O USO DA BIODIVERSIDADE DA CAATINGA: UMA LEITURA DE PROGRAMAS DE COMUNIDADES RURAIS DE JUAZEIRO (BAHIA ) Luzineide Dourado Carvalho Doutoranda NPGEO-UFS & Profa. Dra. Maria Geralda de Almeida Universidade Federal de Goiás (UFG) Resumo O trabalho ora apresentado tem a proposição de analisar os programas de Convivência com o SemiCaatinga e as mudanças que se procedem nas representações e percepções das comunidades rurais sobre sua territorialidade. A discussão sobre biodiversidade é recente, sendo uma resposta a uma situação concreta de uma crescente destruição da natureza. A mesma seria uma colocando em risco a sobrevivência. A biodiversidade é, sem dúvida, o suporte para um discurso que articula uma nova relação entre natureza e sociedade em contextos globais da ciência, das culturas e economia. A visão que as populações tradicionais possuem da biodiversidade é resultante de uma cultura particular, da apropriação do seu território e do conhecimento local, no caso, da Caatinga. A intenção é analisar como os conceitos de natureza e território ganham um novo significado pelos catingueiros, a partir dos programas, ações formas de se relacionar com a terra e com a natureza nos processos produtivos conduzidos pela apontam medidas sócio-econômicas e educativas para a mitigação dos efeitos das secas através de práticas e técnicas com o contexto do Semi-árido e o uso dos recursos naturais com bases sustentáveis. Palavras-chaves: Convivência, Biodiversidade, Semi-árido, Comunidades Rurais. Abstract The presented work however has the proposal to analyze the programs of Acquaintance with Halfof the Caatinga and the changes that if proceed in the representations and perceptions from the agricultural communities on its territoriality. The quarrel on biodiversity is recent, being a reply to a concrete situation of an increasing destruction of the nature. The same one would be a reply the survival. Biodiversity is, without a doubt, the support for a speech that articulates a new relation between nature and society in global contexts of science, of the cultures and economy. The vision that the traditional populations possess of biodiversity is resultant of a particular culture, of the appropriation of its territory and the local knowledge, in the case, of the Caatinga. The intention is to analyze as the nature concepts and territory gains a new meant by the caatingueiros, from the programs, 1 action forms of if relating with the land and the nature in the productive processes lead -economic and educative with respect to the mitigation of the effect of the droughts through practical and techniques with the context of Half-barren and the use of the natural resources with sustainable bases. Word-keys: Acquaintance, Biodiversity, Half-barren, Agricultural Communities. Introdução objetivando identificar e analisar seus programas sócio-produtivos por intermédio de práticas apropriadas e tecnologias sociais com as condições ambientais do Semiárido. O pressuposto teóricoperspectiva cultural que ressignifica os conceitos de natureza e de território (Semiárido) pela geração de saberes pelo contexto, ou seja, uma escala tempo-espaço de onde o sujeito se situa como natureza e cultura. A base ideológicorelação dos sujeitos com os elementos da natureza semi-árida, atuando nas percepções e sentidos pela contextualização do saber, ou seja, um processo de produção do conhecimento do sujeito sobre si, sobre seu lugar, sobre o mundo a partir de sua realidade complexa. O enfoque do trabalho é sobre a Conservação e Utilização Sustentável da Biodiversidade e da Agrobiodiversidade da Caatinga, uma das diretrizes da posta em prática por um conjunto de comunidades rurais nos municípios do Território de Juazeiro, norte da Bahia. A análise abordou questões para as formas organizativas dos agricultores familiares, associações e cooperativas, a busca da sustentabilidade socioeconômica com o processo de beneficiamento das frutas nativas da Caatinga e a apicultura. O referencial teórico argumenta sobre a biodiversidade enquanto discurso da valorativa do natural, sendo a busca das coisas naturais parte e produto da sociedade contemporânea diante da crise ambiental. Avalia-se que o discurso sobre a biodiversidade vai se construindo entre as formas pósmodernas do capital com ressignificações das florestas tropicais sendo a Caatinga um exemplo, suas populações tradicionais e seus conhecimentos da natureza (ALMEIDA, 2008). Entretanto, a manutenção e existência da biodiversidade deve-se à preservação das identidades e dos valores culturais, das populações consideradas tradicionais no seu o enraizamento à terra. Considera-se a partir da proposição de Vandana (2001) que a biodiversidade é um legado das comunidades onde se tem ainda presente os sistemas sociais, segundo os princípios de justiça e de sustentabilidade combinando direitos e responsabilidade entre os usuários, a utilização e conservação, coprodução com a natureza e de dádiva entre os membros da comunidade, portanto, um sistema vivo de manutenção da vida. O procedimento metodológico nesse trabalho contou com observação participante e de entrevistas realizadas com os protagonistas gestores e executores dos programas de familiares associados/cooperativados. 2 A Construção do Discurso da Biodiversidade A noção ocidental de natureza estruturada no imaginário do mundo moderno é presentemente interrogada pela sociedade, cujas relações dessa com o meio natural estão sendo reconsideradas. A reafirmação das coisas naturais e estas como partes e produtos da (1996) faz essa reflexão e aponta essa corrente da históricas atuais, uma reinvenção e neste contexto, torna-se importante o papel desempenhado pela cultura, sua transversalidade nos processos de ressignificação e . A crise ambiental abriu o interesse teórico e político em valorizar a natureza com o propósito de desenvolvimento cujas estratégias para manter o aproveitamento das potencialidades dos ecossistemas passaram a se orientar pelo manejo prudente dos recursos associados à sustentabilidade (SACHS, 2004). A noção de sustentabilidade dominante que prevaleceu foi de política de desenvolvimento cujo reconhecimento da natureza é sua função enquanto suporte no processo de produção capitalista (LEFF, 2006). Se por um lado, há uma apropriação discursiva da sustentabilidade por parte daqueles que mantém o poder político e econômico, por outro lado, há em conformação o processo de reapropriação social da natureza e do território por parte dos povos tradicionais que, segundo Porto-Gonçalves (2006), estabelecem com seu espaço, com seu tempo, com sua natureza uma manifestação específica de se relacionar com a dimensão tempo-espaço e relacionarse enquanto grupo social. Conforme Almeida (2008) a preservação das identidades e dos valores culturais, o enraizamento e a terra aparecem como suportes da biodiversidade, da resiliência e da complexidade do ecossistema. Por exemplo, nas populações que habitam os Cerrados e a Caatinga, identifica-se uma cultura ecológica, um modo particular de manter a base de recursos dos seus patrimônios histórico e cultural. Essa cultura ecológica, da qual nos fala Almeida, tem no entendimento de Leff (2000), como sendo o suporte comunicacional entre povos e natureza, cujos significados e usos atribuídos aos ambientes naturais são particulares por meio da construção de um conjunto de práticas coerentes para pensar, relacionar e utilizar o biológico. Os interesses do capital se camuflam no discurso da biodiversidade, mas os recursos naturais são também de interesse das comunidades, considerados por Vandana Shilva como legados de direitos e responsabilidade entre os usuários, a combinação de utilização e conservação, um sentido de co-produção com a natureza e de dádiva entre os A manutenção da biodiversidade é um campo crescente de conflito e de disputa, pois dela surgem novos produtos essenciais para as biotecnologias; abre-se também a questão das patentes sobre as sementes modificadas, derivados dos frutos e folhas manipulados. Também há a sistematização e apropriação do conhecimento tradicional por parte dos centros de pesquisa etc. Ou seja, pela biodiversidade abriu-se um mercado novo, o da biopirataria. Como aponta Vandana (2001) a biodiversidade foi de vida aparentemente menos biodiversidade é a expressão da autorenovação e do autoreparo dos sistemas vivos como forma de manter sua complexidade e a auto-organização (ib.). 3 A Ressignificação dos Conceitos de Natureza e de Território a partir da Geração de Saberes pelo Contexto do Semi-Árido Brasileiro O contexto é uma escala tempo-espaço de onde o sujeito se situa como natureza e cultura e deste ponto de referência ele pode tecer seus saberes sobre si e sobre o mundo, portanto, contexto é composto de tramas entre o local e global, num sentido de ação/reflexão/ação. Em Martins (2004) a concepção de contexto guarda essa dimensão física e imaterial, pois considera que o contexto mais do que uma forma de habitat, um meio que define uma ecologia, é também atravessado pelas interações da natureza com a cultura, desse modo, a linguagem, as formas de comunicação humanas e os regimes de signos regem essa comunicação natureza cultura, então contexto não é apenas as coisas físicas e palpáveis de um , o próprio dilema das identidades e os materiais Pensar a complexidade da realidade e recuperar o sujeito pensante a partir do contexto é uma tarefa que a racionalidade atual não pode dar conta, uma vez que a mesma justamente desenvolveu o distanciamento do sujeito em relação às suas circunstâncias, as suas próprias determinações (ZEMELMAN, 2006). E, a contextualização exige ampliar o horizonte do sujeito, colocando-o perante uma constelação de possibilidades, em vez de reduzí-lo a alguns objetos particulares, ou seja, é uma condição válida para estimular no sujeito a necessidade de realidade e a sua vontade de conhecer. Como afirma Zemelman, a realidade quando encarada a partir do sujeito em seu sentido, em seu contexto, torna-se um conjunto de espaços de construção, e o papel histórico atual tem a tarefa de situar o lugar da intervenção e da prática. Em concordância com os autores apontados, incluir os sentidos do sujeito a partir de suas condições específicas cada vez mais é uma condição para que este compreenda as necessidades do seu território, de sua existência. É possibilitar que o sujeito aprenda a lidar com as especificidades de seu ambiente, identificando as oportunidades e alternativas que a própria natureza oferece, nas condições que permitam melhorar a existência, correlacionando o natural com o social, de forma que apreenda as circunstâncias da temporalidade e da territorialidade e consiga encontrar/estabelecer novas ordens, uma nova forma de se ver e se conceber, de ver e conceber o mundo. E, nessa direção, que a pesquisa trilha na questão da ressignificação dos conceitos natureza e território para analisar os processos que se desenvolvem no Semi-árido Brasileiro, tomado como contexto, cuja realidade marcada pelos discursos universalistas e hegemônicos sobre sua natureza e seu território vem sendo As percepções e sentidos no trato com os elementos da natureza semi-árida vêm sendo possibilitados por algumas práticas, programas e ações, cuja metodologia é a contextualização do saber para que os sujeitos/grupos ressignifiquem a leitura que tem de si, de sua natureza, de seu lugar, ou seja, passem a pensar e produzir conhecimento a partir do contexto Semi-árido. O discurso sobre essa natureza fundamentou-se por uma forma estereotipada, qualificando-a como uma natureza pobre, feia, hostil, adversa. Significados apresentados em romances, livros didáticos, imagens televisivas e cinematográficas, como também se fazem presentes em discursos parlamentares. A seca está no cerne dessas representações sociais, uma vez que o sentido dado às mesmas foi de anomalia, portanto, uma natureza a ser combatida, corrigida, dominada. Esta leitura justificou desde o final do século XIX e todo século XX intervenções estatais denominadas 4 Afirma Albuquerque Jr. (1999) que a seca passou a ser uma grande metáfora de todo e qualquer problema e carência da região e a partir das suas representações elaboraram-se uma visibilidade calcada no estereótipo do atraso e uma dizibilidade marcada no discurso da vitimização. regionalismo nordestino, apontado por Castro (1992) como uma ação ideológica do uso do poder simbólico sobre a região Nordeste, utilizandobarganha política das elites dominantes com o Governo Central a favor da aquisição de verbas públicas e escamotear as estruturas sociais e econômicas desiguais e rígidas da região, na qual o período de secas apenas acirrava essa situação. O próprio Estado procurou atuar na base territorial cartografando institucionalmente às secas pela figura do Polígono das Secas1. E nesse território deu-se todo um conjunto de ações e secas, implementou-se vários programas e projetos de correção hídrica por construção de açudes, irrigação etc, sendo os carros-chefes da política de desenvolvimento rural. Nessa leitura técnica de território Semi-árido entendido como uma unidade fito-climática marcada pelas secas, não se permitia ver o território a partir de suas múltiplas dimensões, pois a seca tomada como realidade única limitava as ações dos programas, especialmente para conceber que os grupos humanos convivem com a seca há vários séculos e a partir dessa realidade as imaterialidades, subjetividades, simbolismo etc., com o tempo das secas e o tempo das chuvas compuseram a existência nesse território. Então, a seca faz parte da natureza e da cultura no Semi-árido, regulando a vida, a produção, o cotidiano. Aspectos que dimensionar, especialmente melhorar a vida das populações rurais mais afetadas. Aqui cabe mencionar Claval (2002), para quem a interação entre as dimensões materiais e imateriais do território é uma leitura na qual evidencia que nele estão inscritas as existências humanas, as ações técnicas e os discursos elaborados. Portanto, o autor analisa que as práticas culturais e as representações interferem nos processos de produção do espaço geográfico, sendo o território a escala na qual se atravessa histórias individuais e coletivas. E, e aponta como a leitura de uma dada realidade necessita considerar o espaço, a cultura e a sociedade como realidades sociais. A matéria, natureza, cultura e vida social são realidades apreendidas ao mesmo tempo por cada um. Ao contrário desse entendimento, a política de desenvolvimento regional/rural implementada no Semi-árido não deu possibilidades dos sujeitos expressarem o poder simbólico de seu atribuir coesão e força (simbólica) ao seu lugar, e nem se reconhecer como natureza e cultura. Como abordaram Bonnemaison e Cambrézy (apud HAESBAERT, 2007), isso identidade, talvez o mais convivência, ou em a falência da lógica técnico-economicista para a emergência da lógica ambientalapontada por Carvalho (2004, p.:22), uma nova concepção de desenvolvimento emergiu-se através de todo um conjunto de técnicas inovadoras de convivência com a seca, uso de tecnologias sociais com a água da chuva, práticas produtivas apropriadas, mexendo na relação homem natureza território, cujo eixo biodiversidade participa intrinsecamente desse trinômio e se faz percurso para uma nova racionalidade. 5 - no Território de Juazeiro e o Uso da Biodiversidade da Caatinga mobilização e articulação da sociedade civil e movimentos sociais, com o objetivo de criar formas apropriadas e contextualizadas de tratar o uso dos recursos naturais do Semi-árido; a concepção central era de uma adequação técnica dos processos produtivos, uma vez que são considerados tecnicamente baixos os limites da capacidade de suporte (solo, água, vegetação, etc.). De acordo com a proposta, diante dos limites dessa capacidade de suporte, há muitas possibilidades que podem ser agenciadas para o uso sustentável do Semiárido. Tal proposição veio por parte das recomendações mundiais feitas pelas Convenções de Combate à Desertificação (UNCCD), que passaram a ser realizadas desde os anos de 1970, discutindo formas de desenvolver as áreas áridas, semiáridas e sub-úmidas do mundo, cujo processo de Desertificação2 foi constatado em nível avançado. A UNCCD definiu as Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD) no mundo, sendo no Brasil denominada de Semi-Árido Brasileiro3. -se uma perspectiva cultural de reapropriação social da natureza pelos agricultores familiares. Essa matriz cultural é incorporada dentro das ações de um conjunto de instituições (na maioria, não-governamentais) que politicamente assumem a proposta. com o Semi-árido é uma proposta de desenvolvimento que se pauta na lógica de um sistema de vida e de produção eficientes e sustentáveis, onde se busca, através da formação de uma consciência coletiva, constituir um equilíbrio ambiental e social, capaz de garantir melhor as condições de vida para as populações dessa (IRPAA, 2002). SemiDesenvolvimento Sustentável do Semino Semi-árido Brasileiro (ASA), uma rede de forte mobilização e articulação da sociedade civil e dos movimentos sociais. Por sua vez, ela se articula com outras redes importantes que comungam dos objetivos, como exemplos, a Rede de Educação do Semi-árido Brasileiro (RESAB) 5, Mutirão Nordeste e outras.Um conjunto desenvolvimento voltado para a prudência ambiental, acesso aos direitos humanos, valorização local e territorial e fortalecimento das instâncias de controle social no SemiÁrido como: o programa de acesso e democratização da água e da terra, de reforma agrária, fortalecimento e manutenção das identidades culturais; políticas públicas contextualizadas (com ênfase na educação), conservação e utilização sustentável da biodiversidade da Caatinga e da agrobiodiversidade, recuperação de áreas degradadas e em desertificação etc. As metodologias aplicadas se fundamentam no protagonismo social pela participação de toda comunidade, especialmente destacar o papel das mulheres e jovens no processo de decisão, no resgate/valorização do saber popular etc., incentivando e apoiando as comunidades a se organizarem e construírem seus projetos auto-gestionários. Consideraracionalidade no uso da natureza semiárida, Essa noção é trazida por Larrère (1997) ao apontar que mesmo sendo uma idéia antiga, presente nos escritos bíblicos, a concepção de natureza da modernidade técnica e instrumental não conseguiu eliminar e que cada vez mais vem sendo incorporada na preocupação ética das práticas ambientais atuais. 6 Parte-se da idéia de que o homem seja responsável pela maneira como usa a natureza. O comprometimento com as gerações futuras e que obriga a sociedade a ter em conta à forma de seus atos presentes e como estes comprometem o futuro. Considerar toda a complexidade que envolve os ecossistemas e para defende os critérios de uso da natureza. A citada autora expõe que a visão da sociedade sobre a natureza é que regula seu comportamento e suas atitudes diante dela. Para tanto, mudar os comportamentos de degradação não depende unicamente de uma reflexão ética, mas obriga o homem a precisar qual é sua concepção da natureza. Desta forma, a procura de instituir uma outra concepção de natureza respaldada no processo cultural-educativo promovido nos programas e ações da -se como possibilidade de se estabelecer a prudência, a natureza semi-árida. para o Território de Juazeiro, no norte da Bahia, marcado pelos projetos de irrigação que em conjunto com o vizinho município de Petrolina (PE), formam um grande pólo de fruticultura irrigada do Nordeste. Este pólo recebeu um aparato técnicoinformacional e infra-estrutural tanto pelo Estado quanto pelo capital privado, possibilitado sua inserção ao mercado nacional e internacional de frutas, especialmente a uva e a manga. Deste modo, os dez municípios que compõem o que neste estudo denomino de Território de Juazeiro (Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Sento-Sé, Sobradinho, Remanso e Uauá) tiveram sua organização geoeconômica marcada pela forte influência do setor agropecuário tradicional alterada a partir da década de 1970. No entanto, toda a eficiência produtiva, tecnificada e globalizada que marca este território não incorporou de forma igual e justa sua população rural, especialmente de agricultores familiares, sua maior parcela, apesar da forte urbanização que passaram alguns municípios, como exemplo Juazeiro, seu centro regional. As p Diocese de Juazeiro e o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA). Essas instituições nos anos de 1980 passaram a atuar com a difusão de tecnologias tanto com a dimensão de serem apropriadas no sentido de adequadas ao clima semi-árido quanto a serem apropriadas no sentido social pelos agricultores. O movimento passou a mobilizar e articular os agricultores familiares, fortalecer a organização comunitária estimulando a criação de associações de produtores rurais, cooperativas agropecuárias, técnicas de captação de água da chuva (que já vinham sendo difundidas em várias partes do Semi-árido), ensinar o cultivo de plantas resistentes às secas e criações de pequeno porte, especialmente a caprinovinocultura, beneficiar frutos nativos entre outros. por conta do engajamento e participação de setores não governamentais e alguns governamentais, tais como a Universidade do Estado da Bahia (campus local) e a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (unidade Semi-árido). A proposta atualmente está ramificada por todo Semiárido formatando arranjos institucionais cuja maior materialização é a ASA _ congrega atualmente cerca de 800 instituições da sociedade civil_, a RESAB, uma rede educativa entre outras redes. Nos anos de 1990, outras instituições surgem no Território como exemplos o Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), Associação de Desenvolvimento e Ação Comunitária (ADAC), Fundação Velho Chico, Associação Regional de Convivência Apropriada à Seca (ARCAS) entre outras. Algumas 7 prefeituras passaram a introduzir a proposta da Educação Convivência/Contextualizada, os municípios de Curaçá, Juazeiro e mais recentemente Uauá. E, com a introdução do Programa P1MC6 ampliou-se o trabalho das instituições com uma maior inclusão de agricultores familiares. O aprendizado das especificidades, fragilidades e potencialidades do Semi-árido priorizado nas metodologias da proposta passou a reorientar o uso dos recursos naturais no Território, que no contexto atual destaca-se um conjunto de práticas, projetos e programas. Eles tomam como prioridade o uso social da água (cisternas para uso doméstico, uso produtivo, bomba agroecologia, educação contextualizada, etc., demonstrando uma série de ações voltadas para Importante ressaltar que todas as ações têm grande guarda-chuva que abriga não apenas uma dinâmica, mas duas, três ou várias em um mesmo município ou mesma comunidade. Portanto, são ações interdependentes e articuladas cujo uso da água da chuva e da mobilização social iniciam qualquer processo de Deste conjunto de práticas, neste estudo visou destacar o uso sustentável da biodiversidade. Seu uso vem sendo desenvolvido em várias comunidades rurais dos municípios do Território. Deste uso duas práticas e projetos serão analisados por conta do maior volume de agricultores familiares envolvidos, abrangência geográfica seja da produção quanto da comercialização dos produtos e a gestão social envolvida. Trata-se do beneficiamento dos frutos nativos da Caatinga e da apicultura. - Beneficiamento de Frutas: Diagnósticos e prognósticos já demonstraram a ampla possibilidade de uso da biodiversidade da Caatinga. Um bioma, muito especial, predominante em todo o território Semi-árido. Mas, apesar de riquíssimo em espécies, ele tem atualmente menos de 1% de áreas protegidas em unidades de conservação (ADITAL, 2008).Entre os potenciais de uso destacam-se o potencial forrageiro, o potencial das plantas frutíferas para o aproveitamento em doces, sucos e geléias, o potencial medicinal; e, o potencial faunístico (BIODIVERSITAS, 2008). Deste modo, a conservação e utilização sustentável da biodiversidade da Caatinga são muito importantes para o equilíbrio das condições edafoclimáticas do ambiente. Os frutos que vem sendo beneficiados são o umbu (do umbuzeiro, Spondias tuberosa) e maracujá-do-mato (Passiflora serratodigitata L.), nativos da Caatinga, com forte potencial econômico, mas até então, pouco valorizado. Atualmente, são carros-chefe da produção de geléias, doces, sucos e polpas em conjunto com outras frutas não nativas, a manga e goiaba. Destacam-se nessa atividade a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC); Associação Agropecuária e de Apicultores de Marcos, em Remanso; a Associação de Pequenos Produtores de Melancia e Associação de Fundo de Pasto e Pequenos Produtores e Apicultores de Ladeira Grande em Casa Nova, entre outras. Essas organizações atuam com o beneficiamento dos frutos desenvolvidas no meio rural, geralmente em comunidades sem energia elétrica. Algumas organizações buscaram na descentralização da produção uma saída para ampliar sua produção, como é o caso da COOPERCUC, que dividiu sua gestão entre a fabrica central, com sede no centro urbano de Uauá e as mini-fábricas distribuídas por algumas comunidades rurais dos municípios de Curaçá, Uauá e Canudos. Essa descentralização da gestão possibilitou receber maiores demandas dos compradores, repassando para as comunidades a responsabilidade da produção, bem controlada a fim de não se gerar uma super oferta dos produtos. 8 Essa metodologia de ação é um diferencial entre a COOPERCUC e as outras organizações, pois a organização e divisão do trabalho no processo de produção dentro da organização ampliam a participação, tornando-a compartilhada, cujos grupos comunitários se sentem responsabilizados e também valorizados, fortalecendo sua autonomia e gerenciamento. A infra-estrutura das unidades de produção é simples, geralmente um galpão de dois a três cômodos, ou pequenas unidades de um a três cômodos, dispondo de uma pequena cozinha. Nesses espaços manipulam-se os produtos, guardam os equipamentos e os frutos coletados ou comprados durante a semana. Em geral, os grupos são formados de doze a quinze pessoas, que se dividem em turmas de três ou quatro pessoas. Cada grupo se responsabiliza pela coleta dos frutos seja na sua própria propriedade ou na área coletiva de fundo de pasto; também podem recorrer à compra dos frutos, no caso da COOPERCUC só se permite a compra de frutos derivados de propriedade já certificada pelo selo orgânico. O calendário agrícola de cada fruta determina o funcionamento das unidades, sendo o maior pique de janeiro a abril período da safra do umbu, que corresponde com cerca de 70% a 80% da produção. O umbuzeiro começa a dar frutos só aos 15 anos, e pode dar até três floradas numa safra desde que se tenha o cuidado de não agredir os galhos. A coleta dos frutos inchados, com as mãos, foi uma metodologia desenvolvida pela EMBRAPA - Semi-árido e aplicada pelas organizações; deste modo, foi possível ampliar a produtividade do umbuzeiro para criar uma consciência de conservação. Antes, coletava-se batendo nos galhos onde se caiam frutos maduros, inchados ou verdes, sendo que se aproveitavam apenas os inchados e havia uma grande perda e se constituía uma forma predatória de coleta. Os agricultores (as) envolvidos (as) aprendem além do método da coleta do umbu, a manusear os equipamentos, produzir e controlar a qualidade desde a fabricação à conservação dos produtos. Todas as etapas da produção seguem um rígido controle do ambiente, desde a chegada dos frutos na unidade de produção à colocação dos rótulos nas embalagens, encaixamento, esterilização dos vidros e vasilhas plásticas etc. Nas unidades se utiliza lenha da algaroba (Prosopis juliflora), uma árvore exótica e adaptada ao Semi-árido que é plantada para esse fim, ou se utiliza galhos já caídos da Caatinga como forma de não se fazer o desmatamento. E, destaca-se, também, a água utilizada na preparação dos produtos, antes de barreiros ou de carros-pipa, e que após a chegada das cisternas pelo Programa P1+2 7 voltado para produção usa-se uma água de qualidade. Algumas organizações contam com a parceria de instituições internacionais, como é o caso da COOPERCUC, que tem a parceria com a Slow Food, de origem italiana, a Horizon 3000, de origem austríaca e a AUTERECO, uma rede de supermercado francesa que apóiam a comercialização dos produtos para União Européia. A CONAB tem sido um importante comprador através do Programa de Aquisição de Alimentos para a Merenda Escolar. Essa venda à CONAB é feita diretamente entre a organização e a escola ou creche. O projeto é feito para um período anual, mas ao não se renovar causa uma quebra no ritmo das organizações, uma vez que se faz o único mercado garantido para elas. A ampliação das condições de produção e comercialização dessas associações e cooperativas depende muito ainda do incentivo e apoio financeiro dos parceiros, um ponto fraco, pois na saída de uma instituição de peso a organização se fragiliza, demonstrando que a sustentabilidade financeira e comercial necessita ser ampliada. Uma busca nesse sentido tem sido atuar na aprendizagem dos associados e cooperados, capacitando-os para a gestão social, ampliar o conhecimento técnico, fortalecer a participação da comunidade nas reuniões, encontros, cursos e seminários 9 e incentivar o intercâmbio para trocas de experiência e conhecimento das potencialidades e fragilidades dos projetos. - A apicultura: A apicultura tem maior destaque na parte noroeste do Território de Juazeiro, composta pelos municípios de Pilão Arcado, Campo Alegre de Lourdes, Remanso e Casa Nova, localizados à margem do Lago de Sobradinho. Destacam-se a Cooperativa dos Pequenos Apicultores de Campo Alegre de Lourdes (COAPICAL); Cooperativa Agropecuária do Pólo de Remanso (COAPRE); Associação Rede de Mulheres de Remanso e Associação de Produtores Rurais de Riacho Grande. A atividade tem início nos anos de 1980 com a ação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campo Alegre de Lourdes, mas é no ano de 1996, com a fundação da COAPICAL, que a apicultura ganha um maior impulso e incentiva a criação das outras organizações. As dificuldades que os agricultores familiares encontravam para produzir e vender por conta própria gerou o interesse coletivo de realizar um trabalho de fortalecimento dos apicultores e fomentar uma gestão empreendedora como forma de ter condições de competir com os produtos provindos de outras regiões para o comercio local. Umas das instituições presentes no apoio técnico é o Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), uma ONG com sede em Salvador e escritório regional em Remanso, extensivo ao longo do tempo, acompanhando-as desde o inicio dos trabalhos. As associações são pouco providas de recursos financeiros; algumas disponibilizam equipamentos para os cooperados para o beneficiamento do mel, outras são por conta de cada sócio/cooperado. A criação de abelhas é feita na Caatinga, à coleta dos favos e do mel, o processamento e engarrafamento dentro das unidades produtivas, às vezes feitos na própria casa do apicultor. Isso demonstra que o processamento ainda necessita de cuidados na questão sanitária, pouco fiscalizados ou nem fiscalizados pelos órgãos competentes. O perfil dos apicultores é de pequenos proprietários trabalhando no geral com os recursos próprios, sem financiamento institucional. Desse modo, o fortalecimento das organizações comunitárias ainda é uma fragilidade, algumas investem em cursos de aperfeiçoamento, formando monitores, cuja função é de acompanhar o apicultor na produção, também ampliarem as unidades de processamento do mel e adquirir mais equipamentos. Alguns depoimentos demonstram que a inserção na apicultura tem propiciado uma maior consciência de conservação da Caatinga, revertendo práticas de caça predatória e desmatamento por parte da comunidade. Conclusões Extensivas de Resultados e Discussões Os projetos e programas apresentados em torno do uso da biodiversidade da Caatinga têm muitos pontos positivos, Entretanto, eles esbarram em dificuldades e limitações para gerar uma efetiva sustentabilidade econômica e sócio-ambiental. Alguns fatores se destacam como: a infra-estrutura das unidades de produção, pois ainda são pequenas e não comportam ampliar o número de famílias dentro do projeto; um mercado consumidor reduzido, que limita formar um capital de giro; uma dependência das instituições parceiras, mantenedoras muitas vezes de investimento e de compra dos produtos; um quadro técnico qualificado limitado e às vezes inexistente que possa atuar na coordenação dos grupos e das unidades produtivas, atividades educativas e de gestão. 10 O alcance dos resultados em termos de contribuição dessas organizações para os beneficiários mostra os esforços das instituições parceiras e da própria comunidade para gerar mudanças sociais, econômicas e representativas sobre o sentido de rural, de natureza semi-árida etc. A conservação da Caatinga é incentivada como bem coletivo e recurso para desenvolver uma produção pelas condições específicas desse ecossistema. A partir do processo de aprendizagem, intercâmbio e aquisição de conhecimento sobre o contexto semi-árido os agricultores já referem-se que a natureza do lugar é boa, tem viabilidades, muito rica e que As mudanças sócio-econômicas refletem-se no aumento da renda, em media de 20 a 25% às atividades principais; ou seja, ainda se caracterizam como uma renda complementar. Mas, a aquisição do conhecimento sobre a dinâmica da natureza semi-árida, o interesse em saber lidar com as águas das cisternas, o regime das chuvas, etc., processarem o mel, beneficiarem os frutos etc., é mais do que uma concepção econômica, e sim uma vivência dessas famílias com o sentido de convivência que se faz no processo de trabalho e de vida cotidiana. As atividades mesmo consideradas como complementares tem permitido reduzir um grave problema social que é a escassez de oferta de emprego e renda na área rural, Entretanto, ainda abrange um número pequeno diante da demanda de uma comunidade rural. As tecnologias utilizadas são de baixo custo e fácil aplicabilidade, geram um impacto social positivo e são consideradas como tecnologias sociais, pois tem como princípio seu uso de forma eficiente, multiplicando-se por todo território e propiciando a melhoria da qualidade de vida das populações beneficiárias (DAGNINO, 2008). A conservação do umbuzeiro tem sido uma das mudanças mais significativas, bem como a criação das redes de comercialização, como exemplos a Rede Sabor Natural do Sertão. Esta engloba as associações e cooperativas tanto dos municípios do Território de Juazeiro quanto os circunvizinhos (Irecê e Senhor do Bonfim); a Rede Abelha, que engloba os apicultores de Remanso, Casa Nova e Campo Alegre de Lourdes; e a Rede de Mulheres de Remanso. Essas redes atuam na articulação da formação de uma economia solidária, apoiando, divulgando e comercializando os doces, polpas, geléias, mel, carnes de caprinos e também hortaliças orgânicas provindas da agroecologia e quintais produtivos de outras organizações. A produção do conhecimento a partir do contexto faz-se pela ação/reflexão/ação articulando o saber popular das comunidades rurais, quilombolas e de fundo de pasto, consideradas tradicionais, com o saber sistematizado e técnico proveniente das instituições parceiras. A organização da comunidade é um ponto positivo dentro dos programas apresentados, os sujeitos debatem suas demandas e potencialidades, aprendem no processo de fazer-aprender-fazer; redescobrem o sentido dos elementos físicos, culturais, simbólicos de sua cultura local. Por fim, considera-se que está em curso no Território de Juazeiro um significativo percurso para tornar a biodiversidade um elemento importante na consolidação da Convivência nesse território. Como visto a nova racionalidade de desenvolvimento. Seus programas e práticas mobilizam os sujeitos sociais às relações mais interativas entre natureza e cultura inserindo de forma metodológica -árida. Esta nova racionalidade expressa algo que Almeida (2008) apontou sobre o importante papel que a biodiversidade pode desempenhar ao se fazer presente na formulação de estratégias de desenvolvimento, pois possibilita articular ciência, cultura e economia. 11 Notas 1 Polígono das Secas é instituído em 1936 através da Lei Federal número 175 de 06/01/1936. Foi até 1989 a Área Oficial de Ocorrências de Secas no Nordeste, de 1936 a 1989 a superfície do Polígono ampliou-se de 672.281,98 km² para 1.085.187 km². Substituída pela Região Semi-árida do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste FNE, pela Lei nº 7.827 de 29.09.1989. Em 2000 a Região Semi-árida do FNE correspondia à 895.254,40 km² (BRASIL, 2004, p.32,34). -áridas e sub-úmidas resultantes de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades 3 O Semi-Árido Brasileiro foi normatizado pela UNCCD, sendo sua área total de 1.338.076 km² (15,72% do território brasileiro), inserindo 1.492 municípios que correspondem a zona Semi-árida dos estados nordestinos de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe, Rio Grande do Norte e o norte de Minas Gerais que corresponde a um estado do Sudeste; insere-se também a zonas Sub-Úmida Seca que corresponde o leste do Maranhão (NE) e noroeste do Espírito Santo (SE) (BRASIL, 2004). 4 A Declaração do Semi-árido: Propostas da Articulação no Semi-árido Brasileiro para a Convivência com o Semi-árido e Combate à Desertificação foi elaborado no Fórum Paralelo das ONGs que ocorreu concomitantemente com a 3ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação- COP- 3, em Recife/PE, 1999, momento que também é criada a ASA Articulação no Semi-árido Brasileiro. 5 Rede de Educação do Semi-árido Brasileiro, fundada em 2000, é um espaço de articulação política regional da sociedade organizada, congregando educadores/as e instituições Governamentais e Não-Governamentais, que atuam na área de Educação no Semi-árido Brasileiro (RESAB, 2006a). 6 P1MC- Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-árido: Um Milhão de Cisternas Rurais. Esse programa baseia-se na construção de cisternas de placas nas moradias rurais para captação de águas das chuvas, cujos objetivos é criar alternativas para a população desse meio se manter no período das secas e de ter acesso à água potável (ASA, 2003). 7 P1+2 - Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o SemiÁrido: Uma Terra e Duas Águas. Encontra-se em uma fase inicial e visa uma maior interação entre as experiências de manejo produtivo e sustentável da terra e dos recursos hídricos (ASA, 2008). 8 Citação de uma das coordenadoras de grupo da COOPERCUC, mini-fábrica de Serra Grande, município de Curaçá. 12 Referências Bibliográficas ADITAL. Articulação afirma que preservação da caatinga é urgente. Disponível em <http://www.adital.com.br/site/noticia.asp> . Acesso em 29/10/08 ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz. A Invenção do Nordeste e outras Artes. Recife/PE: FNJ, Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 1999. ALMEIDA, Maria Geralda de. A Reinvenção da Natureza. 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