UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA Cláudia Pollyana da Silva Juanita Marília Alves dos Santos DIZERES DE PEDAGOGOS (AS) SOBRE SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS (RH) DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS Recife 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA Cláudia Pollyana da Silva Juanita Marília Alves dos Santos DIZERES DE PEDAGOGOS (AS) SOBRE SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS (RH) DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à professora Liliane Maria Teixeira, da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II, da Universidade Federal de Pernambuco, sob a orientação da Profª. Drª. Maria Sandra Montenegro S. Leão. Recife 2011 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 04 2. EDUCAÇÃO EM DIVERSOS ESPAÇOS DE INTERAÇÃO SOCIAL 06 2.1 AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E SEU REFLEXO NA RELAÇÃO EDUCAÇÃO-TRABALHO 07 2.2 O PEDAGOGO NA AREA DE RH: A PRÁTICA EDUCATIVA NAS ORGANIZAÇÕES 10 3. PERCUSSO METODOLÓGICO 11 4. OS DIZERES DOS PEDAGOGOS SOBRE SUA ATUAÇÃO NO RH 13 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 23 6. REFERÊNCIAS 25 7. ANEXOS 26 DIZERES DE PEDAGOGOS (AS) SOBRE SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS (RH) DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS Cláudia Pollyana da Silva1 Juanita Marília Alves dos Santos2 Maria Sandra Montenegro 3 RESUMO: Estudos e discussões sobre a atuação de pedagogos em espaços não-escolares têm sido constantes, pois diante da nova realidade socioeconômica não há como reduzir a atuação desses profissionais apenas ao espaço escolar. Este artigo teve como objetivo estudar a atuação de seis pedagogos na área de Recursos Humanos de instituições públicas, através de uma abordagem qualitativa. Foi realizado um trabalho de campo por acreditarmos na importância da aproximação com a realidade dos sujeitos a serem estudados. Os dados para análise foram obtidos através de questionário aberto Diante da fala destes profissionais, concluímos que há a necessidade de reformulação na grade curricular do curso de Pedagogia, visando atender aos estudantes que pretendem atuar em espaços não escolares, dando-lhes os conhecimentos necessários para atenderem as novas demandas da sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Atuação do pedagogo; RH; espaços não escolares; instituições públicas. 1. INTRODUÇÃO Em muitos momentos do cotidiano estamos envolvidos com práticas educativas que são inatas aos atores sociais, os quais encontram no processo de ensino e aprendizagem uma maneira de difundir seus valores, crenças e cultura. Portanto, a educação não ocorre apenas no ambiente escolar, o ensino escolar não é o único tipo de educação. Ela é um fenômeno amplo, pois está presente em todos os espaços de interação social, ou seja, se há trocas de experiências, entre os sujeitos, há um fenômeno educativo. 1 Concluinte de pedagogia – Centro de Educação – UFPE – [email protected] 2 Concluinte de pedagogia – Centro de Educação – UFPE – [email protected] 3 Professora adjunta do Centro de Educação – UFPE – [email protected] 5 Reconhecendo que a educação é multifacetada, torna-se fundamental perceber a amplitude da Pedagogia e as possibilidades de atuação do pedagogo. A inserção deste profissional em espaços não escolares tem sido objeto de estudos e de discussão, pois já não cabe nos dias atuais, reduzir a Pedagogia e os pedagogos apenas a escola. Essa reflexão sobre as múltiplas possibilidades de atuação foi o fator determinante para nossa escolha pela graduação em Pedagogia. Vivenciamos o paradigma denominado por muitos de Era do Conhecimento, onde é imprescindível a presença das práticas educacionais em diversos lugares, principalmente no ambiente laboral, pois estes espaços passam a investir em processos formativos para o desenvolvimento dos seus funcionários, por crerem que através do conhecimento podem gerar vantagem competitiva. Neste contexto, surgem discussões acerca de como preparar os sujeitos para atenderem estas demandas que se apresentam tão iminentes. É nesse cenário que se insere o pedagogo, que deixa de ser visto como um condutor de crianças ao conhecimento, mas sim um profissional que domina saberes teórico-metodológicos que podem contribuir para o desenvolvimento das competências e habilidades de todo quadro funcional de uma instituição. É na área de Recursos Humanos (RH) que geralmente o pedagogo exerce sua prática profissional quando está inserido no meio empresarial. O interesse pela área de RH surgiu quando uma de nós trabalhou em uma empresa do ramo automobilístico. Lá foi oportuno observar o trabalho de uma pedagoga que capacitava os funcionários da empresa, instigando assim, a necessidade de aprofundar nossos questionamentos e identificar a real situação da atuação do pedagogo neste espaço, visto que é um campo de atuação recente. Para realizar nosso estudo acerca da atuação do pedagogo na área de RH, escolhemos instituições públicas não escolares, por observar cotidianamente que estas instituições ofertam cada vez mais, através dos seus editais de concurso, vagas para pedagogos. Supomos que os pedagogos que atuam na área de RH sentem dificuldade de inserção/atuação nesta área e só são transpostas após a realização de formação continuada, pois o curso de Pedagogia ainda é bastante voltado para as práticas educativas na escola. Para confirmar nossa hipótese, analisamos as falas destes profissionais, por acreditarmos que elas revelam suas expectativas e anseios sobre sua atuação profissional. Esta pesquisa objetiva: analisar a atuação de pedagogos na área RH de instituições públicas; analisar a visão dos pedagogos sobre a sua atuação profissional na área de RH; 6 analisar o trabalho desenvolvido no RH por esses profissionais e avaliar conforme a opinião dos pedagogos se a sua prática profissional se aproxima da prática que estes consideram ideal. Para compor a fundamentação teórica deste estudo, visando a compreensão da inserção e atuação dos pedagogos na área de RH, analisamos os fatores que contribuíram para tal fenômeno à luz de teóricos como: Libâneo, Antunes, Ribeiro, Gil, Chiavenato, dentre outros. Já os procedimentos metodológicos adotados, contemplam as indicações da abordagem qualitativa. Na coleta dos dados utilizamos um questionário com questões abertas que foi respondido por pedagogos encontrados através da análise dos editais de concursos de instituições públicas não escolares. Esperamos através desta pesquisa, contribuir para o aprofundamento do conhecimento na área de RH. Por crer que este estudo possui relevância social, uma vez que tem potencial pra contribuir com possível intervenção junto aos sujeitos pesquisados; na escrita acadêmica dos seus resultados, que serão divulgados e servirão para descrever as condições do contexto investigado. Para compreender o motivos sociais, culturais e econômicos que contribuíram para a inserção do pedagogo nas área de RH, iremos a partir de agora acompanhar o processo histórico deste fenômeno social. 2. A educação nos espaços de interação social A educação é inerente ao ser humano, através dela, o homem encontrou um modo para preservar sua espécie, pois é pelo ato de educar que os atores sociais passam às novas gerações, seus valores, crenças e cultura. Ela é a própria existência humana e está em tudo o que indivíduo faz no seu cotidiano, portanto, ao contrário do que muitos imaginam o processo educacional não é exclusivo do espaço escolar. Brandão (1987) ratifica que não existe um único modelo de educação, a escola não é o único lugar em que ela acontece e o ensino escolar não é a única prática educativa. O processo educativo que ocorre fora da escola, visa principalmente transformar o homem em cidadão através da interação que ele tem com o meio social, pois à medida que a 7 sociedade se torna mais complexa, a educação deve acompanhar essa evolução, ampliando-se os lugares onde ela é ofertada. Observa-se, portanto, ações pedagógicas não apenas na família e na escola, mas também nos meios de comunicação, em diversos grupos humanos organizados, em instituições não escolares. (LIBÂNEO, 2008) Não obstante, o reconhecimento da diversidade de práticas educativas, há de se observar também a diversidade do campo do conhecimento que se ocupa em estudar sistematicamente a educação, a pedagogia. Esta pode se subdividir de acordo com o contexto onde tal prática é realizada, como a pedagogia escolar, a pedagogia hospitalar, a pedagogia empresarial, dentre tantas outras. Entre os diversos espaços de interação social onde há presença de práticas educacionais, estão as empresas, que realiza uma modalidade de educação designada por Libâneo (2008) como educação não formal. Para ele, esta modalidade de educação “seria a realizada em instituições educativas fora dos marcos institucionais, mas com certo grau de sistematização e estruturação” (LIBÃNEO, 2008, p.31). Todavia, o meio laboral nem sempre foi reconhecido como um ambiente de aprendizagem. O vínculo entre educação e trabalho sofreu muitas transformações ao longo dos anos. 2.1 As transformações socioeconômicas e seu reflexo na relação Educação Trabalho. O homem tem em sua essência a mutabilidade. É uma constante na evolução da nossa espécie a busca por aprimorar os mecanismos de sobrevivência. É através do trabalho que o ser humano molda o meio em que vive, transformando desde as esferas econômicas até as formas de organização social. Saviani (2007) aponta que o trabalho, surgiu da necessidade do ser humano de agir sobre a natureza em prol da garantia de sua subsistência. Quando o homem percebe a importância de transmitir seu conhecimento para as gerações futuras é que se insere a prática educativa como parceira do sistema produtivo. Nos primórdios da organização humana em sociedade, a educação para os trabalhadores não ocorria na escola, mas concomitantemente com as atividades laborais. À medida que a sociedade foi se tornando mais complexa, durante a Revolução Industrial, a 8 educação formal passou a ser objeto de discussão no processo produtivo. Nesta época, a Era Industrial Clássica, o modelo de produção dominante foi o binômio taylorismo/fordismo, o qual preconizava a ênfase na realização de tarefas parcelarizadas, cronometradas minuciosamente em todas as suas etapas, onde aquele que não realizasse sua parte de forma eficaz levava o conjunto do trabalho ao fracasso. (ANTUNES, 2006) No sistema produtivo em questão, ao operário era reservada apenas a execução de tarefas manuais, fator que o leva a ser expropriado do saber na produção, pois o conhecimento a cerca dos métodos e técnicas da produção ficavam a cargo exclusivamente da gerência científica (ANTUNES, 2006). Contudo, era imperativo que o sujeito fosse apto a realizar obedientemente e mecanicamente seu trabalho, isto só era possível se a massa trabalhadora possuísse um grau mínimo de instrução, a fim de se tornarem pacíficos para aceitar sem maturação crítica seu papel neste modelo produtivo. Chiavenato (1999) revela que neste paradigma, as organizações se estruturavam hierarquicamente em um formato piramidal. No topo estava a diretoria, já na sua base a massa trabalhadora, que era submetida a condições de trabalho precárias. Em busca de garantir o controle da obediência dos seus funcionários, as organizações tinham um departamento responsável pela gestão destes, denominado Relações Industriais. Seu papel era cumprir as exigências legais trabalhistas, intermediando a conciliação entre as pessoas, os sindicatos e a empresa. Em reação à exploração e rigidez deste período mecanicista, a partir do pós Segunda Guerra Mundial, houve um aumento do poder dos sindicatos dos trabalhadores, levando o proletariado a rebelar-se, acarretando uma profunda crise econômica. Torna-se necessário uma reestruturação do modelo capitalista. Emerge, por volta da década de 70, um novo modelo de produção para atender aos pré- requisitos que possibilitem a motivação dos trabalhadores, o toyotismo, mais conhecido como “acumulação flexível do capital”, este por sua vez, prioriza a flexibilidade dos processos de trabalho, inovações tecnológicas e organizacionais. (ANTUNES, 2006). O toyotismo é oriundo do Japão e foi difundido para todo mundo capitalista. A partir desta ocasião, começa-se a falar em Administração de Recursos Humanos, substituindo a antiga concepção de Relações Industriais. No novo modelo de gestão, as pessoas não são consideradas máquinas de produzir e gerar lucro, mas sim, recursos vivos, 9 inteligentes e responsáveis por gerar vantagem competitiva. Neste enfoque, é criado o Departamento de Recursos Humanos, responsável não só por tarefas operacionais e burocráticas, mas também por funções voltadas para o bem-estar dos trabalhadores (CHIAVENATO, 1999). O termo Recursos Humanos além de designar a nova maneira de se administrar pessoas, nomeia também a área de estudos e atividades ligadas ao elemento humano em geral, dentro das organizações. Toledo (1982, p. 8) define Recursos Humanos como um “conjunto de princípios, estratégias e técnicas que visa contribuir para a atração, manutenção, motivação, treinamento e desenvolvimento do patrimônio humano de qualquer grupo organizado”. Conforme se depreende da leitura de Chiavenato (1999) e Gil (2001), na década de 90 surgiram críticas no que tange à terminologia utilizada para nomear a concepção de administração Recursos Humanos. Pois se percebeu que não era adequado tratar as pessoas simplesmente como um recurso, entretanto como parceiras na administração dos recursos organizacionais. Originando desse modo, a denominação Gestão com Pessoas ao invés de Administração de Recursos Humanos. Este novo modelo de gestão não se limita a um departamento, ele se estrutura em equipes com profissionais das mais diversas áreas que assumem inúmeros papeis, são alguns deles: selecionador, treinador, avaliador de desempenho, analista de cargos, líder, etc. Apesar de muitas organizações já praticarem a atual concepção de administração, que defende a parceria entre pessoas e organização, ainda é comum utilizarem a nomenclatura Recursos Humanos (RH) para se referir ao setor que reúne os profissionais responsáveis pela Gestão com Pessoas. As organizações necessitam de sujeitos mais qualificados; participativos; multifuncionais; polivalentes e proativos, capazes de agir consoante às exigências contemporânea. Sendo assim, torna-se crucial aumentar o vínculo entre a educação e o trabalho, haja vista que a educação oferecida na escola ainda não forma integralmente o trabalhador com os requisitos preestabelecidos pelo mercado. Para suprir a carência de mão-de-obra qualificada, as organizações transformaram o ambiente laboral em um ambiente também de aprendizagem, porque carecem de funcionários 10 com formação geral, interessados em aprimorar seus conhecimentos para enfrentarem a intelectualização do processo produtivo proporcionado pela reengenharia do sistema capitalista. 2.2 O pedagogo na área de RH: a prática educativa nas organizações O modelo de administração Gestão com Pessoas traz para o setor de RH, novas tendências para o ambiente organizacional. É imprescindível a presença de um profissional que se ocupe em desenvolver nos trabalhadores os conhecimentos, as competências, as habilidades e as atitudes vistas como primordiais para a sobrevivência no atual cenário competitivo, o profissional mais indicado para essa missão é o pedagogo. Pois como ressalta Greco (2005), este profissional domina certos saberes, que em dada situação é capaz de transformar e dá novas configurações a saberes já existentes, oferecendo instrumentos para que o sujeito aprenda a desvendar sua realidade, fazendo-lhe notar a dimensão da sua importância não só na cadeia produtiva, mas na sociedade como um todo. Diferentemente do que muitos imaginam a Pedagogia e o meio laboral tem conexões. Holtz (2006, p. 06) explica a ligação entre estas áreas afirmando que a Pedagogia e a Empresa fazem um casamento perfeito, pois ambas têm o mesmo objetivo em relação às pessoas: A finalidade da empresa é levar as pessoas a atingirem os ideais e objetivos definidos pelo empresário. Já a pedagogia objetiva através de um programa de ação em relação à formação, aperfeiçoar e estimular todas as faculdades da personalidade das pessoas, consoante os ideais e objetivos definidos. A intenção da Pedagogia no ambiente de trabalho é qualificar e requalificar todos os membros da organização, buscando a promoção do desenvolvimento das competências e habilidades dos mesmos, o que consequentemente propiciará o aumento da produtividade organizacional. A prática educativa na empresa se estrutura geralmente no setor de Treinamento e Desenvolvimento que está atrelado ao Departamento de Recursos Humanos. Este setor tem a missão de educar, formar, capacitar e desenvolver seus funcionários e é neste espaço que geralmente os pedagogos exercem suas atividades. 11 O intuito da prática educativa na empresa vai além do que simplesmente treinar o capital intelectual, para executar as tarefas pertinentes ao seu cargo. Holtz (2006), afirma que a finalidade do pedagogo no ambiente organizacional é contrabalançar os efeitos desequilibradores da especialização profissional, limitante e muitas vezes castradora, com atividades recriadoras. Onde, seu intuito é desenvolver nos componentes das organizações faculdades inatas de se produzir meios necessários ao desenvolvimento integral da sua personalidade, propiciando sua produtividade pessoal nas mais diversas atividades na sociedade e não apenas na execução de tarefas de responsabilidade de seu cargo. Toledo (1982, p.46) diz que a educação influencia permanentemente a área de Recursos Humanos, pois esta deverá numa organização, incentivar todos os seus membros para que identifiquem e removam condições restritivas ao desenvolvimento, motivação e sinergia das pessoas e grupos. Contudo é primordial a presença do pedagogo no ambiente de trabalho, onde ele deverá conduzir o desenvolvimento humano através de atividades formativas alinhadas às estratégias organizacionais. 3. PERCUSSO METODOLÓGICO Este estudo se desenvolveu a partir da curiosidade de conhecer melhor a prática profissional dos pedagogos na área de RH nas instituições públicas, bem como identificar a visão dos profissionais pesquisados sobre esta nova possibilidade de atuação, uma vez que a prática educativa em espaços não-escolares é pouco difundida no curso de pedagogia. Para responder nossas indagações, realizamos uma pesquisa, que é segundo Minayo (p. 17, 1994) “uma atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade (...), embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação”. A fim de ter um contato direto com objeto de estudo, utilizamos a abordagem qualitativa, pois ela tem como principais características “a imersão do pesquisador no contexto e a perspectiva interpretativa de condução da pesquisa” (KAPLAN & DUCHON, 1988, citado por DIAS, 2000, p. 01). A pesquisa qualitativa, dentro das ciências sociais, se ocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, pois lida com universos de 12 significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, os quais não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, p.22, 1994). A escolha da amostra desta pesquisa foi feita através da análise de editais de concursos realizados entre os anos de 2008 e 2011 pelas organizações públicas não escolares, pertencentes à esfera estadual e federal, onde selecionamos cinco instituições. A aproximação com os sujeitos pesquisados foi realizada inicialmente por contato telefônico, para saber da disponibilidade e interesse dos mesmos em participar deste estudo. Das cinco organizações apenas os pedagogos de três delas demonstraram-se solícitos para responder nossas indagações. Para um maior detalhamento das explicações sobre os objetivos dessa pesquisa, obtivemos contato pessoal com os pesquisados. Entretanto, tivemos que aguardar que seus empregadores autorizassem a participação da referida amostra. As organizações em questão, por serem instituições públicas, geralmente se caracterizam pela hierarquia verticalizada, fator que gerou um obstáculo, pois houve demora na emissão da autorização para que os pedagogos participassem desta pesquisa, uma das organizações levou um mês para emitir tal autorização, atrapalhando assim, o atendimento do cronograma planejado. O que impediu a utilização de todos os instrumentos de coleta de dados previamente estabelecidos. Para coletar os dados necessários realizamos um trabalho de campo por acreditarmos ser importante a aproximação com a realidade dos sujeitos a serem estudados, os pedagogos atuantes em RH de organizações públicas, com o intuito de entender regras e costumes que regem o grupo selecionado para este estudo. Para Minayo (p. 52, 1994), essa forma de investigar permite ao pesquisador articular conceitos e sistematizar a produção de uma determinada área do conhecimento. O instrumento para coleta dos dados utilizado foi o questionário com questões abertas, por acreditarmos que esta ferramenta é de fácil aplicação e tem como vantagens, conforme enumera Moreira & Caleffe (p. 96, 2006), o uso eficiente do tempo; possibilidade de uma alta taxa de retorno e perguntas padronizadas. A prerrogativa que nos levou a optar por escolher como tipo de questionário o modelo com questões abertas foi a possibilidade do participante da pesquisa emitir suas opiniões livremente. De acordo Laville & Dione (1999), neste tipo de questionário o interrogado terá: 13 a ocasião para exprimir seu pensamento pessoal, traduzi-lo com suas próprias palavras, conforme seu próprio sistema de referências. Tal instrumento mostra-se particularmente precioso, quando o leque das respostas possíveis é amplo ou, então, imprevisível, mal conhecido. Permite, ao mesmo tempo, ao pesquisador assegurar-se da competência do interrogado, competência demonstrada pela qualidade de suas respostas (LAVILLE & DIONE 1999, P. 186). A amostra desta pesquisa foi composta por seis pedagogos, sendo um do sexo masculino e cinco do sexo feminino, de idade entre 25 anos a 48 anos, atuantes em RH de instituições públicas, as quais duas são estaduais e uma é federal, e são dos segmentos de saneamento, judiciário e infraestrutura aeroportuária. Os dados foram interpretados á luz do referencial teórico, sendo consultada para tal, a literatura especializada nas áreas de Recursos Humanos e Educação, porque cremos que ambas estão interligadas. 4. OS DIZERES DOS PEDAGOGOS SOBRE SUA ATUAÇÃO NO RH Com o intuito de conhecer melhor a atuação dos pedagogos na área de RH de instituições públicas, analisamos através de questionário, as falas de seis pedagogos que exercem atividades no campo de atuação investigado, pois elas são reveladoras das suas expectativas, anseios e possibilidades de práticas profissionais. Buscando compreender os motivos que levaram os pedagogos a procurarem o ambiente corporativo para exercerem suas atividades. Para caracterizar os sujeitos pesquisados na utilização de recursos como tabelas, fizemos uso de siglas. São estas: P1 para identificar o pedagogo 1, a sigla P2 para identificar o pedagogo 2 e assim sucessivamente até o pedagogo 6. Todos os profissionais são graduados em pedagogia e atuam diretamente na área de RH de instituições públicas da cidade do Recife. Os pedagogos 1 e 5 atuam em uma instituição do segmento judiciário, os pedagogos 2, 3 e 6 fazem parte de uma instituição do segmento aeroportuário, já o pedagogo 4 é atuante em uma instituição do segmento de 14 saneamento. O profissional que está há menos tempo nesta área, tem 10 meses de atuação, tendo concluído sua graduação em 2004. Em contrapartida o pedagogo que exerce suas atividades profissionais há mais tempo no RH, está nesta área há 14 anos e concluiu o curso de Pedagogia em 1986. Concluímos ao fazer o confronto entre tempo de atuação em RH e tempo de conclusão do curso de Pedagogia, verificamos que o pedagogo com um maior tempo de atuação na área em análise é proporcionalmente, o profissional com a graduação concluída a mais tempo. Libâneo (2008, p.33) conceitua pedagogo como: Profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, diretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos, em sua contextualização histórica. (LIBÂNEO, 2008, P.33). Mesmo reconhecendo que a atuação do pedagogo é tão ampla quanto sua abrangência de espaços para práticas educativas, muitos profissionais de pedagogia iniciam sua trajetória educacional em espaços escolares. Isto decorre, devido à identidade profissional difundida no curso de pedagogia que está revestida de um caráter basicamente docente. Portanto, para confirmar esta suposição, iremos a partir de agora mostrar como foi a trajetória profissional dos pedagogos pesquisados e como estes chegaram à área de RH de instituições públicas. Identificamos que todos os pesquisados iniciaram sua trajetória profissional na área de educação em espaços escolares de instituições públicas e privadas. Dos seis profissionais investigados quatro deles foram professores das séries iniciais (educação infantil ao ensino fundamental), o pedagogo que lecionou por mais tempo, exerceu esta prática por doze anos e o profissional com menos tempo na prática de ensino, a fez por dois anos e meio. Os outros dois pesquisados, os pedagogos 4 e 5, atuaram no ambiente escolar apenas através de estágios. Identificamos que dois pedagogos mesmo atuando em espaços escolares ampliaram sua prática profissional para além da docência nas séries inicias. O pedagogo 2 atuou como supervisor pedagógico durante um ano, é docente de curso de pós-graduação de uma faculdade da área de ciências, filosofia e letras, desde o ano 2008 e atua também como tutor de educação à distância de um curso de graduação na área de educação. Já o pedagogo 3, foi chefe de ensino e professor de curso superior na área de pedagogia. 15 Ao pesquisar em teses e artigos, os motivos socioeconômicos e culturais que levaram os pedagogos a se inserirem na área de RH de instituições públicas, concluímos que esta abertura se deu pela necessidade destas instituições investirem na educação contínua dos seus servidores. Estas instituições têm adotado esta estratégia por buscarem mudar a sua cultura organizacional, pois visam transformar a promoção cultural de defesa do interesse particular (ou corporativo) em cultura de promoção do interesse público e isso só é possível através de atividades formativas (Ribeiro, 2010, p.60). Para que tais mudanças possam se efetivar é preciso estimular constantemente os agentes públicos para que sejam multifuncionais, proativos e autônomos, alinhados com as novas tecnologias, e tendências demandas pela Era do Conhecimento para administração e execução dos serviços públicos. Ao serem indagados se sentiram dificuldades para ingressar na área de RH de instituições públicas dois pedagogos expuseram que as dificuldades encontradas foram referentes ao certame, assim expõem os pedagogos 1 e 2: “Na verdade, a maior dificuldade foi a aprovação no concurso”. (Pedagogo1) “Considerando que a admissão foi pelo concurso, as dificuldades encontradas foram relativas às questões do próprio certame. (Pedagogo 2) Atualmente a maioria das instituições públicas selecionam seus servidores de forma isonômica, evitando, conforme afirma Braga (2010), proceder com pessoalidade e apadrinhamento nas escolhas dos seus agentes públicos. Deste modo, todos os pedagogos se inseriram na área de RH através de concurso, porém dois profissionais realizaram concurso para nível médio, tendo feito seleção interna para pedagogo. Os pedagogos 1 e 5 são os que ingressaram em instituições públicas em cargos de nível médio, o cargo era técnico judiciário, pois a organização é do segmento judiciário. O pedagogo 1 revela como surgiu a oportunidade de migrar para um cargo compatível com sua formação em pedagogia: “o cargo em que concorri não era especificamente para a área de Pedagogia, mas, na época em que fui nomeada, alguns setores da Secretaria de Gestão de Pessoas estavam realizando seleção interna e dando prioridade a quem tinha essa formação, participei de entrevista e fui selecionada.” (Pedagogo 1) Situação semelhante ocorreu com o pedagogo 5, pois ambos atuam na mesma instituição. 16 Ainda referente às dificuldades de inserção em RH, os pedagogos 2 e 5 afirmaram que não possuíram nenhuma dificuldade. O pedagogo 2 explica que isso se deve ao fato do perfil da instituição em que trabalha, porque ela já possui um histórico de atuação de pedagogos em seu quadro funcional. O pedagogo 5 revela não ter encontrado dificuldade para ingressar no campo de atuação pesquisado, porque sempre gostou da área de RH, tanto que sua monografia da pós-graduação teve como tema Educação Corporativa. Os outros dois profissionais, os pedagogos 6 e 3, enfatizaram que estavam bem preparados em termos de conteúdos para prestar o concurso para pedagogo, pois os conteúdos exigidos na prova eram componentes da grade curricular da graduação de Pedagogia. Porém ambos informaram que ao chegar à instituição em que trabalham sentiram lacunas de conhecimento de outras áreas de RH necessárias ao desempenho de suas atribuições. Sobre este aspecto o pedagogo 6 se posiciona da seguinte maneira: “Ao chegar à empresa, tive um pouco de dificuldade para compreender a minha atuação enquanto pedagoga (uma fez que a nossa atuação não foi bem trabalhada em espaços não escolares, pois o foco da universidade pública é a escola pública), e ao compreender, tive dificuldade para ocupar meu espaço no desenvolvimento dos cursos que aconteciam regularmente.” Buscando identificar como os pedagogos investigados veem o curso de Pedagogia, perguntamos sobre a contribuição desta graduação para atuação destes na área de RH. A maioria dos pesquisados acreditam que o curso de pedagogia contribui bastante para sua prática profissional na referida área, devido ao fato de possuir uma amplitude tanto de atuação quanto de estudo científico. “ o curso de pedagogia tem uma amplitude no seu campo científico, de estudo e conhecimentos, por ter como objeto a ação educativa nos diversos espaços sociais. Mesmo com o foco restrito à escola, o estudo das teorias educacionais que permeiam a prática pedagógica, o ensino-aprendizagem, contribui de forma significativa à compreensão do “fazer pedagógico” no espaço organizacional.” ( Pedagogo 3) Holtz (2006, p.6), explicita que o meio corporativo e Pedagogia tem pontos em comum, ambas “(...) agem em direção à realização de ideais e objetivos definidos, no trabalho de provocar mudanças no comportamento das pessoas”. Confirmando este ponto de vista, os pedagogos 2,3 e 4 dizem que o curso de pedagogia está bem atrelado a área de RH devido ao 17 fato deste curso formar seus profissionais para desempenharem atividades como planejamento dos processos formativos, assim como na sua execução, e posterior avaliação da eficiência e efetividade de tais processos concatenados com os objetivos estratégicos da instituição. Nesta perspectiva o pedagogo 4 acredita que a graduação de Pedagogia auxilia na compreensão de alguns conceitos da área em questão, contribuindo para atuação destes profissionais no RH. Mesmo acreditando que o curso de Pedagogia aborda conhecimentos das mais diversas áreas sociais e que está atrelado as estratégias pertinentes ao setor de Recursos Humanos, os seis pesquisados foram uníssonos ao afirmar ser fundamental investir em formação continuada para suprirem as lacunas existentes na grade curricular do curso de Pedagogia, pois este dá muita ênfase a docência e trabalha de forma muito sintética conteúdos ligados a atuação em espaços não-escolares. Ribeiro, (2010, p. 13) pressupõe que as disciplinas que podem auxiliar a prática educativa nas organizações são: Didática Aplicada ao Treinamento, Jogos e Simulações Empresariais, Administração do Conhecimento, Ética nas Organizações, Comportamento Humano nas Organizações, Educação e Dinâmica de Grupo, Relações Interpessoais nas Organizações, Desenvolvimento Organizacional e Avaliação de Desempenho. Como graduandas do 9º período do curso de Pedagogia podemos afirmar que dentre as nove disciplinas elencadas pela autora supracitada só temos na grade curricular do nosso curso duas delas, sendo que uma destas só é ofertada para os alunos que se propõem a possuir habilitação em administração escolar. Vejamos as áreas em que estes profissionais aprofundaram seus estudos para uma melhor contribuição na execução de sua prática profissional na área de RH: P1- Especialização em Formação de Recursos Humanos para Educação. P2- Especialização em Gestão Escolar e Mestrado em Educação. P3- Especialização em RH P4- Não mencionou o tipo de formação continuada. P5- Não mencionou o tipo de formação continuada. P6- Especialização em Coordenação Pedagógica. Os pedagogos 1, 2 e 6, afirmaram ter escolhido fazer a pós-graduação na área de educação por acreditarem que muitas atividades que eles exercem nas organizações em que laboram, são semelhantes às desenvolvidas no RH, só mudando os objetivos a serem 18 alcançados, uma vez que na escola se formam atores sociais para o desenvolvimento da cidadania, preparando-lhes para enfrentar os desafios da sociedade como um todo. Já no meio laboral os objetivos educacionais são voltados para as metas da instituição, pois esta busca através das práticas educativas sincronizar o desenvolvimento do funcionário com os objetivos organizacionais. Para confirmar a semelhança entre Educação e área de RH, na visão dos pedagogos pesquisados, escolhemos a seguinte fala: “Estou concluindo um curso de Especialização em Coordenação Pedagógica,(...)tendo em vista que a atuação do coordenador de cursos de empresa se assemelha bastante à atuação do coordenador de escolas no que se refere à necessidade de viabilizar processos de formação continuada aos professores/instrutores responsáveis por ministrar as aulas de cada curso; acompanhar o processo de ensino aprendizagem dos alunos, buscando alternativas para os que apresentam dificuldades; e no planejamento e execução de ações educativas.”( Pedagogo 6) Prosseguindo na análise da escolha do tipo de formação continuada por parte dos pedagogos atuantes na área de RH, foi identificado que apenas o pedagogo 1 realizou pósgraduação na modalidade especialização na área de RH na concepção geral e não voltada para educação. Dois participantes da pesquisa disseram ter feito pós-graduação, porém não mencionaram em qual área. Além do aprofundamento acadêmico para atuarem na área de RH, quatro dos seis profissionais investigados, mencionaram que as instituições em que trabalham investem na capacitação dos mesmos, possibilitando para estes profissionais a participação em cursos de aperfeiçoamentos e congressos, além de outros eventos educacionais. Ao indagarmos se foi necessário fazer investimento em formação continuada alguns graduados em pedagogia aprofundaram suas afirmações revelando os fatores que culminaram na necessidade de aprimorar seus conhecimentos para atuar em RH. Detectamos que o motivo mais decorrente foram as lacunas de conhecimentos necessários a atuação em espaços nãoescolares. Eis as falas que refletem esta problemática: “(...) só o curso de Pedagogia não engloba os conceitos necessário ao profissional de RH”.( pedagogo 4) “(...) Acredito que nenhum profissional da educação fique satisfeito com os conhecimentos construídos no curso de graduação”. (Pedagogo 6) 19 Objetivando listar e analisar quais atividades são desenvolvidas pelos pedagogos na área de RH das instituições públicas, questionamos como é o cotidiano dos pesquisados. A maioria desenvolvem atividades ligadas ao planejamento, execução e avaliação de processos formativos de capacitação profissional. Foi possível enumerar que todos os pedagogos pesquisados planejam atividades formativas, cinco deles executam estas atividades ministrando cursos, treinamento e outras tarefas análogas. No que se refere à avalição destes processos formativos e consequentemente assimilação dos conteúdos ministrados pelos funcionários, três investigados, afirmaram que desempenham esta função. Apenas dois pedagogos disseram que também realizam tarefas administrativas, como elaboração de documentos e relatórios sobre os dados funcionais do quadro de pessoal das instituições em que atuam. Abaixo dispomos de uma tabela que elenca as atividades exercidas frequentemente pelos pedagogos atuantes em RH Tabela 2 Atividades exercidas pelos pedagogos no RH Pedagogos Planejamento Execução Avaliação Atividades de Atividades de Atividades de Atividades Administrativas Educacionais Educacionais Educacionais P1 X X P2 X X X P3 X X X P4 X X P5 X X P6 X X X X Supondo que nem todos os pedagogos tinham as mesmas atribuições, perguntamoslhes qual era seu papel na instituição onde são atuantes, pois cremos que as atividades que estes executam são reflexo do seu papel profissional. O pedagogo 1 afirmou que seu papel é contribuir para eficiência e eficácia da instituição, através da participação em uma gestão humanizada. E o pedagogo 6 diz que é atender a proposta da empresa de forma humana, tornando a participação em cursos e treinamentos satisfatórias, tanto para o empregado quanto para a organização. Esta visão humanística dos pedagogos é que os torna muito mais que meros instrutores, porque sua 20 formação é permeada da necessidade de compreender o mundo pela ótica humanizadora. Pois a Pedagogia engloba em seu campo de estudos outras ciências essenciais para se entender a complexidade humana, segundo Libâneo (2008, p.37) estas ciências são a Sociologia, a Psicologia, a Economia e a Linguística. Ainda no tocante do papel dos pedagogos nas instituições em que fazem parte, os pedagogos 4 e 5 tem uma visão semelhante a cerca do seu papel profissional: “Buscar o desenvolvimento e qualificação dos empregados” (pedagogos 4) “Agregar valores e competências aos funcionários para atingir o planejamento estratégico da organização” (pedagogos 5) A visão dos pedagogos 4 e 5 refletem bem uma das responsabilidade elencadas por Holtz (2006, p.14) incumbidas aos pedagogos que atuam em empresas que é “Conduzir com atividades práticas, as pessoas que trabalham na Empresa - dirigentes e funcionários - na direção dos objetivos humanos, bem como os definidos pela Empresa.” Os pedagogos 2 e 3 ao informar qual seu papel na instituição a qual fazem parte revelam que a visão que eles tem a cerca do seu papel está voltada às atribuições dos seus cargos. Vejamos a concepção desses investigados: “Acompanhar o planejamento, execução e avaliação de cursos de forma a garantir que os aspectos pedagógicos sejam observados nos processos formativos” (pedagogo 2). “Coordenar os treinamentos, cursos e programas de desenvolvimento de pessoas, alinhados ao Planejamento Estratégico da Empresa.” (pedagogo 3) Com o intuito de identificar e analisar a visão dos investigados sobre sua atuação na área de RH, solicitamos-lhes que expusessem os pontos positivos que há na atuação dos pedagogos na área pesquisada. As respostas revelaram que o que mais facilita a atuação desses profissionais neste campo é a sua formação de caráter humanístico, o que os proporciona uma maior adaptabilidade as mais diferentes situações e atribuições, e levando esta prática humanizadora para todos os espaços dentro do ambiente de trabalho, através do processo ensino-aprendizagem. O pedagogo 1 aponta como ponto positivo da sua prática no RH, a oportunidade de se trabalhar em equipe. “A questão do bom relacionamento interpessoal e da capacidade de construir conjuntamente o planejamento e execução dos trabalhos realizados.” (pedagogo 1) 21 Este aspecto mencionado pelo pedagogo 1, é uma das competências consideradas essenciais para o pedagogo empresarial nas organizações contemporâneas, de acordo com a visão de Ribeiro (2010). Na análise dos pedagogos 2 e 4 os pontos positivos existentes na atuação dos profissionais de pedagogia no setor de RH são as habilidades para atender a política de desenvolvimento de pessoas para atingir o objetivo organizacional; Valorização da educação profissional, objetivando o desenvolvimento contínuo para o sucesso profissional. Estes profissionais deixam evidente que o pedagogo possui, conforme enfatiza Ribeiro ( 2010) sensibilidade e capacidade teórico-metodológica para perceber quais estratégias são mais apropriadas para o atendimento dos propósitos tanto de formação humana, quanto os da própria empresa. Já o pedagogo 5, acredita que poderia elencar inúmeros fatores que revelam os pontos positivos para atuação na área de RH, mas destaca: “a nova visão do profissional de Pedagogia no ambiente corporativo, haja vista a necessidade da vivência educacional dentro da organização.” (pedagogo 5) Apenas o pedagogo 6, levantou um ponto negativo de sua vivência profissional em RH, a visão que alguns tem que o pedagogo está no espaço laboral apenas para dar treinamento aos funcionários. O relato deste pesquisado, nos leva reflexão sobre a existência da diferença entre treinamento e desenvolvimento de pessoas. “Acredito que o termo treinamento é aplicado nas empresas porque a maior parte dos cursos ministrados tem por base leis e normas que não podem ser modificadas, ou seja, não são passíveis críticas ou questionamentos a fim de não comprometer a segurança das pessoas, especificamente no campo de atuação da minha empresa. Mas discordo do termo por acreditar que o processo de ensino e aprendizagem não pode abrir mão da criticidade, pois sem ela a construção de conhecimento fica comprometida. Talvez essa visão diferenciada do processo de ensino e aprendizagem e os resultados que essa abordagem promove seja o principal ponto positivo de nossa atuação do ponto de vista da empresa.” (Pedagogo 6) Holtz (2006) e Ribeiro (2010), pensam em consonância no tocante à missão do pedagogo nas organizações. Para Holtz (2006) este tipo de pedagogo deve contrabalançar os efeitos desequilibradores da especialização profissional com atividades recriadoras, que permitam o desenvolvimento do sujeito como um todo e não apenas para uma tarefa. Ribeiro 22 (2010), ao citar Hölterhoff (1989), diz que o pedagogo empresarial não é um professor/instrutor ocupado com a educação de adultos, onde seu papel é organizar cursos que ensinem a gestão do tempo, treinamento e desenvolvimento da criatividade. Mas é sim um assessor para assuntos de processos de formação e desenvolvimento organizacional. Neste contexto cabe distinguir a diferença entre Treinamento e Desenvolvimento na concepção de Chiavenato (1999): O treinamento é orientado para o presente, focalizando o cargo atual e buscando melhorar aquelas habilidades e capacidades relacionadas com o desempenho imediato do cargo. O desenvolvimento de pessoas focaliza geralmente os cargos a serem ocupados futuramente na organização e as novas habilidades e capacidades que serão requeridas. Ambos, treinamento e desenvolvimento, constituem processos de aprendizagem. (CHIAVENATO 1999, P. 295) Vale ressaltar que os pedagogos dentro das organizações podem exercer as duas atividades formativas, mas o foco do prática pedagógica é transformar o processo formativo necessário para o exercício de um bom desempenho nos postos de trabalho em um aprendizado ao longo da vida, fazendo tais conhecimentos perpassar além das fronteiras do ambiente organizacional. Visando identificar o nível de satisfação dos pedagogos atuantes na área pesquisada, pedimos para avaliar, conforme sua opinião, se sua prática profissional se aproxima da prática ideal. Os pedagogos 1 e 5 afirmaram que sim, já os pedagogos 3 e 4, consideram que o ideal é sempre um meta, contribuindo para que estejam sempre em busca de novos conhecimentos, sendo que o pedagogo 3 classifica como excelente o trabalho que desenvolve no RH. O pedagogo 2 considera seu trabalho na referida área satisfatório, mas acha relativo falar em ideal. O pedagogo 6 expõe sua opinião dizendo que não acredita que exista uma prática ideal, porque trabalhar com pessoas e com suas diversidades é muito complexo, mas explica que acha muito cedo falar em ideal porque ainda está no início de sua carreira profissional. Sobre a realização profissional, questionamos se os pesquisados se sentiam realizados atuando na área de RH. A grosso modo, todos os seis pesquisados se sentem realizados, mas alguns fizeram ressalvas: Os pedagogos 3 e 6 se sentem totalmente realizados, entretanto os pedagogos 1, 4 e 5 disseram estar realizados até o momento, mas que estão abertos para novas oportunidades, sendo que o pedagogo 5 demonstrou interesse em conhecer outras áreas do RH, que não seja no campo educacional. O pedagogo 2 afirma se sentir realizado nesta área, 23 mas revela que sente falta da docência, por isso continua atuando como docente em uma universidade. Frente aos dados analisados, nos foi oportuno constatar que o crescente aumento dos números de vagas no setor público de instituições não-escolares serve como um termômetro para mensurar a importância deste profissional para a sociedade, pois eles são considerados nestas instituições os responsáveis em desenvolver nos seus servidores a potencialidade dos mesmos para uma prestação de serviços públicos eficientes e condizentes com as demandas contemporânea. Entretanto o curso de Pedagogia ainda não dispõe de todas as ferramentas que os pedagogos necessitam para atuarem em espaços distintos do espaço escolar. A confirmação desta hipótese esteve presente na falas de todos os pedagogos que foram objeto de estudo deste trabalho, pois todos para atuarem na área de RH necessitaram aprofundar seus conhecimentos através de formação continuada institucional e alguns em cursos oferecidos pelas organizações em que atuam. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da realização desta pesquisa compreendemos que a educação é um instrumento de prática social essencial à manutenção da vida humana, pois tal prática é reflexo da evolução de nossa espécie e se manifesta em diversos lugares ( na família, na igreja, nas organizações, etc.). Não se pode, portanto, sistematizar a educação apenas para o espaço escolar. Reconhecendo esta pluralidade, procuramos compreender a atuação do pedagogo na área de RH de instituições públicas não escolares. No atual momento histórico, onde tudo em nossa sociedade se estrutura para atender o poderio do capitalismo, é exigido dos sujeitos uma capacidade cada vez maior de absorver informações. Durante esta pesquisa, compreendemos que a missão da Pedagogia no mundo do trabalho é criar um caminho que leve as pessoas a transformarem conhecimento e informação em saberes que se perpetuaram através da aquisição de novos saberes, gerando assim um ciclo de aprendizagem e não simplesmente apreender técnicas de como ser mais eficiente para o sistema produtivo. Entrando em contato com o trabalho realizado pelos profissionais de Pedagogia atuantes no RH das instituições públicas não-escolares, foi notório perceber que o cotidiano 24 deles é bastante dinâmico. Eles exercem atribuições parecidas com as dos profissionais do meio escolar, como planejar atividades formativas, executá-las e avaliar sua efetividade. Todavia, os pedagogos que atuam na área pesquisada também acumulam estas atividades com outras de caráter administrativo, mais voltado para o âmbito empresarial. E de acordo com todos os pesquisados eles não possuíam conhecimentos teórico-metodológicos suficientes para exercerem tais atividades, gerando nestes, dificuldades de atuação, as quais só foram sanadas com a realização de formação continuada. Ao término deste estudo, chegamos à conclusão que se faz imprescindível e iminente, uma reformulação da grade curricular da graduação de Pedagogia, objetivando dotar os alunos (futuros pedagogos) que desejem atuar em espaços não-escolares, dos conhecimentos científicos necessários para que estejam aptos a enfrentarem a dinâmica da sociedade. 25 REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho, Ensaio sobre a afirmação e Negação do trabalho. São Paulo: Bomtempo Editorial, 2006. BRAGA, Marcos Vinicius. O pedagogo e o concurso público, 2009. Acesso em 10/10/2011. 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DADOS PROFISSIONAIS DO ENTREVISTRADO NOME: INSTITUIÇÃO EM QUE ATUA: SEGMENTO DA INSTIUIÇÃO: FUNÇÃO: TEMPO DE ATUAÇÃO EM RECURSOS HUMANOS: FORMAÇÃO: ANO DE CONCLUSÃO DO CURSO: QUESTIONÁRIO DIRECIONADO PARA PEDAGOGOS ATUANTES NA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS: 1) Como você se inseriu na área de recursos humanos? 2) Você teve dificuldades para ingressar nesta área? 3) Qual sua trajetória profissional até aqui? 4) De que forma o curso de pedagogia contribui para sua atuação profissional em RH? 5) Foi necessário investir em formação continuada para atuar na área de RH? 28 6) Como é o seu cotidiano nesta instituição? 7) Qual seu papel nesta instituição? 8) Quais pontos positivos há na atuação do pedagogo em RH? 9) Sua prática profissional neste setor se aproxima do que você considera como a prática ideal? 10) RH? Você se sente realizado profissionalmente atuando na área de