EXPLORANDO AS “CALHAS” DO COLÉGIO PARA APLICAR A MODELAGEM MATEMÁTICA NAS AULAS DE GEOMETRIA ESPACIAL Antonio Marcos Haliski1 [email protected] Sani de Carvalho Rutz da Silva2 [email protected] Resumo: O presente estudo traz o relato de uma experiência utilizando a Modelagem Matemática com vistas à aprendizagem de conteúdos da Geometria Espacial, realizada com a 3ª série do Ensino Médio. O procedimento adotado teve como objetivo partir de uma situação problema, explorando o espaço físico do colégio, aproveitando-se deste para trabalhar os conteúdos de forma contextualizada, propiciando, assim, um ambiente investigativo no qual os alunos puderam interagir ativamente com o objeto de estudo de uma forma criativa, reflexiva e crítica. A aplicação da Modelagem evidenciou, com base em contextualizar os conteúdos matemáticos, uma relação mais estreita entre o saber científico e a prática, bem como verificar a sua aplicabilidade. Palavras-chave: Modelagem Matemática; Ensino-Aprendizagem; Contextualização. INTRODUÇÃO Partindo do pressuposto de que atualmente só a aula tradicional não é suficiente e eficaz para fazer o aluno interessar-se pelos conteúdos matemáticos, o que resulta em um maior índice de reprovação nesta disciplina, há a necessidade do educador buscar estratégias para melhor explorar as aplicações da Matemática. Baseando-se nesta afirmação, os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) ressaltam a importância e a necessidade da utilização de metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias para a obtenção do conhecimento científico que desenvolva o espírito crítico e criativo (BRASIL, 1998). Pretendendo tornar a aprendizagem expressiva, para assim acontecer a aquisição do conhecimento, com qualidade, e motive o aluno no interesse pela Matemática, o 1 Professor QPM do Estado do Paraná e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia – PPGECT – UTFPR. 2 Professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia – PPGET – UTFPR, Campus Ponta Grossa PR. 944 professor pode recorrer a algumas tendências metodológicas que norteiam o ensino desta ciência. Dentre elas, citamos a Modelagem Matemática. Existem professores que fizeram uso dessa metodologia e obtiveram resultados satisfatórios, também há uma variedade de materiais como dissertações, teses, artigos e livros que falam sobre essas experiências em sala de aula e que podem ser usados como suporte de direcionamento. Dentre os autores de maior destaque, destacam-se: BASSANEZZI, 2004, BARBOSA 2001, 2003, 2004, BIENBENGUT 1999, BIEMBENGUT & HEIN 2000, entre outros. Deste modo, cabe aos profissionais da educação o papel de fazer com que essa metodologia venha a fazer parte do currículo para, assim, o aluno poder participar ativamente desse processo da educação no ensino da Matemática. O professor, tendo essa autonomia de buscar práticas diferenciadas em suas aulas, deve ter audácia pelo novo, tanto para si, como para o aluno. O aluno gosta de desafios, desse modo, isso pode ser oportunizado nesta caminhada para a obtenção do conhecimento matemático de maneira inovadora, motivadora e entendível, de forma contextualizada. Utilizando-se dessa metodologia, pode-se aproveitar o conhecimento prévio que o aluno apresenta, ou seja, o conhecimento do cotidiano também será utilizado na troca de diálogo nessa interação com o objeto de estudo. “A ampla gama de conhecimentos construídos no ambiente escolar ganham sentido quando há interação contínua e permanente entre o saber escolar e os demais saberes, correlacionando o que o aluno aprende na escola e o que ele traz para a escola” (BRASIL, 1998, p.43). A intenção é criar relacionamentos entre escola, aluno, comunidade e outros que possam propiciar aprendizagem satisfatória do conteúdo. Ao mencionar o termo “aprendizagem”, a Modelagem Matemática pode propiciar ao aluno o desenvolvimento de atividades que podem contribuir com a construção do conhecimento, por meio da escolha do tema que lhes agrade, podendo, assim, interagirem com o meio em que estão inseridos. Sendo assim, esse artigo mostra um trabalho desenvolvido num Colégio Estadual do município de Colombo-PR, com uma turma da 3ª série do Ensino Médio, na qual o conteúdo que estava programado era a Geometria Espacial. Nesse sentido, possibilitou utilizar-se da Modelagem Matemática, explorando o espaço físico do Colégio, em específico as “calhas”, durante a explanação dos conteúdos. 945 Modelagem Matemática, como uma forma de contextualizar o ensino de Matemática enfocando aos interesses dos alunos De acordo com os PCNs, a função da escola é proporcionar um conjunto de práticas preestabelecidas com propósito de contribuir para que os alunos se apropriem tanto de conteúdos, como também de relações sociais e culturais de maneira crítica reflexiva e construtiva, com objetivo de criar cidadãos com competências e dignidade para uma sociedade mais digna (BRASIL 1998). Possibilitar o ensino da Matemática com temas contextualizados despertará no educando a reflexão e senso crítico como um ser ativo na sociedade em que vive. Matemática crítica, como Skovsmose ( 2001) cita, são condições para obter o conhecimento, sendo que o conceito de crítica indica demanda sobre autoreflexões e reações. Aulas trabalhadas pelo método de ensino tradicional3, em específico a Matemática, normalmente são por meio de fórmulas e com listas de exercícios repetitivos que abrem uma lacuna de indagações para o aluno em relação onde aplicar aquele método. Isso também deixa, por muitas vezes, o professor angustiado pela dificuldade em trazer exemplos cotidianos. Desta forma, dificulta para o aluno utilizar-se de temas contextualizados para refletir sobre o uso desses conteúdos. Ensinar Matemática de uma forma crítica, de acordo com Skvosmose (2001), é fazer os alunos praticarem interpretações de uma realidade de forma que sejam capazes de se organizarem e opinarem racionalmente com possibilidade de mudanças sociais e políticas da qual fazem parte. O autor ainda enfatiza que a educação deve desempenhar ativamente o seu papel para combater a disparidade social, porém que, naturalmente, ela ainda não tem essa capacidade de mudança como outras forças sociais (SKVOSMOSE, 2001). Corroborando com esse pensar, os PCNs reforçam que é necessário um ensino com qualidade, que seja capaz de formar cidadãos que interfiram criticamente na realidade para transformação desta e não apenas para o mercado de trabalho (BRASIL, 1998). 3 De acordo com Alro & Skovsmose (2006), aulas tradicionais são aquelas em um ambiente escolar no qual os livros-texto ocupam o papel central e o professor atua trazendo novos conteúdos para que os alunos resolvam os exercícios, sendo corrigidos para encontrar erros, estas são características gerais das aulas. 946 Enfatizando-se a Educação Matemática, essa pode ser um método ferramental no processo, como transformador da sociedade, estimulando o indivíduo para atuar de forma transformadora, para melhorar o ambiente em que vive. Isso pode acontecer com participação em desenvolvimento de atividades e/ou projetos como caminho da aprendizagem. Diante do contexto, utilizar-se da perspectiva da Modelagem Matemática, possibilita a abordagem de conteúdos matemáticos, de modo que os alunos participem efetivamente neste processo. Os alunos devem ser conduzidos para um cenário de investigação, a fim de se tornarem participantes ativos do processo de investigação (ALRO & SKOVSMOSE, 2001). Os autores ainda enfatizam a importância do direcionamento que o educador precisa dar, para que os educandos sintam-se interessados em trabalhar de forma cooperativa em um ambiente propício para a aprendizagem de conteúdos matemáticos. Assim, o diálogo se torna fundamental. Essa é uma das condições necessárias para que os alunos sejam críticos, refletindo no decorrer do andamento dos trabalhos ou projetos. Loiola (2002), em sua tese de doutorado, ressalta que ao optar em trabalhar com a Modelagem Matemática, o educador possui várias perspectivas na Matemática e na Educação Matemática. Desta forma, por não haver uma uniformidade quanto a definição de Modelagem Matemática, a autora alude na utilização da denominação perspectiva de Modelagem Matemática. Observa-se que a autora enfatiza o que alguns autores pensam sobre a Modelagem Matemática utilizada no Ensino. Assim, diante do que foi citado acima, Bean (2001) afirma que a essência da Modelagem Matemática é definida como um processo de criação de um modelo matemático, com hipóteses e simplificações, focalizando o processo matemático. Enquanto a Modelagem Matemática no Ensino está na problematização de uma situação real, definida como um processo de criar um modelo matemático baseado em hipóteses e aproximações, como metodologia para conectar a Matemática aos interesses do aluno, sendo a segunda definição adotada no presente trabalho. Devido a importância que o objeto de estudo possui, mais algumas considerações são feitas por estudiosos quando trata-se do Ensino da Matemática utilizando-se a Modelagem, pois sendo esta uma das tendência no ensino, como forma de potencializar e 947 despertar no educando o gosto por esta ciência. Entre os que defendem e usam esse método nas suas práticas pedagógicas, cita-se Bassanezzi, que define a Modelagem Matemática da seguinte maneira: A Modelagem Matemática no Ensino como a arte de expressar, formular, resolver, elaborar expressões através da linguagem matemática, situações do cotidiano e servindo posteriormente para outras áreas. Vários campos se utilizam da modelagem para suas pesquisas, entre elas: Física, Química, Biologia, Astrofísica, entre outros (p.16, 2004). Observa-se que o autor enfatiza a Modelagem como um processo de obtenção de um modelo matemático. Por outro lado, Loiola (2002) define um modelo matemático como uma situação simplificada e abstrata de uma situação concreta que tem por objetivo compreender e prever a situação estudada. Assim, pode-se dizer que ao obter um modelo diante de uma situação-problema, utilizando-se de teorias, interpreta-se este modelo para chegar a uma conclusão próxima de uma realidade. Ao empregar a Matemática naquela situação, obtém-se um modelo, podendo ser melhorado e representado por um objeto ou fato concreto, como um desenho, um mapa, etc. Nesse processo da Modelagem, para obtenção de um modelo, Bassanezzi diz: Quando procuramos agir/refletir sobre uma porção da realidade na tentativa de explicar, compreender ou modificá-la, o processo usual é selecionar no sistema em estudo, argumentos ou parâmetros considerados essenciais, formalizando-os por meio de um processo artificial denominado modelo (p.173, 2004). Portanto, a construção de um modelo segundo o autor é fundamental para se chegar a uma solução de uma situação-problema da realidade através da Modelagem. Para Biembengut (1999), um modelo matemático neste processo não é um objeto, este pode ser obtido por meio de expressões algébricas, numéricas, tabelas, gráficos, equações algébricas, que nem sempre condizem com a realidade, mas se tem uma visão simplificada da situação pesquisada. No entanto, contribuindo com o Ensino da Matemática, a Modelagem é uma perspectiva dotada de um método que pode facilitar o ensino-aprendizagem. Nesse 948 processo, ela é uma alternativa a mais, na qual os alunos participam ativamente, trabalhando com assuntos de seus interesses, que fazem parte dos seus cotidianos, portanto, estabelecendo um elo entre a matemática escolar e a matemática do dia-a-dia. Conforme Biembengut & Hein: A Modelagem Matemática é uma alternativa de ensino-aprendizagem na qual a Matemática trabalhada com os alunos parte de seus próprios interesses e o conteúdo desenvolvido tem origem no tema a ser problematizado nas dificuldades do dia-a-dia, nas situações de vida. Valoriza o aluno no contexto social que o mesmo está inserido, proporcionando-lhe condições para ser uma pessoa crítica e capaz de superar suas dificuldades ( p. 28, 2000). Esses autores dão ênfase à escolha do tema, que deve partir dos educandos, que poderão optar por assuntos de sua vivência. D`Ambrósio apud Bean (2001) reforça a Modelagem como sendo um processo muito rico de enfrentar situações reais e culminando em soluções efetivas dos problemas vividos e não numa simples resolução formal de um problema artificial. Nesse entender, ao contextualizar o Ensino da Matemática, o professor estará propiciando ao educando situações que venham a contribuir no seu crescimento pessoal, sendo uma das alternativas para motivá-lo neste processo do ensino e aprendizagem, do qual faz parte, criando, assim, um ambiente de estudo. Corroborando com este pensar, para Barbosa (p.6, 2001), “a Modelagem é um ambiente de aprendizagem, no qual os alunos são convidados a indagar e/ou investigar, por meio da matemática, situações oriundas de outras áreas da realidade”. Observa-se que para Barbosa (2001, 2003, 2004), genericamente, Modelagem é a aplicação da Matemática para resolver problemas oriundos de outras áreas do conhecimento. Abordando situações dentro de um contexto social, pode-se conduzir o aluno a sentir-se motivado e interessado pelo tema de uma maneira diferente do habitual, ou seja, a Modelagem propicia a compreensão do papel sociocultural da Matemática (BARBOSA, 949 2004). O autor cita as várias maneiras de implementar a Modelagem Matemática no currículo, chamando de “casos4”, os quais estão no quadro a seguir. Tarefas no processo de Caso 1 Caso 2 Caso 3 Elaboração da situação-problema Professor Professor Professor/aluno Simplificação Professor Professor/aluno Professor/aluno Dados qualitativos e quantitativos Professor Professor/aluno Professor/aluno Resolução Professor/aluno Professor/aluno Professor/aluno Modelagem (Barbosa 2004) No caso 1, o professor apresenta um problema, com dados suficientes, cabendo aos alunos apenas a investigação sem precisar sair da sala. Para o caso 2, o professor apresenta um problema, cabendo aos alunos fazerem a investigação fora da sala de aula, para coleta de dados suficientes para a resolução do problema. Finalizando, com o caso 3, trata-se de projetos desenvolvidos a partir de temas não matemáticos escolhidos por professor ou alunos. Desde a formulação do problema, coleta de dados, até a resolução do problema é o papel dos alunos. De acordo com o quadro acima, Barbosa enfatiza a responsabilidade do professor em conduzir as atividades, desde o caso 1 até o 3. Diante das perspectivas apresentadas sobre a Modelagem Matemática no Ensino, o professor precisa ter conhecimento de alguns procedimentos, tais como: escolher o tema partindo do interesse dos próprios alunos, fazer pesquisa para coletas de dados, familiarizar-se com o assunto a ser trabalhado, entrevistar pessoas da área escolhida, desenvolver o trabalho em grupo, considerar o tempo disponível que o modelo exigirá, a quantidade de alunos envolvidos, o conhecimento prévio e a flexibilidade do currículo. Objetivando, assim, garantir a aquisição e a construção do conhecimento. Contribuindo para a prática pedagógica do professor, Biembengut & Hein (2000) destacam que a interação com uma situação real gera um modelo matemático, dividindo-se em três etapas: interação, matematização e conclusão do modelo. E cada etapa dessas é sub-dividida em duas sub-etapas. 4 Para evitar repetições, quando citar casos, refere-se as tarefas no processo da Modelagem. Encontrado em Barbosa, J. C. Modelagem Matemática: O que é? Por que? Como? Vertati, n.4, p. 73-80, 2004. 950 Na interação ocorre o reconhecimento e uma familiarização com o problema que pretende-se estudar, seja por livros, revistas ou profissionais da área. Já através da matematização, haverá a formulação e a resolução do problema, que é a tradução da situação-problema para a linguagem matemática. E, finalmente, para a conclusão do modelo é necessário uma avaliação para analisar em que nível este se aproxima da situação-problema, para então validar esse modelo. Nesse processo de validação de modelo, D`Ambrósio apud Bean (2001) diz que na Modelagem reduz-se o objeto ou sistema da realidade vivida para facilitar a aplicação da Matemática para uma melhor compreensão. Nessa simplificação, perde-se parte da realidade, portanto, ele deve voltar para a situação inicial da realidade, para então validar este modelo e suas interpretações. Desenvolvimento das atividades Levando em consideração o quadro5 exposto por Barbosa (2004), para o trabalho a seguir, aderiu-se à metodologia do caso 2. Isso deu-se em razão da grande dificuldade em escolher um tema por parte dos alunos, através do processo da Modelagem Matemática, para conectar a Matemática aos seus interesses. Assim, esse trabalho foi desenvolvido com uma turma da 3ª série do Ensino Médio, do período matutino, no Colégio Estadual de Colombo, Paraná. O conteúdo que estava sendo aplicado era Geometria Espacial. Após várias aulas com exercícios referentes a prisma, pirâmide, paralelepípedo, cilindro e esfera, fez-se um diálogo com os alunos para que eles escolhessem algum tema de interesse relacionado ao conteúdo trabalhado e foi proposto, ainda, que em duas semanas retornar-se-ia ao assunto para colocá-lo em prática (caso 2). Ocorreram muitas dificuldades na escolha do tema. Assim, o professor escolheu alguns assuntos que estavam no ambiente escolar. Foram citados cinco assuntos e iniciouse da seguinte maneira: dividiu-se a turma em cinco grupos, dos quais citaremos um trabalho com relevância dentro do contexto, no caso, as calhas do colégio, apresentado por um grupo que denominou-se grupo 1. O colégio possui calhas somente nas laterais do corredor, que fica entre os blocos que compõe o mesmo, sendo aproximadamente 87m de calha em cada lado, ou seja, 174m 5 Tarefas no processo de Modelagem (Barbosa 2004) 951 no total. O tema foi proposto o intuito de problematizar uma situação real para gerar discussões que pudessem ser respondidas através de cálculos matemáticos explorando as calhas. Então, ao analisá-las, indagou-se sobre a função delas. Das respostas dadas, área e volume em litros foram citados. Tendo formato de paralelepípedo, como poderia construílas, de tal forma que aumentassem suas capacidades de volume. Sendo assim, gerou-se um problema, agora caberia aos educando responder matematicamente. Utilizando-se de uma trena, calcularam as dimensões (comprimento, largura e altura) de uma parte que corresponde todas as calhas. Essa tinha as medidas de 15,3m de comprimento, 8cm de largura e alturas de 15 e 21cm (quando planificada, a largura mede 44cm e 15,3m de comprimento). Várias discussões aconteceram entre os alunos para chegarmos a resolução a seguir, de acordo com o grupo 1: A capacidade atual dessa parte da calha é de 183,6 litros, considerando como um paralelepípedo. Através dos cálculos, observa-se que os alunos chegaram a 260,1 e 342,72 litros, por tentativa. Utilizando-se do processo “deles”, divisão, os alunos encontraram as medidas 11cm (1,1dm) para altura em ambos os lados. Assim, o volume seria de V=a.b.c Æ V = 153dm . 1,1dm . 2,2dm = 370,26 litros6. O grupo apresentou para a turma, como também abriu espaço para questionamentos, reflexões e sugestões. Diante do modelo encontrado por eles como “divisão”, para achar as medidas, foi necessário validar este, pelo processo da Modelagem. 6 Utilizando-se das medidas em decímetro, obtém-se a resposta em litros, pois 1000cm3 = 1dm3 = 1 litro. 952 Assim, foi utilizado outro processo em que obteve-se uma função quadrática, a qual possibilitou rever conteúdos aprendidos em anos anteriores: V = a .b .c a = 153dm; V = 153 .( 4 , 4 − 2 x ). x b = ( 4,4 - 2x)dm; c= x (dm = decímetro) V = 673 , 2 x − 306 x 2 Diante de uma função quadrática, explorando-se conceito de máximo e mínimo através do xv (xis do vértice). xv = ⎧ a = − 306 −b →⎨ 2 .a ⎩ b = 673 , 2 → xv = −b − 673 , 2 → xv = → x v = 1,1dm 2 .a 2 .( − 306 ) Portanto, têm-se as três dimensões para a calha, sendo: largura = 2,2dm, altura 1,1dm e comprimento 153dm. Assim, utilizando-se da fórmula V = a.b.c, V = 153 dm . 2,2dm . 1,1dm = 370,26 litros. Utilizando-se do conceito de máximo e mínimo de uma função quadrática, validou-se o “modelo deles” pelas medidas iguais encontradas. Com o novo formato de calha a diferença é de 370,26 - 183,6 = 186,66 litros. Novamente, alguns alunos questionaram o fato de não deixar um dos lados mais alto (eles conheciam a calha), assim, poderia cair água fora da calha. Os alunos perceberam que 3cm mais alto de um lado, seria suficiente para resolver a situação como mostra a figura a seguir: V = a.b.c a = 153dm; b = ( 4,1 - 2x)dm; c = x V = 153 .( 4,1 − 2 x ). x (dm = decímetro) V = 627 ,3 x − 306 x 2 ⎧ a = − 306 −b xv = →⎨ 2 .a ⎩b = 627 ,3 xv = −b − 627 ,3 → xv = → x v = 1,025 dm = 10 , 25 cm 2 .a 2 .( − 306 ) 953 Portanto, as dimensões para calha, largura = 2,05dm; altura = 1,025dm e comprimento = 153dm → V = a.b.c → V = 153dm . 2,05dm . 1,025dm → V ≅ 321,5 litros. Como o volume corresponde a uma parte da calha, 15,3m, e sendo um total de 174m, bastou fazer a proporção pelo método da divisão e encontrando aproximadamente 11 vezes o volume dessa calha. Logo, 11 x 321,5 litros ≅ 3536,5 litros que comportariam as novas calhas e 183,6 x 11 ≅ 2019,6 litros as calhas, atual. Dando uma diferença de aproximadamente 1517 litros. Através da Modelagem, percebeu-se a importância da Matemática nas ações rotineiras, embora com os cálculos não tenham gerado nenhuma ação, ou seja, não vai mudar a calha existente, o processo foi válido para mostrar a aplicabilidade dos conceitos matemáticos, criando um ambiente de aprendizagem com criatividade, reflexões e críticas. Considerações finais Em virtude do que foi mencionado neste estudo, tendo como suporte a utilização da Modelagem Matemática, a qual oportunizou o direcionamento dos educandos para uma investigação matemática partido de uma situação-problema analisando o volume das calhas do colégio, os alunos envolveram-se com o tema, interagiram entre eles, podendo contribuir expondo seus conhecimentos prévios, objetivando uma troca de ideias que propicia-se o enriquecimento do trabalho e a sua principal finalidade – a construção de novos conhecimentos. No decorrer desse trabalho, com o procedimento adotado (que fora mencionado nesse relato) analisou-se o comportamento dos educandos, concluindo-se que na diversidade pode-se inferir o conhecimento, chegando-se a uniformidade, ou seja, os educandos responderão, de uma forma geral, ao objetivo proposto, que era ministrar conteúdos matemáticos, através da sua aplicabilidade, utilizando-se a Modelagem Matemática. 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