artigo original
SOBECC,
Paulo.
out./dez.
2013;
18(4):
38-46.
Rev.Rev.
SOBECC,
SãoSão
Paulo.
out./dez.
2013;
18(4):
26-37.
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A DESINFECÇÃO DE ENDOSCÓPIOS COM ÁCIDO
PERACÉTICO POR DEZ MINUTOS É EFETIVA?
IS ENDOSCOPE DISINFECTION WITH PERACETIC ACID DURING TEN MINUTES EFFECTIVE?
¿LA DESINFECCIÓN DEL ENDOSCOPIO CON ÁCIDO PERACÉTICO DURANTE DIEZ MINUTOS ES EFECTIVA?
CARRARA, Dirceu; SHIRAHIGE, Cristina Akiko; BRAGA, Agda do Carmo Pereira Vinagre; ISHIOKA, Shinichi; SAKAI,
Paulo; TAKEITI, Márcia Hitomi; STRABELLI, Tânia Mara Varejão
RESUMO: Artigos médico-hospitalares permanentes
necessitam ser processados de maneira segura.
Os objetivos foram avaliar a efetividade do ácido
peracético na desinfecção de endoscópios; identificar a oxidação dos equipamentos e verificar o
tempo de atividade da solução. Métodos: Coletamos
40 amostras antes e 40 após a desinfecção dos
gastroscópios e colonoscópios. Os lavados foram
enviados para identificação de bactérias, fungos e
micobactérias. A avaliação da integridade foi feita
antes e após seis meses. A monitoração da atividade
da solução foi diária. Resultados: Pré-desinfecção,
12,5% dos videogastroscópios foram positivas
e pós, todas negativas. Na pré-desinfecção dos
videocolonoscópios, 34,1% positivas e na pós-desinfecção, negativas. Pesquisa para micobactérias
foi negativa. A duração média de atividade foi 16,1
dias. Conclusões: a desinfecção por dez minutos
de endoscópios com ácido peracético foi efetiva, os
equipamentos não oxidaram, e a solução apresentou
boa estabilidade.
Palavras-chave: Endoscopia. Desinfecção. Ácido
peracético.
ABSTRACT: Introduction: Permanent medical
devices need to be processed securely. The objectives
were to evaluate the effectiveness of peracetic
acid in the disinfection of endoscopes; identify the
oxidation in the equipment and check the uptime of
the solution. Methods: 40 samples were collected
before and after disinfection of 40 gastroscopes and
colonoscopes. Endoscopy washing fluid was sent for
cultures to detect the presence of bacteria, fungi and
acid fast bacilli. Integrity evaluation was performed
before starting the study and six months after. The
solution activity was monitored daily. Results: Before
disinfection 12.5% of videogastroscopes samples
and 34,1% of colonoscopies were positive. After
disinfection; all samples were negative in both groups.
All samples were Acid Fast Bacilli negative. The
average solution activity was 16.1 days. Conclusions:
Endoscope disinfection with peracetic acid during
ten minutes was effective, the equipments were not
oxidized and the solution had good stability.
Key words: endoscopy; disinfection; peracetic acid.
RESUMEN: Introducción: Articulos médicos deben
ser procesados de manera segura. Los objetivos
fueron evaluar la efectividad del ácido peracético
en la desinfección de los endoscopios; identificar
la oxidación y verificar el tiempo de actividad de la
solución. Método: Fueron recogidas muestras antes y
después de la desinfección de 40 videocolonoscópios
y video gastroscopios. Los lavados fueron enviados
para detectar bacterias, hongos y mico bacterias. La
evaluación de la integridad físico-funcional fue hecha
antes y después de seis meses. La monitorización de
la actividad de la solución fue diaria. Resultados: Antes
de la desinfección 12,5% de los videogastroscopios
positivos y el 34,1% de los videocolonoscopios
positivos. Las muestras después de la desinfección
fueron negativas. La búsqueda de micobacterias fue
negativa. La duración de la actividad fue 16,1 días.
Conclusiones: La desinfección de los endoscopios
durante diez minutos fue efectiva, los articulos no se
oxidaron y la solución fue mantenida estable.
Palabras clave: endoscopia; desinfección; ácido
peracético.
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INTRODUÇÃO
e rinite também foram observadas em pessoas(1).
Todos os artigos médico-hospitalares que não são
descartáveis necessitam ser reprocessados com
segurança antes de cada nova utilização. Reprocessamento pode ser entendido como o processo
aplicado a produtos médico-hospitalares, exceto
os de uso único, para permitir sua reutilização,
que inclui limpeza, desinfecção, preparo, embalagem, rotulagem, esterilização, testes biológicos e
químicos, análise de possíveis resíduos do agente
esterilizante conforme legislação vigente de integridade física de amostras e controle de qualidade.
O tipo de reprocessamento adotado depende de
como este artigo será reutilizado, do risco de infecção que oferece ao paciente e do custo de cada
reprocessamento(1).
Um dos princípios ativos que tem apresentado
maiores vantagens em relação ao glutaraldeído
nos processos de esterilização e desinfecção é o
ácido peracético.
A limpeza é o mecanismo fundamental para remoção de matéria orgânica e deve sempre preceder
a desinfecção ou esterilização; deve ser realizada
com água e detergente enzimático, com ou sem
ação mecânica.
Os métodos utilizados para a desinfecção podem
ser classificados em meios físicos e químicos. No
nosso estudo, o alvo é a utilização de germicidas/
desinfetantes para o processo de desinfecção de
alto nível. Germicida se aplica a produtos usados
tanto em tecidos vivos como objetos inanimados,
enquanto desinfetantes são usados apenas para
os produtos(1).
O Center for Disease Control and Prevention
(CDC) recomenda a desinfecção de alto nível para
qualquer produto semicrítico, como os endoscópios
que entram em contato com a mucosa, e, durante
o procedimento, pode ocorrer lesão(1).
Atualmente, o mais conhecido dos agentes
químicos utilizado no processo de esterilização
e desinfecção de alto nível é o glutaraldeído, na
concentração de 2% para esta última. Trata-se
de um dialdeído saturado, com ação bactericida,
viricida, micobactericida e fungicida. Não é
corrosivo para metais, não danifica plástico e é
relativamente barato.
Entretanto o glutaraldeído possui toxicidade
cutânea, libera vapor que causa irritação do trato
respiratório. Epistaxe, dermatites de contato, asma
O ácido peracético é um peroxidado, caracterizado
pela rápida ação contra todos os microrganismos.
É um agente bactericida, viricida e esporicida,
cuja vantagem especial é sua decomposição em
produtos não-tóxicos, ou seja, água, oxigênio e
peróxido de hidrogênio. É efetivo na presença de
matéria orgânica e esporicida mesmo em baixas
temperaturas. Seu mecanismo de ação se dá pela
desnaturação proteica e ruptura da permeabilidade
da membrana.
A obtenção do ácido peracético se dá por duas
vias. Na primeira, conhecida como via clássica,
ele é obtido a partir de uma reação química entre
o peróxido de hidrogênio e o ácido acético. Na via
chamada de alternativa a reação se dá utilizando
o peróxido de hidrogênio ativado com radicais
acetilcaprolactam. A principal vantagem deste
último é a ausência de ácido fosfórico, sulfúrico ou
nítrico como solução estabilizante e desta forma
apresenta pH mais próximo do neutro (5,0 a 7,5),
enquanto os ácidos obtidos a partir da via clássica
apresentam pH < 3,0, aumentando a possibilidade
de oxidação dos equipamentos expostos.
Em estudo que testou a eficácia do ácido peracético
em endoscópios, considerou-o como uma alternativa
ao uso do glutaraldeído, já que a atividade foi a
mesma, porém sem toxicidade ou corrosividade
em relação a este último(2).
Ao testar a eficácia de alguns desinfetantes,
conclui-se que o ácido peracético possui a mesma
atividade do glutaraldeído 2%, com a vantagem
de sua decomposição final resultar em produtos
atóxicos(3).
No reprocessamento de endoscópios, o ácido
peracético (0.2% a 0.35%) é efetivo contra vírus
e microrganismos vegetativos em menos de 5
minutos (desinfecção de alto nível) e esporicidas
em 10 minutos (esterilizantes)(3).
O poder germicida e as vantagens do ácido per-
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acético têm sido mostrados em vários estudos. A
limitação do seu uso refere-se à sua estabilidade,
necessitando, portanto, de mais investigação para
sua segura utilização. Devido às inúmeras vantagens que o ácido peracético possui em relação ao
glutaraldeído, é preciso comprovar sua eficácia na
desinfecção de alto nível.
Este estudo teve como objetivos: Avaliar a eficácia
do ácido peracético 1500ppm no processo de desinfecção de gastroscópios e colonoscópios. Identificar a ocorrência de oxidação nos equipamentos.
Verificar o tempo de atividade da solução de ácido
peracético após sua ativação
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo analítico desenvolvido no Serviço de Endoscopia de um hospital
público do Estado de São Paulo especializado em
cardiologia.
Foram coletados 160 lavados com soro fisiológico
0,9% dos canais dos endoscópios, sendo 40 antes
e 40 após a desinfecção de gastroscópios, e 40
antes e 40 após a desinfecção de colonoscópios.
A avaliação da integridade físico-funcional dos
equipamentos foi feita por uma empresa credenciada
pelo fabricante antes do início do uso do produto
e ao final de seis meses de exposição ao produto.
A estabilidade da solução foi monitorada diariamente
antes do início do uso da solução através de fita
teste validada pelo fornecedor/fabricante.
O produto utilizado nesse estudo foi o Anioxyde
1000®, produzido pelos laboratórios Anios – Lille,
França. É compatível com produtos médico-hospitalares termossensíveis e endoscópios.
O Anioxyde 1000® é uma solução para pronto uso,
pH neutro, não corrosiva em metais ferrosos e
não-ferrosos. Sua obtenção se dá pela produção
extemporânea de ácido peracético a partir de
radicais acetilcaprolactam.
A fita reagente foi desenvolvida especificamente
para este produto, para o controle da concentração e
pH (5,5 a 7,0). O tempo de contato para esterilização
é de 30 (trinta) minutos e para desinfecção de alto
nível é de 10 (dez) minutos.
Etapas do reprocessamento
Pré-lavagem
-Lavar as mãos; colocar: protetor de corpo impermeável, avental de manga comprida, máscara facial,
óculos de proteção, luva nitrílica com cano longo;
logo após a retirada do endoscópio do paciente,
limpar o tubo de inserção com uma compressa ou
gaze; aspirar detergente enzimático e água para
limpeza do excesso de secreção no canal; lavar
externamente o endoscópio com auxílio de uma
compressa ou esponja umedecida com detergente
enzimático; limpar o canal de biópsia e de aspiração
com escova de limpeza de canal, até a saída da
porção distal; escovar o local das válvulas com
escova macia contendo detergente enzimático.
Limpeza e desinfecção
-Lavar as mãos; colocar: protetor de corpo impermeável, avental com manga longa, máscara
facial, óculos de proteção, luva nitrílica com cano
longo; ligar a reprocessadora de endoscópios;
colocar 10 litros da solução de ácido peracético e
colocar a data de início do uso da solução; colocar
0,7 litros de detergente enzimático; programar o
tempo de ciclo para limpeza (4 minutos) e desinfecção (10 minutos); colocar o endoscópio na
reprocessadora; conectar as mangueiras de recirculação (válvula de ar, válvula de água e canal de
biópsia) de “leaking test”; fechar a reprocessadora
e apertar o botão “start”; são realizados os seguintes
processos: Programa 1: “leaking test”; Programa
2: lavagem – dosagem e detergente enzimático,
recirculação, drenagem, enxágue, drenagem final
e secagem final; Programa 3: desinfecção – recirculação, retorno de desinfetante, enxágue do
desinfetante, drenagem e secagem(4).
As amostras biológicas foram coletadas em dois
momentos: pré-desinfecção, após a etapa de
limpeza manual do endoscópio, antes da limpeza
com detergente enzimático e antes da escovação
dos canais e antes da sua colocação dentro da
máquina e pós-desinfecção, imediatamente após
o processo final de secagem. O material coletado
foi analisado no Instituto Paulista de Doenças
Infecciosas e Parasitárias - Microbiologia (IDIPA),
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laboratório este devidamente credenciado na
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Procedimento para coleta de amostras
Lavagem das mãos; colocação de EPIs necessários;
injeção de 50cc de solução fisiológica no canal
de biópsia e coleta na parte distal do canal num
recipiente próprio (coletor universal estéril com
tampa vermelha); identificação do recipiente
com modelo, série, patrimônio do equipamento,
data, hora da coleta, pré ou pós-desinfecção,
responsável pela coleta; encaminhamento imediato
ao laboratório.
Processamento
Acréscimo da solução neutralizadora; inoculação
de 0,1ml desta mistura nos meios ágar sangue,
ágar Sabouraud e caldo BHI (Brain Heart Infusion)
e posteriormente semeado em LowensteinJensem, após descontaminação; Incubação: o ágar
sangue a 35± 2ºC por 24hs; o ágar Sabouraud em
temperatura ambiente por até 30 dias; o meio de
Lowenstein - Jensen a 35± 2ºC por até 60 dias.
No meio de ágar sangue, após o período de
incubação era feita a contagem das colônias e
expressadas em UFC/mL (Unidade Formadora
de Colônia). Identificação e bancada dos microorganismos de acordo com as técnicas utilizadas
no laboratório.
Incluiu-se no estudo a pesquisa das micobactérias
de crescimento rápido na avaliação da eficácia
do produto, como por exemplo, o Mycobacterium
massiliense – Cepa BRA 100.
RESULTADOS
Durante o teste-piloto, a coleta do material (lavado
dos canais) foi feita antes da desinfecção após
a limpeza e escovação manual, porém antes da
limpeza automatizada. Nestas amostras (60 coletas) não houve crescimento de micro-organismos.
A partir desta observação, passou-se a coletar o
material após a aplicação do jato de água e antes
da escovação dos canais. Os resultados relatados
como “pré-desinfecção” referem-se a amostras da
coleta após a aplicação do jato de água antes da
escovação dos canais.
Na tabela 01 observa-se que em 12,5% das
amostras coletadas dos videogastroscópios, foi
identificado o Streptococcus viridans como agente
contaminante dos equipamentos. No período pósdesinfecção, não foram encontradas formas viáveis
de micro-organismos nos equipamentos analisados.
Pode-se observar na tabela 02 que, na avaliação
pré-desinfecção dos videocolonoscópios, foram
identificados agentes microbiológicos em 34,1%
das amostras. Na análise das amostras coletadas
no período pós-desinfecção, não foram encontrados
micro-organismos viáveis.
Não houve crescimento de micobactérias de
crescimento rápido no material coletado em
nenhum dos momentos avaliados.
Observa-se na tabela 3 que a duração média da
atividade da solução desinfetante contendo ácido
peracético foi de 16,1 dias (+7,6) e mediana de 14
dias.
DISCUSSÃO
Recomendações para a limpeza e desinfecção
de endoscópios foram previstas ao longo dos
últimos 20 anos por organizações profissionais
incluindo a Association for Professionals in Infection
Control and Epidemiology, the American Public
Health Association, the Society for Gastrointestinal
Nurses and Associates, the American Society for
Gastrointestinal Endoscopy, the British Society of
Gastroenterology, the Association of PeriOperative
Registered Nurses e The American Society for
Testing and Materials. As recomendações feitas
por associações e sociedades bem conceituadas
são importantes para orientar as instituições, que
devem estabelecer seus protocolos de maneira
individual de acordo com as políticas institucionais.
Protocolos e procedimentos devem ser validados
em termos de aplicabilidade e estar disponíveis em
cada área, dependendo de suas características
específicas(4).
É consensual que, para evitar a transmissão de
patógenos em potencial, todos os endoscópios
devem ser submetidos à limpeza meticulosa e
desinfecção de alto nível após cada uso. A limpeza
do instrumental constitui etapa fundamental para
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diminuir a quantidade de material biológico e reduzir
a carga microbiana.
O bioburden dos endoscópios gastrointestinais,
após o uso, varia de 105 a 1010 UFC e os níveis mais
altos foram encontrados nos canais de sucção. A
limpeza com o auxílio de solução enzimática tem
reduzido o nível de contaminação microbiana de 4
a 6 log10(5). Na análise da carga microbiana de 10
colonoscópios imediatamente após o uso, antes
mesmo da limpeza, recuperaram um bioburden
que variou de 1,3 x 107 a 2,0 x 1010 UFC nos canais
de sucção, identificando os seguintes agentes:
Escherichia coli, Bacterióides spp, Pseudomonas
aeruginosa, Enterobacter spp, Pasteurella spp e
Klebsiella spp. Após a limpeza manual e antes da
desinfecção, recuperaram 1,3 x 103 a 4,3 x 105
UFC, indicando que a limpeza manual reduziu 5
½ logs de carga microbiana. Os micro-organismos
identificados nesta etapa foram a Pseudomonas
spp, Xantomonas spp e Aeromonas spp. Esses
dados demonstraram o desafio enfrentado pelo
processo de desinfecção(6).
Como nos estudos citados acima, nesse estudo
encontrou-se principalmente Escherichia coli e
Klebsiella pneumomiae nas amostras coletadas
antes da desinfecção dos colonoscópios. Após o
processo de desinfecção não foram encontrados
micro-organismos em nenhuma das quarenta
amostras coletadas, evidenciando a eficácia do
processo de limpeza.
Em outro estudo, taxa de contaminação identificada
em gastroscópios foi de 1,9% e em colonoscópios
1,8%, equipamentos estes prontos para o uso, ou
seja, após o processamento habitual evidenciando
a presença de Pseudomonas aeruginosa tanto em
gastroscópios quanto em colonoscoscópios. Cita
que as amostras foram obtidas da superfície interna
dos endoscópios e, portanto, é pouco provável que
o material tenha sido proveniente da equipe que
manipulava o endoscópio. Esses mesmos autores
recuperaram de um gastroscópio, após o processamento, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus
spp e Staphilococcus meticilina resistentes e que
havia sido utilizado em um paciente com infecção
por estes micro-organismos.
A análise com regressão linear indicou que o número de vezes em que o endoscópio estava con-
taminado foi diretamente proporcional ao número
de ocasiões que o equipamento foi utilizado. Os
autores concluem em que esses achados refletem
a capacidade de sobrevivência do micro-organismo
ao processo de limpeza e desinfecção. Destacam
que em 40% dos endoscópios havia presença de
ácidos nucleicos indicando a existência de micro
-organismos provenientes de biofilmes. Todavia,
nenhum dos pacientes apresentou alguma complicação um mês após a realização do procedimento(7).
Uma pesquisa realizada em dois hospitais do
Brasil revelou que Pseudomonas aeruginosa foi
o micro-organismo mais frequentemente isolado
das amostras dos endoscópios. Os autores
ressaltam que este micro-organismo apresenta
capacidade em resistir a enzimas e detergentes
catiônicos e alcalinos além da habilidade em formar
biofilme(8).
É grande a dificuldade em remover os micro-organismos de um colonoscópio que originalmente
estava contaminado com mais de 500 bactérias.
Após realizarem seis reprocessamentos, incluíram
duas etapas de limpeza e uma de desinfecção com
produtos atuais, persistiu uma contaminação significativa, mas houve redução para 195 bactérias,
sendo isoladas, principalmente, Pseudomonas
aeruginosa, Klebsiella ornithinolytica e Micrococcus spp.
Referem que a hipótese da presença de biofilme
foi prontamente sugerida. Após a imersão do
endoscópio em uma solução multi-enzimática,
por 30 minutos, com preenchimento dos canais,
enxágue e nova secagem e novamente imersão
em solução detergente por mais 30 minutos, novo
enxágue e nova secagem, a contaminação dos
canais foi quase totalmente erradicada após a
terceira vez em que o procedimento foi realizado.
Sugerem que se use regularmente esse detergente
(multi-enzimático) para evitar acúmulo de bactérias
que aderem à superfície dos canais(9).
É importante destacar que a limpeza é fundamental
na prevenção de formação de biofilme. A literatura
aponta a recorrência de biofilme nas superfícies
internas dos endoscópios, apesar da existência
de protocolos bem estabelecidos. Os biofilmes
representam um reservatório de micro-organismos
que podem desprender e contaminar o paciente,
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além de ser uma fonte de endotoxinas que podem
atingir a corrente sanguínea se houver o contato
com a mucosa não íntegra(10).
A membrana mucosa integra do trato gastrointestinal
é geralmente resistente à infecção por esporos
bacterianos, mas suscetível a outros microorganismos como as bactérias, micobactérias e
vírus(11).
O principal problema no reprocessamento dos
endoscópios está na limpeza e desinfecção dos
canais internos. Embora seja possível escovar
o canal de sucção/biópsia, há dificuldades em
acessar e limpar o canal de ar/água que é submetido
somente a jatos de água e detergente. Conclui-se
que a contaminação pode permanecer nos canais
e que o desenho do equipamento tem importante
influência no processamento do endoscópio(12).
Outro cuidado importante é o de remover o excesso
de matéria orgânica imediatamente após o término
do procedimento e transportar o aparelho para a
área de limpeza antes que ocorra o ressecamento
do material na superfície dos canais internos.
Esta ação ajuda a reduzir a formação de biofilme.
A imediata limpeza diminui a quantidade de
contaminação microbiana e, consequentemente,
a formação de biofilme(13).
Durante o teste-piloto deste estudo, a coleta do
material antes da desinfecção foi feita após a
limpeza e escovação manual e antes da limpeza
automatizada, e nestas amostras não se identificou
a existência de micro-organismos viáveis no
lavado dos canais. A partir desta observação,
passou-se a coletar o material somente após a
aplicação do jato de água e antes da escovação
dos canais. Este achado corrobora os achados da
literatura, ressaltando a importância da etapa de
limpeza, que deve ser feita de maneira vigorosa,
caso contrário a ação do desinfetante será
prejudicada e a eliminação dos micro-organismos
será ineficiente.
Neste estudo utilizou-se o processamento automatizado dos endoscópios e colonoscópios, com um
ciclo de pré-lavagem, lavagem, desinfecção e secagem final. Reitera-se que o tempo de desinfecção
foi de dez minutos e o tempo total de cada ciclo,
dezessete minutos.
O uso das reprocessadoras automatizadas têm
a finalidade de reduzir ou até mesmo eliminar
erros humanos que possam ocorrer em alguma
etapa do processo. A máquina, quando utilizada
adequadamente, assegura que os canais sejam
irrigados totalmente e de maneira contínua durante
o processo de lavagem, propicia menor diluição
e ou contaminação do desinfetante, diminui a
exposição dos profissionais aos produtos químicos,
é programável, ou seja, os ciclos de limpeza,
desinfecção, enxágue e secagem são previamente
estabelecidos, tornando o processo mais seguro.
Além disso, as máquinas podem vir acompanhadas
por filtros bacteriológicos, o que favorece o enxágue
do endoscópio com água livre de bactérias e de
melhor qualidade.
Entretanto, a contaminação da água pode ocorrer
quando não se tem o devido controle de substituição
dos filtros bacteriológicos, podendo, além disso,
causar diminuição na vazão de água para alimentar
o ciclo da máquina.
A reprocessadora automática diminui a probabilidade de alguma etapa do reprocessamento ser
omitida ou de ter o seu tempo reduzido. Algumas
marcas possuem registro de todo o processo, sinais
sonoros ou visuais que são ativados quando há
falha no processo(14).
Como desvantagens, esse mesmo autor relata
que a limpeza manual prévia, com escova, pode
ser mais eficaz do que a limpeza automatizada,
e que esta aumenta uma etapa no tempo total
do processo. Relata ainda que as máquinas não
realizam a rinsagem com álcool 70%.
Vale ressaltar que o Serviço de Endoscopia do
Incor possui um protocolo bem estabelecido para o
reprocessamento de instrumental de gastroscopia e
colonoscopia, o que é um critério fundamental para
o sucesso no processo de desinfecção.
Na avaliação da corrosividade, não foi identificado
nenhum tipo de oxidação por utilização do ácido
peracético nos equipamentos durante o período de
estudo. Outros estudos também chegaram a esta
mesma conclusão embora em período(3).
Ressalta-se nesse aspecto a importância da avaliação da integridade dos equipamentos antes da
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exposição ao produto pelo fato de que, em alguns
Serviços, os equipamentos não foram submetidos
à manutenção preventiva embora em uso por
período prolongado. A estabilidade da solução de
ácido peracético pronto uso geralmente é bastante
superior quando comparada às que necessitam de
ativação. Esta última apresenta estabilidade de 24
(vinte e quatro) horas após a ativação(15).
Em contrapartida, as de pronto uso apresentam
pelo menos duas semanas de atividade desde que
usadas em condições adequadas, ou seja, manter
fechado o compartimento que contém a solução e
secar completamente os equipamentos antes da
exposição ao produto, para prevenir a rediluição
do mesmo.
Com relação ao tempo de atividade, a recomendação
do fabricante do produto utilizado no estudo
(Anioxyde 1000®) é de que ele permanece ativo
por 22 dias. Neste estudo, este tempo foi de 14
dias em média.
O fato da máquina utilizada para o tratamento
dos equipamentos não apresentar a drenagem
completa da água da cuba após o enxágue e exigir
a secagem manual do compartimento e da parte
externa do endoscópio, causando maior diluição do
produto, podem estar relacionados ao menor tempo
de atividade encontrado neste estudo.
CONCLUSÃO
Neste estudo, a desinfecção por dez minutos de
gastroscópios e coloscópios com ácido peracético
foi eficaz, uma vez que não foram identificados microorganismos viáveis (incluindo-se micobactérias de
crescimento rápido) nas amostras coletadas após
a exposição dos equipamentos ao produto.
Após seis meses de uso e exposição ao ácido
peracético, os gastroscópios e colonoscópios não
apresentaram oxidação. A solução pronto uso do
ácido peracético apresentou boa estabilidade após
o início do uso.
Para obtenção de resultados mais decisivos há
necessidade do desenvolvimento de novos estudos com tamanho amostral maior, para aumentar
a significância estatística dos achados.
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contaminated colonoscope using detachmentpromoting agents. J Hosp Infect. 2008;68(3):277-8.
10. Pajkos A, Vickery K, Cossart Y. Is biofilm accumulation on endoscope tubing a contributor to the
failure of cleaning and decontamination? J Hosp
Infect. 2004;58(3):224-9.
11. Rutala WA, Weber DJ. How to assess risk
of disease transmission to patients when there
is a failure to follow recommended disinfection
and sterilization guidelines. Infect Control Hosp
Epidemiol. 2007;28(2):146-55.
12. Nomura K, Ogawa M, Miyamoto H, Muratani
T, Taniguchi H. Antibiotic susceptibility of
glutaraldehyde-tolerant mycobacterium chelonae
from bronchoscope washing machines, Am J Infect
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13. Vickery K, Pajkos A, Cossart Y. Removal of
biofilm from endoscopes: evaluation of detergent
efficiency Am J Infect Control. 2004;32(3):170-6.
14. Svetlíková Z, Skovierová H, Niederweis M,
Gaillard JL, McDonnell G, Jackson M. Role of porins
in the susceptibility of Mycobacterium smegmatis
and Mycobacterium chelonae to aldehyde-based
disinfectants and drugs. Antimicrob Agents
Chemother. 2009;53(9):4015-8.
15. Rajini M, Prasad SR, Reddy RR, Bhat RV,
Vimala KR. Postoperative infection of laparoscopic
surgery wound due to mycobacterium chelonae.
Indian J Med Microbiol. 2007;25(2):163-5.
Autores
Dirceu Carrara
Enfermeiro Especialista em Cardiologia, Mestre e Doutor, Enfermeiro Chefe da Unidade de
Controle de Infecção Hospitalar do Instituto do
Coração do HC FMUSP, Supervisor do Programa de Aprimoramento em Enfermagem em
Controle de Infecção Hospitalar do HC FMUSP.
E-mail: [email protected].
Paulo Sakai
Médico, Mestre em Medicina (Cirurgia do Aparelho Digestivo), Doutor em Medicina (Cirurgia do
Aparelho Digestivo), Livre-Docente (Departamento
de Gastroenterologia), Professor Associado do
Departamento de Gastroenterologia da FMUSP e
Diretor do Serviço de Endoscopia Gastrointestinal
do HC FMUSP.
Cristina Akiko Shirahige
Enfermeira Especialista em Cardiologia e Administração Hospitalar, Chefe do Serviço de Apoio
Diagnóstico e Terapêutico do Instituto do Coração
do HC FMUSP.
Márcia Hitomi Takeiti
Enfermeira Chefe da Seção de Produção e Esterilização e Controle de Materiais e Equipamentos
(SPECME) do Instituto do Coração do HC FMUSP,
Especialista em Enfermagem em CC, RA e CME
e Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde,
Mestranda em Enfermagem no Processo de Cuidar
em Saúde do Centro Universitário São Camilo.
Agda do Carmo Pereira Vinagre Braga
Farmacêutica e Bioquímica Especialista, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina
– UNIFESP, Laboratório Central HSP.
Shinichi Ishioka
Médico, Especialista em Gastroenterologia, Especialista em Endoscopia Peroral, Especialista em
Endoscopia Digestiva, Mestre em Medicina (Cirurgia do Aparelho Digestivo), Doutor em Medicina
(Cirurgia do Aparelho Digestivo).
Tânia Mara Varejão Strabelli
Médica Infectologista, Doutora em Ciências pela
FMUSP, Diretora da Unidade de Controle de Infecção do Instituto do Coração do HC FMUSP.
Recebido em 02/10/2012
Aprovado em 26/12/2012
Rev. SOBECC, São Paulo. out./dez. 2013; 18(4): 38-46.
www.sobecc.org.br
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Anexos
Tabela 1 - Distribuição dos micro-organismos identificados nas amostras coletadas os
videogastroscópios nos períodos pré e pós-desinfecção. São Paulo, 2007
Equipamento:
Videogastroscópio
Total de
Amostras
Amostras
Positivas
Nº (%)
Micro-organismo
Identificado
UFC
Pré-desinfecção
40
5 (12,5)
Streptococcus
viridans
10 000 - >100 000
Pós-desinfecção
40
00
Tabela 2 - Distribuição dos micro-organismos identificados nas amostras coletadas dos
videocolonoscópios nos períodos pré e pós-desinfecção. São Paulo, 2007
Equipamento:
Videocolosnoscópio
Pré-desinfecção
Pós-desinfecção
Total de
Amostras
Coletadas
41
Total de
Amostras
Positivas
14(34,1)
41
0
N° (%)
Amostras
Positivas
Microorganismos
Identificados
UFC
08 (57,1)
Escherichia coli
30 000 – >100 000
03 (21,4)
Klebsiella
pneumoniae
30 000 – >100 000
02 (14,3)
Candida albicans
01 (07,1)
Enterobacter spp
01 (07,1)
Aspergillus unguis
0 (0)
Tabela 3 - Distribuição do número de dias de atividade
da solução desinfetante. São Paulo, 2007
Troca
Número de dias
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
Total
Média
Mediana
Desvio Padrão (DP)
8
10
28
14
10
20
23
113
16,1
14,0
7,6
50 000
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a desinfecção de endoscópios com ácido peracético por dez