Jureminha (Desmanthus virgatus)
Richardson Soares de Souza Melo
1. Introdução
O trópico semi-árido cobre aproximadamente dois milhões de quilômetros
quadrados na América do sul, o que corresponde a aproximadamente 10% da
superfície total do continente (IBGE, 1998). Sendo destes 850.000 Km2 localizados
no nordeste brasileiro, caracterizado por ser uma região muito vasta, de alta
densidade populacional e muito pobre, sendo preciso incrementar a geração de
tecnologias agropecuárias próprias às condições ecológicas do semi-árido, e que
sejam geradas na própria região. As condições edafo-climáticas dessa região não
suportam, em quase toda a área, uma economia fundamentada somente na
agricultura, constituindo-se, reconhecidamente, a pecuária como a vocação
natural da região (PIMENTA FILHO & SILVA, 2002).
Os fatores edafo-climáticos favorecem o desenvolvimento de uma vegetação
adaptada às suas adversidades, formada, em sua maioria, por plantas xerófilas e
caducifólias, originado um tipo de formação florestal denominado de caatinga
(LIMA, 1996). A Caatinga, por ser de natureza caducifólia, não fornece, nas
épocas
secas
do
ano,
alimentos
que
possam
suprir,
quantitativa
e
qualitativamente, as necessidades dos animais (DANTAS NETO et al., 2000).
A produção de alimentos para os rebanhos constitui um dos maiores
desafios para o sucesso da atividade pecuária, especialmente em regiões semiáridas como a do Nordeste brasileiro. Mais de 80% das espécies herbáceas e
lenhosas da caatinga participam significativamente da dieta dos ruminantes
domésticos (LIMA, 1996) e representam um
elemento fundamental na
conservação do solo, na retenção da água no ecossistema e na oferta de outros
produtos florestais, tais como estacas e lenha (ARAÚJO et al., 2003).
Algumas espécies da vegetação da caatinga possuem características que
as tornam particularmente úteis à exploração pastoril, tanto pelo valor nutritivo
como pela capacidade de adaptação, produção e regeneração que apresentam
(SOARES, 1989). Dentre essas espécies, destacam-se as leguminosas que
podem constituir aproximadamente 90% da dieta de ruminantes domésticos,
especialmente nos períodos críticos de seca (PETER, 1992).
A jureminha (Desmanthus virgatus) é uma leguminosa arbustiva, perene, de
larga ocorrência na região Nordeste. Pode também ser conhecida como anis-debode, canela-de-ema, junco-preto, pena-da-saracura e vergalho-de-vaqueiro,
totalizando 24 espécies (LUCKOW, 1993; ELIAS, 1981).
Sua rusticidade, agressividade e persistência permitem pastejo direto,
podendo ser utilizada também para formação de legumineiras, banco de
proteínas, ou em consórcio com gramíneas. Rica em minerais e proteína, não
apresenta princípio tóxico para os animais (FIGUEIREDO et al., 2000a). Usada
para forragem e pasto, possui alta palatibilildade, elevada taxa de crescimento e
resiste ao corte e pastejo, podendo ser feitos quatro cortes por ano, dispõe de alta
taxa de produção de sementes. É tolerante a regiões semi-áridas e a certas
geadas adaptando-se a índices pluviométricos entre 250-1.500 mm; a altitude
ideal é de 1.250 m acima do nível do mar.
2. Sinônimos
Acacia angustisiliqua (Lam.) Desf
Acacia depauperata Steudel
Acacia leptosperma Bello
Acacia virgata (L.) Gaertner
Acuan depressa (Willd.) Kuntze
Acuan texanum Britton & Rose
Acuan tracyi Britton & Rose
Acuan virgatum (L.) Medikus
Desmanthus depressus Willd
Desmanthus pratorum Macfad
Desmanthus tenellus DC
Desmanthus virgatus (L.) Willd. var. depressus (Willd.) B. Turner
Mimosa angustisiliqua Lam
Mimosa depressa (Willd.) Poiret
Mimosa virgata (Tropical... 2006)
3. Taxonomia e Origem
A jureminha (Desmanthus virgatus) pertence à ordem Fabales, família
Leguminosae.
Natural de regiões secas, distribuída em zonas tropicais e sub-tropicais,
com distribuição em regiões como: África do Sul., Estados Unidos, Argentina, Índia
ocidental, Ilhas de Galapagos, Havaí, França, Caribe, México, Madagascar, Peru e
Brasil (Pacific... 2006).
4. Descrição da Planta
A jureminha apresenta porte arbustivo, com ramificações em sua base.
Possui altura de 3 a 4 m, inflorescência axilar, de vagens estreitas e lineares, talos
esbeltos, angulares e expressivos. Folhas com textura membranácea perenifólia,
fruto com consistência seca(Pacific... 2006)
a
a
b
a
c
Figura 1. Detalhe da Inflorescência (a), Frutos (b) e Folhas (c) de jureminha (Desmanthus
virgatus).
5. Manejo Agronômico
A jureminha ocorre em solos arenosos e areno-argilosos. Essa cultura
possui uma ótima produção de sementes, o que facilita a sua propagação. Para o
plantio utiliza-se 2 kg/ha de semente, as covas devem ser preparadas a uma
profundidade de 1 a 1,5 cm. É necessário realizar a quebra de dormência das
sementes, para isso esta deve ser tratada com ácido sulfúrico concentrado
durante 8 minutos (Fao... 2006).
6. Potencialidades de Uso
Países como Estados Unidos e México na busca de incrementar a
produção forrageira para suas criações utilizam a jureminha como pasto. No Norte
da Austrália a jureminha foi bem suscetível ao consórcio com o capim buffel,
outras espécies como: Bambatsi panic (Panicum coloratum var. makarikariense),
Queensland bluegrass (Dichanthium sericeum podem ser também consorciadas
(Tropical... 2006)
Segundo (Dornelas, 2003), a jureminha apresenta grande potencial para
arraçoamento dos ruminantes de modo a proporcionar máxima produção de
massa microbiana e o feno da mesma destaca-se quando comparada a outras
forrageiras como feijão bravo e maniçoba apresentando melhor valor nutritivo.
7. Desenvolvimento reprodutivo
A jureminha tem o seu período de Floração e frutificação nos meses de
dezembro, junho, julho, março e novembro.
8. Valor nutricional
O valor nutricional da jureminha fica entre 24-30% de proteína em matéria
seca (GUTTERIDGE, 1994). Suas características nutritivas permitem sugerir o seu
uso no arraçoamento do rebanho durante o período de estiagem, de forma a
garantir a manutenção dos animais (FIGUEIREDO et al., 2000b)
O valor forrageiro da jureminha foi estudado por vários pesquisadores.
Kharat et al. (1980) obtiveram valores de 35,80; 13,05; 7,02; 53,18 e 41,55 %,
respectivamente para Matéria Seca (MS), Proteína Bruta (PB), Matéria Orgânica
(MO), Matéria Mineral (MM), Fibra Detergente Neutro (FDN) e Fibra Detergente
Ácido. Na mesma ordem, Costa et al. (1997) encontraram valores de 35,2; 20,4;
92,94; 7,06; 43,69 e 23,11.
Estudando
a
caracterização
químico-bromatológica
de
Desmanthus
virgatus no brejo paraibano, Figueiredo et al. (2000a) obtiveram valores de MS,
PB, MO, MM, FDN e FDA de 31,79; 17,00; 92,52; 7,47; 36,01 e 28,98 % para 395
dias de crescimento e de 27,72; 20,20; 92,65; 7,38; 40,28 e 26,67% para 72 dias
de rebrota. Demonstrando assim características que lhe qualificam com uma
planta forrageira com potencial produtivo, em especial para o semi-árido.
8. Considerações Finais
A Desmanthus virgatus mostra-se como uma boa forrageira por suas
favoráveis características como: valor nutricional, potencial reprodutivo para o
semi-árido, rusticidade e arraçoamento para ruminantes.
Com base na presente revisão feita sobre a cultura da jureminha, fica clara
a importância de estudos através de pesquisas por universidades e órgãos
relacionados a área, para que haja um melhor aproveitamento desta na
alimentação animal no semi-árido.
9. Bibliografia
DORNELAS, C. S. M. Cinética ruminal em caprinos de forrageiras nativas da
caatinga. 2003, 58f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia), Universidade Federal
da Paraíba – Centro de Ciências Agrárias, Areia, 2003.
DANTAS NETO, J.; SANTOS, F. DE A. S. e.; FURTADO, D. A.; MATOS, J. DE A.
de. Influência da precipitação e idade da planta na produção e composição
química do capim-buffel. Pesq. agropec. bras. v.35 n.9 Brasília. 2000.
FIGUEIREDO, M.V.; GUIM, A., PIMENTA FILHO, E.C., SARMENTO, J.L.R.,
ANDRADE, M.V.M., PINTO, M.S.C., LIMA, J.A. Avaliação da composição
bromatológica e digestibilidade "in vitro" do feno de Desmanthus virgatus. In:
reunião anual da sociedade brasileira de zootecnia, 37, Viçosa-MG, Anais...
Viçosa: SBZ, p.29, 2000a.
FIGUEIREDO, M.V., PIMENTA FILHO, E.C., GUIM, A., SARMENTO, J.L.R.,
ANDRADE, M.V.M., PINTO, M.S.C. Estudo descritivo de Desmanthus virgatus:
uma revisão. In: congresso nordestino de produção animal, 2. Teresina-PI,
Anais... Teresina:SNPA, p.341-344, 2000.
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, v. 58, p. 3-54. 1998.
KHARAT, S.T., PRASAD, V.J., SOBALES, B.N., SANE, N,S, JOSHI, A.L.,
RANGNEKAR,
D.V.
Note
on
comparative
evaluation
of
Leucaena
leucocephala, Desmanthus virgatus e Medicago sativa for cattle. Indian
J.Anim. Sci. Maharashtra, v.50, p.638-9, 1980.
LIMA, J. L. S. Plantas forrageiras das caatingas – uso e potencialidades.
EMBRAPA-CPATSA/PNE/RB-KEM. Petrolina. 1996. 43 p.
PETER, A. M. Composição botânica e química da dieta de bovinos, caprinos
e ovinos em pastoeio associativo na caatinga nativa do semi-árido de
Pernambuco. 1992. 86 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade
Federal Rual de Pernambuco, Recife.
PIMENTA FILHO, E. C; SILVA, D. S. Plataforma regional do agronegócio
ovinocaprinocultura: Programa de estabelecimento racional de forrageiras
nativas do semi-árido nordestino para uso em sistemas de produção da caprinoovinocultura. Areia, 2002.
SOARES, J. G.G. 1989. Avaliação do feijão-bravo (Capparis flexuosa L.) em
condições de cultivo para produção de forragem. Petrolina: EMBRAPA –
CPATSA, (Pesquisa em andamento, 58).
Download

Jureminha (Desmanthus virgatus) - CCA/UFPb