baixa viscosidade, 3 viscosidade intermediária e 4 e 5 para consistência 41 altamente viscosa; Contaminação: Mecônio (M) e Sangue (S), com cruzes de incidência : + = poucos; ++ = médio; +++ = muitos. 42 Tabela 1- Dados individuais das características do LA pertencente aos grupos I (Parto Normal), II (Cesárea) e III (Cesárea + Dexametasona). Araçatuba- SP, 2014. Grupo III Grupo II Grupo I AVALIAÇÃO MACROSCÓPICA Animais Volume (ml) Coloração C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 14 14 22 20 20 25 11 20 22 24 AMARELA AMARELA CLARA AMARELA AMARELA CLARA CLARA CLARA AMARELA CLARA TRANSPARENTE TRANSPARENTE TURVO TURVO TURVO TRANSPARENTE TRANSPARENTE TURVO TRANSPARENTE TRANSPARENTE 4 4 5 5 5 3 3 4 4 3 AUSENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE AUSENTE MECÔNIO AUSENTE C1 14,5 AMARELA TURVO 3 MECÔNIO ++ C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 10 CLARA TRANSPARENTE 2 MECÔNIO + 24,5 20 20 12,5 7 7 16 26 26 AVERMELHADA CLARA CLARA CLARA CLARA CLARA AMARELA CLARA CLARA TURVO TRANSPARENTE TRANSPARENTE TRANSPARENTE TURVO TURVO TURVO TRANSPARENTE TRANSPARENTE 4 4 4 3 5 5 3 3 3 SANGUE + AUSENTE AUSENTE MECÔNIO + AUSENTE AUSENTE MECÔNIO + AUSENTE AUSENTE C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 12,5 5 13 15 15 16 16 CLARA AMARELA AMARELA CLARA CLARA AVERMELHADA AVERMELHADA TURVO TURVO TRANSPARENTE TRANSPARENTE TRANSPARENTE TRANSPARENTE TRANSPARENTE 4 4 4 3 3 3 3 C8 C9 C10 C11 10 23 24 24 AVERMELHADA AMARELA CLARA CLARA TURVO TURVO TRANSPARENTE TRANSPARENTE 5 3 3 3 MECÔNIO + MECÔNIO ++ MECÔNIO ++ AUSENTE AUSENTE SANGUE + MECÔNIO + SANGUE + MECÔNIO + AUSENTE AUSENTE AUSENTE Aspecto Viscosidade (0 a 5) Contaminação De maneira geral, o mínimo de 20 mL e o máximo de 40 mL de LA foi colhido das ovelhas que compuseram os diferentes grupos. As amostras de 43 líquido amniótico das ovelhas do grupo I apresentaram menor contaminação e maior viscosidade quando comparadas às dos outros grupos (II e III). Naquelas obtidas do grupo III constatou-se maior contaminação, principalmente por mecônio, quando comparado aos dois grupos restantes (I e II). 4.1.1 Método citológico – Coloração de azul de Nilo 0,1% Neme (1988) cita que o sulfato de Azul de Nilo é a mistura de sulfato de oxazona (cor azul) e oxazona que cora lípides, dando tonalidade alaranjada. Assim, evidenciam-se dois tipos celulares principais neste teste, quais sejam : a) células grandes poligonais, de citoplasma azulado e núcleo preservado, consideradas células de imaturidade; b) células alaranjadas com núcleo picnótico ou ausente, denominadas células orangeófilas e consideradas como sendo células indicativas de maturidade. Com relação à morfologia celular, tanto na citologia utilizando o azul de Nilo a 0,1% quanto na técnica citológica de Hematoxilina–Shorr, adotou-se, neste trabalho, o mesmo padrão de classificação celular descrito por Moya, (2005), dividindo-o em quatro tipos de células, a saber: célula intermediária pequena (CIP), intermediária grande (CIG), célula superficial nucleada (CSN) e célula superficial anucleada (CSA). Além do estudo da morfologia celular, as células oriundas do fluído amniótico foram classificadas como células cianofílicas (células azuis), sendo as mesmas consideradas células com características de imaturidade fetal, bem como a presença de células orangeofílicas (células coradas de laranja) onde sua presença é tida como indicadora de maturidade fetal. Após a análise estatística (Tabela II), observou-se que o grupo I (Parto Normal) não apresentou diferenças significativas em relação ao grupo II (Cesariana) em relação às células cianofílicas e orangeofílicas; porém, o grupo III (Cesariana+Dexametasona) diferiu do grupo de parto normal (Grupo I), demonstrando que o LA oriundo de ovelhas que receberam administração de corticoide antes da parição possuía maior concentração do que o líquido 44 amniótico de cordeiros oriundos de cirurgia eletiva sem a indução por este fármaco. Medianas (Md), mínimo e máximo das porcentagens de células cianofílicas (células azuis) e orangeofílicas (células alaranjadas) encontradas no líquido amniótico, utilizando a técnica de Azul de Nilo (0,1%), de ovelhas oriundas de parto normal( Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona(Grupo III) – Araçatuba, SP – 2013. Tabela 2 – NORMAL Citologia Azul de Nilo Cianofílicas Orangeofílicas A, CESARIANA + DEXAMETASONA CESARIANA n 10 Md 96,1 A Min - Max 84,0 - 98,0 n 11 Md 90,5 AB Min - Max 73,0 - 96,3 n 11 Md 87,0 B Min - Max 80,8 - 96,9 10 4,0 A 2,0 - 16,0 11 9,5 AB 3,7 - 27,0 11 13,0 B 3,1 - 19,3 Medianas seguidas de letras diferentes na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). Observou-se, em todos os grupos (Tabela 2), maior quantidade de células cianofílicas (azuis), quando comparadas às orangeofílicas (alaranjadas), com medianas de 96,1%, 90,5% e 87%, respectivamente. Tais resultados poderiam ser explicados pelo fato de os animais dos grupos II e III terem nascidos por meio de realização de cirurgias eletivas aos 138 dias de gestação, o que denotaria maior quantidade de células indicativas de imaturidade fetal. Contudo, quando o grupo de parto normal (Grupo I) foi avaliado, constataram-se resultados similares aos dos animais prematuros, com poucas células laranja e muitas células azuis. 45 Tabela 3 – Medianas (Md), mínimo e máximo das porcentagens da morfologia celular encontrada no líquido amniótico, coradas pela técnica de Azul de Nilo (0,1%), classificadas de acordo com Moya ( 2005), como: CIP(Células Intermediárias pequenas), CIG ( Células Intermediárias Grandes), CSN (Células superficiais nucleadas e CSA (Células Superficiais Anucleadas) de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III) – Araçatuba, SP – 2014. Morfologia celular Azul de Nilo CIP % CIG % CSN % CSA % A, NORMAL n 5 4 10 10 Md 3,8 AB 2,0 AB 19,3 79,8 CESARIANA + DEXAMETASONA CESARIANA Min-Max 2,0 - 7,9 1,4 - 3,0 8,0 - 76,0 19,0 - 92,0 n 11 11 11 11 Md 12,0 A 6,0 A 33,3 40,5 Min-Max 0,0 - 43,0 0,0 - 14,1 2,5 - 69,4 23,1 - 74,6 n 11 11 11 11 Md 3,1 B 1,5 B 34,0 59,7 Min-Max 0,0 - 11,2 0,0 - 5,1 14,5 - 81,3 12,0 -84,1 Medianas seguidas de letras diferentes na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). Observando-se os resultados, ressalta-se, na Tabela 3, que as variáveis CIP (Célula Intermediária Pequena) e CIG (Células Intermediária Grande), diferiram entre os grupos II (Cesariana) e III (Cesariana+Dexametasona), porém, com relação as CSN (Células Superficiais Nucleadas) e CSA (Células Superficiais Anucleadas) não se denotou o mesmo comportamento entre os diferentes grupos (I, II e III). Visualizou-se (Tabela 3), também, maior quantidade de células superficiais, chegando ao máximo de 92% para o grupo I (Parto Normal), de 74,6% para o grupo II (Cesariana) e de 84,1% no grupo III (Cesariana+Dexametasona). Durante a pesquisa verificou-se que quando o feto apresentava-se maduro, a incidência de CSN (células superficiais nucleadas) e CSA (células superficiais anucleadas) era maior quando comparada aos prematuros (Grupo II e III). Contudo, estas células que deviam apresentar-se coradas de laranja, indicando maturidade fetal na técnica de azul de Nilo (0,1%), também se apresentavam coradas de azuis (Figura 6), corroborando com Moya (2005), 46 que afirmou que a realização da técnica de coloração azul de Nilo visando à avaliação da maturidade fetal não apresenta resultados satisfatórios. Desta forma, devido aos resultados insatisfatórios obtidos na presente pesquisa, propôs-se realizar-se, concomitantemente, a citologia de Hematoxilina–Shorr, proposta por Moya (2005), para avaliação e comparação dos resultados obtidos entre ambas as técnicas, apesar de não fazer parte do delineamento experimental inicial deste trabalho. FIGURA 7- Lâmina corada com Azul de Nilo a 0,1%, em aumento de 400 vezes/campo, evidenciando maior quantidade de células cianofílicas e superficiais nucleadas. 4.1.2 Método citológico – Coloração Hematoxilina Shorr Souza, et al. (2000) citaram que estas células alaranjadas praticamente inexistem no início da gestação de ovelhas, aparecendo em pequena proporção no terço médio, e se proliferando até o momento do parto, 47 representando cerca de 50 a 95% da população celular encontrada no LA, com maiores valores verificados nos fetos mais velhos, servindo, desta forma, como indicadoras da idade fetal. Tabela 4- Medianas (Md), mínimo e máximo das porcentagens de células cianofílicas (células azuis) e orangeofílicas (células alaranjadas) encontradas no líquido amniótico,utilizando o método de Hematoxilina Shorr, de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III) – Araçatuba, SP – 2014. Citologia Hematoxilina Shoor NORMAL n 10 10 Min - Max 8,0 - 42,7 57,3 - 92,0 n 11 11 Min - Max 19,8 - 66,7 33,3 - 80,2 A, Medianas seguidas de letras diferentes na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0, 05). Cianofílicas Orangeofílicas Md 21,0 A 79,0 A CESARIANA Md 40,0 AB 60,0 AB CESARIANA + DEXAMETASONA n Md Min - Max 11 45,6 B 32,0 - 64,9 11 54,4 B 35,1 - 68,0 Tabela 5 – Medianas (Md), mínimo e máximo das porcentagens da morfologia celular encontrada no líquido amniótico, coradas pelo método Hematoxilina Shorr, classificadas de acordo com Moya (2005), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III) – Araçatuba, SP – 2014. Morfologia coloração de Shoor CIP % CIG % CSN % CSA % NORMAL n 5 4 10 10 Md 3,2 4,4 38,8 55,8 Min-Max 1,2 - 9,4 3,2 - 4,4 24,4 - 70,6 27,9 - 74,4 CESARIANA + DEXAMETASONA CESARIANA n 11 11 11 11 Md 10,3 1,5 29,0 62,7 Min-Max 0,0 - 54,6 0,0 - 13,3 15,8 - 62,3 16,4 - 71,0 n 11 11 11 11 Md 4,7 1,9 30,8 61,5 Min-Max 0,0 - 13,0 0,0 - 7,3 14,5 - 81,3 12,0 - 84,1 CIP (Células Intermediárias pequenas), CIG (Células Intermediárias Grandes), CSN (Células superficiais nucleadas e CSA (Células Superficiais Anucleadas) A,Medianas seguidas de letras diferentes na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). Apesar de, estatisticamente, os resultados do grupo I (Parto Normal) e do grupo II (Cesariana) não diferirem, ficou evidente, nesta técnica, que o grupo I possuía maior quantidade de células orangeofílicas, atingindo a porcentagem máxima de 92% (Tabela 4), valor este que condiz com a literatura, já que se espera maior incidência de células características de maturidade pulmonar em amostras de LA de animais com tempo de gestação 48 considerado normal para a espécie em referência. Na tabela 5, foi possível verificar maior ocorrência de células superficiais anucleadas (CSA), atingindo os valores máximos no grupo I (Parto Normal) de 74,4. Nas amostras de LA dos animais do grupo II (Cesariana) constatou-se em torno de 71% no grupo III (Cesariana+ Dexametasona), chegando a equiparar-se com as células superficiais nucleadas (81,3). Nos grupos II e III (Tabela 4), observou-se que quando a porcentagem das células orangeofílicas (maduras) diminuía, apresentando valor mínimo de 33,3%, a quantidade de células cianofílicas (imaturas) aumentava (valor máximo de 66,7%), resultados indicativos de imaturidade fetal. De forma semelhante, quando a porcentagem das células orangeofílicas aumentava (valor máximo de 92 %), a quantidade de cianofílicas diminuía (valor mínimo 42,7%), caracterizando a ocorrência de maturidade fetal. Contraditoriamente ao que ocorre na técnica de azul de Nilo, onde se verifica maior quantidade de células azuis, no método de Hematoxilina-Shorr obteve-se maior incidência de células orangeofílicas. Contudo, o número de células orangeofílicas foi comparativamente menor nos grupos cesariana e cesariana + dexametasona, em relação às amostras obtidas das ovelhas de parturição normal, fato este que condiz com a maior imaturidade de cordeiros que nasceram prematuramente. Portanto, estas observações reforçaram a inclusão do estudo citológico do líquido amniótico pelo método de Hematoxilina-Shorr, por ter se mostrado pouco dispendioso, confiável e de fácil execução. 49 A B FIGURA 8 - A) Lâmina corada pelo método de Hematoxilina - Shorr pertencente ao Grupo II (Cesariana), em aumento de 400 vezes/campo, evidenciando maior quantidade de células cianofílicas (verdeazuladas),com relação às células orangeofílicas. B) Lâmina pertencente ao Grupo I (Parto Normal), em aumento de 400 vezes/campo, demonstrando maior presença de células orangeofílicas. Nesta figura a maior incidência são células superficiais anucleadas 4.1.3 Teste de Clements (1972) Diante da prematuridade, o fator limitante à sobrevida do recém-nascido é, indubitavelmente, o sistema respiratório. Havendo a funcionalidade do pulmão fetal, o recém-nascido prematuro com assistência neonatal adequada terá boas possibilidades de sobreviver. O teste de Clements é um método físico para determinar a presença de surfactante pulmonar no líquido amniótico. Descrito por Clements et al. (1972), o complexo surfactante diminui a tensão superficial da solução na qual se encontra diluído. Portanto, ao se acrescentar uma substância surfactante em qualquer líquido e agitá-lo, formar-se-ão bolhas na interface líquido-âmnio. As bolhas serão tão mais estáveis quanto maior a quantidade de substância surfactante existir na solução (NEME, 1988). Com relação ao teste de Clements, foi possível observar que o LA de duas ovelhas do grupo I apresentava-se positivo, confirmando-se, contudo, a 50 presença de bolhas somente até o 1° tubo, e ausência nos demais, sem evidenciar, no entanto, sem diferenças estatísticas entre eles (Tabela 6). Tabela 6 – Número (n) e porcentagem (%) do teste de Clements realizado com líquido amniótico, de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), sendo classificado como Positivo ( presença de bolhas) indicando maturidade pulmonar fetal e Negativo (ausência de bolhas), indicando imaturidade fetal – Araçatuba, SP – 2014. TUBO S LA Clements Positivo Negativo Positivo 2° Negativo Positivo 3° Negativo 4° Negativo 5° Negativo (1) teste exato de Fisher 1° GRUPO I n 2 8 10 10 10 10 % 20,0 80,0 100,0 100,0 100,0 100,0 GRUPO II n 1 10 1 10 1 10 11 11 % 9,1 90,9 9,1 90,9 9,1 90,9 100,0 100,0 GRUPO III n 4 7 2 9 11 11 11 % 36,4 63,6 18,2 81,8 100,0 100,0 100,0 P(1) 0,3313 0,7560 1,0000 - Constatou-se presença de bolhas até o 3° tubo e ausência nos demais (4° e 5° tubos) no LA de um cordeiro pertencente ao grupo II. Todavia, os líquidos amnióticos obtidos de quatro cordeiros do grupo III (36,4% em um total de 11 animais) apresentavam-se com bolhas, porém os fluídos analisados de dois cordeiros demonstraram a presença de bolhas somente no 1° tubo e até o 2° tubo dos outros dois animais, com ausência de bolhas, entretanto, nos demais (3°, 4° e 5° tubos). Para Fernandes (2006), o teste de Clements em humanos foi considerado satisfatório quando um anel completo de bolhas era visto no 3° tubo (contendo 0,5 mL de líquido amniótico). Clements et al. (1972), consideraram teste confirmatório quando todos os tubos apresentavam-se positivos; atribuiu-se, como teste negativo, quando o primeiro tubo não demonstrava bolhas e, para as demais variações, como testes intermediários. Resultados falso-positivos ocorrem quando há presença de mecônio ou sangue no líquido amniótico. 51 Como o fluído amniótico pertencente aos grupos II (Cesariana) e III (Cesariana + Dexametasona) refere-se ao de ovelhas que foram submetidas à cesariana aos 138 dias de gestação, os resultados negativos são compatíveis com as características de animais prematuros, que, sabidamente, têm menor quantidade de surfactante no líquido amniótico. O LA destes dois grupos (II e III) apresentou halo de bolhas. Contudo, observou-se bolhas até o 3° tubo, naqueles das ovelhas do grupo II (cesariana), como demonstrado na Figura 8, provavelmente pelo fato de seus rebentos possuírem maior maturidade fetal e pulmonar quando comparado aos demais cordeiros que obtiveram resultados negativos. No caso do grupo III (Cesariana + Dexametasona) o LA analisado de quatro ovelhas também apresentava bolhas. Acredita-se, neste caso, que a maior quantidade de LA com bolhas foi devido à administração de dexametasona, levando a maior maturação pulmonar em alguns dos cordeiros pertencentes a este grupo. Isto pode ser confirmado quando se associa o teste de Clements com o teste citológico de Hematoxilina-Shorr (Tabela 4), o qual demonstrou maiores índices de células orangeofílicas, e que também obteve classificação positiva ao teste de Clements, com resultados indicativos de maturidade fetal. O fato de as bolhas ocorrerem até o terceiro tubo é devido à quantidade decrescente de LA pipetada, levando-se a concluir, que, quanto maior o volume de LA, maior a possibilidade da presença de bolhas. A ocorrência, por exemplo, de bolhas no tubo de número cinco, por possuir menor quantidade de LA (0,20 mL) e maior diluição com solução fisiológica (0,80 mL) e etanol (1 mL), dever-se-ia ser interpretada como indicadora de maturidade pulmonar. Neste estudo, esperava-se maior presença de halos de bolhas no LA de cordeiros pertencentes ao grupo I, o que não ocorreu. Fernandes et al. (2006) asseguraram que existe maturidade pulmonar fetal quando o teste for “maduro”, porém sua especificidade e seu valor preditivo positivo são baixos, o que demonstra que os resultados obtidos no trabalho ora desenvolvido são confiáveis e fidedignos, uma vez que, e ainda de acordo com os autores supra referidos, mesmo quando a maioria dos resultados obtidos pelo teste de 52 Clements era condizente com a existência de imaturidade, constatava-se, na realidade, a ocorrência de maturidade pulmonar fetal, fato também observado nos cordeiros nascidos a termo utilizados no presente estudo, oriundos de ovelhas que apresentavam as suas amostras de líquido amniótico negativas ao referido teste. Isto posto, recomenda-se que resultados negativos ao teste de Clements devam ser avaliados com cautela e, se possível, associados a outros métodos de avaliação de maturidade pulmonar fetal. Portanto, o teste de Clements quando adequadamente realizado e associado a outro método de avaliação de maturidade fetal e pulmonar, como a avaliação citológica por Hematoxilina-Shorr, por exemplo, tornam os resultados mais fidedignos, propiciando melhores parâmetros de viabilidade neonatal. Souza, et.al. (2000b) relataram que todas as amostras de LA obtidas de ovelhas apresentaram fraca reação para o teste de Clements, sendo, por isso, consideradas negativas, o que afere a falta de acurácia da técnica aplicada à espécie ovina e/ou à inexistência de surfactante nas fases gestacionais correspondentes. 53 FIGURA 9 – Teste de Clements do LAobtido do animal C3, pertencente ao grupo II (Prematuro) : A) observar a presença de halo de bolhas até o 3° tubo; B) imagem evidenciando a presença de bolhas nos três tubos. Araçatuba –SP, 2014. 4.1.4 Teste de Clements modificado por Barreto (2006) Não se observou a presença de halo de bolhas em qualquer LA obtido das ovelhas pertencentes aos diferentes grupos estudados, incluindo-se aqueles que se mostraram positivos ao teste de Clements (1972), o que impossibilitou a realização estatística prevista. Tal constatação demonstra que há a necessidade de se ajustar a diluição para melhor avaliação do LA de fêmeas da espécie ovina em futuros trabalhos que visem estudar o referido tema. 4.1.5 Contagem de corpos lamelares A contagem de corpos lamelares (CCL), método originalmente descrito em 1989, vem ganhando destaque na literatura mundial devido a sua precisão, simplicidade e baixo custo. Diversos estudos indicam que a CCL tem desempenho igual ou superior aos testes tidos como preferenciais, com a vantagem de ser um método de baixo custo (FERNANDES et al., 2006). Na medicina humana o tamanho dos corpos lamelares (0,2 a 2 µ), é compatível com o tamanho de uma plaqueta (1 a 3 µ). Portanto, os corpos 54 lamelares podem ser facilmente quantificados por contadores hematológicos, habitualmente utilizados para a realização de hemogramas, sendo o número impresso obtido como correspondente ao total de plaquetas que deve ser considerado como a totalidade numérica de corpos lamelares. Ao pesquisar trabalhos sobre a avaliação da maturidade pulmonar fetal pelo método de contagem de corpos lamelares presentes no líquido amniótico, foram encontrados somente trabalhos voltados para humanos e apenas um artigo da área veterinária direcionado à espécie equina. A quantificação dos corpos lamelares do LA das ovelhas utilizadas neste experimento por meio de contadores hematológicos mostrou-se insatisfatória, pela não obtenção de resultados, apesar de sucessivas tentativas. Dessa forma, optou-se pela realização da microscopia eletrônica, para verificar a existência dos corpos lamelares no LA das ovelhas, uma vez que não havia trabalhos e ou pesquisas realizadas, pairando a dúvida da real existência destas estruturas na referida espécie. Castagnetti et al. (2007) avaliando a maturidade pulmonar de potro recém-nascido pela análise do líquido amniótico por microscopia eletrônica, relataram que os corpos lamelares mostravam-se como estruturas compostas por várias lamelas concêntricas, com tamanho variando de 1,6 – 3,3 mm de diâmetro, os quais apresentavam-se, algumas vezes, parcialmente quebrados (Figura 1 – A ). Ao analisar as amostras das ovelhas no serviço de microscopia do Departamento de Microscopia Eletrônica da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP, Câmpus de Jaboticabal/SP, e do Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patogênicos (Biocel) da Faculdade de Medicina da USP, Câmpus de Ribeirão Preto/SP, observou-se a existência de corpos lamelares no LA apenas quando as amostras eram avaliadas no aumento de 25.000 a 70.000 vezes, mostrando-se impossível a sua observação em microscopia de luz (aumento de, no máximo, 1.000 vezes), comprovando que os corpos lamelares do LA de ovelhas são muito menores aos de humanos. Este fato explicaria as frustradas tentativas da quantificação dos corpos lamelares por meio de contadores hematológicos, por serem, tais estruturas, menores que 1 a 3 nm. 55 Todavia, não foi possível a contagem de corpos lamelares na microscopia eletrônica, devido ao fato, de que, para visualizar estas estruturas no microscópio eletrônico, são processadas “grades” das diferentes amostras, e, dependendo do corte realizado, poucos corpos lamelares são encontrados. A ausência de material (Tabela 7) em algumas amostras dificultou a contagem. Apesar da impossibilidade da realização da contagem de corpos lamelares em microscopia eletrônica, foi possível mensurar estas estruturas através de um programa editor de imagem denominado Image J ® (Figura 9). Foram mensurados os corpos lamelares dos grupos I (Parto Normal), II (Cesariana) e III (Parto Normal), sendo os resultados representados pela unidade de medida em nm (nanometros), o que significa ser equivalente a um milionésimo de milímetros, ou seja bem menor quando comparada a um micrômetro (µm). Contudo, como nos trabalhos estudados as unidades de medidas descritas são sempre em µm (micrômetro), os resultados em nanometros foram convertidos em micrômetros (Tabela 7), com o objetivo de demonstrar o quão pequenas são estas estruturas pertencentes à espécie ovina, quando comparadas às pesquisas realizadas em humanos e neonatos equinos. Para a conversão das unidades de medidas foi utilizado um site de conversão de unidades, colocando os resultados em nanômetros, sendo, por fim, transformados em micrometros. Ao observar a Tabela 7, foi possível verificar que os grupos II (Cesariana) e III (Cesariana+Dexametasona) apresentaram maior ausência de corpos lamelares em algumas amostras de líquido amniótico, quando comparados ao grupo I (parto normal). Quanto ao comprimento, os corpos lamelares variam de 0,019 a 0,590 µm (micrometros), justificando a impossibilidade de contagem de corpos lamelares nos contadores hematológicos, uma vez que estas estruturas são menores (1 a 3 µm) que uma plaqueta. 56 Tabela 7 – Valores mínimos e máximos representados pela mensuração dos corpos lamelares do líquido amniótico de ovelhas pertencentes ao grupo I (Parto Normal), II (Cesariana) e III (Cesariana+Dexametasona). Araçatuba – SP, 2014. GRUPOS AMOSTRAS C7 NAT C8 NAT GRUPO I GRUPO II GRUPO III COMPRIMENTO – Mín x Máx (nm) CONVERSÃO ( Mín x Máx) (µm) 51,426 - 230,132 0,051 - 0,230 51,426 - 230,132 0,051- 0,230 C9 419 *** *** C10 404 87 , 413 - 250, 842 0,087 - 0,251 C11 404 87, 413 - 250,842 0,087 - 0,251 C12 416 63,906 - 107, 517 0,064 - 0,108 C13 PAT 32,311 - 186,000 0,032 - 0,186 C14 L12 68 , 475 - 268,768 0.068 - 0,269 C 16 L9 *** *** C17 L8 56,321 - 316,291 0,056 - 0,316 C1 SN *** *** C2 11 82,812 -173,955 0,083 - 0,174 C3 402 89,076 - 137,509 0,089 - 0,138 C6 L1 137,097 - 270,968 0,137 - 0,271 C7 L1 137,097 - 270,968 0,137 - 0,271 C8 L6 56,467- 210,038 0,056 - 0,210 C9 L7 67,583 - 236,857 0,068 - 0,237 C10 L7 67,583 - 236,857 0,068 - 0,237 C11 O11 *** *** C12 419 *** *** C13 419 *** *** L9 68, 481 - 589,730 0,068 - 0,590 C3 L7 75,459 - 212,672 0,075 - 0,213 C4 426 110,775 - 139,236 0,111 - 0,139 C5 L1 18,750 - 257,143 0,019 - 0,257 C6 L1 71,546 - 301,182 0,072 - 0,301 C7 L5 *** *** C8 L5 *** *** C9 406 132,093 - 287,306 0,132 - 0,287 C10 T1 196,749 - 444,000 0,197 - 0,444 C12 L3 *** *** C13 L3 *** *** *** (Ausência de material) 57 FIGURA 10 – Programa editor de imagens denominado “Image J®”, utilizado para mensurar os corpos lamelares. Figura demonstrando um corpo lamelar pertencente ao Grupo II (cesariana), observado em aumento de 25.000X e mensurado (linha amarela), evidenciando suas lâminas concêntricas, representada por uma camada delgada de diâmetros reduzidos, acompanhados por um centro em sua estrutura. 58 A B C FIGURA 11 – Imagem evidenciando Corpos lamelares (representados pelas setas): A) visualizados em microscopia eletrônica, pertencentes ao grupo I (Parto Normal) em aumento de 75.000 x; B) grupo II (Cesariana) em aumento de 50.000 x; C) e, grupo III (Cesariana + Dexametasona) em aumento de 120.000 x . 4.2 Avaliação dos recém- nascidos Como esperado, a taxa de mortalidade nos grupos de animais prematuros foi elevada (Grupos II e III), principalmente naqueles oriundos de ovelhas que não receberam dexametasona, 36 horas antes da realização da cirurgia eletiva (Grupo II), já que sete (6/11 = 63%) dos recém-nascidos sucumbiram entre o nascimento e os 15 minutos de vida e um animal entre 15 minutos até 12 horas pós-nascimento. Nos cordeiros prematuros, provenientes de ovelhas que receberam 16 mg/ovelha de dexametasona (Grupo III), constatou-se os óbitos de três animais (3/11 = 27%), sendo que dois destes morreram até os 15 minutos de vida (M15) e o terceiro antes de uma hora (M60). Desta forma, foram acompanhados oito cordeiros nascidos a termo (Grupo I), oito cordeiros oriundos de cesariana (Grupo II) e oito cordeiros oriundos de cesariana com administração de dexamestasona (Grupo III) dois dias antes da cirurgia eletiva. Constataram-se oito partos gemelares. No total, avaliaram-se 32 cordeiros; porém, apesar de estes cordeiros oriundos de partos gemelares serem incluídos e analisados, o objetivo deste projeto não visou à comparação do LA da mesma ovelha, e sim, o de se fazer ilação das 59 características de LA de diferentes ovelhas, com posterior analogia em relação à avaliação do nível de maturidade fetal entre os grupos. 4.2.1 Escore Apgar modificado por Born (1981) A vitalidade dos cordeiros foi realizada por meio do escore APGAR modificado por Born (1981), que tem como meta pontuar a presença de determinados parâmetros (tipo e padrão respiratório, reflexo interdigital e óculopalpebral, resposta à água fria e coloração das mucosas). Animais com boa vitalidade têm pontuação entre sete e oito, enquanto os que obtêm pontuação entre quatro e seis têm moderada vitalidade. Pontuação entre zero e três é indicativa de pobre vitalidade. Esta avaliação foi realizada ao nascimento e aos15 e 60 minutos de vida dos recém-nascidos (Tabela 7). Tabela 8 – Escore Apgar modificado por Born (1981), pontuados de 0 a 3 (baixa vitalidade), 4 a 6 (moderada vitalidade) e 7 a 8 (boa vitalidade), de cordeiros pertencentes ao grupo de parto normal (Grupo I), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e aos 60 minutos (M60) – Araçatuba, SP – 2014. GRUPO I Momentos APGAR n 0 15 60 Boa Vitalidade Moderada Vitalidade 9 1 90% 90% 60% 10% 10% 40% Baixa Vitalidade 0 0% 0% 0% ÓBITOS 0 0% 0% 0% Dos dez cordeiros nascidos de parto normal (Tabela 8), 90% dos animais apresentaram boa vitalidade, e 10% apresentaram moderada vitalidade ao nascimento (M0) e aos 15 minutos (M15). No entanto, aos 60 minutos, somente 60% dos animais denotaram boa vitalidade, e 40% dos 60 animais apresentaram moderada vitalidade. Neste grupo não houve animais com baixa vitalidade, e nenhum dos cordeiros veio a óbito. Tabela 9 - Escore Apgar modificado por Born (1981), pontuados de 0 a 3 (baixa vitalidade), 4 a 6 (moderada vitalidade) e 7 a 8 (boa vitalidade), de cordeiros pertencentes ao grupo cesariana (Grupo II), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e aos 60 minutos (M60)– Araçatuba, SP – 2014. GRUPO II Momentos APGAR n 0 15 60 Boa Vitalidade Moderada Vitalidade 2 3 18% 18% 9% 27% 36% 36% Baixa Vitalidade 6 55% 9% 0% ÓBITOS 0 0% 36% 55% A incidência de cordeiros nascidos com boa vitalidade foi de 18%, nos animais do grupo II (Tabela 9), sendo que 27% dos cordeiros apresentaram moderada vitalidade e 55% baixa vitalidade ao nascimento (M0). Já aos 15 minutos, 36% dos animais apresentaram moderada vitalidade e somente 9% dos cordeiros apresentaram baixo vigor. A mortalidade de cordeiros foi alta, já 36% dos animais (4/11) veio a óbito aos 15 minutos, e 55% (6/11) morreram aos 60 minutos. Ao observar a tabela 10, verificou-se que cerca de 64% dos animais nascidos de mães que receberam administração de dexametasona 36 horas antes da cirurgia eletiva possuía moderada vitalidade ao nascimento (M0) aos 15 minutos, com melhora na vitalidade aos 60 minutos, quando comparado aos outros momentos. Neste grupo foi possível constatar que 9% e 27% dos animais veio a óbito, aos 15 e aos 60 minutos de vida, respectivamente. 61 Tabela 10 - Escore Apgar modificado por Born (1981), pontuados de 0 a 3 (baixa vitalidade), 4 a 6 (moderada vitalidade) e 7 a 8 (boa vitalidade), de cordeiros pertencentes ao grupo de cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e aos 60 minutos (M60) – Araçatuba, SP – 2014. GRUPO III Momentos APGAR n Boa Vitalidade 2 Moderada Vitalidade 7 Baixa Vitalidade 2 ÓBITOS 0 0 15 60 18% 9% 27% 64% 64% 45% 18% 18% 0% 0% 9% 27% Resumidamente, tais resultados explicitam que cordeiros nascidos de parto normal (Grupo I) apresentam maior vitalidade, ou seja, melhores condições clínicas ao nascimento do que os cordeiros oriundos de ovelhas submetidas à cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), o que condiz com a literatura, já que estes são considerados prematuros, confirmando que animais prematuros (nascidos aos 138 dias de gestação) nascem debilitados, letárgicos e possuem moderada vitalidade e/ou baixa vitalidade em sua grande maioria. Apesar de não diferirem estaticamente, as porcentagens foram superiores nos animais do grupo III do que naqueles do grupo II, provavelmente em decorrência da administração de dexamestasona nas ovelhas, 36 horas antes das respectivas parições. Ressalta-se, também, com relação ao escore Apgar, aos 60 minutos (M60) nos respectivos grupos, a maioria dos animais apresentaram melhora da vitalidade , quando comparado aos outros momentos, compatíveis àqueles considerados como níveis normais, o que condiz com a existência de boa vitalidade, corroborando parcialmente com as descrições de Rodrigues et al. (2007), que constataram pontuação 62 máxima do Apgar uma hora após o nascimento. Contudo, ressalta-se que ocorre diminuição gradativa fisiológica das respostas a alguns estímulos efetuados visando à avaliação da vitalidade dos cordeiros recém-nascidos neste trabalho (ovina), como, por exemplo, o reflexo à água fria, o que, indubitavelmente, diminui a somatória total dos pontos obtidos, influenciando, portanto, na atribuição da classificação final do escore Apgar, como também constatado por Bovino (2011). Tal comportamento pode ser comprovado avaliando-se a menor pontuação obtida por aqueles cordeiros nascidos de parturições eutócicas e a termo, em relação aos momentos anteriores . 4.2.2 Frequência Cardíaca A frequência cardíaca dos 32 cordeiros pertencentes aos três grupos foi realizada com auxílio de aparelho de auscultação (fonendoscópio), posicionando-o diretamente em região ventro-lateral torácica esquerda, nos seguintes momentos: ao nascimento, aos 15 e 60 minutos, bem como as seis, 12, 24 e 48 horas após o nascimento (Tabela 11 e Figura 14). 63 Tabela 11 – Médias ( ) e desvios-padrões (S) da Frequência Cardíaca (bpm), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. VARIÁVEL FC GRUPO I MOMENTO GRUPO II M0 M15 M60 n 10 10 10 ±S 146 ± 36 b 199 ± 35 a 187 ± 20 ABa n 11 7 5 M6 10 171 ± 16 Bab M12 M24 M48 10 10 10 183 ± 27 a 173 ± 37 ab 183 ± 20 a GRUPO III n 11 10 8 ±S 113 ± 38 b 174 ± 47 a 220 ± 26 Aa 5 ±S 140 ± 24 b 155 ± 4 ab 170 ± 40 Bab 214 ± 48 Aa 7 5 4 4 192 ± 41 ab 177 ± 16 ab 188 ± 22 ab 7 8 8 203 ± 20 Aba 179 ± 36 a 192 ± 39 a 195 ± 48 a aA,Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). ** * * * * FIGURA 12 - Valores médios da frequência cardíaca dos cordeiros do grupo I (Parto Normal); grupo II (Cesariana) e grupo III (Cesariana + Dexametasona), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e aos 60 minutos (M60), bem como às 06 (M6), às 12 (M12), às 24 (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014.* representa diferenças entre os momentos. *Representa diferenças entre os grupos. 64 Observando-se os valores estatísticos e a representação gráfica, denotou-se, na comparação entre os grupos, que os animais do grupo I (parto normal) possuíam, às seis horas (171 bpm), menores valores de frequência cardíaca em relação aos cordeiros do grupo II e III (214 e 203 bpm, respectivamente). Os grupos, de maneira geral, demonstraram diferenças estatisticamente significativas em seus valores ao longo do tempo, com estabilização pontual a partir das 12 horas de vida, principalmente nos cordeiros nascidos a termo e aqueles nascidos de ovelhas que receberam administrações parenterais de dexametasona, por meio de cirurgias eletivas. Os animais deste último grupo obtiveram maiores diferenças, particularmente quando comparados aos do grupo II (cesariana). Os valores médios de frequência cardíaca (Tabela 11) de alguns cordeiros pertencentes ao grupo III encontravam-se ligeiramente acima dos valores de referência para a espécie e idade (SMITH, 2006) nas primeiras horas de vida. Porém, são semelhantes aos descritos no trabalho de Lima, et al. (2010), que apresentaram valores médios ao nascimento de 203,28 ± 43,22 bpm, com diminuição gradativa até os 90 dias de vida, quando, por fim, atingiram os patamares fisiológicos descritos para a espécie. No decorrer do experimento, esses valores foram gradativamente alcançando aqueles referenciados como parâmetros de normalidade (SMITH, 2006). Os outros dois grupos (I e II) mostraram valores mais próximos da normalidade desde a primeira aferição deste parâmetro clínico. A oscilação era esperada haja vista a constante manipulação dos cordeiros durante a avaliação física e colheita de material biológico. 4.2.3 Frequência Respiratória O sistema respiratório é capaz de desenvolver várias funções no organismo animal, tais como as trocas gasosas, a manutenção do equilíbrio ácido-básico, atuando, ainda, como um dos importantes órgãos para a função de termorregulação. (FEITOSA, 2014). 65 No bezerro clinicamente sadio, a respiração espontânea começa 30 segundos após o nascimento, sendo inicialmente irregular, se estabilizando posteriormente em 45-60 mpm (PRESTES, 2012). Portanto, principalmente após o nascimento, inicia-se um período crítico denominado de “período de transição”, aonde, nesta fase, os sistemas corporais promovem ajustes fisiológicos considerados cruciais para o neonato, principalmente no quesito respiratório, visto que a capacidade funcional pulmonar é imprescindível para a sobrevivência do neonato; sendo assim, é de suma importância avaliar o padrão respiratório dos cordeiros após o nascimento. Tabela 12 – Média ( ) e desvio padrão (S) dos parâmetros vitais como Frequência Respiratória (FR) em movimentos por minuto (mpm), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. VARIÁVE L MOMENTO FR M0 M15 M60 M6 M12 M24 M48 GRUPO I n 10 10 10 10 10 10 10 ±S 73 ± 19 A 77 ± 12 70 ± 9 71 ± 15 75 ± 19 88 ± 15 80 ± 18 GRUPO II N 11 7 5 5 5 4 4 ±S 31 ± 42 B 57 ± 43 78 ± 28 58 ± 7 73 ± 14 72 ± 26 83 ± 18 GRUPO III n 11 10 8 7 7 8 8 ±S 35 ± 35 Bc 53 ± 34 bc 78 ± 12 ab 85 ± 32 ab 84 ± 25 ab 93 ± 19 a 109 ± 19 a aA,Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). 66 FIGURA 13 - Valores médios da frequência respiratória dos cordeiros dos grupo I (Parto Normal); grupo II (Cesariana) e grupo III (Cesariana + dexametasona), ao nascimento, aos 15 e 60 minutos, bem como às 06, às 12, às 24 e às 48 horas. Araçatuba-SP, 2014. * representa a diferença do grupo I com os demais grupos ( Grupos II e IIII), ao nascimento (M0). Ao comparar os valores de FR (Tabela 12), entre os três grupos, observa-se apenas diferença significativa ao nascimento (M0), onde o valor médio para o grupo I foi de 73 (mpm); para os animais do grupo II foi de 31 mpm, e de 35 mpm para o grupo III. Ao comparar os momentos em cada grupo constatou-se diferença significativa no grupo III, evidenciando-se aumento da FR ao longo do tempo. A frequência respiratória encontrava-se, de maneira geral, acima da variação considerada normal (SMITH, 2006) em todos os grupos. Contudo, os animais do grupo II apresentaram valores ligeiramente abaixo do normal ao nascimento. A frequência respiratória dos cordeiros aumentou ao longo das 48 horas de vida nos três grupos. Os valores médios de FR descritos neste trabalho estão de acordo com os resultados observados por Lima, et. al. (2010). Considerando que os pulmões são responsáveis pelas trocas gasosas, manutenção da temperatura corpórea e equilíbrio ácido-básico, pode-se 67 considerar que os cordeiros dos grupos II e III nasceram com essas funções comprometidas com grande chance de desenvolver doenças pulmonares, como, por exemplo, pneumonia. A oscilação dos valores deste parâmetro, assim como os da frequência cardíaca, pode ser explicada pela manipulação dos cordeiros durante o exame físico e colheitas de sangue ao longo das 48 horas, exceto nos três primeiros momentos nos grupos II e III, cujos valores baixos observados, refletiram, possivelmente, a prematuridade. 4.2.4 Temperatura retal 4.2.5 A temperatura retal (TR) no recém-nascido encontra-se, geralmente, em cerca de 0,5°C abaixo daquela obtida de sua mãe. Esse decréscimo ocorre entre 15 a 30 minutos após o parto. Um bom indicativo de problemas adaptativos do neonato é quando a temperatura continua a cair. Diversas condições podem levar à hipotermia, mesmo em ambientes aquecidos, como hipóxia, problemas circulatórios, distúrbios ácido-básicos e letargia. Os cuidados recomendados, nesse caso, incluem a utilização de aquecedores, lâmpadas aquecedoras, cobertores elétricos ou outros recursos mantenham a temperatura corporal próxima ao normal. (PRESTES, 2012). que 68 Tabela 13 - VARIÁVEL Média ( ) e desvios-padrão(S) da temperatura retal (TR), em ° C, de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. GRUPO I MOMENTO N M0 M15 M60 M6 M12 M24 M48 TR (°C) 10 10 10 10 10 10 10 ±S 40,0 ± 0,4 Aa 39,6 ± 0,7 Aab 39,4 ± 0,5 Ab 39,2 ± 0,4 Ab 39,1 ± 0,3 Ab 39,2 ± 0,2 b 39,3 ± 0,5 Ab GRUPO II n 1 7 5 5 5 4 4 ±S 38,8 ± 1,0 Ba 37,4 ±1,3 Ba 35,7 ± 1,8 Bb 37,9 ± 0,4 Ba 38,6 ± 0,3 Ba 38,7 ± 0,1 a 38,4 ± 0,5 Ba GRUPO III N 11 10 8 7 7 8 8 ±S 38,6 ± 0,6 Ba 36,6 ± 0,6 Bb 36,8 ± 1,4 Bb 38,8 ± 0,2 Aa 39,2 ± 0,2 Aa 39,0 ± 0,4 a 38,9 ± 0,7 ABa aA,Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). 41,0 40,0 TR (°C) 39,0 38,0 37,0 36,0 35,0 34,0 33,0 M0 M15 M60 G1 M6 G2 M12 M24 M48 G3 FIGURA 14 – Valores de temperatura retal dos cordeiros do grupo I (Parto Normal), grupo II (Cesariana) e grupo III (Cesariana + Dexametasona), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06, às 12, às 24 e às 48 horas de vida – Araçatuba, SP – 2014. 69 Na comparação entre os momentos, observou-se diminuição da TR (Tabela 13), com pequenas diferenças entre os M60, M6, M12, M24 e M48. Verificou-se diferença significativa entre todos os momentos nos animais do grupo II, com menores valores médios de TR aos 60 minutos de vida; porém, denotou-se recuperação destes valores ao longo do tempo. Com relação aos animais do grupo III, visualizaram-se diferenças entre os momentos M15 e M60 e os M0, M6, M12, M24 e M48, com menores valores aos 15 minutos da avaliação realizada. Os grupos II e III diferiram do grupo I (parto normal) ao nascimento, aos 15 e 60 minutos. Os grupos I e III diferiram do grupo II às 6 e às 12 horas. Contudo, somente o grupo II (cesariana) apresentou menores valores nestes momentos. O grupo I (parto normal) diferiu do grupo II, às 48 horas de vida. Os valores supracitados para os cordeiros do grupo I são semelhantes àqueles de temperatura retal de ovinos jovens, propostos por Rodrigues et al (2007) e aos publicados por Lima et al. (2010), em cordeiros recém-nascidos. Todavia, os animais prematuros de ambos os grupos apresentavam-se levemente hipotérmicos ao nascimento, muito provavelmente, pela menor capacidade metabólica e baixo peso ao nascimento, tornando as reservas de gordura marrom ainda mais escassas, condições essas, essenciais para maior incremento na produção de calor em pacientes da espécie ovina situados na referida categoria etária. A hipotermia mostrou-se mais duradoura nos animais do grupo II, sendo que esta foi bastante evidenciada no M60, já que estes valores, fora da faixa de normalidade de temperatura retal, perduraram até às 48 horas de vida, sinalizando que animais nascidos em situação semelhante necessitariam de melhor e maior aporte de calor e nutricional em suas primeiras horas de vida. É necessário ressaltar que o aumento da temperatura nos grupos II e III, a partir das seis horas de vida (M6), deveu-se exclusivamente à ingestão de colostro. 70 4.2.5 Exame das Mucosas O exame das mucosas é de real importância para a determinação de alterações locais e/ou sistêmicas nos animais domésticos. No presente trabalho avaliaram-se, principalmente, as mucosas óculo-palpebrais. Segundo FEITOSA (2014), as mucosas do animal recém-nascido apresentam coloração rósea menos intensa. Tabela 14 - Número (n) e porcentagem (%), segundo a coloração de mucosa ocular, de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. MOMENTO M0 M15 M60 M6 M12 M24 M48 COLORAÇÃO DA MUCOSA Rósea Hiperêmica Cianótica Rósea Hiperêmica Cianótica Rósea Hiperêmica Rósea Rósea Hiperêmica Rósea Hiperêmica Rósea Hiperêmica GRUPO I n 10 9 1 9 1 10 5 5 7 3 8 2 % 100,0 90,0 10,0 90,0 10,0 100,0 50,0 50,0 70,0 30,0 80,0 20,0 GRUPO II N 8 2 1 6 1 5 5 5 4 4 - % 72,7 18,2 9,1 85,7 14,3 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 - GRUPO III n 10 1 9 1 8 7 6 1 8 8 - % 90,9 9,1 90,0 10,0 100,0 100,0 85,7 14,3 100,0 100,0 - P(1) 0,4147 0,7949 1,0000 0,1270 0,2597 0,6537 (1) teste exato de Fisher Não se observou diferenças estatísticas entre os grupos nos diferentes momentos (Tabela 14). Porém, foi possível constatar que a totalidade dos cordeiros pertencentes aos animais do grupo I apresentou, de maneira geral, 71 mucosas róseas no M0, com decréscimo nesta porcentagem aos 15 minutos de vida, por um dos cordeiros se apresentar com mucosas hiperêmicas. Às 48 horas, 20% dos cordeiros apresentavam mucosas hiperêmicas. No grupo II (Cesariana), 72,7% dos cordeiros possuíam mucosas róseas, ao nascimento, com os demais apresentando coloração variando entre hiperêmica e azulada (cianótica). Aos 15 minutos, cerca de 85,7% dos animais encontrava-se com coloração rósea, e os demais (14,3%), azuladas. A partir da primeira hora de vida todos os animais apresentavam coloração de mucosas róseas. Denotouse, no grupo III, que 90,9% dos animais possuíam coloração de mucosas róseas com poucos animais com coloração azulada, indicando privação parcial de oxigênio. Nos M60 e M6 horas de vida, 100% dos animais mostrava-se com mucosa rósea. Porém, no M12, houve declínio, com 85,7% com coloração rósea e, 14,3%, hiperêmica. Contudo, às 24 e às 48 horas de vida, 100% de cordeiros tinha coloração rósea das mucosas. A cianose é a coloração azulada da pele e das mucosas, causada pelo aumento da quantidade absoluta de hemoglobina reduzida no sangue. A coloração azulada das mucosas indica, portanto, distúrbio da hematose (troca gasosa que ocorre nos alvéolos), que depende mais dos pulmões que do coração, porém, este órgão poderá levar à cianose caso não consiga proporcionar ao organismo circulação sanguínea adequada. Muitas são as causas de cianose, sendo algumas de origem circulatória e outras por processos respiratórios ou sistêmicos (FEITOSA, 2014). A cianose de origem respiratória ocorreu possivelmente pela cianose ocorrida no grupo II. Além da imaturidade pulmonar, o cordeiro geralmente apresenta grande quantidade de LA em seus pulmões, o que dificulta a sua insuflação pelo cordeiro, diminuindo, consequentemente, a sua capacidade respiratória. Contudo, Silva et al. (2008), observaram que a inspeção das mucosas aparentes mostrou, por sua variação, pouco fidedigna na identificação de neonatos caninos com graus leves de alterações cardiorrespiratórias e do equilíbrio ácido-básico. Verificou-se que o grupo II apresentou mais alterações de coloração da mucosa (hiperêmicas e cianóticas), provavelmente pelos nascimentos 72 ocorridos aos 138 dias de gestação, sem que suas mães recebessem qualquer aplicação medicamentosa que possibilitasse a precoce maturação fetal, tornando-os, pela hipóxia, mais suscetíveis as modificações de coloração das nucosas, quando comparados aos do grupo de cordeiros oriundos de parto normal (Grupo I). É necessário ressaltar que os cordeiros do grupo III, apesar de nascidos de ovelhas que receberam dexametasona com o objetivo incrementar a maturação pulmonar do feto, apresentavam alterações na coloração de suas mucosas, porém em menores proporções quando comparados aos do grupo II; todavia, mesmo que o concepto apresentasse maior vitalidade ao nascimento quando comparado aqueles do grupo II, estes animais também tinham dificuldades respiratórias, devido à maior quantidade de líquidos no pulmão e elevada presença de mecônio no líquido amniótico, o que indicaria sofrimento fetal, promovendo alterações em sua capacidade respiratória e em sua vitalidade. O tempo de perfusão capilar (TPC) é tão importante quanto os outros parâmetros, já que reflete o estado circulatório do animal, sendo avaliado junto à mucosa bucal, considerando-se o tempo para que os vasos voltem a ser completamente preenchidos por sangue, após a pressão digital ser cessada (FEITOSA, 2014). Os resultados da avaliação do TPC (tempo de perfusão capilar) não mostraram diferenças significativas, permaneceram dentro da normalidade em todos os grupos. ou seja, 73 Tabela 15 – Médias ( ) e desvios padrões (S) dos valores de tempo de perfusão capilar (TPC) determinado em segundos, de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. TPC MOMENTO GRUPO I n M0 M15 M60 M6 M12 M24 M48 10 10 10 10 10 10 10 ±S 2 ± 0,48 2 ± 0,48 2 ± 0,52 2 ± 0,48 2 ± 0,48 1 ± 0,52 2 ± 0,53 GRUPO II N 11 7 5 5 5 4 4 ±S 2 ± 0,52 1 ± 0,53 2 ± 0,55 2 ± 0,45 1 ± 0,55 2 ± 0,58 2 ± 0,58 GRUPO III n 11 10 8 7 7 8 8 ±S 2 ± 0,69 2 ± 0,82 1 ± 0,46 2 ± 0,53 1 ± 0,53 1 ± 0,46 1 ± 0,52 aA,Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). FIGURA 15 - Representação gráfica demonstrando o tempo de perfusão capilar (TPC) em segundos, de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. 74 4.2.6 Glicemia A glicemia normalmente é regulada pelos hormônios insulina e glucagon, mas também é influenciada por outros fatores. O jejum raramente resulta em hipoglicemia, a não ser em neonatos, por estes animais terem reservas energéticas limitadas. Qualquer doença, lesão, alteração congênita, rejeição materna, agalactia ou erro de manejo que limite a ingestão de alimento (colostro/leite), pode resultar em hipoglicemia acentuada, associada à depressão e coma (SMITH, 2006). Tabela 16 – Medianas, mínimo e máximo dos valores de glicose sanguínea (mg/dL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. MOMENTO M0 M15 M60 n 10 10 10 GRUPO I Md Min-Max 44 Ac 30 - 69 47 bc 22 - 82 41 c < 20 - 73 n 9 7 5 M6 M12 M24 M48 10 10 10 10 76 abc 85 ab 110 a 112 a 5 5 4 4 29 - 182 38 - 191 59 - 136 55 - 144 Glicose (mg/dL) GRUPO II Md Min-Max 23 B <20 – 50 29 <20 - 87 24 <20 – 54 <20 – 126 67 63 23 – 97 81 23 – 151 89 30 – 112 n 10 9 7 GRUPO III Md Min-Max 21 B <20 – 100 39 <20 – 129 57 22 – 135 7 7 7 7 66 67 99 105 35 – 99 38 – 92 76 – 145 81 -170 aA, Medianas seguidas de letras diferentes, minúscula na coluna e maiúscula na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p<0,05). Ao comparar os grupos em cada momento, verificou-se diferença significativa ao nascimento (M0), com divergência entre o grupo I e os demais. Observou-se que somente os animais nascidos a termo apresentaram divergência estatística entre os momentos (Tabela 16). É possível visualizar que o grupo I foi o que obteve maiores níveis glicêmicos no M0, ficando evidente a elevação ou estabilização dos níveis 75 glicêmicos a partir dos 60 minutos, com exceção do grupo II, que obteve níveis glicêmicos menores até o final da avaliação (M48 horas). Ressalta-se que algumas amostras sanguíneas do grupo II possuíam níveis inferiores ao limite do aparelho (20 mg/dL) até o M6, sendo que, após este momento, os níveis aumentaram até às 48 horas (M48), possivelmente em decorrência da ingestão do colostro. A menor concentração de glicose ao nascimento deveu-se à insuficiência dos mecanismos regulatórios da glicose sanguínea bem como à imaturidade hepática do neonato (gliconeogênese hepática ineficaz, menores estoques de glicogênio hepático) e glicosúria, em decorrência da imaturidade renal (GORMAN, 2011). Devido a esta insuficiência dos mecanismos regulatórios os grupos mais acometidos foram àqueles considerados prematuros (Grupo II e III), devido à imaturidade de suas diferentes estruturas orgânicas. Os animais do grupo III (Cesariana + Dexametasona) também obtiveram níveis glicêmicos levemente mais alto que o grupo II, porém, estes dois grupos, apresentaram teores praticamente iguais. Ambos os grupos apresentaram estabilização de seus valores em níveis normais ao longo das 48 horas de vida. 4.2.7 Lactato A concentração do lactato sanguíneo é fortemente influenciada pelo equilíbrio de seu metabolismo, de modo que a hiperlactatemia caracteriza-se pelo aumento na produção e/ou diminuição no consumo do substrato (RONCO, 2005). Nas situações de hipóxia, há redução da captação de lactato pelo fígado, além de, ocasionalmente, poder se tornar produtor do metabólito (ELIAS, 2006). 76 Tabela 17 - Média ( ) e desvio padrão (S) dos valores de lactato sérico (mg/dL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. LACTATO1 GRUPO I MOMENTO M0 M15 M60 M6 M12 M24 M48 n 10 10 10 10 10 10 10 ±S 8,2 ± 2,4 7,9 ± 2,5 6,6± 1,3 6,4±1,9 6,4± 1,6 5,4± 1,0 5,5± 3,4 GRUPO II n 11 7 5 5 5 4 4 ±S 9,7 ± 3,6 9,3 ± 2,8 8,5 ± 2,2 8,9 ± 1,1 8,0 ± 1,2 6,1 ± 2,1 4,1 ± 1,1 GRUPO III n 11 10 8 7 7 8 8 ±S 9,5 ± 1,7 11,1 ± 3,3 8,3 ± 2,6 7,5 ± 1,4 5,8 ± 1,3 5,3 ± 1,4 5,3 ± 1,4 aA,Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). FIGURA 16 - Valores médios dos níveis de lactato de cordeiros nascidos dos grupos I (Normal), II (Cesarianas) e III (Cesariana + Dexametasona), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e aos 60 minutos (M60), bem como às 06 (M6), às 12 (M12), às 24 (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. 77 No presente estudo não se verificou diferença significativa entre grupos e entre momentos (p>0,05), porém foi possível observar que todos os cordeiros apresentavam-se hiperlactatêmicos ao nascimento, com diminuição gradativa e acentuada dos teores de lactato ao longo das 48 horas de vida (Tabela 17 e Figura 16). Os cordeiros do grupo II apresentaram os maiores níveis de lactato no M15, atingindo, contudo, valores de normalidade às 48 horas de vida. A elevação da concentração de lactato indica a ocorrência de eventos hipóxicos fisiológicos ou patológicos durante o parto (CASTAGNETTI, 2010). Neste caso, a transição da vida fetal para a neonatal (extrauterina) é considerada evento de hipóxia fisiológica transitória, caracterizado pelo período que ocorre a substituição do conteúdo alveolar líquido por gasoso, atingindo o patamar de normalidade após este período. Segundo Robertson (1989), a acidose lática possui ação depressora direta sobre a contratilidade e débito cardíacos, que, no animal adulto, pode ser compensada por estimulação simpática do miocárdio pela elevação da FC. Este comportamento compensatório não foi observado nos cordeiros utilizados no presente estudo, e, particularmente, naqueles pertencentes ao grupo II, possuidores dos maiores teores de lactato sérico, concordando com as informações de GRUNDY (2006), que afirmaram que tal mecanismo era ineficiente em neonatos, em virtude do incompleto desenvolvimento do sistema simpático, sendo o coração incapaz de aumentar sua força de contração. 78 4.2.8 Hemogasometria Tabela 18 - VARIÁVEL Médias ( ) e desvios padrões (S) dos valores hemogasométricos de pH, pCo2, pO2, HCO3 e sO2, de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. MOMENT O NORMAL n ±S M0 10 7,18 ± 0,04 Ad M15 10 7,21 ± 0,05 Ad M60 10 7,26 ± 0,04 Ac pH M6 10 7,32 ± 0,03 Abc M12 10 7,36 ± 0,08 ab M24 10 7,39 ± 0,06 a M48 10 7,39 ± 0,03 a M0 10 72,92 ± 4,72 Ba M15 10 72,60 ± 9,14 a M60 10 66,75 ± 8,25 a pCO2 M6 10 57,89 ± 8,54 b M12 10 52,35 ± 8,00 b M24 10 49,91 ± 4,26 b M48 10 50,85 ± 6,10 b M0 10 26,23 ± 1,65 c M15 10 27,71 ± 2,17 Abc M60 10 29,49 ± 3,15 Aab HCO3 M6 10 27,55 ± 3,00 bc M12 10 28,29 ± 2,72 Aab M24 10 29,67 ± 3,07 ab M48 10 30,22 ± 3,06 a aA, Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). CESARIANA n ±S 11 7,01 ± 0,16 Bc 5 6,97 ± 0,17 Bc 5 7,10 ± 0,13 Bbc 5 7,26 ± 0,01 Bab 5 7,27 ± 0,09 a 4 7,36 ± 0,03 a 4 7,39 ± 0,02 a 11 89,67 ±17,25 Aa 7 94,04 ±30,19 a 5 71,96 ± 7,80 ab 5 58,40 ± 7,75 b 5 57,42 ±12,64 b 4 52,75 ± 1,54 b 4 55,90 ± 5,53 b 10 23,99 ± 3,21 bc 7 20,94 ± 4,26 Bc 5 23,24 ± 3,85 Bc 5 25,70 ± 3,36 bc 5 25,60 ± 1,71 Bbc 4 29,28 ± 2,13 ab 4 33,30 ± 1,96 a na coluna e maiúsculas CESARIANA + DEXAMETASONA n ±S 11 7,06 ± 0,08 Bbc 10 6,99 ± 0,16 Bc 8 7,12 ± 0,10 Bb 7 7,31 ± 0,05 Aa 7 7,36 ± 0,04 a 8 7,36 ± 0,04 a 8 7,34 ± 0,05 a 11 89,85 ±13,43 Aa 10 91,02 ± 28,55 a 8 69,16 ± 6,56 b 7 56,34 ± 6,73 bc 7 53,89 ± 6,67 c 7 55, 71 ± 6,39 bc 7 56,80 ± 8,68 bc 11 24,82 ± 1,31 cd 10 21,08 ± 2,54 Bd 8 22,56 ± 3,56 Bcd 7 25,69 ± 2,69 bc 7 29,19 ± 1,68 Aab 8 30, 80± 2,41 a 8 29,70 ± 3,74 ab na linha, diferem 79 4.2.8.1 pH Avaliando-se os valores dispostos na tabela 18, foi possível observar que houve diferença significativa entre o grupo I e os grupos II e III, nos momentos M0, M15 e M60. Às seis horas, os valores de pH diferiram entre os animais nascidos a termo e aqueles do grupo II. Contudo, entre os grupos II e III os valores diferiram às seis horas de vida, não se notando divergência deste momento até os 60 minutos de vida (M60). Nos primeiros minutos de vida, o valor do pH sanguíneo dos cordeiros apresentava-se abaixo dos limites de normalidade, com tendência à normalização a partir das seis horas de vida nos grupos I e III. Porém, no grupo II, os valores do pH normalizaram-se somente às 24 horas após o nascimento. Durante a gestação e o nascimento, o animal está sujeito a baixo suprimento de oxigênio. Os neonatos saudáveis sofrem de acidose discreta, sendo que os animais nascidos de partos laboriosos apresentam, invariavelmente, níveis significativamente mais baixos de pH sanguíneo (WILSON et al., 1976, GARDINER, 1980). Corroborando com a citação acima, os cordeiros nascidos de parto normal (Grupo I) apresentaram discreta acidemia, enquanto os recém-nascidos oriundos de cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III) possuíam os mais baixos níveis. Estes valores situados ligeiramente abaixo do normal são considerados como quadro de acidose transitória, devido ao fato de que os cordeiros apresentaram estes sinais nos primeiros momentos após o nascimento, com normalização de seus valores de pH às 24 horas de vida. 80 4.2.8.2 PCO2 Os resultados obtidos (Tabela 18) no grupo I estão acima dos valores de referência para animais adultos (SMITH, 2006), caracterizando a acidose respiratória e metabólica transitória que os cordeiros apresentam ao nascimento. Com o passar do tempo os teores diminuíram, aproximando-se da normalidade. Ressalta-se que antes da realização da excisão do cordão umbilical, os cordeiros do grupo II não se encontravam em acidose. Porém, após a ruptura do cordão umbilical, a concentração de PCO2 elevou-se, com concomitantemente queda do pH e aumento discreto do HCO3, pois no quadro de acidose respiratória é de se esperar, como resposta compensatória ao baixo pH, o aumento dos níveis de bicarbonato (HCO3) acima dos valores considerados como normais, na tentativa de tamponamento químico do excesso de íons de hidrogênio (GUYTON; HALL, 2002). Pode-se observar que os valores tenderam à normalidade, embora numa taxa mais lenta, quando comparados com os do grupo I. O mesmo aconteceu com o grupo III, apesar de os valores ao nascimento não se mostrarem tão elevados quanto aos observados nas amostras do grupo II. Ao observar a tabela 18, verificou-se diferença estatística somente ao comparar-se o grupo I com os grupos II e III, principalmente ao nascimento. Exceto às seis horas de vida dos cordeiros, não foi possível constatar variações significativas em seus valores nos diferentes grupos. Contudo, nos cordeiros do grupo II, diferenças ocorreram entre os momentos M60, M12 e M24. 4.2.8.3 BICARBONATO (HCO3) Na espécie ovina, o bicarbonato (HCO3) varia de 20 a 25 mEq/L (SMITH, 2006). Ao compararem-se os diferentes grupos, verificou-se que o grupo I 81 diferiu dos demais nos momentos M15 e M60 e às 12 horas de vida. Exceto às 12 horas de vida, os grupos II e III não diferiram entre si. Os valores médios apresentaram-se, de maneira geral, discreta elevação (Tabela 18), principalmente no grupo I, decorrente da tentativa de compensar a acidose respiratória transitória (glicólise anaeróbica) em que o neonato se encontra na ocasião do nascimento e até quatro horas após o parto. Porém, com o passar do tempo (M48 horas), os valores dos cordeiros do grupo I ainda apresentavam-se ligeiramente elevados, principalmente nos grupos II e III, por terem níveis mais elevados quando comparados aos do grupo I. 4.2.8.4 DÉFICIT OU EXCESSO DE BASE (BE) Os cordeiros do grupo I apresentaram déficit de base (BE) significativo, sendo seus níveis recuperados, contudo, ao longo do tempo (Tabela 19), até atingir, nos últimos momentos analisados, valores satisfatórios. Tabela 19 - Medianas, mínimo e máximo dos valores de BE (mmoL/L), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), bem como às 06 horas (M6), às 12 horas (M12), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. BE (mmoL/L) MOMENTO NORMAL CESARIANA + DEXAMETASONA CESÁRIANA N Md Min-Max N Md Min-Max n Md Min-Max M0 10 -1,5 Ab -5,0 – 2,0 10 -6,0 B -17,0 – 0,0 11 -6,0 B -12,5 – -3,0 M15 10 0,0 Ab -3,0 – 4,0 7 -10,0 B -19,0 – -3,0 10 -11,8 B -23,0 – -4,0 M60 10 3,5 Aab -3,0 – 7,0 5 -3,0 B -14,0 – -1,0 8 -7,1 B -15,0 – -1,0 M6 10 1,0 b -7,0 – 7,0 5 -2,0 -4,0 – 4,0 7 0,0 -10,7 – 3,3 M12 10 3,0 ABab 5 -1,0 B -4,0 – 1,0 7 5,0 A 1,0 – 6,0 M24 10 5,5 a -4,0 – 8,0 -2,0 – 10,0 4 4,5 1,0 – 7,0 8 5,8 1,5 – 10,0 M48 10 4,5 a 2,0 – 11,0 4 8,5 7,0 – 11,0 8 4,0 -1,7 - 10,0 Medianas seguidas de letras diferentes, minúscula na coluna e maiúscula na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). aA, 82 Como observado para outras variáveis, denotou-se diferenças estatísticas quando se comparou o grupo I com os demais, nos momentos M0, M15 e M60. Ainda em relação aos cordeiros do grupo I, verificaram-se diferenças às 24 e às 48 horas de vida. Divergências significativas dos valores médios foram constatadas entre os grupos II e III, ao nascimento, aos 15 e aos 60 minutos, exceto no M12 horas, onde o grupo II diferiu do grupo III. Os cordeiros dos grupos II e III apresentaram declínio acentuado de BE na primeira hora de nascidos. Porém, esses valores começaram a aumentar após as primeiras 12 horas de vida. Esses valores são condizentes com o que foi observado por Rodrigues et al. (2007). O aumento desses valores nos últimos momentos pode ser decorrente da recuperação do desequilíbrio ácidobásico observado ao nascimento o grupo I, cujos valores de BE tenderam a aumentar após uma hora de vida. 4.2.9 Hemograma 4.2.9.1 Hematócrito (Ht) Quando inicialmente descrito, o termo hematócrito (Ht) era o nome do procedimento utilizado para separar o sangue em seus principais componentes: concentrados de eritrócitos, camada leucocitária e plasma. Com o uso comum do procedimento, o hematócrito começou a indicar o principal resultado do método (STOCKHAM; SCOTT, 2011). A anemia corresponde à diminuição da quantidade de hemácias, resultando em menor oxigenação tecidual. A massa de hemácias é determinada pela medição do volume globular (VG) ou do hematócrito, do teor de hemoglobina no sangue ou da contagem de hemácias (BAKER, et al, 2006). 83 Tabela 20 – VARIÁVEL Média ( ) e desvio padrão (S) dos valores hematimétricos de hematócrito (Ht), de cordeiros que nasceram de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. MOMENTO GRUPO I GRUPO II GRUPO III N N n ±S ±S ±S M0 10 48,6 ± 8,0 Aa 11 41,5 ± 3,7 Ba 11 39,3 ± 5,7 Ba M15 10 47,6 ± 7,5 Aa 7 40,4 ± 5,3 ABa 10 37,2 ± 5,1 Bb Ht M60 10 47,4 ± 8,2 Aa 5 39,6 ± 6,5 Ba 8 38,0 ± 5,6 Bab M24 10 36,9 ± 8,5 b 4 29,3 ±5,1 b 8 31,4 ± 5,1 c M48 10 34,4 ± 8,6 b 4 26,5 ± 5,9 c 8 28,0 ± 5,4 d aA,Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). Denotou-se que o grupo de parto normal apresentou diferenças significativas quando comparado aos grupos II e III, ao nascimento, aos 15 e 60 minutos (Tabela 20). No grupo I (parto normal), ao comparar os momentos observou-se divergências estatísticas do M24 e M48, com os momentos iniciais. Ao se avaliar os momentos, verificou-se diferença significativa entre os grupos II e III, às 24 e às 48 horas. Os grupos II e III não divergiram. É possível observar há declínio nos valores de VG em todos os grupos (Grupo I, II e III) com o decorrer do tempo (Tabela 20), porém, apesar disso, estes valores não chegaram ao limite inferior, de acordo com os citados por Meyer, et. al (1995). 4.2.9.2 Hemoglobina (Hb) A hemoglobina (Hb) tem como função transportar O 2 dos pulmões para os tecidos (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Os valores de referências descritos por Meyer, et. al. ( 1995), variaram de 8 a 16 g/Dl . 84 Tabela 21 - Médias ( ) e desvios padrões (S) dos valores hematimétricos de Hemoglobina- Hb (g/dL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. VARIÁVEL MOMENTO GRUPO I GRUPO II n n n ±S ±S M0 10 15,1 ± 2,5 Aa 11 13,5 ± 1,5 ABa 11 M15 10 14,9 ± 2,5 Aa 7 13,4 ± 2,0 ABa 10 Hb M60 10 14,7 ± 2,4 Aa 5 13,0 ± 2,4 ABa 8 M24 10 11,7 ± 2,2 b 4 9,6 ± 1,7 b 8 M48 10 11,3 ± 2,9 b 4 8,8 ± 1,4 b 8 aA, Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05). GRUPO III ±S 12,1 ± 2,2 Ba 11,3 ± 1,8 Ba 11,4 ± 2,0 Ba 9,9 ± 1,9 b 9,2 ± 1,9 b linha, diferem Ao compararem-se os grupos em cada momento, denotou-se diferença significativa nos três momentos iniciais (M0, M15 e M60), sendo que o grupo III apresentou divergência estatística quando comparado ao grupo I. Na comparação entre os momentos, constatou-se diferença entre os M24 e M48 com os três momentos iniciais, em todos os grupos. Verificou-se, também, que os valores de Hb caíram com o decorrer, do tempo, porém não alcançaram o limite inferior. Maior declínio destes valores foi visto nos cordeiros do grupo II (Tabela 21). 4.2.9.3 Proteína Total Proteínas são cadeias polipeptídicas de aminoácidos. Mais de 1.000 proteínas diferentes já foram identificadas no soro sanguíneo. A mensuração da proteína total por refratometria tem como princípio o grau de refração de luz em uma solução aquosa que é proporcional à quantidade de sólidos na solução. Como a maioria dos sólidos no plasma são proteínas, o grau de refração da luz é altamente dependente da concentração proteica 85 (STOCKHAM; SCOTT, 2011). Os valores médios de proteína total estão dispostos na tabela 22. Tabela 22 – Médias ( ) e desvios padrões (S) dos valores de Proteína Total (g/dL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. Proteína Total MOMENTO GRUPO I GRUPO II GRUPO III n n n ±S ±S ±S M0 10 4,2 ± 0,3 Ab 11 3,9 ± 0,4 ABb 11 3,8 ± 0,3 Bc M15 10 4,3 ± 0,4 Ab 7 4,0 ± 0,3 ABb 9 3,9 ± 0,4 Bc M60 10 4,4 ± 0,3 Ab 5 4,0 ± 0,4 Bb 8 4,2 ± 0,2 ABbc M24 10 6,5 ± 1,1 Aa 4 5,2 ± 0,6 Ba 8 4,7 ± 0,4 Bab M48 10 6,3 ± 0,9 Aa 4 5,2 ± 0,7 Ba 8 4,8 ± 0,6 Ba aA, Médias seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). Ao se observar a tabela 22, constatou-se que o grupo I apresentou diferenças significativas em relação ao grupo II, nos seguintes momentos, a saber : M60, M24 e M48. O grupo I (parto normal) mostrou-se divergente entre os grupo III (cesariana+dexametasona) ao nascimento, aos 15 minutos, às 24 e às 48 horas de vida. Verificou-se, também, que os valores citados acima (Tabela 22), encontravam-se abaixo daqueles tidos como referenciais, exceto para aqueles do grupo I, os quais se encontravam próximos da normalidade para a espécie. Os grupos II e III não diferiram entre si, apresentando valores inferiores aos recomendados até o último momento estudado, indicadores de falha de transferência de imunidade passiva, mesmo tendo sido alimentados com colostro por meio de mamadeiras ou de sondagem. 4.2.9.4 Fibrinogênio O fibrinogênio faz parte do grupo de proteínas conhecido como proteínas de reação de fase aguda, produzidas pelo fígado (MEYER, 1995). Os valores de referências encontrados são de 4,0 a 12,0 (x103/µL), 86 segundo Meyer et al. (1995). Observou-se, na tabela 23, que não houve diferença significativa entre grupos e momentos (p > 0,05). Tabela 23 – Medianas dos valores de Fibrinogênio (g/dL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. Fibrinogênio (g/dL) MOMENTO GRUPO I GRUPO II GRUPO III n Md Min-Max n Md Min-Max n Md Min-Max M0 10 <0,1 <0,1-0,20 11 <0,1 <0,1-2,00 11 <0,1 <0,1-0,20 M15 10 <0,1 <0,1-0,20 7 <0,1 <0,1-2,00 10 <0,1 <0,1-0,20 M60 10 0,2 <0,1-2,00 5 <0,1 <0,1-0,20 8 0,11 <0,1-2,00 M24 10 0,2 <0,1-6,00 4 <0,1 <0,1-0,20 8 0,20 <0,1-2,00 M48 10 <0,1 <0,1-4,00 4 0,30 0,20-2,00 8 0,20 <0,1-4,00 Medianas seguidas de letras diferentes, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). aA, 4.2.9.5 Leucócitos Totais Tabela 24 – Medianas dos valores dos Leucócitos (x103/µL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. Leucócitos (x103/µL) MOMENTO GRUPO I n Md Min-Max GRUPO II n Md Min-Max GRUPO III n Md Min-Max M0 10 3,1 ab 1,6 - 7,6 11 2,0 0,9 – 4,5 11 2,2 1,3 – 3,7 M15 10 2,8 ab 2,2 - 7,0 7 2,2 1,2 – 3,6 10 3,4 0,5 – 7,0 M60 10 2,3 b 1,7 - 4,2 5 2,1 2,0 - 2,9 8 2,7 1,4 – 5,5 M24 10 3,8 Aa 2,8 - 9,3 4 2,7 AB 1,7 – 3,4 8 2,4 B 1,3 - 3,7 M48 10 3,0 Aab 1,5 - 10,9 4 2,6 AB 1,7 – 2,8 8 2,1 B 1,6 – 3,0 aA, Medianas seguidas de letras diferentes, minúscula na coluna e maiúscula na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). 87 Observou-se (Tabela 24) que o grupo I divergiu somente em relação aos valores obtidos pelo grupo III, nos momentos M24 e M48. Entre os momentos, constatou-se diferença significativa aos 60 minutos e às 24 horas. 4.2.9.6 Neutrófilos Segmentados A principal função dos neutrófilos é a fagocitose de bactérias. Os neutrófilos estão relacionados com as reações inflamatórias secundárias às bactérias, doenças imunomediadas e necrose tecidual inespecífica. Os valores de referência dos neutrófilos segmentados são de 1,0 a 5,0 µL. Tabela 25 – Medianas dos valores dos Neutrófilos segmentados (/µL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. Neutrófilos segmentados (/µL) GRUPO I MOMENTO Min-Max GRUPO II n Md Min-Max GRUPO III N Md n Md Min-Max M0 10 0,85 A 0,25 – 4,71 11 0,20 B 0,04 – 0,92 11 0,57 AB 0,22 – 1,63 M15 10 0,88 A 0,45 – 3,87 7 0,09 B 0,02 – 1,06 10 0,63 AB 0,02 – 1,69 M60 10 0,94 A 0,37 – 2,44 5 0,25 B 0,12 – 0,80 8 0,41 AB 0,29 – 3,63 M24 10 2,23 0,21 – 5,49 4 1,76 0,82 – 2,14 8 1,22 0,39 – 2,85 M48 10 0,80 0,22 -5,12 4 1,48 0,87- 1,69 8 0,54 0,22 – 3,00 Medianas seguidas de letras diferentes, minúscula na coluna e maiúscula na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). aA, Quanto aos valores medianos do grupo I (tabela 25), verificou-se diferença significativa somente com o grupo II, ao nascimento, aos 15 e 60 minutos, mas não entre os grupos II e III. 88 4.2.9.7 Linfócitos Os precursores dos linfócitos se originam na medula óssea durante a vida fetal e são influenciados em direção à função específica pelo timo, para formar os linfócitos T ou pelo componente equivalente a Bursa de Fabricius em cada espécie para formar os linfócitos B. No final da gestação e pósnascimento, a maioria dos linfócitos é produzida no baço, linfonodos e tecidos linfoides associados ao intestino, estando a sua principal função relacionada às atividades imunológicas (MEYER et al. 1995). Tabela 26 – Medianas dos valores dos Linfócitos (/µL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. Linfócitos (/µL) MOMENT O GRUPO I n Md M0 10 M15 Min-Max GRUPO II n Md 1,76 0,93 – 2,51 11 10 1,82 0,95 – 3,09 M60 10 1,37 M24 10 1,63 A Min-Max GRUPO III n Md Min-Max 1,75 0,68 – 4,23 11 1,70 0,36 – 2,89 7 1,82 0,20 – 3,10 10 2,42 0,01 – 5,81 0,27 – 3,04 5 1,83 1,16 – 2,73 8 2,04 0,22 – 3,74 1,14 -3,44 4 0,94 B 0,31 – 1,39 8 1,12 AB 0,60 - 1,70 M48 10 1,89 A 0,75 – 5,45 4 0,96 B 0,70 -1,01 8 1,22 AB 0,93 – 2,58 Medianas seguidas de letras diferentes, minúscula na coluna e maiúscula na linha, diferem entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). aA, Constataram-se, na comparação entre grupos, diferenças significativas entre os grupos I e II, somente nos momentos 24 e 48 horas de vida. Não houve diferenças significativas entre os grupos II e III, e nem entre os momentos. 4.2.9.8 Monócitos Os monócitos surgem no osso da mesma célula primordial que os granulócitos, e têm como função migrar para o interior dos tecidos e se transformar em macrófago fixo. Este sistema mononuclear fagocitário 89 (macrófagos e monócitos do sangue), desempenha importante papel na defesa contra microorganismos intracelulares (fungos, vírus, e certas bactérias), segundo Meyer et al. (1995). Não se visualizou diferença significativa entre os Grupos e entre os diferentes momentos (p > 0,05). Tabela 27 – Medianas dos valores dos Monócitos (/µL), de cordeiros pertencentes aos grupos de parto normal (Grupo I), cesariana (Grupo II) e cesariana + dexametasona (Grupo III), ao nascimento (M0), aos 15 (M15) e 60 minutos (M60), às 24 horas (M24) e às 48 horas de vida (M48). Araçatuba, SP – 2014. Monócitos (/µL) MOMENTO GRUPO I n Md Min-Max M0 10 0,03 0,00- 0,38 M15 10 0,09 0,00 – 0,23 M60 10 0,03 0,00 – 0,05 M24 10 0,04 0,00 – 0,28 M48 10 0,08 0,00 – 0,21 a A, Medianas seguidas de letras diferentes, entre si pelo teste de Dunn (p < 0,05). GRUPO II n Md 11 0,03 7 0,00 5 0,00 4 0,02 4 0,09 minúscula na Min-Max GRUPO III n Md Min-Max 0,00 – 0,22 11 0,04 0,00 - 0,88 0,00 – 0,09 10 0,02 0,00 – 0,58 0,00 – 0,04 8 0,02 0,00 – 1,18 0,00 – 0,31 8 0,00 0,00 – 0,05 0,00 -0,28 8 0,03 0,00 – 0,11 coluna e maiúscula na linha, diferem 4.2.10 Avaliação radiográfica pulmonar dos recém-nascidos Ao realizar a avaliação radiográfica do grupo I (parto normal), verificouse que a maioria dos cordeiros pertencentes a este grupo apresentou aumento da radiopacidade pulmonar de padrão alveolar localizado em lobos diafragmáticos após o nascimento (M0); já nos momentos 24 e 48 horas estas alterações se normalizaram. Alguns cordeiros não apresentaram quaisquer alterações em seu padrão respiratório pulmonar. Alvares, et. al. (2012) relataram que a hiperinsuflação compensatória do pulmão remanescente está presente ao nascimento, sendo que as porções pulmonares colapsadas apresentam aumento de radiopacidade com forma triangular, em pelo menos 90 uma das projeções radiográficas. É possível observar que a tendência é de que os padrões pulmonares se normalizem, ao longo do tempo (Figura 17). FIGURA 17 – Radiografia evidenciando padrão respiratório de cordeiros nascidos de parto normal (Grupo I). Imagem radiográfica apresentando aumento de radiopacidade pulmonar de padrão alveolar localizado em lobos diafragmáticos ao nascimento (A) às 24 (B) e às 48 horas (C), evidenciando padrão alveolar em organização. Verificou-se aumento homogêneo de radiopacidade pulmonar nos animais do grupo II (cesariana), obliterando a visualização da silhueta cardíaca, sendo compatível com a presença de efusão pleural, acompanhada, também, de dificuldade de observação das cúpulas diafragmáticas. Alguns animais apresentaram aumento generalizado da radiopacidade pulmonar de padrão alveolar, com a presença de broncogramas aéreos em lobos diafragmáticos, sendo possível a visualização parcial da silhueta cardíaca e das cúpulas diafragmáticas devido ao intenso padrão alveolar. Estes resultados são semelhantes aos citados por Alvares et al. (2012) que relataram o aspecto radiológico típico da Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) em recémnascido pré-termo, em suas primeiras horas de vida, caracterizado pelo infiltrado retículogranular difuso distribuído uniformemente nos pulmões, com presença de broncogramas aéreos e aumento do líquido intrapulmonar. Radiologicamente, a SDR pode ser classificada em leve, moderada e grave. A 91 forma leve apresenta padrão reticulogranular difuso, porém permite a visualização da silhueta cardíaca; a forma moderada apresenta maior opacidade, com presença de broncogramas aéreos e apagamento da silhueta cardíaca; a forma grave apresenta opacidade completa do pulmão. É possível observar a maior opacidade após o nascimento (M0), sendo nítida, contudo, a gradativa facilidade para visualizar as estruturas pulmonares (Figura 17), à medida que o tempo aumenta (M24 e M48). Entretanto, ao avaliar e comparar as figuras 17, 18 e 19, constatou-se que o grupo de parto normal foi o que apresentou melhor visualização das estruturas, indicando que os animais nascidos de partos eutócicos possuíam pouca quantidade de líquido em seus pulmões, fazendo com que obtivessem melhor visualização em suas radiografias, como também em seus parâmetros vitais, principalmente no que tange a capacidade respiratória. Estes achados encontram-se associados, ainda, a mais rápida recuperação destes cordeiros em relação aos dos grupos II e III, os quais apresentavam estruturas de difícil visualização ao exame radiográfico, devido à grande quantidade de LA em seus pulmões, com alguns destes apresentando sinais de atelectasia pulmonar, além da síndrome do desconforto respiratório (SDR). Tais alterações refletiram no quadro clínico geral do animal, em virtude da maior dificuldade ao insuflar os seus pulmões, com consequente comprometimento da capacidade respiratória destes animais, oriundos de cesarianas (Grupo II) e de cesarianas + dexametasona (Grupo III). O método de eleição para o nascimento destes cordeiros provavelmente influenciou no aparecimento das alterações ocorridas em cada grupo, já que há, fisiologicamente, em animais que nascem de parto normal, a expulsão de grande quantidade de LA por compressão de sua caixa torácica à medida que o cordeiro se insinua pela pelve de suas mães, sem contar com a melhor capacidade de absorção dos líquidos pelo próprio organismo. Assim, os animais nascidos de parturições eutócicas têm melhor adaptação frente ao ambiente extrauterino quando comparado com os cordeiros pertencentes aos grupos II e III, uma vez que além de prematuros, estes foram submetidos à 92 cesariana, e mesmo tendo-se realizado a aspiração das vias aéreas imediatamente após o nascimento, a quantidade de LA em seus pulmões mostrou-se maior. FIGURA 18- Radiografia torácica de cordeiros nascidos de cesarianas (Grupo II), evidenciando aumento de radiopacidade pulmonar de padrão alveolar, localizado em lobos diafragmático e acessório ao nascimento (A) e às 24 horas (B), com melhora acentuada do padrão alveolar. Denotar aspecto “felpudo” da veia cava caudal às 48 horas (C). A B FIGURA 19- Radiografia torácica de cordeiros nascidos de cesariana+dexametasona (Grupo III). Imagem radiográfica apresentando presença de infiltrado peribronquial, ao nascimento (A) e às 24 horas (B). No momento 48 horas (C) evidencia-se a veia cava caudal com aspecto “felpudo” e manutenção do infiltrado peribronquial. C 93 Alguns cordeiros nascidos de cesariana, cujas mães receberam dexametasona 36 horas antes das cirurgias eletivas, apresentaram discreto aumento de radiopacidade de padrão alveolar nos lobos diafragmático e acessório, com indefinição da veia cava caudal. Outros possuíam radiopacidade homogênea em cavidade torácica, com densidade de água, obliterando a visualização da silhueta cardíaca e cúpulas diafragmáticas, sugerindo atelectasia. Foi possível observar melhora na visualização dos padrões pulmonares ao longo do tempo. Cabe ressaltar que os cordeiros deste grupo apresentaram melhores resultados quando comparado aos do grupo II (Figura 19). 94 5 CONCLUSÃO A técnica de coloração de azul de Nilo (0,1%) não é satisfatória na espécie ovina para predizer a maturidade fetal; a citologia pelo método Hematoxilina – Shorr se mostra como ótimo método para prever o grau de maturidade fetal de cordeiros, principalmente quando associado a outras técnicas de avaliação da maturidade pulmonar e fetal; o teste de Clements (1972) apresenta-se, de maneira geral, resultados inconstantes e não fidedignos quando negativos, porém confiáveis quando positivos, por serem fortes indicadores de maturidade pulmonar do feto ou do recém-nascido; cordeiros prematuros, nascidos aos 138 dias de gestação de mães que receberam dexametasona por via intramuscular dois dias antes da parição, apresentam menores taxas de mortalidade e maiores níveis glicêmicos ao nascimento do que aqueles da mesma categoria etária, oriundos de mães não medicadas com o referido fármaco; recém-nascidos da espécie ovina apresentam-se com acidose respiratória transitória ao nascimento, porém, de maior duração e intensidade naqueles prematuros; cordeiros prematuros cujas mães recebem administração de dexametasona 36 horas antes da parição possuem maiores valores de lactato séricos aos 15 minutos de vida do que animais nascidos a termo e prematuros, indicando hipóxia mais duradoura; cordeiros prematuros possuem falha de transferência de imunidade passiva, mesmo quando alimentados com colostro. 95 6 REFERÊNCIAS AIDASANI, R.; CHAUMAN, R. 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